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Firewalker

THE COLEMANS' LEGACY BOOK 1


JAMIE BEGLEY
Prefácio

Seus nomes foram esquecidos, apagados da existência, tornando-se apenas


mais um casal nativo americano arrancado de sua terra natal. A mulher
carregava em seu ventre os dons dados pelos deuses, em retribuição por
defender a Mãe da Criação. Os dons deveriam ser concedidos a seus filhos
e às futuras gerações vindouras.
À medida que seus dias escureceram com suas lutas para sobreviver ao
longo da perigosa jornada para sua nova pátria, os deuses observaram sua
coragem, mas nunca tentaram tirar proveito da pedra que o homem
carregava em seu peito para diminuir suas dificuldades.
Décadas depois, eles foram enterrados lado a lado na terra em que
trabalharam incansavelmente para deixar um legado duradouro para seus
filhos. O segredo jurado morreu com eles, e a ameaça à humanidade foi
perdida para sempre. A humanidade nunca saberia o quão perto estiveram
da extinção, nem dos sacrifícios feitos pelo homem e mulher que morreram
protegendo o segredo.
Ao Destino foi dado o dever de cuidar de seus filhos, monitorando
cuidadosamente como os dons eram usados pela progênie do casal. Quando
novas gerações nasceram, o Destino foi à Mãe com a preocupação de que
seus dons deixassem outros humanos com medo deles e tentassem destruir
o que não podia ser entendido no reino humano. A Mãe começou a observá-
los para ver que consequências os dons causaram, fazendo ajustes quando
necessário. Ela pode ter criado a Terra, mas ainda era um trabalho em
andamento.
De Hades, eles receberam o dom de criar e manipular o fogo e se
projetar astralmente através do reino das Sombras do tempo. Sabiamente, a
Mãe considerou este dom muito poderoso para um mortal segurar,
dividindo o dom em dois. Um para receber o poder da luz, o outro do reino
das sombras, capaz de andar entre a Terra e o Céu. Ambos deveriam nascer
ao mesmo tempo, pois a luz deve impedir que as trevas consumam o reino
das sombras.
Quando sua progênie quase morreu de doença, a Mãe chamou Zéfiro
para conceder seu dom de vento a um descendente. O fogo não pode
respirar sem ar.
Rocque, o Senhor das Florestas, recebeu o dom de controlar a natureza.
A Mãe observava de perto aqueles que soldavam esse poder, pois o dom
quase rivalizava com seu próprio poder sobre a Terra. Com ciúmes, ela
decidiu afinar esse dom, limitando os destinatários desse poder particular da
Terra, apenas permitindo que o exercessem dentro de seu próprio domínio,
capazes de abrigar e proteger aqueles que amam dentro dos limites da
montanha que chamavam de lar.
Quando um dom inesperado veio à tona, Mãe só conseguiu balançar a
cabeça. Seu filho, Poseidon, colocou o poder da água na mulher, como
recompensa por proteger a pedra. A água pode dar vida ou tirá-la com uma
fúria que poderia imitar a dela quando estava com raiva.
Balançando a cabeça em diversão com alguns dos crimes da progênie, a
Mãe não deixou que sua crescente afeição pela família influenciasse sua
punição quando o dom de Asclépio foi mal utilizado por um deles, os
descendentes femininos, salvando uma vida destinada a ser tirada.
Infelizmente, a Mãe fez o destino intervir para quebrar a linha da família
em duas direções diferentes. A repercussão era severa quando qualquer um
dos descendentes dotados com o dom da cura era separado do tronco
principal de dons, que foram se tornando mais poderosos a cada geração.
Embora ela não se arrependesse de separar a família em dois ramos,
sentiu tristeza ao testemunhar as cruéis dificuldades que o novo ramo teve
que suportar. Querendo evitar uma punição tão dura no futuro, deu-lhes seu
último dom.
Ela havia tirado os dons de Astraios como punição por lutar com
Chronos. A Mãe concedeu seus poderes que havia cuidadosamente
acumulado para si, dando às progênies a capacidade de ler as estrelas e os
céus, permitindo-lhes ler os caminhos traçados para eles seguirem. Era um
dom enorme, que viria com penalidades severas se o usassem mal.
Para garantir que nenhum membro da família ultrapassasse seus limites
novamente, ela decidiu que haveria uma salvaguarda nascida em cada
geração, que teria a capacidade de aproveitar todos os poderes concedidos a
eles. Seria sua segurança contra falhas. Levaria seu conhecimento e o custo
de seus poderes para a próxima geração. Ensinaria e prepararia aqueles que
seguiriam seus passos. Lições que os advertiriam de abusar de seus dons.
Seus poderes eram presentes e não deveriam ser aproveitados, e nunca,
jamais, tentar usurpar o poder dela novamente.
Continuando a monitorar a família de forma intermitente, apesar de ter
dado o dever ao Destino, ela viu os dois ramos da família crescer em
número até que uma alma em particular nasceu.
Uma criança do sexo masculino com todos os dons.
A Mãe não tinha vergonha de admitir que se afeiçoou ao mortal, mas
apesar de sua afeição, ela não foi capaz de mudar o futuro apresentado
diante dele nas estrelas. Ele nunca encontraria sua alma gêmea durante a
vida em que nasceu. Os amantes desafortunados continuariam sentindo falta
um do outro, seu amor destinado a outra vida.
Acostumada a homens galanteadores, a Mãe assistiu divertida quando
seu favorito não deixou que a falta de uma alma gêmea o impedisse de
encontrar outra maneira de compartilhar o amor que ele era capaz de criar
vida após vida. Ele até estendia seu amor a um estranho. Amando cada
criança com um coração puro, ele ensinou a seus filhos o poder de seus
dons com uma referência que ela não sentia em eras.
Quando ele gerou uma criança do sexo feminino que tinha um poder de
cura, ela chorou tanto quanto seu pai quando ele leu as estrelas, mostrando
seu futuro. A criança se tornaria muito poderosa para permitir que
permanecesse em seu ramo da família. Não só ela nasceu com um dom de
cura herdado de um deus, também herdando o toque de cura de seus
ancestrais nativos, que apenas um outro poderia se gabar, mas como todas
as mães, ela não podia deixa-la bem o suficiente sozinha, tornou a alma
mais forte por ser capaz de usar a energia derivada da natureza para
restaurar sua força.
A alma precisava ser transferida para o outro ramo da família, onde eles
aprenderam o custo de usar seus dons de maneira imprudente.
Sua afeição pela família segurou sua mão para remover a menina até
que seu pai teve a chance de gerar a criança que um dia entraria em seu
lugar.
Então, com o coração dolorido, ela chamou os dois para o céu juntos.
No entanto, eles não estavam juntos muito antes da alma feminina ser
enviada de volta à Terra. A Mãe garantiu desta vez que a alma dotada seria
protegida por uma guerreira feroz e uma mãe que amava e apreciava a
natureza ao seu redor. Tão importante quanto isso, ela seria guiada por um
membro da família que a ensinaria a usar o dom, temperado pelos custos
pessoais que ela acabaria pagando ao longo de sua vida.
A Mãe observou a prole deixada na Terra com um olhar cuidadoso,
vendo as mesmas qualidades e compromissos com aqueles que amavam,
como os ancestrais que lutaram por ela em seu maior momento de
necessidade.
Finalmente, sua paciência e planejamento estavam prestes a se
concretizar. Os sete irmãos tinham poderes de semideuses, as estrelas
estavam alinhadas onde ela precisava delas e, crucial para seus planos, eles
tinham força de vontade e coragem para proteger as recompensas que ela
estava prestes a lhes dar. A culminação de seu plano dependia de sua
capacidade de convencer suas recompensas a amá-los.
O amor era a única variável fora de seu controle. Eles teriam que ganhar
o amor por conta própria sem a ajuda dela ou o presente do Dia dos
Namorados.
Sim, era frustrante para ela...tantas variáveis podiam dar errado...ela fez
tantas promessas. O destino da humanidade estava em jogo mais uma vez -
havia uma batalha surgindo no horizonte, e aqueles sete semideuses eram a
única maneira de trazer a ordem de volta ao reino mortal e imortal. Ela
estava agora na parte mais difícil de ser mãe. Tudo o que ela podia fazer era
assistir e confiar que seus semideuses provariam sua valentia. Iria machucá-
la profundamente se eles falhassem, porque ela estava em um impasse. Não
podia interferir, apesar de todo seu imenso poder, seguro na palma de sua
mão. Tudo dependia da mais básica das emoções humanas...
Amor.
Prólogo

Ela podia ouvir o monstro vindo.


Alanna se arrastou para o lado para se esconder atrás da cortina, rezando
para não ser encontrada no quarto escuro. O pavor a enchia a cada passo
que podia ouvir do lado de fora no corredor.
“Por favor, não entre aqui...por favor, Deus”, ela rezou silenciosamente
para si, a oração congelando em sua mente quando ouviu o som da
maçaneta sendo girada. O terror manteve sua mente e corpo paralisados,
como se estivesse em alguma falha da Matrix, esperando o que aconteceria
a seguir, sabendo que jogou esse jogo muitas vezes para não saber a
penalidade de ser a perdedora.
Prendendo a respiração, ouvindo passos suaves entrarem no quarto,
Alanna estava tão perdida em terror que quase se molhou quando os passos
pararam perto dela, tão perto que ela podia ouvir a respiração do monstro.
“Eu sei que você está aqui, Alanna. Saia, e deixo você escolher o filme
que vamos assistir. Se não...”
A ameaça pairava no ar, esperando por uma resposta dela, que Alanna
não tinha intenção de dar.
Ela permaneceu congelada no lugar, mesmo depois que os passos
começaram a se mover pelo quarto novamente e o monstro bateu à porta do
armário para vasculhar o interior. Ela sabia que o monstro sairia esta noite.
Hoje era seu aniversário, e o monstro saía para brincar sempre que
qualquer alegria pudesse se infiltrar em sua vida.
O fechamento da porta do armário fez com que Alanna se preparasse
para ser encontrada novamente enquanto os passos estavam em movimento
de novo.
“Eu vou deixar você ganhar esta noite, Alanna, porque é seu
aniversário.”
Alanna não acreditava nas mentiras do monstro. Ela foi levada muitas
vezes antes.
“Eu tinha um presente especial que ia te dar. Acho que nunca saberá o
que é.”
Ela não se importava com o que era.
Vozes subindo os degraus fizeram o monstro se mover para a porta.
“Você ganhou, mas não posso deixar você impune. Vai ficar duas vezes
pior na próxima vez que jogarmos. Eu não saio por mais algumas noites,
então vou me certificar de que passaremos muito tempo de qualidade juntos
antes disso.”
O clique mal ouvido da porta se fechando atrás do monstro fez suas
pernas desmoronarem. Empurrando um punho contra a boca, ela conseguiu
abafar os gritos vindos de sua garganta para que seus pais adotivos não
ouvissem enquanto passavam por seu quarto e entravam para ver por que
ela estava chorando.
Ela só tinha que aguentar mais algumas noites, e então o monstro iria
embora.
Com muito medo de que o monstro voltasse quando os Fields fossem
dormir, ela permaneceu no mesmo lugar até sentir os raios do sol
queimando o lado de seu rosto. Quando ergueu o rosto para o sol brilhante,
o terror da noite derreteu sob o calor.
Os Fields geralmente mantinham a casa fria, para manter sua mãe
adotiva confortável. Alanna estava acostumada a sentir o frio, apesar de
usar um roupão quente por cima da roupa.
Levantando a mão, ela a pressionou contra a vidraça, sentindo o calor
aquecer sua palma. Demorando em vez de se vestir, ela desejou que os
próximos dois dias passassem magicamente por ela.
Quando ouviu as outras crianças se mexendo para se preparar para a
escola, Alanna ficou de pé rigidamente, deixando cair a mão ao seu lado
quando uma batida rápida soou em sua porta.
“Está acordada, Alanna?” A Sra. Field perguntou. “Apresse-se, ou não
terá tempo para tomar café da manhã.”
“Vou me apressar.”
“Eu fiz rabanada. É melhor se apressar, ou não sobrará nenhuma”, ela
gritou, sua voz se afastando.
Mesmo que não estivesse mais tocando o painel de vidro, o frio voltou
para seus ossos. Não havia magia no mundo forte o suficiente para fazer os
próximos dias passarem rapidamente. Aos quatorze anos, ela era velha
demais para ainda acreditar em magia. Sua vida não era um conto de fadas,
e ela não era uma princesa, nem nenhum príncipe viria em seu socorro.
Depois de se vestir apressadamente, Alanna estava calçando os sapatos
quando a porta se abriu sem aviso prévio.
Ela olhou com medo para a porta para ver uma garota mais velha, que
não compartilhava a mesma falta de confiança, entrando. Se alguém se
considerava da realeza, era a adolescente que a olhava com irritação.
“Por que você ainda não está pronta?”
Olhando para a loira angelical que poderia ser uma modelo da Victoria
Secret com um complexo de inferioridade, Alanna pulou da cama para
colocar sua mochila. “Estou pronta.”
Irritada, Kate deu um sorriso doce, como se fosse a realeza concedendo
uma recompensa a um camponês. “Bom. Eu odiaria que você perdesse as
rabanadas.” Ela deu um aceno encorajador de sua mão para acenar para ela
ir primeiro.
Alanna começou a passar por Kate para ir até a porta quando Kate deu
um soco. Alanna não teve tempo de reagir, a não ser cair de joelhos quando
o ar foi tirado de seus pulmões.
Ela ainda estava tentando recuperar o fôlego quando Kate voltou para a
porta aberta para fechá-la. Fechando as duas para dentro antes de retornar
ao seu lado, Kate enterrou uma mão em seu cabelo para arrastar a cabeça
para trás.
“Nossos jogos não são divertidos para mim se eu não conseguir
encontrar você”, ela rosnou.
“Nós vamos nos atrasar para a escola”, Alanna engasgou, não tentando
se afastar do toque de sua irmã.
“Eu não estarei. Jackson vai me pegar para me levar.” Kate torceu seu
cabelo mais apertado. “Onde você escondeu o dinheiro do seu aniversário?”
“Eu não escondi. Pedi à Sra. Fields que guardasse para mim.”
Kate arqueou cruelmente o pescoço de Alanna mais para trás. “Então é
melhor você pegar de volta antes que eu saia da escola.”
Alanna sabia que a dor que ela sentiria seria pior do que o dinheiro
valia.
“Eu vou.”
Empurrando-a para o lado, Kate foi até a porta. “Caramba, você é tão
lenta. Vamos.” Kate abriu a porta. “Se você terminar de comer quando
Jackson chegar aqui, vou deixar você ir conosco.”
Ela preferia caminhar os cinco quilômetros até a escola do que andar
com o casal do ensino médio, mas forçou um sorriso agradecido em seus
lábios. “Obrigada, Kate.”
Kate passou um braço ao redor de seus ombros, mas sua expressão de
irmã e tom de voz não combinavam com o olhar frio que a encarava. “Eu
sempre vou cuidar da minha irmãzinha, mesmo quando tiver que me mudar.
Não se esqueça disso.”
“Eu não vou.” Um calafrio percorreu suas costas quando um adolescente
musculoso encheu a porta, bloqueando-as.
“Você conseguiu?"
“Ainda não. Ela deu a Bev. Vai tê-lo quando chegarmos em casa da
escola.” O aperto de Kate no ombro de Alanna tornou-se um
estrangulamento ao redor de seu pescoço enquanto ambos observavam
divertidos como ela ofegava por ar. “Não é mesmo, mana?”
“Sim”, ela conseguiu ofegar.
O aperto de Kate ao redor de seu pescoço imediatamente afrouxou.
“Viu? Eu disse que tenho tudo sob controle.”
“É melhor você ter”, ele avisou. “Não quero ficar desapontado como
fiquei ontem à noite.”
“Eu fiz as pazes com você, não foi?” Kate arrulhou. “Vamos comer
antes que Bev venha aqui para ver o que está demorando tanto.”
Um sorriso cruzou os lábios de seu irmão adotivo que sempre dava nós
no estômago, e Owen não se afastou da porta.
“Por que eu deveria me importar se a vadia estúpida vier aqui? Ela vai
nos expulsar daqui em alguns dias, de qualquer maneira. O que alguns dias
vão importar?”
Um suspiro de impaciência veio de Kate. “Já lhe disse antes por que não
queremos causar problemas. Jogue de forma inteligente e nunca será pego.
A estupidez vai te denunciar todas as vezes. É por isso que esteve em quatro
lares adotivos diferentes antes de me conhecer. Agora, mova-se. Estou com
fome.”
Owen se moveu para o lado, mas não antes de dar a Alanna um olhar
promissor. “Quando eu chegar em casa, é melhor você estar com meu
dinheiro”, ele ameaçou.
Dinheiro dele?
Muito assustada e tímida para se afirmar, Alanna só pôde dar-lhe um
aceno de cabeça temeroso. O comportamento de intimidação de Owen foi
piorando gradualmente quanto mais perto ele estava de sair do sistema. Nos
últimos dias, ela estava praticamente tremendo toda vez que o ouvia em
casa, apavorada com o que ele faria.
“Vou pedir de volta.”
Owen não parecia apaziguado com a segurança dela, mas pelo menos
perdeu o olhar assustador, que era habitual em seu rosto quando ele olhava
para ela.
Ela humildemente caminhou ao lado deles para descer enquanto seu
estômago se revirava, esperando a qualquer momento que Owen a
empurrasse para dentro de qualquer um dos quartos que eles tivessem que
passar.
Quando entraram na cozinha, a Sra. Fields deixou de lavar a louça,
observando suas expressões enquanto tomavam suas cadeiras. Ela preparou
um prato para eles e voltou para seus pratos, então ela não viu Owen
pegando dois de seus palitos de rabanada, deixando-a com apenas um.
Ela comeu lentamente a pequena quantidade de comida que restava para
ela, sem falar sobre o adolescente muito mais velho. E, não querendo ir para
a escola com Kate, ela ignorou os chutes debaixo da mesa para se apressar e
agarrou o garfo com mais força ao ouvir o súbito barulho de uma buzina do
lado de fora.
“Vamos, Alana.” Kate se levantou da mesa com expectativa.
A Sra. Fields se virou da pia. “Vá em frente, Kate.” Movendo-se para o
fogão, sua mãe adotiva levou um prato de rabanada para a mesa para
colocar mais três no prato de Alanna. “Tenho certeza de que Owen não se
importaria de uma carona para a escola; vai salvá-lo de se atrasar
novamente.”
Imperturbável pelo olhar acalorado que Owen lançou para ela, a Sra.
Fields deu a ele um olhar duro, mostrando-lhe que não se comoveu com seu
comportamento intimidador. “A menos que você obtenha seu diploma, não
se qualificará para a transição que seu assistente social encontrou para
você.”
Alanna podia ver Owen reprimindo o que queria dizer. Em vez disso, ele
se levantou e levou os pratos sujos para a pia.
Kate pulou de pé ao som dos pratos batendo dentro da pia.
Engolindo a comida depois que Kate e Owen saíram, Alanna começou a
se levantar da mesa com seu prato vazio na mão.
“Não há necessidade de pressa.” A Sra. Fields deu-lhe um sorriso gentil.
“Sua assistente social está vindo para uma visita. Ela quer ter uma conversa
com você.”
Sentindo a cor sumir de suas bochechas, ela se sentou trêmula. “Você
está me mandando de volta para a casa do grupo?”
A Sra. Fields cobriu a mão trêmula com a dela. “Só por alguns dias, até
Kate e Owen partirem.”
“Não entendo.” Alanna olhou para a mulher mais velha em confusão.
“Eu cuido de crianças em minha casa há tempo suficiente para saber
quando algo não está certo. Posso ver você ficando mais aterrorizada com
Kate e Owen a cada dia, então acho que é melhor se você se mudar para
uma casa de grupo até que eles sejam transferidos para sua nova moradia.”
Alanna não sabia se ficava aliviada ou mais assustada. Mesmo quando
se mudassem, eles ainda saberiam onde encontrá-la quando ela voltasse
para a casa da Sra. Fields, que escola frequentava. Eles ficariam furiosos
com o dinheiro do aniversário e não ter alguém para fazer suas ordens
quando ela tivesse a infelicidade de estar perto deles. Eles sabiam que ela
tinha medo deles, e não desistiriam sem lutar. Eles se alimentavam de seu
terror, então morreriam de fome até encontrarem alguém novo para tirar
vantagem. E quando eles passavam fome, ninguém estava seguro.
A Sra. Fields lançou-lhe um olhar perspicaz. “Se você não quiser voltar,
eu entendo. Essa é outra razão pela qual sua assistente social está vindo. Ela
pode encontrar outra família adotiva onde eles terão dificuldade em
encontrar você.”
“Não quero outra casa.” Piscando para conter as lágrimas de medo,
Alanna olhou para sua mãe adotiva, implorando.
“Eu também não quero. Decidi não aceitar mais crianças adotivas. Você
será a única aqui, além de Sam. Você e Sam se dão bem, não é?”
“Sim.” Ela fungou. “Eu gosto de Sam.”
“Eu mesmo sou meio que parcial com ele. Claro, ele é meu filho, então
eu poderia ser tendenciosa. Com você e Sam para cuidar, poderei levá-la de
um lado para o outro em seus compromissos, e não precisará mais andar de
ônibus. Você pode sair e sentar na varanda dos fundos; pense nisso até que
sua assistente social chegue.”
“Sim, senhora.”
Levando os pratos para a pia, Alanna começou a sair pela porta dos
fundos, mas parou. Incapaz de conter sua felicidade, ela voltou para a mesa
para abraçar a Sra. Fields.
“Obrigada. Eu gosto de viver aqui.”
“Eu gosto de ter você aqui também”, a Sra. Fields respondeu
rispidamente. “Foda-se. Ouço um carro na garagem. Preciso de alguns
minutos com sua assistente social.”
Assentindo, Alanna praticamente pulou pela porta dos fundos para se
sentar no balanço.
Enquanto olhava para o gramado coberto de mato, ela prometeu a si que
aprenderia a trabalhar com o cortador de grama, o que dava à Sra. Fields
ataques nas costas cada vez que precisava usá-lo. Owen se recusava a cortar
a grama toda vez que lhe pediam. Ela também prometeu fazer todas as
tarefas que Kate não tinha ajudado.
Sem Owen e Kate em casa e sem ter que vê-los novamente, parecia que
uma vida totalmente nova estava se abrindo para ela. Uma onde ela não
teria que ter tanto medo.
Ela mordeu o lábio inferior enquanto sua felicidade diminuía. Não
importa o quanto a Sra. Fields tentasse protegê-la, ela tinha uma sensação
de aperto no estômago de que Kate e Owen estariam esperando para atacar
quando ela menos esperasse.
“Eu não devo voltar?” Ela meditou em voz alta. A última vez que ela
saiu de um lar adotivo, ficou presa em um lar grupal por treze meses antes
que a Sra. Fields a aceitasse.
Não havia nada nela que chamasse a atenção de futuros pais adotivos.
Era muito jovem para fazer muitas das tarefas que tornariam a vida mais
fácil para aqueles que queriam adotar. Quando ela era mais jovem, morou
em vários lares adotivos e foi arrastada para fora da porta toda vez que seus
pais adotivos se viam esperando um filho.
“Eu não quero ir para outra casa”, ela meditou em voz alta novamente.
A Sra. Fields sempre se certificava de ter o suficiente para comer e trocava
sua roupa de cama tanto quanto trocava a de Sam. Uma das maiores razões
pelas quais ela não queria sair era Sam. Apesar da diferença de idade de
cinco anos, ela se aproximou dele enquanto ela e Kate se distanciavam.
Tanto Owen quanto Kate eram espertos o suficiente para manter as mãos
para si no que dizia respeito a Sam. Como ele era o filho natural da Sra.
Fields, não queriam correr o risco de serem expulsos por ela. No que diz
respeito aos lares adotivos, o da Sra. Fields era o melhor em que qualquer
um deles já havia morado.
“Eles saberão onde encontrar você.” Alanna sabia que Kate nunca a
deixaria escapar de seu alcance. Por outro lado, queria arriscar ser colocada
em um lar adotivo onde alguém pior do que Kate e Owen vivia?
“Estou assustada. Não sei o que fazer.”
As folhas da árvore ao lado da varanda começaram a balançar nos
galhos enquanto uma brisa calmante soprava suavemente através delas.
“Fique. Cresça mais forte. Eu lhe direi quando correr.”
Alanna não piscou com o vento falando com ela. Era tão normal quanto
a Sra. Fields falando com ela ou qualquer outra pessoa. Era seu amigo
imaginário que sempre esteve lá quando ela precisou dele.
“Não sei...”
“Não digo sempre onde se esconder? Não te protegi sempre?”
“Sim...mas estou com medo de Kate e Owen.”
“Sei que você está. Estarei lá com você. ”
Alanna usou o pé para fazer o balanço começar a balançar. “Sim... mas
você não é real. Não é como se fosse um príncipe ou algo assim e viria me
salvar.”
“Eu já lhe disse antes; você tem que vir e me encontrar.”
“Isso é difícil de fazer quando você não me diz onde está.”
“Eu não posso.”
“Por que?”
“Você tem que me encontrar.”
Alanna deu um suspiro cansado. “Você está muito longe?” Ela
perguntou, embora já soubesse a resposta. Esta foi a mesma conversa que
teve com seu amigo invisível muitas vezes antes. “Eu nunca serei capaz de
te encontrar. Você é invisível.”
“Você vai.” O vento prometia. “Você vai me encontrar quando for a
hora certa. Todas as princesas têm que esperar por seus príncipes.”
“Você é um príncipe?”
“Não, mas eu sei quem é seu príncipe, e ele também está esperando por
você.”
“Ele está? O que ele está esperando?” Alanna perguntou
apressadamente, ouvindo a Sra. Fields e sua assistente social abrindo a
porta dos fundos.
“O que você quer que eu diga a ela?
Matthew olhou para Silas enquanto seu irmão conversava com a garota
que estava destinada a ele, tentando encontrar uma resposta que não
mudasse o caminho traçado para eles.
“Para você chamar meu nome.”
“Como vou saber o nome dele?” Silas repetiu o que a jovem havia dito.
“Você saberá sem que eu tenha que lhe dizer.”
“O que devo fazer até lá? ”
Matthew olhou para Silas em agonia, não querendo dar a resposta que
não tinha escolha.
Seu irmão o encarou com compreensão, bem ciente da turbulência pela
qual estava passando.
“Nós esperamos.”
Capítulo Um

Alanna foi acordada com um puxão pela luz sendo acesa no corredor do
lado de fora de sua cela. Atordoada, erguendo-se sobre um cotovelo, olhou
para ver por que as luzes foram acesas no meio da noite. Se o policial que
normalmente estava de plantão viesse aborrecê-la no meio da noite, ela ia
registrar uma queixa formal por punição cruel e incomum.
Piscando para limpar o sono de seus olhos, viu dois policiais
manobrando um homem grande dentro da cela oposta. Pelo menos, ela
pensou que a pessoa era um homem. Do ponto de vista dela, não poderia
realmente dizer. Tudo o que ela podia discernir era, quem quer que fosse,
era grande o suficiente para que os policiais estivessem tendo problemas
para carregá-lo, e um capuz escondia a parte de trás de sua cabeça dela.
Jogando a pessoa no beliche, os policiais saíram da cela, fechando a
porta atrás deles.
Vendo que ela o observava, o agente que era jovem demais para ter um
cabelo branco tão chocante falou com o outro delegado, que ela só viu
algumas vezes antes. “Vá em frente, Larry. Estarei aí em um minuto.”
Aproximando-se da porta da cela, policial Porter deu um aceno de
cabeça para trás. “Ele não vai incomodar você. Tive um momento muito
bom na feira esta noite. Você precisa de alguma coisa antes que eu apague
as luzes?”
“Não, eu não preciso de nada, mas me sentiria mais confortável se você
o colocasse na outra cela e deixasse as luzes acesas.”
“Não vou arriscar colocar mais pressão nas minhas costas do que já
tenho. Ele pesa uma tonelada. As luzes são brilhantes o suficiente para
mantê-lo acordado e não farão bem à cabeça dele se acordar. Se eu fosse
você, preferiria que ele dormisse. A única pessoa de plantão esta noite é o
despachante. O resto de nós está em patrulha, ou estacionado no recinto da
feira.”
Alanna balançou as pernas para fora da cama. “Não me sinto
exatamente confortável sabendo que estou dormindo a menos de um metro
e meio de alguém que fez algo ilegal para ser preso.”
O policial sacudiu a porta de sua cela. “Ouviu isso?”
“Sim”, ela rangeu entre os dentes cerrados.
Dando um passo para trás, ele sacudiu a porta da outra cela. “Aqui?”
“Sim”, ela murmurou com raiva.
“Então você está bem?”
“Eu acho que sim”, ela forçou a sair. Neste ponto, só queria que ele
fosse embora.
O policial caminhou de volta para sua porta. “Acho que verei você pela
manhã. Quer alguma coisa em particular para o café da manhã?”
“Panquecas com uma lixa de unha dentro seriam apreciadas.”
O policial balançou a cabeça, como se estivesse levando a sério sua
piada sarcástica. “Desculpe, minhas senhoritas me matariam se eu perdesse
meu emprego quando descobrirem o que estamos planejando.”
“Então não, eu não quero nada.”
“Como preferir.” Ele encolheu os ombros.
Alanna deitou-se enquanto o policial se afastava da cela. Pelo menos ele
fez uma concessão ao não desligar a luz do corredor.
Virando-se para o lado para olhar para a outra cela agora que o policial
havia se afastado, ela podia ver a forma alta do homem deitado no beliche,
de lado, de costas para ela. A cela estava vazia desde sua prisão. Owen foi
colocado em outra cela mais adiante no corredor.
De jeito nenhum ela conseguiria voltar a dormir, independentemente de
haver duas portas de metal separando as celas. Ela nunca conseguira dormir
com outra pessoa no cômodo depois de ter sido acolhida pelos Fields. Owen
e Kate fizeram das noites uma tortura para suportar.
O interior sombrio das celas aumentava seus medos que saíram para
brincar no escuro. Sentando-se, ela se encolheu em uma bola, no canto de
seu beliche, para olhar sem piscar para a figura no outro beliche. Erguendo
a cabeça quando quase cochilou várias vezes, ela quase gritou alto quando
viu o homem de repente rolar de costas e sentar-se ao lado da cama para
olhar em direção a sua cela.
Além de pressionar as costas contra a parede atrás dela, Alanna
congelou. Ele poderia vê-la? Fragmentos de medo atravessaram seu corpo.
Não entre em pânico. Apertou as mãos sob o cobertor até que suas
unhas cravaram nas palmas, Alanna falou a si sobre seus medos para que
ela pudesse pensar com a cabeça clara e não deixar o medo dominá-la. Ele
está apenas sentado lá.
Sua lucidez foi abalada quando a figura se levantou da cama para ficar
nas barras de sua cela.
“Não tenha medo, Alanna. Não vou te machucar.”
Alanna colocou a mão sobre a boca para não falar, alarmes soando em
sua mente ao ouvi-lo chamá-la pelo nome, sabendo que ela estava
assustada.
“Eu sinto seu medo.”
Uma risada baixa e rouca começou a abalar sua já trêmula resolução de
permanecer calma.
Ele pendurou as mãos nas barras casualmente, como se quisesse mostrar
que estava desarmado e enjaulado como ela, mas isso não diminuiu o
pânico que a manteve em silêncio.
O riso parou, e então ela ouviu um suspiro alto e prolongado.
“Você deveria ter deixado de se esconder quando está com medo.”
Apertou os lábios para evitar perguntar como ele sabia sobre seu hábito,
ela desejou que ele se movesse um pouco para a esquerda para que a luz
pudesse expor as feições que o material solto de seu capuz escondia.
“Esta prisão não é o porto seguro que você pensa que é”, ele avisou
friamente. “Em que ponto vai ser corajosa o suficiente para parar de correr
e se esconder?”
Nunca, quando ela sabia quem a esperava lá fora!
O grito silencioso ecoou pelas câmaras de sua mente.
“Você deixou o medo fazer de você uma prisioneira muito antes de vir
para cá.”
“Cale-se!" ela gritou, em seguida, bateu a mão sobre a boca.
“Qual é o problema? Atingi um nervo?”
Alanna deixou cair a mão. “Owen pagou você para ser preso para me
avisar para ficar de boca fechada?”
“Ninguém me pagou para ser preso, mas estou aqui para dar um aviso.
Você não está segura aqui. Estou desapontado por você não ter conseguido
bolar um plano melhor, a não ser sacrificar sua liberdade porque tem medo
de enfrentar seus medos. Esperava mais de você.”
A censura em sua voz fez com que seu orgulho despencasse.
“Desculpe desapontá-lo, mas estou apenas tentando me manter viva da
melhor maneira que sei.”
“Então, se eu fosse você...” As mãos penduradas para fora da cela
deslizaram de volta para dentro. Seu medo disparou quando ela viu uma
faísca de fogo, em seguida, ouviu a porta da cela se abrir. Suas cordas
vocais congelaram quando ele entrou no corredor para ficar do lado de fora
de sua porta. “...Eu aceitaria a ajuda que está sendo oferecida a você antes
que seja tarde demais.”
Alanna respirou fundo quando finalmente conseguiu ver o rosto do
homem falando com ela.
Feições robustas reforçavam a impressão de força. Uma expressão
implacável mostrou que este homem tinha uma autoconfiança que só vinha
com a experiência adquirida com muito esforço. Ela também não seria tão
covarde se fosse construída como uma jogadora de futebol americano. Toda
a sua vida seria diferente se ela fosse um homem.
“Você tem uma boa advogada, use-a. Pelo menos dê a ela uma chance
de lutar para ajudar.”
“Volte para sua cela antes que eu grite”, ela avisou com voz rouca,
orgulhosa de si por ser realmente capaz de pronunciar as palavras.
Lábios sensuais se curvaram em um sorriso zombeteiro. “O que você vai
fazer se eu não fizer isso? Vamos; mostre-me”, ele a incitou suavemente.
O medo, como sempre, manteve-a no lugar.
“Você não tem problema em correr riscos quando se trata de outra
pessoa. Você também é importante.”
Ela balançou a cabeça em negação, mesmo sabendo que ele não podia
ver o movimento. Ela poderia cair da face da terra e ninguém notaria. Estar
presa nos últimos dois meses provou esse fato sem dúvida.
“Estou esperando.”
Seu coração parou com suas palavras. Então Alanna percebeu que ele
queria dizer que estava esperando para ver se ela gritaria, não esperando
como o vento uma vez lhe disse que seu príncipe estaria. É a sua
imaginação, ela disse a si. Só porque a voz dele a envolveu como um
abraço caloroso e seus olhos fizeram uma poça de calor na boca do
estômago dela não significava que ele era o homem que ela tinha perdido
toda a esperança de conhecer.
Ela pediria para falar com sua advogada amanhã, se nada mais, para
obter um reabastecimento de sua medicação.
“Você ficou com medo de sua própria sombra, Alanna. A questão é que
tudo o que você precisa fazer para se livrar de seus medos é sair para a luz.
Você acredita que esta cela é uma forma de proteção, enquanto na realidade
as sombras estão consumindo você”, alertou.
Allana podia ver os nós dos dedos das mãos segurando as barras ficarem
brancos.
“Ou arrume essa merda, ou eu vou. Não devo interferir, mas vou.” Seu
rosto tornou-se ameaçador. “Minha força de vontade está chegando a um
ponto de ruptura. Eu não sou um santo.”
Quando ele deixou cair as mãos das barras, Alanna ficou tensa,
esperando para ver se ele abriria a porta da cela dela como fez com a dele.
“Não...” ela choramingou com medo, memórias de infância piscando de
volta.
Dando um passo para longe da cela, ele deu a ela o espaço que
precisava.
“Vou embora sem você esta noite, mas se tiver que voltar, Alanna,
nenhum exército será capaz de me deter.” Virando-se, ele saiu pelo corredor
até ficar fora de vista. Quando ela ouviu a porta principal abrir e fechar,
sabia que ele tinha ido embora.
Saindo cautelosamente da cama, ela foi até as barras da cela para olhar o
corredor. Estava vazio.
Sentindo um leve odor, Alanna cheirou o ar. Ela sentiu um cheiro
amadeirado combinado com fumaça. Era o mesmo cheiro que ela sentiu
quando o homem abriu sua cela.
Olhando para a cela vazia em frente a ela, ela meio que se convenceu de
que a coisa toda foi um pesadelo acordado. Sua outra metade realista não
era tão crédula, permanecendo alerta pelo resto da noite até que finalmente
ouviu as vozes dos funcionários do turno diurno filtrando pelo antiquado
duto de ar. Aliviada pelos sons tranquilizadores à distância de um grito, ela
caiu em um sono irregular em que teve o mesmo sonho recorrente que tinha
desde que foi presa.
Ela estava trancada em uma pequena gaiola.
“Ajude-me!” Ela gritava em seu pesadelo. “Ajude-me!”
“Estou chegando!” uma voz fraca respondia.
A cada noite, a voz parecia estar se aproximando. Esta noite, quando ele
respondeu, ela conseguiu passar a mão e o braço pelas grades.
“Onde você está?” Ela gritou.
“Estou aqui.”
“Deixe-me sair!” Pressionando-se contra a gaiola, ela tentou chegar
mais longe. “Deixe-me sair!” Ela implorou.
“Eu não posso”, a voz rouca exigiu. “Você tem que vir até mim,
Alanna.”
“Estou presa! Não posso!”
“Venha para mim...” A voz começou a recuar para longe. “Venha para
mim...você está tão perto...tão perto...”
Capítulo Dois

Deus a ajude, mas ela ia matá-lo. Lentamente, para tirar o prazer.


