Você está na página 1de 180

Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

Fu n d ament os da

CRIE AMBIE N TE S MAIS INCLUSIVOS E EQUITATIVOS

descola.org
1
descola.org | Fundamentos da diversidade

Todo o conteúdo deste ebook foi desenvolvido pela Descola em parceria com os professores
do curso.
2
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

Olá!
Você já viu ou provavelmente está vendo o curso A partir dessas definições, ao longo do nosso
“Fundamentos da diversidade: Crie ambientes ebook, você vai compreender como seis grupos
mais inclusivos e equitativos”. dos principais marcadores sociais lidam com a di-
versidade, quais são os desafios que esses grupos
Esperamos que você tenha gostado do curso e que enfrentam e quais são as estratégias para lidar
tenha conseguido entender o quanto é importante com esses obstáculos.
falar sobre diversidade em um mundo tão diverso
quanto o que vivemos, bem como tenha se sentido Ao final do nosso ebook, esperamos que você
impactado e motivado a promover mudanças. consiga aplicar o que aprendeu em sua empresa
e em seus espaços pessoais, a fim de propagar
Ao longo deste ebook, vamos te explicar o que é a a diversidade, a equidade e a inclusão de grupos
diversidade, como ela é refletida em nosso coti- minorizados em nossa sociedade.
diano e como abordar a representatividade nas
empresas é um caminho interessante para tornar Abraços,
nossa sociedade mais igualitária. Equipe Descola
Para isso, você vai entender alguns conceitos que Aprendizados para toda a vida.
envolvem a diversidade, como o de marcadores Power Skills para o mundo de hoje.
sociais, grupos minorizados, igualdade, equidade,
ações afirmativas e modelo de mundo.
3
descola.org | Fundamentos da diversidade

01 Quem ministra o curso


pg 06
05 Gerações
pg 58
02 Diversidade em alta
pg 10
06 LGBTQIAP+
pg 71
03 Representatividade
nas empresas
pg 30
07 Pessoas com deficiência
pg 92
04 Gênero
pg 37
4
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

08 Raça e etnia
pg 106
12 Filmes e Séries
pg 156
09 Religião
pg 123
13 Podcasts
pg 171
10 Cultura de Diversidade

pg 137
14 Referências
pg 175
11 Livros
pg 148
5
descola.org | Fundamentos da diversidade

01 capítulo

QUEM MINISTRA
O CURSO

#pracegover: foto da professora do curso, mulher branca, loira, cabelos


longos, com blusa de trico terracota e calça jeans. Esta sentada e sorrindo
6
@D ES C O L AG R AM
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

EM UM MUNDO TÃO DIVERSO QUANTO


O QUE VIVEMOS, TORNA-SE CADA VEZ
MAIS ESSENCIAL E NECESSÁRIO O DEBATE
ACERCA DA DIVERSIDADE.

Muitos termos sobre o tema ainda são


confundidos em sociedade, não levando a
todos as informações corretas sobre cada
grupo de pessoas que é inferiorizado em
nosso convívio.

Neste curso, nossa conversa é com você e


com todo mundo que está disposto a agir
para que a diversidade seja cada vez mais
representada nos ambientes sociais que
frequentamos, a começar pelas empresas,
que tem muito a ganhar com uma cultura
de diversidade, equidade e inclusão.

Para isso, quem vai te guiar ao longo desta


#pracegover: foto da professora do curso, mulher branca,
loira, cabelos longos, com blusa de linho vermelha, colar jornada é a nossa professora Fabiana
de borboleta. Esta sentada e sorrindo Gutierrez. Vamos conhecê-la?
7
descola.org | Fundamentos da diversidade

CONHEÇA A PROFESSORA
Fabi Gutierrez é a nossa professora convidada
para este curso e logo você vai entender porquê.
Fabi é cofundadora de Carlotas, uma empresa
com um propósito social para lá de interessante.
A idealização de Carlotas surgiu no ano de 2011,
em conjunto com sua sócia Carla Douglass. A
ideia era ter uma empresa que olhasse e cuidasse
das relações, incitando diálogos sobre respeito,
empatia e diversidade.

Para isso, Carlotas atua com dois projetos: um


em empresas e outro em escolas e instituições
de assistência. Nas empresas, Fabi e sua equipe Na área de educação, o objetivo é
trabalham junto aos colaboradores, para que eles fomentar, dentro e fora da sala de aula, o
vivenciem e exercitem um novo olhar para as diálogo sobre o respeito e a empatia por
relações, valorizando a diversidade, o respeito e a meio de atividades lúdicas que promovem
empatia. a escuta, a coragem, a conexão, a gestão
8
emocional, entre outros elementos.
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

JÁ DEU PARA
ENTENDER POR
QUE FABI ESTÁ
AQUI, NÃO É
MESMO? Ao longo do nosso
curso, é ela quem vai te ensinar sobre os
conceitos de diversidade, elucidar algumas
definições que causam confusão no dia a dia
e abordar cada um dos principais marcadores
sociais que existem na sociedade.
9
descola.org | Fundamentos da diversidade

02 capítulo

DIVERSIDADE
EM ALTA
Con c ei t os a ce rca d a d ive rsidade

#pracegover: três mãos, com punho fechado se unindo ao centro,


cada uma representando uma raça diferente.

@ D ESCO LAGR AM
10
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

Esse é o enredo principal do filme O Sol também é


Natasha Kingsley é uma ja- uma Estrela, baseado no livro de mesmo nome, es-
maicana que mora nos Estados crito pela autora Nicola Yoon. Como você já deve ter
Unidos e está prestes a ser de- sentido, não contamos essa história aqui à toa. De
portada do país junto com sua um lado, temos uma mulher preta, de origem jamai-
família. Daniel Jae Ho Bae é um cana, que está prestes a ser deportada dos Estados
americano com descendência Unidos, um país extremamente conhecido por ser a
coreana que está lutando con- terra da liberdade.
tra as altas expectativas de Do outro lado, temos um homem com ascendência
seus pais. O caminho de am- coreana, sem a preocupação de ser deportado, mas
bos, apesar de parecer muito com uma pressão imensa que carrega das expectati-
diferente, se cruza e, ao longo vas de seus pais.

COMO SERIA UM
de um dia inteiro, Daniel quer
uma chance de provar que ele
pode fazer Natasha se apai-

RELACIONAMENTO
xonar por ele. Apesar do clichê
romântico, os dois possuem
conversas inspiradoras e pro-

ENTRE AMBOS?
fundas, com temas como amor,
família, imigração e identidade.

11
descola.org | Fundamentos da diversidade

Este filme não é somente mais


uma história de amor, mas um
reflexo de como pode ser difí-
cil lidar com diferenças inter-
Legenda: Yara Shahidi e Charles Melton são os atores que raciais. As dificuldades de
dão vida a Natasha e Daniel em O Sol também é uma Estrela
#Pracegover: Mulher jovem, negra, sorrindo, cabelos um nunca serão as mesmas
cacheados na altura do ombro, com casaco amarelo e fones do outro e nunca saberemos
de ouvido. Homem branco, coreano, de terno e mochila. como tudo isso vai se com-
Fonte: Divulgação
portar em uma única direção.
O que podemos é falar sobre
isso e mostrar como a diversi-
dade é poderosa e precisa ser
debatida.
12
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

O QUE É DIVERSIDADE?
Te demos um exemplo de diversidade, porém
queremos ir mais fundo, buscar na história do
mundo o que, realmente, significa isso. Antes
de partirmos para as origens, entretanto, que-
remos te mostrar como grandes personalida-
des enxergam e definem a diversidade. Vamos
ver?

A primeira fala sobre diversidade que queremos


que veja é a de Maya Angelou. Maya foi uma fa-
mosa escritora e poetisa nos Estados Unidos,
mas ela é muito mais que isso. Maya foi consi-
derada a primeira motorista negra de ônibus em
São Francisco e, anos mais tarde, ficou amiga
de Martin Luther King Jr. e Malcolm X, mo-
mento em que passou a se dedicar mais para
os movimentos de direitos civis. Sobre a diver- #pracegover: Registro antigo em preto e branco de
Martin Luther King e Malcom X, ambos sorrindo e
sidade, em si, Maya diz o seguinte: dando um aperto de mão.

13
descola.org | Fundamentos da diversidade

“TODOS DEVEMOS SABER


QUE A DIVERSIDADE
REPRESENTA UMA
TAPEÇARIA RICA E NÓS
PRECISAMOS ENTENDER
QUE TODOS OS FIOS
DA TAPEÇARIA SÃO
IGUAIS EM VALOR E NÃO
IMPORTA A COR.”
#pracegover: Registro antigo em preto e branco
Maya Angelou de Maya Angelou, vestida com estampas afro e
turbante. Está sorrindo.
14
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

Já pensou na diversidade
como uma tapeçaria, um ta- “A DIVERSIDADE PROMOVE A
pete? Pois é! Maya traz uma
definição de diversidade que TOLERÂNCIA. QUANDO VOCÊ NÃO
é muito importante, que é
sobre pessoas terem um ENCONTRA PESSOAS DIFERENTES, NÃO
mesmo valor, independente
PERCEBE COISAS, NÃO PERCEBE O
QUANTO TEM EM COMUM COM ELAS”
da cor da pele. Um fio bran-
co, por exemplo, não é mais
bonito do que um fio preto,
porque, no fim das contas,
Malala Yousatzai
os dois são fios.

Outra definição interessan- Aqui, além da perspectiva da Maya sobre


te sobre diversidade é a que sermos todos iguais em questão de ter
Malala Yousafzai traz. A um valor, independente de qualquer coisa,
ativista paquistanesa foi a Malala adiciona o fato de que, enquanto
pessoa mais nova a ser lau- não encontrarmos pessoas diferentes,
não vamos perceber as coisas, não vamos
reada com um prêmio Nobel
perceber o quanto temos em comum. E
e é conhecida pela defesa enquanto não nos entendermos como di-
dos direitos humanos das ferentes, mas com um mesmo valor, não
mulheres. Sobre diversidade, poderemos compreender a diversidade.
ela diz que:
#pracegover: Imagem de Malala, mulher, paquistanesa,
cabelos pretos, véu sobre os cabelos, roupa branca. Está 15
levemente sorrindo.
descola.org | Fundamentos da diversidade

Por último, queremos trazer mais uma definição #pracegover: Imagem de Ola Joseph, homem,
negro, cabelo raspado, óculos, de terno, meia idade,
de diversidade, a fim de complementar tudo o de terno azul marinho. Está sorrindo.
que já temos. Dessa vez, quem fala é Ola Jo-
seph, um palestrante nigeriano conhecido por
inspirar milhares de pessoas em temas como
comunicação, desenvolvimento pessoal ou
empoderamento. Para ele, a diversidade não é
apenas sobre diferenças:

“DIVERSIDADE NÃO
É SOBRE COMO NOS
DIFERENCIAMOS.
DIVERSIDADE É SOBRE
ABRAÇAR A UNIDADE UM
DO OUTRO”
Ola Joseph
16
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

Com isso, conseguimos entender que a Temos diferenças que podem ser de raça,
diversidade refere-se a uma ampla variedade de etnia, de gênero, de orientação sexual,
de características, e que esse assunto não é de idade, de religião, de deficiência, de
sobre a diferença, mas sim sobre o valor único nacionalidade, de educação, de classe social,
de cada um dentro da sua própria diversidade. de status socioeconômico, entre tantas
E disso vem a tamanha importância de falar outras características que nos constituem. A
sobre o tema: questão é: dependendo das características,

A DIVERSIDADE
as oportunidades são diferentes para cada
um, o que nos traz problemas de preconceito,
segregação e injustiças sociais profundas.

ESTÁ POSTA E Tudo isso é o que torna tão fundamental falar

NÃO HÁ COMO
sobre diversidade. Para isso, a fim de que a dis-
cussão se torne rica em detalhes e argumen-
tos, precisamos conhecer alguns conceitos

NEGAR QUE
que envolvem o objeto da diversidade.
Vamos lá?

SOMOS DIVERSOS.
17
descola.org | Fundamentos da diversidade

CONCEITOS ACERCA DA
DIVERSIDADE
Aprender sobre diversidade
implica no aprendizado sobre
tudo o que está em torno des-
se tema. É por isso que não
podemos avançar nos estu-
dos da diversidade sem an-
tes entender alguns concei-
tos fundamentais. São eles:
marcadores sociais, grupos
minorizados, igualdade, equi-
dade, ações afirmativas e
modelo de mundo. A seguir, va-
mos falar um pouco mais sobre
cada um deles.

#pracegover: Duas mãos entrelaçadas, represen-


tando duas raças diferentes em união.
18
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

Marcadores sociais
O primeiro conceito que queremos que conheça é o de marcadores sociais. Os marcadores so-
ciais são características ou atributos usados para categorizar pessoas em diferentes grupos so-
ciais ou diferenciar indivíduos dentro de um mesmo grupo social. Marcadores sociais, portanto,
podem ser baseados em características como:

APARÊNCIA ORIENTAÇÃO OCUPAÇÃO ETNIA CLASSE SOCIAL GÊNERO IDADE RELIGIÃO


FÍSICA SEXUAL

Dentro da nossa sociedade, acabamos olhando seis grandes grupos dentre os marcadores sociais:
gênero, LGBTQIAP+, raça, gerações, pessoas com deficiência e religião. Dentro desses grupos,
essas características podem influenciar a maneira como as pessoas são tratadas e percebidas
pela sociedade. São essas características, também, que são utilizadas para criar estereótipos,
preconceitos e discriminação, que são a base para desigualdades sociais e injustiças.

19
descola.org | Fundamentos da diversidade

Minorias x Grupos minorizados


Um termo que não podemos deixar de escla-
recer neste contexto da diversidade é o de
minorias. Quando falávamos em minorias, nor-
malmente nos referíamos a um grupo de pes-
soas que, de alguma forma, sofre algum tipo de
exclusão na sociedade. Mas como vamos nos
referir a pessoas pretas como minorias se elas
representam 54% da população no Brasil, de
acordo com dados do IBGE de 2020? Não faz
muito sentido, não é mesmo?

Pensando nisso, o melhor termo para usar no


lugar é grupos minorizados, pois, assim, con-
seguimos nos referir a pessoas que sofrem al-
gum tipo de injustiça social sem minimizar suas
dores e desafios na luta pela sociedade.

#pracegover: Mulher negra, jovem, em uma sacada,


olhando para cima com ar de reflexão.
20
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

#pracegover: Ilustração com três pessoas atrás de um muro assistin-


Igualdade x Equidade do a uma partida de basebal (ou beisebol), todos com alturas diferen-
tes e cada um em cima de uma caixa. Na figura do lado, as caixas foram
distribuídas de outra forma, possibilitando que todos assistam ao jogo.
Você sabia que igualdade e equi-
dade não são termos sinônimos?
Pois é! Muitas pessoas já fizeram
essa confusão, por isso precisa-
mos explicar o que cada termo
quer dizer, a fim de que você não
se sinta confuso no decorrer do
nosso curso.

Em primeiro lugar, a igualdade


refere-se à ideia de que todas
as pessoas devem ter os mes-
mos direitos e oportunidades, Provavelmente, você já deve ter visto essa figura em algum
independente de raça, gênero, lugar. Nela, conseguimos ver exatamente a ilustração dos
orientação sexual, entre outros conceitos de igualdade e equidade. Na primeira figura, te-
marcadores sociais. O que acon- mos o conceito de igualdade exemplificado através de três
tece é que nem sempre a igual- pessoas, cada um com sua altura, em posições iguais para
dade é suficiente. Dá uma olhada ver um jogo de baseball. Mas como é possível colocar as
nessa imagem aqui: três pessoas em condições iguais para assistir ao jogo
se elas não possuem a mesma altura?
21
descola.org | Fundamentos da diversidade

O MAIS ALTO VAI CONSEGUIR VER O JOGO COM


CONFORTO, MASEODMAIS BAIXO
AD L A U G I NÃO VAI CONSE- EQUIDADE
GUIR VER NADA, POIS NÃO ALCANÇA A ALTURA
DA CERCA.

É aqui que entramos com o conceito de equi-


dade, que se refere à ideia de que todas as
pessoas devem ter o que precisam para ter
acesso às mesmas oportunidades, mesmo
que isso signifique fornecer recursos adi-
cionais para cada pessoa ou grupo. No caso
da imagem, na segunda figura, temos apenas o
garoto mediano e o mais baixo com um reforço
com um banco (o primeiro com um e o segun-
do com dois), a fim de possibilitar que eles al-
cancem uma visão para o jogo, ao contrário da
primeira figura, onde todos recebem um banco
para assistirem ao jogo por cima da cerca e ain-
da assim não ficam em posições iguais, devido
à altura de cada um. #pracegover: Ilustração com três pessoas pegando uma fruta na
árvore. Para que isso ocorra, duas estão sobre pilares que as deixam
mais altas, possibilitando a ação.

22
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

Ações afirmativas
Mais um conceito extremamente importante como o de pessoas brancas que estudaram em
para entendermos é o das ações afirmativas, escolas privadas.
que são políticas que direcionam recursos em
benefício de pessoas pertencentes a grupos Algo interessante de entender com relação a
sub-representados ou grupos minorizados que isso é que as ações afirmativas são medidas
sofrem de alguma exclusão socioeconômica. pró-ativas que têm como objetivo combater
As cotas de universidades, por exemplo, discriminações étnicas, raciais, religiosas, de
representam ações afirmativas que têm gênero, de classe, entre outros tipos, visando
como finalidade permitir que grupos minori- aumentar o envolvimento, o acesso e a parti-
zados também possam acessar universida- cipação dos grupos minorizados na política, na
des em um nível de concorrência mais justo educação, na saúde, no mercado de trabalho,
para com grupos que não são minorizados, em redes de proteção social etc.

#pracegover:foto de jovem negro no dia de sua


formatura na universidade. Está sorrindo de mão
dadas, em pé e olhando para frente.

23
descola.org | Fundamentos da diversidade

Modelo de mundo
Por fim, um último conceito que precisamos que você
entenda antes de seguirmos com o curso é o de modelo
de mundo. Para isso, vamos fazer um teste. Quando você
escuta a palavra “cachorro”, o que é que vem em sua
mente? Algo assim?

E se dissermos para imaginar um vaso, como você


imaginaria? De alguma dessas formas?

#pracegover: Composição com três imagens de cachorros diferentes, tanto em raça quanto na posição deles,
seguida de outra composição com três imagens de vasos bem distintos: o primeiro é preto e bem largo; o
segundo é branco, fino e com três ondulações; e o terceiro é transparente, tamanho médio e textura lisa.
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

SABE O QUE É
Mas e se agora pedíssemos para você usar uma
única palavra para descrever o quadro a seguir,
qual seria?

LEGAL NESSE
TESTE?
Dificilmente, as respostas serão as
mesmas. Você não vai imaginar o
mesmo cachorro que outra pessoa, o
mesmo vaso e nem vai usar a mesma
palavra para descrever o quadro. Na
verdade, ainda que use a mesma pala-
vra, a sua motivação não é a mesma,
visto que cada um tem sua própria
percepção do mundo e o que gera um
gatilho, uma lembrança em você, pode
não gerar no outro.
#pracegover: Imagem do quadro 25
“O Grito”, do artista Edvard Munch.
descola.org | Fundamentos da diversidade

O que explica inúmeras imagens sobre uma Quando nos entendemos como pessoas diver-
mesma coisa é o que chamamos de modelo de sas, é ainda mais natural lidar com o modelo de
mundo. Nele, toda informação adquirida passa mundo. Entretanto, ainda assim, tudo é muito
por um filtro, o qual é movido por uma interpreta- desafiador. O que acontece é que temos a ten-
ção, um comportamento e um resultado. Nesse dência de buscar aquilo que é familiar, pareci-
filtro, temos crenças, valores e experiências de do, tornando o diferente ainda mais diferente,
vida, o que faz com que não seja possível ter a quando, na verdade, nós somos a diversidade
mesma percepção sobre um cachorro, um vaso do outro, algo que vamos explorar bastante ao
ou um quadro de Edvard Munch. longo do nosso ebook.

Imagine, por exemplo, que você pede para que


duas pessoas definam “família” usando uma INFOR MA Ç Ã O
única palavra. Dependendo da crença, dos valo-
res e das experiências de cada uma, as defini-
FILT R O Crenças
ções serão diferentes.
Valores
Pode ser que, para uma, represente algo bom, Experiências de Vida
positivo, a base de tudo. Para outra, pode ser
que represente uma ausência, uma falta. Tudo INT ER PR ETA Ç Ã O
depende do que cada um vive e de como cada COMPOR TA MENTO
um enxerga o mundo a partir de seus filtros. R ES U LTA DO

26
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

A LINHA HISTÓRICA
DA DIVERSIDADE E
INCLUSÃO
Da mesma forma que precisamos entender
alguns conceitos para falar sobre diversidade,
precisamos compreender que a diversidade
caminha junto com a inclusão. E o caminho é
tão longo e árduo que é melhor sentar, porque
lá vem história.

