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À Companhia Paulista de Força e Luz

Ref.: Comunicado n. 0073397435


Nº Cliente: 60008822
Código: 0015938670

Assunto: Comunicação de Consumo Irregular - TOI

1. DA OCORRÊNCIA

A notificação recebida pelo Serviço de Neufrologia de Ribeirão Preto


LTDA refere-se a um Termo de Ocorrência de Inspeção (TOI) emitido pela CPFL após uma
inspeção realizada em sua instalação em 18 de julho de 2023. Na notificação, a CPFL alega
que foram identificadas as seguintes irregularidades na medição de energia elétrica na
instalação da empresa:

1. Desvio de energia dentro do Centro de Medição (Código 312).


2. Medição de kWh adulterado/manipulado por mecanismos internos (Código
328).
3. Medição de energia ativa com disco travado (Código 322).

De acordo com a CPFL, essas irregularidades resultaram na medição de


valores de consumo de energia elétrica mais baixos do que os valores reais, levando a um
suposto não pagamento da energia elétrica consumida. A notificação informa que a
empresa deve pagar os valores especificados na planilha para compensar as diferenças
faturadas a menos até a data da emissão do TOI, quando a medição foi regularizada.

Meses Julho Junho Maio


Kwh registrado 632 Kwh 631 Kwh 1142 Kwh
Kwh apurado 1649 Kwh 1495 Kwh 1649 Kwh
Kwh Diferença 1018 Kwh 864 Kwh 508 Kwh
Valores R$ 896,70 R$ 761,33 R$ 447,45
Abaixo consta um resumo das irregularidades alegadas, veja-se:
Outrossim, conforme documentação anexa e com a finalidade de
corroborar a defesa, abaixo consta uma planilha que demonstra os Kwh consumidos
neste ano, veja-se:

Meses de Kwh consumidos


faturamento
Janeiro 833 Kwh
Fevereiro 1088 Kwh
Março 1553 Kwh
Abril 1460 Kwh
Maio 1142 Kwh
Junho 631 Kwh
Julho 632 Kwh
Agosto 1102 Kwh
Setembro 1278 Kwh

Em virtude disso, apresenta-se o presente recurso administrativo,


argumentando as questões de fato e de direito pelas quais TOI deve ser considerada
ilegal.

2. DA REALIDADE FÁTICA-JURÍDICA

 DO NÚMERO DO MEDIDOR ERRADO. DA POSSIBILIDADE DE TER-SE APURADO IRREGULARIDADE

NA RESIDÊNCIA ERRADA.

Através da documentação anexa, comprova-se que houve erro ou


confusão na inspeção realizada pela CPFL. O paralelo a seguir, entre os números dos
medidores e as informações da conta de energia, é crucial para corroborar a ilegalidade
do TOI, veja-se:
 TOI encaminhado pela CPFL que demonstra que o medidor apurado foi o n. 31504213

 O número do medidor constante da conta de energia da clínica que recebeu o TOI é 31242382

A discrepância entre o número de medidor indicado no TOI (31504213)


e o número constante na conta de energia da clínica (31242382) suscita incertezas quanto
à precisão e legalidade da inspeção realizada pela CPFL.

Isso confirma que ocorreu uma troca acidental de números ou uma


confusão na identificação da instalação durante a inspeção, consequentemente, os
argumentos fundamentados nas supostas irregularidades identificadas no TOI não são
pertinentes à instalação do Serviço de Neufrologia de Ribeirão Preto LTDA, mas,
possivelmente, a uma instalação vizinha.

Esse cenário realça a importância de uma revisão e correção por parte


da CPFL e sublinha a necessidade de garantir que as notificações sejam precisas e estejam
baseadas em informações corretas.
 DO MEDIDOR DIGITAL E DA IMPOSSIBILIDADE DO DISCO ESTAR TRAVADO

Perpassada a argumentação acima, é imperioso também apontar a


impossibilidade de irregularidades na medição de energia elétrica na instalação da
empresa, sob a modalidade de “Medição de energia ativa com disco travado (Código
322)”, o que corrobora o argumento de que ocorreu uma troca acidental de números ou
uma confusão na identificação da instalação.