Não, ela retirou isso. Ela faria isso rápido. Rápido era bom. Ela não
queria correr o risco de que ele a convencesse a não o estrangular.
Alanna olhou para o policial limpando a cela em frente a ela enquanto
inventava vários métodos diferentes para derrubá-lo.
“Eu disse às senhoritas que quero a bunda de Rosie na cama às 8h30,
sem exceções, e querer comer uma tigela de cereal às dez não é uma delas.”
Agarrando o livro que ela estava fingindo ler ao invés de ser arrastada
para uma discussão que já sabia que não tinha chance de vencer contra o
exasperante delegado, Alanna tentou abafar sua voz imaginando suas mãos
em volta de sua garganta.
Não quebre, ela disse a si, decidida a dar-lhe o tratamento do silêncio
depois que o policial Porter negou que ele e outro policial tivessem
trancado alguém na cela vazia na noite passada. Ela sabia muito bem que
não tinha imaginado o prisioneiro encapuzado.
“O que você quer para o almoço hoje?”
Foi preciso que o policial repetisse a pergunta duas vezes antes que ela
percebesse que ele havia parado na frente de sua cela.
Sua determinação quebrou, desgastada por sua conversa incessante.
Nunca parava — nunca — a menos que o xerife viesse procurá-la, ou o
policial Porter finalmente ficasse entediado o suficiente para procurar
vítimas indefesas para transmitir sua sabedoria.
“Não importa. Você escolhe.” Você vai, de qualquer maneira, ela
pensou sarcasticamente.
“Que tal o jantar? King nos deu uma batata assada ontem. Isso mostrará
a ele que perderá o negócio da prisão se não mantiver a qualidade que
esperamos dele.”
“Qualquer que seja.”
“Você está de mau humor hoje, não é?”
O golpe sarcástico a fez fazer o que jurou não fazer.
“Por que eu não estaria? Você acabou de limpar uma cela, apesar de
fingir que ninguém estava lá na noite passada.”
O policial estufou o peito, como se estivesse ofendido. “Você está me
chamando de mentiroso?”
“Estou dizendo que alguém estava lá. Eu vi você e outro policial colocá-
lo na cama. Você até falou comigo antes de sair.”
“Se isso fosse verdade, então por que não havia ninguém lá esta manhã
quando John entrou?”
“Ele saiu.”
O policial franziu a testa. “Quem saiu?”
“Quem estava na cela.”
“Como ele saiu? Qual era o nome dele?”
“Você não o apresentou a mim”, ela retrucou. “Ele destrancou a porta da
cela e saiu.”
Ele mexeu as sobrancelhas para ela. “Como ele destrancou a porta da
cela?”
“Não sei; ele fez.”
“Parece que você teve um pesadelo. Eu tive um na outra noite. Eu
sonhei...”
“Deixa pra lá. Foi um pesadelo.”
Ela preferia bater a cabeça contra os blocos de cimento do que ouvir o
pesadelo dele. O policial estava perdendo seu tempo sendo de cidade
pequena. Ele poderia dar aulas sobre tortura para organizações
internacionais.
“Já que você terminou de limpar, pode sair.”
“Não desconte em mim que sua bunda está trancada aí. Eu sou aquele
que o xerife tira da patrulha sempre que alguém prende sua bunda.”
Cruzando os braços sobre o peito, o policial se inclinou contra as barras de
sua cela. “Pessoalmente, eu prefiro estar dirigindo por aí no meu carro de
polícia do que ficar preso aqui dentro, tomando conta de você. Não faz
sentido para mim por que você ainda está aqui em vez daquela sua sobrinha
vadia.”
Alanna com raiva jogou o livro de lado. “Não chame Elizabeth de vadia.
Quem ainda deveria estar na cadeia é Owen, e você o soltou!”
O policial ergueu uma sobrancelha condescendente para ela. “Concordo
com você, mas o que quero não conta aos olhos da lei sobre Owen. Por
outro lado, acho hilário que você ainda esteja defendendo Elizabeth quando
ela é a responsável por você passar um tempo aqui.”
“Elizabeth não é responsável por eu estar presa”, ela zombou, tentando
resistir a dizer qualquer outra coisa para ele, então falhando com o jeito
compassivo que ele olhou para ela. “Cuide da sua vida e eu cuidarei da
minha.”
“Treepoint é uma cidade pequena; todo mundo conhece o seu negócio,
quer você queira ou não.” Ele encolheu os ombros. “Droga, se eu colocaria
minha liberdade em risco por qualquer pessoa, família ou não.” Ele deu
uma bufada de nojo. “Quanto tempo mais você vai ficar sentada aqui,
girando os polegares, esperando que ela venha e salve a porra do dia?
Elizabeth vai enfiar você em uma sentença de prisão, e você vai deixá-la.
Então, quando voltar a si na penitenciária estadual, pode dizer que Greer lhe
disse isso”, ele zombou. “Quem me dera ter um centavo de cada idiota que
se viu trancado protegendo outra pessoa.”
“Eu não fiz nada de errado, Elizabeth vai testemunhar isso.”
“O que ela está esperando? Por que esperar até ir a julgamento?”
“Existem fatores atenuantes que você desconhece.”
“Fatores atenuantes? Eita, você sabe o que isso soa? Uma maneira
elegante de dizer que você está fodida. Já contou à sua advogada essa
informação? Ao xerife?” O policial deu-lhe um olhar de pena. “Só não
espere que ela venha visitá-la na prisão estadual quando te derem prisão
perpétua.”
Um medo esmagador a fez pular do beliche para confrontá-lo. “Você
está exagerando demais para me fazer falar, e não vai funcionar. Perpétua?”
ela zombou. “Eu não matei ninguém.”
O policial levantou a mão, levantando um dedo de cada vez. “Sequestro,
suborno, assalto...”
“Eu não sequestrei...” Fechando a mandíbula, Alanna abraçou sua
cintura enquanto se virava para dar as costas ao policial, escondendo sua
expressão. “Vá embora.”
“Owen Hudson está dizendo ao xerife que foi tudo seu plano para fazer
com que Arin não entregasse a patente da vacina. Que você estava
planejando vendê-la para o maior lance.”
Ela apertou os lábios para evitar falar.
“Ele vai andar com um bom negócio enquanto sua bunda apodrece.”
Sua determinação durou um minuto antes que a dúvida surgisse,
minando sua determinação.
“Minha advogada não vai deixar isso acontecer.”
“Diamond é boa, mas ela não é tão boa assim. O que você precisa é de
um maldito milagre”, ele a ridicularizou.
Incapaz de aguentar mais, Allana se virou para encará-lo. “A menos que
você tenha um à mão, por favor, me deixe em paz”, ela implorou, incapaz
de manter o medo longe por mais tempo. Por que ela se permitiu ser levada
a falar com ele? Ela precisava de sua medicação. Isso a colocava de cabeça
cheia onde ela não queria falar.
Seu olhar perspicaz cravou diretamente no dela. “Eu não diria à mão” -
endireitando-se das barras, ele puxou a calça para cima de seu corpo magro
– “mas sou conhecido por fazê-los acontecer quando alguém precisa de
um.”
“É aqui que você me diz que vai me ajudar se eu fizer uma coisinha para
você?” Dando-lhe um olhar de desgosto, ela se sentou no beliche.
“Você acha que eu estou querendo algo sexual de você?”
Ela desdenhosamente deu-lhe um olhar fulminante. “Você não está?”
O policial riu dela. “Desculpe, mas meus favores sexuais são
comprometidos. Sou um homem casado. Tenho sorte de manter a senhora
satisfeita, não sobra muito para dar a qualquer outra pessoa.”
Surpresa, ela olhou para o homem que era uma dor em seu pescoço
desde que ela o encontrou em Treepoint. Os homens normalmente não
revelavam que tinham problemas para manter suas parceiras satisfeitas.
“Então, o que você quer para este milagre?”
“Não há etiqueta de preço anexada.” Ele encolheu os ombros. “Não
quero ser acusado de suborno. Tenho uma reputação a manter nesta cidade.
Claro, nem sei se posso ajudá-la com esse milagre, de graça, a menos que
você comece a abrir essa sua maldita boca e me diga por que aquele seu
parente fez isso com você.”
Ele queria que confiasse nele quando ela nem confiou em sua advogada
com a informação?
Alanna não podia acreditar que estava pensando em falar com ele. Ela
precisava de sua medicação. Se imaginar um prisioneiro que não existiu na
noite passada não tinha provado isso, considerar confiar em um homem que
ela francamente não suportava, sim.
“Por que eu deveria?” Rejeitando-o com um encolher de ombros
descuidado, ela se jogou de volta na cama para pegar o livro descartado.
“Mulher, vou ser franco. A única razão pela qual estou pensando em
ajudá-la é porque sei como é querer ajudar um membro da família. Você
está entre uma rocha e um lugar duro. Não importa para mim o que você
fez. A única razão pela qual estou pensando em ajudá-la é a bondade da
minha alma.”
Era este o mesmo homem que, ontem, confiscou a batata assada que
veio com o jantar dela quando a dele estava em falta?
Alanna ergueu os olhos do livro. “Policial Porter, se você quer fazer
algo pela bondade de sua alma, convença minha sobrinha a aceitar minhas
ligações.”
Alanna sabia pelo olhar de regozijo que ele deu a ela que ele ia ter
prazer no que estava prestes a dizer a ela.
“Eu não posso fazer isso. Elizabeth não quer falar com você. O xerife
recebeu a papelada esta manhã. Elizabeth está pedindo uma ordem de
restrição, impedindo você de tentar contatá-la ou ficar a menos de trinta
metros dela. Disse que você a está ameaçando.”
Alanna olhou para ele em choque, lutando contra o crescente alarme
com o qual ela estava lidando desde que descobriu no que sua sobrinha se
envolveu e com quem. Elizabeth tinha jurado a ela que não tinha contato
com sua mãe desde que se formou no colegial.
Lendo sua expressão, o policial deu-lhe uma bufada esperta. “O que
você acha que tenho tentado te dizer? Sua sobrinha está à procura do
número uno. Como você acha que eu sei disso? Porque estou cuidando dos
meus próprios interesses. A diferença entre ela e eu, porém, é que eu não
jogaria meus próprios parentes debaixo do ônibus. Você precisa ficar
esperta antes que ela corte sua bunda.”
“Você não entende. Elizabeth é como minha própria filha”, Alanna disse
a ele entorpecida.
“Então você a criou para merda. É por isso que meus filhos se importam
comigo, senão”, ele bufou arrogantemente.
Alanna sentia pena de qualquer criança que o tivesse como pai.
“Sua irmã sabe que a filha dela é uma cadela mentirosa?”
Alanna estremeceu com a forma depreciativa que o policial se referiu a
sua sobrinha.
“Elizabeth é uma pessoa maravilhosa. Ela está apenas...” Alanna apertou
os lábios, mudando o que estava prestes a dizer. “Eu estava tentando ajudá-
la quando aquele caminhoneiro me sequestrou e me trouxe para Treepoint.”
“Sério?” Ele revirou os olhos para ela. “Essa não é a mesma história que
ela está contando para todo mundo. Claro, ela estava grampeada como uma
múmia quando aquele caminhoneiro a encontrou no porta-malas do carro
em que você estava, todos lhe deram o benefício da dúvida sobre em quem
deveria acreditar. Especialmente quando você está se recusando a explicar a
sua advogada ou ao xerife por que eles deveriam acreditar em você em vez
dela.”
“Isso é apenas um mal-entendido.” Fechando o livro, ela se levantou da
cama para caminhar até onde ele estava.
“Do qual você não fez nenhum esforço para se livrar. Por que ainda não
pediu a Diamond para tirá-la sob fiança? Droga, eu não estaria aqui se não
fosse pago para estar.”
“Não tenho para onde ir. Se eu for solta, Diamond me disse que eles
iriam me monitorar. Não tenho dinheiro para ficar no hotel até que meu
caso seja julgado.”
“Você quebrou?”
“Não, mas perto.” Ainda não, ela admitiu silenciosamente para si. “Já
tive que usar minhas economias para pagar minhas despesas legais. Não
resta muito.”
“Parece que você precisa de um lugar para ficar e um emprego.”
“Não tenho uma licença imobiliária em Kentucky, e a empresa para a
qual trabalho está tentando revogar minha licença. Eu perguntei a Diamond
sobre encontrar um emprego na cidade, e ela disse que não há nenhum.”
“Não há na cidade.” Ele assentiu.
O policial que confirmou a avaliação de sua advogada sobre o mercado
de trabalho em Treepoint derrotou seu sentimento. Ela estava sem saber o
que fazer, sentindo como se sua vida tivesse se tornado areia movediça e ela
estivesse afundando rapidamente.
“Mas eu posso saber de um nos limites da cidade.”
Ela agarrou uma barra da cela. “O que é isso? Eu aceito qualquer coisa.”
“Não é nenhum trabalho arrogante como ser uma corretora de imóveis”,
alertou.
“Eu não me importo, desde que me pague para que eu possa pagar um
quarto de hotel.”
“O trabalho vem com cama e mesa.”
Ela agarrou a barra da cela com mais força até que suas unhas cravaram
na palma de sua mão. O dinheiro extra que ela economizou poderia
aumentar o dinheiro para as crescentes taxas legais. Ela também não seria
um alvo fácil se o homem da noite passada existisse e voltasse como ele
havia avisado.
“Almocei no restaurante ontem, ouvi que os Colemans estão procurando
uma faxineira para limpar algumas das casas dos meninos em sua
propriedade. Talvez precise cozinhar um pouco para eles também. Só estou
dizendo o que ouvi.” Ele encolheu os ombros. “Você terá que pedir a
Diamond para verificar isso para você.”
“Sou uma boa faxineira e adoro cozinhar.” Ela não sabia, mas se ele
podia mentir sobre a noite passada, ela podia mentir sobre isso. “Eu faço
um ótimo...”
O policial levantou a mão para impedi-la de continuar. “Não sou eu que
você vai ter que convencer. Diamond vai ter que convencer o juiz a deixá-la
sair sob fiança, então convencer Silas Coleman a contratá-la, então eu não
teria esperanças até que você falasse com ela.”
“Você se importa de ligar para ela e pedir que venha me ver?”
“Posso fazer.” O policial virou-se para sair.
“Obrigada. Eu realmente aprecio sua ajuda. Se isso der certo, ficarei
devendo muito a você”, ela disse com sinceridade. Então se apressou em
esclarecer o que queria dizer, não querendo que ele tivesse ideias erradas.
“Desde que não envolva sexo.”
“Mulher, você é a única com sexo no cérebro, não eu. Jesus, o que há
com as mulheres hoje em dia? Lembro-me dos bons tempos em que as
mulheres tinham vergonha de falar sobre isso. Então, você sabe, por aqui, a
palavra sexo é considerada uma palavra de quatro letras vinda de uma
mulher com um homem na sala.”
“Então, como você me ajuda a beneficiá-lo?” Ela perguntou com
ceticismo.
“Colocando minha bunda de volta na minha viatura, onde ela pertence.”
Alanna assistiu o policial se vangloriar como se fosse o dono do mundo
enquanto borboletas enchiam seu estômago. Ele parecia um pouco alegre
demais quando tudo o que ia conseguir ao ajudá-la era um retorno aos seus
deveres normais.
O primeiro lampejo de felicidade por possivelmente sair da prisão se
transformou em apreensão. Por que ela se sentia como se tivesse
involuntariamente vendido sua alma depois de barganhar com um demônio
de fala rápida em Kentucky?
Capítulo Três

“Sra. Bates, você conseguiu entrar em contato com o Sr. Coleman sobre o
trabalho de limpeza que o policial Porter me falou?”
Estar na presença da advogada nunca deixava de fazê-la sentir como se
tivesse estragado sua vida. Vestida imaculadamente, desde o cabelo estiloso
até as pontas dos sapatos, a advogada não tinha um fio de cabelo fora do
lugar. A Sra. Bates parecia ter todos os aspectos de sua vida sob seu
controle, enquanto ela não conseguia nem controlar o que poderia escolher
para comer sem que o policial mudasse a ordem para o que ele queria.
Levantando os olhos de sua pasta depois de pegar um bloco e uma
caneta, a expressão rígida da Sra. Bates mostrou que ela estava esperando a
mesma falta de cooperação dela que recebeu quando conversaram
anteriormente. “Eu fiz. Silas disse que passaria por aqui para entrevistá-lo
quando vier à cidade esta manhã.”
“Não o desencorajou que eu esteja na cadeia?”
“Não. Ele estava mais preocupado sobre quando você poderia começar.”
Sua advogada parecia tão surpresa com a falta de preocupação quanto
ela.
“Ele perguntou quais acusações foram feitas contra mim?” Ela sondou,
envergonhada por ter que encontrar um empregador em potencial na cadeia.
“Não, eu não acho que Silas precisava. Todos na cidade sabem por que
você foi presa.”
Encolhendo-se por dentro sobre o que deveria ser dito sobre ela, Alanna
começou a se perguntar que tipo de homem estaria disposto a contratar
alguém na prisão por sequestro e tentativa de extorsão.
A vergonha fulminante a fez procurar recuperar o pouco orgulho que
podia na frente da outra mulher.
“Espero que ele não pense que vou deixá-lo tirar vantagem da situação e
esperar mais do que limpar e cozinhar.”
“Eu não saí e perguntei se sexo estava na descrição do trabalho quando
falei com ele pelo telefone. Achei que deixaria essa pergunta para quando
ele vier entrevistá-la para o trabalho.”
Alanna tentou não corar sob o olhar de sua advogada. Constrangida, ela
puxou a manga laranja do top que estava usando sobre o pulso. Deus, ela
sentia falta de usar roupas normais. O feio uniforme laranja brilhante que
ela era forçada a usar desde sua prisão nunca a deixava esquecer por um
segundo que era uma prisioneira. Comparada com a outra mulher, ela se
sentia como um palito de cenoura. Laranja definitivamente não era sua cor.
Ela parecia uma abóbora.
Ela invejava as roupas que sua advogada estava usando, desde os saltos
Louis Vuitton até a saia cinza-claro com um blazer combinando, que era
realçado por uma blusa de seda roxa Milano enfiada na cintura. Se ela já
não se sentia em desvantagem com a aparência polida de sua advogada em
comparação com o uniforme fino da prisão que vestia, o ar frio soprando
diretamente em seu lado da mesa apenas colocava a cereja no topo da
espiral descendente que sua vida tinha ocupado.
“Eu providenciei a entrevista. Agora, você está finalmente disposta...”
“Você se importa de trocar de lugar comigo?” Alanna a interrompeu.
“Estou congelando sob este ar”, ela explicou quando a outra mulher olhava
para ela friamente.
“Certamente.”
Elas trocaram de lugar, e Alanna cruzou os braços sobre o peito
defensivamente. “Eles mantêm este lugar como um iglu. Qual é a
temperatura lá fora?” Ela perguntou antes que a advogada pudesse voltar a
falar, não sem tirar vantagem de qualquer distração para adiar ter que
discutir seu caso. “É outono. Pensei que o xerife teria mudado para
aquecimento em vez de manter o ar-condicionado no alto.”
Alanna viu a mulher olhar para cima em direção ao respiradouro com
uma expressão perplexa antes de retornar seu olhar para ela. “Está um
pouco quente hoje, mas vou falar com o xerife antes de sair.”
Era irritação que ela ouviu em sua voz, por que pensou que sairia de
mãos vazias mais uma vez? Alanna não podia culpá-la. Ela havia deixado a
advogada para defendê-la sem lhe dar uma perna para se apoiar.
Apertando as mãos frias sobre a mesa, ela tentou avaliar o quanto
deveria revelar a uma mulher que parecia que a coisa mais assustadora com
a qual já teve que lidar foi pisar em um chiclete com seus sapatos de grife.
“Por que você escolheu me representar em vez de Elizabeth?” Alanna
perguntou curiosa.
A advogada fechou a pasta e puxou a cadeira para mais perto da mesa.
“Porque, quando eu te conheci, você me lembrou um pouco de mim. Eu
também sou boa em esconder minhas emoções.”
Alanna levantou a mão para pressionar os dedos contra sua têmpora, a
leve dor de cabeça que ela tinha acordado naquela manhã se tornando mais
pronunciada.
“O Policial Porter me disse que você é casada com o xerife?”
“Eu sou.” A advogada respondeu depois de dar-lhe um olhar
interrogativo.
“Feliz?”
“Como o quão feliz sou em meu casamento está relacionado ao fato de
eu defendê-la em um tribunal?”
Alanna deixou cair a mão de volta para a mesa para inclinar o rosto mais
perto da Sra. Bates, querendo ver se seus olhos revelariam a verdade para a
pergunta que ela estava prestes a fazer. “Porque eu quero saber se ele vai te
proteger com cada batida do seu coração, ou se você vai ficar sozinha.”
A mulher encontrou seus olhos sem se afastar, nem se inclinou para
longe de seus rostos estando a apenas centímetros de distância. “Somos
muito bem casados. Você está preocupada com minha proteção? É por isso
que se recusou a responder a qualquer uma das minhas perguntas?”
“Parcialmente.”
Seu olhar torna-se perspicaz. “Você tem protegido Elizabeth também.”
“Você não tem noção do quão perigoso Owen é.” Alanna recostou-se na
cadeira. “Sra. Bates, encaminhe outro advogado para me defender. De
preferência um homem.”
Os ombros da advogada se arquearam para trás, como se ela tivesse
acabado de ser insultada. “Você não acha que eu posso defendê-la tão bem
quanto um homem?”
Alanna balançou a cabeça. “Não é isso que estou dizendo. Owen é
perigoso. Ele não vai gostar que você esteja me defendendo, e o fato de ser
uma mulher só o deixará mais feliz se ele decidir ir atrás de você.
Sua advogada deu-lhe um olhar de aço. “Se ele vier atrás de mim, vai
acabar com mais do que esperava.”
Ela pode pensar isso agora, mas Alanna não tinha dúvidas de que a
advogada iria se arrepender do dia em que ela não aceitou a oferta de
alguém para assumir a defesa dela.
“Eu acho que você vai acabar com mais do que você esperava...” Alanna
não podia conscientemente deixar a mulher entrar cegamente em sua vida
de pesadelo sem deixá-la saber o que ela era “Owen está doente. Ele se
diverte machucando mulheres...Sra. Bates, você não tem ideia...” Alanna
mordeu o lábio inferior.
“Eu pedi repetidamente para você me chamar de Diamond.”
Alanna se recusava a usar o primeiro nome de Diamond pessoalmente.
Ela tinha que permanecer separada dela.
Sua advogada lhe deu um sorriso zombeteiro. “Estou bem ciente da
atitude de Owen Hudson em relação às mulheres. Estou curiosa para saber
por que você está mais preocupada com a minha segurança do que com a
sua?”
Alanna se levantou, incapaz de se sentar por mais um momento. Ficar
presa em lugares pequenos estava acabando com ela.
“Ah, eu tenho pavor dele.” Alanna acenou com a cabeça enquanto
falava. “Por que você acha que eu não estava ansiosa para sair? Pelo menos,
na cadeia, não preciso ter medo quando fecho os olhos.”
“Então o que fez você decidir finalmente falar comigo?”
“Porque eu prefiro me arriscar com Owen do que ter que lidar com o
policial Porter me monitorando de manhã, ao meio-dia e à noite. Ele
normalmente é tão irritante, ou está fazendo isso apenas para me fazer falar
com você?”
Os lábios da Sra. Bates se contraíram em humor. “Infelizmente, a
abrasividade chega a Greer naturalmente. Ele tem muita paciência para
lidar.”
Alanna pensou que era o eufemismo do século.
“O policial Porter faria um santo querer estrangulá-lo.”
“Por mais que pudéssemos discutir o quão desagradável Greer é até
ficarmos velhas e grisalhas, eu realmente gostaria de ouvir como você se
encontrou nessa situação.”
“Você não acredita que sou o cérebro do sequestro da minha sobrinha?”
A advogada estreitou os olhos para ela. “Eu preciso que você seja cem
por cento honesta comigo. Quaisquer discussões entre nós são protegidas
pelo privilégio advogado-cliente. Não vou revelar nada nem ao meu marido
sem a sua permissão. Então, vamos começar de novo, desta vez com você
sendo completamente sincera. Elizabeth não tem nenhuma conexão familiar
com você. Ela não é sua sobrinha. Você não tem irmãos imediatos, nem
meio-irmãos.”
“Você fez sua lição de casa.” Alanna parou de morder o lábio quando
sentiu um gosto de sangue.
“Eu fiz. Ouça, não há mais nada que eu possa fazer sem a sua ajuda.
Não posso defender alguém que não quer ser defendida. Diga a Greer que
eu disse oi...” Sua advogada começou a se levantar da mesa.
Alanna suspirou, sentando-se novamente. “Entrei no sistema de
assistência social quando tinha quatro anos. Meus pais saíram para passear
e nunca mais voltaram. Ainda me lembro que estava assistindo desenhos
animados quando a mulher que estava cuidando de mim surtou quando eles
estavam atrasados para me buscar. Em vez de meus pais voltarem, um
policial e uma mulher do Serviço Social vieram me dizer que eles não
voltariam. Eles haviam caído de um caminho, que foi declarado inseguro.
Não sei se você está familiarizada com casas de grupo, mas acredite em
mim, especialmente em uma cidade grande, foi um ajuste e tanto.”
“Eu posso imaginar.”
Alanna faz uma careta. “Eu não acho que você pode. Foi horrível. As
crianças mais velhas zombavam das mais novas. Os lares adotivos eram
poucos e distantes entre si, e geralmente escolhiam os fofos, ou as crianças
que poderiam contribuir com as tarefas domésticas, que não exigem tanta
supervisão. Fui enviada para dois lares adotivos, e eles não duraram porque,
nas duas vezes, minha família adotiva se viu grávida.” Alanna cruzou as
mãos uma sobre a outra para esconder seu tremor. “Conheci Kate quando eu
tinha seis anos.”
“Kate?”
A Sra. Bates pegou sua caneta e começou a escrever no bloco de notas.
“A mãe de Elizabeth.”
“Qual é o nome completo dela?”
“Kate Easton.”
“Esse não é o nome que encontrei listado como o nome da mãe de
Elizabeth.”
“Kate adotou Elizabeth.”
“Legalmente?”
“Acredito que sim.” Alanna deu de ombros. “Mas, com Kate, tudo é
possível.”
“Você conheceu a Sra. Easton quando você estava em um orfanato?”
“Ela era mais velha do que eu”, Alanna assentiu “e entrou e saiu de
lares adotivos desde que ela era um bebê. Ela me colocou sob sua asa,
evitou que as crianças mais velhas me machucassem, mas mais do que isso,
ela me chamava de irmã mais nova. Eu não me sentia mais tão sozinha.
Sentia-me amada pela primeira vez desde que meus pais morreram.”
“Quando uma família adotiva foi encontrada para ela, isso me devastou.
Chorei por vários dias. Foi como perder meus pais de novo. Senti como se o
tapete fosse puxado debaixo de mim novamente. Cerca de um mês depois,
quando Kate voltou do almoço, ela estava lá. Ela me disse que eles a
mandaram de volta por causa de seu comportamento. Ela me disse que se
comportou mal deliberadamente só para ser mandada de volta. Ela me disse
que sentiu falta de sua irmãzinha. Eu me apaixonei por suas mentiras, anzol,
linha e chumbos.” Alanna balançou a cabeça para si com desgosto.
“No começo, fiquei feliz por Kate ter sido mandada de volta, mas pouco
a pouco, mesmo sendo tão jovem, comecei a perceber que algo estava
errado com ela. Ela mentia para a equipe constantemente quando tinha
problemas, culpando outras crianças. Quanto mais Kate não gostava deles,
ou pior ainda, não cediam às suas exigências, mais problemas eles se
metiam. Os funcionários gostavam dela e acreditavam nas mentiras que
contava. Se eu dissesse alguma coisa a ela sobre as mentiras que contou,
quando eu saia do quarto, eu voltava e descobria que algumas das minhas
coisas haviam desaparecido ou sido destruídas. Quanto mais velhas
ficávamos, mais medo dela eu tinha.”
“Fui dada a outra família adotiva e fiquei emocionada por estar longe
dela. Quando fui mandada de volta, rezei para ela não estar lá. Ela estava.
Não havia lugar onde eu pudesse esconder que ela não poderia me
encontrar. Ela me observava como um falcão, e quanto mais medo eu ficava
dela, mais ela gostava. Quando ela descobria que algo me assustava, se
aprimorava, e se eu não fizesse algo que ela queria, Kate me punia usando
esses medos contra mim. A dureza da punição dependia de quão brava ela
estava comigo.” Alanna não entrou em nenhum dos detalhes dos métodos
que Kate usou contra ela.
Respirando bruscamente, ela continuou sob o escrutínio de sua
advogada. “Chegou ao ponto em que eu tinha medo de ficar sozinha com
ela e dava minhas coisas ao invés de vê-las acabar com ela ou serem
destruídas.”
Seus lábios se voltaram para cima em um sorriso dolorido. “Finalmente,
tive um adiamento quando Kate foi enviada para um novo lar adotivo.
Lembro-me de dormir dois dias seguidos sem ela. Eu não era a única feliz
em vê-la embora. De trinta crianças, ela tinha todo mundo com medo dela.
Sinceramente, acho que alguns dos funcionários também estavam nesse
ponto.
“Cerca de seis meses depois que Kate partiu, fui levada para um novo
lar adotivo. Eles não me disseram que era o mesmo onde Kate estava
morando. A única parte boa daquele lar adotivo era a família Fields. Eles
foram maravilhosos para mim. Eram para todas as crianças. Apesar de
terem um filho, eles adotaram um menino da mesma idade que Kate, depois
eu. No entanto, não havia um dia que Kate não jogasse na minha cara que
eu só estava lá porque ela disse à Sra. Fields que sentia falta de sua
irmãzinha.
"Ela queria que você ficasse em dívida com ela”, supôs a Sra. Bates.
“Exatamente.” Alanna assentiu. “Claro, eu era muito jovem para
perceber isso na época. Estava com muito medo de perder os Fields. Eles
eram realmente boas pessoas. Eu me aproximei do filho deles, Sam, que era
mais novo que eu.”
“Kate começou a usar minha afeição por Sam contra mim. Ela
ameaçava fazer alguma coisa e me culpar, então eu seria enviada de volta
para a casa do grupo. Desnecessário dizer, eu pisava em ovos ao redor
dela”, ela disse ironicamente.
Sua advogada deu-lhe um olhar de comiseração. “Ela era uma Regina
1
George .”
“Kate poderia dar voltas em torno de Regina.”
“Você mencionou que outro filho adotivo estava lá...”
Alanna deu-lhe um aceno curto. “Sim, havia...Owen Hudson.”
As duas mulheres fizeram contato visual.
“E apesar do que seu marido, o xerife, possa ter lhe contado sobre o
passado de Owen, posso dizer, com absoluta certeza, que nem todos os
crimes que ele cometeu foram documentados. Caso tenha alguma ilusão
sobre o que Owen é capaz, isso nem começa a arranhar a superfície da
feiura dentro dele. Quanto mais você desenterrar, mais feio ficará.”
“Eu não tenho medo dele.” A Sra. Bates deu-lhe um olhar firme.
Alanna deu à elegante advogada um olhar de pena. “Você não está
entendendo o que estou tentando lhe dizer.” Colocando as mãos sobre a
mesa, Alanna se inclinou para frente. “Eu tenho tentado avisá-la que Owen
não é o único para se ter medo. Imagine alguém se divertindo ao ferir a
mais inocente das criaturas, então imagine essa mesma pessoa sendo um
peão de uma mulher que recebe os mesmos chutes doentios, e você ainda
não seria capaz de compreender do que esses dois são capazes quando não
fazem. Conseguem. Infelizmente, se você continuar a me representar e
entrar no radar deles, você descobrirá isso por si mesma.”
“Kate encontrará cada detalhe minúsculo sobre sua vida. Não haverá
nenhuma parte de sua vida intocada até que ela descubra o que mais vai te
machucar. E então...Deus te ajude quando ela o fizer. É quando ela for fazer
Owen machucar ou destruir o que você mais valoriza, ou pior ainda, ela
mesma fará isso. Sra. Bates, você e a sua família por favor – pegue essa
maleta cara e corra o mais longe que puder do meu caso”, Alanna implorou
a ela.
Em vez de se assustar, sua advogada lhe deu um sorriso zombeteiro.
Alanna queria sacudir a mulher por desconsiderar seu aviso tão
levemente até que ela percebeu a determinação de aço em seus olhos.
“Eu não vou correr. Se Kate Easton ou Owen Hudson vierem atrás de
mim, eles receberão mais do que esperam.”
Os ombros de Alanna caíram. No momento em que Owen e Kate
terminassem com a Sra. Bates, a advogada teria sorte de ter um prego para
pendurar seu diploma de Direito.
“É por isso que você tem se recusado a falar comigo e com o xerife? Por
que eles estão usando algo que você gosta contra você?”
Alanna assentiu, derrotada. Ela tinha que sair da cadeia. Não aguentaria
mais um dia de Porter. Ela nunca tinha cometido um crime em sua vida,
mas se ela ouvisse sua voz irritante mais uma vez, uma acusação de
assassinato capital estava em seu futuro próximo.
“Você tem medo de que eles machuquem Elizabeth”, a Sra. Bates
adivinhou. “Ela também não está falando. É porque foi ideia dela manter a
patente ou...”
“Ela está me protegendo”, Alanna a cortou.
Sua advogada arqueou uma sobrancelha para ela. “Ela protegeu você
fazendo com que fosse presa por seu sequestro?”
“Posso estar na cadeia, mas pelo menos ainda estou viva.”
Capítulo Quatro

“Há quanto tempo vocês duas estão protegendo uma à outra?” Sua
advogada perguntou sem tirar os olhos do bloco em que estava escrevendo.
“Tenho tentado proteger Elizabeth desde que Kate apareceu com ela
quando eu estava no último ano do ensino médio. Ela estava esperando ao
lado do meu carro, com Elizabeth, e me disse que era sua filha. Eu sabia
que ela não era filha biológica de Kate por causa de sua idade.”
“Kate me pediu para observá-la enquanto ia a uma consulta médica.
Depois disso, Kate aparecia aleatoriamente, esperando que eu cuidasse de
Elizabeth sempre que ela precisava de uma babá. Eu geralmente a levava a
um restaurante ou a um filme.”
“Por que você simplesmente não disse não a ela?”
“Porque eu não conseguia imaginar Kate sendo mãe. Queria saber de
Elizabeth como ela estava com Kate. Eu não queria acusar Kate de ser
culpada de maltratar Elizabeth se ela fosse inocente. Fazia alguns anos
desde que eu tinha visto Kate. Ela poderia ter mudado. Ser responsável por
uma criança poderia tê-la suavizado. Eu observava cada sinal.” Mesmo
agora, ela debatia a decisão de não ter desaparecido com Elizabeth.
“Você queria intervir, para afastá-la da Sra. Easton.” O olhar solidário da
Sra. Bates não era o crítico que ela esperava.
“Ah, sim, mas Elizabeth nunca me disse nada que eu pudesse usar para
ir às autoridades. Ela só dizia como estava feliz, que amava Kate.”
“Quando me formei na faculdade e consegui encontrar um emprego e
me mudar para um apartamento, Kate trazia Elizabeth com mais frequência
e nos aproximamos ainda mais. Ela passava dois ou três dias comigo antes
de Kate voltar. Eu perguntava constantemente a Elizabeth se ela conhecia
Owen ou se Kate levava um homem que se parecesse com ele, e ela me
dizia que não. Ela estava mentindo para mim. Eu podia ver isso em seus
olhos.”
“Arrumei outro emprego e usei o dinheiro para contratar um
investigador particular para poder ir à polícia. Três dias depois de eu ter
contratado o investigador, ele desapareceu. Fui à polícia quando soube. Eu
disse a eles que acreditava que Kate e Owen eram os responsáveis. Implorei
ao detetive para não falar de mim e investigar o relacionamento de Kate
com Elizabeth. O detetive foi ao meu trabalho uma semana depois para me
informar que Owen estava morando em outro estado, e Kate nem sabia que
ela estava sendo investigada, nem encontraram nenhuma prova de que eu
havia contratado o investigador. Kate parou de levar Elizabeth depois.”
Sua advogada parou de escrever. “O que você fez em seguida?”
“Tentei contratar outro investigador para encontrar Kate e Elizabeth. No
dia seguinte, minha mãe adotiva foi encontrada morta na escada do porão, e
a filha do investigador morreu em um acidente de carro no dia seguinte.
Antes que pergunte, sim, voltei à polícia. Ambas as mortes foram
consideradas acidentes”. A responsabilidade que sentia por aquelas três
mortes me perseguirá pelo resto da vida.
“Mas você não acha que eles foram?”
Alanna estava finalmente vendo a cautela nos olhos de sua advogada.
Deixando a angústia de lado, ela respondeu à pergunta da Sra. Bates:
“Não, acho que Owen foi responsável por ambos. Nem o marido da Sra.
Fields, nem Sam, também acreditaram que sua morte foi um acidente.”
“Eu me afastei quando eles tentaram falar comigo. Já tinha três mortes
na consciência; não iria matá-los dizendo a eles quem eu acreditava ser o
responsável. Estava começando a pensar que Kate estava fora da minha
vida permanentemente, que eu tinha me mudado o suficiente para que não
valesse a pena ela me contatar novamente.”
“Mas ela encontrou.”
Alanna assentiu. “Dois anos depois, ela trouxe Elizabeth com ela. Desta
vez, tentei questionar Elizabeth, mas ela foi ainda mais reservada. Percebi
que, para manter Elizabeth em minha vida, teria que manter minha boca
fechada e apenas estar lá quando ela me pedisse ajuda. O dia em que ela
completou dezoito anos foi quando me pediu para ajudá-la a se afastar de
Kate. Saímos naquela tarde e nos mudamos para outro estado depois que ela
me prometeu que não teria contato com Kate, e se ela nos encontrasse, me
diria imediatamente.”
“Elizabeth morou comigo até se formar na faculdade e Arin a contratou.
Ela até saiu do nosso apartamento quando encontrou um lugar com colegas
de quarto. Fiquei surpresa quando ela se mudou. Nós nos dávamos bem, e
eu estava ocupada a maior parte do tempo com o trabalho, mas podia
entendê-la querer morar sozinha.”
A Sra. Bates ergueu os olhos de suas anotações para franzir a testa.
“Você não pensa assim agora?”
“Não, acho que Kate a encontrou, e ela estava tentando esconder o fato
de mim. Eu já tinha começado uma nova vida em Ohio para ela, e ela não
queria que eu corresse novamente para protegê-la. A próxima coisa que eu
soube foi quando Arin me ligou para me dizer que Elizabeth havia sido
sequestrada.”
“Teria sido muito mais simples se, quando Arin te ligasse, você contasse
a ela sobre Kate e Owen.”
Passando os dedos pelos cabelos, Alanna tentou explicar: “Não tinha
certeza se eles eram os responsáveis. Não sabia que Kate a havia
encontrado.”
Observando atentamente sua expressão, a advogada deu-lhe um leve
aceno de cabeça, mostrando que ela acreditava nela. “Como você acabou no
carro com Hudson? Você sabia que Elizabeth estava no porta-malas?”
“Dois dos donos de casas vazias que vendi reclamaram de encontrar lixo
e camas desarrumadas quando fizeram suas visitas. Um deles tinha câmeras
e colocou o vídeo para eu assistir. Reconheci Owen e Elizabeth neles.”
“Você deveria ter imediatamente...”
Alanna levantou a mão para parar o que sua advogada estava prestes a
dizer. “Já disse isso a mim mesma um milhão de vezes, mas não disse.
Estava com muito medo de que Owen matasse Elizabeth para evitar ser
acusado de sequestro. Fui a cada uma das casas que ainda não tinha sido
vendida. Por sorte, avistei Owen saindo de uma delas e o segui. Ele deve ter
me notado e parou em um estacionamento. Quando o confrontei e lhe disse
que queria saber onde estava Elizabeth, ele disse que me levaria até ela.
Estupidamente, entrei no carro e, em vez de me levar até ela, ele quis saber
como eu sabia que ele estava com Elizabeth.”
“Ele queria saber quem mais sabia”, a Sra. Bates murmurou baixinho.
“Sim, mas eu já aprendi essa lição – não envolver mais ninguém com
ele e Kate. Eu ainda estava tentando convencê-lo de que não havia contado
a ninguém quando a porta do carro se abriu e fui arrastada para fora pelo
caminhoneiro e sua legião de amigos.”
“Você não tinha ideia de que Elizabeth estava no porta-malas?”
“Não, se tivesse, teria chamado a polícia. Ele deve tê-la colocado no
porta-malas antes de eu chegar na casa.”
Sua advogada levantou uma sobrancelha questionadora. “O que não
entendo é: por que, quando havia tantos homens ao redor quando ela foi
tirada do porta-malas, e novamente quando ela foi liberada da parte de trás
do caminhão, ela não liberou você?”
A voz de Alanna ficou tensa de dor. “Porque a outra pessoa que ela
temia não estava lá.”
“Srta. Easton.”
“Kate é tão perigosa quanto Owen. Faz tantos anos desde que estive
perto dela. Eu nem sei se existem outros idiotas que estão dispostos a fazer
o trabalho sujo para ela.”
“Então, Elizabeth pensou que o lugar mais seguro para você era na
cadeia.”
“Se eu pudesse falar com ela, Sra. Bates, tenho certeza de que posso
convencê-la a...”
“Por favor, me chame de Diamond, pelo menos quando não estivermos
no tribunal. Toda vez que você me chama de Sra. Bates, eu procuro por
Knox.” Sua advogada larga o lápis e fica séria. “Você não deve tentar falar
com Elizabeth. Entende?” ela disse severamente.
“Mas...”
“Eu faria o que ela está aconselhando a você. A Sra. Bates é a melhor
advogada da cidade.”
Alanna se empurrou em seu assento, virando-se para ver um homem
parado na porta atrás dela. Surpresa por não ouvir a porta se abrir, ela olhou
para ele sem expressão antes de perceber que ele deveria ser o empregador
em potencial que a Sra. Bates havia contatado para ela.
“Alanna”, a Sra. Bates se levantou da cadeira, “este é Silas Coleman.”
Silas Coleman deu um passo à frente, pegando a mão que a Sra. Bates
estendeu. Quando suas mãos caíram para os lados, ele se virou para ela, e
Alanna estendeu a mão também. Encontrando sua mão engolfada na dele,
ela quase a puxou para trás, sentindo uma sensação de déjà vu.
Ela o havia conhecido antes?
Olhando para cima de suas mãos entrelaçadas e em seus olhos gentis,
Alanna sentiu como se ela fosse envolvida em um enorme cobertor de
conforto. A mão dela começou a tremer na dele enquanto lutava para trás,
querendo dar um passo à frente para deitar a cabeça em seu peito e explodir
com as lágrimas que ela estava segurando desde que descobriu que
Elizabeth havia sido sequestrada.
“É um prazer conhecê-la, Alanna.”
“É um prazer conhecê-lo, Sr. Coleman”, ela conseguiu, sufocando,
oprimida por emoções recém-descobertas que ela nunca havia sentido antes.
Por que ela sentia que tudo ia ficar bem? Sua presença reconfortante a
fez sentir que não estava mais sozinha contra o mundo.
Silas Coleman foi quem quebrou o contato, voltando-se para sua
advogada com uma expressão séria no rosto. “Vamos fazer essa bola rolar.
Sra. Bates, quando posso esperar que minha nova governanta comece?”
Capítulo Cinco