Falando em termos de Brasil, um grande mar-


co de início aconteceu no final do século XIX,
quando um grupo de intelectuais negros liderou
uma luta pela abolição da escravidão. Ao longo
do século XX, novos movimentos surgiram para
reivindicar a igualdade de direitos para os
negros e outros grupos minorizados, como
os movimentos de mulheres, indígenas e
pessoas da comunidade LGBTQIAP+.
#pracegover: Imagem de um menino por volta de
5 anos, indígena, sem camisa, com pinturas nos 27
braços e no rosto.
descola.org | Fundamentos da diversidade

Tudo, até então, era apenas um início de tentati- contra o racismo, a homofobia, a transfobia e
va. O movimento negro, por exemplo, só veio a outras formas de discriminação.
ganhar forças na década de 70, por conta dos Esse é um breve resumo de como as pessoas
mesmos movimentos que aconteciam nos Esta- têm lutado pela diversidade e inclusão, mas é im-
dos Unidos, com o Movimento dos Direitos Civis, portante olharmos para algumas leis e diretrizes
e África do Sul, com o Apartheid e Movimento de que surgiram em meio a esse tempo, as quais são
Consciência Negra. Na mesma época, os outros bastante recentes e revelam tanto a demora para
movimentos ficaram aquecidos e diversos gru- lidar com o tema quanto a urgência de resolver
pos e organizações foram criados para promo- o que ainda não foi resolvido. Dá só uma olhada
ver a diversidade e inclusão no país, lutando nessa linha do tempo:

É c r iad o n o B r as il o
D i r e i t o a o vot o pa r a A Co n ve n ç ão s o b r e S is te m a Ún ico d e A s -
t o da s a s pe s s oa s a E lim in aç ão d e s is tê n c ia S o c ial
m a i or e s de 1 8 a n os, Tod as as Fo r m as d e (S UA S ), co m o o b jet i vo
se m di s t i n çã o de Dis c r im in aç ão d e g ar an tir o ac e s s o às
g ê n e ro, cor ou r e - con tr a a M u lh e r é p o lític as p ú b lic as d e
li g i ã o. a d o tad a p e la ON U. as s is tê n c ia s o c ial.

19 32 1960 1972 1988 1997


A C on ven çã o A Co n s titu iç ão Fe d e -
sob r e os Dir e itos r al d o B r as il é
d a s Pessoa s com p ro m u lg ad a, g ar an -
Deficiê n cia é a d - tin d o a ig u ald ad e d e
ota d a p ela O NU . d ir e ito s e o p o r tu n i-
d ad e s p ar a to d o s o s
c id ad ão s e p ro te -
g e n d o o s d ir e ito s
#pracegover: Linha do tempo com as datas e os d as p e s s o as co m
acontecimentos marcantes daquele ano. d e f ic iê n c ia.
28
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos
#pracegover: continuação da Linha do tempo com
as datas e os acontecimentos marcantes daquele
ano.

Cri ada a Secretari a O S upre mo T ribuna l


Especi al de Polí ti cas Fe de ra l (S T F)
de Promoção da Ig- a prova a de c l a ra ç ã o
ualdade Raci al, com de uniã o e s t á ve l
o obj eti vo de pro- e nt re pe s s oa s do
mover a i gualdade me s mo s e xo como
raci al no Brasi l. e nt ida de fa mil ia r.

2 013 2 015 2017 2019


Lei n º 1 3.1 4 6 é s a nc io- É c ria da a L e i n º
nada, c ria ndo a L e i 1 3.8 1 8 , que insti tu i a
Bras il e ira de Inc l us ã o Pol ít ic a Na c ion al d e
da P e s s oa com D e fi- Promoç ã o da Igu al-
ci ênc ia (Es t a t ut o da da de Ra c ia l e E r r ad i -
Pessoa com D e fic iê n- c a ç ã o do Ra c ismo.
ci a), que g a ra nt e os
di reit os da s pe s s oa s
com de fic iê nc ia e
promove a inc l us ã o
soci a l .

Diante de tudo isso que vimos sobre a diversi- No próximo capítulo, vamos explorar isso, além
dade, chegou a hora de entender porque preci- de te explicar como esse tema tem sido trata-
samos falar sobre ela, porque precisamos dis- do dentro das empresas.
cutir esse assunto.

29
descola.org | Fundamentos da diversidade

3. Representativi-
03 capítulo
dade nas empresas
Por que é importante falar de re-

REPRESENTATIVIDADE
presentatividade nas empresas?

NAS EMPRESAS
Por q ue é i mporta nte fa la r de
repre se ntativ ida de na s empre s as ?

#pracegover: Pessoas de raças, etnias e gênero


diferentes, juntando suas mãos ao centro, uma por
cima da outra.

30 @DE SCOLAG R AM
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

E SE O MUNDO
Nessa vila, 16 pessoas falam chinês, 14 falam
inglês, oito falam hindi, sete falam espanhol,
três falam árabe, três falam bengalês e

FOSSE UMA
as outras 49 pessoas falam português,
indonésio, japonês, alemão, francês e outras
línguas. Indo um pouco além, 51 são homens e

VILA DE 100
49 são mulheres, sendo que, dentre esses, 15
são deficientes. Nessa vila, também temos 24
crianças acima de 15 anos e quatro pessoas

PESSOAS?
com 75 anos ou mais, o que faz com que a
idade média nessa vila seja de 31 anos.

E não para por aí. A religião também é bastan-


te diversa: há 31 cristãos, 23 mulçumanos, 15
hindus, sete budistas, além de seis religiões
Se você já viu o vídeo em nossa aula, já deve populares e 16 pessoas que não são religiosas.
saber como seria. No trecho que você assistiu, Em meio a esse grupo, há quem tenha mais di-
temos que, dessas 100 pessoas, 58 são nheiro, há quem tenha menos, há quem esteja
asiáticas, 19 são africanas, 12 são norte e desnutrido, há quem esteja obeso, há infecta-
sul-americanas, 10 são europeias e uma vem dos pelo Covid-19, crianças sem conseguir es-
da Oceania. Dentre essas pessoas, 18 são tudar por conta da pobreza, jovens graduados
chinesas e quatro são americanas. em universidades, pessoas que não sabem ler,
dentre muitas outras pessoas com suas devi-
das características.
31
descola.org | Fundamentos da diversidade

ONDE
A questão é:

QUEREMOS É com essa reflexão que chegamos na


importância de falar sobre diversidade. Todos

CHEGAR COM
nós somos muito diferentes e o maior desafio
disso é compreender que as coisas não devem
seguir um padrão pré-estabelecido como

TUDO ISSO?
referência do que é correto, como no Brasil,
por exemplo, onde o padrão é ser homem,
branco e heterossexual. A consequência de
se ter um padrão é o que vemos todos os
dias acontecendo pelo mundo: preconceito,
discriminação, pobreza e injustiça social.
A diversidade está em todo lugar. O que acon- Acontece que apenas falar sobre diversidade
tece, geralmente, é que estamos tão acostu- não é suficiente. Além de ser fundamental de-
mados com o nosso círculo social, com a nossa bater sobre o assunto, é importante agir. Uma
bolha, que não notamos o quanto o mundo em forma de aplicar isso é dentro das empresas a
que vivemos é tão diverso. partir da representatividade.

32
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

EMPRESA DIVERSA
A conta é simples: quanto maior a desigual- Para entendermos, então, o que as empresas
dade, maiores são os desafios econômicos, podem fazer, precisamos compreender qual o
a escassez de mão de obra, pessoas menos impacto da falta de representatividade no am-
qualificadas no mercado de trabalho e falta de biente de trabalho. Atualmente, os principais
sustentabilidade. O ponto é que, se as empre- marcadores sociais que têm sido acompanha-
sas não repensarem seus modelos de negócio dos são:
e entenderem o impacto social que possuem
em suas comunidades, elas correm um grande
risco de serem condenadas ao fracasso e en-
cerramento de suas atividades.

Estudar e compreender os marcadores sociais GÊNERO GERAÇÕES LGBTQIAP+


é essencial para desenhar uma estratégia de
diversidade, equidade e inclusão (DE&I), a fim
de criar ações afirmativas para a real inclusão
e desenvolvimento social. Na prática, trazer a
diversidade para o grupo é a saída para alcan-
çar benefícios, como resultados financeiros, PESSOAS COM RAÇA E ETNIA RELIGIÃO
soluções de problemas e criatividade. DEFICIÊNCIA

33
descola.org | Fundamentos da diversidade

Quando olhamos para esses marcadores, con-


seguimos ver o que não está refletido dentro
das organizações e porquê. Quantas pessoas
negras trabalham com você? Sua empresa
está preparada para receber colaboradores
com alguma necessidade especial? E quan-
tos colegas da comunidade LGBTQIAP+ você
tem no seu trabalho? Alguém é muçulmano?
Aqui, vemos que a ausência de pessoas diver-
sas faz com que a organização esteja em falta
com a representatividade.

Nesse movimento, temos a forte influência dos


vieses inconscientes ou cognitivos, que são
um caminho neural que nossos pensamentos
fazem para tomar uma decisão ou buscar uma
referência. Em outras palavras, são preconcei-
tos, estereótipos ou pensamentos sobre de-
terminado tema, grupo social ou pessoa que
induzem uma tomada de decisão tendenciosa.
Quer ver como esses vieses funcionam? #pracegover: cadeirante no ambiente de trabalho, com
cartigan amarelo, camiseta branca e calça jeans.

34
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos
#pracegover: Imagem de plano de fundo com mapa
do mundo, câmera fotográfica, lápis e vários folhe-
tos informativos sobre turismo.

Imagine que você vai fazer uma viagem. Você


pega um carro de aplicativo, chega ao aeroporto,
despacha suas bagagens, faz uma parada para
tomar um café, entra no avião, é recepcionado
pelos atendentes do voo, bem como o piloto, você
levanta voo, pousa, chega ao hotel, é atendido
pela equipe de recepção, sai para um passeio, faz
amizade com um casal em um restaurante e assim
você vai vivendo o seu roteiro.
35
descola.org | Fundamentos da diversidade

E COMO SAÍMOS DESTE


Agora, nos diga uma coisa: quando você ima-
ginou esse percurso, você pensou em uma
mulher como motorista do carro de aplica-
tivo? A pessoa que entregou seu café tinha EFEITO DOS VIESES INCONS-
deficiência? O piloto do avião era um homem
preto? O casal que você encontrou no res- CIENTES? EXPLORANDO A
taurante era homoafetivo? Provavelmente,
não. Nossos vieses inconscientes nos levam a DIVERSIDADE.
pensar em pessoas, na maioria das vezes, que
fazem parte de um padrão. É comum encontrar- Dentro do ambiente de trabalho, isso começa
mos uma mulher como motorista de um carro com as pessoas que trabalham para as or-
de aplicativo? Não, logo você pensa em um ganizações. Nos próximos capítulos, vamos
homem. É comum encontrar um homem preto abordar cada um dos marcadores sociais que
como piloto de um avião? Não, logo você pen- citamos para entendermos como as empresas
sa em um homem branco. É comum pensar em podem se movimentar para promover a diversi-
um casal homoafetivo quando usada a palavra dade, equidade e inclusão a partir da represen-
casal? Não, então você pensa em um homem e tatividade.
uma mulher.

36
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

4. capítulo
04 Gênero
É muito difícil ser mulher

GÊNERO
É m u ito d if íc i l s e r m u l h e r

#pracegover: Mulher asiática segurando um papel


com o desenho dos símbolos masculino e feminino.
Dentro deles tem o sinal de igual.

@ D E SC OL AGRAM
37
descola.org | Fundamentos da diversidade

#pracegover: imagem de fundo com dois pirulitos


em formato de coração, um azul e outro rosa.

AZUL DE MENINO, ROSA DE


MENINA. JÁ PARTICIPOU
DE ALGUMA DISCUSSÃO NA
38
QUAL O TEMA ERA ESSE?
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

Infelizmente, ainda há pessoas que fazem Isso, no entanto, fica a nível completamente
essa distinção, como se meninos só superficial, porque, na verdade, cientificamen-
pudessem usar azul e meninas só pudessem te, não há uma diferença cerebral com relação
usar rosa. Imagina só, anos atrás, ter uma ao gênero. Quem consegue provar isso é a Aca-
menina e fazer o quarto dela na cor azul! A demia Nacional de Ciências dos EUA (PNAS), a
barraca estaria armada para o falatório. E é qual demonstra através de estudos que não há
obrigatório menino usar azul e menina rosa? diferenças estruturais no cérebro de meni-
O menino não pode gostar de rosa e a menina nos e meninas. O cérebro, por si só, é um mo-
não pode gostar de azul? É difícil debater isso, saico de estruturas que vão sendo modeladas
mas a verdade é que essa situação mostra o e remodeladas dependendo do estímulo que
quanto o gênero é uma construção social. recebem, portanto, meninos e meninas terão a
mesma massa cerebral, não importa o gênero.

E como definir gênero? Quais são os


desafios que esse marcador social
coloca em nossa sociedade? Quais
as estratégias para que lidemos
com isso, seja em nossas vidas
pessoais ou profissionais? É o que
vamos ver ao longo deste capítulo.

#pracegover: Imagem 3D de um cérebro visto de lado. 39


descola.org | Fundamentos da diversidade

CONTEXTO
Definir gênero é uma tarefa um tanto quanto Através da aprendizagem, repetição de gestos,
complicada. Estudos recentes de sociologia, posturas e expressões entendemos como de-
antropologia e neurociência afirmam que os pa- vemos nos vestir, falar, como sentar em algum
péis de gênero são formados a partir das cons- lugar, como nos comportar, tudo sempre dentro
truções sociais e culturais, o que é pautado em do que a sociedade entende como feminino e
aspectos de uma cultura específica e um pe- masculino. Uma mulher sentar de pernas aber-
ríodo histórico específico, como a questão do tas, por exemplo, não é aceitável, assim como
azul para meninos e rosa para meninas. O que um homem cruzar as pernas também não é de
acontece é que essas construções sociais e bom tom. Alguma explicação científica para
culturais são mutáveis e precisam acompanhar isso? Nenhuma!
o tempo. Hoje em dia, por exemplo, já é mais
comum as cores dos tão falados chás de re-
velação do sexo do bebê serem diferentes de
azul e rosa, porque, de fato, isso é algo que vem
perdendo efeito.

E o que significa dizer que o gênero é cons-


truído social e culturalmente?
#pracegover: Menina jovem, branca, cabelos
longos, se olhando no espelho, reflexiva.
40
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

O que chamamos, então, de comportamentos


femininos e masculinos é a mais pura invenção
de uma sociedade e tudo depende da época.
Em meados dos séculos XVI e XVII, por exem-
plo, reis franceses usavam perucas, sapatos de
salto e maquiagem, pois isso indicava riqueza.
Homens na Escócia, culturalmente, usam saia
como vestimenta e eles não são vistos como
menos homens por isso. Essas situações só
nos provam ainda mais que a concepção de gê-
nero depende de um momento histórico e de
uma cultura social.

Dentro desse marcador social, encontramos


muitos desafios no que diz respeito à diversi-
dade. Vamos entender?

IMPORTANTE: vamos olhar para o marcador da


mulher a partir da lógica binária, a fim de facili- #pracegover: Irlandês, com vestimenta típica,
tar a compreensão, portanto, os desafios aqui tocando gaita de fole. Homem, branco, meia
encontrados são válidos para todos aqueles idade, barbudo, sem cabelo.

que se referem como mulheres.


41
descola.org | Fundamentos da diversidade

DESAFIOS
Pai e filho sofrem um acidente terrível de carro,
alguém chama a ambulância, mas o pai não re-
siste e morre no local. O filho é socorrido, leva-
do ao hospital, mas, quando chega lá, a pessoa
mais competente do centro cirúrgico diz que
não pode operá-lo, pois o menino é seu filho.
Quem era essa pessoa?

Se você já assistiu ao vídeo que está em nossa


vídeo aula, já sabe que essa pessoa é a mãe, #pracegover: Médica negra, cabelos soltos, na
mas você também demorou a chegar em uma altura do ombro, óculos, veste roupa de centro
cirúrgico. Está sorrindo.
resposta como aquelas pessoas do vídeo? Isso
acontece porque tendemos a esquecer da mu-
lher em determinadas posições. Não é comum
pensarmos na mulher como chefe de um cen-
tro cirúrgico, como presidente em uma empre-
sa, como pessoa responsável pela gestão de Quer rever o vídeo?
um fundo de investimento, pela tecnologia de Então clica aqui: https://www.youtube.com/
watch?v=vApfs8ATuDk
uma organização. São os vieses inconscientes
agindo, lembra deles?
42
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

Essa baixa representatividade da mulher em Ainda que inconscientemente, isso continua


posições de liderança está vinculada a pro- acontecendo, já que vemos mais homens em
cessos históricos de divisão de trabalho e cargos de maior prestígio.
expectativa sobre a mulher. Nossa sociedade
foi formada e organizada por homens brancos Apesar de observarmos um aumento na repre-
heterossexuais ocupando cargos de liderança, sentatividade feminina na liderança, o ritmo
enquanto a mulher tinha como função cuidar é lento e estamos longe de uma situação de
do lar, o único espaço onde realmente tinha voz equilíbrio. O impacto disso para a mulher na so-
ativa. ciedade atual? Veja só:

» Manutenção da baixa representatividade;


» Múltipla jornada de trabalho;
» Subestimação das competências;
» Falta de oportunidade;
» Salários menores;
» Silenciamento em reuniões;
» Impacto na autoestima; e
» Masculinização dos espaços de trabalho.

43
descola.org | Fundamentos da diversidade

O primeiro impacto de uma sociedade que #pracegover: Mulher, branca, meia idade, cadeiran-
coloca o homem em posições de destaque é te, em sala de reunião. Pensativa.
a manutenção da baixa representatividade,
o que dificulta que mulheres consigam se ver
em determinados espaços, pelo simples fato
de acharem que não conseguem. Ainda que
a maior parte da população brasileira seja de
mulheres (51,1%, segundo dados do IBGE
2021), não vemos isso refletido na prática.

HÁ, POR EXEMPLO, 15% DE


MULHERES NA CÂMARA DOS
DEPUTADOS, 14% NO SENADO,
4% EM CARGOS DE CFO (CHIEF
FINANCIAL OFFICER) E 0,8%
EM CARGOS DE CEO (CHIEF
EXECUTIVE OFFICER).
44
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

Outro impacto é a múltipla jornada de traba- Esse é, inclusive, o cenário que podemos en-
lho. Enquanto homens dedicam 11 horas se- contrar no filme Adoráveis Mulheres, uma
manais para o cuidado de pessoas ou afazeres adaptação do livro Mulherzinhas, da autora
domésticos, as mulheres dedicam 20,7 horas Louisa May Alcott. Aqui, conhecemos a histó-
semanais às mesmas atividades. Essa divisão ria de quatro irmãs que vivem no século 19, nos
é decorrente da sociedade patriarcal a qual já Estados Unidos, e precisam lidar com os de-
nos referimos e resgata aquele momento his- safios de entrar na vida adulta. Enquanto elas
tórico no qual era mal visto uma mulher traba- nutrem seus sonhos pessoais, a todo momen-
lhando fora de casa, fazendo faculdade ou se to elas são lembradas de que não podem ter a
dedicando a algo que não fosse seu marido e vida que querem se não se casarem com um
família. bom marido - rico, de preferência.

Legenda: Meg (Emma Watson), Amy (Florence


Pugh), Jo (Saoirse Rona) e Beth (Eliza Scanlen)
são irmãs que precisam lidar com os desafios de
ser mulher na vida adulta
Fonte: Divulgação
45
descola.org | Fundamentos da diversidade

Na sequência dos impactos, temos a subesti-


mação das competências. Nos dias atuais, as
mulheres têm maior tempo de estudo e são a
maioria com ensino superior completo. Entre-
tanto, mais uma vez, não vemos isso em prá-
tica. É muito comum, infelizmente, encontrar-
mos empresas que subestimam a capacidade
feminina, alegando que mulheres não possuem
o perfil necessário para ocupar uma vaga.

Esse é um ponto que se liga diretamente


com o próximo impacto, que é a falta de
oportunidade.

