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2. Proporcionar informação.
Interrogar
Ao pedir detalhes precisos sobre cada situação pode-se transmitir, além do mais, um
respeito do terapeuta pelo caráter estritamente singular da experiência do paciente, isto é,
uma atitude não esquemática, que não sofre a tentação das generalizações fáceis. É também
uma maneira de indagar sobre a perspectiva em que o paciente coloca sua situação: cada
resposta às perguntas do terapeuta 'contém elementos (de conteúdo e forma) reveladores de
uma mundo visão pessoal, completamente singular, da situação.
P: "Um valor duvidoso, porque ela lhe telefonou quando já não nos podíamos
encontrar. De qualquer modo, gostei, não é?"
T: "Como foi que o senhor lhe transmitiu seu interesse por ela?"
P: "Eu lhe disse: 'Que azar você não me ter encontrado ontem! Poderíamos ter
marcado um encontro'."
T: "Para o senhor, isso dela, já que foi dito assim tão em cima da hora de partir, não
expressava um compromisso profundo?"
P: "Claro, acho que para um compromisso maior não se espera dois meses para o
momento de se despedir. Essas coisas me dão raiva."
T: "Segundo o senhor havia comentado, ela em geral não é de expressar seu interesse
pelos demais; espera que se interessem por ela. Sendo assim, o fato de ela lhe
telefonar não tinha um valor especial?"
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P: "Sim, encarado do ponto de vista de como ela é em geral, pode-se dizer que me
estava dando uma bola bárbara, mas acontece que para o meu gosto o modo de agir
tem que ser diferente, nada de rodeios."
P: "Disse para ela: 'Olhe, gostei de me ter telefonado, mas espero que quando voltar
não esteja tão ocupada, ouviu? Tchau'." Como se pode ver, estas respostas revelam
um estilo, o funcionamento egóico do paciente para avaliar a situação interpessoal,
suas exigências dentro de uma ótica narcisista, a contribuição do paciente com suas
mensagens para uma situação evitativa, embora arriscando algumas demonstrações
de interesse pessoal pela outra pessoa. Perguntar aqui, e em detalhe, permite então
que se obtenha grande quantidade de informação, de níveis mais amplos que os de
uma mera ampliação "de detalhe" do conteúdo manifesto de um relato. As
experiências sobre a utilidade de uma indagação minuciosa são abundantes. Assim
sendo, é possível que "perguntar muito" seja uma das primeiras regras de uma técnica
psicoterapêutica eficiente.
- "Imagine por um momento esse dialogo: ao contrario de que a senhora acreditava, ele se
decide se casar chega e lhe diz de surpresa, decidi: vamos casar no fim do ano!' Que resposta
lhe da?”
- "Vejamos: vem seu pai e lhe diz: “não vou lhe dar agora o dinheiro que te cabe, porque
preciso dele para um negocio urgente. Como o senhor lhe responderia para que ele confirme
uma vez mais que não tem por que pedir-lhe permissão para usar seu dinheiro?”
Informar
O terapeuta é não apenas um investigador do comportamento, mas também o veículo
de uma cultura humanista e psicológica.Sob este aspecto, o terapeuta cumpre uma função
cultural: é docente, dentro de uma perspectiva mais profunda e abrangente de certos fatos
humanos. Esta perspectiva é também alimentada com informação, já que o déficit de
informação .é um componente às vezes tão importante para a obscuridade e a falsa
consciência de uma situação corno os escotomas criados pelos mecanismos repressivos
individuais.
global frente à "bibliografia", é sumamente rica para esclarecer conflitos de toda índole
(conflitos com o tema, com o saber, com o autor, com o terapeuta). Proporcionar ou facilitar
esta informação geral que enquadra a problemática do paciente desempenha um papel
terapêutico específico: cria uma perspectiva dentro da qual os problemas do paciente, com
toda a sua singularidade, deixam de ser vistos corno algo estritamente individual que "só a ele"
acontece. A falta deste quadro de referência cultural favorece, inversamente, a sensação de
ser o único com tais problemas, isto é,' uma perspectiva ditada pelo superego (acusador, às
vezes, também, a partir de seu complementar ideal do ego narcisista onipotente). Ao
entrevistar famílias, por exemplo, verifiquei que é importante incluir referências sobre as
dificuldades gerais que a família, enquanto instituição enfrenta socialmente. Encaradas dentro
desse quadro de referência, todas as dificuldades particulares do grupo tornam-se logo
passíveis de abordagem, sem o clima persecutório que é criado forçosamente pelo fato de
alguém ficar meramente ocupado vendo "o que acontece com este grupo que vai mal" (com a
suposição tácita de que todas as demais famílias funcionam bem, donde se conclui que os
problemas desta decorrerão exclusivamente dos defeitos de seus indivíduos).