“Tem certeza de que não está muito apertado? Eu posso voltar e fazer o
xerife afrouxar um pouco mais.”
Alanna ergueu os olhos do monitor amarrado ao tornozelo. “Não, a alça
está boa.”
Silas Coleman acenou para ela sem tirar os olhos da estrada. Ela
esperava se sentir desconfortável por estar sozinha com ele pela primeira
vez. A reunião deles, dois dias atrás, foi breve, principalmente com ele
descrevendo os deveres do trabalho que esperava que fossem feitos. Nada
disso parecia ser complicado; principalmente algumas tarefas domésticas
para as diferentes casas de seus irmãos localizadas na propriedade de sua
família.
Alanna discretamente deu a seu patrão um olhar de soslaio enquanto ele
dirigia, ainda desconcertada pelas emoções que a dominaram desde o
momento em que se virou para vê-lo. Era como se toda a turbulência, medo
e preocupação dentro dela tivessem derretido, como se a neblina se
dissipasse na luz brilhante do dia.
A presença reconfortante de Silas Coleman acalmou seus nervos quando
ela foi conduzida ao tribunal e o viu sentado na sala onde sua audiência
seria realizada. Quando o juiz concedeu sua liberdade com a estipulação
que ela não podia deixou Treepoint e teria que usar uma tornozeleira
eletrônica para verificar se ela permanecia nos limites da propriedade do Sr.
Coleman, a menos que tivesse uma data de julgamento, ou agendamento
para se encontrar com sua advogada. O xerife deveria ser notificado antes
de deixar a propriedade dos Colemans e receber sua permissão para fazê-lo.
As estipulações não a incomodavam. Ela venderia a alma para fugir da
presença constante do policial.
“Aprecio você ter me dado uma chance de emprego, Sr. Coleman”,
Alanna disse, quebrando o silêncio na caminhonete.
“Você também pode me chamar de Silas. Economiza na confusão depois
de conhecer meus irmãos. Dessa forma, saberemos com qual de nós está
falando.” O olhar de Silas Coleman permaneceu fixo na estrada sinuosa.
Alanna desviou o olhar dele para olhar pelo para-brisa dianteiro. “Você
disse que há sete de vocês?”
“Sim, além disso, minha irmã, seu marido e filho.” Silas desviou os
olhos da estrada para lhe dar um breve olhar sorridente. “Você começou a se
arrepender de sua decisão de aceitar o emprego?”
“Não, eu nunca tive medo de trabalho duro. Estou surpresa que ainda
estejam morando juntos na mesma propriedade. Normalmente, eu pensaria
que pelo menos um teria se mudado.”
Eles não discutiram as idades de seus irmãos durante a curta entrevista.
Temerosa de dizer a coisa errada e Silas decidir não a contratar, ela não fez
muitas perguntas. Estava se arrependendo agora. Pelo menos estaria mais
bem preparada para o que a esperava.
“Nenhum de nós se considera normal. Os meninos e eu preferimos ficar
na nossa montanha. Deixamos a viagem pelo mundo para nossa irmã, ou
pelo menos costumava. Ginny praticamente se acomodou com o marido em
sua nova casa desde que tiveram o pequeno Freddy. De vez em quando, eles
fazem uma pequena viagem para o trabalho de Ginny. Não tanto desde que
ela se viu grávida novamente. Por isso decidi contratar alguém. Ginny está
fazendo o trabalho que estou dando você, mas os meninos e eu não
queremos que ela continue se sobrecarregando. Ela ainda vai ajudar”, ele
acrescentou, dando-lhe um olhar inquisidor, como se estivesse a assustando.
“Ginny não será capaz de se conter. Eu só estou tentando dar a ela uma
folga das tarefas mais pesadas que ela não deveria estar fazendo de
qualquer maneira.”
“Isso é legal da sua parte.” Alanna se perguntava quais tarefas pesadas
Silas e seus irmãos não queriam mais que sua irmã fizesse. “Apenas deixe-
me saber quais tarefas não quer que ela faça, e eu me certificarei de cuidar
delas antes que ela possa.”
“Eu não espero que você assuma as tarefas mais pesadas. Tudo o que
quero que faça é me mandar uma mensagem quando você a vir levantando
mais de cinco quilos ou escalando qualquer coisa que esteja a mais de sete
centímetros do chão.”
“Eu não tenho um celular”, ela disse a ele, envergonhada. Não querendo
compartilhar os detalhes de como ela havia perdido seu telefone, Alanna
deu-lhe um olhar agradecido quando ele apenas deu de ombros.
“Temos rádios de curto alcance. Eu também tenho um celular extra que
você pode usar.”
Com cada palavra que ele falava, Alanna gostava dele mais e mais. Ela
se preveniu. O Sr. Coleman não podia ser tão bom quanto parecia, mas algo
nele era capaz de contornar a cautela normal que a impedia de fazer amigos.
Ela pisou com um pé imaginário no freio mental para parar de se tornar
amiga dele. Ele era seu empregador; deixar que uma amizade se desenvolva
entre ele ou com qualquer membro de sua família pode ser prejudicial à sua
saúde.
“Obrigada. Você pode tirar o preço do telefone e o custo do serviço de
celular do meu pagamento.”
“Isso não será necessário. Está apenas parado em uma gaveta.”
“Eu insisto.” Manter as interações no nível de negócios desde o início
nos salvará de possíveis desgostos no futuro. Kate e Owen estariam
procurando oportunidades para mantê-la sob controle.
Enquanto Silas dirigia, Alanna aproveitou a oportunidade para
contemplar a paisagem. O movimento de Silas a fez virar a cabeça para o
lado.
“Você se importa de não abrir a janela?” Ela perguntou, vendo o que ele
estava fazendo.
Fechando a janela novamente, Silas deu a ela um olhar surpreso.
“Desculpe, alergias”, Alanna explicou bruscamente, evitando seu olhar
de volta para a janela lateral sem mais explicações.
“Talvez precise de algum remédio para elas. Receio que você não vá
evitar estar do lado de fora para chegar às casas dos meus irmãos.”
Quando lhe disseram que limparia as casas de seus irmãos, ela quase
recusou o trabalho. Ela odiava com paixão estar do lado de fora.
“Não é grande coisa, a menos que o vento esteja soprando.”
“Isso é lamentável. Prefiro estar do lado de fora do que estar dentro, mas
não tenho alergias.”
“Eu ficarei bem assim que minha medicação fizer efeito”, ela disse
distraidamente com sua mente sobre eles passando pelo local onde ela foi
presa. A casa situada em uma colina acima do estacionamento foi onde ela
puxou o volante da mão do caminhoneiro, que a forçou a acompanhá-lo até
a pequena cidade da qual ela nunca tinha ouvido falar; onde ela se viu
desembarcada em sua prisão. Era um lembrete gritante de como ela não
conseguiu encontrar Elizabeth antes que fosse acusada do crime que Kate
havia planejado. Alanna tinha certeza de que Kate estava por trás do plano
de extorquir Arin, a chefe de Elizabeth. Owen não conseguia amarrar os
próprios sapatos sem a ajuda de Kate.
Preocupada com seus pensamentos, ela enfiou a mão no bolso da
jaqueta para reafirmar que a medicação que a Sra. Bates colocou para ela
ainda estava segura dentro. Uma vez que ela voltasse a tomar a medicação,
o vento que falava com ela seria silenciado, e ela não teria que se preocupar
em escorregar e falar com alguém que não estava lá. Ela estava tomando
remédios quando confidenciou a Sam que podia falar com o vento, e ele
respondia. Ele contou à mãe, que ficou preocupada o suficiente para levá-la
a um psiquiatra.
Seu psiquiatra havia prescrito suas pílulas para bloquear a voz. Ela
aprendeu rapidamente que, embora tomar as pílulas a fizesse se sentir como
se estivesse vivendo em Marte, era melhor do que ter a Sra. Fields
reconsiderando ser sua mãe adotiva. Alanna via a preocupação em seus
olhos sempre que Sam estava na sala com ela. Com medo de ser mandada
de volta para a casa do grupo, ela os tomava.
Uma vez que ela se mudou para seu apartamento, ela se afastava dos
remédios, até que um colega de trabalho a ouviu conversando com alguém
sem ver ninguém por perto. O vento havia parado de falar com ela anos
antes, mas ela inevitavelmente se pegava pedindo conselhos quando estava
estressada com alguma coisa, mesmo sabendo que o vento não responderia.
Duas lições valiosas foram aprendidas da maneira mais difícil. As pessoas
tinham pavor de que alguém fosse diferente, especialmente se estivesse
envolvida com alguém ouvindo vozes e falando em voz alta consigo
mesma. Eles assumiam que você era uma psicopata que recebia ordens de
seus animais de estimação. A outra lição foi que manter a medicação em
seu sistema colocava um amortecedor no turbilhão emocional que a fazia
querer falar com seres de faz de conta toda vez que sentia uma brisa.
Silas virando em uma entrada, que não podia ser vista da estrada, trouxe
um nó em seu estômago. Em seu trabalho como corretora de imóveis, ela
tinha que parecer amigável e extrovertida. Por dentro, era um feixe de
nervos, monitorando seus movimentos e reações se chegassem muito perto
dela. Durante a pandemia, ela conseguiu manter um espaço entre ela e os
clientes sem chamar atenção. Ela se afastava se eles inadvertidamente
vinham a poucos centímetros dela.
Ela não estava ansiosa para conhecer um grupo tão grande de pessoas.
As lembranças de ser oprimida quando ela era criança e levada para a casa
do grupo voltavam para provocá-la.
Inesperadamente, a casa que Silas parou aliviou o nó em seu estômago.
Ela poderia dizer que a casa era velha, mas bem cuidada. Alanna podia
imaginar a casa de dois andares sendo usada em um calendário ou livro para
Southern Living com as árvores ao redor dando-lhe um cenário pitoresco.
Visões de uma grande mesa de jantar, com uma mãe cozinhando e crianças
brincando alegremente dentro, trouxeram um nó em sua garganta.
Uma família feliz foi perdida para ela com a morte de seus pais. Em vez
disso, ela cresceu com crianças que foram tiradas de sua vida sem nenhum
aviso prévio. Alguns anos, ela ia para a escola sem saber com quem estaria
dividindo o quarto naquela noite, ou pior, ter uma cama vazia onde antes
estava cheia com outra garota com quem ela dormiu por meses.
Por causa de Kate, ela aprendeu a nunca se apegar a nenhuma de suas
posses, mas ser uma tutelada do estado lhe ensinou que era igualmente
arriscado desenvolver qualquer afeição por qualquer pessoa com quem
entrasse em contato. Mesmo com a família Fields, ela nunca tinha
realmente dado a eles um lugar em seu coração, com muito medo de serem
arrancados de sua vida sem qualquer aviso.
Entregando-se a fantasias sobre como deve ter sido crescer na grande
casa, ela foi arrancada de suas imaginações pela abertura da porta da
caminhonete.
“Acho que resolvi o mistério de por que ninguém da sua família quer
sair deste lugar”, ela disse, saindo.
Silas ficou tenso quando ela saiu da caminhonete. Apressadamente, ela
se afastou, raciocinando que ele compartilhava o mesmo desgosto pelas
pessoas em seu espaço pessoal.
“Por que?” Ele perguntou, observando-a se afastar.
“Este lugar é lindo. Parece um filme da Hallmark.”
Silas fez uma careta. “Não, dificilmente. Não demorará muito para que
essa ilusão seja dissipada. Matthew e Isaac trabalham em um prédio não
muito longe daqui. Eles são conhecidos por xingar uma raia azul quando
uma de suas criações não aparece.”
“Criações?”
“Eles trabalham com metal”, ele explicou. “Passe lá a qualquer hora.
Matthew e Isaac adoram mostrar suas habilidades.”
Alanna não respondeu ao convite. A melhor parte do trabalho que Silas
estava lhe dando era a capacidade de trabalhar por conta própria. Foi seu
principal motivo para se tornar uma corretora de imóveis. Além de mostrar
casas, grande parte do trabalho era feito por telefone ou em seu escritório na
imobiliária. Além de cumprimentos evasivos e reuniões de grupo, a maior
parte de seu tempo havia sido passada sozinha.
“Deixe-me mostrar onde você vai morar.”
Ela esperava que ele continuasse em direção à casa grande, mas ele foi
para o lado. Surpresa, ela o seguiu, caminhando por duas pequenas
elevações.
Onde eles estavam indo? Ela nunca foi boa em sair de sua zona de
conforto. Manter sua vida em equilíbrio foi primordial para ela depois de
uma infância cheia de confusões. Ela conseguiu fazer isso até que Elizabeth
desapareceu e ela se viu em Treepoint. Tudo o que ela queria era voltar à
vida normal que fez para si mesma.
“Prédio de trabalho de Matthew e Isaac.” Silas apontou quando eles
passaram por uma estrutura solitária ao lado. Era do tamanho de uma
pequena casa.
As árvores que os cercavam ficaram mais densas. Tornando-se cautelosa
quando eles passaram por árvores caídas, Alanna se preparou para sair
correndo se Silas fizesse algum movimento brusco em direção a ela. Sua
imaginação estava começando a dominá-la, vendo como a propriedade dos
Coleman era isolada da cidade e das casas vizinhas.
“Quase lá. Desculpe a caminhada, mas achei que você apreciaria a
privacidade...”
“Depois de estar trancada na prisão?” Ela terminou para ele.
Silas deu-lhe um olhar divertido. “Para escapar de ser cercada pela
família.”
Corando, Alanna deu a ele um olhar envergonhado. “Desculpe. Eu
estava sendo supersensível.”
“Eu também estaria”, ele a desculpou, “se eu fosse preso por algo que
não fiz.”
Alanna olhou para ele interrogativamente. “Como você sabe que eu sou
inocente? Você só falou comigo por, tipo, quinze minutos no total.
“Além de ser um grande juiz de caráter, sei que você é inocente porque
Diamond Bates não a representaria de outra forma.”
Com sua explicação, ela sentiu como se um pequeno peso foi tirado de
seu orgulho ferido.
“Obrigada”, ela disse. “Aprecio você me dar uma chance enquanto
resolvo tudo com as autoridades.”
“Não me agradeça ainda.”
Desde que ela saiu da caminhonete, uma sensação estranha a tomou,
como se algo ou alguém estivesse ciente de que ela estava lá. Ela olhou para
Silas enquanto ele falava; medo a assaltou em sua expressão séria. Ficando
tensa, ela se preparou para correr se ele...
“Eu deveria ter perguntado isso antes de você aceitar minha oferta de
emprego”, ele continuou. “Há uma parte do trabalho que você pode não
querer fazer e que só uma mulher pode.”
Alanna engoliu o nó de medo em sua garganta. “O que?” Ela perguntou,
esperando o pior.
“Você já ordenhou uma cabra?”
Capítulo Seis

“Não.” Rompendo em uma risada aliviada, Alanna começou a andar


novamente. “Mas estou no jogo. Gosto de animais.”
“Você já esteve perto de cabras antes?”
“Não. Por quê?” Ela perguntou curiosa.
“Deixa pra lá então. São criaturas maravilhosas.”
Alanna finalmente percebeu que Silas a estava provocando, assim como
ele percebeu seu nervosismo.
“Existe uma razão pela qual apenas uma mulher pode ordenhar as
cabras?”
“Não. Nenhuma, a não ser que as cabras preferem o toque de uma
mulher. Ginny vai te mostrar como.”
“Ok.” Ela não sabia muito sobre animais e nunca esteve a menos de
dezesseis quilômetros de uma cabra. Pareciam fofas nas fotos. Ela não
podia imaginar que fosse difícil de fazer.
Saindo das árvores, Alanna viu um trailer em uma pequena clareira.
“Não parece muito”, Silas subiu os três degraus para abrir a porta de
metal.
Hesitante, ela subiu atrás dele para entrar no trailer. Ela estava no meio
do nada, com um homem que ela conhecia pouco ou nada. Se não fosse por
Greer Porter, ela teria pedido a Silas para levá-la de volta à cidade. Ela
viveu em grandes cidades toda a sua vida. Treepoint apresentava um choque
cultural após o outro.
O pequeno trailer sozinho, afastado dos vizinhos a uma distância de
gritos, fez seu pulso pular de medo. Ela era uma garota de coração da
cidade, então viver aqui seria um ajuste.
Ao entrar no trailer, ela ficou imediatamente impressionada com a
sensação de lar.
“Jody foi morar com Jacob para que você tivesse seu próprio lugar.”
O trailer estava mais longe da estrada, então, a menos que alguém
estivesse familiarizado com a propriedade dos Coleman, não seria visto. O
contra era que era ainda mais isolado do que ela esperava.
“Obrigada. Não quero que nenhum de vocês seja deslocado de sua casa
só para me acomodar. Eu seria perfeitamente feliz em qualquer lugar...”
“Jody não se importa. Ele geralmente está na casa de Jacob, de qualquer
maneira. Deixe-me mostrar-lhe ao redor. É pequeno, mas deve ter tudo o
que você precisa. Se precisar de algo, é só me avisar, e eu posso
encomendar para você. Pode levar alguns dias, a menos que precise mais
rápido, então eu posso ir para a cidade.”
“Você não vai para a cidade?”
“Não, a menos que eu precise. A maioria das empresas ou pessoas na
cidade não são muito amigáveis conosco. Receio que uma vez que as
pessoas saibam que você trabalha para nós, o tapete de boas-vindas não será
lançado.”
Alanna estava tentada a perguntar por que, mas não queria outro motivo
para pedir que a levasse de volta à cela no escritório do xerife. Além disso,
provavelmente todos na cidade presumiam que ela era culpada das
acusações feitas contra ela de qualquer maneira, e eles a contrataram. Ela
não estava exatamente em posição de atirar pedras em ninguém.
A sala tinha dois sofás macios, uma televisão de tela grande pendurada
na parede, e Alanna notou uma lareira elétrica.
“O espaço é muito maior do que eu esperava do lado de fora.”
"É por isso que Jody comprou”, Silas disse, parando na cozinha. “A
geladeira e o freezer estão cheios. Ginny verificou se tinha o básico.
Amanhã, mostrarei onde guardamos nossos suprimentos. Você pode pegar o
que quiser se não encontrar nada que lhe agrade aqui.”
Passando pela mesa com quatro cadeiras, eles seguiram por um pequeno
corredor. Um lindo vaso estava cheio de uma variedade de flores e no meio
da mesa.
“As flores são lindas.” Alanna fez uma pausa longa o suficiente para
tocar uma das delicadas flores.
“Ginny deve tê-las trazido quando estava aqui”, ele disse antes de seguir
em frente. “Isto é um banheiro.” Ele não abriu a porta enquanto caminhava
mais alguns passos para outra porta. Abrindo-a, ele entrou para acender a
luz. “Jody esvaziou a cômoda e o armário para você.”
“Não preciso de tanto espaço. Na verdade, não tenho nenhuma roupa
além do que estou vestindo.” Ela poderia muito bem ser honesta sobre isso,
ela disse a si mesma. Não é como se Silas e seus familiares não começariam
a notar quando ela aparecesse para trabalhar todos os dias usando a mesma
calça jeans clara e top sem mangas de renda azul.
Silas não se incomodou com sua admissão. “Diamond cuidou disso para
você. Ela disse que você não tinha suas próprias coisas, então escolheu
algumas coisas para você usar até que possa ir às compras. Disse apenas
para ligar para ela quando quiser fazer compras, e ela combinaria com o
xerife para que não tivesse problemas com o juiz.”
“Vou ter que ligar e agradecer a ela.” Olhando para Silas, ela baixou o
orgulho o suficiente para explicar: “Receio não ter amigos onde estão
minhas coisas, ou eu poderia ter pedido a eles que me enviassem algumas
das minhas roupas. A maior parte do meu tempo foi gasto trabalhando.”
Alanna sentiu-se ficar vermelha. Vários dos homens e mulheres com quem
ela havia trabalhado tentaram se tornar mais amigável, que ela havia os
evitado com uma variedade de desculpas para manter distância entre eles.
Ela odiava a ideia de Silas pensar que ela era uma perdedora total.
Ele lhe deu um sorriso compreensivo, o que acalmou seu orgulho
eriçado. “Diamond disse que você mora em Ohio?”
“Sim.”
“Eu não espero que o juiz lhe dê um passe para deixar o estado tão
cedo.”
“Não, ele não vai”, ela concordou. “Quando for paga, compro o que
preciso.”
“Os meninos estão sempre prontos para uma viagem. Veja as roupas que
Diamond lhe deu e faça uma lista de itens que quer de sua casa. Ginny e os
meninos podem ir no sábado.”
“Ginny? Eu não posso pedir...”
“Ginny está esperando para ir às compras há algumas semanas. Isso lhe
dará uma desculpa para visitar a cidade grande para fazer compras. Ela terá
uma menina desta vez e quer comprar todas as coisas femininas que perdeu
de comprar com Freddy.”
“Ainda...”
“Os meninos estão precisando de algumas coisas também. Você estaria
fazendo um favor a todos eles.”
Desanimada, Alanna sabia que não tinha escolha a não ser aceitar sua
ajuda. Quanto mais ela falava com Silas, mais começava a perceber que na
superfície, ele parecia descontraído e afável, mas de alguma forma ele
conseguiu levá-la na direção que queria que ela fosse. O pensamento a fez
caminhar aos solavancos até o armário para disfarçar sua reação. Ela estava
exagerando, disse a si, olhando dentro do armário para as roupas que a Sra.
Bates lhe enviou.
Algo a incomodava em Silas. Era inexplicável, mas havia um
pressentimento no fundo de sua mente tentando sair, e quanto mais ela
tentava interpretar o que estava tentando dizer, mais o sentimento recuava.
“Ginny tem o jantar na mesa. Espero que esteja com fome.”
Ela estava prestes a negar que sim, mas Silas não lhe deu a oportunidade
de recusar.
“Ginny está cozinhando o dia todo, então você terá sua escolha de
opções”, ele disse ironicamente. “Ela não queria ofender você se fosse
vegana, ou que há um tipo de comida que não gosta, então ela cobriu suas
bases.”
“Sua irmã não deveria ter tido nenhum problema por mim. Não quero
me impor nas reuniões de sua família...”
“Não é uma imposição. Você pode conhecer todo mundo, e eu preciso te
dar o celular quando estiver lá. Não vamos mantê-la fora por muito tempo,
prometo.” Silas acenou para ela em direção à porta do quarto.
Deixada sem escolha a não ser agir como uma cadela ingrata, Alanna
saiu da sala e saiu do trailer. Só quando eles estavam refazendo seus passos
para a casa de Silas ela percebeu que havia cedido a ele novamente. Ela
quase tropeçou em uma raiz de árvore saliente quando seu subconsciente a
avisou que Silas poderia parecer descontraído e compreensivo, enquanto na
realidade era mais um punho de ferro em uma luva de veludo.
“Cuidado”, Silas avisou.
“Eu vou...” Endireitando-se, Alanna viu o anexo onde Silas lhe disse
que seus irmãos trabalhavam. Prestes a dar mais um passo à frente, ela
estava baixando os olhos de volta para o chão quando a porta do prédio se
abriu e dois homens saíram.
Hipnotizada, Alanna esqueceu como andar, congelando no lugar. Ambos
os homens eram impressionantes de se olhar. Era difícil não olhar quando
nenhum dos dois usava camisa. Jeans desbotados abraçando amorosamente
seus quadris fez seus olhos saltarem para cima com os pensamentos
rebeldes que se materializavam em sua libido faminta.
Alanna nunca foi o tipo de mulher que se sentia atraída por homens com
músculos salientes ou abdominais duros como pedra. Esses eram os que ela
mais evitava por causa de Owen.
Ela ainda estava se parabenizando por dar ao primeiro a sair apenas uma
breve olhada quando seus olhos foram para o homem atrás dele e se
agarraram como alguém que se perdeu em um deserto seco e estava
morrendo de sede.
Ele tinha que ser uma miragem. Não havia homem que tivesse um rosto
como um deus grego e fosse dotado de um corpo para combinar que viveria
de bom grado em uma montanha, cercado por árvores em vez de deitado em
uma praia, cercado por uma variedade de belezas rechonchudas atendendo a
todos os seus desejos. e necessidade.
Trancando os joelhos para não cair de cara no chão, Alanna olhou para o
céu brilhante acima, tentando restaurar o equilíbrio que acabava de perder.
Respirando fundo, ela fez uma oração silenciosa em sua cabeça para que
sua língua se soltasse do céu da boca.
Por favor, não me deixe fazer papel de boba, ela acrescentou antes de
terminar a oração.
Talvez ele fosse apenas uma miragem...baixando os olhos do céu,
Alanna sentiu como se tivesse acabado de ser capturada em uma rede
dourada de borboletas. Ela estava presa por seu olhar quando um flashback
sombrio a fez recuar um passo.
Ela estava cara a cara com o homem que estava do lado de fora da porta
de sua cela três dias atrás, e de bom grado se deixou ser levada até a porta
dele.
Capítulo Sete

“O que você está fazendo aqui?”


Alanna estava abalada que quem ela estava começando a pensar que era
uma invenção de sua imaginação na verdade não era. As dúvidas que vinha
experimentando desde que deixou o tribunal estavam certas.
Tirando os olhos dos dois homens parados ao lado do prédio, ela lançou
um rápido olhar para Silas antes de voltar os olhos para os outros dois
homens. Nenhum deles pareceu chocado com sua pergunta abrupta.
“Eu moro aqui.”
“Alanna, estes são meus irmãos, Matthew...”
O que ela viu no escritório do xerife acenou com a cabeça para ela.
“...e Isaque.” A voz de Silas alterou, repreendendo. “Matthew só me
disse esta manhã, quando eu estava saindo, que ele foi preso e poderia ter
falado com você enquanto estava lá.”
Matthew fez uma careta. “Eu sabia que o gato estaria fora do saco
quando você me viu. Espero não ter dito nada para te desencorajar para o
trabalho. Receio não me lembrar muito daquela noite. Bebi algumas
bebidas a mais, juntamente com uma das plantas de Greer, então tenho que
admitir que a noite foi meio que um borrão.”
A maneira envergonhada que ele estava olhando para ela diminuiu a
tensão que estava sentindo.
“O policial te deu um baseado?”
Matthew riu do choque dela. “Ele não estava de serviço no momento.”
Silas pegou seu braço. “Estamos deixando os outros esperando.”
Isaac deu-lhe um sorriso tímido. “Nós íamos nos lavar. Dê-nos cinco, e
estaremos lá.”
Alanna deixou Silas levá-la até a casa. Ao passarem por sua
caminhonete, ela deu-lhe um olhar melancólico.
“Você não precisa se preocupar. Matthew não tem o hábito de fumar. Ele
estava comemorando.”
“Oh, tudo bem.” Alanna olhou para onde os irmãos de Silas estavam
jogando água um no outro de um barril ao lado de seu prédio.
Silas notou para onde ela estava olhando enquanto eles subiam os
degraus. “Matthew e Isaac são muito próximos. Eles passam a maior parte
do dia brigando um com o outro.”
“Eu vejo isso.” Alanna sentiu um aperto familiar em seu peito. Quantas
vezes ela ficou lamentando não ter irmãos? Mesmo agora, adulta, ela se
perguntava se seus pais planejavam ter mais filhos. O casamento deles teria
durado? Ela lamentou não apenas os pais cujas memórias ficavam mais
fracas a cada ano, mas também o futuro que eles teriam se tivessem vivido.
Silas lançou-lhe um olhar preocupado enquanto agarrava a maçaneta.
“Preparada?”
Alanna franziu o cenho para ele intrigada. “Existe algo para o qual eu
deveria estar preparada?”
“Só que podemos ser um pouco esmagadores porque somos muitos.”
Ela afrouxou a guarda, vendo que Silas queria que ela gostasse de sua
família. Ele estava fazendo incursões em seu desejo de manter uma
distância profissional entre ela e todos os Colemans. Ele era o tipo de irmão
que ela sempre desejou.
“Sempre quis uma família grande. Eu sou filha única”, ela disse a ele.
“Por mais frustrante que a minha possa ser, eu não trocaria de lugar por
uma menor.”
“Eu não culpo você.”
Silas abriu a porta, permitindo que ela entrasse primeiro.
Rostos expectantes se viraram quando ela entrou. O mar de machos
pararam em uníssono enquanto Silas a conduzia mais para dentro da sala.
“Olá”, ela os cumprimentou nervosamente.
“Olá”, todos disseram em uníssono.
“Eu estava me perguntando quanto tempo você levaria. Estava prestes a
colocar o assado de volta no forno para mantê-lo aquecido.”
Uma voz feminina alegre fez Alanna virar a cabeça para a mulher que
ela não tinha notado de pé ao lado da maior mesa que ela já viu. Cada
centímetro da mesa estava cheio de pratos vazios esperando para serem
preenchidos, e o resto ocupado com uma miscelânea de pratos que fez seu
estômago roncar.
“Silas”, a mulher sorriu, quebrando o momento constrangedor, “é
melhor você fazer as apresentações rápido. Eu ouço seu estômago roncando
daqui.”
Ruborizando, Alanna deu-lhe um olhar agradecido por tentar poupar
seus sentimentos. “Receio que seja eu.” Colocando a mão no estômago para
abafar os sons retumbantes, Alanna se arrependeu de não ter comido o café
da manhã que o policial Porter havia levado. “Eu estava muito nervosa para
tomar café da manhã esta manhã.”
Muito bem, Alanna, ela repreendeu a si, apenas deixou escapar que
acabou de sair de uma audiência no tribunal.
Ficando ainda mais envergonhada, ela não percebeu que seu lábio
inferior começou a tremer.
A mulher deu a volta na mesa para dar os braços a ela. “Eu também
fiquei nervosa na primeira vez que os conheci”, ela confidenciou em um
sussurro alto. “Estava tão nervosa que tudo que eu queria comer era molho
de cranberry. É uma comida reconfortante para mim.”
Dando-lhe um sorriso caloroso, a mulher se apresentou: “Sou Ginny.”
Afastando-a da porta, a mulher apontou para a fila de homens que
começava perto de Silas. “Esse é Jody. Ao lado dele está Jacob, depois
Moses, Ezra, e o mais novo é o nosso Fynn. Não deixe sua altura enganar
você. Ele só tem doze anos, então se o pegar jogando seus jogos de
computador antes de terminar o dever de casa, diga a Silas.”
“Ginny...” O garoto deu um gemido alto.
“Ele vai jogar os jogos sem parar se não ficarmos de olho nele. Ele ficou
bom em se infiltrar nas casas dos outros meninos para jogar seus jogos se
Silas estiver aqui.” Dando a seu irmão mais novo um olhar brincalhão, ela
soltou o braço de Alanna para se mover em direção ao último homem, a
quem ela ainda não foi apresentada, e pegou a criança de seus braços para
acomodá-lo confortavelmente em seu quadril.
“E por último, mas não menos importante”, ela disse, dando ao homem
um sorriso amoroso que a fez captar o amor aparente entre os dois, “meu
marido, Gavin. E quem está mastigando seu punho é Freddy.”
Ela adorava bebês. Se o homem intimidador não estivesse tão perto dele,
ela não seria capaz de evitar tocar a criança.
“Ele é lindo”, ela disse suavemente, olhando para a criança
melancolicamente e vendo que ela estava esperando novamente.
“Gostamos de pensar que sim.” Ginny deu a ela um olhar questionador.
“Você gostaria de segurá-lo?”
Alanna ergueu os olhos da criança para o pai. Em seu aceno, Alanna
estendeu os braços.
Ginny deu a ela um olhar curioso pelo movimento, mas trouxe a criança
para mais perto dela. Alanna pegou o bebê e o colocou em seu quadril da
mesma forma que Ginny tinha feito.
“Você esteve perto de crianças.” Ginny sorriu, puxando o cabelo para
longe dos dedos do filho.
Alanna sorriu também. “Fui colocada em uma casa de grupo quando
meus pais morreram. Em emergências, às vezes, eles tinham que acolher
crianças mais novas até que um pai adotivo estivesse disponível. A equipe
sempre me deixava segurá-los quando não conseguiam fazê-los parar de
chorar.” Alanna usou o babador para enxugar a baba que deslizava pelo
braço gorducho de Freddy.
“Eles se sentiam seguros com você”, Ginny disse, alisando o cabelo do
filho.
Alanna respirou o cheiro de talco de bebê que sempre preenchia o vazio
constante de solidão que ela vivia todos os dias. “Eu sabia que eles estavam
com medo.” Ela automaticamente embalou a criança quando ele começou a
chorar depois que sua mão escorregou de sua boca. Encontrando-a
novamente, ele ficou satisfeito mais uma vez.
A porta se abrindo atrás deles fez Alanna virar a cabeça para ver
Matthew e Isaac entrando.
"Bom. Agora podemos comer”, Ginny proclamou.
Alanna sentiu-se corar quando os olhos de Matthew pousaram sobre ela
segurando a criança. Ela poderia jurar que sentiu seu útero se contraindo
com a maneira como ele a olhava. Enterrando o rosto no pescoço do
menino, ela respirou seu perfume calmante.
“Alanna, você se importa de prender Freddy em sua cadeira alta para
mim? Gavin, você pode levar o assado para a mesa? Rapazes, sentem-se
antes que a comida esfrie.”
Aliviada por ter uma desculpa para se afastar do olhar de Matthew, ela
carregou Freddy para sua cadeira alta. Certificando-se de que ele estava
seguro, ela não se sentou imediatamente quando terminou.
“Alanna, você pode se sentar ao meu lado.” Silas tirou uma cadeira de
debaixo da mesa.
Tomando o assento, ela viu Matthew sentado do outro lado da mesa.
Ele sorriu, sem vergonha de ser pego olhando para ela. “Espero que
esteja com fome. Ela cozinhou o suficiente para alimentar um exército.”
Alanna olhou ao redor da mesa enorme, aproveitando a oportunidade
para quebrar o contato visual. “Sua família é do tamanho de um.”
Sua expressão ficou séria. “Nós somos. Protegemos os nossos.”
Seus olhos voaram de volta para os dele, sentindo um duplo significado
por trás de suas palavras. Matthew estava avisando? Claro, ele estava. Por
que ele não iria? Ela tinha acabado de ser libertada da prisão, e o monitor de
tornozelo estava claramente visível.
Mordendo o lábio inferior, ela rapidamente olhou para o prato vazio.
“Eu nunca faria nada para quebrar a confiança que Silas me deu.”
“Alanna, olhe para mim.”
A voz firme de Matthew a fez erguer os olhos.
“Eu não quis dizer isso do jeito que você entendeu.” Seu
comportamento tinha a mesma seriedade que tinha mostrado fora de sua
cela. “Eu quero que se sinta segura aqui. Ninguém entra na nossa
propriedade sem a nossa aprovação. Após o jantar, Moses irá apresentá-la
aos seus cães para que eles possam sentir o seu cheiro. Qualquer um que der
um passo em nossa propriedade sem ser convidado não irá muito longe
antes de se ver subindo em uma árvore para escapar deles.”
“Não a assuste.” Silas entregou-lhe um prato de costeletas de porco.
“Não se preocupe. Moses treina cães para viver. Uma vez que eles tenham o
seu cheiro, você nunca saberá que eles estão por perto.”
Alanna entregou o prato de costeletas de porco para Fynn, que havia se
sentado ao lado dela, antes de olhar para o cachorro deitado contente na
frente da lareira.
“Suki é o cachorro de Gavin”, Silas disse a ela, passando a ela uma cesta
de biscoitos.
Vários minutos se passaram com ela enchendo seu prato. Permanecendo
quieta, começou a comer, sem ouvir as conversas que aconteciam entre os
irmãos. Discretamente, ela os estudou enquanto comia. Nenhum deles
realmente se parecia um com o outro. Matthew e Isaac eram mais
musculosos que seus irmãos. Silas e Moses eram mais magros, enquanto
Jacob era mais musculoso. Seus cabelos também variavam de cor.
“Vá em frente e pergunte.” Os lábios de Matthew se curvaram em
diversão.
“Com licença?” Consciente de que foi pega olhando, ela quase engasgou
com um pedaço de comida.
“Nenhum de nós realmente se parece. Isso porque cada um de nós tem
mães diferentes.”
Seus olhos se arregalaram, então ela moveu seu olhar ao redor da mesa,
sua mente trabalhando mesmo que Silas disse a ela quantos irmãos ele
tinha.
“Seu pai foi casado sete vezes?” Alanna conseguiu sufocar, cobrindo a
boca com um guardanapo.
“Ele era um homem muito amoroso”, Ginny disse com veemência
quando a mesa inteira caiu na gargalhada.
“Ele era isso.” Matthew assentiu com a cabeça. “Mas ele não se casou
com nenhuma de nossas oito mães.”
“Oito?” Alanna baixou o guardanapo.
“Eu sou adotada”, Ginny explicou com olhos tristes. “Tínhamos uma
irmã, Leah, que morreu quando era mais nova. Leah e Ezra compartilham a
mesma mãe.”
“Sinto muito pela sua perda.”
A expressão cheia de dor de Matthew a fez querer consolá-lo.
“Perdemos papai e Leah ao mesmo tempo. Foi difícil por um tempo,
mas está melhorando. Little Freddy nos lembra muito papai.”
“Vamos torcer para que não puxe a ele em pelo menos uma
característica”, Gavin falou pela primeira vez desde que ela entrou na casa.
Alanna sentiu seus lábios se contorcendo em diversão com a maneira
irônica que Gavin estava olhando para seu filho inocente.
“Gavin jura que vai assistir Freddy como um falcão.”
“Acho que você está em apuros.” Alanna não resistiu em provocar o
homem sombrio. Então algo lhe ocorreu assim que ela disse isso. “Freddy é
o único neto?”
“Até aqui. Estamos esperando outro no verão.”
Com exceção de Fynn, todos os outros Colemans tinham idade
suficiente para começar suas próprias famílias.
“Você tem uma pergunta?” Matthew viu a pergunta que ela estava com
vergonha de fazer.
“Não.” Alcançando seu garfo, ela empurrou um bocado de comida em
sua boca para mantê-la ocupada.
“Não tenha vergonha.”
Sua virilha começou a apertar na forma como ele olhava para ela.
“Nenhum dos meus irmãos ou eu tentamos acompanhar o recorde do
nosso pai.”
“Não é da minha conta”, ela conseguiu dizer.
“Não se incomode. Todos esperavam que seguíssemos seus passos no
que diz respeito às mulheres. Até agora, ficaram desapontados que suas
previsões não se tornaram realidade. Nenhum de nós está namorando
alguém à noite.”
Alanna não podia acreditar no que ele estava dizendo a ela. Não havia
como sete homens terem a aparência desses homens, e nenhum deles ter
namorada.
Alanna olhou para Ginny, pensando que ela iria impedir os homens de
puxar sua perna. “Ele está brincando?”
Ginny balançou a cabeça. “Matthew está dizendo a verdade. Nenhum
deles namora.”
“Por que não?” Ela esperou pela piada, ainda não acreditando.
Perfurando um brócolis com o garfo, ela olhou para cima para ver Matthew
olhando para ela atentamente.
“Estamos esperando nossas almas gêmeas.”
Capítulo Oito

O silêncio à mesa tornou-se palpável depois que ele revelou a verdade.


