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n.º
18 REVISTA INFORMATIVA DA SOCIEDADE PORTUGUESA DO ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL
SEMESTRAL / DEZEMBRO 2021 / ANO 7 / EDIÇÃO DIGITAL
Avanços na
investigação
sobre AVC
23 ESPECIAL 19.ª REUNIÃO ANUAL SPAVC | Registos nacionais de AVC: que lições?
28 NOTÍCIAS
29 NOTÍCIAS DA CIÊNCIA
2022:
NOVOS
DESAFIOS,
ESPERANÇA
RENOVADA
Prof.ª Diana Aguiar de Sousa
Secretária da Direção da SPAVC,
Triénio 2021-2023; Neurologista
do Hospital de Santa Maria
V
olvido o segundo ano em que acessível, incluindo agora muitos da- hospitais portugueses, assim como
vivemos uma realidade ainda queles que, por razões geográficas, vários trabalhos de iniciativa portu-
muito longe do que conhecía- profissionais ou pessoais, se encon- guesa, comprovando o dinamismo
mos como normalidade, refletimos travam mais limitados na sua capa- da investigação nacional na área do
sobre o que conseguimos atingir e cidade de participar nestes eventos. AVC. Neste âmbito, assinalamos a
olhamos para o futuro. Entretanto, pudemos comprovar apresentação na sessão plenária de
A par com o avassalador impacto na cabalmente como é importante que abertura deste congresso, dedicada
prestação de cuidados de saúde, ao a comunidade científica dedicada a grandes estudos e ensaios clínicos,
qual as atividades das sociedades áreas não diretamente relacionadas de um estudo coordenado pelo Prof.
científicas não são alheias, a persis- com a pandemia continue a laborar Doutor José Ferro, focado no trata-
tente pandemia trouxe muitas mu- de forma tão regular quanto possí- mento com craniectomia descom-
danças à nossa forma de interação, vel durante estes (prolongados) pe- pressiva em doentes com trombose
às quais nos temos progressivamen- ríodos de conturbação e, com ela, venosa cerebral. Foi também um
te adaptado. Felizmente, a nível glo- as respetivas sociedades científicas, sinal positivo o convite de quatro
bal, a redução dramática das possi- tanto no seu papel de promoção do portugueses para realização de pa-
bilidades de encontro presencial foi intercâmbio científico e educação lestras como orador convidado.
acompanhada pelo surgimento de como na representação dos profis- A mudança do ano dá-nos ainda
uma profusão de eventos virtuais. Se sionais. Tempo continua a ser cére- uma oportunidade de pensarmos
por um lado esta mudança nos reti- bro, e é absolutamente fundamental nos desafios que temos pela frente,
ra a energia e motivação que advêm que seja mantido o progresso, cientí- especialmente numa fase em que
das discussões informais nas reu- fico e na organização dos cuidados, reina o sentimento de incerteza. Cer-
niões tradicionais, devemos também numa doença tão prevalente e po- tos que 2022 trará novas oportunida-
destacar como esta conversão ao tencialmente grave como o AVC. des, mas também novos obstáculos
digital tornou a comunicação mais É, por isso, com orgulho que regis- para transpor, continuaremos a ser
tamos a enorme participação no criativos e perseverantes. Em relação
congresso nacional e nas restantes às conferências e reuniões científi-
Tempo continua conferências virtuais da SPAVC no cas, fica a esperança de que breve-
a ser cérebro, e é ano de 2021. Para além da vasta dis- mente seja possível, a nível nacional
absolutamente tribuição geográfica da audiência e internacional, reunir o melhor dos
nacional, pudemos continuar a con- dois formatos.
fundamental que tar com a contribuição de dezenas
seja mantido o de preletores internacionais, que Mais uma vez, agradecemos a todos
progresso, científico são uma referência nas suas áreas os sócios da SPAVC e, de uma forma
de interesse. Mas também a nível geral, à comunidade de profissionais
e na organização dos Europeu, em que o formato virtual envolvidos na prevenção e tratamen-
cuidados, numa doença continuou a prevalecer, a participa- to do AVC, pelo seu trabalho incansá-
tão prevalente ção Portuguesa merece destaque. vel e pela entusiástica participação
Foram apresentados na ESOC 2021 em todas as atividades que desenvol-
e potencialmente os resultados de colaborações inter- vemos no ano de 2021. Juntos, conti-
grave como o AVC nacionais que estiveram envolvidos nuaremos a combater o AVC.
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TEMA DE ABERTURA
/ TRAIGE trial | Ensaio multicêntrico controlado e randomizado, realizado na China, que investigou a efi-
cácia do ácido tranexâmico, em comparação com placebo, num grupo de 171 doentes selecionados, que
apresentavam aspetos imagiológicos de alto risco, indicando expansão de hemorragia intracraniana (HIC).
Não foram encontradas diferenças significativas entre os grupos nas 8 nem nas 24 horas após a instalação
de sintomas; a mortalidade após 90 dias não foi estatisticamente significativa. Uma análise de subgrupo
sugere benefícios do ácido tranexâmico quando administrado num período de 4,5 horas após a instalação
de sintomas, mas serão necessários estudos adicionais para avaliar a segurança e eficácia do ácido tranexâ-
mico nos doentes com HIC.
Clique AQUI para assistir ao vídeo (Yvonne Chun entrevista Jingyi Liu e Liping Liu).
/ ANNEXA4 Study | Neste estudo de coorte prospetivo, foram recrutados 479 doentes com hemorragia
major enquanto tomavam inibidores de FXa, sendo que mais de dois terços apresentavam hemorragia
cerebral e tinham recebido a última dose de inibidor FXa nas últimas 18 horas. O tratamento com o agen-
te reversor deste tipo de anticoagulantes (como o apixabano e o rivaroxabano) - Adexanet Alfa - reduziu
com sucesso a atividade anti-FXa e alcançou uma hemostasia boa ou excelente em 80% dos doentes,
independentemente de idade, sexo, local da hemorragia ou dose do reversor. Ocorreram eventos inde-
sejados de coagulação (trombóticos) em 50 doentes (10%) em 30 dias e não houve eventos trombóticos
após o reinício da anticoagulação oral.
Clique AQUI para assistir ao vídeo (Floris Schreuder entrevista Truman Milling e Saskia Middeldorp).
/ MR ASAP trial | Ensaio clínico randomizado multicêntrico que avaliou o efeito da aplicação de
nitroglicerina em adesivo transdérmico nas 3 horas seguintes ao início de sintomas em doentes com
suspeita AVC isquémico agudo ou hemorragia intracerebral. O objetivo seria envolver 1400 doentes no
total, mas o recrutamento foi interrompido após os primeiros 326 por razões de segurança. Os dados do
presente estudo não evidenciaram o benefício da nitroglicerina na fase pré-hospitalar do AVC.
Clique AQUI para assistir ao vídeo (Valeria Caso entrevista Bart van der Worp).
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TEMA DE ABERTURA
/ SOSTART trial & RESTART follow-up | Será seguro e benéfico iniciar anticoagulação oral (ACO) em
sobreviventes adultos de hemorragia intracraniana espontânea (não traumática) que também têm
fibrilhação auricular? Esta pergunta foi o ponto de partida para o ensaio clínico aleatorizado e controlado
que envolveu 203 participantes. O estudo piloto não encontrou evidências de que iniciar ACO fosse não-
inferior a evitar ACO. Este tratamento pode ser benéfico na redução de eventos vasculares sintomáticos
major, no entanto existe risco aumentado de hemorragia intracraniana fatal. Em relação ao follow-up do
estudo RESTART, apresentado em 2019, o qual demonstrou ser seguro iniciar terapia antiplaquetária em
sobreviventes de hemorragia intracerebral durante 2 anos, vem agora alargar este período de tempo para
3,4 anos num conjunto de 537 doentes. O braço medicado com terapêutica antiplaquetária demonstrou
novamente a tendência para menos eventos vasculares graves.
Clique AQUI para assistir ao vídeo (Alastair Webb entrevista Rustam al-Shahi Salman).
/ TIMING study | Este estudo aleatorizado baseado em dados do registo sueco de AVC (Rikstroke),
pretendeu determinar o “timing” ideal para iniciar terapêutica anticoagulante após um AVC isquémico.
O estudo, que envolveu 888 doentes, constatou que a iniciação precoce (nos 4 dias pós-AVC) de
anticoagulantes orais diretos (AOD) foi não-inferior à iniciação tardia (5-10 dias pós-AVC), no que diz
respeito ao outcome combinado de AVC isquémico recorrente, hemorragia intracerebral sintomática
ou mortalidade por todas as causas. Nenhuma hemorragia intracerebral sintomática foi observada em
qualquer grupo de estudo.