Retificações
- "A senhora destaca como seu marido estava mal-humorado, que se mostrou pouco receptivo
para o que a senhora lhe queria transmitir; mas não menciona como a senhora se encontrava
nesses momentos, como se aproximou dele, transmitindo o quê, e bem como se encontrava
antes, no momento de sair."
- "Veja, não creio que somente tivesse sentido medo de se aproximar e medo de que a relação
amorosa não fosse sair tão perfeita como da vez anterior: porque havia dados demonstrativos
de que os dois continuavam bastante ligados. Acho que sentia medo também de Ir tão rápido,
em três dias, de tanta entrega' de um para com o outro."
- "O senhor parte da idéia básica de que uma conquista, como foi esta promoção, tem que
deixá-lo muito contente, porque era o que o senhor desejava; não resta dúvida, mas, por outro
lado, essa conquista significa mudanças, deixar o que já tinha como pr6prio; indica também
que o tempo passa e que o senhor já não 6 mais uma criança,"
Confirmações
- "A senhora pensou que algo no seu comportamento desse dia havia Influído para que ele se
fechasse; e 6 muito provável, porque quase sempre as situações de incomunicação no casal se
criam, sutílmente, pela ação recíproca de ambos. Parece-me importante que a senhora tenha
podido detectar também o seu lado do problema, porque alertada para esta possibilidade,
,talvez' consiga ir observando com maior sutileza como é que os dois procedem para criar
estes poços de incomunicação."
- "Acho que a senhora também percebeu que lhe dava medo continuar a 'envolver-se' quando
disse a ele que também tinha muita vontade de vê-lo logo, depois desligou o telefone, sentiu
uma aflição no estômago e reparou que estava tensa. Acho que vai se conhecendo melhor
Desse medo que não julgava ter quanto às relações do casal."
- "Sim, certamente, além de deixá-lo feliz, esta mudança contribuiu para os sentimentos de
pesar que o invadiram na mesma hora em que recebeu a notícia. Estou de acordo com o
senhor: até o fato de ganhar uma fortuna pode obrigar à perda de certas coisas, e trazer com
isso, paradoxalmente, uma certa tristeza."
_ "Nestes dias todos, durante a viagem, havia um clima de paz; de repente. sem que o senhor
saiba como, todo esse clima se desfez e voltaram a surgir desconfianças e censuras."
_ "O senhor fala agora não apenas de um problema afetivo dentro da relação de casal, mas de
uma dúvida sua, mais geral, sobre o que o senhor pode dar de si também em outros planos,
com seus amigos, no trabalho."
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Estas intervenções vão preparando o campo para uma penetração nos aspectos
psicologicamente mais ricos e compreensíveis, o que se fará por meio de assinalamentos e
interpretações. Ao mesmo tempo, "ensinam" um 1Dodo de perceber a própria experiência: o
paciente aprende com elas a observar seletivamente, a percorrer a massa dos acontecimentos
e de suas vivências e a fixar pontos marcantes, incorporando, assim, um método que faz
chegar à autocompreensão pela discriminação. Em pacientes com funções egóicas
enfraquecidas, concomitantemente afetadas por uma delimitação precária do ego (ou seja,
tendências ao sincretismo e à confusão), as clarificações desempenham, durante grande parte
do processo terapêutico, o papel de instrumentos primordiais, na medida em que assentam as
premissas para que em algum momento outras intervenções, de tipo interpretativo, por
exemplo, possam ser ativamente elaboradas.
Recapitulações
- "Hoje, então, surge em primeiro lugar a circunstância de como o senhor sempre sofreu,
passivamente, o domínio de sua mãe, não se animou a explodir nunca, e isso deixou também
no senhor um ressentimento enorme consigo mesmo. Depois aparece esse seu modo de estar
alerta frente a qualquer propósito de dominação por parte de sua esposa, algo que o torna
muito suscetível. E agora isto de o senhor não se dedicar a si próprio, não se cuidar, não se
interessar por sua roupa, nem reclamar o cargo que lhe cabe, como se odiasse. Preste atenção
nestes três elementos que aparecem hoje porque deve haver entre eles muitas ligações que
abarcam sua família, seu casamento e seu trabalho."