Matthew ignorou o chute debaixo da mesa que Isaac lhe deu, sem tirar o
olhar de Alanna.
“Sim...bem...”
Do jeito que ela estava olhando ao redor da mesa, pensou que ele estava
brincando com ela. Ele não estava. Ele nunca foi mais sério em sua vida.
“Acho que nunca ouvi um homem esperando por sua alma gêmea.”
Silas limpou a garganta. “Aqui. Experimente as batatas doces.”
Passando as batatas para Alanna, Silas lançou a Matthew um olhar de
advertência.
Matthew voltou a comer a comida que tinha gosto de papelão.
“Gavin é minha alma gêmea.” Ginny colocou a mão no braço de Gavin.
“Estamos muito felizes. Meus irmãos estão determinados a me superar.”
Ginny cutucou Gavin de brincadeira com o ombro. “Ele também não
acreditava em almas gêmeas. Eu tive que ensiná-lo. Demorei um pouco,
mas acho que agora ele sabe. Ou isso, ou está apenas me pacificando”, ela
provocou.
Matthew deu à sua irmã um sorriso agradecido, tentando não cair na
gargalhada com a reação de Gavin ao se ver sendo retirado da linha lateral.
“Nós somos almas gêmeas.” Gavin disse, dando a sua esposa um olhar
ameaçador por colocá-lo no local.
Matthew finalmente pôde apreciar a comida em seu prato. A miséria
adora companhia.
O embaraço de Gavin não era nada parecido com a miséria com que
estava lidando desde que viu Alanna. Tudo o que ele queria fazer quando
saiu de sua loja e a viu foi pegá-la, carregá-la para seu trailer, trancar a porta
e nunca a deixar sair.
Alcançando seu copo de chá, ele teve que firmar sua mão antes de pegá-
lo.
Esperar por Alanna havia testado sua resistência. Foram apenas as
repercussões com as quais sua família seria punida que o impediram de ter
uma oportunidade de se inserir em sua vida antes que as estrelas
determinassem que se encontrariam.
Ele teve que dizer a si que não era o único sofrendo por esperar. Todos
os seus irmãos estavam esperando sua hora chegar. Alguns, como Isaac e
ele, estavam perto de seus pontos de ruptura, enquanto Ezra e Fynn ainda
estavam se conformando com o fato de que seus corações foram feitos para
uma certa garota.
Matthew simpatizava com eles. Enquanto ele não lutava para ter uma
alma gêmea, Isaac não cedia facilmente. Cada um de seus irmãos tratou a
mão que recebeu das estrelas de forma diferente. Silas, Moses e ele estavam
esperando por suas almas gêmeas. Isaac, Jody e Ezra tentaram vencer as
estrelas, estando com outras mulheres além de suas almas gêmeas. Jody e
Ezra pararam rapidamente. Matthew não perguntou por que, nem queria
saber. Ele podia ver o arrependimento em seus olhos.
Isaac era diferente; ele sempre foi. De todos os seus irmãos, ele era o
mais próximo de Isaac, mas de outras maneiras, ele era o menos parecido
com ele. Isaac andava no mundo das sombras, e cada vez que o fazia,
Matthew temia que ele não voltasse.
“Apenas uma criança tão bonita quanto Freddy poderia ser criada por
esse tipo de vínculo especial.”
Matthew estava olhando para Alanna quando ela começou a falar, e o
amor que sentia por ela se aprofundou. Ele não teve que olhar para Ginny
para ver que Alanna havia roubado seu coração também.
“Obrigada.” Ginny puxou o prato de rosbife para mais perto dela.
Alanna balançou a cabeça. “Se eu comer mais, vou explodir.”
Ginny começou a parecer chateada. “Você não comeu a sobremesa.”
Levantando-se da mesa, ela foi até a cozinha e voltou com uma trufa de
morango.
Matthew escondeu o sorriso quando Alanna deu uma olhada na trufa e
seus olhos se arregalaram de prazer.
“Eu amo morangos.”
Sua irmã sorriu enquanto distribuía pratos de sobremesa. “Silas, você se
importa de pegar a cafeteira?”
Silas foi até a cozinha, trazendo a cafeteira e segurando um celular na
outra mão. “Eu vou configurar o celular para você.”
Matthew observou enquanto Silas se sentava novamente quando Ginny
servia uma porção generosa da trufa no prato de Alanna.
“Posso ter um pouco mais?” Ela perguntou, não pegando seu prato de
volta. “Trufa de morango é minha sobremesa favorita.”
Ginny deu a ela outra colher generosa.
“Obrigada.” Corando, Alanna colocou seu prato de sobremesa na mesa e
imediatamente espetou um garfo em um morango enorme com um montão
de chantilly. Ela lambeu o chantilly antes de comer a fruta.
Imaginando-a lambendo outra coisa, ele não prestou atenção em Ginny
enchendo seu prato.
Cutucando o ombro dele com o quadril, Ginny o forçou a voltar à
consciência do jeito faminto que ele estava observando Alanna.
Todos na mesa começaram a fazer esforços exagerados para comer seus
morangos de uma forma que zombava dele olhando para ela. Depois de dar
a cada um de seus irmãos olhares ameaçadores, ele manteve o olhar baixo
em seu próprio prato.
“Aqui está, Ginny”, Silas disse, dando o celular para Ginny. “Você pode
colocar o seu número de celular e o de Gavin e depois passar adiante.”
Silas voltou sua atenção para Alanna. “Amanhã de manhã, Ginny vai te
levar pelo resto da propriedade, te mostrar os trabalhos que vai assumir para
ela. Você pode começar a trabalhar na segunda-feira.”
“Mas...faltam três dias. Eu posso trabalhar neste fim de semana”,
Alanna protestou.
“Segunda-feira é breve. Seu salário é de segunda a sexta. Amanhã não é
dia de folga. Quando ela terminar de te mostrar, você vai precisar de sexta-
feira de folga. Você também pode usar a sexta-feira para fazer uma lista do
que quer na sua casa para que Ginny possa fazer as malas para você.”
Ele voltou sua atenção para sua irmã. “Matthew e Isaac se ofereceram
para levá-la. Eles sabem que você está querendo fazer compras.”
“Não precisa.” Alanna olhou para Ginny preocupada. “Eu não quero
colocar nenhum de vocês para fora. Eu posso fazer isso...”
“Você estará fazendo um favor a ela.” Foi Gavin quem pôs fim aos
protestos dela. “Ela está me pedindo para levá-la. Isso dará a mim e ao
Freddy um dia de meninos.”
Ao contrário de Silas, Alanna não discutiu com Gavin. Os rápidos
dardos de medo que ela continuava lançando na direção de Gavin
mostraram que estava com medo dele.
“Vou lavar a louça.” Levantando-se da mesa, Alanna começou a
recolher os pratos sujos.
“Deixe-os. É a vez de Fynn e Jody.” Matthew se levantou da mesa para
tirar os pratos dela. “Isaac, digite meu número para ela”, ele disse por cima
do ombro enquanto carregava os pratos para a pia.
Quando saiu da cozinha, ele viu Alanna saindo pela porta da frente com
Moses, Gavin e Ginny carregando Freddy. Correndo para frente, ele estava
seguindo Ginny quando Silas o puxou de volta, fechando a porta.
“Gavin e Ginny vão levá-la de volta ao trailer.”
Matthew tirou a mão de Silas do seu braço. “Eu vou andar com ela...”
“Não, você não vai.” Silas manobrou na frente da porta, impedindo-o de
sair.
“Mexa-se, Silas.”
“Não. Você vai assustá-la se for muito intenso. Depois que ela te viu,
fiquei com medo que fosse pegar a caminhonete em vez de entrar pela porta
da frente. Não perca a cabeça quando está tão perto de ter tudo.”
Sua mandíbula se projetou teimosamente. “Mova-se...eu só quero falar
com ela um pouco mais.”
Isaac, Jody, Ezra e Fynn se moveram na frente de Silas.
Isaac levantou uma sobrancelha para ele. “Nós dois sabemos que você
está querendo mais do que falar. Se Silas pode agir normalmente na frente
de sua mulher por anos, então você também pode, por algumas semanas, até
que ela o conheça melhor.”
“Ela me conhece.”
“Ela acha que você é uma invenção da imaginação dela. Acha que nós
dois somos”, Silas disse atrás de seus irmãos. “Você não viu o rosto dela
quando percebeu que você esteve na cadeia com ela. Você perdeu como ela
não tirou Freddy de Ginny até que ela se afastou de Gavin.” Silas deu um
suspiro profundo. “Quando ela se sentir confortável com você e com o resto
de nós, será mais fácil contar a ela.”
“Como ela vai se sentir confortável comigo quando você nem me deixa
acompanhá-la até o trailer?” Matthew passou a mão trêmula pelo cabelo
cortado rente.
“Eu não disse que você não pode estar perto dela, só não esta noite. Suas
emoções estão por toda parte. Inferno, eu pensei que você ia pular sobre a
mesa quando ela estava comendo a sobremesa.”
Correndo em direção ao sofá, ele se jogou nele irritado. Saber que seu
irmão estava certo não tornava mais fácil admitir.
“Isso é uma merda”, ele gemeu, enterrando a cabeça nas mãos.
“Fynn, Ezra, vocês podem começar a lavar a louça”, Silas ordenou.
Matthew sentiu o sofá afundar ao lado dele. Então Silas colocou uma
mão reconfortante em suas costas. “Poderia ser pior.”
“Quão?” Matthew levantou a cabeça para encarar seu irmão mais velho.
Silas observou Fynn sair da sala antes de lhe dar um sorriso malicioso.
“Você pode ter bolas azuis, mas pelo menos não tem um caso de enjoo
matinal, como Ginny geralmente tem”, ele disse significativamente.
Matthew franziu a testa, pensando que Silas tinha perdido o controle.
Então a compreensão surgiu. Estendendo a mão para o lado, ele puxou a
alavanca para levantar a poltrona.
“Você quer assistir ao jogo?” Ele não poderia suportar outra noite
solitária em seu trailer, não quando Alanna estava a poucos passos dele.
Silas deu-lhe outro tapinha, levantando-se. “Vou pegar a cerveja.”
Isaac se sentou em frente a ele no outro sofá, ficando confortável.
“Pegue uma para mim também.” Isaac lançou um sorriso em sua direção.
“E pode me trazer um pouco mais daquela trufa de morango? Certifique-se
de colocar bastante...”
Matthew não deixou Isaac terminar o que estava prestes a dizer. Ele não
podia. Um punho estava bloqueando suas vias aéreas.
Capítulo Nove

Matthew olhou a hora no celular. Às oito era cedo demais? Incapaz de


andar em torno de seu trailer mais um segundo, ele saiu.
Respirando fundo, ele foi até a casa de Silas. Depois de se servir de uma
xícara de café, ele descarregou a máquina de lavar louça que Fynn e Ezra
ligaram na noite anterior. Será um dos trabalhos que será dado a Alanna
assim que ela começar a trabalhar. Um trabalho simples que se tornou
hábito para todos os irmãos quando passavam pela casa. Todos contribuíam
para fazer as tarefas domésticas principais para que Silas pudesse entrar em
uma casa limpa. Seu irmão mais velho fazia a maior parte do trabalho na
montanha, apenas tirando-os de suas atividades quando precisava de sua
ajuda.
Despejando outra xícara em uma garrafa térmica, ele abasteceu uma
nova garrafa. Silas começava a primeira garrafa do dia quando acordava,
normalmente por volta das seis. Ao longo do dia, várias outras garrafas
seriam feitas por quem esvaziasse a última.
Seus irmãos e ele tinham suas próprias garrafas de café, mas era um
hábito passar na de Silas — a dele tinha um gosto melhor. Ele não sabia por
que, já que tinham a mesma configuração de café que Silas.
Olhando para a hora na cafeteira, Matthew levou sua xícara de café e a
garrafa térmica para fora, indo em direção ao trailer de Jody. Pela fumaça
que saía da oficina, Isaac estava terminando o pedido de um portão de ferro
que eles deveriam montar na segunda-feira.
Seu coração começou a bater forte quando ele se aproximou do trailer
onde Alanna estava hospedada. Colocando a garrafa térmica extra na dobra
do outro braço, ele passou a mão pelo cabelo. Conseguiu um corte apenas
anteontem. Alanna preferia homens com cabelo mais curto.
Batendo na porta, ele esperou ansiosamente que ela respondesse.
Quando não respondeu imediatamente, ele franziu a testa, batendo
novamente. Ele estava prestes a pegar seu telefone celular para ligar para
ela quando a porta se abriu para revelar uma Alanna grogue segurando um
sapato na mão.
“Desculpe. Eu dormi demais.” Esticando o pescoço para olhar por cima
do ombro dele, ela segurou a beirada da porta, como se estivesse pronta
para fechá-la na cara dele. “Espero que sua irmã não esteja esperando por
mim.”
“Ginny está indisposta, então me ligou e pediu para mostrar a você. Ela
deverá estar se sentindo melhor quando chegarmos à casa dela.”
“Oh, tudo bem. Apenas me dê um segundo para colocar meu sapato.”
Matthew ergueu uma sobrancelha quando ela fechou a porta. Que
porra? Ela acha que vou pular nela se me deixar entrar?
Descendo os degraus, ele esperou que ela saísse.
Ela está apenas nervosa, como eu estou, ele pensou dando-lhe um
sorriso tranquilizador quando ela saiu.
“Desculpe deixá-lo esperando, eu tive problemas para dormir. Fiquei
ouvindo coisas se movendo aqui fora. Eu moro em um arranha-céu, então
estar aqui no deserto vai levar algum tempo para me acostumar.”
Ela considera isso o deserto? Talvez seja, e ele estava tão acostumado
com isso que estava errado.
“Você está bem. Podemos começar na casa de Silas, e posso lhe mostrar
as tarefas de lá e seguir para o resto dos lugares.
“Ok.”
“Trouxe um pouco de café para você.” Ele começou a entregar-lhe a
garrafa térmica.
“Não, obrigada. Eu não tomo café.”
Desde quando?
Alanna estendeu a mão para pegá-la. “Eu posso carregá-la, no entanto.”
“Eu posso.”
Então, ela parou de tomar café. Ele deu de ombros mentalmente. Por
que ele se importava? Porque contava com o conhecimento de todos os
gostos e desgostos dela para deixá-la ainda mais confortável com ele.
Esperou tanto por ela. Esperava que estar familiarizado com as coisas que
ela gostava fosse uma espécie de atalho para ele.
Silas lhe fez um favor ao impedi-lo de levá-la para casa. Ele poderia ter
se fodido dizendo a coisa errada.
Procurando deixá-la à vontade, ele começou a falar. “Os sons que você
ouviu provavelmente eram de guaxinins ou gambás. Eles saem à noite. Não
se preocupe; eles têm mais medo de você do que terá deles. Basta bater uma
panela e eles decolam.”
“Eles podem entrar no trailer?”
“Não”, ele assegurou a ela, vendo a preocupação em seu olhar.
Chegando à casa de Silas, ele segurou a porta aberta para ela. Vendo sua
hesitação, afastou-se da porta para que ela não tivesse que passar por ele. A
mulher era mais arisca que um gato em torno de uma matilha de cães.
Indo para dentro, ele a dirigiu para a cozinha, deixando-a ir primeiro,
mantendo-se alguns passos atrás dela.
“Sua irmã cozinhou a grande refeição que comemos ontem nesta
cozinha?”
Matthew franziu a testa para sua expressão chocada. “Sim. Por quê?”
“Nada. É simplesmente menor do que eu esperava”, ela disse, olhando
ao redor da cozinha.
“Silas estava querendo reformá-la, mas decidiu esperar e deixar para
quem ele se casar fazer do jeito que ela quer.”
Alanna deu-lhe um sorriso divertido. “Ele está namorando alguém?”
Ela acha que eu estava mentindo ontem?
“Não.”
“Ele está esperando por sua alma gêmea também?”
Matthew percebeu que ela não acreditou nele nem por um segundo.
Com medo de parecer assustador, ele a distraiu mostrando como encher
a máquina de café. “Quando esta luz fica vermelha, a máquina precisa ser
limpa.” Depois de mostrar a ela embaixo do balcão onde estavam os
produtos de limpeza para a máquina, ele fez um novo café antes de
derramar o que havia feito para ela no ralo.
“Eu não queria que fosse desperdiçado”, ela disse, percebendo o que ele
estava fazendo. “Achei que você fosse beber.”
“Eu não tomo creme e açúcar.” Lavando a garrafa térmica, ele a secou
antes de colocá-la de volta no armário.
“Como você sabia como eu costumava beber meu café?”
“A maioria das mulheres não bebe com açúcar e creme?” Abrindo a
gaveta do freezer, ele escondeu sua expressão enquanto pegava dois pacotes
de carne congelada de hambúrguer, que já foi cozida em um grande lote e
depois separada em porções de meio quilo.
“Silas geralmente sai de casa às seis. A principal tarefa pela qual você
será responsável é descarregar a máquina de lavar louça, certificar-se de que
há café suficiente para quem vier e começar o jantar para Silas. Se alguém
vier aqui antes de você, a máquina de lavar louça já estará descarregada. É
um hábito que temos desde crianças. Cada um de nós se reveza no
carregamento da máquina de lavar louça na noite anterior, dependendo de
quem vem comer com Silas.”
“A máquina de lavar louça já estava descarregada. Alguém já esteve
aqui?”
“Fui eu. Todos nós começamos bem cedo. Todos nós passamos para
tomar café e garantir que Fynn não perdeu o ônibus escolar.”
Alanna assentiu. “Vou me certificar de chegar cedo, então.”
“Você pode definir sua própria programação. Ginny sabe. Vamos deixá-
la começar a refeição. Nós odiamos essa tarefa. A única diferença seria
definir em baixo ou alto, dependendo da hora que você chegar aqui.”
Matthew apontou para uma placa de plástico branca pendurada na porta
da despensa. Os dias da semana estavam escritos com as refeições embaixo.
“Esta noite é chili. Tudo o que você precisa fazer é”, Matthew abriu uma
gaveta embaixo do pote de barro para tirar um caderno de três anéis, “virar
para o chili e seguir as instruções.”
Matthew esperava que ela se aproximasse para olhar o caderno. Quando
ela não o fez, ele se afastou para dar-lhe espaço.
“Os pacotes de temperos e os ingredientes enlatados estão na despensa.”
Dando dois passos para o lado, ele abriu a grande despensa, que continha
um freezer. Quando ela não entrou, ele mesmo reuniu os ingredientes e os
carregou até o balcão, certificando-se de dar espaço suficiente a ela. Então
colocou os ingredientes na panela elétrica. Apertando o botão, ele se virou
para ver que ela estava parada na porta. Descartando o lixo e reciclando as
latas, ele se virou para ela.
“Nós terminamos aqui...vamos para o trailer de Isaac.”
Alanna franziu a testa para ele. “Eu não preciso fazer mais nada antes de
sair?”
“Não, isso é praticamente tudo. Silas leva o lixo para fora de manhã, e
Fynn lava os pratos do café da manhã e os guarda.”
Ela estava fora da porta da frente antes que ele pudesse passar pela sala
de jantar.
O que diabos está acontecendo com ela?
Determinado a ser otimista, ele tentou atraí-la para uma conversa.
Apontou onde Isaac e ele trabalhavam, apenas para ser informado que Silas
já havia contado a ela. Cada vez que ele tentava falar com ela, ela ficava
atrás dele até que ele sentisse que estava falando sozinho.
Na casa de Isaac, não havia muito para mostrar a ela. Ele deve ter feito
uma limpeza profunda em preparação para a chegada de Alanna.
“Isaac deixará um bilhete se precisar de uma tarefa. Parece que tudo o
que ele precisa hoje é de alguns bifes do freezer principal. Eu posso trazê-
los no meu caminho de volta para minha casa.”
Alanna olhou ao redor da casa que Isaac e ele compraram online e
construíram juntos.
Ela saiu da cozinha e explorou o resto da casa, voltando com uma
carranca. “Ele nem me deixou a cama para fazer.”
“Estamos acostumados a ser autossuficiente.”
Deixando a de Isaac, ele foi para a de Jacob.
“Tudo o que eles precisam é que você coloque as roupas na secadora e
pegue sabão em pó na despensa. Vou deixar isso para você.”
Saindo do trailer de segunda mão de Jacob, ele a conduziu por uma área
densamente arborizada.
Quando se aproximaram do fim, ele parou e estendeu a mão para pegar
o braço dela. Ela o estava seguindo com a cabeça baixa e viu que ele havia
parado. Ao seu toque, ela empurrou o braço para longe, levantando os olhos
assustados para ele.
“Estava apenas tentando...” ele começou quando ela correu para frente.
“Alanna, pare!” Correndo, ele mal conseguiu pegá-la pela cintura.
“Não me toque!” Ela gritou, atingindo-o na mão enrolada em sua
cintura. “Nunca coloque suas mãos imundas em mim!”
Contendo suas lutas, ele caminhou para trás com ela, em seguida, virou-
se novamente para que ela pudesse ter uma visão melhor.
“Olhe.” Sacudindo-a para fazê-la parar de lutar com ele, ele a segurou
firmemente com uma mão antes de empurrar sua cabeça para baixo. “Você
teria caído se eu não tivesse parado você.”
Capítulo Dez

Forçando-se a olhar, Alanna viu que foi para a beira de uma colina íngreme.
Abaixo havia uma casa, um cercado e dois prédios de metal.
“Sinto muito. Obrigada. Eu reagi mal...” ela conseguiu engasgar,
sentindo as mãos dele se afastarem dela.
“Está bem. Eu deveria ter avisado que estávamos chegando a um ponto
de barranco.”
Alanna mordeu o lábio com a forma dura como ele falava com ela.
“Aqui está como descemos.” Matthew começou a descer o caminho.
Ela não teve que andar lentamente atrás dele para impedi-lo de falar
com ela; ele havia parado. Nem se virou para ver se ela estava tendo algum
problema em descer a colina.
Alanna queria explodir em lágrimas com o olhar magoado que ela viu
em seu rosto quando gritou com ele.
No final, ele entrou em um dos prédios, sem esperar por ela.
Ela caminhou até a porta e o viu acendendo a luz. Entrando mais para
dentro, ela então observou enquanto ele caminhava em direção a vários
freezers.
“Em cima do freezer há uma lista do que está dentro. Quando você tirar
algo, marque-o para que Silas possa acompanhar o que precisa comprar.”
Abrindo um freezer, Matthew tirou dois bifes antes de fechá-lo. Ele pegou a
caneta nanquim pendurada na parede e ela o viu escrevendo no papel.
Olhou ao redor do prédio; lembrou-lhe uma pequena loja, com
diferentes prateleiras contendo uma variedade de itens.
Matthew desapareceu atrás de uma estante para voltar com um frasco de
detergente. Parando perto do freezer, ele fez uma pausa. “Podemos ir para o
outro prédio.”
Quando ela não se moveu, e ele também não, ela percebeu que ele
esperava que ela se movesse da porta. Corando, ela deu um passo para trás.
Ele estava claramente mostrando a ela que a mensagem que
intencionalmente estava dando a ele esta manhã foi recebida.
Não é isso que você queria? Ela deliberadamente se propôs a manter a
conversa em termos de empregado e empregador, então por que se sentia
como se tivesse acabado de arruinar algo especial? Esperar ter um dia
difícil depois de uma noite quase sem dormir provou ser verdade. Ainda
assim, nunca teria adivinhado o quão mal ela havia falhado.
“Ginny deve estar se sentindo melhor agora”, ele disse, afastando-se do
prédio.
“O que há no outro prédio?” Ela correu atrás dele.
“Ração para as cabras. Ginny vai te mostrar”, ele murmurou sem virar a
cabeça.
Alanna tentou quebrar a lacuna que havia criado. “Quem mora na casa?”
“Moses. Você não precisa fazer nada na casa dele.”
Passando pela casa de Moses, eles subiram uma ladeira mais íngreme
com um caminho bem trilhado.
“É seguro para sua irmã andar nesta condição?”
“Ela usa seu carro. Há uma estrada secundária que contorna a montanha,
para o curral das cabras e edifícios de armazenamento. Há um carrinho de
golfe também, que fica no outro prédio. Se você não quiser andar, pode
pedir as chaves. Ele vai ter que sentar com você enquanto te ensina a
dirigir”, ele avisou.
Alanna estremeceu com o tiro que ele acabou de disparar contra ela.
Uau, muito bem, Alanna.
Do jeito que ela estava agindo, ele não iria mostrar isso a ela também.
“O lugar dela é logo à frente. Ela pode levá-la de volta para a casa do
Silas depois que mostrar as tarefas que ela precisa fazer.”
“Qual é o sobrenome da sua irmã?”
Sua pergunta fez Matthew parar para olhar para ela. “Por que?”
“Então vou saber como me dirigir a ela.”
Sua testa franziu. “Você a chama de Ginny, como todos nós fazemos.”
“Prefiro manter tudo com base no sobrenome.”
“Então pergunte a ela você mesma.”
Ela estava fazendo um ótimo trabalho até agora. Teria sorte de manter o
emprego até segunda-feira com o jeito que continuava colocando o pé na
boca.
Não havia como explicar a Matthew os pesadelos que atormentavam sua
mente desde a infância. De todas as aparências, ela parecia ser uma adulta
normal e bem ajustada. Em vez disso, ela era tudo menos isso.
Ela falava com duas, não apenas uma, voz em sua cabeça quando era
criança, e tinha pesadelos constantes em que se escondia de Kate e Owen.
Ela havia tomado sua medicação na noite passada, então levaria pelo menos
algumas noites para que os pesadelos fossem amortecidos o suficiente para
ela ter uma noite de sono tranquila.
Contornando um enorme carvalho, ela foi presenteada com a primeira
visão da casa de Ginny. Era uma versão maior da casa de Silas.
Caminhando para a porta da frente, Alanna esperava que Matthew
batesse. Em vez disso, ele entrou, deixando-a seguir.
Lentamente entrando na sala, ela viu Ginny sentada em um sofá de
couro, observando Freddy brincar no chão.
Ginny a notou parada na porta. “Entre. Desculpe por esta manhã.”
Ginny levantou a xícara que estava segurando. “Enjoo matinal. Eu tomei
uma xícara de chá, então estou pronta para ir.”
“Matthew, você se importa de olhar Freddy enquanto mostro o lugar
para Alanna?”
Alanna sorriu quando Matthew caiu no chão e começou a brincar com o
bebê.
“Matthew é o tio favorito de Freddy. Meus outros irmãos ficam
entediados quando peço que o observem. Matthew o manteria se Gavin e eu
o deixássemos.”
Observando a casa de Ginny enquanto iam para a cozinha da sala de
estar, Alanna apreciou como ainda podia olhar diretamente para o outro
cômodo. Enquanto o exterior podia parecer com a de Silas, o interior era
moderno. A cozinha tinha dois fornos, duas lava-louças e dois micro-ondas,
todos com aparelhos de última geração com os quais um cozinheiro só
poderia sonhar.
“Sua casa é adorável”, Alanna elogiou.
“Obrigada. Nós só terminamos de reconstruí-la há alguns meses.”
“Reconstruí-la? Parece nova.”
“Tínhamos começado esta casa em outra seção da propriedade. Esta área
foi feita para Leah. A que era para mim explodiu, então Silas me deu a de
Leah. A área que foi danificada, assim como os currais, Silas e meus irmãos
estão limpando lentamente para que possam replantar as árvores que
precisaram derrubar.”
Alanna tirou os olhos da geladeira de vidro que ela só tinha visto nas
lojas. “Que tipo de explosão?”
Ginny suspirou. “Eu posso muito bem dizer a você. Tudo o que precisa
fazer é perguntar na cidade, e eles te informarão. Minha mãe bombardeou
minha casa. Em vez de me matar, ela mesma foi pega na explosão. Eu tinha
saído. Não soube até que fui à casa dos Last Riders e eles me olharam como
se eu fosse um fantasma.”
Alanna endureceu com a menção dos motoqueiros. “Você conhece os
Last Riders?”

“Sim, conheço. Eu costumava trabalhar para eles. Sou amiga deles.”


Ginny ficou curiosa com sua expressão. “Você já ouviu falar deles?”
Alanna a encarou duramente. “Os Last Riders são como acabei na
prisão.”
Capítulo Onze

“Os Last Riders não são a razão pela qual você estava na cadeia.”
Sua respiração ficou presa na garganta ao ver Gavin parado na porta da
sala de estar.
“Você tem razão. Peço desculpas.” Alanna conseguiu oxigênio
suficiente para pronunciar as palavras. “Não tenho mais ninguém para
culpar, além de mim. Estar na cadeia não é uma experiência que eu queira
reviver. Acho que desenvolvi TEPT por estar lá. Tenha certeza; você não
quer acabar lá. Prefiro ir para a prisão de segurança máxima.”
“Foi tão ruim assim?” Ginny perguntou com simpatia.
Ela não estava ciente de que estava tremendo até que Ginny enrolou seu
braço no dela para dar-lhe força para se firmar.
“Eles mantinham a temperatura abaixo de zero, o Policial Porter usava
qualquer desculpa para falar comigo por horas a fio, e ele escolhia a comida
que eu iria comer durante o dia e confiscava um pouco quando queria.
Assim que as acusações forem retiradas, vou entrar com uma ação contra a
prisão por tratamento desumano.”
Nunca em sua vida ela quis derreter no chão com o jeito que Matthew,
Gavin e Ginny estavam olhando para ela enquanto finalmente terminava o
discurso que estava segurando desde sua libertação.
Alanna levou a mão ao rosto. “Nunca tive tanta vergonha na minha vida.
Ignore tudo que eu...”
O riso borbulhou de Ginny. Alanna olhou através dos dedos abertos para
ver Gavin, cuja expressão era inexpressiva no pouco tempo que ela o
conheceu, mas tinha diversão curvando seus lábios. Até mesmo o
comportamento gélido de Matthew havia descongelado o suficiente para
mostrar que ele estava segurando o próprio riso.
“Uh... odeio te dizer isso” Ginny conteve sua risada “mas Greer trata
todo mundo da mesma forma, independentemente de você estar na cadeia
ou não. Ele foi expulso de todos os restaurantes da cidade. King ameaçou
dois processos, e o dono da hamburgueria na cidade tranca a porta quando o
vê atravessando a rua em direção a sua casa.”
Alanna deixou sua mão cair de volta ao seu lado. “Então eu não
entendo. Por que alguém não o processa, ou pelo menos o demite do
escritório do xerife?”
Todos pararam de rir.
A expressão de Gavin ficou inexpressiva novamente. “Porque todos na
cidade sabem que, por mais irritante que Greer seja, não há uma pessoa na
cidade pela qual ele não arriscaria sua vida e, de fato, arriscou.”
Alanna olhou para ele em dúvida. “Ele arriscou?”
“Arriscou. Na verdade, sou um deles.”
Droga. Alanna ergueu os olhos para o céu. Não te pedi que não me
deixasse fazer papel de tola? Até agora, você está falhando maciçamente.
Criticar a Deus pode não ser o caminho mais inteligente, mas quão pior
poderia ser? Ela provavelmente havia alienado metade dos Colemans com
seu comportamento.
“Eu simplesmente não consigo entender seu fascínio por comida.”
“Provavelmente porque ele não tinha muito quando era criança.”
Matthew levantou Freddy para sentar em cima de seus joelhos e começou a
fingir que o empurrava enquanto falava. “Silas nos contou. Greer e Silas
têm a mesma idade. Estavam na escola juntos. Ele disse que a família de
Greer só tinha comida da horta de sua mãe e a carne que eles criavam para
comer. Eles praticamente morreriam de fome no inverno, quando a comida
enlatada acabasse. O pai de Greer ganhava dinheiro com bebidas alcoólicas,
o que não era muito, porque a maior parte do que ganhava, ele bebia. Sua
mãe levaria uma surra se fosse pega pegando caridade de qualquer um dos
habitantes da cidade. Silas disse que os primeiros sapatos novos que Greer
ganhou foram roubados dele.”
Cada palavra que Matthew dizia apenas martelava outro prego em seu
caixão.
“Greer roubou os sapatos de Silas?” As esperanças de Alanna
começaram a aumentar. Greer roubando os sapatos de Silas mostrava que
ele não era legal, não é? “Ele não deveria ter roubado de Silas.”
Matthew deu-lhe um olhar pesaroso. “Silas estava intimidando Greer.
Foi um retorno.”
“Provavelmente autopreservação”, ela murmurou. Ela não acreditava
que Silas estivesse intimidando Greer sem uma causa justa.
Ginny e Gavin assentiram, concordando com ela.
“Achamos que é por isso que Greer faz isso também.”
Ela queria dizer que Silas provavelmente havia intimidado Greer por
autopreservação, mas ela causou más impressões suficientes para o dia.
Ginny e Gavin podem ter assumido que era isso que ela queria dizer, mas
pela expressão de Matthew, ele sabia exatamente de quem ela estava
falando.
Alanna limpou a garganta. “Podemos começar de novo?” Olhando ao
redor da cozinha impecável, ela então olhou interrogativamente para Ginny.
“Que tarefas você precisa fazer?”
Ginny ficou vermelha. “Espero que você não considere isso uma tarefa
árdua. O que seria um salva-vidas para mim é ao meio-dia, vocês dois
poderiam parar e tomar conta de Freddy para mim enquanto eu tiro uma
soneca? Essa é a hora do dia em que fico com mais sono, e não vou ter que
pedir para Gavin parar o que está fazendo para voltar para casa.”
O queixo de Alanna caiu. Agarrando-o de volta, ela viu que eles
levaram sua reação chocada para o lado errado.
Ela explicou apressadamente: “Eu não consideraria cuidar de Freddy
uma tarefa árdua. Eu adoraria tomar conta de Freddy. Nem preciso ser
paga.” Ela sorriu para eles. “Eu pagaria para poder.”
O rosto de Ginny se abriu em um lindo sorriso, que a lembrou de
Freddy. “Eu não iria tão longe se fosse você. Mesmo que eu seja a mãe dele,
acho que ele é muito fácil de cuidar. Ele tem sido um anjo perfeito desde
que o tivemos.”
“Posso começar hoje.”
Ginny balançou a cabeça, estourando a bolha de felicidade de Alanna.
“Gavin está de folga nos próximos dois dias, e marcou no sábado. Domingo
é dia de Silas; ele dedica o dia inteiro a Freddy.”
Matthew se levantou, levantando Freddy em seus braços. “Se você
tivesse dito alguma coisa, Isaac e eu teríamos nos revezado chegando no
horário.”
Ginny fez uma careta para ele. “É por isso que eu não disse nada. Você
está tendo problemas para atender seus pedidos agora, sem eu tomar parte
do seu dia. Além disso, foi ideia do Silas contratar alguém que possa
facilitar a vida de todos nós. Dessa forma, não me sinto tão culpada por
contratar alguém apenas por algumas horas por dia.”
“Eu também não seria contratada. Ainda estaria na cadeia se Silas não
estivesse procurando contratar alguém.” Alanna foi de trás do balcão da
cozinha para onde Matthew estava.
“Posso?” Segurando seus braços para Freddy, ela levantou a criança do
aperto de Matthew em seu aceno de cabeça. Colocando Freddy em seu
quadril, ela sentiu a primeira paz de espírito durante todo o dia. “Sempre
que você sentir que precisa de uma pausa, eu não me importarei de observá-
lo. O Sr. Coleman disse que você não estava se sentindo bem esta manhã.”
Ginny fez uma careta. “Estou passando por um momento terrível com
enjoos matinais.”
“Eu poderia vir aqui depois de ir à casa de Silas e fazer as tarefas que
ele precisa fazer lá, acordar Freddy, vestir e alimentá-lo com café da manhã.
Até lá, seu enjoo matinal estará melhor.”
Nem Gavin nem Ginny pareceram se opor à ideia.
“Que tal nas manhãs que não estiver se sentindo bem, vou te mandar
uma mensagem. Prefiro estar aqui para cuidar de Ginny, mas tenho saído
para trabalhar com Matthew e Isaac. Dessa forma, nos dias em que estou
programado para ir com eles, não preciso chamá-los.”
Alanna sorriu para o casal. “Funciona para mim.”
“Já que você está se sentindo melhor, Ginny, vou sair.” Matthew
estendeu a mão para Freddy. “Vejo você mais tarde, broto. Gavin, vejo você
na loja quando estiver pronto.”
Alanna corou, não perdendo o modo como Matthew afastou sua mão de
tocar Freddy enquanto ela o segurava.
Depois que Matthew saiu, ela estava ciente de Gavin e Ginny olhando
para ela com curiosidade.
Ginny quebrou o silêncio desconfortável. “Gavin, se você cuidar de
Freddy, posso levar Alanna para ensiná-la a ordenhar as cabras e mostrar a
ela o resto das casas que Matthew não fez.”
Alanna renunciou Freddy aos braços de sua mãe.
“Sem problemas. Eles não precisam de mim até as três. Sem pressa.”
Tentando voltar ao equilíbrio, lembrando-se de que não podia ser amiga
deles, ela teve que dizer a si que sua amizade diminuída era uma vantagem.
“Estou animada para aprender a ordenhar uma cabra.”
Gavin deu-lhe um olhar zombeteiro. “Você já esteve perto de cabras
antes?”
“Não, infelizmente. Eu nunca tive a oportunidade de estar perto de
muitos animais.”
“Então aperte o cinto. Você estará em um deleite.”
Alanna franziu a testa para Gavin quando ele saiu sem dizer mais nada,
deixando-a sozinha com Ginny.
Vendo que ela estava olhando para Gavin com curiosidade, Ginny deu
de ombros. “Gavin teve problemas com as cabras.”
Ela franziu a testa. “Que problemas?”
Ginny sorriu. “Ele é um homem.”
Capítulo Doze

