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Atividade pontuada Tópicos Integradores III

O que considerar ao elaborar um relato sobre um atendimento?

a) Qual é o objetivo do relato?

É um relato profissional pessoal, que não será compartilhado? O registro pode ser mais livre e
abrir espaço para inferências, hipóteses e reflexões, também podendo ser mais extenso. No
caso de registros que serão compartilhados, há de se considerar a objetividade, clareza e
linguagem técnica, atentando-se para documentar apenas as informações necessárias e
salvaguardando o sigilo profissional.

b) O que relatar?

Elementos chave que tragam uma caracterização da demanda da pessoa em atendimento, bem
como aspectos relativos ao seu contexto de vida e as diferentes relações e atividades que se
estabelecem nele. Insights provenientes do raciocínio clínico devem ser registrados, mas é
importante construir os fundamentos de uma postura de trabalho que diferencie suas
inferências e hipóteses do que é trazido de forma concreta pela pessoa em atendimento.

No caso de registros compartilhados com outros profissionais, restringe-se a abordar


informações que sejam necessárias, evitando detalhes, inferências, dados pessoais, mas sim
enfocando nas informações que se relacionem com a demanda alvo da intervenção
interdisciplinar.

c) Como organizar?

Existem diversos modelos e formatos de relatar. Podemos construir o nosso ou adotar um que
atenda às nossas necessidades como profissionais. O importante é que haja uma organização
do relato, pois é a escrita que também organiza a nossa intervenção e raciocínio clínico. Ao
escrever, eu elaboro novamente as reflexões que fiz no momento do atendimento. Por
distanciar-me, enxergo por horizontes mais ampliados e exercito a aproximação com as
informações relatadas. O fundamento teórico da sua atuação também orientará a organização
desse relato bem como o conteúdo e linguagem técnica utilizada, embasando igualmente as
inferências e hipóteses clínicas.
Registro pessoal da sessão

Ficha de dados pessoais

Demanda:

prescrição de remédio (Ambien) para dormir

Observações da sessão:

É o primeiro atendimento. P. chega ao espaço usando o telefone, conversando sobre estar


prestes a ir no supermercado. Sua expressão é de surpresa ao me ver, entrando logo em
seguida na sala. Apresenta sua demanda desde o princípio e é insistente ao falar dela, sendo
resistente ao diálogo. Demonstra dar importância a idade que aparento ter. Relata um
pesadelo que tem se relacionado com os problemas para dormir, mas não conversa sobre o
conteúdo do sonho, apenas refere que já compreendeu o que ele significa, pois é relacionado a
um possível diagnóstico de Parkinson. Aponta que o efeito do remédio tem diminuído após uso
contínuo. Tem um histórico de acompanhamento psicoterapêutico por uma profissional
chamada Gina, que foi sua psicóloga, também supervisora, professora e chegou a atender ele e
sua ex esposa, de quem se separou e com quem tem dois filhos que moram com ela e o
padrasto. P. atualmente se relaciona com uma mulher mais jovem e se mudou há pouco tempo
para Nova Iorque. Demonstrou irritação ao ser questionado sobre esse processo de
acompanhamento, o que aponta para o fato de que existem outros elementos presentes na
relação com Gina, de quem ele diz sentir certo rancor, sentindo-se preso. Também relata o
mesmo ao falar do trabalho como psicólogo, trazendo que por vezes não sente que pode
ajudar, sentindo-se imobilizado. Das pessoas que citou, nota-se que não há um vínculo de
amizade, o que aponta para um cenário escasso de relações interpessoais. Não apresenta
interesse em dar continuidade ao processo, apenas busca a prescrição de Ambien. Tento
enfatizar a abertura para recebe-lo novamente e questiono porque o sonho continua
acontecendo.

Observações profissionais:

Momento de fortalecer o vínculo terapêutico, buscado a continuidade do trabalho, abrindo


espaço para melhor compreensão das alterações no sono e explorando a relação com o
pesadelo relatado. Enfatizar a identificação de pontos de fortalecimento e enfraquecimento na
sua rede de relações afetiva. Analisar a sua compreensão sobre o sentido do trabalho como
psicólogo, trazendo para reflexão a relação com Gina e sua própria relação com esse processo
terapêutico vivenciado. Discutir a questão do possível diagnóstico de Parkinson, visando
compreender melhor a dinâmica familiar (ele refere morte do pai, suicídio da mãe, etc).
Registro compartilhado do acompanhamento

Ficha de dados pessoais

Evolução:

P. apresenta como demanda a renovação da receita do remédio que toma para dormir,
relatando insônia nos últimos meses. Os aspectos relacionados à essa insônia experienciada
estão sendo discutidos no processo de acompanhamento terapêutico, explorando as dinâmicas
das relações interpessoais que ele estabelece, o sentido do seu trabalho e vivências ligadas ao
momento do desenvolvimento humano que ele vive. Encontra-se em acolhimento da demanda
trazida, trabalhando o estabelecimento e fortalecimento do vínculo terapêutico, com vistas à
maior compreensão do seu contexto de vida e situação social de desenvolvimento.

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