- "Nos últimos três meses o senhor se havia concentrado no problema que vinha tendo com os
estudos. Enquanto isso, a situação sentimental ficava relegada a um segundo plano, como para
não remoer tanta coisa ao mesmo tempo."
- "Agora, aclarado o problema vocacional, 'está na vez' dos sentimentos e o senhor nestes
últimos dias não faz outra coisa senão pensar na sua situação sentimental - " o faz com ênfase
excessiva, provocada pela espera."
E em outro tratamento:
- "Até agora, a maior parte do esforço que a senhora fez no tratamento foi para começar a
diferenciar quem era a senhora e quem era a sua família (mamãe, papai, irmão) e dar-se conta
de que não eram uma só pessoa, nem um corpo único. Só agora entra no trabalho de começar
a ver, a descobrir o que a senhora pode fazer consigo mesma, o que pode sair da senhora que
não venha deles, e sente-se confusa porque está muito no início desta etapa."
proveitoso. Surgiu por proposta do paciente, depois de haver notado que s6 conseguia pensar
a partir dessas recapitulações. No meu entender, estas intervenções ofereciam um suporte
provisório no qual se apoiavam, para exercitar-se, seus recursos egóicos (percepção, reflexão,
descobrimento de relações).
Assinalamentos
- "O senhor chega, encontra-a distante, de mau humor, o senhor se mostra carinhoso, quer o
carinho dela. Daí a pouco o mau humor passa, ela se aproxima e então o senhor a ataca. Que
lhe parece este vaivém, como o senhor o interpretaria?"
- "Começou falando de seu fracasso de ontem na assembléia. De repente, cortou o que estava
dizendo para lembrar-se de que obteve a nota mais alta de sua comissão. Como encara esta
mudança de tema?"
"O que parece haver acontecido é que, naquele momento, quando seu pai se viu
diante da empresa arruinada e se sentiu deprimido, o senhor se achou na obrigação de adiar
todos os projetos pessoais e socorrê- lo; mas não registrou isso como uma decisão própria, e
sim como imposição dele."
"O senhor se viu, de repente, ante a obrigação de decidir o que fazer com esse
emprego. Seu pai estava ausente e não podia ser consultado, de modo que o senhor pôde, não
só decidir, mas dar sua opinião sobre em que condições essa tarefa deveria ser cumprida. Veja
só tudo o ..... o senhor não sabia (não queria crer) que podia fazer por iniciativa própria."
"Desta vez seu pai acedeu. Pensemos se não terá sido porque o senhor colocou seu
problema de outra maneira, com uma atitude mais firme, talvez mais adulta. que ele o
atendeu com um respeito diferente.Com sua atitude, o senhor lhe estava dizendo ‘não vou
aceitar que me trate como uma criança, porque já não me sinto uma criança’, e
evidentemente ele notou a mudança.”
"Como reagiria seu namorado se a senhora lhe mostrasse que é capaz de resolver um
assunto pessoal sem consultá-lo? Continuaria com a mesma atitude dominante? Só vendo...”
Em contraste com a técnica psicanalítica, onde um determinado tipo de interpretação
(transferencial) é privilegiado como agente de modificação (2).nas psico terapias, uma vez que
se trabalha simultânea ou alternativamente com vários níveis e mecanismos de modificação,
não existe uma hierarquia para os tipos de interpretação: todos eles são instrumentos
igualmente essenciais dentro do processo. Cada paciente e cada momento de seu processo
requererão particularmente certo tipo de interpretação; esse será o que melhor se ajuste
tecnicamente ao momento dado, mas toda distinção hierárquica que se atribua a algum tipo
de interpretação será transitória, conjuntural.
Sugestões
"Seria interessante ver o que acontece. como seu pai reagiria, se o senhor lhe
mostrasse em sua atitude que está realmente disposto a encarar a fundo com ele tudo o que
está pendente entre ambos."
- "Em vez de precipitar-se a tomar uma decisão que sinta como sua de fato, talvez lhe
convenha mais deter-se algum tempo em rever o que aconteceu verificar qual foi o seu papel
em tudo isto, e, inclusive, detectar melhor o que está sentindo intimamente."
- "Que teria acontecido se nessa hora a senhora o interrompesse e dissesse: 'Escute aqui, não
me venha com indiretas, o que é que você está querendo me dizer com tudo isto, afinal o que
é que você sente por mim?'"