Lanna deu uma olhada no espelho quando voltou para o trailer e começou a
chorar. O Benadryl que ela recebeu não aliviou a distorção inchada de seus
olhos, nariz e lábios. Como ela não sabia que era alérgica a alguns tipos de
pelos de animais?
Tudo estava indo bem quando Ginny a levou de volta ao cercado e Silas
trouxe o rebanho de cabras. Ainda estavam mastigando os galhos que
haviam trazido do campo que estavam pastando. Silas não ficou muito
tempo.
Um olhar, e ela se apaixonou pelas cabras menores trotando atrás de
suas mães. Durante os quinze minutos que Ginny mostrou a ela como
separar uma cabra em particular do rebanho e depois carregá-la em uma
calha de proteção, tudo correu bem. Foi só quando elas estavam carregando
a terceira cabra na calha que ela percebeu que Ginny a olhava
estranhamente.
“Alanna, não quero alarmá-la, mas acho que você está tendo uma reação
alérgica.”
Ela estava estendendo a mão por cima do ombro, coçando, quando se
virou para Ginny, que não conseguia esconder sua expressão horrorizada.
“Entre no carro enquanto libero Nelly de volta. Estarei bem atrás de
você.”
Ela começou a coçar o lado de sua mandíbula. “Onde vamos?”
“Para o pronto-socorro.”
Ginny a levou para o pronto-socorro com ela ao telefone com o xerife,
explicando por que seu monitor de tornozelo estava disparando. O xerife
estava esperando na entrada do pronto-socorro quando elas chegaram e
ficou com ela durante o tratamento do médico. Alanna olhava fixamente
para a frente, sentada na mesa de exames cada vez que um novo enfermeiro
ou enfermeira entrava no cubículo. Até o xerife tinha começado a zombar
deles pelas desculpas inventadas que deram para entrar. Se ela não estava
ciente das fofocas de cidade pequena, passou a ficar antes de ser libertada.
Quando ela estava de volta no carro de Ginny, a pequena fração de
orgulho que tinha deixado, foi colocada em uma lixeira e incendiada
quando o policial Porter estacionou atrás delas antes que Ginny pudesse
sair. Alanna escondeu o rosto e se recusou a baixar a janela quando Greer
bateu em sua janela. Ginny saiu do carro, explicando a ele que Alanna não
estava se sentindo bem. Apesar de outra tentativa de fazê-la baixar a janela,
o policial desistiu quando o xerife ordenou que ele voltasse ao escritório.
De volta à casa de Silas, Ginny a levou de volta ao trailer e quis entrar
com ela.
“Obrigada, Ginny, mas vou dormir com esse remédio. Vou ficar bem.”
“Deixe-me ficar. O médico não queria que você ficasse sozinha”, ela
argumentou. “Vou ficar quieta como um rato e sentar na sala de estar.”
“O inchaço está começando a diminuir. Posso sentir meus lábios
novamente.” Alanna não mencionou que ela só queria ser deixada sozinha.
A descrença estava estampada em seu rosto. “Tem certeza? Realmente
não quero sair.”
“Tenho certeza. Eu até mando uma mensagem uma vez por hora se isso
te deixar menos preocupada.”
“Promete?”
“Eu prometo.” Alanna daria a ela um sorriso tranquilizador, mas doía
muito.
Ela finalmente convenceu Ginny a ir embora.
Umedecendo um pano, ela enxugou as lágrimas pungentes. Segurando o
pano frio no rosto, estava prestes a sair do banheiro quando ouviu uma
batida firme na porta.
Ela relutantemente se dirigiu para a porta. Temia que, se não
respondesse, quem estava do lado de fora entraria para ver como estava.
De pé atrás da porta, ela apenas a abriu um pouco para espiar lá fora.
Os olhos compassivos de Silas encararam os dela.
“Pode abrir. Não vou embora até ver o estrago.”
Ela não tinha mais luta depois de se olhar no espelho. Abrindo a porta,
puxou o pano do rosto.
“Não é tão ruim quanto eu esperava. Vi pior quando Jody foi picado por
vespas. Ele sobreviveu. O inchaço parece estar diminuindo. Acho que você
ordenhar as cabras estará fora da sua lista de tarefas”, ele brincou.
“Eu me sinto terrível que o trabalho que você mais precisava de mim,
não serei capaz de fazer. Vou entender se você precisar contratar outra
pessoa”, disse a ele entorpecida.
“Ordenhar as cabras não era o principal trabalho para o qual te contratei.
O pior acontece, eu mesmo posso ordenhar as coisas malcriadas. O que
mais preciso de você é para dar uma mãozinha a Ginny com Freddy. Você é
alérgica a ele?”
“Não.” Alanna estremeceu quando tentou sorrir com sua provocação.
“Então estamos bem.”
Alanna cheirou algo no ar.
“Acabei de colocar alguns bifes na fogueira antes de vir aqui. Quer me
fazer companhia enquanto termino de grelhar eles? Pode haver um bife para
você.”
“Eu não poderia impor...” Ela balançou a cabeça, não querendo que
ninguém a visse, especialmente Matthew.
“Sem imposição. Os meninos não vão voltar até tarde. Todos os garotos
estão no Hardy's para colocar a cerca e o portão. Al não queria que eles
montassem sem ele estar lá, então tiveram que esperar até que ele saísse do
trabalho. Você poderia lavar as batatas para mim, para que eu não tenha que
tirar os olhos dos bifes.”
Alanna não resistiu; o cheiro a estava deixando louca. “Você ganhou.
Estou morrendo de fome.”
“Então vamos te alimentar.”
Caminhar até a fogueira não demorou muito. Alanna a viu ontem
quando Silas a levou para o trailer. Enquanto ela olhava para o grande
número de bifes na grelha, sua boca começou a salivar.
“Quantas batatas você quer que eu lave?”
“Vinte deve ser suficiente caso algum deles queira a segunda rodada.”
“Ou terceira”, ela brincou. “O que faço com elas depois de lavá-las?”
“Traga-as aqui e o papel alumínio da despensa. Vou enterrá-las nas
cinzas.”
“Ah...” ela disse animadamente. “Eu nunca comi elas assim antes.”
“Primeira vez para tudo.”
Alanna assentiu, virou-se para a casa, então parou. “Você não tem
marshmallows, não é?”
“Eu tenho.” Silas sorriu. “Você vai encontrá-los na despensa. Há
biscoitos lá, também. E se você olhar embaixo da gaveta da geladeira,
encontrará algumas barras de chocolate.”
“Eu não quero colocar você em problemas.”
“Sem problemas. Você pode fazê-los.”
“Combinado.” Alanna saiu correndo, ansiosa para torrar marshmallows.
Ela nunca fez isso antes sobre uma fogueira.
Lavando rapidamente as batatas, ela as colocou em uma tigela grande e
juntou o resto dos outros itens que precisava.
Quando voltou, viu que Silas havia colocado duas cadeiras dobráveis
perto da fogueira e uma mesa dobrável ao seu alcance.
Ela colocou os itens na mesa e eles se ocuparam em embrulhar as
batatas, então ele mostrou a ela como as enterrar nas cinzas quentes.
Quando ela foi fazer uma, ele não a deixou.
“Acho que você teve percalços suficientes para o dia. Se quiser ajudar,
pode juntar alguns palitos para os marshmallows.”
“Posso fazer isso. Que tamanho devo pegar?”
Silas mostrou-lhe o comprimento desejado, e ela teve a sorte de
encontrar um grupo de gravetos não muito longe. Foi quando ela viu algo.
Olhando para a estrutura escondida atrás de uma massa de trepadeiras,
ela se perguntou o que deveria ser.
Voltando à fogueira, ela perguntou a Silas.
“Você deve estar falando sobre o velho forte que papai construiu para
nós, meninos, para nos manter longe dele. Nós adorávamos ficar lá. Mesmo
quando ficamos mais velhos, fugíamos para passar a noite lá até que Leah e
Ginny roubassem de nós, transformando-o em uma cabana de mentira, e
tivemos que salvar suas bonecas e bichos de pelúcia de ursos e lobos.”
Ginny moveu sua cadeira para mais perto da fogueira. “Não eram
gambás ou guaxinins?”
“Não, isso é o que elas deveriam ter cuidado. Popeye roubou a boneca
favorita de Ginny. Eu tive que passar dois dias procurando por isso.”
“Um guaxinim de um olho só, que foi a ruína da existência do meu pai
por muitos anos. Ele adorava virar nossas latas de lixo se um de nós,
garotos, esquecia de colocar uma pedra grande em cima quando levávamos
o lixo para fora à noite.”
Alanna riu. “Você conseguiu encontrar a boneca?”
“Não, mas tivemos um serviço memorial para Minnie.”
Ela riu tanto que teve que segurar a barriga. “Aposto que foi bom
crescer com tantos irmãos e irmãs.”
“Foi. Você planeja ter uma família grande?”
Alanna ficou séria instantaneamente. “Não. Eu nunca planejei ter
filhos.”
“Você se importa que eu pergunte por quê? Vi você segurando Freddy.
Parece ter uma afinidade natural com eles.”
“Meus pais morreram quando eu era jovem. Nunca vou correr o risco de
deixar uma criança do jeito que fui deixada.”
“Tenho certeza de que eles não queriam.”
“Eles podiam não querer, mas também não tomaram nenhuma
precaução. Meus pais entraram em uma área marcada ‘não entre’, nem
tomaram providências para meus cuidados se algo acontecesse com eles.”
“Ambos são erros corrigíveis, com os quais você seria mais cautelosa,
para garantir que isso não acontecesse com seus filhos.”
Alanna olhou sombriamente para o fogo. “Isso não importa, de qualquer
maneira. Prefiro ficar sozinha.”
“Ninguém prefere ficar sozinha.”
“Eu prefiro.” Alanna pegou os marshmallows que havia colocado na
mesa enquanto Silas se sentava na outra cadeira. “Não me dou bem com
outras pessoas.”
Silas inclinou a cabeça para o lado. “O que você quer dizer?”
“As pessoas começam a não gostar de mim quando me conhecem.”
“Tem certeza de que não é a vibe que você está enviando - que você não
quer ser amiga?”
Ela pegou um marshmallow, em seguida, pegou um pedaço de graveto
longo. “Matthew está bravo comigo, e eu machuquei os sentimentos de
Ginny.”
“Por que Matthew está bravo com você?” Silas tirou a vara fina dela
para dar-lhe uma mais grossa.
“Ele me assustou e eu disse a ele para tirar suas mãos imundas de mim.”
Alanna mordeu o lábio inferior e fez uma careta quando a dor a atingiu.
“Sim, eu não faria isso. O inchaço não diminuiu.” Seu olhar gentil a fez
começar a chorar. “Por que você disse isso a ele?”
“Ele me agarrou para me impedir de cair daquele penhasco, mas eu não
sabia disso. Ele me assustou.”
“Hmm...você disse isso a ele?”
“Eu comecei. Então achei que seria melhor se ele ficasse bravo comigo.
É melhor ele não me ter como amiga.”
“O que aconteceu com Ginny?”
“Perguntei o sobrenome dela para não precisar usar o primeiro nome.
Ela não me contou, então perguntei ao xerife.”
“Pela mesma razão? Por que você é uma péssima amiga?”
Alanna se inclinou para frente em seu assento para colocar o
marshmallow nas chamas. “Eu gosto da sua família, vocês parecem ser
pessoas muito legais, mas eu não deveria ter aceitado o trabalho.”
“Por que não?”
Alanna desviou o olhar das chamas. “Eu não quero que nenhum de
vocês se machuque. Eu não poderia viver comigo mesma se algo
acontecesse.”
“Quem nos machucaria?”
“Duas pessoas que não hesitariam em machucar alguém, nem mesmo
Freddy, para se vingar de mim.”
“Entendo”, ele meditou. “Está feito.”
“O que?” Ela o encarou inexpressivamente.
“Seu marshmallow.”
“Ah...” Ela sorriu. “É uma coisa boa que eu gosto deles crocantes.”
Alanna soprou para esfriar.
“No que diz respeito a Matthew, ele vai superar sua raiva. Ele fica
quente, mas eventualmente esfria. Ginny esquece seus sentimentos feridos
em segundos. Isso só a deixará mais determinada a se tornar sua amiga.”
“Estou recebendo essa vibração dela.”
Ambos começaram a rir.
Alanna continuou assando marshmallows enquanto Silas tirava os bifes
da grelha e colocava mais.
“Você deve comprar uma tonelada de carne.”
“Há uma fazenda na fronteira do estado para onde vou; compro dele a
granel. Quando eu for, você pode vir comigo, se quiser.”
“O xerife não me deixa atravessar a fronteira do estado.”
Silas deu de ombros. “Não custa perguntar.”
“Não, não custa.” Alanna olhou para a crosta carbonizada de seu
marshmallow e inexplicavelmente quis chorar.
Como se sentisse o humor dela, Silas voltou a se sentar na cadeira.
“Alanna, a coisa é, quando você arrasta bagagem velha com você, e
encontra algo novo, não tem um lugar para colocá-la.”
Seus ombros caíram. “Estou carregando a minha há tanto tempo que não
saberia como deixá-la ir.”
“Isso é mais fácil do que parece. Apenas livre-se da velha bagagem e
permita-se abrir espaço para novas experiências.”
“Não quero que ninguém se machuque...”
“Você disse que Matthew e Ginny já estavam magoados por você não os
deixar entrar hoje. Tentei proteger meus irmãos e irmãs saindo para pegar
um capacete. Enquanto eu estava fora, meu pai caiu com Leah em um
quadriciclo. Se eu estivesse lá, nenhum deles estaria andando sem
capacete.”
Alanna viu o profundo arrependimento em seu rosto. “Você não pode se
responsabilizar...”
“Não, eu não posso. Concordo com você...não mais do que você pode se
responsabilizar pelas ações de outra pessoa. Você só pode ser responsável
pelo mal que causar. Não precisa mais ter medo dessas duas pessoas. Os
Colemans são uma raça difícil. Estamos sobrevivendo nesta montanha há
gerações, contra todas as probabilidades.”
“Você nunca teve que lidar com pessoas como Owen e Kate antes”, ela
avisou.
O olhar que surgiu no rosto de Silas a fez quase derrubar seu palito de
marshmallow no fogo.
“Eles nunca lidaram com os Colemans.”
Capítulo Treze

Lanna estava cortando outro pedaço de seu bife quando três caminhonetes
pararam.
“Pensei que você disse que eles não voltariam até mais tarde?”
“Eles devem ter terminado cedo. Não se preocupe; todo o inchaço
desapareceu.” Silas não se incomodou com o tom acusador dela.
Alanna corou com o olhar astuto de Silas enquanto seus irmãos saíam
das caminhonetes, dando gritos de “Claro que sim!”
Incapaz de conter o sorriso diante do comportamento barulhento deles
ao avistar Silas na grelha, ela segurou o prato com mais força, agora
sabendo por que Silas fez tantos bifes. Eles estavam fantásticos! Se ela não
tivesse comido tantos marshmallows, pegaria mais.
“Eles ficam animados sempre que fazemos churrasco.” Silas tentou
desculpar o comportamento deles quando Jody quase atropelou Ezra para
alcançar os bifes na mesa dobrável primeiro.
“Onde estão os pratos?” Ezra virou a cabeça freneticamente enquanto
montava guarda sobre os bifes.
“Na cozinha”, Silas disse a ele. “Nós não esperávamos vocês de volta
ainda.”
“Isaac, pegue os pratos, garfos e facas!” Jody gritou, empurrando Ezra
para o lado.
Silas se levantou. “Ezra, você e Jody pegam as cadeiras de jardim
enquanto eu tiro as batatas.” Silas deu a ela um olhar irônico quando eles
partiram em direção à casa sem discutir. “Nós não saímos há algum tempo,
então eles estão muito animados.”
“Você não grelha com frequência?” Ela perguntou.
“Você está brincando, certo?” Fynn sorriu para ela, pegando a cadeira de
Silas. “Você sabe quem é nosso vizinho?”
Alanna balançou a cabeça. “Não. Por quê?”
“Greer Porter”, Matthew forneceu, seus braços cheios de latas de
refrigerante em um braço e uma caixa de cerveja no outro.
Alanna engasgou com um pedaço do seu bife.
Silas deu um tapinha nas costas dela até que conseguisse desobstruir as
vias aéreas.
“Quão perto?”
“Perto o suficiente, estou surpreso que ele ainda não esteja aqui”,
Matthew disse, pegando uma cadeira de jardim e colocando-a entre a dela e
a de Fynn.
Silas entregou os pratos a Matthew e Fynn. “Ele está de plantão.”
Alanna afrouxou o aperto em seu prato.
Os olhos de Matthew caíram para as mãos dela. “Greer realmente
mexeu com você, não foi?” Percebendo o olhar questionador de Silas, ele
explicou: “Alanna nos contou como Greer a deixou louca quando estava na
prisão.”
Silas assentiu. “Ele tem esse efeito sobre as pessoas.”
“É por isso que você não faz churrasco com frequência?” Alanna
desembrulhou sua batata fumegante.
“Ele tem um nariz que deixaria um sabujo envergonhado”, Moses disse,
acrescentando um bife ao prato que Silas lhe dera. “Greer é um poço sem
fundo. Ele poderia comer todos os nossos bifes e ainda pedir mais.”
“Greer gasta muita energia”, Silas disse.
“Para procurar sua próxima refeição”, Moses brincou.
“Não posso discutir isso.” Silas desistiu de defender Greer e mudou de
assunto. “O que aconteceu com a cerca? Eu não esperava você por mais
algumas horas.”
“Al torceu o tornozelo no escuro”, Matthew disse secamente. “Ele vai
nos deixar voltar de manhã.”
Fynn notou os marshmallows e as barras de chocolate. “Posso ter um
s'more?”
“Depois de terminar seu bife”, Silas concordou.
Alanna sentou-se calmamente, gostando de ouvir o grupo de homens
conversando e provocando uns aos outros. Sentindo alguém olhando para
ela, percebeu que Matthew estava olhando.
“Como está a reação alérgica? Você está se sentindo melhor?” Ele
perguntou baixinho, sussurrando para não atrapalhar a conversa dos outros.
“Muito melhor, obrigada.” Colocando o garfo e a faca no prato, ela
disse: “Sinto-me mal por não poder ajudar a ordenhar as cabras.”
“Silas assumirá o comando. Nenhum de nós chega perto daquelas mulas
de quatro patas depois que o braço de Moses foi quebrado por uma delas.”
“Elas são realmente doces.”
“Isso é fácil para você dizer. É uma mulher.”
“Foi o que me disseram”, ela brincou.
Os olhos de Matthew encontraram os dela. “Quem?”
Seu contentamento desapareceu com a lembrança de quando lhe haviam
mostrado brutalmente a diferença entre meninos e meninas.
“Hum...eu não me lembro.” Afastando o olhar, ela começou a contar as
batatas retiradas do fogo. Devia haver cinco à esquerda. Vendo que Silas
não voltou depois de ir buscar mais barras de chocolate, Alanna se afastou
de Matthew para pegar a longa colher de metal que Silas usou para pegá-
las. Ela foi cuidadosa ao usar a colher para mover as cinzas, desenterrando
um pedaço de papel alumínio. Quando ela tirou a batata, escorregou da
colher. Sem pensar, ela foi pegá-la, e um silvo de dor escapou dela quando
dois de seus dedos entraram em contato com as cinzas quentes.
Matthew empurrou a mão nas chamas para bloquear a mão dela quando
involuntariamente puxou a mão para cima em direção às chamas em vez de
mantê-la baixa para deslizar por baixo, como Silas fez.
Segurando a mão no peito, ela tentou pegar a de Matthew para ver o
quanto ele estava queimado.
“As chamas não me pegaram. Deixe-me ver sua mão.” Ele
inexplicavelmente estendeu a mão para ela. Não tinha nenhuma marca nele.
Ela cautelosamente estendeu a dela, e Matthew a segurou na dele.
“O que aconteceu?”
Alanna piscou para conter as lágrimas quando Silas se aproximou deles.
“Eu estava pegando outra batata. Antes que você diga qualquer coisa,
sei que você me disse para não fazer.”
“Eu não ia dizer nada.” O olhar gentil de Silas a fez fazer uma cara
corajosa na frente dele, enquanto o olhar inquisidor de Matthew não estava
comprando sua calma.
“Jody tem alguns suprimentos de primeiros socorros em seu trailer. Vou
levá-la para casa e colocar um pouco de creme.” Tirando a mão dela,
Matthew segurou seu cotovelo. “Vamos lá.”
“Posso encontrar os suprimentos. Você não precisa sair.”
“Eu estava me preparando para sair, de qualquer maneira. Tenho que
acordar às seis da manhã para estar no Al.”
“Aqui, Alana.” Fynn estendeu um s'more que acabou de fazer,
embrulhando-o em uma toalha de papel. “Vou fazer outro para mim.”
Alanna começou a recusar, mas não queria ferir os sentimentos do
menino. “Obrigada.”
Ela não resistiu ao puxão de Matthew em seu braço, querendo estar de
volta no trailer sozinha para que pudesse finalmente ter o choro que havia
segurado mais cedo.
Matthew os fez parar em sua oficina. “Espere aqui. Quero pegar uma
lanterna.”
Ele carregava seu celular como lanterna quando desapareceu dentro do
prédio e saiu um minuto depois.
“Tudo bem?” Ele perguntou.
“Uh-huh...”
Ele acendeu a lanterna e eles continuaram até o trailer sem falar. Alanna
estava grata por ele não estar fazendo conversa fiada; ela não achava que
conseguiria se controlar se mostrasse uma falha em seu controle.
Dentro do trailer, Matthew ordenou que ela se sentasse à pequena mesa
da cozinha antes de desaparecer no lavabo. Ele voltou com uma pequena
caixa de plástico. Abriu e tirou um pouco de gaze, creme para queimaduras
e Tylenol. Então foi até a geladeira e tirou uma garrafa de água. Removendo
a tampa, colocou a água na frente dela. Então, abrindo o Tylenol, entregou a
ela dois.
“Pegue-os. Vão ajudar com a dor.”
Enquanto ela tomava a medicação para a dor, Matthew cuidadosamente
agarrou seu pulso para que pudesse levantar a mão. Alanna desviou o olhar
ao ver que a ponta de quatro dedos e o lado de seu polegar tinha bolhas se
formando.
“Mantenha suas mãos quietas.” Matthew foi até a pia para lavar as mãos
antes de colocar uma toalha sobre a mesa. Alanna ficou surpresa por suas
mãos gentis e calejadas serem capazes de tocá-la sem causar dor.
Alanna ergueu os olhos quando ele terminou de envolver seus dedos em
gaze.
“Tenha cuidado para não molhar.”
“Eu não vou.” Ela se sentiu envergonhada. Ele estava sendo tão legal
com ela. Ela não sabia se poderia dar a outra face tão graciosamente quanto
ele. “Desculpe por ter brigado com você hoje cedo.”
“Você já se desculpou.”
“Você não parecia acreditar em mim.”
“Eu acreditei.” Matthew colocou os itens que havia usado de volta na
caixa e a fechou com um estalo. Colocando suavemente um dedo em um de
seus dedos cobertos de gaze, ele disse: “Não foram as chamas que
danificaram sua mão; foi a cinza fumegante.” Ele levantou a mão não
queimada que havia impedido que ela se machucasse ainda mais. “Trabalhei
com fogo toda a minha vida. Eu deveria ter sido mais cuidadoso quando
toquei você. Minha pele é mais grossa do que parece.”
“Você está me comparando ao fogo?”
Matthew deu a ela um sorriso sexy que abalou seu mundo. Ela estava
feliz por estar sentada.
Enquanto ele colocava uma mecha solta de seu cabelo atrás da orelha,
deixou os nós dos dedos de sua mão percorrerem sua bochecha antes de
deixar sua mão cair ao seu lado. “Você deveria vir até a loja amanhã à tarde.
Vou mostrar-lhe alguns dos trabalhos que faço.”
Matthew levou a caixa de volta para o banheiro. Quando voltou,
perguntou: “Você está bem para a noite?”
“Sim.” Alanna começou a dar uma mordida no s'more, mas Matthew
pegou. Então, dando-lhe uma piscadela, ele foi para a porta da frente.
“Ei! Isso era meu.”
“Você cochila, você perde por aqui. Além disso, eu vi aquele saco de
marshmallow quando chegamos em casa. Estava meio vazio. Acabei de lhe
poupar uma dor de estômago. Venha trancar a porta depois de mim.”
Depois que ela trancou a porta, Alanna foi ao banheiro para tirar o
cheiro forte de fumaça de seu corpo, o que não era fácil com uma mão.
Uma vez que terminou, ela deslizou em um pijama.
Na cama, ela desligou o abajur. As lágrimas que estava segurando
sumiram. A gentileza de Matthew e a conversa que teve com Silas sobre
carregar bagagem velha a fizeram perceber que passou muito tempo de sua
vida com medo de Owen e Kate, e não se lembrava de um momento de
alegria que não foi marcado por eles.
Ela havia perdido sua infância para a depravação deles, sua mãe adotiva,
que tentou ser um amortecedor entre eles, seu relacionamento com seu
irmão adotivo, Sam. Ela havia parado de namorar um cara porque não foi
capaz de afrouxar a guarda o suficiente para ter intimidade com ele...ela
perdeu muito. Em retrospectiva, tinha cometido tantos erros. Ela faria tudo
de novo se tivesse a chance.
Rolando, ela prometeu a si mesma que tinha acabado com a bagagem.
Se houvesse algo que a deixasse infeliz no futuro, seria descartado.
Fechando os olhos, adormeceu, sem se preocupar com figuras de
pesadelo perseguindo-a no escuro. Seus sonhos eram com ela sentada perto
do brilho da fogueira, com Matthew sentado ao lado dela.
Capítulo Quatorze

Matthew usou a toalha pendurada na nuca para enxugar o suor do rosto.


Fechando parcialmente o redemoinho, ele baixou as chamas enquanto
girava a haste de metal nelas.
“Estou exausto.”
Matthew poupou um breve olhar para Isaac, que estava colocando um
espigão de ferro pronto em uma mesa de trabalho.
“Vá em frente. Estou quase terminando com este.”
“Tem certeza?” Isaac perguntou, usando sua própria toalha para enxugar
o suor que escorria pelo peito.
“Tenho certeza. Isso termina o pedido...”
Uma batida na porta fez com que ambos virassem a cabeça.
Normalmente, todos apenas entravam.
“Entre”, Isaac chamou.
Matthew prendeu a respiração, esperando que fosse quem ele pensava
que era. E quando Alanna entrou, a restrição apertada em seu peito aliviou.
“Estava começando a pensar que você não viria.” Voltando-se para o
raio de ferro, ele colocou o tubo que controlava o soprador na boca para
continuar girando a ponta do raio nas chamas em uma série de puxões
rápidos com uma mão enluvada de couro, enquanto usava uma ferramenta
de escultura para fazer os recortes que queria no ferro.
“Você pode se sentar aqui.” Matthew ouviu Isaac mostrando a ela onde
sentar. “Eu estava indo embora”, ele disse a ela. “Matthew não vai demorar.
Ele está apenas terminando o último que precisamos fazer.”
“Posso voltar mais tarde. Não quero atrapalhar o trabalho dele.”
“Você está bem. Estamos acostumados a ter alguém por perto. Fynn
acabou de sair. Ele tirou 10 no exame de ciências, então queria mostrar. Há
bebidas no refrigerador ao seu lado. Fique à vontade.”
Com o canto do olho, Matthew viu Isaac dar um aceno rápido para
Alanna antes de sair enquanto ela pegava uma bebida. Ele forçou os olhos
de volta para o raio em vez de assistir Alanna esfregar a garrafa de água fria
em sua testa.
“Eu deveria ter esperado que estivesse quente aqui”, ela disse,
curiosamente observando seus movimentos.
Desligando o pulverizador, ele tirou o raio do fogo. Estava uma merda.
Ele havia perdido a concentração no momento em que ela entrou no prédio.
“Nós podemos ir para fora. Preciso esfriar isso.”
Ela estava em seus calcanhares enquanto ele se movia em direção à
porta.
“Como você trabalha nesse calor?” Ela acenou com a mão para se
abanar.
Pegando um par de pinças de cabo longo, Matthew mergulhou o raio na
água fria que estava em um barril ao lado da oficina.
“Gosto do calor.” Ele deu de ombros, observando uma gota de suor rolar
pelo pescoço dela para deslizar entre os seios. Ela estava tão bonita quanto
uma imagem hoje. Algo estava diferente nela, mas ele não conseguia
identificar o que era.
“Como está sua mão?”
“Bolhas, mas pelo menos não dói. Eu queria tomar conta de Freddy
hoje, mas Moses me venceu.”
“Você não deveria começar até segunda-feira”, ele a lembrou, vendo a
decepção em seus olhos.
“Tem certeza de que não foi porque eu pareço ser propensa a acidentes
perto de vocês?”
“Você realmente não pode dizer que uma reação alérgica é um acidente.
Você não sabia de sua reação, ou não teria chegado perto das cabras.”
Alanna estreitou os olhos para ele. “Ginny mostrou a você a foto que ela
tirou de mim, não foi?”
Matthew tirou o raio da água e o colocou na mesa de trabalho do lado de
fora da vitrine da loja. “Eu me recuso a responder porque isso incriminará
Ginny”, ele brincou.
“De qualquer forma...” Alanna deliberadamente mudou de assunto com
uma careta de desgosto consigo mesma. “Realmente não sou propensa a
acidentes. As cabras foram um acaso, e minha mão queimada foi o
resultado da minha gula.”
“Tome cuidado. A gula é um dos sete pecados capitais.”
“Sério? Então espero que o policial Porter seja um homem que vai à
igreja.
“Pobre Greer”, Matthew zombou. “Eu me pergunto se ele está ciente do
efeito que teve em você.”
Alanna revirou os olhos para ele. “Não ouse dizer a ele. Ele já acha que
eu estava tentando convencê-lo a quebrar seus votos de casamento.”
“Está brincando?”
“Eu realmente gostaria de estar. Ele me disse que mal tinha resistência
suficiente para satisfazer sua esposa.”
“Greer sempre pensou que ele era um mulherengo.”
“Estamos falando do mesmo homem?”
“Ele não atraiu você?”
“Nããão.” Alanna fez uma cara de horror.
Matthew pegou o raio de ferro. “Que tipo de homem você se sente
atraída?”
“Não tenho um tipo específico.”
Matthew fez um tss para ela. “Sim, você tem.” Matthew começou a se
afastar. “Vamos; vamos voltar para dentro. Já deve ter esfriado.”
Ainda estava quente, mas mais suportável, pois ele havia apagado o
fogo antes de sair da loja.
Colocando o raio de ferro na mesa de trabalho, ele tirou a luva restante.
Ele se virou e a viu parada perto da porta de ferro que ele havia feito,
encostada na parede. Caminhando rapidamente para ficar ao lado dela,
Matthew se preparou para puxá-la se ela tentasse levantar um dedo para
tocá-la, independentemente se ela o atacasse ou não.
“Cuidado. A porta é pesada.”
Ele esperava que ela lhe desse um olhar cauteloso sobre o quão perto ele
estava ao lado dela, mas parecia despreocupada, mantendo o olhar na porta
intrincadamente esculpida.
“Você faz um belo trabalho.”
“Obrigado.”
“Você e Isaac fizeram isso?”
“Sim. Temos um catálogo de ferragens que podemos produzir.”
“Você só trabalha com ferro?”
“Não, depende do que os clientes querem.”
Matthew mostrou a ela a loja, os diferentes metais com que
trabalhavam, depois alguns dos produtos acabados, que estavam
armazenados lá, esperando para serem instalados.
“Jody e Jacob normalmente instalam e entregam nossos produtos,
enquanto Isaac e eu trabalhamos aqui.”
“É legal você trabalhar com seus irmãos. Vocês parecem se dar muito
bem.”
“Temos nossos momentos. Moses prefere trabalhar sozinho, é por isso
que ele treina cães.”
“E Ezra?”
“Ele constrói móveis. Às vezes, trabalha com Silas.”
“Gerenciando a montanha?”
Matthew ergueu uma sobrancelha para ela. “Silas não te contou o que
ele faz da vida?”
“Não.”
“Silas gosta de entrar em competições, ou costumava. Ultimamente,
temos mantido ele ocupado nos ajudando. Foi ele quem ensinou marcenaria
a Ezra, então, se Ezra receber um grande pedido, ele contribuirá para fazer.
Eles acabaram de completar um grande jogo de quarto.”
“Eu invejo os talentos de sua família. Não tenho um osso talentoso no
meu corpo.”
“Quais são seus interesses?”
“Receio não ter nenhum. Sou a pessoa mais chata que você já
conheceu.”
“O que faz no seu tempo livre? Assiste televisão, lê livros, joga
videogame?”
“Não. Eu não lia um livro em anos até ir para a cadeia. Isso era tudo o
que havia para fazer lá.”
“Então, o que você faz no seu tempo livre? Não acredito que apenas se
sente e observe as paredes.”
“Não. Normalmente não tenho muito tempo livre. Quando não estou
trabalhando, sou babá de algumas mães do meu bairro que trabalham no
turno da noite e, quando não estou fazendo isso, dou aulas online para
crianças que estão atrasadas de matemática e leitura.”
“Crianças são o seu interesse.”
“Eu acho. Não é muito para se gabar, no entanto.”
“Aposto que é para as mães que você ajuda. Se gosta de trabalhar com
crianças, por que não se tornou professora?”
“Sou formada em Educação, mas me mudei para Ohio e não fui
licenciada lá. Eu já tinha acumulado empréstimos suficientes e não queria
acrescentar mais ao fazer mais aulas para obter licença em Ohio. Caso você
não saiba, ensinar não é uma carreira muito lucrativa. Imobiliária paga
muito melhor.”
“Isso faz você se sentir bem?”
“Não, não faz.” Ela deu de ombros. “Infelizmente, minhas contas
precisam ser pagas. Eventualmente, voltarei e conseguirei as aulas de que
preciso quando pagar meus empréstimos um pouco mais.”
“Parece um bom plano.”
Verificando se o fogo estava apagado e as duas janelas laterais fechadas,
Matthew foi até o refrigerador para pegar uma bebida.
“Quais são seus planos para o resto do dia?”
Alanna levantou a mão com uma torção irônica de seus lábios. “Nada.
Silas e Ginny se recusam a me deixar fazer qualquer coisa até segunda-
feira.
“Então eu tenho uma sugestão.”
“O que?”
“Depende”, ele brincou, pegando sua camisa em um gancho na parede.
“De que?”
“Você é alérgica a peixe?”
Capítulo Quinze

“Você colocou outra minhoca no anzol para mim?”