A diferença fundamental entre um medidor digital e os medidores mais


antigos do tipo eletromecânico (que poderiam gerar um disco travado) é que o último
gera um campo magnético por meio do giro de um disco de metal, enquanto os modelos
eletrônicos funcionam de maneira digital, permitindo a leitura do consumo elétrico de
forma eletrônica.

No presente caso, conforme prova o documento em anexo, o imóvel


possui um medidor digital, vejamos:
 Foto do medidor digital retirada da clínica notificada.

O medidor digital em questão é completamente diferente de um


medidor com disco, e a notificação da CPFL baseia-se em um erro fundamental. É crucial
entender que a medição de energia em medidores digitais é feita de maneira
completamente diferente da dos medidores com disco. O fato de o medidor ser digital
elimina a possibilidade de "disco travado" como uma fonte de fraude. A alegação da
CPFL é, portanto, infundada.

Portanto, por mais esse motivo é possível detectar e declarar


administrativamente a ilegalidade do TOI.

 IMPOSSIBILIDADE DE MANIPULAÇÃO DE MEDIDOR EM PAREDE DE TIJOLOS À VISTA

Além dos argumentos e provas mencionados anteriormente, é


importante ressaltar que o local onde o medidor está instalado é uma parede de tijolos à
vista, o que torna impossível qualquer manipulação ou desvio, devido à inviabilidade
física de intervenção direta no medidor elétrico, como pode ser visto na foto do local
indicado:
 NÃO USO DO AR CONDICIONADO NOS MESES DA ALEGADA FRAUDE

Ad argumentandum tantum, mesmo que fossem desconsideradas as


provas acima alinhavadas sobre a impossibilidade de irregularidades na medição de
energia elétrica na instalação da empresa, imperioso destacar que a mera análise do
histórico de consumo da unidade consumidora é insuficiente para comprovar a suposta
fraude e a cobrança imposta pela CPFL.
Ora, é fácil e sintomático saber que, por vivermos no oeste paulista,
região de sol escaldante, no verão se consome mais energia que nos meses de inverno,
por conta da utilização de aparelhos de ar condicionado. Em consulta do relatório com
histórico de temperatura em Ribeirão Preto em 2023, constata-se que em maio, junho e
julho foram os meses de menor temperatura na cidade, veja-se:

 https://pt.weatherspark.com/h/y/30208/2023/Condi%C3%A7%C3%B5es-meteorol%C3%B3gicas-
hist%C3%B3ricas-durante-2023-em-Ribeir%C3%A3o-Preto-Brasil#Figures-Summary

A mera redução no consumo nos meses de maio, junho e julho, e o


aumento após agosto, não são provas suficientes de fraude, já que a variação no
consumo poderia ter sido causada por vários fatores diferentes, e não necessariamente
por manipulação ilícita do sistema de medição.

Ora, a não utilização do ar condicionado nos meses em que a CPFL alega


a fraude no medidor é uma razão substancial para a diminuição no consumo de kWh. É
importante enfatizar que os fatores que afetam o consumo de energia variam e incluem a
utilização de aparelhos elétricos. Portanto, a baixa no consumo pode ser explicada de
forma lícita.

Conclui-se que a análise do histórico de consumo não é suficiente para


quantificar e afirmar que o aumento na conta de energia nos três meses decorreu de
“desvio de energia dentro do Centro de Medição”, “medição de kWh
adulterado/manipulado por mecanismos internos” ou “medição de energia ativa com
disco travado”, principalmente no presente caso em que os meses apurados são aqueles
de inverno em que não é necessário ligar o ar condicionado das salas do imóvel da
empresa de Serviço de Neufrologia de Ribeirão Preto LTDA.