Clique AQUI para assistir ao vídeo (Mira Katan entrevista Signild Asberg e Jonas Oldgren).
/ NETs trial | Neste ensaio duplamente cego, aleatorizado e controlado, 123 doentes com AVC ligeiro a
moderado foram divididos entre placebo e estimulação transiente por corrente contínua (TDCS) durante
a fase subaguda após um evento de AVC (média 20 dias). Não foi verificada uma diferença significativa
na função dos membros superiores entre os dois grupos. Pode haver uma série de razões potenciais
para a falta de efeito do TDCS neste estudo, como a intensidade da estimulação ser baixa, o tempo de
intervenção tardio ou cedo demais, e/ou o grau de défice instalado tender para ligeiro. Nesse sentido,
serão necessários estudos futuros para aprofundar este tema.
Clique AQUI para assistir ao vídeo (Jesse Dawson entrevista Christian Gerloff).
/ SWIFT DIRECT trial (Análise preliminar) | Este estudo procurou avaliar se a trombectomia mecânica
isolada é não inferior à trombectomia combinada com trombólise endovenosa prévia (administrada nas
4.5 horas após o início dos sintomas) em doentes com AVC isquémico causado por oclusão proximal da
circulação anterior. Uma análise preliminar de 404 doentes mostrou não-inferioridade estatística, quer
em termos de segurança como de outcome clínico.
Para aceder aos restantes vídeos com a análise de outros estudos apresentados na ESOC 2021,
consulte o canal oficial de YouTube da ESO.
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ESPECIAL 12.ª REUNIÃO NACIONAL UAVC
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ESPECIAL 12.ª REUNIÃO ANUAL UAVC
66 procedimentos de recanalização:
24% dos casos por trombólise en-
dovenosa, 59% por tratamento en-
dovascular e em 17% os dois tipos
de tratamento”. Já os “tempos me-
dianos porta-agulha, porta-punção
e door-in-door-out foram de 40, 30 e
113 minutos, respetivamente”. Outros
dados colocados em evidência pela
médica foram o “mRS [modified ran-
king scale] pré-AVC de 0 e à alta de 2”.
Paralelamente, salientou a preletora,
“49% dos doentes tiveram alta para o
domicílio, 92% realizaram rastreio de
disfagia – realizado nas primeiras 24
horas, em 47% dos casos – e 76% re-
ceberam avaliação para reabilitação
nas primeiras 72 horas”.
A experiência ao abrigo do projeto Sob o mote “Intervenção transdisci- o trabalho levado a cabo pelo grupo
desenvolvido pela Iniciativa Angels, plinar em pacientes com distúrbios de enfermeiros dedicados à aborda-
em parceria com o centro de simu- de comunicação e deglutição pós- gem do AVC, Portugal Angels Nurses
lação SIMULA da Escola Superior de -AVC”, este projeto contemplou a Task Force.
Saúde da Universidade de Aveiro, foi realização de um workshop de dois
transmitida, por seu turno, pela Prof.ª dias, com o propósito de difundir
Assunção Matos, terapeuta da fala e “um conhecimento sistemático,
docente nessa mesma instituição. De atualizado e fundamentado na evi- Consulte o website da Angels,
acordo com esta oradora, a evidên- dência sobre distúrbios posturais, com conteúdos em português!
cia cada vez mais tem vindo a sus- de comunicação e de deglutição
tentar “a importância da simulação em pacientes com AVC, com ênfase • Aprendizagem interativa
no tratamento do AVC”, ao permitir “o numa abordagem transdisciplinar”, • Checklists para download
treino em ambiente controlado com resumiu a palestrante. • Vídeos demonstrativos
oportunidade de prática e avaliação, Finalmente, a sessão culminou com
• Recursos para Doentes
obtendo resultados melhores e mais uma breve apresentação conduzida
duradouros comparativamente a ou- pelo Enf. Gonçalo Vital, enfermeiro • Cursos e-Learning
tros tipos de abordagem de educa- coordenador da Via Verde de AVC do • e muito mais para explorar
ção clínica”. Hospital Distrital de Santarém, sobre
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SAVE
STENTING OU ENDARTERECTOMIA
NA ABORDAGEM À ESTENOSE Saiba mais assistindo ao vídeo:
Na mesa-redonda, que contou com a medida dos doentes, com formas “sendo que o grau de evidência é
moderação do Prof. Manuel Correia, personalizadas para cada estenose claramente diferente nas estenoses
diretor do Serviço de Neurologia do carotídea”, sem esquecer também o sintomáticas, que correspondem aos
Centro Hospitalar Universitário do contributo da “inteligência artificial e doentes que mais necessitam da nos-
Porto, e da Prof.ª Diana Aguiar de Sou- da robótica” a este nível. sa intervenção”, sublinhou. Reiteran-
sa, neurologista do Centro Hospitalar do que nas estenoses sintomáticas
Universitário Lisboa Norte/Hospital de / Procedimentos concorrentes ou superiores a 70% “a evidência clara-
Santa Maria e secretária da Direção da complementares? mente favorece a endarterectomia”,
SPAVC, tomou inicialmente a palavra este palestrante enfatizou que a
a Prof.ª Isabel Fragata, neurorradiolo- Intervindo no debate de modo a re- mesma deve ser executada “com al-
gista de intervenção do Centro Hospi- cusar uma lógica de antagonismo e guma precocidade, idealmente nas
talar Universitário de Lisboa Central/ propondo, ao invés, um entendimento primeiras duas semanas”.
Hospital de São José, para se pronun- de interdependência, o Prof. Armando “A endarterectomia não deixa de ser
ciar a propósito do “papel do stenting Mansilha, especialista em Angiologia e uma cirurgia aberta”, reconheceu tam-
carotídeo no tratamento da estenose Cirurgia Vascular do Centro Hospitalar bém o especialista, recordando que,
carotídea, a partir da “perspetiva da Universitário de São João, no Porto, por sua vez, o stent carotídeo por abor-
Neurorradiologia de intervenção”. mostrou-se, por seu turno, crente na dagem femoral “não requer incisão”.
Apresentando a evidência que abona “complementaridade entre a endarte- Ademais, o angiologista e cirurgião
a favor do stenting carotídeo como rectomia e o stenting” na abordagem vascular realçou os outcomes primá-
“uma alternativa segura para o trata- da estenose carotídea. “Mais do que rios combinados ou independentes
mento da estenose carotídea sinto- as técnicas”, asseverou, “devemos tra- que se revelam “favoráveis ao stenting”,
mática e assintomática”, esta espe- balhar para os doentes, com boas indi- designadamente no que concerne ao
cialista lamentou “o favorecimento cações e bons executantes e, acima de “hematoma no local da intervenção
da endarterectomia” relativamente a tudo, evitar uma realidade transversal e à afetação dos pares cranianos pela
esta técnica endovascular nas guide- a ambas as técnicas: o overtreatment, intervenção”. Finalmente, no que con-
lines publicadas pela ESO já em 2021. algo a combater, particularmente nos cerne à endarterectomia nos casos que
Embora esta sociedade europeia doentes assintomáticos”. têm indicação para tal, o Prof. Arman-
recomende a endarterectomia “nos No que toca às mais recentes reco- do Mansilha defendeu que deve “pro-
doentes com estenoses assintomáti- mendações da ESO, o Prof. Armando mover-se a formação no sentido de a
cas acima dos 60%”, bem como “nos Mansilha lembrou que “é sempre ne- incisão ser pequena, com menos de 4
doentes com estenoses sintomáticas cessário dividir os doentes” em dois centímetros”. “A mini incisão é possível
acima dos 70% e talvez até dos 50%”, grupos, relativos às estenoses carotí- mesmo em doentes com anatomias
relegando a possibilidade de ponde- deas sintomáticas ou assintomáticas, mais difíceis”, concluiu.
rar o stenting apenas “em doentes
com menos de 70 anos com esteno-
ses sintomáticas acima dos 50%”, se-
/ Guidelines sobre a gestão da pressão arterial
gundo a Dr.ª Isabel Fragata, “os outco-
mes a longo prazo parecem ser muito As recomendações da ESO, emitidas igualmente em 2021, a respeito
comparáveis entre as duas técnicas”. da gestão da pressão arterial no tratamento da hemorragia intrace-
A preletora levantou ainda o véu so- rebral e do AVC isquémico agudo foram também passadas em revis-
bre aquilo que perspetiva como o ta nas intervenções a cargo da Prof.ª Else Sandset e do Prof. Georgios
potencial “futuro dos stents”: “stents Tsivgoulis, respetivamente secretária-geral e vice-presidente da ESO,
absorvíveis, stents com proprieda- que copresidiram à elaboração das guidelines da ESO sobre a gestão
des biológicas, stents com libertação da pressão arterial no AVC isquémico e hemorrágico.