Confira aqui o trailer do filme DENTRE OS CARGOS


GERENCIAIS, APENAS
Mulherzinhas e sinta uma prévia do
que estamos falando:
https://www.youtube.com/watch?-

37,4% SÃO OCUPADOS


v=K5u_60e7jpQ

POR MULHERES.
#pracegover: Imagem do filme. Um homem e uma mulher, ambos
brancos e jovens, com vestimentas de época.

46
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

Este número diminui ainda mais conforme a


hierarquia aumenta.

Daí em diante, só ladeira abaixo, se é que po-


demos usar o bom e velho português coloquial.
Enquanto as mulheres têm suas competências
subestimadas e possuem poucas oportuni-
dades de crescimento, também há a questão
de salários menores, o que está longe de ser
um problema resolvido. Mesmo ocupando a
mesma posição e exercendo a mesma função,
mulheres brancas ganham, aproximadamente,
23% a menos que homens, já mulheres ne-
gras ganham 57% a menos.

Toda essa questão da mulher no trabalho


também é refletida pelo silenciamento nas
reuniões, outra consequência grave da desi-
gualdade de gêneros. Por serem vistas como
frágeis, menos preparadas, as mulheres aca-
bam sendo frequentemente interrompidas em #pracegover: Imagem de um computador cuja tela
mostra que está ocorrendo uma reunião virtual. Ao
suas falas ou nem recebem o direito da palavra lado, uma caneca com bebida quente.
para poderem dar suas opiniões.
47
descola.org | Fundamentos da diversidade

A consequência disso é a baixa auto-estima,


uma sobrecarga e esgotamento emocional.

Por fim, o último desafio que queremos trazer


aqui é o da masculinização dos espaços de
trabalho. No dia a dia, muitas mulheres que
estão em posição de liderança precisam ter
comportamentos e posturas masculinas para
poder ocupar tal espaço. Se uma líder opta pela
maternidade, por exemplo, não é raro perder
uma eventual promoção.

Diante de tudo, conhecer e endereçar esses


desafios é a melhor maneira de superá-los e
trazer a inclusão da mulher para os espaços
comuns da sociedade. Mesmo que seja um
problema estrutural, existem estratégias para
serem adotadas que ajudam a combater essa
desigualdade. Vamos conhecê-las? #pracegover: Mulher trabalhando no computa-
dor, enquanto filha desenha na mesma mesa de
trabalho.

48
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

ESTRATÉGIAS
Em meio à desigualdade de gênero,
cada um de nós, em conjunto com
empresas, corporações e gover-
nos, têm a responsabilidade e um
papel fundamental no combate da
disparidade de gênero, bem como
dos preconceitos decorrentes
disso. Nesse cenário, consegui-
mos atuar em três aspectos: na
nossa forma de pensar, na nossa
forma de expressar e na nossa
forma de agir. Vamos entender
melhor cada um deles.

49
descola.org | Fundamentos da diversidade

Nossa forma de pensar


Para mudar nossa forma de pensar e transformar a diversida-
de de gênero, o primeiro passo é rever estereótipos. Se você
ainda pensa que mulher não pode jogar futebol e homem não
pode gostar de rosa, é urgente reverter isso, porque quanto
mais estereótipos a sociedade cria para o gênero, mais difícil
fica mudar o cenário.
Não há problema nenhum encorajar mulheres a serem enge-
nheiras, cientistas, a trabalhar com tecnologia. Não há proble-
ma nenhum ter uma mulher em uma posição de alta hierarquia.
Não há problema nenhum em ter mulheres tomando decisões
que, normalmente, os homens tomariam. Em pleno século XXI,
não há como ter problema em enaltecer uma mulher e enten-
der que ela tem o lugar que ela quiser ter.
A dica, portanto, é: aproveite a riqueza de perspectivas e
experiências particulares de todas as pessoas, indepen-
dente de gênero. Se você trabalha em uma empresa e é res-
ponsável, de alguma forma, pelo departamento pessoal, tente
ter avaliações sem focar em gênero. Você vai ver que, no final,
essa pequena ação já faz diferença.
50 #pracegover: Mulher, negra, jovem, cabelo raspado,
alargador, de camisa social e gravata.
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

Nossa forma de expressar


Quantos anos vão ter que passar para que
as pessoas parem de emitir frases como es-
“Nossa, tá de TPM?” sas? Comentários e piadas como essas são
apenas alguns dos exemplos do que mulheres,
em sua maioria, precisam ouvir dia após dia.
“Futebol não é coisa de mulher.” Infelizmente, inconscientemente ou não, esse
tipo de fala só ajuda a perpetuar ainda mais a
“Ela conseguiu o emprego desigualdade de gênero e a violência contra a
porque é bonita.” mulher.

Mudar esse cenário não é fácil, afinal, estamos


falando de machismo, algo que, assim como
racismo, é estrutural da nossa sociedade. En-
tretanto, é possível fazer algo para tornar o es-
paço comum cada vez mais seguro e agradável
para as mulheres. Tudo começa com algumas
ações básicas:

» Dê crédito às mulheres;
» Valorize seu trabalho; e
#pracegover: Homem, jovem, des-
» Reconheça seu esforço.
contraído, apontando para cima,
51
onde ficam as frases típicas.
descola.org | Fundamentos da diversidade

A conta é muito simples. Ao dar crédito para as


mulheres, estamos reconhecendo seu trabalho
e talento, dando o devido valor às suas contri-
buições. Elogiar suas ideias e reconhecer seu
esforço também ajuda no apoio de suas inicia-
tivas, incentivando que elas continuem colabo-
rando e criando coisas novas.

Mas é claro que nada disso funciona se a comu-


nicação com a mulher continua sendo a mes-
ma, cheia de piadas e comentários machistas.
Rever a forma como a comunicação é feita
dentro e fora das empresas é um grande sal-
to para conquistar um pouco da equidade de
gênero que sonhamos.

#pracegover: Sete mulheres sentadas em uma


escada. Todas bem diferentes, estão em harmonia
52 e sorrindo.
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

Um filme que pode parecer bobo, mas que mos- Elle não só consegue o que quer como vira des-
tra muito isso é Legalmente Loira, um clássico taque em meio ao corpo estudantil ao resolver
que tem Reese Witherspoon como papel prin- um caso que parecia perdido.
cipal. No enredo, Reese é Elle Woods, uma pa-
tricinha que veste rosa dos pés à cabeça e tem
o típico cachorro de bolsa (um chihuahua muito
simpático). Mas ela não é só uma patricinha.
Antes de ser patricinha, ela é mulher e uma es-
tudante de Direito da Escola de Direito de Har-
vard. Se você já assistiu ao filme, sabe que Elle
simplesmente não tinha voz por três principais
motivos. Um: Elle é uma mulher. Dois: Elle é uma
mulher patricinha. Três: Elle é uma mulher que é
patricinha e é loira. Já entendeu, não é mesmo?
O estereótipo que Elle carrega a impede de ter
seu próprio crédito, valor considerado e esfor-
ço reconhecido.
#pracegover: Mulher, loira, de rosa pink, com ca-
chorro na mão, vestido de rosa com roxo.
Tudo muda, entretanto, quando ela usa sua in- Legenda: Reese Whiterspoon é Elle Woods em Legal-
teligência, seu charme e suas habilidades de mente Loira, uma comédia romântica que fala muito
comunicação para lidar com todo o preconceito sobre a comunicação com a mulher e os preconceitos
que ela sofre por conta de estereótipos
que sofre e mostrar do que é capaz.
Fonte: Divulgação

53
descola.org | Fundamentos da diversidade

Nossa forma de agir


Por fim, para encerrarmos nosso capítulo de Aqui, é claro, há muito a ser feito e não há pre-
gênero como marcador social de diversidade, visão alguma de que vamos conseguir aumen-
precisamos falar sobre as estratégias quanto tar a equidade entre homens e mulheres tão
a nossa forma de agir. cedo, mas é preciso lutar contra esse sistema.
Por isso, podemos começar:

» Apoiando organizações e iniciativas que promovam a igualdade de gênero e o


combate à violência contra mulheres;
» Promovendo a equidade de gênero em todas as áreas da vida pessoal e
profissional, ampliando a representatividade de mulheres em diferentes espaços;
» Promovendo espaços seguros para ouvir mulheres e perguntar como elas se
sentem nesses locais;
» Posicionando-nos contra qualquer manifestação preconceituosa de assédio ou
qualquer outro tipo de violência; e
» Compartilhando a responsabilidade de cuidado do lar e do ambiente de trabalho.

54
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

No que diz respeito ao apoio de organizações Ouvir como a mulher se sente em determinado
e iniciativas que promovam a igualdade de gê- local é fundamental para entender o que pre-
nero, isso pode ser feito a partir de doações cisa ser feito. Aqui, o diálogo é a chave para
financeiras, voluntariado ou participação em a virada, pois através dele é possível obter in-
campanhas e petições. Atuar de forma mais formações valiosas sobre questões de gênero
ativa nas organizações, adotando políticas e que podem estar afetando a experiência das
práticas mais inclusivas também é outra forma mulheres na organização.
de realizar esse apoio.

Quanto à promoção da equidade de gênero, é


possível trabalhar para ampliar a representa-
tividade de mulheres em diferentes espaços,
incluindo em cargos de liderança, na mídia, na
política e em outras áreas de influência. Incen-
tivar a participação de mulheres em palestras,
conferências e eventos, por exemplo, é uma
boa ação.

E POR FALAR EM ESPAÇOS,


ESSES PRECISAM SER
#pracegover: Duas pessoas conversando, enquan-
to tomam uma xícara de café.

SEGUROS.
55
descola.org | Fundamentos da diversidade

Nada disso é válido, porém, se abusos, precon- Fox News de televisão e que, juntas, decidem
ceitos e violências continuarem existindo. E denunciar o assédio sexual que sofrem do CEO
talvez uma das ações mais importantes seja Roger Ailes. Infelizmente, acredite ou não, a
justamente esta: denunciar qualquer tipo de história é baseada em fatos reais e mostra
injustiça social que ocorra dentro da empresa. como mulheres são sujeitadas a ambientes
Isso pode partir de qualquer pessoa, inclusive tóxicos de trabalho, onde sua aparência física
de mulheres, que é exatamente o que aconte- e atração sexual viram armas para a objetifica-
ce no filme O Escândalo, o qual conta a história ção de seus corpos.
de um grupo de mulheres que trabalha no canal

#pracegover: Três mulheres, loiras, elegantes,


sérias, com roupa social.

Legenda: Charlize Theron, Nicole Kidman e Margot Robbie


são as atrizes que interpretam o grupo de mulheres que
derruba o presidente Roger Ailes da Fox News
56 Fonte: Divulgação
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

Por último, o compartilhamento de respon-


sabilidades dentro de casa é fundamental,
já que essa divisão desigual ou absolutamente
O FAMOSO 50/50.
nada igual (considerando que, em muitas famí- E agora que terminamos nosso capítulo sobre
lias, o homem nem divide essa responsabilida- o marcador de gênero, se ajeite aí, porque em
de) é consequência de uma sociedade machis- nosso próximo capítulo vamos começar a falar
ta e patriarcal e é difícil mudá-la. Uma divisão sobre o marcador de gerações, outra pauta so-
equitativa aqui é a melhor saída para mudar cial com muita coisa a ser dita.
essa realidade.

#pracegover: Duas pessoas de mãos dadas e 57


completamente sujas de tinta por estarem juntas
pintando a casa. Ambas seguram pincéis de parede.
descola.org | Fundamentos da diversidade

5. Gerações
05 capítulo
Dos mais novos aos mais velhos:
os preconceitos embutidos

GERAÇÕES
Do s m a i s n ovo s ao s mais ve lh o s :
o s p recon ce it o s e mb u t id o s

#pracegover: Mulher de terceira idade com jovem


mulçumana no ambiente de trabalho.

@ DESCOLAGRAM
58
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

Nós nascemos, vivemos e morremos. Essa é a A expectativa de vida também não é a mesma:
ordem natural da vida. O que ninguém conta é saiu de 74 anos em 2010 para 77 em 2022.
como é difícil viver enquanto envelhecemos e E o que tudo isso quer dizer? Que a população
vamos perdendo nosso valor para a sociedade. está envelhecendo e muitas questões estão
surgindo.

SEGUNDO O IBGE, Neste capítulo, vamos abordar o marcador so-

15% DA POPULAÇÃO
cial de geração e os obstáculos que os mais
velhos enfrentam para continuarem vivendo

BRASILEIRA TINHA 60
em sociedade. Da mesma forma como fizemos
no último capítulo, também veremos o contex-
to da diversidade dentro das gerações, quais

ANOS OU MAIS EM
os desafios impostos e quais as estratégias
para lidar com isso.

2010, NÚMERO QUE


QUASE DUPLICOU EM
2022.
59
#pracegover: Duas pessoas idosas se abraçando
e sorrindo.
descola.org | Fundamentos da diversidade

CONTEXTO
Pessoas de diferentes idades convivem juntas, Se você olhar dentro das empresas, um bom
dando corpo para a nossa sociedade. É isso que local para ver toda essa galera junta, vai encon-
nos coloca diante da diversidade de gerações, trar colaboradores das mais diversas idades.
algo que é importante de ser discutido, por nos Provavelmente, você vai encontrar pessoas
trazer diferentes perspectivas e experiências. das principais gerações, as quais são:

Baby Millennials ou
Boomers Geração Y
nas c i d o s e n tr e 1 9 4 6 e 1 9 6 4 n as cido s e n t re 1981 e 1996

Geração X Geração Z/
n as c i d o s e n tr e 1965 e
1 9 80 Centennials ou
Pós-millennials
n as cido s e n t re 1997 e 2 012

As gerações existem para dividir as pessoas Um baby boomer, por exemplo, não pensa da
em algumas faixas etárias de nascimento, mas mesma forma que um millennial da geração Y,
também servem para agrupar pessoas em vi- pois viveu em uma época diferente e se adap-
vências e momentos históricos diferentes. tou a um outro momento. Mas como cada ge-
ração, de fato, se comporta?
60
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

Baby M
B oo m e r s
n as ci d os en tr e 194 6 e 1 9 64 nas

Baby Millennia
B o om e r s Geração X Geraçã
n as c i d os en tr e 1946 e 1964 na sc ido s ent re 19 65 e nascidos e ntre 1
1980

Os baby boomers, nascidos entre 1946 Quem nasceu na geração X, nasceu entre
e 1964, tendem a valorizar a lealdade e a os anos de 1965 e 1980, um período de
estabilidade no emprego. Eles cresceram Geração
muitas mudanças X sociais e econômicas,
em um período de prosperidade econômi- na sc ido s ento
incluindo re aumento
19 65 e do individualismo e
1980
ca (pós-Segunda Guerra Mundial) e mui- da competição do local de trabalho, o que
tas mudanças sociais, o que faz com que faz com que as pessoas dessa geração
se sintam mais seguros em um emprego tenham a tendência de buscar sua pró-
no qual possam confiar e se manterem pria liberdade. Foi essa, também, a primei-
estáveis. ra geração a ter contato com um mundo
que estava cada vez mais dominado pela
tecnologia.
61
descola.org | Fundamentos da diversidade

Millennials ou
Geração Y
n as c i do s en tr e 198 1 e 1996

Geração X Geração Z/
scidos e nt re 1 9 6 5 e
1 98 0 Millennials ou Centennials ou
Geração Y Pós-millennials
n as ci d os en tr e 1981 e 1996 na scidos entre 1997 e 2012

Já os millennials, nascidos entre 1981 e Por fim, os nascidos na geração Z (entre


X 1996, cresceram em um período de avan-
ços tecnológicos significativos, com a
Geração
1997 e 2012), já Z/nasceram e cresceram
em um mundo globalizado e mais conec-
65 e
expansão da internet e celulares móveis. Centennials
tado digitalmente,ou tanto que essa é a
Por conta disso, tendem a valorizar a fle- Pós-millennials a primeira nativa
geração descrita como
xibilidade e a variedade em suas carreiras, na scdigital. É re
ido s ent por1 9isso
97 eque podemos entender
20 12
bem como são mais ambiciosos, otimis- que são essas as pessoas mais preocu-
tas e preocupados com questões sociais padas com questões de sustentabilida-
e ambientais. de, e diversidade, por exemplo.

62
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

O que acontece com o passar dos anos é


que as gerações mais jovens e as mais ve-
lhas podem enfrentar alguns preconceitos
e discriminações no ambiente de trabalho,
sendo os mais jovens rotulados de inexpe-
rientes ou pouco confiáveis e os mais ve-
lhos como ultrapassados, sem serventia,
que é onde mora nosso problema.

Para entender, entretanto, quais são os


desafios que rondam o marcador social da
geração, precisamos diferenciar dois con-
ceitos de conhecimento: o explícito e o tá-
cito. O conhecimento explícito é aquele
que pode ser passado não só na oralidade,
na rotina, mas principalmente formalizado
e codificado em documentos, manuais, li-
vros, treinamentos, guias, etc. Esse é um
conhecimento fundamental para alinhar e
atualizar o conhecimento, pois pode ser
#pracegover: Pessoa lendo livro em braille.
facilmente comunicado e compartilhado
com outras pessoas.
63
descola.org | Fundamentos da diversidade

Já o conhecimento tácito é aquele que é di- que é quem passa esse conhecimento para
fícil formalizar e codificar. É exatamente o tipo o outro a partir da vivência e prática. Mas se
de conhecimento que é adquirido através de o mais velho está perdendo seu valor, como
experiência, de prática, de observação e está, ficamos?
muitas vezes, implícito na tomada de decisão.
É um conhecimento muito difícil de ser comu-
nicado e compartilhado com outras pessoas,
pois é único de cada um.

Dentro das empresas, por exemplo, ambos os


conhecimentos são valorizados, mas, quando
falamos de gerações, os desafios aparecem.

QUEM, NORMALMENTE,
POSSUI O CONHECIMENTO
TÁCITO É O MAIS VELHO,
#pracegover: Senhor, cadeirante, lendo um livro no
ambiente de trabalho.

64
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

DESAFIOS
Há um momento triste da vida em que os vie- » Percepção de menor produtividade;
ses tomam forma e as pessoas acima de 60 » Estereótipos negativos;
anos vão perdendo seu valor para a sociedade. » Dedução sobre as habilidades ou
Quem está na posição de julgamento acredita limitações com base em idade; e
que essas pessoas não podem mais exercer » Tratamento injusto ou falta de
suas funções e, por isso, devem se afastar de oportunidades.
suas responsabilidades, principalmente quan-
do falamos do trabalho dentro de uma organi-
zação. O nome disso é etarismo e é um pre- O que acontece, primeiramente, é que algumas
conceito exercido contra pessoas mais velhas, pessoas podem acreditar que os colaborado-
levando-as à marginalização e exclusão social res mais velhos são menos produtivos e me-
por conta da idade. nos capazes de aprender novas habilidades em
comparação aos mais jovens, fazendo com que
Em termos de diversidade, pessoas de dife- eles sejam distanciados de suas funções na
rentes gerações deveriam poder conviver jun- empresa. Além disso, a crença de que as pes-
tas em sociedade, mas não é o que acontece soas mais velhas são menos capazes, menos
quando nos deparamos com esse desafio do produtivas e menos valiosas faz com que se
etarismo, o qual pode se manifestar de diver- criem estereótipos negativos que não condi-
sas maneiras, incluindo: zem, necessariamente, com a realidade.

65
descola.org | Fundamentos da diversidade

Outra manifestação do etarismo é quando há


uma dedução sobre as habilidades ou limita-
ções de uma pessoa por conta da sua idade.
Não é porque uma pessoa é mais velha que ela
não tem capacidade de dirigir um carro, de usar
um smartphone, um tablet ou um computador. #pracegover: Três gerações de mãos, uma segu-
rando a outra em formato de concha e, dentro da
Não é por que uma pessoa é mais velha que mão mais jovem, uma muda de árvore.
seu direito de continuar atuando ativamente na
sociedade deve ser retirado por quem comete Perder a chance de adquirir aquele conheci-
esse preconceito. mento tácito do qual falamos, que é, geralmen-

E SABE QUAL
te, o mais velho que possui. É perder a chance
de aprender com as experiências do mais ve-
lho, com suas habilidades e suas capacidades
adquiridas ao longo de sua trajetória.