“Você está perdendo muitas minhocas e não tem peixes para mostrar.”
Matthew deu-lhe um largo sorriso quando ela lhe mostrou o gancho vazio.
Alanna lançou-lhe um olhar irritado. “Os peixes estão contra mim.”
Matthew enfiou a mão no copo de plástico ao lado dele para tirar outra
minhoca gorda. Afastando-se do cobertor que trouxe, ele pegou a vara de
pescar dela para colocar a minhoca no anzol.
“Está tudo resolvido”, ele disse, devolvendo a vara. Permanecendo
sentado onde estava, Matthew riu da expressão de nojo dela. “Isso não lhes
faz mal.”
“Quem te disse isso? Aposto que não foi uma minhoca.”
Matthew riu. “Meu pai, e eu aposto que o dele disse a mesma coisa.”
“Tem que haver uma maneira mais humana de pescar.”
“Existe, mas isca fresca é sempre melhor. Eu poderia procurar alguns
grilos quando ficarmos sem minhocas.”
Alanna deu-lhe um olhar fulminante. “Eu quis dizer algo que não
envolve matar outra criatura viva.”
Matthew inclinou a cabeça para o lado. “Você sabe que eu pretendo
limpar e fritar os peixes que pescamos, certo?”
“Vou me preocupar com isso quando pegarmos um.”
“Pessoa de pouca fé”, ele zombou.
“Tenho certeza que você dizendo isso é um sacrilégio”, ela repreendeu.
Matthew soltou um assobio baixo de apreciação. “Olhe para você,
soando como uma garota de Kentucky. A próxima coisa que sei é que vai se
esgueirar para ir à igreja com Greer.”
Alanna baixou os olhos. “Você tem um desejo de morte?” Ela perguntou
docemente.
Ele levantou uma sobrancelha arrogante para ela. “Quem conseguiria
para me matar? Você não suporta machucar uma minhoca.”
“Se mencionar o policial Porter novamente, vou abrir uma exceção.”
“Boa sorte com isso. Pretendo viver para sempre.”
“Ninguém vive para sempre.”
“Posso não viver para sempre, mas pretendo viver o suficiente para
quebrar o recorde de ser a pessoa mais velha a viver.”
As sobrancelhas de Alanna subiram. “Quantos anos tem a atual
detentora do recorde?”
“Cento e vinte e dois anos e cento e sessenta e quatro dias.”
Suas sobrancelhas subiram mais alto. “Você quer viver mais de cento e
vinte e dois anos?”
“Você não?”
Alanna olhou para onde sua isca estava flutuando na água. “Nunca
pensei nisso. Meus pais morreram jovens. Nunca me imaginei velha.”
“Você acha que vai morrer jovem?”
Matthew a viu assentir levemente.
“Você não vai”, ele disse com confiança. “Vai viver para sempre, como
eu. Vou compartilhar o segredo da longevidade com você.”
Alanna virou-se para sorrir para ele por cima do ombro. “Diga-me, oh
sábio”, ela zombou.
Estudando-a, Matthew viu a profunda tristeza em seus olhos. Ele teve
que segurar sua vara de pescar para não puxá-la protetoramente em seus
braços. Em vez disso, olhou ao redor, fingindo que estava com medo de
ouvidos atentos, então baixou a voz. “Amor”, ele sussurrou como se fosse
um segredo de estado.
“Amor?” Ela zombou dele. “Como isso faz você viver mais?”
“Porque sua memória naqueles que você deixa para trás nunca morre.
Com todos os meus irmãos, Ginny, e todos os filhos que pretendo ter,
viverei até o infinito.”
Alanna deitou-se no cobertor, colocando sua vara de pescar ao lado dela.
“Quantos filhos você pretende ter?”
“Eu pretendo superar meu pai. Vou ter dez filhos.”
“Todos os membros da sua família querem famílias grandes?”
“Sim, é por isso que trabalhamos tanto, para não ter que vender
nenhuma terra. Queremos ter nossa própria cidadezinha.”
“Isso faz sentido; todos vocês tiveram uma infância feliz e querem
compartilhar a mesma experiência com seus próprios filhos.” Alanna se
enrolou de lado, apoiando a bochecha em seu braço.
Matthew apoiou seu peso no cotovelo para olhar para ela. “Quantos
filhos você pretende ter?” Matthew viu os cílios dela se espalharem pela
bochecha quando fechou os olhos.
“Nenhum.” Ela abriu os olhos. “Não posso ter filhos.”
Matthew sentiu como se alguém tivesse se esgueirado atrás dele e o
apunhalado pelas costas.
“Você não pode ou não quer?” Ele perguntou com a voz rouca.
“Não posso.”
Ele queria perguntar por que, mas sabia que não era a pergunta
apropriada a ser feita. Estava focado em sua dor e não percebeu a dor em
seus olhos. Lentamente, Matthew estendeu a mão para arrastar a ponta de
um dedo solitário sobre sua bochecha exposta.
“Sinto muito. Você ama crianças, então isso deve ser difícil para você.”
“Não me deixo pensar nisso com frequência.”
“Então vamos mudar de assunto. Felizmente para você, eu tinha a
sensação de que não teríamos peixe frito, então trouxe alguns sanduíches.”
Sua expressão se iluminou. “Então, podemos parar de pescar?”
“Acho que você não gosta de pescar?”
“Não vai estar na minha lista para tentar novamente, não”, ela disse,
endireitando-se novamente em uma posição sentada.
Matthew puxou a bolsa de náilon que trouxe de casa. Ele abriu a bolsa e
tirou os dois sanduíches que havia preparado, entregando um a ela.
Seus olhos se arregalaram quando sua mão mergulhou com o peso. “Eu
não posso comer a coisa toda. Isso é suficiente para alimentar três pessoas.”
“Ou”, ele sorriu, abrindo seu próprio sanduíche do tamanho de um
mamute “você e a pessoa sentada ao seu lado.”
“Agora isso faz sentido.”
“Sim. Apenas coma o quanto quiser, e vou acabar com isso.”
“E se eu comesse a maior parte?” Ela brincou antes de dar uma grande
mordida no sanduíche.
Ele enfiou a mão de volta no saco, tirando três sacos de batatas fritas,
garrafas de água e quatro barras de chocolate.
“Você é um homem que pensa em tudo”, ela elogiou.
“Eu tento. Queria que você se divertisse.”
“Por que?”
Matthew usou a ponta do polegar para limpar o montinho de mostarda
do canto da boca dela. Levando o polegar à boca, ele o lambeu. “Um
homem que quer viver para sempre se sentiria solitário sem um amigo de
pesca ao seu lado.”
Alanna piscou para ele. Matthew podia ver que ela não estava pronta
para acreditar no que ele ansiava por lhe dizer.
“Mas eu odeio pescar.”
“Poderíamos fazer outras coisas além de pescar”, ele sugeriu.
Matthew viu a garganta dela se mover sob a pele clara.
“Como o quê?”
“Eu posso te ensinar a brincar com fogo.”
Capítulo Dezesseis

Deus, me ajude. Ela nunca quis abanar tanto seu rosto aquecido em sua
vida. Sentar ao lado de Matthew depois de vê-lo sem camisa em sua loja foi
um teste de resistência. Queria pegar a toalha e enxugar o suor do peito...
Quando ela entrou e viu os dois homens sem camisa, não teve
dificuldade em manter os olhos longe de Isaac enquanto o peito nu de
Matthew atraiu seu olhar como um ímã.
Ambos os homens eram bonitos, tinham uma cor de cabelo quase
semelhante. Matthew usava o dele curto, enquanto o marrom escuro de
Isaac era muito mais comprido e amarrado para trás. Matthew era mais alto
que Isaac, enquanto Isaac era mais atarracado.
As mulheres em seu escritório imobiliário estariam usando as unhas
feitas para arranhar os olhos umas das outras se viessem comprar uma casa.
Inferno, elas provavelmente entregariam sua própria casa.
A principal diferença entre eles era a maneira como Matthew a fazia se
sentir. Ela nunca se sentiu atraída por um homem do jeito que estava por
ele. Esse era o principal problema com ela, nunca foi verdadeiramente
atraída por um homem antes. Quando namorou um pai solteiro depois de se
mudar para Ohio, não passou de alguns encontros quando ficou claro que
ela não poderia retribuir seus sentimentos crescentes por ela, e não poderia
dar-lhe a menor intimidade, como um pequeno beijo, sem recuar.
Longe de recuar, ela queria enrolar-se ao redor do corpo de Matthew até
que ele precisasse de um alicate para arrancá-la dele.
Percebendo que estava olhando para ele como uma adolescente
apaixonada, levantou a mão enfaixada. “Tentei brincar com fogo e me
queimei.”
“Você não pode viver sua vida com medo da dor. Ouvi dizer que o parto
envolve muita dor. As mulheres ainda têm filhos. Eu me queimei inúmeras
vezes quando comecei a trabalhar com fogo. A loja que tenho agora é a
terceira. As outras duas foram queimadas. Você aprende a minimizar a dor e
seguir em frente. É por isso que as mulheres têm mais de um filho, e eu
construí minha última loja de metal.”
“Eu amo como você compara perder sua loja com o parto. Se os homens
dessem à luz, a humanidade deixaria de existir.”
“Eu não posso discutir sobre isso. Papai nos fez assistir a um vídeo de
uma mulher dando à luz.” Matthew abaixou a cabeça. “Acho que isso
marcou Jody emocionalmente”, ele sussurrou, como se compartilhasse um
segredo de família.
Alanna arrancou outra mordida de seu sanduíche, em seguida, entregou
o resto para ele. “Devo ter visto o mesmo filme.” Ela riu “Fez eu me sentir
melhor por não ter nenhum.”
O sorriso de Matthew desapareceu.
Ela pousou a mão enfaixada sobre a dele. “Está bem. Aprendi a lidar
com esse conhecimento desde os treze anos.”
“É uma idade jovem para descobrir algo assim.”
Alanna olhou para o pequeno lago que Matthew disse a ela que foi
criado pelo escoamento de um riacho da montanha.
“Poderia ter sido pior.” Ela deu de ombros. “Eu poderia não saber e ser
pega de surpresa quando estivesse pronta para começar uma família.”
Voltando os olhos para ele, Alanna pegou a atormentada expressão em seu
rosto. “Ei, está tudo bem. Eu não deveria ter lhe contado. Não sei por que
fiz. Nunca contei a ninguém, nem mesmo à minha mãe adotiva.”
Matthew embrulhou o que restava de seu sanduíche. “Alana...”
“Eu fiz você perder o apetite.” Ela não conseguia explicar por que de
repente se sentiu com os olhos marejados, como se tivesse roubado algo
precioso dele. Alanna balançou a cabeça para clarear seus pensamentos.
“Nós estávamos nos divertindo. Eu não queria estragar o bom momento que
estávamos desfrutando.”
“Você não pode estragar um segundo do tempo que passo com você.”
Ruborizando, ela tirou a mão que cobria a dele. “Silas te disse que
Ginny não vai fazer compras amanhã?” Alanna não lhe deu tempo para
responder. “Eu não vou precisar que você vá até minha casa para pegar
minhas coisas. O que a Sra. Bates me deu é mais do que suficiente. Pedi a
uma das mulheres com quem trabalho na imobiliária que embalasse meus
pertences pessoais e os guardasse e vendesse o resto, inclusive minha casa.”
“Silas me contou. Então, você está vendendo sua casa?”
“Sim, só me mudei para Ohio porque estava fugindo de uma situação
ruim. Quando o meu processo judicial terminar, ou estarei na prisão ou
posso ir para onde quiser viver.”
“Poderia muito bem planejar morar aqui. Kentucky vai roubar seu
coração.”
Ela tinha uma sensação terrível de que uma parte de Kentucky já fez
isso. Cada vez que olhava nos olhos de Matthew, sentia como se ele
estivesse roubando outra parte de sua alma.
“Não seria difícil de fazer. Estou aqui há apenas três dias e me sinto
mais em casa do que jamais me senti em Ohio e Indiana.”
“Deve ser eu.” Ele sorriu.
Alanna riu de seu flerte descarado. “Não, é a pescaria.” Alanna pegou
sua vara de pescar como se fosse a coisa mais importante do mundo ela
pegar um peixe.
“Você é péssima em pescar.”
Ela ergueu as sobrancelhas para ele. “Com licença? Onde estão os
colossos que você pegou? Eu não sou a única sem peixe.”
“Sem peixe?”
Ela deu de ombros. “Você sabe o que eu quero dizer.”
“Os peixes não estão mordendo porque a água está fria. Os peixes vão
para o fundo do lago, onde é mais quente.”
“Então, por que estamos perdendo nosso tempo?”
“Eu não consegui pensar em outra maneira de fazer você ir a um
piquenique comigo.”
Alanna encontrou seus olhos. “Isso é um encontro?”
“Sim, para Kentucky, é um primeiro encontro normal.”
“Sério?”
“Bem”, ele sorriu “é quando seu par tem que usar uma tornozeleira
eletrônica.”
Alanna envergonhada desviou o olhar dele. Ele só estava brincando com
ela, como fazia com o resto de sua família. Durante os dois jantares que ela
passou com ele e sua família, ele estava constantemente brincando com
eles.
Matthew puxou uma mecha do cabelo dela, fazendo-a voltar os olhos
para ele. “Eu até tirei uma foto do nosso primeiro encontro.”
Ela não ia cair na brincadeira dele uma segunda vez. Alcançando um
saquinho plástico de marshmallows, ela colocou um na boca com um olhar
incrédulo.
“Eu tirei”, ele insistiu.
“Mostre-me”, ela pediu.
“Tudo bem.” Matthew pegou o celular. Passando o dedo pela tela, virou
o telefone para mostrar a ela.
Ela desatou a rir. Ele deve ter tirado uma foto dela quando tentou
colocar sua primeira minhoca. Ela pensou que ele estava colocando a dele
também. Em vez disso, tirou uma foto dela.
“Isso não é justo. Delete isso.”
“Não. Quando estivermos pescando na idade avançada de cem anos,
posso lhe mostrar esta foto e lembrá-la de que sua pescaria não melhorou.”
“Isso é cruel.”
“Não é mais cruel do que a tortura que você infligiu naquela pobre
minhoca.”
“Eu fingi que era Greer”, ela confessou vergonhosamente.
“Você é sanguinária, mulher.” Seu sorriso se alargou. “Eu gosto disso.”
Alanna deu uma risadinha e quis bater em si por parecer uma
adolescente. Envergonhada, ela pegou outro marshmallow, apenas para
Matthew tirá-lo de sua mão.
“Você está me deixando louco por comê-lo puro. Trouxe bolachas e
barras de chocolate para você fazer alguns s'mores.”
“Não temos fogo.”
“Você não tem problema em comer marshmallows frios, mas você não
come s'mores frios?”
“Eu estava economizando as calorias.”
“Você estava sendo preguiçosa.”
“Estava.” Ela assentiu.
“Então eu vou fazer um para você.”
“Vá em frente.”
Alanna o observou montar o s'more, esperando que ele o entregasse
quando estivesse pronto.
“Você tem uma mordida na sua linha.”
Ela virou os olhos em direção a sua linha enquanto usava a mão ilesa
para pegar sua vara de pescar. Ela observou a linha; não se moveu. Alanna
voltou-se para Matthew.
“Escapou? Não está se movendo.”
“Provavelmente mordeu a isca e fugiu.”
“Pequeno idiota”, ela bufou, colocando o poste de volta para baixo.
“Aqui está”, Matthew disse, segurando o s'more.
Alanna pegou o s'more, sentindo o calor do biscoito. Ela o ergueu ao
nível dos olhos e percebeu que o chocolate estava derretido, assim como o
marshmallow. Tinha até uma borda crocante.
“Como você fez isso?” Ela perguntou, levantando os olhos curiosos para
ele.
“Magia.”
Capítulo Dezessete

“Vamos lá; como você fez isso?”


Seus olhos brilharam com o riso quando ele abriu a mão para mostrar o
isqueiro.
Alanna se moveu para se sentar de pernas cruzadas no cobertor. “Eu
amo s'mores”, ela disse, dando uma mordida.
“Especialmente quando você não tem que fazê-los”, ele brincou com
ela.
“Você não vai fazer um para você?”
“Você podia me dar uma mordida do seu.”
Alanna começou a quebrar o s'more ao meio, como se ela tivesse um
sanduíche, mas Matthew agarrou seu pulso e puxou-o em direção à boca.
Seu corpo derreteu em um barril quente de mel quando ele abriu a boca e
deu uma mordida onde ela tinha dado. Quando ele soltou sua mão para que
ela pudesse pegá-lo de volta, ela perdeu todas as funções cerebrais quando a
ponta de sua língua saiu para lamber um pedaço de chocolate do canto de
sua boca.
Pela expressão de seus olhos travessos, Matthew estava bem ciente do
que estava fazendo. Como ele não poderia? Um homem que se parecesse
como ele teria que ser enterrado sob uma rocha, no planeta Netuno, para
que as mulheres não o cobiçassem.
Sem pensar, ela terminou seu s'more enquanto Matthew colocava tudo
de volta no refrigerador.
“Amanhã, Silas vai fazer uma pequena viagem de carro até a Virgínia
Ocidental para comprar mais carne para reabastecer nosso freezer. Você
quer vir conosco?” Ele ofereceu.
“Eu adoraria, mas”, Alanna endireitou as pernas e deu um aceno em
direção ao monitor de tornozelo “como você pode ver, eu não posso ir.”
“Não se preocupe; Tenho certeza de que Silas pode convencer o xerife a
deixá-la ir.”
Ela deu-lhe um olhar duvidoso. “Eu duvido. As diretrizes que tenho que
seguir são bastante diretas. Se eu der um passo fora do alcance a que estou
limitada, volto para a cadeia.”
“Você quer ir ou não?”
“Sim, adoraria.”
“Então deixe comigo e Silas.”
“Ok...” ela falou lentamente. “Mas se eu tiver que voltar para a cadeia, é
melhor você me levar um s'more com uma lixa de unha no meio.”
“Não terei que fazer isso. Vou apenas subornar Greer com um bife para
deixar você escapar.”
Sua boca caiu aberta, e ela deu um tapa na testa com sua estupidez. “Por
que não pensei nisso?”
Matthew tamborilou os dedos na têmpora. “Quando você está lidando
com Greer, tem que pensar na mesma sintonia.”
“Comida.” Ela assentiu, evitando bater em si novamente.
“Comida.” Matthew sorriu. “E quando isso falha, há outra coisa que ele
não consegue resistir.”
“Batatas assadas?”
Ele balançou a cabeça rindo. “Dinheiro.”
“Sério?”
“Oh sim. Greer ama dinheiro tanto quanto ama comida.”
“Ainda não consigo acreditar que ele é casado. A mulher dele deve ser
uma santa.”
“Holly cuida de Greer como um falcão. Ela tem medo de que ele seja
preso por vender maconha pela cidade.”
“O xerife sabe?”
Matthew deu a ela um olhar você está brincando. “Knox é o melhor
cliente de Greer. A cidade inteira sabe que Greer e seus irmãos cultivam a
melhor maconha do Kentucky. Para ser sincero, a melhor do país.”
“Você está brincando?”
“Não. O negócio de maconha em Kentucky não é brincadeira. Podemos
dar uma volta pela propriedade, se você quiser, e posso lhe mostrar as
placas de proibição de invasão que marcam onde começa a propriedade.
Qualquer um que der um passo em sua propriedade, sabe disso e não
precisa de cães para alertá-lo. Os Porters colocaram armadilhas em todos os
lugares para manter as pessoas fora de sua colheita.”
“Como eles se safam disso?”
Matthew arqueou uma sobrancelha para ela. “Você perdeu onde eu disse
que o xerife é o melhor cliente de Greer?”
Matthew se levantou do cobertor para estender a mão. “Você quer ir
para aquela caminhada?”
“Oh sim, eu tenho que ver os sinais. O que eles fazem com os
invasores? Ligam para o xerife?”
“Não, todo mundo sabe que se você der um passo em sua propriedade,
está colocando sua vida em suas próprias mãos. Há uma razão para Greer
ser policial, mesmo que ele seja um pé no saco. Ele é um dos melhores
atiradores do condado.”
“Um dos melhores?”
Matthew não soltou a mão dela quando eles começaram a andar. “Seus
irmãos, Tate e Dustin, e sua irmã, Rachel, têm uma competição para ver
quem mata mais atirando.”
Alanna parou de andar com sua escolha de palavras. “Matar? Animais?”
“Pessoas.”
Ela olhou para ele, perplexa, então usou o ombro para esbarrar nele.
“Não tem jeito. Você está zoando comigo.”
Ele puxou a mão dela para fazê-la se mover novamente. “Ok. Estou
brincando.”
Alanna olhou para seu perfil. Ele parecia estar sério, mas ela não seria
enganada por seus olhos novamente. Seus lábios se contraíram. Ele estava
realmente zoando desta vez. Ela ficaria chocada se Greer conseguisse tirar a
arma do coldre. Ele estaria muito ocupado comendo para ser incomodado.
Quando chegaram ao primeiro sinal, Alanna caiu na gargalhada com
tanta força que teve que segurar o abdômen. “‘Vá em frente e leve um
tiro!’”
“Essa é bem mansa.”
“Sua família coloca placas para se vingar deles?”
“É claro.”
Andando um pouco mais, eles chegaram a outra placa.
Alanna teve que abraçar o poste de madeira da cerca quando leu para
não dobrar. “‘Este novilho não é para você, Greer. Siga em frente.’ Oh meu
Deus, isso não tem preço. Funciona?”
Matthew deu a ela outro olhar você está brincando. “O que você acha?”
“Há mais?”
“Oh sim. Greer adora fazer placas. Ele as troca a cada duas semanas.”
Matthew a acompanhou pela propriedade, mostrando-lhe as diferentes
partes onde as terras dos Coleman se cruzavam com as dos Porters.
“Achamos que isso pode estar na direção de onde ele cultiva suas plantas.”
Ela não precisou dar um passo à frente para ler a placa; e podia ler de
onde estava. “‘Monitorado por...” ela leu em voz alta. Debaixo das palavras
havia uma foto de um rifle em vez de uma câmera. Em seguida, havia outra
postada ao lado dela. “‘Você está a sessenta segundos de conhecer o agente
funerário’.” Alanna olhou ao redor, não vendo nenhum dos Colemans.
“Você deixou ele ficar com isso?”
Matthew apontou para cima e Alanna olhou para onde ele apontava.
Havia um alvo na mesma árvore que os Porters haviam postado. No
meio do alvo havia uma foto de uma mão dando o sinal de foda-se. Ela
olhou para a placa com apreço.
“Você sabe quantas vezes eu quis fazer isso quando Greer estava me
deixando louca?”
“Suponho que muitas.”
“Seus irmãos são como ele?”
“Sim e não. Praticamente ninguém mexe com Tate. Ninguém quer ficar
com o lado ruim dele, enquanto todo mundo gosta de Dustin. Ele se tornou
um consultor financeiro. Ouvi dizer que ele é muito bom nisso.”
“E a irmã dele?”
“Rachel casou-se com um Last Rider. Ela também trabalha para eles. De
vez em quando, quando está procurando uma determinada planta, ela vem
aqui para pedir permissão a Silas para procurá-la em nossa terra. Rachel é
botânica. Ela tem doutorado em aquicultura. Três vezes por ano, ela coleta
amostras de nossos córregos, lagoa e água do poço.”
“Ela já encontrou alguma coisa interessante?”
“Se ela encontrou, não nos disse ainda. Lembre-se, no fundo, ela é uma
Porter; se encontrasse algo realmente bom, ficaria com medo de que não a
deixássemos voltar.” Matthew olhou para o céu que escurecia. “Devemos
voltar. Eu não trouxe uma lanterna comigo. Vou levá-la até o trailer e depois
pegar uma lanterna do Jody para voltar ao lago para pegar as varas.”
Alanna odiou que o dia chegasse ao fim. Ela tinha gostado de passar a
maior parte do dia com ele. Mesmo antes de se encontrar na prisão em
Treepoint, seus dias vinham se arrastando com uma regularidade chata.
Mesmo a felicidade que ela encontrava como babá ou tutoria durava pouco,
como se houvesse uma nuvem de tempestade esperando para quebrar e
enviar uma chuva de catástrofe. Ela não se sentiu assim hoje. O dia inteiro
foi passado com o sol brilhando e nenhuma nuvem à vista.
Matthew esperou no último degrau quando chegaram ao trailer.
“Além da pesca, eu me diverti hoje. Obrigada.”
Matthew colocou a mão sobre o coração. “Estou arrasado por você não
gostar de pescar. Da próxima vez, vou te ensinar como atirar com arco e
flecha para que possa ser minha companheira de caça se a pesca não for sua
praia.”
Alanna deu-lhe um olhar maligno. “O que você tem contra os animais?”
“Nada. Eu amo animais, especialmente quando eles são grandes o
suficiente para ter quatro pontas em seus chifres, e eu consigo fazer alguns
assados e vários quilos de carne cozida.”
“Você é melhor pescador ou caçador?”
“O mesmo.”
Alanna abriu a porta para entrar, mas não resistiu a um tiro de
despedida.
“Então eu acho que os animais estão seguros.”
Capítulo Dezoito

Matthew voltou para o lago sem se preocupar em pegar a lanterna. Ele


podia ver facilmente no escuro. A única razão pela qual pegou a lanterna na
noite anterior foi para que Alanna pudesse ver por onde estava andando.
Colocando a alça do cooler de náilon no ombro, ele juntou as varas, o
cobertor e a caixa de apetrechos e caminhou até sua casa, onde jogou tudo
na varanda da frente antes de caminhar em direção à casa de Silas. A cada
passo que dava, a mistura de emoções que estivera segurando durante toda a
tarde o assaltava em onda após onda de dor.
Ao se aproximar da varanda de Silas, teve que se curvar para colocar as
mãos nas coxas para recuperar o fôlego. Todo o seu corpo tremia com uma
fúria selvagem e uma angústia tão profunda que ele sentia a ardência das
lágrimas nos olhos. Endireitando-se, virou a esquina para subir os degraus
da varanda.
Ele diminuiu a velocidade quando viu que todos os seus irmãos e Ginny
estavam lá, esperando por ele.
Alcançando a varanda, foi até o corrimão para segurá-lo firmemente ao
lado de onde Ezra estava sentado em cima.
Depois de duas respirações profundas, ele conseguiu virar a cabeça para
encarar Ezra. “Você sabia.”
Os olhos de Ezra estavam cheios de dor, mas estoicos. “Sim.”
Virando-se, Matthew fixou os olhos em Fynn, que estava ao lado de
Silas, que tinha um braço protetor em volta do irmão mais novo. “Você
viu.”
Fynn apenas assentiu.
Matthew deu um passo à frente, incapaz de evitar alcançar Fynn.
“Matthew, ele é apenas um menino.”
Matthew saiu do aperto de Silas para puxar Fynn para perto. Dando um
abraço em Fynn, ele teve que limpar a garganta antes de soltá-lo e girá-lo
em direção à porta. “Vá para dentro.”
O menino não se mexeu.
“Eu quero ficar”, Fynn argumentou.
“Vá para dentro, Fynn”, Silas ordenou.
Relutantemente, seu irmãozinho entrou.
Matthew esperou até que a porta estivesse fechada para fazer a pergunta
que estava martelando em sua cabeça o dia todo.
“Por que ela não pode ter filhos?”
Silas foi se sentar no corrimão ao lado de Ezra. “Owen.”
“Eu vou matá-lo”, Matthew prometeu, dando um passo em direção ao
final da varanda.
Isaac, Moses, Jacob e Jody o bloquearam.
“Você não pode”, Ezra avisou, permanecendo sentado onde estava.
Matthew cerrou os punhos ao lado do corpo enquanto olhava para os
irmãos que o bloqueavam. “Você sabia?”
Todos eles balançaram a cabeça.
“Silas só nos contou algumas horas atrás”, Isaac disse.
No mesmo momento que Alanna me contou, Matthew supôs.
Matthew se virou para encarar Silas de forma acusadora. “Mas você
sabia o tempo todo, não é?”
“Sim, descobri quando ela saiu do consultório médico quando sua
assistente social a levou quando sua mãe adotiva ficou preocupada depois
que Alanna não menstruava.” O rosto de Silas estava frio como pedra
enquanto ele falava, mas seus olhos compartilhavam a dor que Matthew
estava sentindo.
Silas fez uma pausa, sabendo como as próximas palavras o afetariam.
“Ela tinha treze anos.”
“Foi quando você disse que ela parou de falar com você.”
Silas assentiu. “Ela ficou deprimida, parou de comer e tudo o que ela
queria fazer era conversar comigo e com você, estivesse ela dentro ou fora.
O remédio que deram para ela silenciou minha voz, independentemente do
quanto eu tentasse.”
“Por que diabos você me disse que eu teria dez filhos, Ezra?” Ele gritou
para seu irmão.
“Você terá dez filhos, cinco meninos e cinco meninas. Simplesmente
não virão do seu corpo.”
“Você deixou esse último detalhe de fora.”
“Eu precisei.” Ezra suspirou. “Se eu ou Silas tivéssemos contado antes,
você teria matado Owen, e Alanna nunca viria para Treepoint. Não posso
mudar a forma como as estrelas são escritas. Eu queria poder.” A expressão
de Ezra tornou-se resignada. “Não havia como eles deixarem você ter dez
filhos. Somos muito poderosos. Gerações cresceram nesta montanha.” Ezra
acenou para todos os seus irmãos. “Ainda assim, somos oito. Além dos
Porters, não temos nenhum parente espalhado pelo condado ou morando em
outros estados. Todos nós queremos famílias grandes. Se cada um de nós
tiver pelo menos quatro filhos e eles tiverem quatro filhos… sempre
limitarão nossos números para nos proteger.”
“Eu queria muitos, então eles não vão me dar nenhum?” Ele disse
dolorosamente, querendo se enfurecer contra os deuses, mas sabendo que se
o fizesse, a represália viria rapidamente.
Ginny se afastou do corrimão em que estava encostada. “Estão dando a
você dez filhos”, ela disse suavemente com lágrimas em seus olhos. “Dez
crianças que não crescerão sem pai ou sem mãe.” Caminhando em direção a
ele, ela tomou seus punhos cerrados em suas mãos. “Dez filhos que você
pode dar a mesma infância maravilhosa que teve, que todos nós tivemos.
Você se sentiu diferente em relação a mim quando eu disse que não era sua
irmã biológica?”
“Não!” Ele amava Ginny tanto quanto amava Leah.
Matthew olhou para a barriga inchada de Ginny. Ele nunca veria Alanna
crescer com seu filho. Foi roubado deles, assim como tantos outros
primeiros momentos foram roubados.
Matthew quebrou, incapaz de se conter, seu rosto desesperado. “Eu
queria ser o primeiro a segurar meu próprio filho quando ele nascesse.”
Ginny soltou as mãos dele para abraçá-lo. “Você não estará segurando
um filho que você criou, mas vai segurar seu filho. Não significa que não
será tão significativo.”
Isaac se aproximou dele, colocando os braços ao redor dele e de Ginny.
“Você pode segurar meu filho primeiro”, ele ofereceu.
Matthew sentiu os braços de Jody e Jacob ao redor deles.
“Meu também”, Jody disse.
“O mesmo, mano”, Jacob adicionou.
A mão de Moses pousou pesadamente em seu ombro. “Ezra não vai me
dizer quantos terei, mas, cara, você tem direito ao primeiro.”
Matthew ouviu a batida da porta de tela.
“Você pode ter o meu. Eu não quero filhos.” Fynn se esgueirou por
baixo de seus irmãos para envolver as mãos na cintura de Matthew.
Matthew ergueu os olhos para onde Ezra e Silas ainda estavam sentados,
vendo a mesma coisa em seus olhos que ele sempre via quando falavam
sobre seu futuro com Alanna. Amor interminável.
“Pelo menos me diga que você não mentiu sobre quantos anos
viveremos.”
Ezra deu-lhe uma cara feia. “Mano, eu não sei por que você quer viver
tanto. Vai ter que ter bolas protéticas.”
Matthew sentiu amor ao seu redor e sabia que não tinha do que
reclamar. Ele já foi abençoado com sua família, sua alma gêmea finalmente
encontrou seu caminho para ele, e ela parecia estar começando a gostar
dele. Ter seus próprios filhos seria apenas a cereja em um bolo já
fortemente decorado.
“Isso é fácil de responder”, Matthew zombou de volta. “Pelo menos um
de nós tem que sobreviver ao Greer.”
Capítulo Dezenove

“Eu não vou.” Alanna deu outra olhada em quem estava sentado no banco
da frente com Silas e começou a caminhar de volta para seu trailer.
“Vamos, Alana.”
Alanna ouviu Matthew correndo para alcançá-la.
“Prometo que ele vai se comportar. Esta é a única maneira do xerife
deixar você ir.”
“Então eu não vou.”
“Vamos”, ele persuadiu. “Ele não vai dizer uma palavra, prometo. Eles
têm cidra de maçã fresca e maçãs carameladas.”
Ele a ganhou na cidra de maçã.
Girando em seus tênis, ela deu a ele um olhar ameaçador. “Se ele tocar
minha maçã caramelada, vou enfiá-la em sua goela abaixo”, ela avisou.
Matthew levantou a mão, como se estivesse prometendo. “Eu vou fazer
isso por você.”
Alanna enfiou um dedo em seu peito. “Vou te fazer cumprir essa
promessa.”
Matthew assentiu solenemente.
Eles voltaram para a caminhonete de Silas, e Matthew segurou a porta
traseira aberta para ela atrás de Greer, permitindo que ela deslizasse para
dentro. Alanna olhou para frente quando Matthew fechou a porta e foi para
a outra.
“Vamos pegar a estrada”, Matthew disse com entusiasmo, fechando a
porta assim que entrou.
“Estava na hora.”
A voz sarcástica de Greer soou como pregos em um quadro-negro para
ela.
Matthew deu a ela um olhar de desculpas quando Silas saiu da garagem.
“Pode ligar o rádio, Silas?”
Uma música calma encheu a cabine da caminhonete enquanto Silas
pegava a estrada principal na direção oposta de Treepoint.
Enquanto Silas dirigia, todos ficaram em silêncio, incluindo Greer.
Alanna foi capaz de relaxar em seu assento e olhar para a paisagem. As
árvores estavam lindas, começando a brotar na primavera. Olhando para
elas, ela começou a perceber que não estava vendo os troncos das árvores;
estava olhando para o topo das árvores. Inclinando a cabeça mais perto da
janela, olhou para baixo para ver a enorme queda. Eles estavam subindo a
montanha e indo mais alto.
“Você tem medo de altura?"
Alanna se afastou da janela para sorrir para Matthew. “Não. Uma das
poucas coisas que eu não tenho medo.”
“Veja se você pode dizer isso em cerca de dez minutos. Nós vamos
descer e depois subir aquela grande.” Greer apontou para o para-brisa
dianteiro.
Alanna inclinou a cabeça para o lado para olhar ao redor do assento de
Greer. Ela olhou para frente.
“Pensei que você disse que não tinha medo de altura”, ele brincou.
“Eu não tenho. Estou impressionada com o quão bonita é.”
A viagem de uma hora não foi tão ruim quanto ela esperava. O que foi
inesperado foi o estômago enjoado da estrada sinuosa da montanha. A certa
altura, ela pensou que ia vomitar.
“Silas, você pode precisar encostar”, ela engasgou, colocando a mão
sobre a boca.
Greer se virou para dar a ela um punhado de doces de aparência
estranha. “Chupe um desses.”
Ela olhou para sua mão enfaixada, segurando o doce com desconfiança.
“O que são?"
“Doce caseiro de gengibre.” Greer franziu a testa. “O que você acha que
são?”
“Não sei.”
“Ah...” Greer se virou.
Matthew deu-lhe um olhar risonho. Ele sabia o que ela suspeitava que
era.
Abrindo um dos doces duros, ela o colocou na boca. Depois de alguns
minutos, seu estômago parou de rolar a cada curva da estrada.
“Nenhum de seus irmãos ou Ginny quis se juntar a nós?” Ela perguntou
para esquecer as voltas e reviravoltas.
“Não.” Matthew deu-lhe um olhar solidário. “O estômago de Ginny não
aguentaria as curvas melhor do que você, e todos os garotos saíram para
caçar esta manhã.”
“É melhor eles não estarem caçando nas terras dos Porter. Eles vão levar
um tiro na bunda”, Greer grunhiu por cima do ombro.
“Eles não vão precisar”, Matthew assegurou-lhe. “Todos os cervos estão
na propriedade Coleman.”
Alanna ficou aliviada quando Silas fez um desvio marcado com
“Sunlight Farm and Orchard”. Havia vários carros estacionados quando
eles chegaram.
Saindo da caminhonete, Alanna podia ouvir os gritos das vozes das
crianças.
“Salve-me”, Greer resmungou. “Eu não posso ficar longe de crianças
por um dia para salvar minha vida.”
Greer caminhava ao lado de Silas, enquanto Matthew e ela caminhavam
atrás deles.
Greer lançou-lhe um olhar de advertência. “Certifique-se de ficar dentro
da minha vista. Você não vai escapar no meu turno.”
Alanna não aguentava mais. Ela levantou a mão para...
Matthew pegou a mão dela. “Não vale a pena.”
“Não para você, mas valeria para mim.”
“Seja a pessoa melhor.”
“Ok.”
Ela decidiu fingir que Greer não estava lá e não o deixar arruinar seu
dia.
“Para onde vamos primeiro?” Matthew perguntou a Silas.
“O celeiro. Preciso fazer um pedido.”
“Eles não têm cabras, têm?” Ela sussurrou de lado para Matthew.
“Não. Eles têm vacas, cordeiros e porcos.”
“Você acha que eu poderia ser alérgica a eles?”
“Apenas não toque em nenhum deles, e deve ficar bem.”
O celeiro era uma boa caminhada. Eles tiveram que passar pelo pomar
de macieiras e pelo que parecia ser um stand de produtos ligado a um
prédio onde as pessoas entravam e saíam, carregando sacolas.
“É uma caminhada mais longa do que eu esperava.”
Matthew assentiu. “Para evitar que os clientes sintam o cheiro dos
animais.”
Seu nariz lhe disse quando eles estavam se aproximando antes que ela
avistasse o grande celeiro vermelho.
Ao entrarem, um homem atarracado, que conversava com outro, pediu
licença para cumprimentar Silas.
“Oi, Silas. Faz tempo que não te vejo por aí. Estava começando a pensar
que você se tornou vegano.”
“Jimbo.” Silas pegou a mão estendida para ele. “Trouxe alguma
companhia comigo hoje. Você conhece Greer e meu irmão, e esta é uma
amiga nossa, Alanna.
“Prazer em conhecê-la.” Alanna pegou a mão estendida para ela,
rapidamente puxando para trás depois de um segundo. O homem poderia
ser amigável, mas ela reconheceu uma maldade familiar em seus olhos.
Tremendo, ela se aproximou de Matthew, que passou o braço em volta
de sua cintura e deu um breve olhar em sua direção.
A fachada amigável começou a desaparecer quando o rosto corado de
Jimbo virou na direção de Greer. “Achei que tinha dito para você não vir
mais aqui.”
“Ele está aqui comigo”, Silas interveio suavemente. “Vou pagar pelo
pedido dele hoje.”
Alanna olhou para Matthew. Agora ela entendia como Silas obteve
permissão para deixar a propriedade dos Colemans.
“Nesse caso, vamos anotar seus pedidos.” Ele puxou o que parecia ser
um computador portátil pendurado em seu jeans. “Eu tenho vários que você
pode dar uma olhada. Tenho uma verdadeira beleza aqui.”
Jimbo começou a caminhar até uma baia que tinha um portão de metal,
e todos o seguiram.
“Eu esperava que ela fosse uma vaca leiteira premiada. Ela estava seca
como um osso, então eu a engordei.”
Alanna instintivamente deu um passo à frente, incapaz de resistir aos
grandes olhos cheios de alma.
“Ah... Ela é tão doce.” Ela estendeu a mão para tocar o nariz que estava
tentando passar pelo portão.
“Nuh-uh. Não vamos arriscar”, Matthew advertiu, afastando a mão dela.
“Vou levá-la”, Greer falou imediatamente.
Jimbo apertou as teclas de uma máquina.
“Como você quer que a carne seja dividida?”
“Dividida?” Alanna sussurrou, horrorizada.
“Dê-me quarenta por cento em uma variedade de assados, moa cerca de
trinta por cento, os jovens gostam de seus hambúrgueres, e o resto em
bifes.”
Alanna enfiou a mão no bolso para outra bala de gengibre.
“Vou tirar o máximo dela que puder.” Jimbo deixou a máquina ficar ao
seu lado e acenou com a cabeça para outra baia, uma acima. “Agora, essa
aqui é um pouco menor, mas ela é alimentada com capim.”
Alanna não se afastou com os homens, sentindo a vaca olhando para ela
suplicante.
“O que há de errado?” Matthew perguntou, voltando.
“Eles vão matá-la”, ela disse severamente.
“Sim, é por isso que viemos aqui, para comprar a carne que comemos.”
A mão dela foi para o estômago. “Ela parece tão doce.”
Matthew olhou para a vaca. Ela podia dizer que ele não estava tão
apaixonado por ela quanto ela.
“Alanna, tudo bem?” Silas perguntou, voltando.
“Alanna não quer que a vaca seja morta.” Matthew deu a Silas um olhar
impotente.
“Que pena. Ela vai estar na minha mesa de jantar”, Greer disse sem
simpatia. “Vai nos alimentar por pelo menos seis meses.”
“Você vai fazer isso durar três meses”, Matthew retrucou.
“Não importa. Serão três meses de puro prazer pelos quais não tenho
que pagar.” Greer sorriu.
Alanna perdeu a cabeça. Saltou para frente, seus pés deixando o chão,
seus olhos em sua garganta.
Matthew a pegou no meio do salto com um braço em volta da cintura.
“Matthew, por que você não leva Alanna para a loja?” Silas se colocou
entre ela e Greer. “Abasteça-nos com o que precisamos. Ginny está
querendo duas sacas de maçãs.”
“Ela não deveria estar fora da minha vista”, Greer retrucou, indo atrás
deles enquanto Matthew tentava conduzi-la para longe.
“Então você pode ir com eles. Vou escolher o porco para você”, Silas
disse benignamente.
Greer parou em seu caminho. “Você vai me comprar um pouco de carne
de porco?”
“Depende.” Silas arqueou uma sobrancelha para ele.
“Vocês, crianças, continuem.” Greer voltou-se para Silas, puxando a
calça jeans para cima. “Temos alguns negócios para tratar.”
Alanna mal conseguiu sair do alcance da voz. “Eu não suporto aquele
homem. Ele vai matar aquela vaca doce.”
“Se Greer não tivesse escolhido a vaca, outra pessoa teria.
Provavelmente Silas. Greer não mataria ele mesmo...bem, ele mataria se...”
“Não me refiro a Greer. Quero dizer Jimbo”, ela sussurrou seu nome.
“Sim...ele é quem as mata. Mas, para ser justo, é isso que ele faz para
viver...e você não teve problemas em comer aquele bife no prato na outra
noite.”
“Eu nunca vou comer outro produto de carne”, ela jurou, então se
lembrou de como o bife estava gostoso. “Pelo menos, não depois de
conhecê-los. Como você pode criar um animal para o abate? Você não se
apega?”
Matthew começou a parecer desconfortável.
Alanna estreitou os olhos para ele. “Você faz, não faz?” Ela perguntou a
ele acusadoramente.
Suas bochechas estavam ficando coradas. “Nós não nos apegamos a
animais de fazenda”, ele tentou explicar. “Nós não os acariciamos ou damos
nomes a eles.”
Alanna puxou sua mão livre. “O que você matou?”
“Não muito. Duas galinhas…”
“O que mais?”
“Nada...mas Isaac ou Silas matam cabras para...”
Alanna levantou a mão para impedi-lo de dizer mais alguma coisa. “Eles
matam cabras?”
“Eles matam...eu não”, ele assegurou a ela.
Alanna pensou naquelas cabras doces mastigando galhos. Ela gostou de
trabalhar com elas até se tornar a Noiva de Frankenstein.
“Você vai dizer a eles para não fazer isso enquanto eu estiver lá?”
Matthew assentiu ansiosamente. “É claro.”
Alanna relaxou sua postura rígida. Não era como se seus irmãos fossem
matadores de animais fofos, galinhas não eram fofas. Ainda assim, ela não
queria que fossem mortas.
“Pelo menos tem uma coisa boa.”
“O que é?” Ela foi forçada a perguntar quando ele de brincadeira bateu
em seu ombro com o dele.
“Pelo menos você nunca conheceu nenhuma das cabras ou galinhas no
freezer.”
Capítulo Vinte