de fármacos ou stents impressos à
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ESPECIAL 12.ª REUNIÃO NACIONAL UAVC
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ESPECIAL 12.ª REUNIÃO NACIONAL UAVC
NO TRATAMENTO DO AVC
Moderada pelo Dr. Gustavo Santo e de tomografia axial computorizada AVC, 90% dos quais isquémicos”.
pela Dr.ª Mariana Dias, neurologistas, (TAC) cranioencefálica, acarretando Apontado para os marcos mais im-
respetivamente, do Centro Hospita- “dificuldades substanciais, nomea- portantes na história da UAVC inau-
lar e Universitário de Coimbra e do damente, à realização de procedi- gurada em 2009, este palestrante
Centro Hospitalar Universitário Lisboa mentos revascularizadores”. destacou a “reestruturação em 2017”,
Norte, a discussão incidiu sobre as Nesse sentido, nas ilhas sem hospital, no âmbito da qual a equipa passou
estratégias para fazer face ao AVC nos o tratamento do AVC revela-se “muito a dispor de “uma equipa de Neuror-
arquipélagos dos Açores e da Madeira, deficitário e precário”, advertiu o Dr. radiologia terapêutica em regime de
bem como sobre os entraves que urge Pedro Lopes, dado que “só depois de prevenção”, possibilitando, assim, a
superar, com vista a promover a equi- serem avaliados nos centros de saú- realização de trombectomia mecâ-
dade de condições terapêuticas em de, e de se perceber se há meios aé- nica. Até esse momento, recordou,
todos os pontos do território nacional. reos que consigam fazer uma evacua- “tínhamos um internamento de agu-
A este propósito, o Dr. Pedro Lopes, ção em tempo-janela para realização dos com apenas quatro camas e um
neurologista do Hospital do Divi- de fibrinólise, é que os doentes, even- internista a tempo parcial, que era
no Espírito Santo de Ponta Delgada tualmente, são transferidos para os eu”, apoiado por “uma equipa de en-
(HDESPD), observou que a Região hospitais das ilhas de referência”. Por fermagem própria”.
Autónoma dos Açores é composta conseguinte, “muito poucos doentes A partir dessa reorganização, adian-
por “nove ilhas, com bastante he- destas ilhas sem hospital acabam por tou ainda o Dr. Rafael Freitas, a equipa
terogeneidade em termos popula- ser elegíveis para tratamento revascu- passou a integrar mais um internista
cionais”, o que coloca logo “grandes larizador”, lamentou. e “ganhámos mais quatro camas para
desafios”. De igual modo, frisou, o ar- Este preletor enfatizou também a doentes subagudos”. Dois anos volvi-
quipélago tem uma população “com “impossibilidade de realização de dos, em 2018, mais dois especialistas
um controlo dos fatores de risco ten- trombectomia mecânica nos Açores” juntaram-se à unidade e esta inscre-
dencialmente pior do que o que exis- como uma das principais limitações veu-se nos registos RES-Q e QUASQ.
te em Portugal continental”, o que se a ter em conta nesta matéria. Afinal, Finalmente, completou este orador,
traduz numa “maior propensão para explicou, o tratamento endovascular “a partir de maio de 2021, a UAVC tor-
a ocorrência de eventos vasculares”. “não se faz em nenhum dos três hos- nou-se completamente autónoma,
Outro aspeto de relevo, segundo este pitais dos Açores, devido à inexistên- foi criada uma equipa de Neurosso-
especialista, é o facto de “apenas cia de neurorradiologistas”, da mes- nologia e começámos com uma con-
três ilhas terem hospital”: o Hospital ma forma que “não existe, até à data, sulta multidisciplinar de follow-up dos
da Horta, na ilha do Faial, o Hospital qualquer protocolo para a transferên- doentes com AVC”.
de Santo Espírito da Ilha Terceira e o cia destes doentes para o continente”. Quanto ao futuro desta unidade,
HDESPD, na ilha de São Miguel. Para- Rafael elencou ainda alguns dos obje-
lelamente, continuou, “só em cinco / UAVC da Madeira em crescendo tivos que a mesma pretende alcançar
das nove ilhas é possível a realização “nos próximos três anos”, designada-
Por seu turno, o Dr. Rafael Freitas, mente: “ter um registo dos dados dos
que em maio de 2021 passou a pas- doentes seguidos, quer na consulta de
O tratamento ta da coordenação da Unidade de prevenção, quer na de follow-up”, fazer
endovascular “não AVC (UAVC) do Hospital Dr. Nélio da unidade “um stroke center respon-
Mendonça, no Funchal, ao Dr. Duar- sável por toda a cadeia de cuidados
se faz em nenhum te Noronha Martins, para assumir a de AVC na região”, “aumentar o núme-
dos três hospitais direção do Serviço de Medicina In- ro de trombólises e trombectomias
dos Açores, devido terna da mesma instituição, come- realizadas”, “melhorar os tempos de
çou por salientar que, na Região Au- reperfusão, principalmente porta-a-
à inexistência de tónoma da Madeira, se contabilizam gulha e porta-punção femoral” e “di-
neurorradiologistas” “cerca de 800 admissões anuais por minuir os períodos de internamento”.
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ESPECIAL 12.ª REUNIÃO NACIONAL UAVC
A experiência conquistada pela primeira Unidade de AVC portuguesa a ser Existem, atualmente
certificada pela European Stroke Organisation (ESO) e a estruturação de
modelos de financiamento hospitalar que incentivem a qualidade na pres-
“89 unidades
tação de cuidados de saúde deram o mote à sessão da 12.ª Reunião Nacio- certificadas pela
nal de Unidades de AVC subordinada à “Certificação das Unidades de AVC”. ESO, das quais 39
são unidades de AVC
Numa nota introdutória ao debate, a cuidados de saúde”, assegurando “a e 50 stroke centers.
Prof.ª Elsa Azevedo, diretora do Ser- conformidade de todos os processos
viço de Neurologia do Centro Hospi- e mantendo documentadas todas as
Fomos a primeira
talar Universitário de São João, no atuações e decisões”, frisou. Unidade de AVC
Porto, sublinhou o papel da unidade Miguel Veloso adiantou igualmen- a ser certificada
de AVC enquanto “estrutura nuclear te que este modelo pode certificar
na prestação de cuidados de saúde “uma unidade de AVC ou um stroke
em Portugal e na
ao doente com AVC”. Não obstante, center”, aproveitando para elencar as Europa”
acautelou a moderadora, “não basta principais diferenças entre as duas
existir uma unidade de AVC, é pre- estruturas. “A aplicação é feita atra-
ciso reunir os critérios para que se vés de uma plataforma online e tem
tenha uma unidade de AVC de exce- validade de cinco anos, período a presidente da Associação Portugue-
lência”, sendo, para tal, fundamental partir do qual é necessário requerer sa de Administradores Hospitalares
promover a certificação das unida- uma recertificação”, acrescentou. e administrador hospitalar do Centro
des de AVC nacionais, com vista ao Procurando inculcar “uma cultura de Hospitalar e Universitário de Coim-
“reconhecimento dessa excelência”, excelência” transversal a toda a orga- bra, lembrou que, no passado, “a ge-
argumentou. nização, a certificação incide sobre neralidade das instituições de saúde
Em nome da primeira Unidade de sete vertentes distintas: “liderança, foi sendo financiada, essencialmen-
AVC portuguesa ser certificada pela recursos humanos, infraestruturas, te, com base na despesa histórica
ESO, coube, por sua vez, ao Dr. Miguel capacidade de investigação, inter- e nos recursos existentes”. Todavia,
Veloso, diretor do Serviço de Neurolo- venções e monitorização clínica, for- hoje em dia, essa modalidade de
gia do Centro Hospitalar de Vila Nova mação, reuniões e investigação e, fi- financiamento “é considerada obso-
de Gaia/Espinho, apresentar aquele nalmente, números e indicadores de leta, porque se percebe que tende a
que é o modelo de certificação pre- qualidade”, explicitou o preletor. financiar o que já existe, inibindo o
conizado por esta instituição de re- Segundo este especialista, existem, desenvolvimento de novos tipos de
ferência europeia. Admitindo que a atualmente “89 unidades certifica- serviço”, contrapôs o palestrante.