O MAIOR A consequência disso? O desemprego. Para


as organizações, manter uma pessoa mais ve-

PROBLEMA DO
lha em seu cargo é mais caro, visto que seu
salário reflete o tempo de experiência e nível
de habilidade. A contratação de pessoas mais

ETARISMO?
velhas também não é algo que acontece com
tanta frequência, por conta de questões como
aposentadoria, curva de aprendizagem e mo-
mento da vida.
66
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

Um filme que mostra bastante esse cenário é que vive uma vida bastante atarefada e precisa
O Senhor Estagiário, cuja história é centrada de ajuda. Apesar de Ben ter uma chance, como
em Ben, personagem interpretado por Robert muitos outros senhores e senhoras de mesma
DeNiro, um executivo aposentado que quer idade não têm, é interessante ver como, no fil-
voltar a trabalhar e, para isso, aceita o trabalho me, Ben lida com diversos desafios por conta
de ser um estagiário para uma empresa que da sua idade e sofre com a desconfiança que
vende roupas. Aqui, Ben é estagiário de Jules outras pessoas têm sobre o seu trabalho.
Ostin (Anne Hathaway), a criadora da empresa,

COMO RESOLVER, ENTÃO,


TODOS ESSES PROBLEMAS?
A PARTIR DE ALGUMAS
ESTRATÉGIAS, AS QUAIS
VAMOS CONHECER A SEGUIR.

#pracegover: Robert DeNiro e Anne Hathaway contracenam jun-


tos neste filme que aborda a questão do etarismo no trabalho
Fonte: Divulgação 67
descola.org | Fundamentos da diversidade

ESTRATÉGIAS
Promover a diversidade e inclusão entre as
gerações é algo que precisa ser feito a partir
de algumas estratégias, as quais, como você
está vendo, estão sendo aplicadas no ambien-
te de trabalho. A primeira delas é o reconhe-
cimento das diferenças para a criação de
um ambiente que valorize as contribuições
de cada geração. Isso pode ser feito com a
criação de programas de mentoria intergera-
cional, nos quais membros mais experientes
podem compartilhar seus conhecimentos
com os mais jovens e vice e versa. Outra pos-
sibilidade é a criação de políticas de trabalho
flexíveis que permitam que pessoas de di-
ferentes gerações equilibrem suas respon-
sabilidades pessoais e profissionais.

68
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

Para esse reconhecimento de diferenças, portan- Equilibrar isso é a saída para promover a in-
to, é importante reconhecer que a inclusão pode clusão de pessoas de diversas gerações em
ser desafiadora, mas totalmente necessária. Da um mesmo espaço.
mesma forma que os mais velhos sofrem com o Pode parecer mais simples pensar nas estraté-
etarismo, os mais jovens também sofrem com gias para combater o preconceito com os mais
o desafio de não possuírem as experiências ne- jovens, como a oferta de mais oportunidades,
cessárias para um cargo. mas, com o etarismo, o problema é mais pro-
fundo, então temos medidas específicas de:

» Recrutamento e seleção;
» Treinamento e desenvolvimento;
» Comunicação e engajamento;
» Políticas de diversidade; e
» Avaliação de desempenho.

69
descola.org | Fundamentos da diversidade

Com relação ao recrutamento e seleção, as


empresas podem implementar políticas que
incentivem a contratação de candidatos de di-
ferentes faixas etárias, incluindo a revisão dos
critérios de seleção de currículos e a adição de #pracegover: Equipe de trabalho com
pessoas de diferentes idades.
uma ampla gama de experiências e habilidades
relevantes.
Tudo isso pode ser impulsionado pela formula-
Já quanto ao treinamento e desenvolvimen- ção de políticas de diversidade, pelas quais
to, a oferta deve incluir todos os grupos etários as organizações podem adotar algumas medi-
para ajudar a garantir que os funcionários mais das que incentivem a diversidade de gerações.
antigos possam se manter atualizados com as A inclusão de colaboradores de diferentes fai-
mudanças tecnológicas e culturais. Mentorias xas etárias em programas de promoção e remu-
e oportunidades de desenvolvimento de carrei- neração, por exemplo, é uma opção.
ra, neste caso, também são bem-vindas.
Por fim, a avaliação de desempenho é uma
Sobre a comunicação e engajamento, as em- estratégia fundamental para avaliar o desem-
presas podem criar oportunidades para que penho dos colaboradores, porém, é necessário
os colaboradores de diferentes faixas etárias fazer isso com base em critérios justos e obje-
se conectem e trabalhem juntos. Pode existir, tivos, independentemente da idade.
por exemplo, um programa com treinamentos
e palestras para conscientizar os funcionários Agora que finalizamos mais um marcador so-
sobre a importância da diversidade etária e os cial, vamos, no próximo capítulo, falar sobre
danos do etarismo. mais um: o marcador de LGBTQIAP+. Vamos lá?
70
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

06 capítulo

LGBTQIAP+
Um arc o - íris de r iquezas

#pracegover: Bandeira símbolo do movimento LGB-


TQIAP+ asteada e balançando com o vento.

71

@DESCOLAGRAM
descola.org | Fundamentos da diversidade

#pracegover: Arco-íris com uma pessoa


no centro dele. Veste calça jeans e tênis
branco. Só aparecem as pernas.
Lésbica. Gay. Bissexual. Transexual, traves-
ti, transgênero. Queer. Intersexual. Asse-
xual. Pansexual. E outros. Essa é a tradução
da sigla que remete ao movimento que questio-
na os padrões hetero cis normativos que vive-
mos. Não é um marcador fácil de ser debatido,
muito menos um marcador completamente es-
tático, já que, com o tempo, a sigla aumenta e
outras categorias entram nesse grupo de pes-
soas diversas.

Não há uma forma correta de debater o assun-


to, mas o que vamos fazer, neste capítulo, é
te contar um pouco de história, de contexto,
bem como dos desafios e estratégias que já
são marca registrada nos capítulos do nosso
ebook.

72
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

CONTEXTO
LGBTQIAP+ é a sigla que representa um grupo Diante disso, aqui, precisamos sair do olhar
de pessoas que defendem a diversidade, bus- binário de homem e mulher e entender como
cam representatividade e garantia de seus di- a identidade de cada um vai muito além disso.
reitos e questionam o padrão heteronormativo Antes, entretanto, de compreendermos o que
e binário que a sociedade se formou. diz este marcador social, queremos que conheça
como surgiu o movimento que deu origem a ele.
A h o m o sse x u a l i -
d a d e e r a co n s i d- B ras il s e to rno u
erada um crime e o prim eiro pa ís
a d i sc r i m i n a ç ã o Sur g i mento do da Am érica
co n t r a p e s so a s G r up o Gay da Latina a
LGBTQIAP+ era Bahi a , a pri- l ega l iza r o
tolerada e muitas me i r a organi- ca s am ento entre
ve z e s i n c e n t i va da z a ç ã o LGB T do pes s o as do
p e l o gove r n o . Br asi l. m es m o s ex o .

1960 - 7 0 1985 1989 1990 2004 2011


A homosse xu- Orga niza ção de A Suprem a
a li d a d e foi r e - pa rada s do C o rte do Brasil
t i r ad a d a li st a o rgul ho LGB T em reco nheceu a
d e d oe nç a s vária s cida des uniã o es tável
me nt a i s p e la do B ras il , entre cas ais do
O r g ani z a ç ã o incl uindo São m es m o s exo.
Mund i al d a Pa ul o , que s e
Sa úd e ( O MS) to rno u a m a io r
pa rada do
o rgul ho LGB T do
#pracegover: Linha do tempo com os anos e mar- m undo .
cos importantes. 73
descola.org | Fundamentos da diversidade

Movimento LGBTQIAP+
No Brasil, o movimento LGBTQIAP+ remon-
ta ao período da ditadura militar, nas décadas
de 1960 e 1970. Pelo contexto histórico, já
podemos imaginar que a luta pela diversidade
e representatividade não foi fácil, mas, mes-
mo assim, as pessoas lutavam por isso. O que
tornava tudo ainda mais complicado era que a
homossexualidade era considera um crime e
a discriminação contra pessoas dessa comu-
nidade era tolerada, muitas vezes incentivada
pelo próprio governo.

As coisas só começaram a mudar em 1985,


quando a homossexualidade foi retirada da lis-
ta de doenças mentais pela Organização Mun-
dial da Saúde (OMS). Mais tarde, em 1989, no
Brasil, o movimento de luta foi reforçado pelo
surgimento do Grupo Gay da Bahia, a primeira
organização LGBT do país. #pracegover: Mulher, negra, com roupa dos anos
70, braços erguidos para cima, segurando a bandei-
ra do movimento LBGTQIAP+

74
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

A partir de 1990, o movimento


no Brasil ficou ainda mais for-
te, principalmente por conta
da organização de paradas do
orgulho LGBT, o que acontecia
em várias cidades do país e se
tornou a maior parada do orgulho
LGBT do mundo.

#pracegover: Registro da passeata em SP, avenida


paulista lotada de pessoas, uma bandeira enorme
por cima da multidão e o MASP ao fundo.

Legenda: Multidão de pessoas na Parada do Orgulho LGBT


2022, em São Paulo, primeira edição pós-pandemia
Fonte: Kevin Daviv/A7 Press/Estadão
75
descola.org | Fundamentos da diversidade

E O CRESCIMENTO
Em contrapartida, quanto mais reconhecimen-
to, maior a violência. Mesmo que esse seja um

DO MOVIMENTO
marcador social que já está sendo muito mais
tolerado, ainda há muito preconceito contra o
tema. No Brasil, crimes de ódio e violência fí-

NÃO PAROU POR AÍ.


sica e psicológica contra homossexuais ainda
acontecem, infelizmente. Em 2022, alguns ca-
sos ganharam destaque por serem extrema-
mente bárbaros.
A luta, depois de muito tempo, parecia
surtir efeito. Em 2004, o Brasil se tornou o A luta por igualdade de direitos e inclusão, en-
primeiro país da América Latina a legalizar tretanto, continua, mesmo que a população
o casamento entre pessoas do mesmo LGBTQIAP+ esteja cada vez mais exposta a si-
sexo, além de, em 2011, a Suprema Corte do tuações de vulnerabilidade.
país reconhecer a união estável entre casais
homossexuais.

#pracegover: Recorte de imagem com algumas


bandeiras do movimento LGBTQIAP+.

76
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

Os termos da comunidade
LGBTQIAP+
Depois de entender a origem do movimento A identidade de gênero é a percepção interna e
LGBTQIAP+, para não colocar você em uma pessoal de uma pessoa em relação ao seu gênero,
enrascada, precisamos te ajudar a diferenciar ou seja, a forma como cada um se identifica,
alguns termos bastante utilizados com essa seja como gênero masculino, feminino, não-
temática, que são: sexo biológico, identidade, binário ou qualquer outra identididade, que
orientação e expressão. não está, necessariamente, relacionada ao
sexo biológico ou às características sexuais
O sexo biológico é o sexo designado no primárias ou secundárias de uma pessoa.
nascimento, quando se avalia a genética da
pessoa, o órgão sexual (interno e externo), IMPORTANTE: no que diz respeito à identidade
hormônios e outros aspectos. É importante de gênero, é fundamental compreender a dife-
lembrar que há, dentro disso, há pessoas rença entre os termos cisgênero e transgêne-
intersexuais, ou seja, aquelas que podem ter ro. Quando uma pessoa reconhece o seu gêne-
variações dessas características, não sendo ro de nascimento, ela é considerada cisgênero.
definidas nem como sexo masculino nem como Já quando ela não reconhece, ela é considera-
sexo feminino. da transgênero.

77
descola.org | Fundamentos da diversidade

A orientação, por sua vez, é quando falamos


de como nos relacionamos, seja com atração
emocional, romântica ou sexual. Neste caso,
Este vídeo mostra de forma leve como
uma pessoa pode ser:
adolescentes respondem o quão atraídos
eles são por pessoas do mesmo sexo.
» Heterossexual (sentir atração por outro Vale a pena para entender o conceito de
gênero), orientação sexual:
» Homossexual (sentir atração pelo https://www.youtube.com/watch?v=k53GjPSzmME
mesmo gênero),
» Bissexual (sentir atração por qualquer
gênero), Por fim, a expressão de gênero é a forma como
» Pansexual (sentir atração por pessoas uma pessoa expressa sua identidade de gêne-
além de gênero), ro ao mundo, seja por meio da roupa, do cabelo,
» Assexual (sente pouca ou nenhuma da maquiagem, do comportamento, da voz ou
atração sexual) ou ter alguma outra qualquer outra coisa que reflita o gênero que se
quer mostrar.
orientação.
Agora que você aprendeu todos esses termos,
é essencial entendermos, também, o que está,
exatamente, por trás de cada letra da sigla
deste marcador social. Aprenda, a seguir, o que
cada letra representa.
78
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

L é s b i c a : Mu lh er ( c i s o u tr a n s) que é atraíd a af e tiva e /ou se xualme nte p or


p e s s o a s do m esm o sexo / g ên ero (cis ou trans).

G a y : R e pr esen ta pesso a s do g êne ro masculino (cis ou trans) q ue se se nte m atraídas


a f e t i va e /o u sexu a lm en te co m o utras p e ssoas d o gê ne ro masculino (cis ou trans).

B i s s e x u al: Pesso a s qu e sen tem atração af e tiva e /ou se xual p or mais d e um gê nero.

T r a n s e x uais, tr a ve stis, tr a nsgê neros e pes s oas não binárias : Pe ssoas q ue não s e
i d e nt i f i c a m co m o g ên ero desi g nad o no nascime nto.

Q u e e r : Termo de origem norte-americana para designar pessoas que não se identificam com padrões
impostos pela sociedade, sem concordar com tais rótulos que limitam a dimensão e a vivência da sua
sexualidade; pode se referir também às pessoas que não saibam definir seu gênero/orientação sexual.

I n t e r s e xuais: Pesso a s c u j o desenvolvime nto se xual ou re p rod utivo b iológico não s e


e n c a i x a m n a n o r m a bi n á r i a ( fem inino e masculino).

A s s e x u a is: É a o r i en ta ç ã o sexu al q ue e xp re ssa a f alta total, p arcial ou cond icional


d e a t r a ç ã o sexu a l a qu a lqu er pessoa, ind e p e nd e nte d o se xo b iológico ou gê ne ro.

P P a n s e x ual: Pessoa que tem atração sexual ou romântica por todas as identidades de
gênero, inclusive as que não pertencem ao campo convencional do masculino ou f e minino.

+ : A b r i g a to da s a s di ver sa s po ss ib ilid ad e s d e orie ntação se xual e /ou d e id e ntid ade


d e g ê nero .

79
descola.org | Fundamentos da diversidade

Lésbica Bissexual
Este é um termo que se refere a mulheres A bissexualidade também é categorizada
(cis ou trans) que são atraídas afetiva- como uma orientação sexual. Neste caso,
mente e/ou sexualmente por pessoas do fala sobre pessoas que se relacionam afe-
mesmo sexo/gênero (cis ou trans). Nesta tivamente e/ou sexualmente tanto com
orientação sexual, não é preciso ter tido, pessoas do mesmo gênero quanto de ou-
necessariamente, experiências sexuais tros gêneros.
com mulheres para ter a identificação
como lésbica.

Gay
Este é o termo que segue a mesma linha do anterior, porém se
referindo a homens. Com isso, é a orientação sexual que diz
respeito a homens (cis ou trans) que são atraídos afetivamente
e/ou sexualmente por pessoas do mesmo sexo/gênero (cis ou
trans). Também não é necessário ter tido uma relação com um
homem para ter a identificação como gay.

80
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

Transexual, Travesti,
Transgênero Queer
Diferente dos outros termos, o conceito Queer é um termo derivado da língua in-
de transexual se relaciona com a identida- glesa e se refere a pessoas que não se
de de gênero, não com orientação sexual. encaixam na heterocisnormatividade, ou
Diz respeito à pessoa que possui uma seja, que não se identificam com o padrão
identidade de gênero diferente do sexo binário de gênero. Embora o conceito
que foi designado no nascimento. Uma englobe todas as demais letras, também
mulher trans, portanto, tem o sexo biológi- representa aquelas pessoas que se iden-
co masculino, mas se identifica como mu- tificam com nenhuma das letras, pois não
lher. O homem trans tem o sexo biológico são adeptas a rótulos sociais.
feminino, mas se identifica como homem.
Importante: além de queer, a letra Q na si-
Importante: também podemos colocar gla também pode significar “questioning”,
neste grupo as pessoas não binárias, que fazendo menção a pessoas que, quando en-
são aquelas que não se percebem dentro tendem o sistema, começam a questionar
de um gênero exclusivo. sua posição dentro dele.

81
descola.org | Fundamentos da diversidade

Intersexual Pansexual
O termo intersexual define a pessoa que nas- A pansexualidade é também outra orientação
ceu com a genética diferente de XX ou XY e sexual e se refere a pessoas que desenvol-
tem a genitália ou sistema reprodutivo fora vem atração física, afetiva e desejo sexual por
do sistema binário homem/mulher. Em outras outras pessoas independente de sua identi-
palavras, a pessoa intersexual nasce com dade de gênero.
uma variação nas características sexuais que
identificam cada sexo, podendo ter diferen- Importante: existe uma discussão acerca da
ças nos genitais, cromossomos, gônadas ou bissexualidade e da pansexualidade, pois, teo-
hormônios, não coincindindo com o entendi- ricamente, os termos significam a mesma coi-
mento binário padrão dos corpos. sa. A título de informação, a diferença fica por
conta da identidade de gênero e como cada um
prefere se enxergar.

Assexual
Assexual é o indivíduo que sente pouca ou
+
nenhuma atração sexual por qualquer gênero. Além de todos esses termos que menciona-
Isso não indica que as pessoas com essa mos, há outras orientações e identidades de
orientação sexual não possam se relacionar gênero que podem se encaixar nesse marca-
ou desenvolver sentimentos amorosos e afe- dor social, o que é representado na sigla pelo
tivos por outras pessoas. símbolo de soma (+). A intenção é que todos
compreendam que a diversidade não termina
na última letra e que, ao longo do tempo, no-
vas orientações e identidade podem surgir.
82
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

DESAFIOS #pracegover: Registro de uma passeata com muitas


pessoas com bandeiras do movimento LGBTQIAP+.

Abordar este marcador social, como já disse-


mos, não é tarefa fácil. Há muitos termos e con-
ceitos envolvidos e é preciso muito cuidado ao
falar sobre. Isso é decorrido do fato de essa ser
uma luta longa e extensa, mas que não é muito
valorizada e nem tampouco ensinada para a so-
ciedade. Pelo grande tabu em torno da sexuali-
dade, é um tema que não é debatido em muitas
escolas, por exemplo, tornando o conhecimen-
to sobre o tema raso e superficial.

Aqui, nós queremos o contrário. Nós queremos


que você não só conheça o movimento que ori-
ginou o marcador social de LGBTQIAP+, o que
já vimos, como consiga entender os desafios
que este grupo minorizado sofre no dia a dia.
Com isso, sem sombra de dúvidas, por tudo o
que vimos até então, nosso maior desafio com
este marcador é o da LGBTfobia, do qual vamos
falar melhor a seguir.

83
descola.org | Fundamentos da diversidade

LGBTfobia
Quando falamos sobre o marcador social de uma batalha vencida em toda a luta do
LGBTQIAP+, não há como passar por ele sem movimento LGBTQIAP+. Com essa medida,
explorar o desafio da LGBTfobia, uma terminolo- qualquer ato de preconceito contra pessoas
gia usada para abarcar todas as formas de pre- homossexuais e transexuais se tornou crime,
conceito e violência realizadas contra pessoas sob pena de 1 a 3 anos e aplicação de multa.
desse grupo, nas quais a motivação principal é,
basicamente, a identidade de gênero, a orien- Ainda que esse tenha sido um grande passo,
tação sexual e, também, a expressão sexual. lutar na prevenção ajuda a acelerar a transfor-
mação da pauta. Mais do que punir, é preciso

EM 13 DE JUNHO DE 2019,
educar e quebrar os ciclos de violência para
que ela não aconteça.

O SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL APROVOU
A CRIMINALIZAÇÃO
DA HOMOFOBIA E DA
84
TRANSFOBIA NO BRASIL, #pracegover: Imagem de uma pessoa de costas,
coberta com uma bandeira e com um boné preto,
escrito igualdade em inglês.
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

O que torna tudo mais difícil e complexo é que nem sempre a violência é exposta.
Às vezes, ela é tão enraizada que não é percebida. É possível ver violência com:

» Falta de representatividade;
» Olhares de menosprezo;
» Erro do pronome;
» Recusa do uso do nome social;
» Questionamento sobre a roupa que veste;
» Perguntas indiscretas sobre identidade e sexualidade;
» Restrição do uso do banheiro quando é separado por gênero;
» Ausência de leis específicas;
» Isolamento social;
» Não contratação por preconceito;
» Entre outros.