Entrando na loja, Alanna ficou encantada com a atmosfera antiquada de


barris de madeira cheios de seus produtos caseiros, cestas de maçãs, potes e
potes de frutas em conserva, geleias e legumes.
A loja estava cheia de clientes enquanto uma mulher atrás de um balcão
de madeira os atendia.
“Olá”, ela os cumprimentou quando entraram pela porta. “Se precisar de
alguma coisa, é só gritar.”
Alanna não sabia por onde começar. Ela queria tudo.
Matthew deve ter percebido sua hesitação. Sob seu olhar divertido, ele a
levou para as prateleiras.
“Este é um começo tão bom quanto qualquer outro. Vê alguma coisa
que você quer?”
Ela via várias. O problema era que ela não tinha dinheiro.
“Escolha o que quiser. Silas vai pagar por isso. Vai para o depósito,
então se alguém quiser, pode pegar. Isso inclui você. Apenas certifique-se
de comprar o suficiente para durar por um longo tempo. Nós só viemos aqui
algumas vezes por ano.”
Ela não resistiu às conservas de pêssego. Pegou um pote.
Matthew pegou cinco.
“Eu amo torta de pêssego”, ele explicou em seu olhar surpreso. “Vou
colocar isso no balcão e pegar uma cesta. Volto já.”
Alanna o deixou pegar o pote que ela estava segurando.
Ela estava decidindo se iria pegar o recheio de torta de cereja ou de
maçã quando viu uma mulher frágil saindo de um quarto dos fundos.
Alanna sorriu para ela quando a mulher notou seu olhar sobre ela. Ela usava
o mesmo avental verde que a mulher atrás do balcão estava usando. Com
seu sorriso, a mulher saiu da sala dos fundos e caminhou em direção a ela.
Ela deve ter entendido mal seu sorriso, como se estivesse precisando de
ajuda.
A cada passo que a mulher dava, ela levantava a longa bengala de metal
presa ao braço. Olhando para baixo, Alanna podia ver que uma de suas
pernas era mais curta que a outra e ela estava usando um sapato de sola
mais grossa naquele pé. Alanna se sentiu mal por estar desperdiçando uma
viagem para ver se precisava de alguma coisa, então caminhou ao seu
encontro.
“Eu não preciso de nada”, ela disse, virando a cabeça para ver onde
Matthew foi. Voltando-se, viu a mulher olhando para ela com curiosidade.
“Estou bem. Não preciso de nada”, Alanna repetiu.
O rosto da mulher clareou com um sorriso compreensivo.
“Ei, Hanna Joy.” Matthew veio para o lado dela, segurando uma cesta na
mão. Ele colocou a cesta no chão e começou a fazer uma série de
movimentos com as mãos enquanto falava. “Como você tem passado? Não
te vi da última vez que vim com Silas. ”
A mulher apoiou a bengala em seu quadril quando começou a sinalizar
de volta. “Fiquei com a Lívia enquanto fazia outra cirurgia no quadril. ”
Matthew falou as palavras em voz alta enquanto Hanna Joy gesticulava,
e então ele gesticulou de volta.
“A cirurgia deve ter corrido bem. Pensei que você ia quebrar um limite
de velocidade por um segundo.” Sua provocação fez a mulher rir.
Em sua risada, Alanna percebeu que ela era muito mais jovem do que a
impressão inicial que dava. Alanna pensou que ela tinha mais de trinta anos.
Com o riso relaxando seu rosto, Alanna pensou que ela poderia estar em
seus vinte e poucos anos. A maneira como ela usava o cabelo castanho
enrolado para trás, sem maquiagem, a fazia parecer mais velha, e o avental
sem graça também não estava ajudando. Alanna achou que o laranja da
prisão não lhe fizera nenhum favor, mas aquele verde vomitado era atroz.
“A cirurgia foi mais longa do que o esperado, mas agora posso andar
com uma bengala. ”
Alanna estava ouvindo a conversa gesticulada entre Matthew e Hanna
Joy quando a campainha da porta tocou. Jimbo, Greer e Silas entraram,
avistando-os.
“Então, eu vejo...” Matthew estava sinalizando quando Jimbo os
alcançou primeiro.
“O que você está fazendo fora de casa?” Ele gritou, abaixando o rosto
para Hanna Joy, que se encolheu quando ele se moveu para se colocar entre
ela e Matthew. “Eu disse que iria substituir a Lívia.”
Alanna começou a dar ao fazendeiro arrogante um gosto de seu próprio
remédio ao falar dessa maneira com a mulher encolhida. Pelas expressões
de Silas, Matthew e Greer, ela não seria a única.
“Pare com isso, pai.”
A outra mulher veio de trás do balcão para pegar Hanna Joy pelos
ombros, movendo-a para o lado. Pelos movimentos bruscos que ela fazia
enquanto falava, Alanna adivinhou que ela estava gritando em linguagem
de sinais.
“Ela estava aqui por um minuto para me dar uma pausa no banheiro
porque você estava atrasado para chegar aqui.”
“Eu estava ocupado”, ele resmungou.
“É por isso que sugeri que você contratasse ajuda extra, o que você
recusou.”
“Não preciso de ajuda extra. Eu tenho Dean. Ele estará de volta
amanhã.”
“Dean desistiu!”
“Ele voltará; você vai ver!”
“Ok...” a mulher falou lentamente, revirando os olhos para o pai antes
de voltar o olhar para o resto deles assistindo a interação. “Desculpe pela
comoção”, ela se desculpou.
Alanna queria dizer que não cabia a ela se desculpar pela forma como
Jimbo reagiu.
“Não precisa se desculpar. Receio que fomos nós que mantivemos
Jimbo ocupado”, Silas disse com uma voz calma, sinalizando enquanto
falava.
Algo em seu tom fez Alanna olhar para o rosto de Silas. Alanna sorriu
para a mulher quando Silas a pegou olhando para ele, apresentando-a a
Lívia.
“É um prazer conhecê-la”, a mulher cumprimentou-a com um sorriso
antes de voltar um sorriso fumegante para seu pai. “Já que você está aqui,
vou levar Hanna Joy de volta para casa e fazer o almoço.”
“É bom ver você, Lívia”, Silas disse, alcançando um barril ao lado dele,
que continha pequenas garrafas de mel. “Quanto tempo você vai ficar?”
“Eu deveria ir hoje à noite, mas vou esperar e ver se Dean aparece
amanhã”, Livia explicou.
“Pode ir. Não preciso de você”, Jimbo latiu.
Alanna percebeu que, enquanto Silas e Lívia gesticulavam para que
Hanna Joy soubesse da conversa que acontecia ao seu redor, Jimbo não.
Livia ignorou desdenhosamente seu pai. “Prazer em vê-los novamente,
Silas, Greer, Matthew. Alanna, foi um prazer conhecê-la.”
“Encontrou o que queria?” Matthew perguntou enquanto as duas
mulheres saíam da loja e Jimbo andava em direção ao balcão, onde os
clientes estavam alinhados, esperando.
“Estava tentando escolher entre recheio de torta de cereja e maçã”, ela
disse a ele.
“Nós podemos pegar os dois.” Matthew pegou vários potes de cada tipo
para colocar na cesta que estava segurando. Alanna não perdeu a forma
como Silas observava as mulheres passarem pela janela até que estivessem
fora de vista.
“Quando você vai convidá-la para sair?” Alanna ouviu Greer perguntar
pelas costas.
“Eu convidei”, Silas disse. “Ela me disse que não.”
“Então siga em frente. Você não está ficando mais jovem.”
“Cale a boca, Greer, e escolha o que você quer.”
“Não precisa me dizer duas vezes”, Greer disse, alegremente pegando
uma cesta.
Silas ficou com eles enquanto pegavam e escolhiam vários outros potes
das prateleiras.
Observando-o, Alanna viu a expressão desanimada que ele estava
tentando esconder, perguntando-lhe se ela já havia experimentado chow
chow.
“Não, eu não experimentei. Qual é o gosto?”
“Semelhante a condimento.”
“Isso faz sentido, já que é assim que parece.”
Eles vasculharam a loja até que Greer os alcançou.
“Você viu os jarros de cidra de maçã?” Ele perguntou. “Tenho dois para
mim e um para os jovens.”
“Temos seis”, Silas disse a ele, levantando-os para colocá-los no balcão.
“E Jimbo está recebendo mais três. Cada um dos meninos terá sua própria
garrafa, Ginny e Alanna.”
“Ele tem mais lá atrás?” Greer perguntou ansiosamente. “Poderia muito
bem pegar mais duas para gelar.”
Jimbo precisou de mais três viagens para a sala dos fundos antes que
Silas estivesse pronto para encerrar a conta.
“Mais alguma coisa, Silas?”
“Cada um de nós vai levar uma dessas maçãs carameladas, e você pode
empacotar mais sete para levarmos para casa.”
Alanna pegou uma das maçãs que Jimbo ofereceu para eles. O caramelo
derreteu em sua boca, e a maçã quebrou sob seus dentes, que ela quase
cuspiu de surpresa quando Jimbo disse a Silas quanto ele devia.
“Você está bem?” Matthew perguntou quando a mão dela foi para a
garganta.
“Silas comprou o pomar inteiro?”
“Não.” Matthew a encarou com diversão. “Ele comprou três vacas, dois
porcos, dois...” Ele parou ao ver sua expressão horrorizada. “Deixa pra lá. É
melhor você não saber.”
“Você acha?” Greer brincou, dando uma grande mordida em sua maçã.
“Alanna, você e Greer podem voltar para a caminhonete enquanto
Matthew e eu carregamos os carrinhos. Não devemos demorar.”
Ela não estava louca para ficar sozinha com Greer, com medo de que ele
dissesse algo que a levasse ao limite e se encontrasse de volta na cadeia.
Felizmente, Greer estava muito ocupado comendo sua maçã para falar.
Subindo no banco de trás da caminhonete, ela começou a fechar a porta.
“Não se preocupe. Quero dar uma olhada nessa sua mão.”
“Está bem.” Ela tentou fechar a porta novamente.
“Vou abrir de novo”, ele avisou, abrindo a porta do banco da frente.
Alanna levantou a cabeça para ver o que ele estava fazendo. Greer
estava tirando um kit de primeiros socorros debaixo do banco.
Ele colocou o palito da maçã doce no lixo que Silas tinha pendurado no
porta-luvas, depois voltou para onde ela estava sentada.
“Chega pra lá.”
Alanna se acomodou no assento, observando enquanto Greer entrava
para colocar a caixa vermelha no assento entre eles.
Abrindo a caixa, ele tirou um pequeno frasco de desinfetante para as
mãos e apertou um pouco nas mãos. Quando terminou, estendeu a mão.
“Agora deixe-me ver.”
“Eu disse que está tudo bem.” Segurando a maçã, ela enfiou a mão
enfaixada no outro braço.
“Eu disse a Knox que me certificaria de que você está se recuperando
bem. Se não me deixar, posso levá-la ao pronto-socorro e pedir que façam
isso por ele.”
Ela estendeu a mão enfaixada para ele desenrolar a gaze.
“Parece muito pior do que está. As bolhas estouraram…”
Greer olhou para a mão dela. “Está ficando infectado. Você está com
febre?”
“N...”
Ela não tinha terminado de responder quando sentiu a mão de Greer
pousar em sua testa.
“O que você está fazendo?” Ela disse, afastando a cabeça.
“Verificando se há febre. Coma sua maçã. Tenho algum trabalho a
fazer.”
Alanna voltou a comer sua maçã enquanto Greer segurava sua mão
queimada e começava a vasculhar entre diferentes cremes na caixa.
“Você não precisa segurar minha mão enquanto abre as embalagens”,
ela disse a ele, observando-o tentar abrir os cremes com uma mão. “Eu não
vou escapar.”
“Não achei que você iria”, ele disse, finalmente tirando o chapéu. “Você
não gosta muito de mim, não é?”
Alanna olhou de sua mão para encontrar seus olhos. “Na verdade, não.”
Greer sorriu para ela. “Não posso dizer que culpo você. A maioria das
pessoas não gosta. Não importa para mim se gostam ou não.” Ele encolheu
os ombros.
Alanna viu que Greer realmente não se importava com o que as pessoas
pensavam dele, e um respeito relutante pelo homem começou a florescer
em seu peito. Ela desejou que pudesse ter essa atitude sem a arrogância.
“Por que?”
“Porque, no final das contas, eu só tenho que me acertar com uma
pessoa, e você, nem nenhum deles, é essa pessoa.”
“Você tem razão.”
“Eu sempre tenho. Ninguém pode fazer você se sentir menos do que
vale, a menos que permita, e eu não deixo.”
“Você pode não deixar, mas para outros, não é tão fácil.”
“É tão fácil quanto você quer que seja, ou tão difícil quanto. Tudo que
precisa fazer é se lembrar de duas pequenas palavras.”
“Quais são elas?”
“Fodam-se eles.”
Seus lábios se contraíram em uma risada. Essas duas palavras resumem
a atitude de Greer.
“Acho que você não se importa com aqueles sinais de proibição de
invasão que os Colemans colocaram para se vingar dos seus.”
“Claro que não.” Ele bufou. “Aqueles são para crianças; os meus os
fazem pensar duas vezes.”
“Sim, eles fazem.” Alanna não pôde conter sua gargalhada.
“Ai está. Você estará bem como a chuva amanhã”, ele disse, fechando a
caixa.
Alanna olhou para sua mão recém-enfaixada. Ela deve ter desmaiado
enquanto eles estavam conversando porque ela não se lembrava dele
pegando a gaze.
“Lá vem o menino, bem na hora. Uma daquelas garrafas de cidra de
maçã voltará para casa no meu colo.” Segurando a porta, Greer começou a
pular do banco para o estacionamento de cascalho.
“Greer!” Alanna deslizou sobre o assento quando viu que ele teria caído
se não estivesse segurando a porta.
Silas e Matthew vieram correndo.
“Você está bem, Greer?”
“Sim. Só desci pelo caminho errado”, ele disse, mancando até a porta do
passageiro. “Aqui, ajude-me a sentar, Matthew.”
Matthew colocou Greer no banco da frente.
“Dê-me uma daquelas jarras de cidra”, Greer exigiu antes que Matthew
pudesse fechar a porta.
Silas entregou-lhe uma, lançando um olhar desconfiado e fechando a
porta antes que Greer pudesse pedir mais alguma coisa.
Alanna se inclinou para frente. “Tem certeza de que está bem, Greer?”
“Sim”, ele disse, tomando um gole da garrafa do tamanho de um galão.
Olhando pela janela, ela viu Silas e Matthew descarregando os dois
carrinhos.
“Eu não sabia que eles tinham sacos de farinha.”
“Não é farinha; é fubá. Aqueles sacos pesam uma tonelada para serem
levantados.”
Alanna enfiou a cabeça ao redor para ver Greer despreocupadamente
bebendo sua cidra enquanto observava os outros homens descarregarem a
farinha de milho e as sacas de maçãs e batatas.
“Sei o que você está pensando”, ele disse, vendo que ela o observava.
Ela estreitou o olhar para ele acusadoramente, sentindo toda a boa
vontade que começou a sentir por ele depois de enfaixar sua mão virar
fumaça. Greer deliberadamente não os estava ajudando. “Aposto que você
sabe.”
Ele estreitou o olhar para ela. “Então eu acho que você sabe o que estou
dizendo em resposta.”
Capítulo Vinte e Um

Alanna piscou para limpar seu olhar embaçado. Bocejando, ela abriu o
freezer no prédio de armazenamento para tirar um pacote de salsicha
congelada antes de ir para o outro freezer para tirar waffles pré-fabricados.
Depois de certificar-se de marcar os itens da lista de inventário, ela os
reuniu para deixar o prédio de armazenamento.
Acendeu a lanterna e começou a caminhar em direção à casa de Silas. O
estranho silêncio da manhã estava fazendo com que ela pensasse duas vezes
por ter saído tão cedo. Ela estava com medo de voltar pela área arborizada
da propriedade que teve que atravessar para chegar à casa de Silas. Em seu
caminho para o prédio de armazenamento, poderia jurar que sentiu olhos
sobre ela durante todo o caminho.
Sua mão tremia na lanterna enquanto a estranheza a envolvia
novamente. Então ela congelou no lugar quando ouviu um pequeno som.
Levantando a lanterna para cima, estreitou os olhos. Um esquilo raivoso
estava prestes a atacá-la?
Depois de um pequeno movimento entre os galhos de uma árvore,
Alanna começou a gritar, com medo de ser atacada por uma raposa, um
guaxinim...
“Alanna, pare de gritar”, o sussurro frenético de Matthew a fez parar no
meio do grito.
“Matthew?” Ela gritou com raiva, apontando a lanterna mais alto. “O
que você está...”
“Shh...” ele sussurrou.
Com a boca aberta, ela viu Matthew sair de uma cadeira maluca presa
ao tronco da árvore. Ela fechou a boca quando ele desceu da árvore até ficar
ao lado dela.
“O que você está fazendo fora tão cedo?” Ele perguntou.
“Eu queria preparar o café da manhã para Fynn antes que ele fosse para
a escola. É o aniversário dele.”
“Eu sei. Gostaria que você tivesse nos contado.”
Alanna apontou a lanterna para o que estava pendurado em seu ombro.
“O que é isso?”
“Nada...” Matthew pegou o braço dela para impulsioná-la a começar a
andar novamente.
“Isso é um arco?” Alanna parou de se mover. “Você está aqui caçando?”
Ela empurrou a lanterna para iluminá-lo em seu rosto.
Matthew a tirou dela.
“Você está! O que você está caçando?”
“Eu não estava caçando…”
Ela apertou os lábios com o toque enganoso em sua voz.
“Estava apenas assistindo Fynn tentando conseguir seu primeiro
dinheirinho.”
“Fynn está aqui?” Alanna começou a iluminar as árvores com a
lanterna.
“Oh meu Deus...tire ela daqui!” Isaac assobiou lá de cima.
“Bem, isso não é muito educado!”
Matthew começou a impulsioná-la pela floresta. “Isaac fica um pouco
irritado quando está cansado.”
“Há quanto tempo vocês estão aqui?”
“Por algumas horas.”
“Eu deveria voltar e pegar outro pacote de salsicha. Posso fazer o café
da manhã para todos, já que estão todos acordados.”
“Não vamos.” Matthew apressou seus passos para que eles se movessem
rapidamente pela seção arborizada.
Quando chegaram à casa de Silas, ela foi para a cozinha para cozinhar
enquanto Matthew colocava seu arco ao lado da porta e rapidamente a
seguia.
“Sobre o café da manhã…”
Alanna se virou com a salsicha e os waffles nos braços.
“Silas e todos nós vamos à Waffle House para comemorar as manhãs de
aniversário.”
“Isso teria sido bom saber.”
Matthew olhou para seu monitor de tornozelo. “Nós teríamos dito a
você, mas não queríamos que se sentisse mal quando não poderíamos
convidá-la.”
“Tudo bem.” Alanna foi até o freezer e colocou a salsicha e os waffles
dentro.
“Que tal você ir em frente e cozinhar? Tenho certeza que Fynn...”
“Meu café da manhã não é comparado ao Waffle House”, Alanna o
cortou, sorrindo para mostrar a ele que não estava ofendida. “Eu não quero
estragar a tradição de aniversário de Fynn.” Cobrindo a boca, começou a
bocejar, pensando em começar as tarefas de Silas ou retornar ao seu trailer.
“Por que você não tira uma soneca?”
“Estava pensando a mesma coisa. Estava decidindo se voltava para o
trailer ou fazia as tarefas e dormia mais tarde.”
Matthew franziu a testa. “Por que não tirar uma soneca aqui em vez de
ficar indo e voltando?”
“Não poderia fazer isso.”
“Eu não sei por que não”, ele disse com firmeza, pegando a mão dela e
conduzindo-a por um corredor até uma porta que estava sempre fechada
quando ela estava aqui. Matthew a abriu e deu um passo para o lado para
observar a reação dela.
“A cama está realmente pendurada no teto?”
Ele sorriu. “Sim. Papai fez para Ginny e Leah se deitarem para que
pudessem observar as estrelas à noite. O quarto era rodeado por janelas com
cortinas.”
“Você sente muita falta dela, não é?” Alanna apertou a mão dele com o
olhar dolorosamente triste em seus olhos.
“Não há um dia em que eu não pense nela. Ela era uma criança linda
que tinha o coração mais amoroso de qualquer pessoa que eu já conheci.
Até você.”
Corando com a maneira como ele a olhava, ela baixou o olhar
envergonhada para ver a roupa que ele estava vestindo. Nem mesmo a
camuflagem verde feia poderia fazê-lo parecer mal. Na verdade, a camiseta
verde apertada enfatizava seu peito musculoso.
Percebendo que Matthew estava lhe dando um sorriso malicioso, ela
rapidamente tentou diminuir a atmosfera aquecida em alguns graus,
lançando um olhar ameaçador.
“Você estava lá fora tentando matar a mãe de Bambi?”
“Eu?” Matthew colocou a mão no peito em inocência. “Não, eu estava
assistindo meus irmãos tentando pegar o pai de Bambi.”
“Isso é maldade.”
“Isso é apenas a vida.” Ele casualmente fechou a porta para se recostar
nela.
Alanna ergueu uma sobrancelha em sua manobra óbvia para mantê-los
fechados se algum de seus irmãos viesse.
“Você tem que cortar alguns para que a população possa se manter
saudável e próspera”, explicou.
“Se você não estava planejando atirar em um, por que pegou seu arco?”
“Proteção.”
Ela não pôde deixar de rir de seu sorriso impenitente. “Como você está
sempre de bom humor?”
Matthew se afastou da porta para se aproximar dela. “Por que eu não
estaria?” ele disse sério. “Tenho tudo o que poderia querer nesta montanha.
A única coisa que faltava era ter uma mulher minha para compartilhar.”
Alanna deu um passo para trás. De jeito nenhum ela deveria estar
sentindo o alcance das emoções que Matthew despertava nela tão
rapidamente.
“Você quer ir balançar?”
Antes que ela pudesse responder, ela se viu caindo de volta na cama,
fazendo-a balançar. Virando a cabeça para gritar com ele por ser sorrateiro,
ela sentiu isso morrer em sua garganta com o riso em seus olhos.
“Você já ouviu a música country ‘Swingin’?”
“Não, não posso dizer que já.”
Matthew se deitou ao lado dela, fazendo a cama balançar novamente. “É
uma velha, mas boa.”
Ele começou a cantar com um sotaque antiquado, que a fez cair na
gargalhada.
“Eu costumava descer quando Ginny e Leah estavam deitadas aqui e
cantava para elas e depois começava a balançar a cama. Isso as deixavam
loucas.”
Ela estremeceu. “Eu posso simpatizar. Um cantor, você não é.”
Matthew rolou para o lado para encará-la. “Você não acha? Estou
arrasado.”
“Nada te deixa pra baixo por muito tempo?”
Ele apoiou a cabeça na mão. “Não. Por que deveria? A vida é muito
curta para não aproveitar cada minuto e me recuso a dar à tristeza mais de
cinco minutos do meu precioso tempo.” Ele traçou a linha de seu nariz, e
quando alcançou a ponta, ele se ramificou para segurar sua bochecha e
então deslizou para baixo para colocar a palma da mão sobre seu coração.
Como ele poderia seduzi-la com uma mão? Sem mencionar o calor
daquela mão estendida por todo o seu corpo.
“Eu não acho que viver mais de cem anos constitua ser curto.”
“Nenhuma quantidade de tempo com você será suficiente.”
“Você pode não ser um bom cantor, mas seria um ótimo compositor.”
Matthew arqueou uma sobrancelha para ela.
“Você não acredita em mim?” Ela olhou em seus olhos, apenas para cair
ainda mais sob seu feitiço. Incapaz de evitar, ela levantou a cabeça e fez
algo que nunca havia feito antes. Ela beijou Matthew.
Ela sentiu a mão dele ir para trás de seu pescoço para evitar que ela se
afastasse enquanto ele separava os lábios. Quando ele não assumiu do jeito
que ela esperava, ficou mais ousada, deixando a ponta de sua língua
deslizar em sua boca. O beijo se transformou em uma fogueira.
Ele se aproximou dela, seu peito praticamente cobrindo o dela enquanto
ela explorava sua boca. Ela se sentiu derreter quando a mão dele foi para a
curva de seu quadril, puxando-a para mais perto até que seus corpos se
fundiam enquanto seus beijos se tornavam mais selvagens.
Desesperadamente querendo chegar ainda mais perto, ela deslizou as
mãos sob a camisa dele, e então perdeu a pouca sanidade que restava ao
sentir a pele dele sob suas mãos. Ela sentiu como se fosse um relâmpago em
uma garrafa, poder bruto contido em um corpo vivo que respirava. A
qualquer segundo, ela sentiu que perderia o controle que tinha e o vidro
quebraria.
Alanna não conseguia pensar em nenhum caso em sua vida em que ela
realmente foi ousada. Beijar Matthew foi a coisa mais ousada que já fez.
Era tarde demais para imaginar se deveria. Muito tarde. Ela estava ficando
com medo, que como o metal que ele trabalhava com pouco esforço,
Matthew pudesse dobrá-la à sua vontade.
Ela ficou tão perdida quando a mão dele foi entre suas coxas para
esfregar sua fenda antes de desabotoar sua calça jeans para baixar o zíper.
Ela torceu o quadril sob a mão dele quando ele começou a brincar com seu
clitóris. Enquanto os dedos dele se moviam mais rápido, ela sentiu uma
emoção repentina e inacreditável que nunca havia sentido antes. Sensações
ondularam através dela, tornando impossível negar o que tinha acabado de
acontecer.
Quebrando o beijo, ela se sentou com um puxão, ofegante. Ele não
tentou puxá-la de volta para baixo. Em vez disso, ele removeu a mão para
esfregar suas costas em movimentos longos, aliviando o desejo que se
transformou em uma chama fora de controle.
Envergonhada, ela praticamente pulou para fora da cama, esquecendo
que estava elevada. Ela teria caído se Matthew não a tivesse pegado e a
jogado de costas na cama.
Enquanto ela olhava para o teto, soprou uma mecha de cabelo do rosto
para ver o sorriso contagiante de Matthew sorrindo para ela.
“Isso é tão embaraçoso.”
“Por que?” Ele perguntou, colocando o cabelo dela atrás da orelha.
“Eu deveria estar trabalhando, não brincando.”
Seu sorriso escorregou. “Eu não estava brincando. Você estava?”
“Matthew…"
Ele pressionou um dedo firme nas linhas de sua carranca.
“Nuh-uh... não vou deixar você estragar tudo.”
Ela se recusou a encontrar seus olhos. “Estragar o quê?”
Ele estalou a língua para ela. “Lá vai você de novo. Não se preocupe.”
Ele deu um beijo casto em sua testa antes de sair da cama. “Eu não vou
lançar que isso que acabei de lhe dar foi o melhor orgasmo conhecido pela
humanidade.”
Ela ficou boquiaberta com o quão alta sua voz estava, não importa o tom
de se gabar que ele usou, o que a fez segurar o riso.
“Shh... Alguém poderia entrar.”
Matthew deu-lhe uma piscadela. “Ok, vamos manter isso em segredo.”
Alanna só conseguiu balançar a cabeça. “Vá embora.”
“Isso é jeito de falar com o homem que acabou de te dar...”
Levantando-se em um movimento, ela pegou um travesseiro e jogou
nele.
Matthew correu para a porta, sua risada atrás dele.
“Vá embora”, ela bufou, observando enquanto ele pegava seu arco antes
de sair pela porta da frente.
Ela pulou da cama e começou a correr atrás dele, então percebeu que
havia uma porta lateral a poucos centímetros de distância. Correndo para
abrir a porta, ela deu a Matthew um sorriso malicioso.
“É melhor você não matar o pai de Bambi!” Ela gritou o mais alto que
pôde. Vendo a expressão de dor em seu rosto, ela esfregou as mãos como se
tivesse acabado de fazer um ótimo trabalho, então fechou a porta.
“Isso vai mostrar a ele.”
Sua alegria desapareceu em um segundo quando ela percebeu que tinha
batido a porta aberta com seu jeans ainda aberto, mostrando sua barriga. O
constrangimento ardente a fez levantar as mãos para as bochechas em
chamas. Ela fechou seu jeans de volta e alisou sua camiseta de volta para
baixo.
“O melhor orgasmo conhecido pelas mulheres.” Ela fungou de forma
deselegante e então começou a sorrir.
Droga. Ele não estava errado.
Capítulo Vinte e Dois

Alanna fez cócegas no bebê enquanto ele segurava seu leão de pelúcia
favorito em seu peito.
“Peguei você.” Ela pegou o bebê no colo, fazendo-o cair na gargalhada.
“Vejo que vocês dois estão se divertindo”, Ginny disse enquanto
atravessava a sala.
“Você teve uma boa soneca?” Alanna colocou Freddy de volta no chão,
devolvendo o leão para ele.
“Sim. Obrigada. Vocês dois almoçaram?”
“Sim, e Freddy terminou sua mamadeira inteira. Posso fazer mais
alguma coisa por você antes de sair?”
“Não, estou bem. Para onde você está indo agora?”
“Silas quer que eu o encontre no prédio de armazenamento. Vamos
organizar as coisas novas que trouxemos ontem.”
"Senti falta de ir este ano”, ela disse com pesar. “Mas gostei da maçã e
cidra que Silas nos trouxe ontem à noite.”
“Você tem sorte que Silas pegou Greer tentando tirar outra da sacola.”
“Greer estava apenas brincando com Silas. Ele sabe que Silas voltaria
para substituí-la. Ele não nos traria nada a menos que houvesse o suficiente
para todos.”
“Silas é uma boa pessoa.”
“O melhor”, Ginny concordou.
Alanna fez uma pausa antes de se mover em direção à porta. “Posso te
perguntar…? Deixa pra lá. Vejo você amanhã.”
Ginny olhou para ela com curiosidade. “O que você ia perguntar?”
“Eu não deveria.”
“Vá em frente...minha irmã tem estado muito ocupada para bater um
papo ultimamente. Preciso de alguma conversa de garota.”
Alanna franziu a testa. “Pensei que sua irmã estava morta?”
“Uma está. Eu sou adotada.”
Alanna teve que se sentar quando Ginny começou a explicar como ela
acabou sendo adotada por Freddy Coleman.
“Não acredito que não te reconheci.” Alanna ficou atônita por não ter
reconhecido a cantora que ela costumava ouvir regularmente.
“Eu não era tão popular e não canto em público há um bom tempo.”
“Apenas certifique-se de me dizer quando o fizer. Adoraria ouvir você
cantar pessoalmente.”
“Eu vou.” Ginny sorriu. “Então, que pergunta você ia me fazer?”
“Depois que fui à sua outra casa para fazer o que eles precisavam,
percebi que Matthew não tinha me mostrado seu lugar. Quando fui à sua
loja, ele disse que não precisava que fizesse nada. Existe uma razão para ele
não querer que eu faça algo?”
Ginny olhou para seus pés. “Não acredito. Ele provavelmente está
apenas sendo um desleixado, e está esperando até que tenha tempo para
limpar antes de deixar você entrar.”
“Ah... Você acha que ele está envergonhado?”
“Definitivamente.” Curvando-se, Ginny levantou Freddy em seus
braços.
Alanna poderia jurar que ouviu uma risadinha abafada vindo de Ginny,
mas quando olhou para cima, ela não estava rindo.
Saindo, ela ficou aliviada que Matthew não era contra usá-la para fazer
tarefas em sua casa, como Moses era. Ela podia entender que Moses não a
queria em sua casa por causa dos cães que ele estava treinando. Ela o via
ocasionalmente ao redor da propriedade, seguindo os cães, esperando que
eles o seguissem, mas era ele quem os seguia por trás. Quando a apresentou
aos cães, ele a fez ficar parada e disse a cada um dos seis cães para cheirá-
la. Depois disso, foi embora com eles.
Todos os irmãos de Silas foram amigáveis com ela, sendo Matthew o
mais amigável, e Moses e Isaac os mais fechados. Fynn e Ezra, ela esteve
menos. Matthew disse a ela durante a caminhada ontem que Fynn e Ezra
eram próximos e passavam muito tempo juntos. A julgar pela limpeza do
trailer de Jody e Jacob, aqueles homens eram fixados em seus videogames e
comida, lembrando-a de que precisava pegar vários itens que eles queriam
reabastecidos.
A caminhonete de Silas estava parando na estrada que levava ao anexo
quando ela desceu a encosta da casa de Ginny. Ela parou e começou a
correr quando viu que havia um trailer preso à caminhonete e pôde ver o
que havia dentro.
Ela correu até a caminhonete de Silas quando ele e Matthew estavam
saindo.
“Você comprou a vaca!”
Matthew se inclinou sobre o capô, sorrindo.
“Você está feliz?”
“Em êxtase!” Ela se obrigou a diminuir seu entusiasmo. “Obrigada,
Silas.”
Silas balançou a cabeça. “Não me agradeça. Matthew a comprou para
você.”
Ela virou os olhos curiosos para ele. “Você comprou?”
“Comprei.” Ele sorriu, seus olhos brilhando para ela. “Ela é toda sua.
Você vai ser a única a cuidar dela assim que fizermos o teste para descobrir
se você é alérgica ou não.”
“Você vai ter que me mostrar como.”
“Vai haver muito trabalho sujo envolvido”, alertou.
“Não me importo.” Ela deu a volta ao lado do trailer para ver a vaca da
abertura.
“Viu? Eu não te deixei.” Alanna girou de alegria, emocionada pela vaca
não ter sido morta. Então ela se virou para Matthew, tentando não chorar.
“Eu nunca tive um presente tão maravilhoso. Obrigada.”
“De nada.” Matthew caminhou até onde ela estava. “Sabe o que isto
significa?”
Ela parou de sorrir, o medo apertando seu coração com tanta força que
ela temia que ele tivesse parado de bater.
“Você terá que ficar em Kentucky. Vai ser difícil encontrar um lugar em
Ohio onde possa manter uma vaca desse tamanho em seu quintal.”
Ela começou a sorrir novamente. “Eu não acho que ela caberia em um
carro alugado também.”
“Não, ela não vai”, Silas disse da parte de trás do trailer. Matthew e ela
caminharam até os fundos enquanto Silas puxava a rampa de metal para
baixo para que ele e Matthew pudessem empurrar a vaca para fora do
trailer.
Os dois homens suavam quando Silas fechou o trailer.
“Por enquanto, vamos colocá-la no velho curral de cabras. Eu preciso ir
à loja de tratores para pegar um pouco de feno.” Silas usou a manga da
camisa para enxugar a testa. “Matthew, você se importa de ajudar Alanna a
organizar o depósito?”
“Posso fazer”, ele disse por cima do ombro enquanto ia abrir o velho
portão de madeira e Silas conduzia a vaca para dentro do curral.
Correndo para onde Ginny havia mostrado onde a mangueira de água
era guardada, ela abriu a torneira, segurando a mangueira onde o metal
encontrava o tubo de borracha, do jeito que Ginny lhe mostrara porque a
conexão era velha e precisava ser substituída. Carregando a mangueira, ela
correu de volta, esperando que um dos homens lhe mostrasse onde colocar a
água. Sua vaca provavelmente estava com sede depois do passeio pelas
duas montanhas.
“Há um bebedouro extra no prédio de equipamentos”, Silas disse a
Matthew, vendo-a esperando com a mangueira.
“Eu vou pegar”, Alanna ofereceu quando Matthew começou a abrir o
portão para que ele pudesse sair do cercado.
“É muito pesado...”
Empurrando a mangueira de água para Matthew, ela esqueceu de
segurar a conexão até que ele a tirou de sua mão. Matthew automaticamente
estendeu a mão para pegar o bico e, quando o fez, a água o atingiu no rosto.
“Oh meu Deus.” Alanna tentou agarrar a mangueira novamente, mas
Matthew a havia fechado com a mão enquanto a olhava acusadoramente.
“Você fez isso deliberadamente.”
“Eu nã...” Ela gorgolejou de rir ao ver a água pingar da ponta do nariz
dele. “Não fiz.”
Matthew virou a mangueira em sua direção.
“Não!” ela gritou.
A água a atingiu na boca.
Ela levantou as mãos para proteger o rosto, mas a água foi
imediatamente cortada.
“Desculpe, não pensei sobre sua mão ficar molhada”, Matthew se
desculpou.
“Tem gaze no estojo de primeiros socorros do depósito”, Silas disse,
fechando o portão, encarando suas roupas encharcadas. “Vou sair enquanto
ainda sou o único seco.”
Vendo o brilho travesso nos olhos de Matthew ao ver Silas se gabar,
Alanna impediu Matthew de dar banho em Silas. “Não se atreva.”
“Você não é engraçada. Não faria mal a ele ficar um pouco molhado.”
“Não havia nada de pouco sobre o que você estava planejando.”
“Vamos; vamos tirar esse curativo molhado.” Tomando-a pelo pulso, ele
foi desligar a água antes de ir para o prédio de armazenamento. Ele soltou o
pulso dela e acendeu a luz. Isso fez os dois procurar para encontrar o kit de
primeiros socorros enfiado em uma prateleira de cima.
“Quantos kits de primeiros socorros sua família tem?” Alanna
perguntou, sentando-se em um banco que Matthew mostrou a ela.
“Um bando. Com todas as nossas casas espalhadas, Silas gosta de estar
preparado em caso de emergência.” Matthew abriu a caixa de primeiros
socorros antes de desenrolar a gaze encharcada que cobria sua mão. Ambos
olharam para a mão dela. Não havia uma marca de queimadura. Sua pele
estava imaculada.
“Uau, você se curou rápido.” Fechando a caixa, ele amassou a gaze e a
jogou na lata de lixo ao lado do freezer.
Alanna girou os dedos, nem mesmo vendo a pele fina descascando onde
as bolhas haviam estourado.
Franzindo o cenho para sua mão, ela não conseguia entender como tinha
curado tão rápido quando estava infectado ontem. Talvez o creme na caixa
de primeiros socorros fosse mais forte do que o creme que ela estava
usando.
“Aposto que sei como minha mão curou tão rápido.” Alanna ergueu os
olhos de sua mão, percebendo a expressão preocupada de Matthew.
“Como?”
“Greer deve ter usado um pouco daquele óleo que eles conseguem da
erva.” Ela assentiu com sabedoria.
Matthew franziu a testa. “Que tipo?”
“Você sabe, aquele óleo de maconha.”
Seus olhos começaram a brilhar com o riso. “Acho que você quer dizer
óleo CBD?”
“Tanto faz.” Ela acenou com a mão, mostrando que não importava. “Eu
gostaria que ele não tivesse. E se o xerife quiser um teste de drogas?”
“Por que o xerife iria querer um teste de drogas?”
“Não sei. Eles não testam drogas em todos os criminosos?”
“Acho que sim, quando são presos por acusações de drogas. Você foi
presa por sequestro.”
“Oh...” Ela se levantou, considerando o que ele disse, então chegou a
uma conclusão. “Você pode estar certo, mas se eu fizer um teste de drogas
surpresa, Greer vai cair comigo.”
“Você está em uma base de primeiro nome com ele?”
Quando ela tinha parado de pensar nele como policial Porter? O simples
pensamento a abalou o suficiente para que ela tivesse que se sentar
novamente enquanto Matthew tirava sua camisa molhada para jogá-la no
freezer. Curvando-se, ele levantou uma saca de batatas e a colocou em um
canto escuro.
“Posso te perguntar uma coisa?” Ela perguntou quando ele se abaixou
para pegar outra saca de batatas.
“Diga.”
“Você está flertando comigo porque sabe que vou sair da cidade quando
meu processo judicial terminar?”
Matthew colocou a saca de volta para baixo com uma carranca irritada.
“O que fez você perguntar isso?”
Alanna passou a mão pelo cabelo úmido, sem encontrar seus olhos.
“Silas disse que você recebe a maioria de seus pedidos de clientes longe
daqui.”
“E daí?”
“Você pode estar flertando comigo e com qualquer outra garota dentro
ou fora da cidade. Você disse que está esperando por sua alma gêmea; essa
poderia ser sua cantada, pelo que sei, porque funcionou comigo.”
Ela baixou os olhos quando viu a dor em seus olhos, então uma raiva
ardente que a fez pular do banco para se afastar dele.
“Não ouse tentar fugir de mim...nunca.”
Ela congelou no lugar com a ameaça em sua voz.
“Não importa o quão bravo eu fique...” Matthew caminhou furiosamente
em direção a ela.
Era tudo o que podia fazer para não correr gritando a plenos pulmões.
Seu rosto amigável foi substituído por um extremamente masculino que a
fez tremer.
Alcançando-a, ele colocou a mão em volta do seu pescoço. “Comprei a
porra de uma vaca para você.”
“Eu sei”, ela disse miseravelmente.
“Cale a boca”, ele ordenou antes de continuar com firmeza. “Que não
serve a nenhum propósito na doce terra de Deus além de comer e cagar.
Não há mulher com quem eu gastaria tanto dinheiro além de você.
Pergunte-me por que, Alanna.”
“Não.” Ela tentou balançar a cabeça, mas sua mão firme não a deixou.
Seu rosto ficou mais duro. “Pergunte-me.”
Ela fechou os olhos com força, aterrorizada, querendo bloquear a
pergunta de sua mente.
“Eu já sei”, ela mal sussurrou.
“Então me diga.”
“Porque você acha que eu sou sua alma gêmea.”
Capítulo Vinte e Três

“Mas você não é.”