qualidade em saúde “é um conceito das pela ESO, das quais 39 são uni- De modo a ultrapassar estas limita-
difícil de definir”, este neurologista dades de AVC e 50 stroke centers”. ções, uma das alternativas de elei-
reforçou a ideia de que “a certificação “Fomos a primeira Unidade de AVC a ção reside no modelo de pagamento
está intimamente ligada à qualidade” ser certificada em Portugal e na Euro- compreensivo ou pagamento por
neste âmbito. “É a certificação que pa, em junho de 2017”, congratulou- doente, face à evidência de que este
permite garantir que um determina- -se o Dr. Miguel Veloso, que deixou “permite alcançar bons resultados”,
do serviço de saúde gere e controla um derradeiro repto: “no nosso País, incentivando “a prestação de cui-
de forma consistente a prestação de ainda somos a única unidade de AVC dados de saúde com qualidade” e
certificada pela ESO, mas estamos à possibilitando também “alguma re-
espera de companhia e temos toda a dução do desperdício de meios”, afir-
disponibilidade para ajudar” as de- mou o Dr. Alexandre Lourenço. Nessa
Assista às palestras na íntegra: mais unidades que queiram enfren- perspetiva, continuou o orador, esta
tar este processo. modalidade alicerça-se não apenas
na avaliação dos resultados clíni-
/ Pagamento compreensivo como cos, mas também na “avaliação de
incentivo à qualidade indicadores PREMS [patient reported
experience measurements] e PROMS
Incumbido de versar sobre os di- [patient reported outcomes measure-
versos modelos de financiamento ments], duas formas de mensuração
hospitalar e respetivo contributo de resultados que promovem a pres-
para a promoção da qualidade em tação de cuidados “centrados nos
saúde, o Dr. Alexandre Lourenço, doentes”.
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REABILITAR SOBREVIVENTES DE AVC:
A IMPORTÂNCIA DE UMA EQUIPA MULTIPROFISSIONAL
CONSANAS Hospital da Prelada (Porto) é um centro especializado de reabilitação de sobreviventes
de AVC com um programa único em Portugal: inclui todas as valências da área da reabilitação, é
organizado por uma equipa multiprofissional e assenta em objetivos realistas e alcançáveis, através
de planos terapêuticos suportados por prognóstico.
consanas@hospitaldaprelada.pt | T. 228 330 770 | R. Sarmento de Beires, 153. 4250-449 Porto, Portugal
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AVC
Restituímos esperança
e melhoramos vidas.
ESPECIAL 12.ª REUNIÃO NACIONAL UAVC
O programa da 12.ª Reunião Nacional das Unidades de AVC culminou numa neuroimagem para a realização de
discussão sobre a pertinência do recurso a métodos de imagem cerebral trombólise”, o mesmo acontecendo
avançada para orientar a decisão terapêutica no contexto do AVC isquémi- no caso da trombectomia mecânica”
co com janela temporal alargada. após a janela de seis horas”, referiu.
Pesem embora as “limitações na uti-
Propondo-se a responder à questão tal, para a realização de trombólise. lização destes métodos avançados
de “Como abordar o AVC isquémico Contudo, alertou, há “condicionalis- de imagem”, designadamente a sua
com e sem imagem cerebral avança- mos” a ter em conta na generaliza- acessibilidade “nem sempre fácil”, a
da”, a sessão moderada pelo Dr. José ção destes resultados, dado que “a “elevada sensibilidade da técnica”
Mário Roriz, coordenador da Unida- discrepância entre FLAIR e difusão ou o tempo exigido para a sua execu-
de de AVC do Centro Hospitalar de tem alguma especificidade, mas bai- ção e interpretação, este especialista
Entre o Douro e Vouga/Hospital de xa sensibilidade”. apontou também para os estudos
São Sebastião, e pela Dr.ª Liliana Pe- Por conseguinte, o ensaio TWIST, que sugerem que “a TAC de perfusão
reira, neurologista do Hospital Garcia ainda em decurso, visa aferir se é é melhor preditora de bom prognós-
de Orta, em Almada, versou, primei- possível selecionar doentes, neste tico do que a TAC simples”. “No caso
ramente, sobre o papel dos métodos contexto, “com base apenas em TAC de não haver oclusão e de o doente ter
avançados de imagem na aborda- [tomografia axial computorizada] um síndrome clínico extenso, a minha
gem do AVC isquémico ao acordar. simples e angio-TAC”, assinalou o recomendação seria utilizar TAC de
Incumbido de discorrer sobre este Dr. Ângelo Carneiro. Não obstante, perfusão, se queremos fazer trombóli-
tópico, o Dr. Ângelo Carneiro, neu- nos doentes com oclusão de gran- se fora de horas”, sem deixar de ponde-
rorradiologista do Hospital de Braga, de vaso, candidatos a trombecto- rar “outros diagnósticos diferenciais”,
salientou que, do ponto de vista da mia mecânica, “embora a seleção argumentou o Dr. João Pinho.
seleção de doentes para terapêuti- na maior parte dos centros seja feita Já no que concerne à trombecto-
cas de revascularização, “o grande apenas com base nos achados da mia para lá da janela terapêutica
divisor” prende-se com a existência TAC simples e angio-TAC”, reconhe- convencional, asseverou ainda este
ou não de oclusão de grande vaso, ceu, “as guidelines ainda preconizam palestrante, fazendo eco da sua “ex-
optando-se, respetivamente, pela que sejam realizados estudos de periência pessoal”, “a TAC de per-
implementação de trombectomia imagem avançada”. fusão influencia pouco” a decisão
mecânica ou trombólise endoveno- final para tratamento endovascular.
sa em cada uma das situações. Neste / TAC de perfusão em janelas “Se a TAC simples é elucidativa e
último caso, precisou ainda o orador, terapêuticas alargadas: sim ou não? há poucos sinais de enfarte, penso
a seleção dos doentes deve obede- que é lícito avançarmos para trom-
cer a estudos de perfusão, uma vez Na sua preleção dedicada ao concei- bectomia direta, sem necessidade
que “apesar de não conhecermos o to de “janela terapêutica estendida de métodos avançados de imagem,
tempo exato de início dos sintomas, ou janela tecidual”, por seu turno, mesmo nesta janela temporal alar-
a demonstração de penumbra isqué- o Dr. João Pinho, neurologista do gada”, ressalvou. No caso de se estar
mica potencialmente salvável pode University Hospital RWTH Aachen, perante “um enfarte bastante exten-
permitir a administração de trom- na Alemanha, evocou os estudos so”, porém, “faz sentido realizar TAC
bólise endovenosa com segurança e que demonstram que, “mesmo em de perfusão”, contrapôs.
bons resultados”. janelas terapêuticas com tempo
Outro paradigma de seleção tera- de evolução mais dilatado”, após a
Clique para visualizar a sessão:
pêutica, o qual “está atualmente instalação do AVC, existem doentes
em voga”, é o da “discrepância entre “que ainda têm tecido cerebral salvá-
FLAIR e difusão”, afirmou este espe- vel e têm a beneficiar com terapêu-
cialista. De acordo com este preceito, ticas de reperfusão”. Essa evidência
explicou, “num estudo de ressonân- crescente serve de sustentação às
cia, a existência de uma imagem sem recomendações atuais da European
tradução em FLAIR, na sequência da Stroke Organisation (ESO), as quais
difusão” indicaria, “com alta proba- preconizam que, na janela terapêu-
bilidade”, estar-se perante um en- tica com mais de quatro horas e
farte com menos de quatro horas e meia após o início de sintomas, “são
meia de evolução, indicado, como necessários métodos avançados de
stroke.pt 19
ESPECIAL 19.ª REUNIÃO ANUAL SPAVC
A primeira palestra da 19.ª Reunião Anual da SPAVC convidou a uma reflexão sobre o enquadramento etiológico
complexo da estenose intracraniana no adulto jovem e os desafios colocados por esta patologia do ponto de
vista terapêutico.