 DO NÃO ACOMPANHAMENTO DURANTE A INSPEÇÃO

Além disso, é importante ressaltar que a operação que resultou na


emissão do Termo de Ocorrência de Irregularidade (TOI) não foi devidamente
acompanhada por nenhum funcionário da Senerp, e a empresa não teve a oportunidade
de verificar o que foi feito nem de se manifestar sobre a inspeção.

A ausência de um acompanhamento adequado pela Senerp durante a


inspeção levanta questões sobre a validade do processo de notificação. O direito ao
devido processo legal exige que o consumidor tenha a oportunidade de acompanhar e
contestar qualquer inspeção que possa resultar em uma notificação de irregularidade.

A propósito, a Resolução Normativa nº 414/2010 da ANEEL estabelece


diversas outras providências adicionais para a fiel caracterização de eventual
irregularidade no medidor, além da emissão do TOI. Dispõem os §§ 5º a 7º do art. 129 de
referido normativo:

“Art. 129. Na ocorrência de indício de procedimento irregular, a distribuidora


deve adotar as providências necessárias para sua fiel caracterização e
apuração do consumo não faturado ou faturado a menor. (...) § 5° Nos casos
em que houver a necessidade de retirada do medidor ou demais
equipamentos de medição, a distribuidora deve acondicioná-los em invólucro
específico, a ser lacrado no ato da retirada, mediante entrega de comprovante
desse procedimento ao consumidor ou àquele que acompanhar a inspeção, e
encaminhálos por meio de transporte adequado para realização da avaliação
técnica. § 6° A avaliação técnica dos equipamentos de medição pode ser
realizada pela Rede de Laboratórios Acreditados ou pelo laboratório da
distribuidora, desde que com pessoal tecnicamente habilitado e equipamentos
calibrados conforme padrões do órgão metrológico, devendo o processo ter
certificação na norma ABNT NBR ISO 9001, preservado o direito de o
consumidor requerer a perícia técnica de que trata o inciso II do § 1º. § 7° Na
hipótese do § 6º, a distribuidora deve comunicar ao consumidor, por escrito,
mediante comprovação, com pelo menos 10 (dez) dias de antecedência, o
local, data e hora da realização da avaliação técnica, para que ele possa, caso
deseje, acompanhá-la pessoalmente ou por meio de representante nomeado.”

O art. 77 da citada Resolução Normativa 414/2010 determina seja


obedecida a legislação metrológica quando da verificação dos medidores de energia
elétrica. Entretanto, não há qualquer comprovação de que o TOI, produzido
unilateralmente pela companhia de distribuição, tenha obedecido aos critérios
estabelecidos na referida legislação, havendo ainda patente violação ao contraditório
pela falta de preservação do medidor.

Ademais, consoante Súmula nº 16 da Aneel, “no âmbito da cobrança da


diferença de consumo por procedimento irregular estabelecida no art. 129 da Resolução
Normativa nº 414, de 9 de setembro de 2010, sendo necessária a elaboração de relatório
de avaliação técnica, a ausência da comprovação da comunicação ao consumidor,
conforme disposto no § 7º do referido artigo, enseja o cancelamento da cobrança”.

Além disso, a falta de qualquer documento formal assinado por um


profissional que indique que a perícia constatou uma ligação clandestina ou desvio
levanta sérias dúvidas sobre a existência de fraude.

É responsabilidade da concessionária de energia apresentar todas as


provas relacionadas à ocorrência de irregularidades na medição de energia e comprovar a
exigibilidade de qualquer débito. Isso é fundamental para evitar a caracterização de
tentativa de enriquecimento sem causa, sobre o tema, é importante trazer como o TJSP
vem se manifestando:

APELAÇÃO CÍVEL. PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. FORNECIMENTO DE ENERGIA