Ou então:
- "E se a senhora telefonasse para ele e dissesse: 'Tudo o que você me falou ontem me pareceu
meio estudado e ficou meio no ar. Quero isto mais definido', como acha que ele reagiria?"
comentados em um discurso de "idéias", e' sim mostrados graças a uma linguagem de ação,
Contêm uma compreensão que fica muito próxima tanto do que foi vivido como do que pode
vir sê-lo. Um paciente experimentou assim essa proximidade:
- "Outro dia estava envolvido numa discussão com minha mulher e naquele momento me
lembrei de algo que o senhor me havia dito numa sessão passada: 'E o que aconteceria se,
quando ela ficasse violenta, o senhor a freasse?' Fiz isso na mesma hora... e não aconteceu
nada!"
- "Suspenda toda decisão imediata sobre o problema de seu casamento. O senhor agora não se
encontra em condições de enfrentar mais uma mudança."
- "Se surgir uma oportunidade de o senhor falar a sós com seu pai, tente fazê-lo; ainda que não
consiga dizer tudo o que gostaria de colocar diante dele, veja até onde consegue chegar, de
que modo o consegue e qual a reação dele."
- "Até nossa próxima entrevista, procure observar atentamente, na relação com sua esposa,
quantas vezes e em que momentos o senhor tende a se mostrar violento e exigente."
- "Para que o senhor perceba melhor qual é a sua dificuldade no diálogo comigo, traga o
gravador; assim, depois o senhor ouvirá tudo sozinho em casa e examinaremos o fato juntos
nas sessões seguintes."
entanto, leva em conta e mesmo confere tratamento privilegiado ao plano das experiências
concretas e das conseqüências concretas que decorrem dessas experiências: considera-se
importante, por exemplo, que a decisão precipitada de consumar um divórcio, quando não há
condições para que ele seja tolerado satisfatoriamente, possa ser adiada.
Este plano de existência é importante, mas não é o único em jogo quando são emitidas
diretivas. Outro é o das aprendizagens. É possível pensar que o que se produz ou se evita nessa
oportunidade deixa "um saldo interno", incorpora- se como experiência transferível para
outros contextos. A experiência clínica repetidamente dá mostras disso.
Outro nível de atuação está no insight que se pode obter depois da ação. Fazer ou não
fazer algo que se resultava “natural" transforma-se em uma experiência original. Uma analise
do sentido de uma atitude anterior ou da nova (induzida), sua comparação 'minuciosa, servem
de ocasião para uma elaboração freqüentemente rica. A experiência clínica mostro fartamente
que, em psicoterapias, diretividade e insight não são em princípio antagônicos. Muitas vezes,
pelo contrário, funcionam como complementares. As dificuldades que o paciente teve para
trazer seu gravador e em seguida escutar sua sessão foram claramente ilustrativas. Tiveram o
valor do vivido, do ato, submetido às condições de uma observação particularmente atenta.
Jay Haley (3) forneceu ilustrações sobre o uso de um tipo particular de intervenções
diretivas cujo propósito consiste em produzir "manobras comunícacionais" (por exemplo:
prescrição do sintoma, destinada a criar situações paradoxais no uso interpessoal do sintoma e
na luta pelo controle da relação paciente-terapeuta).
Operações de enquadramento
Meta-intervenções
Designamos com este termo todas aquelas intervenções do terapeuta cujo objeto são
suas próprias intervenções. Podem visar a aclarar o significado de determinada intervenção ter
sido feita nesse momento da sessão ou nessa etapa do tratamento.
Exemplos:
a. Terapeuta: "De que maneira o senhor deu a entender a ela que desejava vê-la?"
Paciente: ... (gesto de desconcerto, fica em silêncio) ...
Terapeuta (meta-intervenção): "Sabe por que lhe pergunto isto?"
Terapeuta: "Porque, tempos atrás, víramos que havia no senhor duas maneiras de
expressar interesse; às vezes com gestos de desejar o encontro, outras com certa
rejeição encoberta, um tanto distante,"
Paciente: (silêncio)."
Terapeuta: "Sabe por que penso assim? Acho que há indicações claras de que ele
parecia disposto a querer falar, não tinha vindo 'fechado', mas a senhora, mesmo
assim, disse a si pr6pria: 'certamente não vai querer me ouvir'," ,
é fundamental, já que a aprendizagem essencial está nos métodos e não meramente nos
produtos. Uma variante de meta-intervenção pode ser o questionamento pelo terapeuta de
sua própria intervenção, assinalando o caráter parcial de seus fundamentos, ou o caráter ainda
hipotético de alguma de suas premissas. E uma terceira variante consiste na explicitação pelo
terapeuta da ideologia subjacente a alguns pressupostos de sua própria intervenção.