A sessão está disponível online:
A estenose intracraniana surge como formas de vasculites sistémicas ou
causa formal de “8 a 10%” dos AVC is- síndromes congénitas.
quémicos, sendo que “um terço des- Quanto à topografia do envolvimen-
tes doentes pode ter idade inferior a to vascular, explicitou este especia-
45 anos”, começou por elucidar o Dr. lista, assiste-se a uma “predileção
Ricardo Varela, neurologista do Cen- pela circulação anterior”, compreen-
tro Hospitalar e Universitário do Por- dendo, nomeadamente “segmentos
to, na sessão moderada pelas Dr.as terminais da artéria carótida inter-
Marta Carvalho e Lia Neto, respetiva- na”. Já relativamente às classes no-
mente, neurologista do Centro Hos- sológicas que justificam a etiologia
pitalar Universitário de São João e da estenose intracraniana no doen-
neurorradiologista do Centro Hospi- te jovem, observa-se um predomí-
talar Universitário Lisboa Norte/Hos- nio da “doença aterosclerótica com
pital de Santa Maria. Por outro lado, envolvimento segmentar vascular intracraniana”. No caso de um AVC
frisou o orador, o enquadramento intracraniano”, a qual “tende a ser associado a uma estenose intracra-
etiológico da estenose intracraniana subdiagnosticada”, sobretudo “nas niana, especificou ainda este neuro-
no adulto jovem é particularmente formas que não têm expressão sin- logista, “diferentes mecanismos” po-
“desafiante” e inclui “um conjunto dromática ou impacto clínico e que dem concorrer para o efeito, incluindo
alargado de etiologias formais”. serão tendencialmente associadas “oclusão de vasos perfurantes”, isto é,
Do ponto de vista demográfico, este a estenoses sem significado hemo- “um AVC de pequenos vasos que ocor-
preletor chamou também a atenção dinâmico”, alertou. Finalmente, e a re na sequência de uma estenose de
para as “particularidades na dis- respeito dos exames complementa- grande vaso”.
tribuição da prevalência do envol- res de diagnóstico a privilegiar neste Na eventualidade mais “frequente”
vimento intracraniano” no doente contexto, o especialista reconheceu de ter a aterosclerose como etiolo-
jovem, as quais resultam em “assi- a utilidade do Doppler transcraniano, gia, a abordagem inicial deve recair
metrias importantes entre diferentes destacou a angiografia de subtração sobre a “terapêutica médica inten-
populações”. Nesse sentido, comple- digital como “gold standard para a siva e a modificação de estilos de
tou, “é reconhecido que as popula- caracterização da estenose focal” e vida”, preconizou. Por seu turno, este
ções asiáticas e de alguns países afri- classificou como “fundamental” o palestrante ressalvou igualmente o
canos”, assim como a “comunidade “advento de novas metodologias de papel da antiagregação como tera-
hispânica” tendem a evidenciar “um avaliação da parede do vaso”. pêutica antitrombótica de eleição
aumento de doença ateromatosa em “prevenção secundária”. De acor-
intracraniana que justifica, prova- / Abordagem à medida do com o Dr. Miguel Rodrigues, na
velmente, esta desproporção na sua no tratamento da “estenose de 70-99%”, as recomen-
prevalência”. estenose intracraniana dações apontam para a combinação
No que concerne à apresentação clí- de clopidogrel com aspirina. “Pode
nica, por sua vez, o orador sublinhou Convidado a discorrer sobre o “Prog- ser ponderado ticagrelor em asso-
a necessidade de se estar atento à nóstico e tratamento das estenoses ciação com aspirina por 30 dias ou
ocorrência um padrão de vaso, o intracranianas no doente jovem”, o Dr. cilostazol com aspirina, mas com da-
qual pode sugerir “um contexto de Miguel Rodrigues, diretor do Serviço dos menos robustos”, precaveu. Em
repetição estereotipada”. Concomi- de Neurologia do Hospital Garcia de termos de terapêuticas cirúrgicas,
tantemente, notou, “importa perce- Orta, em Almada, alegou que essa tem rematou este especialista, “a angio-
ber se estas alterações incluem uma de ser forçosamente uma “abordagem plastia com ou sem stent não deve
sintomatologia neurológica isolada” feita à medida”. Consequentemente, ser a primeira opção em doentes
ou, em alternativa, se surgem enqua- fundamentou, “o tratamento vai de- sintomáticos com estenoses de 70-
dradas em “síndromes sistémicas pender dos vários mecanismos que 99%” e “não está mesmo recomen-
mais alargadas”, designadamente podem estar subjacentes à estenose dada” em estenoses abaixo de 70%.
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ESPECIAL 19.ª REUNIÃO ANUAL SPAVC
As mais-valias que o recurso a ferra- entre diferentes regiões do país e, mesmo aconteceu com a utilização
mentas digitais de comunicação à por vezes, até dentro de uma mesma da aplicação JOIN, disponível desde
distância pode acarretar no contexto cidade”, começou por enquadrar a 2014 no HCPA, para “discutir casos em
da gestão terapêutica da doença vas- oradora. Somando, atualmente, 192 tempo real, consultar imagens com
cular cerebral em fase aguda foram centros de AVC, a nível nacional, exis- excelente qualidade, registar os tem-
o cerne da preleção a cargo da Prof.ª tem ainda, contudo, “várias zonas pos de atendimento e até, mais re-
Sheila Martins, fundadora e presiden- do país sem nenhum centro de AVC”, centemente, examinar os doentes por
te da Rede Brasileira de AVC, coorde- lamentou, explicando que, “com vídeo chat”, adiantou a neurologista.
nadora do Programa de AVC do Hospi- pouco mais de 5 mil neurologistas Segundo a Prof.ª Sheila Martins, de
tal de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) no Brasil, não temos profissionais 2014 a 2015, com apenas um ano de
e chefe do Serviço de Neurologia e suficientes para assegurar a cobertu- utilização, dos 720 casos com AVC
Neurocirurgia do Hospital Moinhos ra necessária a nível hospitalar para atendidos na unidade de AVC des-
de Vento, em Porto Alegre. Dando a atender às necessidades de toda a ta instituição, “em 84% a discussão
conhecer a experiência acumulada, população brasileira”. foi feita através da aplicação JOIN”.
no Brasil, com a utilização da aplica- “Isso demonstra que o sistema efe-
ção JOIN, desenvolvida pela Allm Inc., / Smartphone: um aliado terapêutico tivamente conectou a equipa de AVC
a também presidente-eleita da World dentro e fora do hospital, com exce-
Stroke Organization (WSO), procurou Por outro lado, argumentou a Prof.ª lente qualidade de imagem, auxilian-
ilustrar, em particular, como a teleme- Sheila Martins, embora o recurso à do no tratamento do AVC agudo e na
dicina se pode constituir como “uma telemedicina convencional seja “en- tomada de decisão para o tratamen-
ferramenta importante para o trata- dossado por diretrizes nacionais e in- to de recanalização”, enfatizou.
mento do AVC em áreas geográficas ternacionais”, com vista a promover o Mais ainda, elucidou a palestrante,
sem acesso a especialistas ou unida- “acesso ao tratamento do AVC agudo este sistema visou igualmente a “in-
des especializadas”. em locais sem profissionais ou estru- tegração com as equipas pré-hospi-
Com mais de 200 milhões de habi- turas adequadas” para o efeito, nos talares, traduzindo-se em ganhos de
tantes, o Brasil conta com um sis- países menos desenvolvidos “a in- eficiência no que concerne à transfe-
tema público de saúde que acolhe fraestrutura pobre e os recursos parcos rência dos doentes. “Os resultados
“80% dos doentes com AVC”, amea- não permitem a disseminação da tele- demonstram que o recurso ao JOIN
çado por “enormes disparidades medicina com base em equipamentos aumentou o acesso dos doentes
convencionais”. Isso mesmo corrobora à terapêutica de reperfusão, dimi-
um estudo realizado pela WSO, em 318 nuindo o tempo porta-agulha em
Dispomos hoje de hospitais a nível mundial, de acordo 17 minutos, e reduziu transferências
com o qual, “só 15% das unidades usa- desnecessárias entre hospitais em
smartphones dotados com vam a telemedicina vendo as imagens 60%”, concluiu. Finalmente, a Prof.ª
ecrãs de alta resolução em tempo real e 35% usavam a consul- Sheila Martins frisou que a experiên-
para avaliação de toria por telefone para discutir o caso”, cia acumulada neste contexto serviu
esclareceu esta especialista. de base para o lançamento de um
“imagens com excelente Graças à “tendência de migração da programa nacional de telemedicina,
qualidade”, possibilitando, tecnologia para tecnologia móvel”, o TeleStroke, que presta consultoria
deste modo, que “ao continuou a preletora, dispomos hoje a 20 hospitais brasileiros, no âmbito
de smartphones dotados com ecrãs do qual “já foram submetidos a trom-
invés de o médico ter de alta resolução para avaliação de bólise mais de 350 doentes”. Assim
de ir para o dispositivo “imagens com excelente qualidade”, como de um programa internacional
de telemedicina, a possibilitando, deste modo, que “ao de Telemedicina Sem Fronteiras, ao
invés de o médico ter de ir para o dis- abrigo do qual “especialistas de dife-
telemedicina esteja na positivo de telemedicina, a telemedi- rentes partes do mundo dão consul-
palma da sua mão” cina esteja na palma da sua mão”. Isso toria em tempo real para a Etiópia”.