ELÉTRICA. AÇÃO DECLARATÓRIA DE DESCONSTITUIÇÃO DE DÍVIDA C. C.
INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. Pleito da apelada para fixação de
indenização por dano moral, deduzido em sede de contrarrazões, que não
admite conhecimento. Inspeção na unidade consumidora que gerou a
lavratura de TOI e a substituição do equipamento de medição. Fraude no
consumo não comprovada por meio de perícia ou eventual degrau de
consumo. Ônus da prova não superado pela concessionária do serviço público.
Dicção do art. 373, II, do Código de Processo Civil. Declaração de
inexigibilidade do débito, mantida. Recurso desprovido. (TJSP; Apelação Cível
1008897-68.2022.8.26.0506; Relator (a): Dimas Rubens Fonseca; Órgão
Julgador: 28ª Câmara de Direito Privado; Foro de Ribeirão Preto - 5ª Vara Cível;
Data do Julgamento: 17/10/2023; Data de Registro: 17/10/2023)

APELAÇÃO. FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA. Ação de declaração de


inexigibilidade do débito. Cobrança adicional com base no TOI. Sentença de
procedência do pedido. Apelo da ré. Relação de consumo. Código de Defesa do
Consumidor. Inversão do ônus da prova que é cabível diante da
verossimilhança das alegações dos consumidores. Hipótese em que não ficou
constatado degrau de consumo de energia elétrica após a substituição do
relógio medidor supostamente adulterado. Existência de prática ilícita por
parte da ré. Ausência de provas de que os consumidores se beneficiaram de
energia elétrica pagando valor a menor. Dívida inexigível. Sentença mantida.
RECURSO NÃO PROVIDO. (TJSP; Apelação Cível 1004568-45.2022.8.26.0269;
Relator (a): Carmen Lucia da Silva; Órgão Julgador: 25ª Câmara de Direito
Privado; Foro de Itapetininga - 4ª Vara Cível; Data do Julgamento: 17/08/2023;
Data de Registro: 17/10/2023)

Corroborando a acrescendo mais este motivo, deve-se declarar


administrativamente a ilegalidade do TOI.

 DA COBRANÇA DE VALORES POR ESTIMATIVA

Ad argumentandum tantum, caso se considere legal a cobrança


administrativa, o que não se espera, deve ser reconhecida a impossibilidade de cobrança
realizada por estimativa. Conforme depreende-se dos parâmetros de cálculos para
cobrança ora impugnada, verifica-se que não foi realizada medição fiscalizadora e
afirmou-se que seria desnecessário a realização de laudo técnico, veja-se
A concessionária deve verificar mensalmente quaisquer irregularidades
e variações nos valores para restabelecer a normalidade imediatamente. Além disso, a
cobrança por estimativa não pode ser realizada sem comprovação.

Imperioso destacar que a CPFL é a responsável pela manutenção da


regularidade da prestação dos serviços, bem como da contraprestação pecuniária no
valor devido e na época correta do vencimento.

Não pode a concessionária a qualquer momento alegar suposta


irregularidade e cobrar por todo o período em que, segundo seu entendimento, houve
fraude. Ainda mais se esta não foi devidamente comprovada por meios idôneos.

Possui esta empresa a obrigação de, mensalmente, verificar a possível


irregularidade quanto à variação de valores, se existirem, para, imediatamente,
restabelecer a normalidade. Indubitável de que tal fato não ocorreu. Não foi
demonstrado o desvio e não foi apurado o valor real da suposta diferença de pagamento.

3. DOS PEDIDOS
Solicita-se a realização de perícia pelo IPEN (Instituto de Pesquisas
Energéticas e Nucleares) e de acordo com de acordo com o artigo 129, II da Resolução
414/2010 da ANEEL.
Não havendo fundamento para o cálculo de diferenças de consumo, daí
decorre a necessária declaração de inexigibilidade do débito, e a determinação de
manutenção do fornecimento, bem assim o dever de abstenção de qualquer suspensão
no fornecimento decorrente desse débito pretérito aqui declarado inexistente

Por todo o exposto, requer-se a anulação do ato administrativo, com imediato


cancelamento do TOI n. 0073397435 e valores cobrados.

Nestes termos, pede deferimento.


23 de outubro de 2023.

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