Com isso, a LGBTfobia se manifesta de diver- O que marca a fobia é a rejeição assumida, seja
sas formas, desde uma simples palavra opres- pela família, no trabalho, na política, na escola,
sora até um ato físico. na universidade, espaços de lazer, entre outros.
85
descola.org | Fundamentos da diversidade

Um filme que mostra muito bem


como isso é vivido em sociedade
é O Segredo de Brokeback Moun-
tain, o qual conta a história de En-
nis Del Mar (interpretado por Heath
Ledger) e Jack Twist (interpretado
por Jake Gyllenhaal), dois cowboys
que precisam enfrentar todo o es-
tereótipo de homem branco, forte
e heterosexual para lidar com as
dificuldades e os preconceitos de
serem, na verdade, um casal que
descobre a homossexualidade. O
filme mostra não só como a socie-
dade lida com homens gays, como
também como os personagens lu-
tam para aceitar seus próprios sen-
timentos em meio a uma sociedade
violenta que, na verdade, não os
aceita como eles são. #pracegover: Heath Ledger e Jack Gyllenhaal dividem a cena
em filme que conta a descoberta da orientação sexual de dois
cowboys que vivem em meio a uma sociedade preconceituosa
Fonte: Reprodução
86
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

E com toda essa questão da LGBTfobia, outros A taxa assusta, mas é fruto da cultura transfó-
desafios se tornam inevitáveis: a depressão, bica que vivemos. Uma mulher trans é expulsa
a ansiedade, ideações suicidas e outros de casa, em média, com 13 anos e abandona o
problemas de saúde mental. Diversos estudos, ensino médio entre os 14 e os 18 anos. O que
inclusive, conseguem confirmar que adultos sobra? A discriminação, a falta de apoio fami-
e jovens dessa comunidade têm maiores liar, a convivência com a violência.
chances de cometerem suicídio. O resultado é
refletido na expectativa de vida:

ENQUANTO A POPULAÇÃO
GERAL VIVE CERCA DE
74 ANOS, UMA PESSOA
TRANSEXUAL, POR
EXEMPLO, NÃO PASSA
DOS 35 ANOS, SEGUNDO
DADOS DO IBGE. 87
#pracegover: Punho estendido para cima com uma
pintura das cores da bandeira LGBTQIAP+.
descola.org | Fundamentos da diversidade

Um filme que tenta abordar o tema


da LGBTfobia, sob o viés de temas
como suicídio e o preconceito, é Com
Amor, Simon. O filme conta a histó-
ria de Simon, um garoto que é gay,
mas esconde dos pais, dos amigos
e, principalmente, do ambiente es-
colar esse segredo. Certo dia, outro
garoto da escola se revela gay, sob o
codinome Blue, e ambos começam a
trocar mensagens. O enredo mostra
como muitos jovens não assumem
sua orientação sexual por conta de
preconceito, bullying e outros tipos
de violência. No fim, a lição é de que
a inclusão é o caminho.

Se a inclusão, no fim, é a luz do tú-


nel, é por ela que vamos pensar em Legenda: Simon (interpretado por Nick Robinson) é um jovem
estratégias para mudar essa reali- gay que esconde sua orientação sexual por medo do precon-
dade. ceito e da violência que pode viver em seu meio
Fonte: Reprodução

88
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

ESTRATÉGIAS
Incluir pessoas LGBTQIAP+ nas empresas é um dos passos que
precisamos tomar para melhorar a realidade das pessoas que
pertencem ao grupo desse marcador social. E tudo começa
com a criação de um ambiente seguro, respeitoso, no qual
todas as pessoas, não importa gênero, identidade ou orienta-
ção, sejam respeitadas.

Portanto, há algumas estratégias que podemos adotar para


tornar esse cenário possível, como:

» Criação de políticas e programas inclusivos;


» Estimular a representatividade e a diversidade;
» Capacitar funcionários;
» Criar ambientes seguros;
» Posicionar-se contra manifestações preconceituosas;
» Fazer alianças e parcerias com a comunidade LGBTQIAP+;
» Revisitar a maneira como a comunicação é feita.

89
descola.org | Fundamentos da diversidade

Primeiramente, quando falamos sobre a cria- Neste quesito, capacitar funcionários é uma
ção de políticas e programas inclusivos, maneira eficaz de educar os colaboradores so-
nos referimos à ação tomada pelas empresas bre a diversidade e a inclusão deste marcador
para garantir a igualdade de oportunidades social. As organizações podem, neste caso,
para todas as pessoas. Podem ser adotadas, oferecer treinamentos e programas de cons-
por exemplo, políticas de não discriminação, cientização para garantir que todos estejam
programas de treinamento para funcionários e cientes das questões enfrentadas pela comu-
políticas de benefícios para casais do mesmo nidade LGBTQIAP+. Não é porque nem todos
sexo. fazem parte desse grupo que isso não é pro-
blema de todo mundo.
Com relação ao estímulo de representativi-
dade e diversidade, as empresas devem criar Quanto ao ambiente seguro, ele precisa existir
oportunidades para que as pessoas LGBTQIAP+ para acolher os colaboradores pertencentes a
se envolvam em projetos, eventos e outras ati- este marcador. Frequentemente, há pessoas
vidades que elas normalmente não se envolve- que relatam sofrerem abusos dentro do espa-
riam por conta do preconceito que sofreriam. ço de trabalho, como mulheres, o que já cita-
Aqui, é importante ressaltar que isso deve ser mos aqui. Neste ponto, é importante promover
feito em todos os níveis de hierarquia dentro da não só segurança, mas a conversa, a empatia,
empresa. o acolhimento de quem passa por situações
como a de violência e preconceito.

90
#pracegover: Recorte de imagem onde aparecem várias pes-
soas usando meias com as cores do movimento lgbtqiap+
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

E por falar em violência e preconceito, é ex- Por fim, o cuidado deve ser redobrado com a co-
tremamente necessário que as organizações municação. Da mesma maneira que mulheres
se posicionem contra atitudes como essas. estão suscetíveis a ouvirem, o tempo todo, pia-
Para isso, é essencial manter um canal de de- das sobre o fato de serem mulheres, pessoas
núncias, para que elas possam ser feitas e as deste marcador social também passam pelo
devidas medidas possam ser tomadas. É caso, mesmo. Barrar palavras como “bixinha”, “viado”,
também, para o departamento de RH se posi- “traveco”, como outras, do vocabulário do coti-
cionar e resolver algumas problemáticas que diano, é uma boa maneira de mostrar que nem
acontecem no dia a dia. a empresa e nem os colaboradores querem
propagar ainda mais preconceito.
O que também funciona para incentivar a inclu-
são de pessoas LGBTQIAP+ é a parceria com Mais um marcador social finalizado. No próximo
outras empresas para patrocinar eventos capítulo, vamos tratar sobre o marcador social
e paradas do orgulho LGBTQIAP+, bem como de pessoas com deficiência.
apoiar organizações desse nicho em sua missão Nos vemos a seguir!
de promover a igualdade de direitos e inclusão.

91
#pracegover: Uma gota de água caindo e reverberando por toda a
água que está com as cores da bandeira LGBTQIAP+ refletindo nela.
descola.org | Fundamentos da diversidade

07 capítulo

PESSOAS COM
DEFICIÊNCIA
As ba rre iras arquit etô nic as da vida

#pracegover: Dois colegas de trabalho, um homem, negro, elegante,


de terno azul marinho, andando pelo corredor com sua colega mulher,
branca, elegante, de terno, cadeirandte.

@ DE SC OLA GRA M
92
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

A SUA EMPRESA
TEM RAMPA DE
ACESSIBILIDADE?
O seu restaurante favorito tem mesa para
cadeirante? Quantos serviços você utiliza que
sabe que são adaptados para pessoas com
deficiência?
Falar sobre o marcador social de pessoas com
deficiência é fundamental para explorar a di-
versidade como um todo. Esse é um grupo mi-
norizado que é muito deixado de lado na socie-
dade e é necessário educar a população para
que a representatividade dessas pessoas seja
apoiada.
Neste capítulo, vamos contar um pouco do
#pracegover: Dois homens, brancos, colegas de trabalho, sorrindo e
contexto deste grupo, bem como os desafios e olhando para a câmera. Um em pé e o outro é cadeirante.
as estratégias para lidar com o assunto.
93
descola.org | Fundamentos da diversidade

CONTEXTO
A história da diversidade de pessoas com defi-
ciência no Brasil está bastante marcada pelas
mudanças na maneira como a sociedade trata
esse grupo minorizado. Antes da década de
1960, por exemplo, as pessoas com deficiên-
cia eram constantemente negligenciadas, mui-
tas vezes sendo escondidas em instituições,
ficando sem acesso à educação ou emprego.

No ano de 1961, porém, a chave começou a


virar e foi promulgada a primeira lei brasileira
específica para a proteção de pessoas com
deficiência - a Lei de Proteção aos Deficientes.
Foi apenas em 1981, entretanto, que o Brasil
ratificou a Convenção Internacional sobre os
Direitos das Pessoas com Deficiência, compro-
metendo-se a assegurar os direitos humanos e
a dignidade das pessoas com deficiência.
#pracegover: Mulher, negra, cabelo trançado, vestido rosa claro,
cadeirante, trabalhando no computador que está no seu colo.

94
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

Desde então, várias outras leis foram promul-


gadas na tentativa de garantir a igualdade de
oportunidades para as pessoas com deficiên-
cia. Uma que vale a pena mencionar é a que #pracegover: Grupo de pessoas trabalhado com costu-
ra. Em primeiro plano, um homem, branco, jovem, com
consta na Constituição Federal de 1988, que Síndrome de Down, vestindo um jaqueta amarela.
estabelece que é dever do Estado promover a
inclusão de pessoas com deficiência na socie-
dade, bem como a Lei Brasileira de Inclusão A partir de então, a deficiência passou a ser o
de 2015, a qual reforça essa obrigação e con- resultado da interação desses impedimentos
sidera que pessoas com deficiência são todas com as barreiras sociais, com a consequente
aquelas que têm um impedimento de longo dificuldade da inserção social do indivíduo. Em
prazo de natureza física, mental, intelectual outras palavras, o fator médico é um dos
ou sensorial, o qual, em interação com uma ou elementos que define uma pessoa com de-
mais barreiras, pode obstruir sua participação ficiência, mas não o único, já que a sociedade
plena e efetiva na sociedade em igualdade de e o meio também são responsáveis por gerar
condições com as demais pessoas. uma obstrução de convívio social.

O que é interessante entender aqui é que, an- Com esse cenário contextualizado, é impor-
teriormente a essas leis, critérios estritamen- tante conhecer, também, quais são os tipos de
te médicos definiam o enquadramento de uma deficiência que encontramos em nossa socie-
pessoa com deficiência. dade.
95
descola.org | Fundamentos da diversidade

Os tipos de deficiência
Stephen Hawking e Frida Kahlo são exemplos
Os tipos de deficiência em questão, são: de pessoas que tinham uma deficiência física:
Stephen tinha uma esclerose amiotrófica la-
teral e Frida, além de ter tido pólio na infância,
» Deficiência física; o que a deixou com uma perna mais fina que a
» Deficiência auditiva; outra, precisou usar coletes ortopédicos por
» Deficiência visual; conta de um acidente.
» Deficiência intelectual;
» Deficiência múltipla; e
» Surdocegueira.

A deficiência física é uma limitação na mobi-


lidade ou na função física, a qual pode ser cau-
sada por diversos fatores, como lesões medu-
lares, amputações, doenças neuromusculares,
entre outros. Pessoas que possuem esse tipo
de deficiência podem apresentar dificuldades
na locomoção, realização de atividades cotidia- #pracegover: Registro antigo em preto e branco de
Frida Khalo com vestimentas típicas mexicanas.
nas e outras tarefas que requerem o movimento.
96
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

Um filme que cabe muito bem


aqui e explora essa ques-
tão da deficiência física é A
Teoria de Tudo, o qual con-
ta, justamente, a história de
Stephen Hawking. O enredo
conta como era sua vida an-
tes de ele ser diagnosticado
com sua doença e como isso
mudou completamente sua
forma de viver, colocando de-
safios grandiosos em seu ca-
minho.

Legenda: Eddie Redmayne é o ator que dá vida a Ste-


phen Hawking em filme biográfico sobre sua vida
Fonte: Divulgação

#pracegover: Homem branco, com óculos de grau


preto, escrevendo com giz em uma lousa.

97
descola.org | Fundamentos da diversidade

A deficiência auditiva, por sua vez, é a perda


total ou parcial da capacidade de ouvir. Pes-
soas com esse tipo de deficiência podem ter
dificuldade em compreender e se comunicar
com outras pessoas, principalmente em am-
bientes com ruídos ou em situações que não
há recursos de acessibilidade, como intérprete
de libras ou legendas. Quem tem uma deficiên-
cia auditiva é Pedro Bial. O jornalista, durante
uma reportagem na guerra civil da Iugoslávia,
em 1994, sofreu com a explosão de uma bom-
ba próximo a ele, tendo sua audição de um dos
ouvidos comprometida desde o episódio.

Já a deficiência visual é a perda total ou par-


cial da visão. Pessoas com deficiência visual
podem apresentar dificuldades em realizar ati-
vidades que requerem a visão, como ler, escre-
ver, se locomover, entre outras. Aqui, personali-
dades famosas com uma deficiência visual são
Stevie Wonder, Ray Charles e Andrea Bocelli.

98 #pracegover: Imagem de Pedro Bial, homem, bran-


co, de terno, braços cruzados.
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

Outro tipo de deficiência é a intelectual. A Por fim, a surdocegueira é uma condição em que a
deficiência intelectual é uma limitação pessoa apresenta perda total ou parcial da visão e
significativa no funcionamento da audição ao mesmo tempo. É importante ressaltar
intelectual e na adaptação social, algo que não são duas deficiências, mas sim uma única
que se manifesta antes dos 18 anos que requer um tratamento específico. As pessoas
de idade. Pessoas desse grupo podem com surdocegueira podem ter dificuldades de co-
apresentar dificuldade em compreender municação, locomoção e necessitam de recursos
informações, se comunicar, resolver específicos para interagirem. Mesmo com os desa-
problemas e realizar tarefas cotidianas. fios da condição, é possível participar ativamente da
sociedade, como é o caso da educadora e escritora
A deficiência múltipla é, por Helen Keller, que perdeu sua visão e audição após
consequência, a associação de uma doença quando ainda era criança.
duas ou mais deficiências. Neste
grupo, existe uma ampla variedade
de necessidades e limitações e as
pessoas com deficiência múltipla
podem requerer diferentes recursos de
acessibilidade para se comunicar, se
locomover e realizar tarefas do dia a dia.
Os paratletas, por exemplo, são casos
de pessoas que podem ter deficiência
múltipla. #pracegover: Homem, negro, sentado em banco de
praça, cego, lendo um livro.

99
descola.org | Fundamentos da diversidade

DESAFIOS
Ao falarmos sobre pessoas com deficiência, Aos poucos, com a naturalização de atitudes
esbarramos no conceito de capacitismo, que como essa, o capacitismo é capaz de levar à
é o nosso principal desafio para este marcador exclusão social, a limitações no acesso a opor-
social. O capacitismo é o preconceito contra tunidades e serviços e a violações de direitos
pessoas com deficiência, o qual se dá de di- humanos. Isso sem falar nos impactos emocio-
versas maneiras. Em outras palavras, o capa- nais e psicológicos na vida das pessoas com
citismo é a discriminação baseada na ideia de deficiência.
que pessoas com deficiência são inferiores ou
menos capazes do que pessoas sem deficiên- A partir do capacitismo, nos damos conta de
cia. que vários outros obstáculos surgem para as
pessoas com deficiência, como:
Sabe quando alguém fala “Não está vendo não?
É cego por um acaso?” ou um “Estou falando
com você, está surdo(a)?”, isso é capacitismo. » Falta de acessibilidade em ambientes
Dizer que alguém é cego por não estar, no mo- públicos e privados;
mento, conseguindo ver algo ou que alguém é » Falta de educação inclusiva;
surdo só porque não estava prestando atenção
» Desafios com a empregabilidade; e
é uma maneira de ofender e colocar em uma po-
sição inferior quem realmente tem deficiência » Ausência de políticas públicas eficazes.
visual e auditiva.

100
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

A falta de acessibilidade é facilmente


percebida nos locais públicos e privados que
você frequenta. A simples ausência de uma
rampa de acessibilidade em um restaurante,
por exemplo, já é um indicativo de que muita
coisa na nossa sociedade ainda precisa mudar,
visto que muitas pessoas ainda não entendem
a importância de ter um local acessível para as
pessoas com deficiência.

E por falar em falta, a educação inclusiva tam-


bém não é tendência por aí. Em muitas escolas,
alunos com deficiência ainda são excluídos do
meio como um todo, o que alerta para a neces-
sidade de professores capacitados, recursos
e equipamentos específicos para garantir a
aprendizagem dos alunos com deficiência. É
importante entender que ter uma sala só com #pracegover: Homem, negro, cadeirante, com a
alunos com deficiência não é solução para mão na cabeça, olhando para uma escada que
precisa subir.
nada.

101
descola.org | Fundamentos da diversidade

Uma história que nos faz


entender a real importância
de lidar com uma educação
inclusiva é a contada no fil-
me Extraordinário. Nele,
conhecemos Auggie Pull-
man, um garoto de 10 anos
que nasceu com uma defor-
mação facial e vai enfrentar
a escola pela primeira vez.
Além do tema da deficiência
física, o filme ainda fala bas-
tante sobre o bullying e acei-
tação de alguém diferente.

#pracegover: Menino com aproximadamente 10 anos, branco, olhos claros e com o


rosto cheio de marcas de cirurgia. Veste jaqueta de moletom cor vinho.

Legenda: Augie Pullman, interpretado pelo ator Jacob Tremblay, é um


garoto de 10 anos que enfrenta a escola pela primeira vez após passar
por uma série de cirurgias para corrigir sua deformação facial
102 Fonte: Divulgação
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

No mercado de trabalho, também há muitos Por fim, mais um desafio é das políticas pú-
obstáculos para as pessoas com deficiência e blicas, que ainda deixam a desejar no quesito
o nível de empregabilidade para profissionais eficiência. Muitas políticas ainda são insufi-
com necessidades especiais é menor compa- cientes ou não foram implementadas de forma
rado a pessoas sem deficiência. É a mesma adequada, nos dando a impressão de que a lei
história do currículo de um homem branco e um existe, mas não tem quem fiscalize e quem a
homem preto: ambos têm as mesmas qualifi- faça cumprir.
cações, mas o homem branco tem certos pri-
vilégios.

#pracegover: Dois amigos se comprimentando alegremente.


Ambos com deficiencia física. Um é cadeirante o outro usa 103
prótese na perna esquerda.
descola.org | Fundamentos da diversidade

ESTRATÉGIAS
Apesar de tamanhos desafios no cuidado com as pessoas
com deficiência, a fim de promover a diversidade, a equida-
de e a inclusão, há o que pode ser feito pela sociedade para
mudar a situação. Para isso, vamos precisar considerar dois
lados: o das empresas e da vida cotidiana; e o do governo.

Pelo lado das empresas e da vida cotidiana, é imprescindível


trabalhar com a propagação de informação. Quanto mais
pessoas se informam e debatem sobre o tema, maior vai
ser a sensibilização para educar outras pessoas. Toda essa
troca, ainda, permite que muitos estereótipos e vieses sejam
quebrados, garantindo a acessibilidade no ambiente de traba-
lho e nos espaços que circulamos.

Nesses ambientes, o ideal é, além de promover conversas


transformadoras, adaptar equipamentos, disponibilizar
tecnologias assistivas e eliminar barreiras arquitetôni-
cas. Além disso, as organizações podem investir em parcerias
com instituições de apoio às pessoas com deficiência, forne-
cendo suporte e capacitação de pessoas com deficiência e
ajudando a promover a inclusão.
104
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

Já pelo outro lado, as estratégias dependem que garante uma porcentagem de vagas para
de algo maior que nós: o governo. Muitas pessoas com deficiência em empresas com
leis já foram feitas para proteger os direitos 100 funcionários ou mais.
das pessoas com deficiência, porém, ainda
estamos muito distantes de uma sociedade Agora que você conhece um pouco mais sobre
ideal. Um feito importante, por exemplo, o marcador de pessoas com deficiência, já po-
decorrente de uma política pública foi a demos passar para o próximo, que é o de raça

LEI DE COTAS PARA


e etnia.

PESSOAS COM
DEFICIÊNCIA, UMA
AÇÃO AFIRMATIVA
DE 1991
#pracegover: Mulher, branca, cadeirante, ensinando
colegas de trabalho

105
descola.org | Fundamentos da diversidade

08 capítulo

RAÇA E ETNIA
Não basta não ser racista,
é precis o ser antirracista

#pracegover: Homem, negro, trabalhando.