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QUE LIÇÕES?
Sob a moderação da Dr.ª Ana Paiva Nu- zer, Verificar e Agir, em português). “Estes resultados
nes, coordenadora da Unidade Cere- Enquanto numa fase inicial, em 2004,
brovascular do Centro Hospitalar Uni- foi “necessário planear a estrutura- ajudam-nos a perceber o
versitário de Lisboa Central/Hospital ção de cuidados de AVC”, entre 2005 que temos de melhorar,
de São José, e do Prof. Tiago Moreira, e 2006 importa realçar “a implemen- a darmos feedback aos
neurologista do Karolinska University tação do Sistema de Código de AVC
Hospital, em Estocolmo, na Suécia, a da Catalunha” e, no período de 2007 profissionais de saúde, a
sessão foi iniciada com a partilha da a 2009, a colheita de dados de audi- rever as recomendações
experiência do Registo Dinamarquês torias no âmbito do tratamento da clínicas e a apostar na
de AVC, apresentada pela sua presi- doença vascular cerebral, enquadrou
dente, Prof.ª Dorte Damgaard. esta oradora. Finalmente, numa fase formação para melhorar
A também neurologista do Aarhus entre 2010 e 2011, o programa de AVC estes indicadores”
University Hospital, na Dinamarca, da Catalunha voltou-se para a “im-
recapitulou o trajeto histórico deste portância pivotal de prestar feeback
registo lançado em 2003 e salientou a quem está envolvido nos cuidados
“o elevado grau de centralização do de AVC”, dado que, de outro modo, tes resultados ajudam-nos a perceber
tratamento do AVC na Dinamarca”, “coligir dados revelar-se-ia inútil”, ar- o que temos de melhorar, a darmos
ditado, em boa parte, pelos avanços gumentou a Prof.ª Sònia Abilleira. feedback aos profissionais de saúde,
conquistados no âmbito da “terapêu- Complementando a palestra condu- a rever as recomendações clínicas e
tica de reperfusão”, mas também em zida pela sua antecessora, coube a a apostar na formação para melhorar
função da “avaliação de dados sobre Natalia Pérez de la Ossa incidir mais estes indicadores”, concretizou. De
a qualidade dos cuidados de saúde detalhadamente sobre a engrena- igual modo, a Prof.ª Natalia Pérez de
prestados”. Em termos de direções gem de funcionamento do Registre la Ossa chamou a atenção para o am-
futuras deste registo, esta preletora Codi Ictus Catalunya (CICAT), o qual plo lastro de informação disponível
destacou ainda “um plano para reabi- reúne, “prospectivamente, dados de no CICAT, o que se torna “muito atra-
litação ao nível dos cuidados de saúde todos os doentes com ativação do tivo do ponto de vista da investigação
primários”, bem como a inclusão de código de AVC na Catalunha”. Em pa- clínica”, sugeriu, dando conta da “ex-
evidência sobre a “avaliação funcio- ralelo, indicou esta especialista, ou- tensa investigação e das publicações
nal pós-AVC de acordo com a Escala tras fontes de evidência deste registo já realizadas com base neste registo”.
de Ranking Modificada para todos os são as “auditorias periódicas sobre De olhos postos no futuro, a oradora
doentes após três meses” e dados re- os doentes que são admitidos a nível anunciou, por fim, o desenvolvimen-
lativos à “hemorragia subaracnoideia”. hospitalar”, assim como os “dados de to de um “sistema que faz o upload
follow-up a três meses”. automático dos dados dos hospitais
/ O exemplo catalão A atual líder do Programa de AVC da para este registo centralizado”, evitan-
Catalunha evocou também os resulta- do assim o maior tempo despendido
Já a temática da avaliação da quali- dos da última auditoria realizada. “Es- a introduzir dados manualmente.
dade nos cuidados de AVC catalães
regeu a intervenção das Prof.ªs Sònia
Abilleira e Natalia Pérez de la Ossa, / O que nos ensinam outros registos portugueses
respetivamente ex e atual presidente
do Programa de AVC da Catalunha. O programa da sessão reservou ainda espaço para dar a conhecer as
Sònia Abilleira colocou a tónica so- experiências granjeadas no âmbito do Registo Nacional de Síndro-
bre aquilo que apelidou de “Jornada mes Coronárias Agudas, pela voz da sua coordenadora, Dr.ª Sílvia
do Programa de AVC” nesta comuni- Monteiro, bem como do Registo Oncológico Nacional, através da
dade autónoma ao longo dos anos, preleção da Prof.ª Maria José Bento, responsável pelo Registo Onco-
com base na metodologia PDCA lógico Regional do Norte.
(Plan, Do, Check, Act ou Planear, Fa-
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ESPECIAL 19.ª REUNIÃO ANUAL SPAVC
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ESPECIAL 19.ª REUNIÃO ANUAL SPAVC
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ESPECIAL DIA NACIONAL DO BOMBEIRO PROFISSIONAL
#01 | Bombeiros Voluntários #02 | Bombeiros Voluntários #03 | Bombeiros Voluntários #04 | Bombeiros Voluntários
de Lamego da Praia da Vitória, Açores Câmara de Lobos, Madeira Vila de Rei
#05 | Bombeiros Voluntários #06 | Bombeiros Sapadores #07 | Bombeiros Voluntários #8.1 | Bombeiros Sapadores
de Baião de Setúbal de Leiria de Santarém
#8.2 | Bombeiros Voluntários #9 | Bombeiros Voluntários #10 | Bombeiros Voluntários #11 | Bombeiros Voluntários
de Constância, Santarém da Guarda de Azambuja do Fundão
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ESPECIAL DIA MUNDIAL DO AVC
#MINUTOSSALVAMVIDAS
CAMPANHA PARA MOSTRAR QUE GALERIA DE VÍDEOS
“MINUTOS SALVAM VIDAS” DA CAMPANHA
#MINUTOSSALVAMVIDAS
#1 | Anabela Malva
#2 | Dora Martins
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NOTÍCIAS
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NOTÍCIAS DA CIÊNCIA
A Sociedade Portuguesa do AVC da SPAVC e membro do Júri da Bolsa. de para obter financiamento”, esta
anuncia a abertura de candidatu- Segundo a Prof.ª Patrícia Canhão, Bolsa “é também uma forma de
ras para a Bolsa de Investigação “um dos objetivos da SPAVC é promo- melhorar a participação de insti-
em Doença Vascular Cerebral, no ver a investigação em áreas clínicas tuições portuguesas na investiga-
valor de 5000€, até ao dia 16 de relacionadas com a doença vascular ção da doença vascular cerebral”.
janeiro de 2022. “Concorrer a esta cerebral. Para isso, todos os anos tem “Convido aqueles que estão à es-
Bolsa de investigação é uma exce- atribuído uma Bolsa de Investigação, pera de uma oportunidade para
lente oportunidade para obter fi- destinada a premiar um projeto de iniciar um projeto de investigação,
nanciamento para um projeto que investigação clínica que venha a ser que apresentem as vossas can-
de outra forma será mais difícil de desenvolvido, pelo menos parcial- didaturas”, apela a Prof.ª Patrícia
concretizar”. Quem é o afirma é a mente, em instituições portuguesas”. Canhão.
Prof.ª Doutora Patrícia Canhão, Assim, na perspetiva da especialista,
presidente da Comissão Científica além de uma “excelente oportunida-
O projeto vencedor será anunciado no 16.º Congresso Português do AVC e toda a informação sobre esta
iniciativa pode ser consultada em AQUI.
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NOTÍCIAS DA CIÊNCIA
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ARTIGO DA EDIÇÃO
AVC EM PORTUGAL:
UM COMBATE A NÃO PERDER!
