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A Terapia Cognitivo-Comportamental detém um arsenal de técnicas capazes de

tornar o tratamento de cada paciente mais dinâmico e mais produtivo. Uma dessas técnicas
é o cartão de enfrentamento para reestruturação cognitiva.
Trata-se de uma técnica que pode ser aplicada para o tratamento de vários tipos de
demandas na clínica, com o foco na reestruturação cognitiva. Sendo assim, por meio da
aplicação dos cartões de enfrentamento, o paciente consegue visualizar com maior clareza
os pensamentos e comportamentos disfuncionais que atualmente estão causando
sofrimento mental e, assim, elaborar estratégias para reestruturá-los.
Podemos entender os cartões de enfrentamento como frases motivacionais e realistas que
ajudam os pacientes a encontrarem e manterem o foco, ou até mesmo conseguirem
enxergar certos acontecimentos por uma lente menos negativa, mesmo em momentos em
que tudo parece desmoronar.
Neste artigo, apresentaremos o conceito de cartão do enfrentamento, ensinando
também como ele pode ser aplicado de forma assertiva na clínica.

O que é cartão de enfrentamento?


Desde seus primórdios, a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) busca estruturar
soluções que ajudem o paciente a enfrentar os seus problemas de forma saudável. Nesse
contexto, Judith Beck (1995), elucidou uma técnica que conseguiria atingir esse objetivo: os
coping cards.
A técnica elaborada por Judith propunha a elaboração de cartões que registram
conteúdos discutidos durante as sessões. Os cartões seguem basicamente o mesmo
raciocínio de outras técnicas complementares aos tradicionais métodos da Terapia
Cognitivo-Comportamental.
Eles podem ser usados como lembretes mais visíveis e fáceis, com informações
práticas sobre como enfrentar situações problema. Dessa forma, o paciente consegue,
constantemente, recorrer a um ponto de apoio para dar forças para enfrentar determinadas
situações estressoras.
Quando traduzido para o português, o termo coping cards pode ser entendido como
cartões de enfrentamento (J. Beck, 1997; J. Beck, 2013), fichas ou cartões de autoajuda (J.
Beck, 2007), lembretes (Cordioli, 2004) e até mesmo cartões-lembrete (Knapp et al., 2004).
Mesmo com diversas possíveis traduções, Judith Beck afirma que os cartões têm sempre
três principais objetivos: registro de pensamentos automáticos em um lado, com sua
respectiva resposta adaptativa do outro; apresentação de estratégias comportamentais
para uso em situações disfuncionais e elaboração de autoinstruções motivadoras.
Knapp et al. (2004) afirma que o cartão de enfrentamento é uma técnica cognitiva para
apontar pressupostos e regras originados de crenças subjacentes, com o propósito de
reescrevê-las. Novos pressupostos e regras mais funcionais precisam ser constantemente
lembrados e colocados, aos poucos, no lugar dos antigos, até o momento em que o
indivíduo se sinta confortável ao agir de acordo com essas novas regras (Fennell, 1989,
citado por Knapp et al., 2004).
Ademais, o cartão de enfrentamento pode ser aplicado de forma concomitante a
outras técnicas da TCC que o terapeuta entenda como necessário e positivo. A
reestruturação cognitiva propõe justamente isso, que o terapeuta se equipe das mais
diversas técnicas que se complementam para promoção do bem estar do paciente.

Como aplicar a técnica do cartão de enfrentamento?


Fazer um cartão de enfrentamento pode parecer fácil, pois trata-se da escrita de
motivos que possam ser úteis para dar força ao paciente para enfrentar seus medos.
Contudo, nem sempre é fácil para o paciente pensar nessas frases.
Nesse contexto, o terapeuta deve orientar o paciente a escrever os cartões em um
momento em que as coisas estejam relativamente bem e suas ideias estejam tranquilas.
Outro ponto importante é frisar que esses cartões precisam estar com o paciente a todo o
momento, para que ele consiga se apoiar neles em quaisquer situações.
Com o avanço da tecnologia, esses cartões podem ser feitos no próprio bloco de
notas do celular, caso o paciente prefira. Se ele se sentir mais confortável em ter um papel
físico para apoio, é importante que ele escolha um tamanho que caiba na carteira e/ou
bolsa, por exemplo.
O cartão de enfrentamento deve ser lido todos os dias, preferencialmente pelo
menos duas vezes, mesmo que nesses momentos o paciente já esteja se sentindo motivado.
É sempre bom reforçar o ânimo e ajuda a criar um hábito.
O terapeuta também tem o papel de acompanhar a utilização desses cartões,
sempre investigando, ao longo das sessões, a frequência com a qual o paciente os tem
usado, bem como os efeitos que eles possam estar causando em seus comportamentos,
pensamentos e sentimentos.
Outro ponto importante que deve ser frisado é que não há quantidade estipulada
que seja adequada para os cartões, pois o paciente pode escrever quantos ele achar que
precisa. A quantidade de frases em cada cartão também pode variar, visto que, a depender
do pensamento disfuncional, o paciente poderá precisar repetir mais de uma frase para se
manter motivado à mudança positiva.
Se o paciente tem baixa autoestima em virtude de uma compulsão alimentar, ele
pode escrever cartões de enfrentamento com frases do tipo:
● “consigo satisfazer minha fome com apenas um hambúrguer”;
● “vou melhorar minha autoestima”;
● “estou em sintonia com meu corpo”;
● “viverei por mais tempo ao me alimentar melhor”;
● “vou conseguir caminhar por vários lugares diferentes”.
Ainda nesse exemplo, o terapeuta deve frisar que o paciente deve recorrer ao (s)
cartão (es) e lê-lo (s) sempre que sentir vontade de comer algo que não está programado ou
até mesmo em uma quantidade exagerada.
Se for jantar com amigos, deverá ler o (s) cartão (es) antes também, bem como se
estiver com vontade de comer doce ou carboidratos gordurosos e fritos. O paciente precisa
entender que é necessário lê-lo (s) sempre que se sentir mais para baixo ou pensar em
desistir do seu objetivo.

Exemplo de cartões do enfrentamento

CARTÃO DE ENFRENTAMENTO 1

Me sentir linda

Comprar a roupa que quiser

Eu consigo realizar meu trabalho

Ter mais energia

Não me sentir incomodada pelo meu peso

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