@DES CO L A G RA M
106
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

e é nele que vemos os principais desafios e


Outro marcador social que está muito estratégias a serem discutidos.
presente em nossas vidas é o de raça e etnia.
Neste ponto, precisamos esclarecer algo A seguir, então, vamos contextualizar este
essencial. Ainda que existam muitas raças marcador social, bem como vamos seguir com
e etnias em nosso território brasileiro, bem seus desafios e estratégias.
como no mundo, não conseguiríamos dar
conta de todos os grupos. Sendo assim, para
tratar o tema com cuidado e atenção, optamos
por abordar apenas a população negra como
principal grupo minorizado,

JÁ QUE É ESTE
GRUPO QUE
REPRESENTA 54%
DA POPULAÇÃO
BRASILEIRA 107
#pracegover: Homem e mulher, colegas de trabalho,
conversando. Ambos negros e vestidos socialmente.
descola.org | Fundamentos da diversidade

CONTEXTO
Você deve se lembrar pelos livros da escola O que acontecia, nesse período, era que o rico
como a maior parte da população no Brasil se era ainda mais rico e essencialmente branco e
tornou negra. Caso não se lembre, vamos voltar o pobre era ainda mais pobre e, em sua maioria,
aos primórdios. Tudo começou quando a escra- preto. A desigualdade social estava marcada
vidão passou a ser a mão de obra barata para e, até hoje, não conseguimos recuperar esse
senhores de engenho em suas fazendas de período histórico e reparar as injustiças so-
açúcar e café. ciais causadas com essa população.

Durante muito tempo, negros eram trazidos Mesmo com a abolição da escravidão, a desi-
em navios negreiros contrários a sua vontade, gualdade entre brancos e pretos não deixou de
simplesmente porque não tinham outra forma existir. A Lei Áurea, em 1888, que deu liberda-
para sobreviver, ainda que seja um paradoxo de aos escravos, foi mais uma resposta a uma
grande dizer que ser escravo é um modo de so- pressão internacional do que uma mudança
brevivência. No fim das contas, ou vinha ou de postura, tanto que escravos foram libertos,
morria. mas não havia um apoio para que eles pudes-
sem continuar vivos. Não havia suporte para
um emprego digno, para uma alimentação sau-
dável, para uma educação básica.

108
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

Um filme que trata muito bem a


questão da escravidão, ainda que
não seja no Brasil, e a relação que
pessoas pretas tinham com seus
senhores é 12 Anos de Escravi-
dão, longa baseado em uma his-
tória real de um homem preto livre
que é capturado e vendido como
um escravo. Sua luta, o tempo
todo, é por sobrevivência e pela
rebeldia que sente de ser um pás-
saro livre preso em uma gaiola.

#pracegover: Homem negro, com chapéu de palha, trabalhando sob o


sol na colheita de algodão. Está com expressão de descontentamento.

Legenda: Solomon Northup (interpretado por Chiwetel Ejio-


for) é um homem preto livre que é vendido como escravo e
vive 12 anos em um ambiente hostil e cheio de violência
Fonte: Divulgação

109
descola.org | Fundamentos da diversidade

E não pense que a vida da população negra me-


lhorou muito depois dos anos de escravidão.
Em 1890, o Decreto nº 528 foi criado na inten-
ção de regulamentar a entrada de imigrantes
no Brasil, com exceção de naturais da Ásia e da
África. Consegue entender a razão? Os donos
do poder queriam “embranquecer” a população
e a força de trabalho, associando a ideia do pro-
gresso e da modernidade à raça branca, perpe-
tuando a discriminação racial.

Isso ficou claro no dia a dia. No mesmo ano, o


primeiro Código Penal da República Brasileira
fomentou a modernização do país enquanto
criminalizava práticas culturais negras, como a
capoeira e a religião de matriz africana.

Muita coisa aconteceu desde então e muitos


outros cenários foram criados para propagar
ainda mais a discriminação com pessoas pre-
tas. O resultado disso é o que vivemos hoje em
dia: um racismo estrutural e enraizado que
faz com que muitas pessoas ainda duvidem #pracegover: Zoom de um detalhe de uma guia de
oxossi.
que todo mundo é racista.
110
#pracegover: Mulher, negra, de costas, com os braços para cima e Crie ambientes mais inclusivos e equitativos
cruzados. Veste uma bata com estampa afro e cabelos trançados.

Os tipos de racismo
Como você já deve imaginar, o racismo é um
dos desafios do marcador de raça e etnia que
vamos trazer neste capítulo. Para que você en-
tenda, portanto, o que há por vir, precisamos
falar sobre os tipos de racismo existentes em
nossa sociedade.

ANTES DE SEGUIRMOS,
VOCÊ SABE O QUE É O
RACISMO?
Segundo Silvio Almeida, advogado, filósofo e
professor universitário, o racismo é uma:
111
descola.org | Fundamentos da diversidade

“FORMA SISTÊMICA DE
DISCRIMINAÇÃO QUE TEM A
RAÇA COMO FUNDAMENTO
E SE MANIFESTA POR MEIO
DE PRÁTICAS CONSCIENTES
E INCONSCIENTES
QUE CULMINAM EM
DESVATAGENS OU
PRIVILÉGIOS PARA O
INDIVÍDUO, A DEPENDER DO
GRUPO RACIAL AO QUAL
112
PERTENÇAM.” #pracegover: Silvio Almeida, homem, negro, de
terno e óculos, forte, meia idade. Sem cabelo.
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

No Brasil, o racismo é estrutural e institucio- E não é só no nosso vocabulário que o racismo


nal, visto que está presente nas estruturas estrutural está presente. O mercado de tra-
sociais, políticas e econômicas da sociedade, balho também apresenta evidências dessa
bem como é mantido por sistemas de poder e discriminação. É só ver que, entre um profis-
privilégio. Além disso, o racismo também é indi- sional branco e um profissional preto com as
vidual, pois é visto em pequenas ações diárias. mesmas qualificações e habilidades, o contra-
Mas o que cada tipo de racismo significa? Pri- tado é o branco. No trânsito, o racismo estru-
meiramente, o racismo estrutural refere-se tural também acontece. É só ver que em uma
às normas, políticas e práticas que mantêm a blitz, o policial vai escolher parar o motorista
desigualdade em vigor. Essas práticas são tão preto, que pode não ter feito nada de errado,
enraizadas que se tornam invisíveis, é algo na- no lugar do motorista branco, que podia estar
turalizado pela sociedade. Expressões como acima da velocidade.
mulata, cabelo duro, amanhã é dia de branco,
mercado negro, entre outras, já mostram o
quanto somos racistas em nosso dia a dia e
não percebemos.

#pracegover: Mulher negra, com olhos fechados,


fazendo um movimento de dança.

113
descola.org | Fundamentos da diversidade

Já o racismo institucional é aquele que está


ligado a práticas discriminatórias que ocorrem
em instituições sociais, como escolas, meios
de comunicação, empresas e agências gover-
namentais. Essas práticas podem ser intencio- Olha só um vídeo que mostra como o ra-
nais ou não, mas o resultado é o mesmo: perpe- cismo institucional acontece
tuar a desigualdade racial. Um grande exemplo no dia a dia:
desse tipo de racismo é o que pode ser encon- https://www.youtube.com/watch?v=5F_atkP3pqs
trado no sistema de justiça criminal. A política
de guerra às drogas, nesse caso, parece con-
denar muito mais a população negra do que a Até então, podemos ver que o racismo estru-
branca, mesmo que as taxas de uso de drogas tural e o racismo institucional são menos visí-
entre brancos e pretos sejam semelhantes. veis, pois a forma de discriminação é mais sutil,
está mais enraizada e naturalizada. Porém, algo
E olha só como tudo se desenvolve. Uma vez que precisamos entender é que não é porque
preso, o preto tem menores chances de obter é mais sutil que não tem um impacto signifi-
liberdade condicional, além de ser julgado com cativo. O resultado está à nossa volta: ausên-
penas mais duras e longas. Se você olhar para cia de pessoas pretas em cursos superiores
a população carcerária, 67% das pessoas pre- nas melhores faculdades, escolas com baixa
sas são negras, mesmo com taxas de criminali- representatividade, trabalhadores pretos com
dade próximas de outros grupos raciais. menor índice de contratação e por aí vai.

114
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

Uma forma de racismo, entretanto, que não é


nada sutil e invisível é o individual. Essa é a for-
ma mais violenta de racismo, pois diz respeito
às atitudes preconceituosas e discriminatórias
que cada um comete em relação a indivíduos
de diferentes raças e etnias. Se você acompa-
nha os noticiários, sabe muito bem do que o ser
humano é capaz.

No racismo individual pode acontecer de


tudo: comportamento e linguagem preconcei-
tuosos, agressões verbais ou físicas, assédio,
segregação, entre outros exemplos. O proble-
ma desse tipo de racismo é que ele é ainda
mais enraizado que os outros, o que faz com
que as pessoas simplesmente não entendam
como estão sendo extremamente racistas.

#pracegover: Imagem do perfil de um jovem, negro,


com dreads. 115
descola.org | Fundamentos da diversidade

Um filme que trata desse racismo individual Com isso, podemos dizer que esses três ti-
é Corra!. A história é tão absurda que é difícil pos de racismo estão interligados e se refor-
acreditar que a situação realmente está acon- çam mutuamente. O racismo estrutural pode
tecendo, mesmo que dentro da ficção, mas desencadear um racismo institucional, que, por
tudo gira em torno de uma mulher branca que sua vez, pode incentivar um racismo individual.
tem um histórico de namorar homens pretos. O nosso problema com isso está nos desafios
Isso, entretanto, não é um gosto pessoal, mas que essa conjuntura apresenta, o que vamos
sim uma estratégia para fazer com que sua ví- ver a seguir.
tima da vez seja submetida por uma série de
violências, tanto por parte dela quanto de sua
família.

Olha só esse vídeo mostrando o efeito


do racismo em crianças e como elas
também entendem a forma como a
sociedade colocou pessoas brancas e
negras em uma hierarquia:
https://www.youtube.com/watch?v=CdoqqmNB9JE

Legenda: Allison Williams e Daniel Kaluuya dão


vida aos personagens do filme Corra! #pracegover: Casal interracial. Homem e mulher
Fonte: Divulgação sentados em uma mesa, tomando uma bebida.

116
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

DESAFIOS
O racismo é o início de tudo. Ele é o nosso princi- E isso não mudou muito de lá para cá. É claro
pal desafio com este marcador social de raça e que temos exceções, mas, na maioria das ve-
etnia. Porém, há ramificações que partem dele zes, pessoas pretas e pardas, geralmente, re-
e são tão preocupantes quanto, sendo neces- cebem cargos de menor hierarquia e ocupam
sário entendê-los para combatê-los. São eles: os estratos mais baixos da sociedade. A desi-
gualdade existe e é um grande obstáculo na
luta pela diversidade.
» Desigualdade econômica;
» Políticas públicas inadequadas; As políticas públicas inadequadas, ligadas à
desigualdade econômica, também represen-
» Falta de representatividade; e
tam um desafio que precisamos resolver. São
» Naturalização das desigualdades. essas políticas que limitam a população negra
a serviços básicos de moradia, saúde, seguran-
ça e educação. Com isso, se não há uma políti-
ca pública adequada, não há como esperar que
Primeiramente, não há como separar classe de a vida das pessoas pretas seja melhor.
raça. Se você retomar o que falamos sobre os
tempos de escravidão, vai notar que enfatiza-
mos que os brancos eram cada vez mais ricos e
os pretos cada vez mais pobres.

117
descola.org | Fundamentos da diversidade

A desigualdade econômica existe e está re-


lacionada a políticas públicas inadequadas.
Como reflexo disso, temos a falta de repre-
sentatividade, demonstrada pela falta de pes-
soas negras em muitas esferas da sociedade,
incluindo política, negócios e mídia. Quantos
apresentadores negros de telejornal você co-
nhece? Quantos políticos pardos você conhe-
ce? Lembrou de um nome ou dois? Agora tenta
pensar em pessoas brancas para as mesmas
posições. Difícil até de contar, não é mesmo?

Por fim, um último desafio que temos na luta


pela diversidade de raça e etnia é a naturaliza-
ção das desigualdades. É como remar, remar,
remar e morrer na praia, sabe? Existe uma po-
lítica pública adequada aqui, mas várias desi-
gualdades escondidas debaixo do pano. Não
dá para aceitar o que não é aceitável.
#pracegover: Homem, negro, de terno, sorrindo.

118
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

ESTRATÉGIAS
É difícil pensar em maneiras de eliminar o racismo. Por
ser tão intrínseco, a solução exigirá um grande esforço
e, principalmente, um comprometimento das pessoas
brancas para o avanço dessa pauta. Em contrapartida,
podemos pensar em meios de minimizar os outros desafios
que vimos e criar estratégias para mudar a situação.

Antes, portanto, de pensar nessas estratégias, precisa-


mos reconhecer o lugar de cada um nessa história. Como já
vimos, não temos muitas pessoas negras envolvidas com
política e outras esferas da sociedade. Dessa forma, boa
parte das vezes, cabe ao branco resolver esse problema.

Chega a ser um tanto quanto contraditório, considerando


todo o racismo existente, mas, nesse ponto, entramos
com a consciência. Mais do que não ser racista, preci-
samos ser antirracistas. A população branca precisa se
posicionar ativamente contra o racismo, promover a diver-
sidade e, principalmente, quebrar estereótipos raciais que
tornam tudo muito mais difícil.
119
descola.org | Fundamentos da diversidade

Dado esse passo, as estratégias são reais e possíveis. Com isso, temos que boas
atuações que podem ser feitas, como:

» Investir em programas de capacitação e desenvolvimento;


» Estabelecer metas claras de diversidade;
» Rever o processo seletivo;
» Cuidar do desenvolvimento de carreira;
» Criar grupos de afinidade;
» Trabalhar com fornecedores e parceiros antirracistas; e
» Cuidar da comunicação.

Você já deve ter entendido, a essa altura, que é investir em programas de capacitação e
incluir a diversidade dentro de empresas e agir desenvolvimento, a partir de treinamentos
com estratégia nas organizações é um cami- específicos de letramento racial para não só
nho para refletirmos isso na vida pessoal das combater o racismo, mas repensar hábitos en-
pessoas. Portanto, a primeira estratégia para raizados e reconhecer expressões que perpe-
lutar contra o racismo e suas consequências tuam o preconceito.
120
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

Além disso, estabelecer metas claras de di- Uma outra estratégia que é importante para a
versidade é fundamental, a fim de envolver inclusão e diversidade de raça e etnia é o de-
colaboradores em atividades que aumentam a senvolvimento de carreira, com mentorias e
representatividade das pessoas negras na em- programas voltados para pessoas pretas e par-
presa, algo que, se não fosse por um objetivo das, no intuito de promover a igualdade salarial,
em comum da organização, muitos poderiam identificando e corrigindo possíveis disparida-
não participar. des entre funcionários brancos e pretos.

Outro ponto essencial é rever o processo se- Em meio a tudo isso, criar grupos de afinidade
letivo. Você já parou para pensar que, se há é uma oportunidade de incentivar que as pes-
mais brancos dentro das empresas, é porque soas se apoiem e troquem experiências, além
mais brancos foram contratados e esse é um de essa ser uma boa fonte de feedbacks e su-
problema que está no momento da seleção e gestões para a empresa. E por falar em afinida-
recrutamento? As empresas precisam mudar de, os stakeholders não podem ficar de fora.
sua forma de contratar novos colaboradores. Trabalhar com fornecedores e parceiros que
Ter pessoas diversas tanto no processo de se- são antirracistas e promovem a diversidade é
leção quanto para entrevistar os candidatos é essencial.
uma atitude que vai fazer com que o processo
seletivo seja mais justo e imparcial.

121
descola.org | Fundamentos da diversidade

Por último, não dá para realizar todas essas


ações e continuar usando um vocabulário e
uma comunicação extremamente racista, não
é mesmo? Nesse caso, a empresa pode inves-
tir na criação de um Manual Antirracista, com
termos e palavras que costumamos usar, mas
que são racistas e devem ser substituídas.

LEMBRE-SE: a luta contra o racismo é de todo


mundo. Entender o privilégio branco e tomar
atitudes para vencer os obstáculos que a diver-
sidade de raça e etnia impõe é essencial para
vivermos em uma sociedade mais justa.

Com isso, já que finalizamos nosso tema sobre


raça e etnia, vamos direto para o próximo capí-
tulo conhecer o que o marcador social da reli-
gião tem a nos dizer.

#pracegover: Vista de cima de uma mesa de traba-


122 lho com duas mulheres negras, jovens, com roupas
sociais e ambas de tranças no cabelo.
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

09 capítulo

RELIGIÃO
A intolerânc ia que habi t a e m você
reflete n a fé que habit a e m mim

#pracegover: Mãos de uma pessoa unidas como


em oração.

@ D E S C O L A GRA M
123
descola.org | Fundamentos da diversidade

Você achou difícil falar sobre os marcadores


sociais anteriores? Pois é, agora imagina ter
que falar sobre religião: é tão complicado
quanto. Isso se dá, justamente, pelo fato de
existirem muitas religiões e das pessoas não
respeitarem umas às outras por terem cren-
ças diferentes.

Aqui, mais uma vez, vamos passar um pou-


co pelo contexto deste marcador social da
religião, quais os desafios que ele entrega e
quais as estratégias para lutar contra tudo o
que impede essa diversidade de existir.

#pracegover:Mãos de uma pessoa unidas como em


oração. Foto preto e branca.

124
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

CONTEXTO
Pare um pouco para pensar e nos diga: Quantas Melton, fundador do Instituto para o Estudo da
religiões você conhece? Possivelmente, você Religião Americana e editor da Enciclopédia
lembrou das mais conhecidas, como a católica, das Religiões Americanas. E onde estão
a evangélica e a espírita. essas 40 mil religiões? Esse levantamento

TALVEZ SEJA
vai ter que ficar para um outro curso, mas o
que é importante entender, neste ponto, é
que muitas religiões surgem e desaparecem

SURPREENDENTE,
ao longo dos anos. Com isso, pessoas de
religiões diferentes convivem em um mesmo
espaço e compartilham de suas experiências.

ENTÃO, DIZER QUE No Brasil, ainda que a maior parte da população

EXISTEM MAIS DE
seja cristã e seja adepta à religião católica, há
práticas religiosas distintas, sendo a diversi-
dade religiosa uma característica marcante

40 MIL RELIGIÕES
da história do Brasil, desde a época colonial.
Os indígenas, por exemplo, primeiro grupo a
ocupar o território brasileiro, possuíam crenças

NO MUNDO,
e rituais próprios, os quais foram influenciados
pelo contato com os europeus e africanos que
segundo Gordon chegaram posteriormente.
125
descola.org | Fundamentos da diversidade

Com a chegada dos portugueses, em 1500, o Com tantas religiões em um mesmo espaço,
catolicismo se tornou a religião oficial do país e, em 1889, quando o Brasil se tornou Repúbli-
durante o período colonial, a Igreja Católica teve ca, a Igreja Católica perdeu sua hegemonia e
um papel fundamental na organização da socie- a religião católica deixou de ser considerada
dade brasileira, sendo responsável por educar a a religião oficial do país. Atualmente, o Brasil
população, bem como dar suporte para a saúde é marcado pela presença de diferentes tradi-
e assistência social. ções, incluindo o catolicismo, o protestantis-
mo, as religiões afro-brasileiras, o espiritismo,
Em meio a esse período, chegaram as pessoas o judaísmo, o islamismo, entre outras.
escravizadas vindas da África, trazendo consi-
go suas práticas religiosas, surgindo, com isso, Diante de todo esse histórico, há algumas coi-
as primeiras religiões afro-brasileiras. A di- sas que julgamos serem interessantes você
versidade religiosa se tornou ainda maior pos- saber. A primeira delas é que, embora o número
teriormente, quando imigrantes começaram a de católicos tenha caído no Brasil nos últimos
entrar no país e praticar religiões como o espiri- anos, o catolicismo segue sendo a prática re-
tismo, o protestantismo e o judaísmo. ligiosa mais utilizada pela população. Segundo
dados do Datafolha no ano de 2020, 50% dos
brasileiros são católicos.

126
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

Dessa forma, as religiões no Brasil estão divididas da seguinte maneira:

#pracegover: Gráfico em formato de pizza com


dados sobre as religiões no Brasil.