A
té 2035 o crescimento do nú- diretrizes europeias para as dimen- • Implementar legislações e estra-
mero de óbitos por AVC es- sões do rastreio e do tratamento da- tégias nacionais para interven-
tima-se em 45%. A previsão queles fatores. ções de saúde pública multissec-
europeia aponta para 34% e os seus Recentemente, a SAFE e a European toriais que abordem os fatores de
efeitos duradouros aumentarão em Stroke Organisation (ESO), apresen- risco do AVC (tabagismo, açúcar,
25% entre os sobreviventes desses taram, em conjunto, um Plano de Ac- sal, bebidas alcoólicas, poluição
AVC. Os custos totais do AVC irão atin- ção para o AVC na Europa. É um do- ambiental), de modo a promo-
gir os 45 biliões de euros! cumento estratégico que, apelando ver, educar e incentivar estilos de
Sendo o AVC uma emergência médica às mudanças nas políticas públicas vida saudáveis e reduzir os deter-
temível e temida, e ainda a principal da saúde, desafia os decisores polí- minantes ambientais, socioeco-
causa de morte e de incapacidade ticos a enquadrar as prioridades na nómicos e educacionais;
permanente em Portugal, sublinhe- investigação clínica e científica, na • Disponibilizar programas ba-
mos a razão de alarme: a cada hora, prevenção primária, na rede de or- seados na evidência para o ras-
3 portugueses vão sofrendo um AVC, ganização de cuidados em AVC e de treio e tratamento dos fatores
fatal para 1 deles nessa hora. cuidados agudos, na prevenção se- de risco do AVC em todos os
O dramatismo dos dados falam por si cundária, na atempada e adequada países europeus;
e a urgência de, no contexto de Pan- reabilitação, e na avaliação de resul- • Conseguir detetar e controlar a
demia se relativizar tudo quanto não tados e no foco pós-AVC. tensão arterial em 80% das pes-
parece COVID-19, torna-se assustadora Terá passado despercebido, quer soas com hipertensão.
e ignora ou minimiza o impacto conti- por causa das “férias”, quer por cul-
nuado do peso do AVC sobre os recur- pa da COVID-19, mas em finais de O Conselho Europeu criou, em Ju-
sos da saúde e a economia dos países. Agosto transato, Portugal, através da nho de 2021, um instrumento tem-
Pensemos também na demografia Diretora-Geral da Saúde, Dr.ª Graça porário de recuperação global desig-
ligada ao envelhecimento no Velho Freitas, em conjunto com represen- nado de Next Generation EU, no qual
Continente e em Portugal em parti- tantes de outros 55 países, assinou se integra o “famigerado” Plano de
cular. Calcula-se em cerca de 25% o um documento de acordo sobre o Recuperação e Resiliência tão apre-
aumento de indivíduos com idade compromisso da promoção do de- goado em Portugal!
acima de 60 anos na Europa até 2030. senvolvimento e da implementação O financiamento “colossal” tem um
Uma das vozes dos sobreviventes de de políticas públicas integradas, sus- período de execução até 2026. Na
tentáveis e baseadas na evidência verdade, um dos seus previstos in-
para a prevenção e tratamento do vestimentos é nos Cuidados Primá-
A SAFE aponta a AVC na Europa. rios. Serão 466 milhões de euros para
necessidade de esbater Os objetivos para 2030, quanto à pre- melhorar o acesso, a qualidade e a
as diferenças entre os venção primária, que os Cuidados eficiência dos cuidados prestados, a
Primários de Saúde podem e devem potenciação das respostas ditas de
países europeus, quer insistir e sistematizar, são: proximidade e a atenção às popula-
quanto à prevalência, ções de maior risco e vulnerabilidade.
quer quanto à atenção • Alcançar o acesso universal a tra-
tamentos preventivos primários Conviria que o AVC em Portugal
e controlo dos fatores através de uma previsão do risco fosse em definitivo UM COMBATE A
de risco melhorada e mais personalizada; NÃO PERDER!
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REPORTAGEM
A
Unidade Local de Saúde do embora atualmente a fibrinólise tam- AVC no distrito de Bragança, “uma
Nordeste (ULSNE, EPE) tem bém já se realize nas restantes Unida- nova esperança na forma como a
uma área de influência que des Hospitalares do distrito. doença é abordada por uma equipa
coincide com a área geográfica do Fisicamente, “a UAVC tem um es- multidisciplinar de profissionais mo-
distrito de Bragança, com os seus paço próprio e uma equipa de pro- tivados e que gostam do que fazem”.
12 concelhos e uma população de fissionais dedicada”, explica o Dr.
cerca de 123.000 habitantes (dados Jorge Poço, coordenador da UAVC e / Como funciona a Unidade de AVC
preliminares dos censos 2021), con- membro da SPAVC. Além do Serviço
tando com três Unidades Hospitala- de Internamento (constituído por • A UAVC admite doentes com AVC
res (Bragança, Macedo de Cavaleiros 9 camas) e ginásio de reabilitação, agudo/subagudo, de todo o dis-
e Mirandela) e 14 Centros de Saúde. dispõe também de uma consulta ex- trito de Bragança. Como dito an-
A Unidade de AVC (UAVC) da ULSNE foi terna de AVC em funcionamento se- teriormente, embora possam dar
inaugurada a 11 de janeiro de 2005 e manal (onde estão presentes o inter- entrada no Serviço de Urgência
está sediada na Unidade Hospitalar nista, a neurologista, um enfermeiro de outras Unidades Hospitalares,
de Macedo de Cavaleiros. Também da UAVC e ainda uma fisioterapeuta). poderão depois ser encaminhados
neste distrito, a Via Verde para o AVC Sendo a única UAVC do distrito de para aquela UAVC, desde que haja
foi implementada em janeiro de 2009 Bragança, recebe os doentes desta vaga disponível. Para tal, é efetua-
(Serviço de Urgência de Bragança), área geográfica que recorrem a ou- do contacto prévio, para assegurar
tras Unidades Hospitalares (Bragan- a vaga e posterior transferência.
ça e Vila Real, através da Via Verde
para o AVC) ou após Trombectomia • Até início de dezembro de 2021,
A Unidade trouxe para (provenientes essencialmente do todo o internamento do doente
Centro Hospitalar Universitário do com AVC ocorria no seio da UAVC,
os doentes vítimas Porto ou do Centro Hospitalar Uni- não havendo, portanto, trans-
de AVC no distrito versitário de São João do Porto). ferência de doentes para outras
de Bragança, “uma Desde a data de implementação des- enfermarias (Neurologia ou Me-
ta Unidade, o Dr. Jorge Poço aponta dicina Interna). Desde então, os
nova esperança como principal dificuldade sentida doentes, após estarem estabili-
na forma como a “a demora na integração dos doen- zados e efetuada a investigação
doença é abordada tes na Rede Nacional de Cuidados vascular, são transferidos para o
Continuados (RNCCI), dificultando as Serviço de Medicina Interna de
por uma equipa altas do internamento e impedindo, Macedo de Cavaleiros, aguardan-
multidisciplinar portanto, que outros doentes pos- do aí a vaga na RNCCI, mantendo
de profissionais sam ser tratados na UAVC”. Embora a continuidade de cuidados (pela
ainda haja “um longo caminho a per- mesma equipa médica), por for-
motivados e que correr”, admite o médico, a Unidade ma a manter o “fio condutor” no
gostam do que fazem” trouxe para os doentes vítimas de tratamento destes doentes.
stroke.pt 32
REPORTAGEM
“A atuação
da equipa de
Enfermagem
ocorre na fase
aguda e pós-aguda
do AVC, com base
em protocolos
bem definidos”
• Aquando da alta e com o plano o doente no seio familiar e/ou profis- Assim, “os doentes internados na
de reabilitação devidamente pro- sional, o mais rapidamente possível”, Unidade de AVC da Unidade Hos-
gramado, os doentes são referen- afirma a Enf.ª Natália Ledesma, re- pitalar de Macedo de Cavaleiros da
ciados para a Consulta de AVC que ferindo, ainda, que, “por se verificar Unidade Local de Saúde do Nordes-
ocorrerá cerca de 90 dias após o alguma descontinuidade nos cuida- te são todos avaliados pelo fisiatra
evento vascular. Esta Consulta é dos específicos de reabilitação ao e orientados conforme o seu estado
efetuada no Hospital de Macedo fim-de-semana e feriados, o enfer- clínico”. “Se não apresentarem défi-
de Cavaleiros ou no Centro de meiro especialista em Reabilitação ces que a justifiquem, não há lugar a
Saúde de Mogadouro, neste últi- passou a integrar a equipa escalada, intervenção terapêutica. Se a situa-
mo caso, sempre que o número promovendo uma melhoria na quali- ção clínica ainda não está estabili-
de doentes daquela área geográ- dade dos cuidados prestados”. zada ou se o doente não consegue
fica (Freixo de Espada-à-Cinta, colaborar, a intervenção é protela-
Miranda do Douro, Mogadouro e / A relação entre a UAVC e o Serviço da. Mas, na maioria dos casos, e de
Vimioso) assim o justifique, deslo- de Medicina Física e Reabilitação acordo com as deficiências apresen-
cando-se os profissionais àquela tadas, o fisiatra delineia o plano de
instituição (aonde é possível ace- O Dr. Abílio Silveira é o diretor do Ser- reabilitação e os doentes são trata-
der a toda a informação clínica do viço de Medicina Física e Reabilita- dos num ginásio anexo à Unidade
doente), diminuindo assim, signi- ção (SMFR), que funciona em “gran- de AVC, recebendo intervenção de
ficativamente, a necessidade de de cumplicidade” com a Unidade de fisioterapeuta, terapeuta ocupacio-
deslocação para muitos doentes. AVC da Unidade Hospitalar de Mace- nal e terapeuta da fala, conforme as
do de Cavaleiros da ULSNE. Na sua necessidades diagnosticadas”, escla-
/ O Papel da Enfermagem perspetiva, isto “permite que haja rece o Dr. Abílio Silveira.