- "Veja bem, até agora tomamos como problema sua dificuldade para chegar ao orgasmo na
relação sexual. Isto deve ser encarado, por sua vez, com precauções, porque há toda uma série
de reformulações sexológicas e ideológicas sobre o orgasmo feminino que poderia mostrar
alguma de nossas premissas como sendo em si mesma questionável. "
- "Há pouco eu lhe assinalava que a senhora agira nessa situação lançando-se nela sem ter
uma idéia precisa de para onde ela a iria conduzir. Por sua vez, não está livre de objeções 'o
pressuposto - que se poderia ver por trás deste modo de encarar sua reação – de que sempre,
antes de lançar-se à ação, é preciso ter in mente um plano, não é mesmo? (pois há situações
em que s6 há condições de se armar um plano depois de vivida uma experiência)."
- "Momentos atrás 'eu estava falando de quais os problemas seus e os de seu marido que
podem criar dificuldades para a convivência, Mas não devemos supor que estas dificuldades
contrastem com o modelo de um casal ideal possível. B preciso que fique bem claro que,
atualmente, além destes problemas de cada um, há que ver quais os problemas criados para
qualquer casal pelo tipo de relação que se considera como ideal de casal normal em nossa
cultura, e quais os problemas que ainda se acrescentam a esses pelas dificuldades que cada
um vive fora da situação de casal e que terminam sendo descarregadas dentro de tal
situação."
- "Quando assinalo para o senhor que pode haver uma atitude sua de autopunição no fato de
perder o capital que conseguiu juntar com tanto esforço, esta minha colocação parte de um
pressuposto que também precisa ser questionado: o de que perder um capital acumulado não
é um acontecimento benéfico, Mas, vendo-se a coisa por outro ângulo, considerando-se o que
o dinheiro representa, como ele amarra as pessoas, talvez se possa encarar a sua conservação
como algo pré judicial e não positivo."
Se refletirmos sobre esta série de intervenções técnicas (que constituem boa parte da
"caixa de ferramentas" do terapeuta), um primeiro aspecto que ressalta é a amplitude de seu
espectro. Esta amplitude abarca a variada gama de possibilidades abertas, no trabalho de cada
sessão, onde o terapeuta vai encontrar muitas vezes pelo método de tentativa e erro, aquelas
que são as mais necessárias, as que abrem caminho para uma penetração maior. Suas
combinações são infinitas, como no xadrez, e cada sessão, como cada partida, configura o
perfil singular de uma constelação de intervenções próprias.
O segundo aspecto a destacar é que, dada esta variedade de intervenções, não há uma
hierarquia no conjunto que permita distinguir algumas como sendo mais importantes do que
outras para o processo psicoterapêutico. Nisto se assinala uma diferença básica em relação à
teoria da técnica psicanalítica, que confere valor supremo à interpretação como Intervenção
decisiva para produzir a modificação específica característica do processo analítico. Esta
diferença entre psicanálise e psicoterapias em geral foi claramente formulada por Bibring (2):
"a psicanálise está construída em torno da interpretação como agente supremo na hierarquia
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Notas
1. Em todas as considerações deste capítulo, o "paciente" pode ser uma pessoa, um casal, um
grupo familiar ou outro tipo de grupos de amplitude variável.
2. Este estudo se concentra no conteúdo verbal das intervenções do terapeuta. Outros,
complementares deste enfoque, devem estender-se a suas intervenções corporais (gestos,
posturas, olhares) e para verbais (a mímica verbal; variações no tom de voz, na intensidade e
no ritmo da falta, estilo comunicacional) (I).
4. " O poder de sugestão de uma intervenção deste tipo pode variar conforme o tom de que se
sirva o terapeuta: uma determinada acentuação da frase sublinhará a utilidade da ação, ao
passo que outra fará ressaltar o interesse em compreender o que aconteceria, deixando o fato
em si num plano de menor importância.
6. E isto, trabalhando com pacientes de suficiente força egõica, um dos critérios essenciais de
analisabilidade.
7. Por não fazerem claramente esta distinção, há por vezes psicoterapeutas de formação
psicanalítica insatisfeitos com aquelas sessões em que não conseguem "interpretar",
frustração que freqüenternente contrasta com a experiência vivida por seus pacientes, os
quais. Não afetados por preconceitos técnicos, sentem que realizaram nessas sessões uma
tarefa efetivamente produtiva.
Nota do revisor