É por tamanha diversidade que, olhando do em assuntos religiosos e garante a liberdade


ponto de vista jurídico, o Brasil é um país religiosa, não adotando uma religião oficial
considerado laico, ou seja, não se manifesta como fazia antigamente.
127
descola.org | Fundamentos da diversidade

Mas se temos tantas religiões assim, será que você consegue diferenciá-las? Dá uma olhada no
quadro que preparamos para você com as características das principais religiões no Brasil:

CRISTÃ
EVANGÉLICA CATOLICISMO ESPIRITISMO CANDOMBLÉ UMBANDA
Bíblia como única Tem um único Tem a reencarna- Deus é supremo e Tem a reencarna-
fonte da revelação Deus ção como um pilar rege o universo ção como um pilar
de Deus
Cura pela fé Acredita na vida Tem um viés na Acredita em vida Tem um viés na
após a morte mediunidade após a morte mediunidade
Não cultua santos Bem e mal são Acredita na imor- Tem adoração por Acredita em vida
conceitos deter- talidade da alma elementos da na- em outros mun-
minantes para a tureza dos
vida após a morte
Pratica a palavra Pratica a palavra Pratica a palavra Bem e mal são na- Pratica a palavra
com ações huma- com caridade com amor, carida- turais à existência com caridade
nitárias de e humildade

Com isso, o que você consegue concluir desse Se o catolicismo, por exemplo, pratica a palavra
quadro? Se você reparar, todas as religiões es- com caridade e o umbandismo também, porque
tão pautadas nas mesmas coisas e possuem uma é mais falada que a outra?
pilares semelhantes.
128
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

POR QUE UMA É


MAIS BEM VISTA
QUE A OUTRA?

A resposta para isso é o que vamos


ver a seguir, com os desafios deste
marcador social.

#pracegover: Uma baiana, toda de branco, com


oferenda para Iemanjá em frente ao mar. Foto preto
e branco. 129
descola.org | Fundamentos da diversidade

DESAFIOS
Assim como existe o preconceito contra a mu- Uma das participantes envolvidas na situação
lher, contra as pessoas mais velhas, contra sugeriu que a espada de São Jorge com sal
homossexuais, contra pessoas com deficiên- grosso que havia sido colocada no jardim era
cia e contra pessoas pretas, também existe o para retirar as energias negativas do lugar, dei-
preconceito contra religiões diferentes, o que xando a entender que Fred Nicácio carregava o
chamamos de intolerância religiosa. Esse é o mal por conta de sua religião.
nosso principal desafio para o marcador social
da religião.
#pracegover: Fred Nicá-
Se você assistiu à edição de 2023 do reality cio sofreu intolerância e
show Big Brother Brasil, esse termo não é no- racismo religioso dentro
vidade para você. Trata-se de um preconceito da casa do Big Brother
baseado em ideias e estereótipos contra de- Brasil
Fonte: Reprodução/Glo-
terminada religião. O que aconteceu dentro do
boplay
programa foi que alguns participantes julgaram
estarem com medo de Fred Nicácio, médico e
apresentador do programa Queer Eye Brasil, por
conta de sua religião de matriz africana.

130
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

A intolerância religiosa é um problema


complexo e multifacetado, cujas raízes são
culturais e profundas. Como podemos ver na
situação do BBB, ela é muito baseada em este-
reótipos, no que as pessoas pensam sobre de-
terminada religião. Ao saber da situação depois
de sua saída, Fred Nicácio chegou a questionar
se o mesmo aconteceria se ele tivesse a reli-
gião católica e carregasse consigo um terço de
Nossa Senhora da Aparecida. O que você acha?

Casos como esse enfrentado por Fred Nicácio


não são, entretanto, uma surpresa. Essa é uma
questão social grave, com casos de violência
física e verbal contra praticantes de diferentes
religiões, especialmente as de matriz africana.
Segundo um levantamento feito pela Globo-
News, foi constatado que, no ano de 2022, o
Brasil recebeu cerca de três queixas de into-
lerância religiosa por dia.
#pracegover: Grade de igreja coberta por fitas de
Nosso Senhor do Bonfim, ao fundo, uma igreja
131
descola.org | Fundamentos da diversidade

A luta contra a intolerância re-


ligiosa está longe de terminar,
porém, as coisas parecem es-
tar tomando uma proporção
tão grande que o resultado
veio. Em janeiro de 2023, a
Lei 14.532/23 foi sancionada,
equiparando a injúria racial ao
crime de racismo, protegendo,
assim, a liberdade religiosa. A
intolerância religiosa, portan-
to, é crime e está sujeita à pu-
nição de até 5 anos de prisão.

132 #pracegover: Senhora coberta de tinta em pó da


cor rosa, celebrando ritual Hindu.
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

Um filme que trata sobre essa luta


religiosa em termos de preconceito
é O Livro de Eli, no qual Eli, persona-
gem interpretado por Denzel Washin-
gton, vive em um mundo pós apoca-
líptico e carrega em sua jornada um
livro sagrado que acredita guardar a
chave para salvar a humanidade. O
enredo gira em torno, na verdade, de
sua fuga para proteger o livro, já que
muitas pessoas acreditam que ele
é, na verdade, um instrumento para
incitar conflitos e opressão. O filme,
no fim das contas, é uma metáfora
e mostra como várias pessoas se
opõem a uma determinada crença
por acreditarem que ela é uma ferra-
menta para o mal.

Legenda: Eli é cidadão em um mundo pós apoca-


líptico e precisa proteger um livro sagrado no qual
acredita ter a salvação para a humanidade
Fonte: Divulgação
133
#pracegover: Homem negro, sentado ao chão, lendo um livro.
Veste um moletom marrom. A parede ao fundo está descascada.
descola.org | Fundamentos da diversidade

ESTRATÉGIAS
Com tantas religiões, promover um diá-
logo inter-religioso também chega a ser
um desafio. Entretanto, ele é o caminho
para a construção de uma sociedade
mais justa e harmoniosa. Com base nis-
so, temos algumas estratégias reco-
mendáveis para promover não somente
dentro do ambiente de trabalho, mas
qualquer um que aponte para uma possí-
vel intolerância religiosa.

134
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

São elas:

Aqui, temos um efeito dominó. A falta de


» Educar e conscientizar sobre as informação leva à formação de um este-
reótipo que impede a prática do diálo-
diferentes religiões e tradições;
go inter-religioso e a promoção de uma
» Quebrar preconceitos e estereótipos; política pública justa. O que precisamos
» Praticar o diálogo inter-religioso; e fazer, então, é quebrar os preconceitos e
» Promover políticas públicas que os estereótipos, promovendo círculos de
respeitem a diversidade religiosa. conversa, palestras e mesas redondas
sobre o tema, incentivando o diálogo en-
tre pessoas de diferentes crenças. Com
isso, as políticas públicas podem se tor-
nar uma ferramenta poderosa para refor-
O caminho para acabar com o preconceito contra çar o lugar da diversidade religiosa.
pessoas de outras religiões parece óbvio, mas
ainda assim é necessário. A educação e cons- E diante de tudo, encerramos, enfim, a
cientização quanto aos diferentes tipos de reli- discussão sobre os nossos marcadores
gião, por exemplo, não é geral e muitas pessoas sociais.
nem ao menos sabem quais ou quantas são, nem
ao menos quais são seus princípios e valores.

135
descola.org | Fundamentos da diversidade

Em cada capítulo, passamos pelo


contexto, pelos desafios e pelas
estratégias para lidar com cada um
deles, ajudando a promover a diver-
sidade, a equidade e inclusão de
pessoas diferentes na sociedade.
Contudo, ainda precisamos ir além e
entender como podemos construir
uma cultura de diversidade, para
que todos os nossos esforços não
sejam em vão. Vamos falar mais so-
bre isso no nosso próximo capítulo.

#pracegover: Imagem de fundo é uma passeata, foco


em um cartaz escrito igualdade em diversidade.
136
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

10 capítulo

CULTURA DE
DIVERSIDADE
A diversidade c o m o paut a
nas organizaç õe s

#pracegover: Recorte de uma imagem com vários


jovens alegres, cada um de uma raça diferente.
@ D E S C O L A GRA M
137
descola.org | Fundamentos da diversidade

VOCÊ IMAGINOU O termo interseccionalidade começou a ser

QUE PUDESSEM
popularizado na década de 1990 e faz referên-
cia aos diferentes marcadores sociais que inte-
ragem entre si, influenciando a forma como ex-
perimentamos a vida em sociedade. É o caso,

EXISTIR TANTAS
por exemplo, da intolerância religiosa feita a um
homem preto, como vimos no exemplo do nos-
so ebook. Vemos presente nesta situação

PAUTAS SOBRE
uma interseccionalidade entre os marcado-
res de raça e etnia e de religião.

DIVERSIDADE?
E é diante da interseccionalidade que chega-
mos ao nosso ponto principal deste capítulo:
a cultura de diversidade como pauta estra-
tégica de negócio. Com tantos marcadores
sociais convivendo em uma intersecção, a di-
Pois é! E o que você viu foi só uma ponta do versidade tem sido uma pauta cada vez mais
iceberg, afinal, não daríamos conta de, em um discutida e considerada essencial para os ne-
único curso, esgotar os assuntos sobre esse gócios. Isso se deve ao fato de organizações
tema. O que é fundamental destacar, entretan- com equipes diversas apresentarem melhores
to, com tudo o que aprendemos, é o conceito resultados e, por isso, se tornarem mais com-
de interseccionalidade. Já ouviu falar? petitivas.
138
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

E não para por aí. Segundo um estudo da McKin-


sey & Company, a diversidade impacta positi-
vamente nos seguintes fatores de sucesso:

» Satisfação dos colaboradores;


» Atração de novos talentos;
» Inovação;
» Competitividade;
» Foco no cliente;
» Performance financeira; e
» Tomada de decisão.

Ao longo do nosso ebook, vimos várias estra-


tégias para serem aplicadas dentro das empre-
sas, a fim de promover a diversidade, a equidade
e a inclusão. Quando as organizações investem
nessas estratégias, o resultado é justamente
esse que acabamos de ver com os fatores de
sucesso.
139
#pracegover: Quatro pessoas entrelaçando as
mãos, sugerindo ideia de apoio e união.
descola.org | Fundamentos da diversidade

Sendo assim, quando a empresa proporciona Esse sentimento de satisfação, inclusive, já


um espaço em que as diferenças são valoriza- está rendendo frutos. Uma pesquisa da Deloi-
das, o primeiro impacto é sentido na satisfação tte, de 2020, mostra que pertencer ao local de
dos colaboradores. Os colaboradores passam, trabalho pode levar a uma estimativa de 56%
por exemplo, a aumentar níveis de produtivi-
dade e motivação, por sentirem que estão em no aumento do desempenho no
uma atmosfera acolhedora, colaborativa e in- trabalho, redução de 50% do
clusiva. Com isso, as equipes se sentem mais
livres para se expressarem com autenticidade, risco de rotatividade e redução
influenciando, até mesmo, na maneira como os de 75% nas faltas por doença.
atuais colaboradores vão atrair e reter novos
talentos.

140
#pracegover: Reunião no trabalho com pessoas de
raças diferentes e incluindo cadeirantes.
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

E tem mais! A McKinsey Company, em sua pes-


quisa sobre diversidade, reconheceu que, no
ano de 2020, 63% dos funcionários indica-
ram estarem felizes no trabalho quando em
uma empresa que aborda a diversidade.

A partir do momento em que novos e velhos ta-


lentos se encontram em um ambiente diverso,
seguro e confortável, os colaboradores, agora
mais engajados e motivados, melhoram suas
capacidades de resolução de problemas, pro-
movendo processos colaborativos que culmi-
nam em soluções inovadoras.

Com a inovação em jogo, você já deve imaginar


o resultado, não é mesmo? O foco da organiza-
ção passa a ser o cliente, visto que a intenção
de uma solução inovadora é buscar resolver o
problema de alguém que tem uma necessida-
de, indivíduo esse que pode ser, justamente,
uma pessoa que faz parte de um grupo mino-
rizado.
141
#pracegover: Duas colegas de trabalho conversando no
corredor da empresa. Uma cadeirante e outra não.
descola.org | Fundamentos da diversidade

E não é só isso! Quando a equipe de uma organi-


zação é diversa, isso reflete melhor a socieda-
de, fazendo com que a empresa seja vista por
reconhecer e apoiar as necessidade de grupos
específicos, como mulheres, pessoas ne-
gras, LGBTQIAP+s, pessoas com deficiência,
entre tantos outros perfis, como os que já
vimos aqui. A consequência disso é uma com-
petitividade que coloca a companhia em uma
posição de vantagem no mercado.

Se tem competitividade, tem lucratividade e


uma melhor performance financeira, da mesma
forma que todo esse conjunto de fatores tam-
bém tornam melhor a tomada de decisões. A
Society for Human Resource Management, por
exemplo, em uma pesquisa de 2020, mostrou
que empresas com equipes diversas têm 19%
maior receita, graças à inovação. Além disso,
a mesma pesquisa mostra que as empresas
que relatam os mais altos níveis de diversidade
racial trazem 15 vezes mais receita de vendas
#pracegover: Cinco pessoas colocando suas mãos
do que aquelas com os níveis mais baixos de uma sobre a outra, sugerindo ideia de apoio e união.
diversidade racial.
142
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

Com relação à tomada de decisões, quando


existe uma equipe diversa no ambiente de
trabalho, há uma chance de os riscos envolvi-
dos nas decisões serem 30% menores, dado
revelado pela Deloitte, em pesquisa de 2018.
Pelo fato de existirem muitas cabeças diversas
pensantes, a chance de uma decisão não ser a
certa é menor.

DIANTE DISSO,
COMO PODEMOS,
ENTÃO, PROMOVER
UMA CULTURA DE
DIVERSIDADE DENTRO
DAS ORGANIZAÇÕES?
#pracegover: Visão superior dos pés e várias setas
pintadas no chão, dando a sensação de que exis-
É o que vamos ver na sequência.
143
tem muitas direções que podem ser seguidas.
descola.org | Fundamentos da diversidade

DE&I NAS EMPRESAS


Ter uma cultura de diversidade, equidade e in- Para isso ser possível, precisamos da força de
clusão dentro das empresas não é uma tarefa dois agentes: a empresa e as pessoas. Por
simples. Não é sobre fazer apenas ações isola- esse conjunto, a criação de uma cultura de di-
das para ter uma boa imagem com o mercado. versidade começa pelas seguintes ações:
É sobre mudar uma realidade interna que não
pode mais ser como é. É valorizar pessoas que
não se sentem boas o suficiente para cumpri- » Estabelecer uma política de DE&I;
rem suas funções, por estarem acostumadas » Ter uma liderança pautada na diversidade;
a viverem em ambientes que não as valorizam.
» Treinar colaboradores;
É sobre ser consciente e responsável com um
tema que faz parte do que somos. » Promover espaços inclusivos;
» Oferecer suporte para grupos minorizados;
Portanto, é fundamental que a diversidade » Tornar o tema da diversidade transversal.
não esteja apenas na área de Recursos Hu-
manos, na hora de selecionar novos cola-
boradores. A diversidade precisa estar em
cada canto da organização, nos processos,
nas tomadas de decisões, em tudo.

144
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

Estabelecer uma política de DE&I é o primei- Outro passo essencial na criação de uma cul-
ro passo para ter uma cultura de diversidade. A tura de diversidade é o treinamento de cola-
empresa, responsável por essa ação, deve criar boradores. Ajudá-los a compreender melhor os
uma política clara e bem definida que valorize a desafios da pauta e como todos podem parti-
diversidade e a inclusão, bem como comunicá- cipar de forma efetiva para contribuir com um
-la de forma clara e ampla. ambiente de trabalho mais inclusivo é funda-
mental para que a cultura de DE&I funcione.
Além disso, a liderança na organização preci-
sa estar alinhada à pauta da diversidade, tanto E por falar em treinamento de colaboradores, a
nas ações quanto na representatividade. Não promoção de representatividade na contra-
adianta ter um líder dentro dos padrões da so- tação de novos colaboradores e promoções
ciedade apenas falando sobre a importância também é um passo importante em todo o pro-
da diversidade. É preciso que isso se reflita na cesso. Políticas de recrutamento e seleção,
prática. E não vamos deixar de ressaltar o por exemplo, precisam valorizar a individuali-
quanto é essencial que grupos minorizados dade de cada um. Ainda, a criação de metas de
tenham lugar nessa liderança. diversidade deve se estender para toda a or-
ganização, incluindo promoção de funcionários
diversos para posições de liderança.

145
#pracegover: Grupo de muitas pessoas,
todas de raças diferentes.
descola.org | Fundamentos da diversidade

Diante de tudo, torna-se necessária a criação Por fim, não tem como querer criar uma cultura
de espaços inclusivos, a fim de que todos os de diversidade sem tornar o tema transversal.
colaboradores tenham oportunidades iguais de Tanto a empresa como os colaboradores de-
participar de tomadas de decisões, inovações, vem compreender a necessidade de garantir
análises e outras atividades importantes. que temas de diversidade, equidade e inclu-
Como consequência, torna-se imprescindí- são sejam tratados em todas as áreas da orga-
vel dar suporte para grupos minorizados, in- nização, fazendo com que, até mesmo, a comu-
centivando o desenvolvimento de grupos de nicação interna e externa tenha elementos de
diversidade, para que esses possam ende- diversidade e mostre representatividade.
reçar algumas questões específicas sobre a
pauta.

#pracegover: Dezesseis pessoas de costas se


abraçando, representando união e diversidade.
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

UFA! VIU COMO TER


ESSA CULTURA DE
DIVERSIDADE NÃO É
NADA FÁCIL, NÃO É?
Com isso conseguimos te ajudar a entender
diversos pilares sobre o tema da diversidade
e te ajudar a pensar na importância da
representatividade dentro das empresas.

Entretanto, nossa missão por aqui ainda não aca-


bou. Nos próximos capítulos, vamos te deixar com
algumas listas exclusivas de livros, filmes, séries e
podcasts que abordam os assuntos que trouxemos
ao longo do nosso ebook , te auxiliando a continuar
sua jornada de estudos sobre diversidade.
#pracegover: Mulher negra, com as mãos na cabe-
Divirta-se! ça, em posição de descanso e missão cumprida.
147
descola.org | Fundamentos da diversidade

11 capítulo

LIVROS
Histórias diversas para ler e recontar

#pracegover: Conjunto de livros vistos de cima

@ D E S C O L A G RA M
148
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

Quantas histórias sobre diversidade você já ouviu por aí? Quantas histórias
sobre diversidade você sabe contar? Livros estão aí para documentar
ficções e não-ficções sobre o tema. Nesta lista, selecionamos livros reais,
baseados em histórias de personalidades existentes em nossa sociedade,
bem como histórias que aconteceram no mundo da ficção, mas podem
representar muitas histórias que ainda não foram colocadas em palavras.
Veja só:

149
descola.org | Fundamentos da diversidade

O Sol Também é Uma Estrela Eu Sei Porque o Pássaro Canta na Gaiola


Nicola Yoon Maya Angelou

Natasha é uma garota jamaicana prestes a ser de- Maya Angelou, hoje, é uma mulher preta que esbanja
portada dos Estados Unidos junto com sua família. representatividade. Em seu livro, você vai conhecer
Daniel é um americano com descendência coreana, Maya como você nunca viu: uma garota negra, cria-
bom filho, bom aluno, apenas carrega grandes ex- da no sul por sua avó materna, que carregou consi-
pectativas em seus ombros. O que pode sair de um go um fardo pesado. Nesta obra, você vai entender
encontro como esse? Neste livro, você vai conhecer o que Maya sentia, ainda sente e vai ter acesso às
uma história de amor com um fundo de diversidade, suas lembranças dolorosas que revelam uma vida
conversas inspiradoras e temas que não escapam dura cheia de preconceitos.
quando o assunto é relacionamento interracial.

150
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

Mulherzinhas
Eu Sou Malala Louisa May Alcott
Malala Yousafzai

Outra mulher que exala representatividade é Ma- Mulherzinhas é o livro de ficção que deu origem ao
lala Yousafzai, ativista que não ficou calada quando filme Adoráveis Mulheres. A história traz à tona per-
o Talibã tomou controle do vale do Swat. O preço sonagens femininas que marcaram e ainda marcam
que pagou por isso foi alto: Malala foi atingida por gerações: mulheres que não aceitam imposições
uma bala na cabeça e poucos achavam que sobre- da vida e desejam mais do que lhes cabem. Na obra,
viveria. Como símbolo de luta, Malala teve uma re- você vai conhecer como as irmãs Meg, Beth, Amy
cuperação milagrosa e hoje conta sua história por e Jo, vivendo em meio à Guerra Civil Americana,
onde passa. Neste livro, você conhece a trajetória compartilham seus sonhos e como nem todas elas
de Malala, bem como tudo o que fez para espalhar a aceitam a ideia de passar o resto da vida cuidando
diversidade pelo mundo. de um marido e do lar.