na Unidade de AVC uma conjugação de esforços entre Porém, o médico destaca como
os dois serviços, que se alicerça na principal questão “o destino a dar
De acordo com a Enf.ª Natália Ledes- necessidade de dar resposta o mais aos doentes e a dificuldade que, fre-
ma, Enfermeira-chefe da UAVC da rapidamente possível às necessida- quentemente, surge para colocar os
Unidade Hospitalar de Macedo de des dos doentes”. doentes nas Unidades de Cuidados
Cavaleiros, “a atuação da equipa de
Enfermagem ocorre na fase aguda
e pós-aguda do AVC, com base em
protocolos bem definidos”, e tendo
“como objetivo primordial o reco-
nhecimento precoce e a prevenção
de complicações, agravamento dos
défices e a reabilitação precoce, tra-
duzindo-se num claro benefício na
recuperação do doente com AVC”.
“Desde a admissão na unidade de
AVC, são identificadas precocemen-
te as necessidades de cada doente/
família para delinear um bom plano
de cuidados, por forma a reintegrar
stroke.pt 33
REPORTAGEM
“A alteração da gestão solicitada a consulta não presencial, da gestão de camas ocorrida em de-
todas as outras foram/são efetuadas zembro de 2021 aumentará a acessi-
de camas ocorrida presencialmente (mas sem a habi- bilidade dos doentes aos cuidados
em dezembro de tual presença do Enfermeiro e da da UAVC, permitindo ganhos em saú-
2021 aumentará a Fisioterapeuta por forma a evitar a de para a população”. Isto porque,
aglomeração de pessoas no gabine- até então, a UAVC apenas tinha capa-
acessibilidade dos te da Consulta). Progressivamente a cidade para tratar cerca de 50% dos
doentes aos cuidados atividade tem regressado à normali- doentes com AVC no distrito de Bra-
da UAVC, permitindo dade e assim esperamos manter”. gança (com cerca de 400 novos casos
Para a Enf.ª Natália Ledesma, a si- por ano). “Tal alteração poderá ter
ganhos em saúde tuação pandémica veio agravar ain- aumentado a carga de trabalho para
para a população” da mais a “dificuldade em envolver alguns profissionais, mas estou con-
a família/cuidador na continuidade victo que quem corre por gosto não
de cuidados” com que a equipa de cansa”, finalizou o Dr. Jorge Poço.
Enfermagem sempre se deparou, já Por sua vez, a Enf.ª Natália Ledesma
Continuados, cronicamente lotadas que a mesma teve um impacto sig- destaca o “longo caminho a percor-
e sem capacidade para integrar em nificativo na proximidade entre os rer”, mas que não desmotiva a equi-
tempo útil os doentes com alta da profissionais de saúde, os utentes e pa no que diz respeito a um objetivo
Unidade de AVC”. “Muitas vezes, os as respetivas famílias/cuidadores. para o futuro: “Pretendemos desen-
doentes veem, por esse motivo, a sua volver um projeto de Enfermagem
estadia prolongada muito para lá do / Para além da UAVC para a continuidade dos cuidados na
que seria razoável”, salienta o diretor alta para o domicílio, que nos permi-
do SMFR, partilhando ainda a sua Os profissionais desta UAVC partici- tirá fazer mais pelos nossos doentes”.
expectativa “de que as Unidades de pam anualmente nas comemorações Para isso, está já “em curso uma reor-
Cuidados Continuados possam vir a do Dia Nacional do Doente com AVC ganização e reestruturação da dinâ-
ser financiadas de modo diferente e (31 de março), bem como em outros mica da unidade que permitirá uma
que funcionem de forma que a rotati- eventos alusivos a esta patologia (Fei- maior acessibilidade dos doentes a
vidade dos doentes aí colocados seja ra da Saúde do Nordeste Transmonta- esta unidade”.
estimulada e se torne a regra”. no e ainda na Feira de S. Pedro de Ma- “Não podemos deixar de realçar e
“A mim, agrada-me o trabalho que cedo de Cavaleiros). O Dr. Jorge Poço reconhecer a importância do papel
desenvolvo nas duas visitas semanais considera a sensibilização da popula- de cada elemento desta equipa mul-
que faço à Unidade de AVC. Os enfer- ção local “uma prioridade” para a mu- tidisciplinar, cada um na sua área de
meiros, os terapeutas e os médicos dança desejada no panorama do AVC atuação, mas com o mesmo e único
têm o conhecimento pleno da fun- que é comum a todo o País. propósito: a melhoria da qualidade
cionalidade anterior dos doentes e, dos cuidados prestados ao doen-
em conjunto, podemos serenamente / Desafios para o Futuro te com AVC”, conclui a Enf.ª Natália
estabelecer o melhor programa de Ledesma, indo ao encontro do que
reabilitação e orientação a dar a cada Quando questionado sobre desafios pensa o Dr. Abílio Silveira: “O traba-
um”, enaltece o Dr. Abílio Silveira. para o futuro, o coordenador desta lho em equipa não é tão difícil como
Unidade acredita que “a alteração parece. E dá frutos”.
/ A chegada da Pandemia
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NOTA FINAL
“Votos de que se
inscrevam em grande
número, não porque
estejamos perante
um concurso, mas
porque desejamos
que as mensagens
cheguem, para bem
dos doentes de AVC,
ao maior número de
profissionais de saúde”
NOTA FINAL
NOTÍCIAS
INSCREVA-SE JÁ!
14h-19h30
15h-19h00
15h-19h00
Coordenado por Dr. Alexandre Amaral e Silva e Prof. João Sargento Freitas
/ Curso MIND
15h-19h00
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AGENDA
2022
PRÓXIMOS EVENTOS
FEVEREIRO ABRIL OUTUBRO
01-04 9th ESO–ESMINT–ESNR 01-02 Lisbon Stroke Summit 02-05 28.º Congresso Nacional
Stroke Winter School [Lisboa] de Medicina Interna - CNMI
[Berna, Suíça] + Mais informações 2022
+ Mais informações [Centro de Congressos do
Algarve]
03-05 16.º Congresso Português + informações
do AVC MAIO
[Porto & Online] 26-29 26-29 14th World Stroke
+ Mais informações 04-06 8th European Stroke Congress
Conference (ESOC) [Singapura]
10-13 16.º Congresso de Hipertensão [Lyon, França] + informações
e Risco Cardiovascular + Mais informações
[Vilamoura & Online] 29 29 Dia Mundial do AVC
+ Mais informações [Mundial]
+ informações
JUNHO
14-15 26ª Jornadas Nacionais
Patient Care
25-28 8th Congress of the
[Lisboa & Online] European Academy NOVEMBRO
+ Mais informações of Neurology (EAN)
[Viena de Áustria & Online] 24-26 23.º Congresso do Núcleo
+ Mais informações de Estudos da Doença
MARÇO Vascular Cerebral da SPMI
[A definir]
01-04 Dia Nacional do Doente + informações
JULHO
com AVC
[Portugal] 03-07 16th World Congress of the
+ Mais informações International Society of
Physical and Rehabilitation
11 1st European Life After Medicine (ISPRM)
Stroke Forum + Mais informações
[A definir]
+ Mais informações
SETEMBRO
25-27 27.º Congresso Português
de Cardiopenumologia 05-09 25th ESO Stroke Summer
[A definir] School
+ Mais informações [Birmingham, Inglaterra]
+ Mais informações
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