151
descola.org | Fundamentos da diversidade

Vermelho, Branco e Sangue Azul Com Amor, Simon


Casey McQuiston Becky Albertalli

Se você procurar nas listas dos livros mais vendi- Simon Spier é um garoto de 16 anos que sabe que é
dos, este livro com certeza estará lá. Queridinho gay. Sua família, seus amigos e todos na escola, en-
da comunidade LGBTQIAP+, Vermelho, Branco tretanto, não sabem disso. Simon não tem proble-
e Sangue Azul é uma ficção que conta a história ma nenhum com sua orientação sexual, mas sabe
de dois jovens. Alex é famoso na mídia americana que a sociedade tem, por isso esconde esse se-
por ser filho da presidenta dos Estados Unidos; gredo. Ao longo da história, Simon começa a trocar
Henry é apenas o príncipe da Inglaterra. Ambos, no e-mails com um garoto da escola que se identifica
começo, não se suportam, mas uma amizade vai se como Blue e assume que é gay para todos do seu
transformando em algo a mais, enquanto os dois círculo. Será que isso é o suficiente para que Simon
vão descobrindo seus próprios sentimentos. tome coragem e faça o mesmo?

152
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

Pequeno Manual Antirracista O Sol é Para Todos


Djamila Ribeiro Harper Lee

Um dos primeiros livros a ter na estante quando o Este é um dos maiores clássicos da literatura mun-
assunto é diversidade é este: Pequeno Manual dial. E um dos maiores clássicos da literatura mun-
Antirracista. Esta é uma obra praticamente obri- dial fala, justamente, de preconceito racial. A histó-
gatória para quem quer não só entender as origens ria é ambientada nos Estados Unidos, na década de
do racismo, mas como combatê-lo. Djamila Ribeiro, 1930, em uma região com ferozes desigualdades,
a autora, vai ser a responsável por debater temas tudo muito bem contado pelos olhos de uma garota
como negritude, branquitude, violência racial, cul- questionadora cujo pai é advogado local e enfrenta
tura, entre outros assuntos importantes para essa uma batalha para defender um homem negro injus-
discussão. tamente acusado de cometer um terrível crime.
descola.org | Fundamentos da diversidade

O Cortiço Intolerância Religiosa


Aluísio Azevedo Sidnei Nogueira

Bateu uma curiosidade para saber como era o Brasil Mestre e Doutor em Linguística, Sidnei Nogueira é o
em tempos de escravidão? Apesar desta ser uma autor deste livro que vai te dar um panorama essen-
obra ficcional, seus elementos são extremamente cial sobre intolerância religiosa no Brasil. Você vai
reais e refletem justamente como a sociedade bra- poder relembrar momentos importantes da história
sileira era na época: o português dono do cortiço, da humanidade que foram marcados por dominação
a escrava amante, o português burguês, a esposa religiosa, como o Império Romano, a Idade Média e o
infiel, a mulata sedutora, a prostituta, entre muitos Naismo, e compreender melhor como os caminhos
outros personagens. Ainda que não seja uma leitura nos levaram a conviver em uma sociedade intole-
fácil, vale a pena valorizar essa literatura brasileira e rante à religião do outro.
conhecer um pouco de história.

154
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

Minha Breve História Quarto de Despejo


Stephen Hawking Carolina Maria de Jesus

Stephen Hawking é muito conhecido por teorias Carolina Maria de Jesus foi catadora de papel, tinha
que explicam os mistérios do universo, porém, nes- três filhos e era moradora da comunidade do Canin-
ta obra, vamos conhecer seu lado humano e como dé, em São Paulo. A vida de Carolina não foi fácil e
foi a sua trajetória de vida, desde a sua infância até isso é exatamente o que esse livro mostra. Apesar
os momentos em descobriu sua doença. É um livro de muito sofrimento, é uma história sobre resiliên-
para entender a vida de quem sofre com obstácu- cia, sobre preconceitos e sobre como uma mulher
los, de quem precisa de apoio e tem necessidades precisa lidar com os desafios da vida para sobrevi-
especiais, mas que, ainda assim, não deixou de ser ver.
um humano.

155
descola.org | Fundamentos da diversidade

12 capítulo

FILMES E SÉRIES
A diversidade p or o utras l e ntes

#pracegover: Pote de pipoca, com uma estatueta de oscar, no


plano de fundo uma placa escrito noite de cinema.

@ D E S C O L A G RA M
156
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

Ao longo do nosso ebook, vimos cada um dos principais marcado-


res sociais que rondam a diversidade. Em meio a isso, te demos
alguns exemplos de filmes que discutem as situações que explo-
ramos. Nesta lista, além de você encontrar um resumo sobre cada
um deles, você também vai conferir recomendações extras, tanto
de filmes quanto de séries. Vamos conhecer essa lista exclusiva
para te ajudar a pensar sobre diversidade?

157
descola.org | Fundamentos da diversidade

FILMES
O Sol Também é Uma Estrela - 2019 Adoráveis Mulheres - 2019

Já introduzimos a história de Natasha e Daniel, mas Meg almeja um bom casamento. Beth quer ajudar
nada melhor do que ver o filme para se emocionar os pais a cuidar do lar. Amy, a mais jovem, sonha
ainda mais com essa relação. Apesar do livro ter em ser rica. Jo, por sua vez, sonha em ser escrito-
baseado o filme, no longa você sente ainda mais as ra. Sabemos que, em meio à Guerra Civil Americana,
conversas inspiradoras que ambos têm sobre suas apenas duas delas teriam seus desejos realizados
vidas, sobre seus desejos, sobre seus medos e so- e não é nem Amy e nem Jo. Este é um filme adorável
bre os obstáculos que ambos enfrentam por conta para conhecer mulheres que estão à frente de seu
de suas raças e etnias. tempo e simplesmente não aceitam viver em uma
sociedade que as prende dentro de casa e lhes re-
tira seus sonhos.

158
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

Legalmente Loira - 2001

Você já deve ter assistido a este clássico do cinema, mas talvez seja o mo-
mento de revê-lo. No auge dos anos 2000, não era comum falarmos sobre
os temas que debatemos neste curso, portanto, certamente seu olhar para
este filme vai ser outro quando reassisti-lo. O longa conta a história de Elle
Woods, uma patricinha extremamente padrão que entra na faculdade de Di-
reito de Harvard para tentar salvar seu relacionamento com o ex-namorado.
Quando se depara com uma série de preconceitos, Elle usa sua habilidade
de comunicação e consegue virar o jogo quando resolve um caso judicial que
homens brancos padrões não foram capazes de resolver.
descola.org | Fundamentos da diversidade

O Escândalo (2019) Um Senhor Estagiário (2015)

É sempre importante ver como mulheres estão Jules Ostin é uma criadora de um site bem-sucedi-
lutando por seus direitos sem calar suas vozes e do que vende roupas. Com tamanho sucesso, Jules
seus sentimentos. Neste filme, você vai conhecer já não consegue mais dar conta de sua vida pessoal
a história de três mulheres que se uniram para e profissional. Quando sua empresa adota um proje-
denunciar os abusos que sofriam do presidente to de contratar idosos, Jules começa a dividir suas
da Fox News Roger Ailes. Baseado em fatos reais, funções com seu estagiário Ben Whittaker, um se-
o longa dá luz à luta contra o machismo e nos faz nhor de 70 anos que quer voltar a trabalhar para se
pensar que ainda há esperanças. reinventar. O choque de gerações vai mostrar como
gerações diferentes podem ser muito melhores
quando estão juntas.

160
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

O Pior Vizinho do Mundo (2023) O Segredo de Brokeback Mountain (2005)

Neste filme você conhece Otto, um senhor de 59 Um dos primeiros filmes a abordar o homossexua-
anos que é extremamente rabugento e não suporta lismo em uma época em que esse tema ainda era
sua vizinhança. À primeira vista, pode parecer que um tabu foi O Segredo de Brokeback Mountain,
Otto é um tremendo de um chato, mas sua realida- que conta a história de dois amigos que carregam o
de apresenta muitas coisas por trás desse compor- estereótipo de serem cowboys, ou seja, são fortes,
tamento. Colocado às margens da sociedade por másculos e o extremo do homem “macho”. Isso, en-
conta de sua idade, Otto, na verdade, apenas ten- tretanto, começa a cair por terra quando ambos se
ta dizer para o mundo que ainda é útil, o que sente, apaixonam um pelo o outro e decidem descobrir jun-
realmente, quando uma família amigável se muda tos o que estão sentindo. Este é um filme para ver
para o lado da casa de Otto e começa a estabelecer como é o preconceito contra o homem gay e como
uma relação emotiva com ele. essa orientação sexual é mantida em segredo por
conta da reação da sociedade.

161
descola.org | Fundamentos da diversidade

Com Amor, Simon (2017) Milk (2008)

Simon é um garoto de 16 anos muito bem-resolvi- Harvey Milk é um nova-iorquino que decidiu mo-
do com sua orientação sexual. Isso, entretanto, ele rar com seu namorado Scott. Hoje, isso parece
mantém em segredo, porque, além de temer a rea- algo normal, mas o enredo em questão aconteceu
ção de seu círculo social, não entende qual a razão no cenário da década de 70, quando essa opção
de somente homossexuais precisarem se assumir. pouco existia. A violência e o preconceito contra
Por que a mulher cis e o homem cis não podem as- homossexuais era grande na época, mas Milk não
sumir que gostam mesmo do sexo oposto? Este é desistiu de ir atrás de seus direitos e busca por
um filme que trata sobre a homossexualidade de oportunidades sem discriminação sexual. Este é
forma leve, ainda que fale sobre as consequências um filme baseado na vida do político e ativista gay
fatais de um preconceito contra pessoas LGBT- Harvey Milk e conta muito sobre as lutas e batalhas
QIAP+, como o suicídio. desse grupo minorizado contra o preconceito e a
violência da sociedade.

162
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

12 Anos de Escravidão (2013) Corra! (2017)

O ano é 1841 e Solomon Northup, um escravo liber- Esta não é uma história real e parece muito absurda
to, é sequestrado e levado a viver uma vida como para ser, mas não é difícil imaginar que coisas como
escravo mais uma vez. Revoltado com tamanhas essa podem acontecer no mundo em que vivemos.
humilhações, Solomon mostra a todo tempo sua Chris é um homem negro que namora Rose, uma mu-
indignação com a situação, mas sempre é castiga- lher branca. Ao conhecer sua família, ele começa a
do por sua ousadia em responder ao seu senhor e experienciar situações estranhas e perturbadoras,
tentar fugir. É mais uma história real que trata so- o que o faz pensar que ele precisa fazer uma úni-
bre escravidão, sobre preconceito, sobre violência ca coisa: correr! Um filme essencial para entender
e sobre lutas raciais. a branquitude e o privilégio que os brancos sentem
em oposição às pessoas pretas.

163
descola.org | Fundamentos da diversidade

O Livro de Eli (2010) A Teoria de Tudo (2014)

Eli é um homem solitário que vive em um futuro pós- Stephen Hawking vivia uma vida normal até desco-
-apocalíptico. Sua missão é proteger um livro sagra- brir sua esclerose lateral amiotrófica, doença que o
do, o qual guarda por 30 anos, pois acredita conter deixou cada vez mais debilitado. Neste filme, você
a salvação para a humanidade. Este não é um filme vai ver como é ser um físico extremamente impor-
direto, que conta detalhe por detalhe o que está tante para o mundo, ao mesmo tempo em que se é
acontecendo. É preciso entender nas entrelinhas o uma pessoa com deficiência, que sofre com as bar-
quanto o filme aborda a religião e, mais do que isso, reiras arquitetônicas e sociais da sociedade.
a intolerância religiosa.

164
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

Extraordinário (2017)

Este é um filme que mostra como muitas crianças podem ser afastadas do con-
vívio da escola e de outras esferas da sociedade por conta de uma deficiência ou
necessidade especial. Auggie Pullman, neste filme, é um garoto que nasceu com
deformação facial, o que fez com que ele passasse, desde o seu nascimento, por
uma série de cirurgias para fazer correções em seu rosto. Aos 10 anos, Auggie
encara, pela primeira vez, a escola e vai entender como é viver sendo diferente e
sofrendo bullying, preconceitos e outras violências.
descola.org | Fundamentos da diversidade

SÉRIES
Queer Eye

Queer Eye é um reality show que coloca um grupo de homens que represen-
tam a comunidade LGBTQIAP+ para mudar a vida de outras pessoas. O grupo
passa uma semana ao lado de alguém, entendendo a história de vida desse
indivíduo para, então, aplicarem as ações necessárias para transformar a vida
dessa pessoa. Você pode curtir esta série tanto na versão americana quanto
na versão brasileira.
166
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

Pose Dear White People

Pose é uma série ambientada em 1987 que acom- Fazer uma faculdade americana carrega uma enor-
panha Blanca, uma participante de bailes LGBTQ me carga de estresse, com tensões sociais, pres-
que acolhe pessoas marginalizadas pela sociedade. são acadêmica e o medo da idade adulta. Pior que
Essa é uma excelente recomendação para enten- isso, só se você for um afro-americano, tendo que
der mais sobre gays e trans, sobre a crise da AIDS, lidar com alunos brancos e cheios de privilégios.
sobre preconceitos e outras violências contra pes- Esta série segue um grupo de jovens pretos que
soas do marcador de LGBTQIAP+. precisam lidar com os desafios do dia a dia em um
lugar majoritariamente de pessoas brancas.
descola.org | Fundamentos da diversidade

Coisa de Menino

Se você quer ver o preconceito estrutural na vida das pessoas, esta é uma boa série
para assistir. Produzida pelos brasileiros Tatiana Issa e Guto Barra, a série mostra
como acreditar que homens não choram, por exemplo, é prejudicial e causa traumas
na vida de homens. Com um viés em cima da educação de meninos, você vai poder
ver o que pais pensam sobre o assunto em contraposição a como os garotos se
sentem com isso.
168
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

The Handmaid’s Taile

Já pensou ser uma mulher com o único fim de procriação? Pois é! Não existe outro
valor a não ser popular a Terra. Esse, infelizmente, é o cenário da série The Hand-
maid’s Tale, a qual se passa em um futuro próximo no qual os Estados Unidos deu
lugar à República de Gileade, cujo governo é totalitário e tem uma teonomia cristã
protestante. Sem dúvidas, uma ótima recomendação para observar o machismo e,
principalmente, o preconceito contra a mulher.
descola.org | Fundamentos da diversidade

13 capítulo

PODCASTS
Conversas e d ebat es s o bre d ivers id a de

#pracegover: Homem branco, sentado em uma mesa, com fones


de ouvido em frente ao notebook.

@ D E S C O L A GRA M
170
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

Às vezes, ouvir as pessoas falando sobre diversidade pode


fazer com que nos coloquemos em uma posição de reflexão.
O que será que anda acontecendo pelo mundo que a minha
bolha social me impede de ver? Pensando em abrir esse
universo, selecionamos alguns podcasts que falam sobre
temas como diversidade e inclusão. Solta o som!

171
descola.org | Fundamentos da diversidade

Bate-papo Carlotas Projeto Querino

O primeiro podcast que não pode ficar de fora Este é um podcast em oito episódios que mos-
dessa lista é o Bate-papo Carlotas, apresen- tra como a História explica o Brasil que vivemos
tado pela nossa professora Fabiana Gutierrez hoje. Em cada episódio, você vai voltar à histó-
e sua sócia Carla Douglass. Ao longo dos epi- ria do Brasil, desde a independência, e enten-
sódios, você vai encontrar todos os temas que der como o racismo, por exemplo, teve a sua
discutimos em nosso curso e vai conseguir se origem em terras brasileiras. Em um dos epi-
aprofundar ainda mais nos marcadores sociais. sódios, você vai ver como a liberdade dada aos
Vale a pena dar o play! escravos pelas mãos de Isabel não veio do céu.

172
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

Mamilos: Diversidade nas Empresas Afetos

Mamilos é um podcast apresentado por Cris Afetos é um podcast que fala sobre afetos,
Bartis e Ju Wallauer com o propósito de pro- como o próprio nome diz. É uma conversa sobre
mover diálogos abertos sobre temas sociais. relações e sobre o que acontece nessas rela-
Um dos episódios, o que trazemos aqui como ções. Há episódios interessantes que falam
recomendação, é o que fala sobre a diversidade sobre branquitude, violência de gênero, iden-
nas empresas, o qual conta sobre os desafios tificação, mulheres, intolerância, entre outros
de formar e gerir equipes em empresas que temas.
primam pela diversidade entre seus colabora-
dores.
173
descola.org | Fundamentos da diversidade

Pretas na Rede

Este é um podcast feito por mulheres pretas que traz conversas so-
bre o universo feminino negro e suas vivências. É uma ótima fonte para
aprender como é ser mulher na sociedade, mas, acima de tudo, como é
ser uma mulher preta em meio a uma sociedade cheia de preconceitos.

174
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

14 capítulo

REFERÊNCIAS

#pracegover: Arquiveiro de madeira, estilo antigo, com algumas


gavetas abertas.

@ DE S CO L AG R AM
175
descola.org | Fundamentos da diversidade

Diversidade em alta

https://brasil.elpais.com/brasil/2018/04/04/cultura/1522818455_771877.html

Representatividade nas empresas

https://www.youtube.com/watch?v=clEXfXkAAi0

Gênero

https://educa.ibge.gov.br/jovens/conheca-o-brasil/populacao/18320-quantidade-de-homens-e-
-mulheres.html

https://revistacult.uol.com.br/home/adoraveis-mulheres-greta-gerwig/

https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/historia-o-que-foi-o-escandalo-bom-
bshell-oscar-2020.phtml

176
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

https://www.extraclasse.org.br/economia/2021/11/trabalhadores-negros-perdem-mais-empre-
gos-ganham-menos-e-tem-menos-chances-de-recolocacao-durante-a-pandemia/

https://www.brasildefato.com.br/2019/11/22/mulher-negra-trabalha-quase-o-dobro-do-tempo-
-para-obter-salario-de-homem-branco

https://portal.fgv.br/artigos/lado-oculto-diversidade-genero

https://cultura.uol.com.br/noticias/17232_mulheres-dedicam-quase-o-dobro-do-tempo-em-cuida-
dos-e-afazeres-domesticos-segundo-ibge.html

LGBTQIAP+

https://www.trt4.jus.br/portais/trt4/modulos/noticias/465934

https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2022/06/19/apos-2-anos-parada-do-orgulho-lgbt-vol-
ta-a-paulista-neste-domingo-pabllo-vittar-ludmilla-e-gretchen-estao-entre-atracoes.ghtml

https://g1.globo.com/pe/petrolina-regiao/noticia/2022/05/31/mulher-trans-e-assassinada-a-pe-
dradas-em-belem-do-sao-francisco.ghtml

177
descola.org | Fundamentos da diversidade

https://g1.globo.com/pe/petrolina-regiao/noticia/2022/05/31/mulher-trans-e-assassinada-a-pe-
dradas-em-belem-do-sao-francisco.ghtml

https://g1.globo.com/ce/ceara/noticia/2022/01/11/homofobia-fotografo-e-esfaqueado-ate-a-
-morte-pelo-proprio-irmao-no-interior-do-ceara.ghtml

https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2022/06/28/17-mil-lgbqia-foram-vitimas-de-agres-
soes-fisicas-em-2021-8-estados-nao-tem-dados-sobre-o-tema.ghtml

Pessoas com deficiência

https://aeraparelhosauditivos.com.br/famosos-com-deficiencia-auditiva/

https://www.ortoponto.com.br/m/blog/5ffcbd199a09456d9833ec6c/4-personalidades-com-defi-
ciencia-que-fizeram-a-diferenca

https://www.deficienteciente.com.br/10-pessoas-cegas-famosas-que-sao-inspiracao-para-todos.
html

https://capricho.abril.com.br/comportamento/a-primeira-barbie-com-sindrome-de-down-foi-lanca-
da-e-nos-amamos/

178
Crie ambientes mais inclusivos e equitativos

Raça e Etnia

https://cultura.uol.com.br/noticias/17232_mulheres-dedicam-quase-o-dobro-do-tempo-em-cuida-
dos-e-afazeres-domesticos-segundo-ibge.html

Religião

https://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft1408200515.htm

https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/01/13/50percent-dos-brasileiros-sao-catoli-
cos-31percent-evangelicos-e-10percent-nao-tem-religiao-diz-datafolha.ghtml

https://g1.globo.com/pop-arte/tv-e-series/noticia/2023/03/01/bbb-23-fred-nicacio-fala-sobre-in-
tolerancia-religiosa-no-mais-voce-me-bateu-tristeza.ghtml

https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2022/07/22/brasil-registra-tres-queixas-de-intoleran-
cia-religiosa-por-dia-em-2022-total-ja-chega-a-545-no-pais.ghtml

179
descola.org | Fundamentos da diversidade

descola.org

180

Você também pode gostar