Ela fechou os olhos novamente, incapaz de manter contato visual com
ele. “Perdi minha perspectiva. Preciso ficar desapegada e não me importar
com ninguém. Especialmente você.”
“Por que especialmente eu?” As profundezas de seus olhos a
procuravam por uma verdade que era difícil para ela admitir.
“Porque eu nem sei se tenho um futuro para compartilhar com alguém
até que meu processo no tribunal termine. Além disso, não sei se o que
estou sentindo é...” Ela se interrompeu e mudou de direção. “Você é um
homem muito atraente fisicamente que está prestando atenção em mim. Não
é como se os homens estivessem batendo na minha porta. Eu gosto da sua
família. Sempre quis fazer parte de uma grande família. Você quer dez
filhos; esqueceu de me dizer isso? Eu não posso te dar nenhum.” Ela deu
uma desculpa atrás da outra para não ter que explicar como ele estava se
tornando o ar que ela respirava.
“Você é inocente das acusações que foram feitas sobre você. Diamond
vai provar esse fato. A única razão pela qual os homens não estão batendo
na sua porta é porque os homens querem que uma mulher acenda fogo em
suas bolas, não as congele. Fico feliz que goste da minha família. Eu ficaria
mais preocupado se não o fizesse. Minha família e eu somos um pacote
fechado.” Sua expressão furiosa começou a clarear.
Ela estava aprendendo que Matthew não tinha coragem de ficar com
raiva por muito tempo. Seu temperamento explodia quando ele ficava com
raiva, então rapidamente adormecia, de volta ao seu controle. Ele era o
oposto de Owen, que atacava violentamente quando ficava com raiva e não
seria apaziguado até que o que causou sua raiva fosse quebrado e destruído.
“Não precisamos de crianças; elas apenas fazem uma bagunça, de
acordo com Greer. Ou podemos adotar.”
A mão dela foi para o pulso dele para removê-lo de seu pescoço. “Nós
nos conhecemos há poucos dias; acho que é muito cedo para discutir
crianças.”
Lenta e metodicamente, ele a encostou em um canto escuro até que suas
costas estivessem contra a parede. “Você é quem falou de crianças primeiro.
Não vou negar que quase me quebrou quando disse que não pode ter filhos
como se não fosse grande coisa. É uma grande coisa, e tenho certeza de
que, no futuro, vamos chorar muito por isso. Queria ver sua barriga inchar
com meu filho, segurar um bebê que só nós poderíamos criar, ver você
amamentando nosso bebê. Em vez disso, vou ver você segurando nosso
filho, que escolheremos juntos, e observarei enquanto lhe dá uma
mamadeira. As memórias e o amor que criaremos não dependem de nosso
filho compartilhar nosso DNA.”
Cada palavra que ele dizia acendeu um fogo na parte de sua virilha que
ela assumiu que ninguém poderia fazê-la queimar por seu toque. O homem
com quem ela saiu em sua única tentativa de se juntar ao mundo do namoro
a deixou sem paixão e a fez querer correr e lavar o gosto de seus lábios.
Suas mãos estavam pressionadas contra a parede atrás de seu pescoço,
onde ela estava tentando remover as dele. Ela parou de tentar agora, a dela
ficando flexível. Só havia uma maneira de descobrir o que ela precisava
saber. Eles serem almas gêmeas era uma impossibilidade, elas não existiam,
e se existissem, almas gêmeas foram feitas para outras mulheres, não ela.
Não uma mulher que nasceu sob uma nuvem cinzenta.
“Beije-me, Matthew.”
Matthew baixou os olhos para a boca dela. Alanna poderia jurar que viu
uma chama atrás de seus olhos antes que ele cobrisse seus lábios com os
dele.
A combustão instantânea fez seus joelhos cederem, e se o corpo de
Matthew não estivesse pressionado contra o dela, ela teria escorregado para
o chão. Ele moveu sua boca sobre a dela com a sensualidade de um homem
que estava querendo provar algo inacessível, e agora que estava ao seu
alcance, ele iria demorar e saborear.
Virando as mãos em seu aperto, ela segurou sua preciosa vida quando
ele deslizou sua língua em sua boca para girar e dançar com a dela em uma
sinfonia erótica que fez seu quadril inconscientemente procurar moldar seu
corpo ao dele.
Cada nervo da parte inferior de seu corpo estava em chamas, espalhando
calor por todo lado. Ela começou a tremer, como se tivesse acabado de
pegar uma gripe. Então ela percebeu que não era o resultado de uma
doença, mas algo que ela nunca havia experimentado antes e não era capaz
de reconhecer o que estava acontecendo em seu corpo.
Desejo.
Era a necessidade urgente de lhe dar tudo o que ele queria e tomar cada
coisa que ela queria dele até que estivessem fundidos de todas as maneiras
possíveis.
Matthew afastou a boca da dela para deslizá-la pelo pescoço, a língua
tocando seu pulso errático.
“Você tem gosto de sol”, ela foi capaz de dizer uma vez que tinha
oxigênio suficiente de sobra.
“Qual é o gosto do sol?” Ele murmurou.
“Como uma laranja vermelha. Cítrico. Quanto mais você me beija, mais
me faz pensar em um laranjal em um dia ensolarado.”
“Você quer saber qual é o seu gosto?”
Desconfortável, ela assentiu, não acostumada a trocar palavras doces
com ninguém, muito menos um homem que parecia ser uma estátua grega
viva de mais de um metro e oitenta e três.
“Você tem gosto de como se tivesse roubado uma daquelas garrafinhas
de mel que compramos ontem.”
“Eu não roubei. Silas me deu uma.”
“Deus o abençoe”, ele gemeu, levantando a cabeça para sufocá-la
novamente.
Alanna não pôde evitar; ela começou a rir. Sua risada foi de curta
duração, porém, antes que ela fosse pega de volta no brilho dourado do fogo
que os consumia. Matthew soltou suas mãos para deslizar as dele sob seu
suéter fino.
“Droga”, ele jurou, afastando-se dela.
Os braços dela, que estavam segurando os ombros dele, agora estavam
segurando o ar. Envergonhada, ela os deixou cair de volta ao seu lado. Ele
não a queria afinal...
Com a mão, ele segurou o queixo dela. “Eu parei porque seu suéter está
molhado, não porque eu quero. Não quero que você fique doente.”
Ela franziu a testa, não acreditando muito nele. “Eu estava pressionada
contra seu peito; como você não sentiu até tocá-lo?”
Ele deu um sorriso irônico. “Porque você me deixa tão quente que eu
não percebi. Minhas mãos ficam mais sensíveis quando algo está molhado.”
A estranheza do que ele estava dizendo a fez acreditar nele. Por que suas
mãos seriam tão sensíveis a algo molhado? Entendimento aconteceu. Talvez
elas tivessem se queimado muito no passado por trabalharem em sua forja.
Arrepios subiram em seus braços. Tremendo, ela cruzou os braços sobre
o peito.
“Você está congelando.” Matthew foi até onde havia três caixas
empilhadas. Levantando uma, ele a colocou no chão então arrancou a
tampa. “Mantemos algumas de nossas roupas extras de inverno
armazenadas aqui.” Vasculhando várias camisas e suéteres, ele selecionou
uma camisa de flanela cinza e preta e a entregou a ela. “Aqui, troque para
isso.” Voltando para a caixa, ele continuou a vasculhar as roupas.
Trocando apressadamente as blusas, ela rapidamente abotoou a camisa
de flanela e se apaixonou pelo calor aquecido.
“Como está tão quente?” Esfregando a bochecha contra o material
quente, ela viu Matthew vestir um moletom azul escuro.
“A caixa estava contra a parede onde o sol está brilhando lá fora. Deve
tê-las aquecido.” Fechando a caixa, ele a colocou de volta em cima, virou-
se e esfregou as mãos. “Vamos começar.”
Ele quis dizer retomar de onde pararam?
Ela estava se preparando para dizer a ele que não estava pronta para
mais quando ele levantou uma saca de maçãs para colocá-la na porta.
“Vou levá-las para Ginny quando organizarmos o resto das coisas.”
Pfft. Beijar não estava mais em sua mente. Por que ela estava tão irritada
que ele foi capaz de se desligar tão facilmente do seu abraço acalorado?
Ela pegou rigidamente um dos sacos contendo os recheios de torta.
“Para onde vão essas coisas?”
Depois de mostrar a ela, ele voltou para pegar as outras duas sacolas.
Juntos, eles fizeram um pequeno trabalho de organizar as compras.
Matthew até fez uma sacola com itens que ela havia escolhido para levar de
volta ao trailer.
Ele carregou a saca de maçãs quando eles saíram do prédio de
armazenamento e a colocou do lado de fora para dar a ela uma maçã.
“Segure isso enquanto eu pego o bebedouro. Podemos dar à sua vaca.”
“Ok.” Voltando ao curral, ela conversou com a vaca, que a olhava sem
interesse.
“Você estava muito mais sociável ontem.” Seus dedos coçavam para
acariciar os tufos brancos no topo da cabeça da vaca.
Vendo Matthew chegando, carregando o pesado bebedouro, ela abriu o
portão para ele. Uma vez que foi colocado no lugar, ele o encheu com água.
“Como você vai nomeá-la?”
“Posso nomeá-la?”
“Já que ela não vai estar na mesa de jantar, pode muito bem”, ele
brincou.
“Então eu quero chamá-la de Molly.”
“Estou surpreso que você não escolheu Buttercup.”
“Ah...isso pode ser melhor.” Ela deu ao nome um pensamento
ponderado.
“Tarde demais. Fique com o primeiro. Combina melhor com ela,
especialmente porque ela também não vai nos dar manteiga.”
“Pare de insultar minha vaca. Você vai ferir os sentimentos dela.”
Matthew balançou a cabeça para ela. “Apenas certifique-se de não usar
vermelho perto dela. Vacas não gostam de vermelho.”
“Eu não sabia disso.”
“Sim, elas não aguentam.”
“Então vou me certificar de que não. Há mais alguma coisa que eu
deveria saber sobre elas?”
“Sim.” Seus lábios se contraíram quando ele deu a maçã a Molly.
“Abasteça-se de repelente de insetos.”
Capítulo Vinte e Quatro

Alanna fechou a porta da casa de Jody, finalmente terminando o dia. Ela


estava com pressa para chegar em casa para tomar banho e se trocar antes
que Matthew viesse jantar. Ela fez uma nova receita de panela elétrica para
eles experimentarem. As duas últimas tinham sido um tiro no escuro.
Ela entrou no trailer e começou a tirar a camisa antes de sair da sala.
Havia passado muito tempo conversando com Ginny e vinha tentando se
atualizar desde então.
Depois que tirou o resto de suas roupas, ela entrou no chuveiro. O
último mês passou voando com ela passando a maior parte de seu tempo
livre com Matthew. Normalmente, ele aparecia na hora do jantar e, depois,
eles davam uma longa caminhada, de mãos dadas. Em seguida, se
acomodavam para assistir a um filme ou apenas sentar e conversar com a
música tocando.
Todos os dias, ela se sentia como se sua cabeça estivesse em uma
guilhotina, e estava apenas esperando a lâmina cair. Ela nunca foi mais feliz
em sua vida. Seu sorriso sumiu, preocupada com a ligação que recebeu de
Diamond.
Sua advogada iria encontrá-la na casa de Silas pela manhã para discutir
seu caso. Alanna tinha certeza de que ela lhe daria a data do julgamento. O
pensamento de ir a julgamento não só a aterrorizava porque ela poderia
perder sua liberdade, mas também potencialmente ter que terminar seu
relacionamento com Matthew.
A cada noite que passavam juntos, suas sessões de beijo se tornavam
mais longas e intensas, deixando os dois tremendo e com a respiração
ofegante. Ela continuava colocando freios neles, movendo seu
relacionamento para um nível diferente de intimidade.
Ela não conseguiria fazer sexo com Matthew até que estivesse livre do
processo judicial, Owen e, mais importante, Kate. Se Kate descobrisse que
estava apaixonada por Matthew, de alguma forma usaria isso contra ela.
Isso era o que Kate fazia, com implacável desrespeito pela carnificina
deixada para trás.
Vestindo jeans macio como manteiga, ela vestiu um suéter azul, que era
da mesma cor de seu jeans. Depois de calçar as meias, foi até a pequena
cozinha fazer uma salada para acompanhar a lasanha da panela elétrica.
O cheiro vindo da panela elétrica fez seu estômago roncar. Tudo o que
ela comeu foi um sanduíche na casa de Ginny.
Uma batida na porta a fez correr para atender. Matthew estava do lado
de fora com um prato de biscoitos que tinha uma embalagem transparente
sobre eles.
“Esses me parecem familiares.” Movendo-se para o lado, ela o deixou
entrar.
“Eu não sei do que você está falando.” Matthew levou os biscoitos
roubados para a mesinha onde ela havia colocado a salada.
“Quero dizer, eu vi Ginny fazendo um lote de biscoitos para Gavin levar
para os Last Riders.”
Sem vergonha, ele puxou o envoltório de volta para tirar um dos
enormes biscoitos de manteiga de amendoim. “Os Last Riders não precisam
deles. Eles recebem produtos fresquinhos todos os dias, um dos membros é
casado com a melhor padeira da cidade. Ginny costumava trabalhar para
ela.”
“Eu deveria ter prestado mais atenção à receita dela, então. Não sabia
que você gostava de biscoitos.”
“Não há um homem vivo que não goste de biscoitos. A propósito, ela
vai fazer biscoitos de cowboy no sábado. Eles são meus favoritos, caso
queira aparecer inesperadamente quando ela os estiver fazendo.” Seu
sorriso juvenil derreteu seu coração. Ela sabia onde passaria parte de seu
sábado.
Ela colocou a lasanha em uma travessa e colocou-a sobre a mesa.
“Um restaurante italiano não poderia ter feito melhor,” ele a elogiou.
“Tudo o que precisamos são algumas velas.”
“Peça, e você receberá.” Alanna voltou para a cozinha para puxar uma
pequena gaveta e tirar uma longa vela branca e o pequeno suporte para ela.
Matthew ergueu uma sobrancelha quando a colocou sobre a mesa.
“Quando você comprou uma vela?”
“Eu não." Ela sorriu, sentando-se à mesa. “Encontrei na gaveta quando
estava procurando por luvas de forno. Jacob deve ter comprado para quando
ele tivesse um encontro.”
Matthew derrubou essa suposição. “É mais como se ele tivesse
comprado para quando o gerador acabar.”
Alanna colocou uma grande porção de lasanha no prato dele antes de lhe
servir uma quantidade menor.
“Você está com o seu isqueiro?"
“Sim...estou sentindo cheiro de pão?”
“Ah...eu quase esqueci." Pulando da mesa, ela foi até o fogão para pegar
o pão de alho. “Quase queimei.” Colocando a torrada em um prato, ela a
trouxe para a mesa, vendo que a vela estava acesa.
“Obrigada por acender a vela.”
“Sem problemas."
Depois de comerem, lavaram os pratos juntos e seguiram para a
caminhada noturna. Ao fazê-lo, pararam no curral de Molly para alimentá-
la com a última maçã.
Alanna virou a cabeça e viu Moses andando com seus cachorros.
“Ele tem uma afinidade real com eles, não é?”
“Sim,” Matthew disse, virando-se para olhar para onde ela estava
olhando.
Alanna voltou-se para Matthew. “Isto me lembra. Quando você vai me
deixar ver sua casa? Moses desistiu e me deixou arrumar sua casa ontem.
Vamos; prometo que não vou ficar chocada com qualquer forma que
esteja.”
Matthew se recostou na cerca para olhar para ela. “Você acha que eu não
te mostrei meu lugar porque sou um desleixado?”
“Eu não estou dizendo desleixado, por si só.” Provocando-o, ela bateu
em seu braço com o ombro. “Vamos lá...prometo que não serei uma cadela
julgadora.”
Uma miríade de expressões cruzou seu rosto antes que ele lhe desse um
olhar preocupado. “Eu vou te prender a isso.”
Ela ficou preocupada com a maneira como ele estava agindo quando não
pegou sua mão enquanto eles voltavam a andar.
A direção era a mesma de seus outros irmãos, porém mais para trás,
então eles caminharam pela estrada de terra dos fundos, que era outra
entrada da estrada principal.
“Por aqui.” Matthew a conduziu por uma pequena elevação que
bloqueava a visão da estrada em que eles estavam andando. Ele hesitou
quando chegaram perto o suficiente para que ela pudesse ver a forma de
uma casa atrás de três árvores enormes.
“Matthew, não precisamos entrar se não quiser me mostrar.”
“Não.” Sua boca se firmou. “Eu quero que você veja tudo.”
Ao se aproximarem, ela conseguiu avistar a casa dele. Era maior que a
de Silas. A casa diante deles era uma casa de dois andares azul e branca.
Um alpendre nos fundos e fora de vista. Duas cadeiras de balanço estavam
na varanda, apenas esperando para serem ocupadas. Impressionada com a
beleza da casa de Matthew, ela começou a observar o quintal e notou um
balanço preso a duas árvores. Havia até uma pequena cerca com enormes
vasos cheios de laranjas. Foi a pequena cerca de estacas, porém, que
cutucou uma memória de muito tempo atrás.
“Quando eu crescer e me casar...” Sua voz falhou quando ela se lembrou
de dizer ao vento o mesmo desejo de aniversário que ela teve por vários
anos até que o vento parou de falar com ela. “Vou ter uma casa de dois
andares azul e branca, com um balanço no jardim da frente para ver meus
filhos brincarem, duas cadeiras de balanço para quando eu e meu marido
ficarmos velhos, podermos sentar lá e ver o céu noturno.” Alanna virou-se
para Matthew. “E eu queria uma cerca azul em volta da casa.”
“Como eu fiz?” Ele perguntou com a voz rouca.
Alanna olhou para ele com desânimo. “Como você sabia que esta era a
casa que eu sonhava em ter algum dia? Eu nunca contei a ninguém.”
Matthew enfiou as mãos nos bolsos traseiros. “Você gosta disso?”
“Gostar não é uma palavra forte o suficiente. Eu amo isso.”
“Acabei de terminar antes de você chegar. Você quer ver por dentro?”
“Ah sim...” Ela mal podia conter seu entusiasmo.
Cuidado, Alanna, ela advertiu a si.
Ela entrou pela porta e ficou impressionada com o piso de madeira. Ao
contrário da casa de Ginny, não tinha todos os aparelhos modernos. Alanna
carinhosamente passou a mão sobre o fogão recondicionado vermelho
vintage.
Ela deu um assobio baixo. “Só vi um desses em uma casa que estava
vendendo. O comprador queria incluí-la na venda da casa, e o proprietário
queria mais de cinco mil por ela. Nem preciso dizer que o comprador não
aceitou isso.”
“Estava na casa do papai antes de ele comprar um novo. Estava
guardado no prédio de armazenamento. Eu o recondicionei.”
“É lindo. Posso ver por que você prefere trabalhar com isso em vez de
me deixar despejar algo da panela elétrica para você.”
“Eu amo suas refeições da panela elétrica.”
Ela revirou os olhos para ele. “Eu sei que não sou uma grande
cozinheira. Tudo bem. Estou ficando melhor.”
“Sim você está. Você quer ver o andar de cima?”
Enquanto subiam a escada, ela olhou para a sala vazia.
“Você não começou a escolher os móveis?”
“Não, eu estava esperando.”
“Pelo que?”
“Você.”
Capítulo Vinte e Cinco

Matthew percebeu pelo sorriso torto dela que ela achava que ele estava
brincando.
No patamar, ele abriu uma das portas dos seis quartos, deixando-a olhar
dentro de cada quarto vazio. Ele pensou muito em tornar a casa confortável
para todas as crianças que planejava ter. Ainda havia uma dor dentro de seu
peito, mas depois do último mês, ele não sentia como se houvesse uma
ferida aberta que nunca seria preenchida. Ela foi feita para ele. Quaisquer
que fossem as provações e tribulações pelas quais passariam em suas vidas
à frente, eles poderiam superar. Uma vez que superassem o primeiro
obstáculo...ele confessar os dons de sua família.
Isso podia ir mal. No entanto, ele estava determinado a contar a ela esta
noite. Ezra e Fynn o avisaram nos últimos dois dias que um dia escuro
estava por vir, e eles não podiam ver além de hoje. Isso significava que algo
aconteceria amanhã que poderia mudar a direção de Alanna e seu futuro.
Silas foi até sua loja depois que Alanna saiu de casa, dizendo que
Diamond tinha marcado uma reunião com Alanna para amanhã. O que quer
que Diamond tivesse que falar com ela devia ser o que Ezra e Fynn estavam
avisando.
Ele havia deixado o quarto do meio com vista para o jardim da frente
para o final. Abrindo a porta depois que Alanna verificou os outros, ele a
deixou entrar primeiro. Ela deu a ele um olhar surpreso por cima do ombro
quando viu que era o único que tinha móveis.
“Ezra fez a cama.”
A enorme cama de dossel foi feita com madeira de cerejeira escura, com
padrões de redemoinho esculpidos na parte superior e inferior da cabeceira.
Alanna foi até a cabeceira para passar a mão sobre o padrão de
redemoinho. “Eu nunca vi nada assim. É lindo.”
Olhando para cima, ela viu um espelho pendurado sobre a cama. Todos
os seus irmãos, e Ginny, tinham o mesmo tipo de espelho. “Seus irmãos têm
um espelho como este em suas casas.”
“Cada um é diferente.”
Alanna olhou de volta para o espelho. “Como?”
“Cada espelho é uma imagem de como eram as estrelas na noite em que
nascemos.”
“Que legal.” Movendo-se para a janela, ela puxou a cortina creme de
lado para olhar para fora.
Matthew desejou poder ler sua mente. Sua expressão se tornou
melancólica.
“A sra. Bates vem amanhã para falar comigo.”
Matthew veio para ficar atrás dela, enrolando os braços ao redor de sua
cintura e puxando-a em seu peito. “Você está com medo do que ela quer te
dizer?”
“Se fosse uma boa notícia, ela teria me contado pelo telefone.”
“Não necessariamente”, ele discordou. “Ela pode querer ver seu rosto
quando lhe der boas notícias.”
“Pode ser.” Ela não parecia convencida.
“Não vamos nos preocupar com isso esta noite.”
“Estou triste com isso.” Ela se virou em seus braços. “Você está pronto
para voltar para a minha casa para assistir a um filme?”
“Estou fora de filmes hoje. Há tantos filmes de zumbis que posso
assistir. Além disso, escureceu e não tenho lanterna.”
Um brilho travesso entrou em seus olhos. “Sr. Coleman, você me trouxe
aqui para me seduzir?”
Matthew inclinou a cabeça para trás para poder olhar em seus olhos
claros. As sombras não tinham desaparecido totalmente, mas estavam
preenchidas com muito mais felicidade e alegria.
“Você pediu para vir aqui. Sou eu quem deveria estar procurando
segundas intenções. Você está planejando me seduzir?” Beijando o canto de
seus lábios, ele se afastou provocativamente quando ela virou a cabeça,
tentando capturar o beijo, e estalou a língua para ela.
“Nuh-uh...você acha que eu sou fácil?” Ele a repreendeu enquanto
pegava suas mãos e lentamente a levava para trás em direção à cama.
O quarto estava praticamente escuro como breu; apenas o brilho do luar
do lado de fora da janela iluminava uma pequena parte da total obscuridade.
Caindo para trás na cama, ele a puxou para cima dele.
“Agora, isso não é melhor do que se acariciar em um sofá minúsculo?”
Ele deu um gemido exagerado quando eles afundaram no colchão.
“O sofá não é tão pequeno.”
Um raio de luar dava ao rosto de Alanna um brilho etéreo.
Ele ficou sério. Qualquer desejo de provocá-la havia evaporado.
“Você sabe o quanto eu te amo?”
Seu lindo rosto ficou solene. “Não diga isso...”
“Por que?”
Alanna enterrou o rosto em seu pescoço, sua mão indo para seu peito.
“Apenas não.”
“Você vai ter que dar uma explicação maior do que isso. Eu te amo, e
você escondendo seu rosto não vai fazer isso desaparecer como se eu nunca
tivesse dito isso.”
Ele amava Alanna com todas as partes de seu ser, mas quando ela estava
com medo, tendia a ignorar o óbvio, assim como fez quando ele replicou
seu sonho de casa do que ela disse a Silas.
“Você não me conhece há tempo suficiente para saber o que sente por
mim.”
“Casais se casam depois de uma semana se conhecendo e estão muito
felizes. Estamos nos vendo há mais de um mês. Inferno, quadruplicamos
nossas chances de ter um casamento feliz.”
Alanna levantou a cabeça. “Você está me pedindo em casamento?”
“Sim. Você quer que eu fique de joelhos?” Ele moveu as mãos para os
ombros dela, como se fosse tirá-la de cima dele. Em vez disso, ele
gentilmente a rolou até ficar acima dela.
“Vamos esperar até fazermos qualquer plano. Eu não sei o que a Sra...”
“Eu não me importo com o que Diamond quer falar. Não vai fazer
nenhuma diferença para o que sinto por você. Isso mudaria os sentimentos
que você tem por mim?”
“Não...Matthew, se alguma coisa acontecer com você por minha causa,
eu nunca superaria. Eu disse que Owen e Kate são perigosos.”
Alanna havia contado a ele como Owen e Kate a atormentaram durante
toda a sua infância. Ela ainda não passou pelos detalhes sobre porque ela
não podia ter filhos, mas ele sabia que ambos carregavam a
responsabilidade.
“Eu posso cuidar de mim. São eles que deveriam se preocupar comigo.
Os homens de Kentucky matam por suas mulheres, e você é minha,
independentemente de me deixar colocar um anel em seu dedo ou não.
Você. É. Minha.”
Ele podia ver o medo em seus olhos.
“Não pense neles esta noite, por favor”, ele implorou.
“Eles estão sempre ali, não importa o que eu faça.”
“Um dia, eles não estarão, prometo.” Ele gentilmente abaixou a boca
para cobrir a dela. “Toda vez que pensar neles, imagine-me em pé na sua
frente, protegendo você. Eu nunca vou deixá-los passarem por mim. Eles
não vão passar por mim.”
Ela não respondeu a princípio, seus lábios tremendo sob os dele. Ele
podia sentir seu medo neles. Lentamente, liberou o controle que mantinha
sobre seu corpo, permitindo que aumentasse gradualmente sua temperatura
corporal até que o corpo trêmulo dela absorvesse o calor vindo dele.
Mantendo cuidadosamente a temperatura, ele deu-lhe um calor
reconfortante.
“Tudo o que quero que você faça é repetir depois de mim...” Ele moveu
as mãos sob o tecido macio de seu suéter para sentir o calor quente de sua
pele sedosa.
“Eu...” ele começou.
“Eu...” ela repetiu.
“Amo…”
“Amo…”
“Você.”
“Você.”
“Agora diga tudo junto”, ele instruiu.
“Eu amo você.”
“Viu? Isso não foi muito difícil de dizer, foi?” Matthew arrastou os
lábios pelo pescoço dela enquanto subia as mãos.
“Não, foi muito fácil. Você é muito amável, Matthew.”
Movendo seu quadril para o lado para que ela não sentisse seu pau
esticado tentando se estrangular para sair de seu jeans, ele cerrou os dentes
para evitar empurrá-la muito rápido. Ele queria fazer amor com ela
lentamente, criar uma memória especial que substituísse as memórias
cheias de terror que a assombravam.
Levantando seu suéter sobre seus seios cobertos pelo sutiã, ele sustentou
seus olhares enquanto o puxava sobre sua cabeça e braços. Deslizando a
língua entre os lábios entreabertos, ele lentamente fundiu seus lábios. Ao
mesmo tempo, acariciou a pele sensível do lado de seu seio, usando as
pontas dos polegares. Matthew queria que ela pensasse nas sensações que
estava criando dentro dela, para encontrar beleza na memória com a qual
queria presentear os dois.
Seu peito se contraiu quando o corpo dela ficou flexível sob o dele,
enquanto ela envolvia seus braços ao redor de seu pescoço para abraçá-lo
com mais força.
“Eu te amo, Alanna. Não preciso de meses e anos para decidir quais são
meus sentimentos por você.”
Matthew deixou seus lábios úmidos para trilhar ao longo do vale entre
seus seios. “Estes são os únicos dois seios que eu quero tocar.” Ele colocou
um pequeno beijo no lado de cada montículo. “Que eu já toquei ou tocarei.”
Matthew sentiu a mão dela se mover para a parte de trás de sua cabeça
para puxá-lo para que ela pudesse procurar em seus olhos. “Você está
falando …?”
Matthew olhou diretamente para ela. “A maioria dos homens não quer
admitir que é virgem, mas eu sou.” Ele sorriu para sua expressão chocada.
“Como poderia fazer amor com a mulher que eu amava quando ela não
estava aqui?”
Com ternura, ela esfregou sua bochecha contra a dele. “Eu nunca teria
adivinhado”, ela disse contra sua bochecha.
“Quero ser completamente honesto com você. Há outra coisa que
preciso lhe contar sobre mim, sobre minha família, que deveria ter lhe
contado antes.”
Alanna se mexeu debaixo dele. “Pode esperar? Ainda estou preocupada
com o fato de você ser virgem.”
Seus lábios se contraíram em diversão. “É um choque tão grande?”
Ela deslizou as mãos sedosas sobre os ombros dele. “Ah, sim...minhas
mãos foram onde nenhuma mulher esteve antes.”
“Ou irão”, ele prometeu a ela.
“Melhor ainda.”
Sua boca se curvou em um sorriso que ele não resistiu em beijar. A
paixão que estava segurando explodiu dele enquanto acariciava o céu da
boca dela com a língua. Deslizando as alças do sutiã para baixo, desabotoou
o sutiã entre os seios. Foi Alanna quem o tirou e o jogou de lado para
enterrar os mamilos no peito dele.
Um silvo de um suspiro escapou dele quando sua pele fria tocou seu
calor aquecido. Ela estava causando estragos em seu controle sobre sua
temperatura. Ele tinha que lembrar que ela poderia se machucar se não
tomasse cuidado.
Resolvido a tornar sua primeira experiência memorável, ele acariciou
seu corpo como um novo pedaço de ferro, para descobrir a força e o design
que queria dar a ele. Levantando-se, lentamente tirou sua calça jeans e
calcinha. Então, deitando-se, colocou a mão em sua barriga trêmula.
“Eu nunca machucarei você, Alanna.”
“Eu sei...não sei por que estou tremendo.”
“Eu sei...” ele murmurou, deslizando para baixo para colocar beijos
suaves sobre sua barriga. “Você está esperando que eu ataque você. Eu não
vou. Prefiro me incinerar.”
O riso borbulhou de sua garganta. “Muito dramático?”
Sentindo que o medo dela havia diminuído, ele se moveu para deitar
entre suas pernas. Beijando a parte interna de suas coxas, abriu mais suas
pernas, separando a fenda de sua buceta. Ele deslizou sua língua ao longo
de sua coxa, subindo para seu monte, enrolando sua língua ao redor de sua
buceta. Segurou seu quadril para baixo quando ela arqueou sob ele. Ele não
queria perder o tesouro que acabara de encontrar.
Saboreando seu gosto como um bom vinho, brincou com seu tesouro
antes de deixar sua língua mergulhar na caverna abaixo.
Sua buceta úmida o recebeu com os músculos apertados ao redor de sua
língua. Deslizando sua língua mais alto, ele acariciou os lados enquanto
Alanna se contorcia sob sua boca.
Construindo seu desejo, como se fosse aumentar gradualmente as
chamas em sua forja, ele acariciou seu canal até que ela estava
choramingando e gemendo. Ele acariciou e chupou sua abertura até que
sentiu seu clímax em sua língua.
Removendo sua língua, ele gentilmente deslizou seu pau para dentro
enquanto ela ainda estava tendo espasmos com seu orgasmo.
“Não há como você não ter feito isso antes”, ela engasgou.
Apertando os dentes porque era impossível para ele falar com as
sensações que o assaltavam, ele deitou a cabeça nos ombros dela para
aliviar a constrição em seu peito. Sentiu como se fosse explodir em chamas
dentro dela. Graças a Deus a umidade o impediria de entrar em combustão
espontânea, ou ele estaria perdido. Ambos estariam.
O pensamento arrepiante o fez recuperar seu autocontrole o suficiente
para se mover dentro dela.
“Não há nada assim em todo o mundo.”
Ela olhou para ele com ternura. “Estou pensando a mesma coisa. Não há
ninguém como você neste mundo inteiro. Eu nem sabia que homens como
você podiam existir.”
Suas palavras o fizeram confessar que ela não sabia o quão verdadeiras
suas palavras eram.
“Alanna, eu sou diferente. Minha família inteira é…”
Enquanto ele falava, ela começou a se mover, levando seu pau ao
máximo dentro dela. Sua mente se transformou em lava derretida. Todo o
funcionamento mental deu errado, deixando seu corpo instintivamente
assumir o controle, para conduzir seu pau dentro dela tão rápido e profundo
quanto ele pudesse ir. Tremendo, tentou prolongar, determinado a não gozar
ainda, mas quando ela enrolou as pernas ao redor de seu quadril para
combinar com seus movimentos, sua força de vontade evaporou, deixando
apenas a necessidade de alcançar a conclusão final de mostrar seu amor por
ela.
Caindo em cima dela, ele começou a rolar de cima dela, não querendo
sufocá-la com seu peso. Alanna apertou os braços ao redor dele, porém,
recusando-se a deixá-lo ir.
“Você pode ter acabado de me convencer a me casar com você. Se
fomos tão bem assim da primeira vez”, ela deu uma risada trêmula, “só vai
melhorar, certo?”
Matthew relaxou seu corpo úmido no dela.
“Fazem colchões à prova de fogo?” Ele perguntou quando pôde fazer
suas cordas vocais funcionarem.
“Tenho certeza. Por quê?”
“Vamos precisar de um.”
Capítulo Vinte e Seis

Alanna estava praticamente pulando. Depois de passar o resto da noite com


Matthew em sua cama, ela conseguiu arrastar seu corpo dolorido para fora
ao raiar do dia. Eles voltaram para o trailer, onde ela tomou banho e vestiu
jeans e a camisa de flanela cinza e preta que Matthew lhe deu no dia em que
jogaram água um no outro.
Depois de comer tigelas de cereal, eles caminharam juntos até sua loja,
de mãos dadas.
“Isaac e eu estamos ajudando Jody e Jacob a montar um novo portão a
alguns quilômetros daqui, mas estarei de volta antes que Diamond chegue
aqui”, ele prometeu.
“Você não precisa se apressar. Não quero que apresse o trabalho. Vou
ficar bem...”
“Eu quero estar aqui”, ele insistiu. “Só não quero que você fique ansiosa
com o que ela tem a dizer. Seja o que for, bom ou ruim, vamos lidar com
isso.”
“Estou feliz que você esteja confiante, porque eu não estou.” Nervosa,
seu estômago revirava só de pensar na próxima reunião.
“Não fique nervosa.” Tomando as mãos dela, ele as aqueceu entre as
suas. Alanna se inclinou em seu calor.
“É mais fácil falar do que fazer.” Forçando um sorriso em seus lábios,
ela lhe deu um beijo rápido antes de se afastar ao ouvir passos esmagando
os galhos. Virando-se, viu Isaac vindo de sua casa.
“Está pronto?" A voz de Isaac viajou.
“É melhor eu começar a trabalhar.” Corando, ela se apressou,
envergonhada quando viu Isaac olhando para a marca vermelha que ela
acidentalmente deixou no pescoço de Matthew.
Na casa de Silas, ela rapidamente começou a refeição de costeleta de
porco na panela elétrica que Silas queria. Descarregar a máquina de lavar
louça não demorou muito. Também fez um bule de café fresco depois de se
servir de um. Ela normalmente não tomava café, mas não tinha dormido
muito na noite passada e poderia usar o impulso extra.
Depois de passar o resto da manhã fazendo tarefas na casa dos irmãos de
Matthew, ela fez uma breve parada em sua casa para tirar alguns bifes do
freezer. Matthew prometeu a ela que eles poderiam assá-los na
churrasqueira hoje à noite, brincando que ele ligaria e se certificaria de que
Greer estava trabalhando antes de acender o fogo.
Ginny tinha o almoço pronto para elas quando chegou em sua casa.
Depois que comeram a salada de frango, Ginny a deixou para tirar um
cochilo rápido. Gavin, Freddy e Ginny vão para uma festa de Páscoa na
casa de um dos membros dos Last Riders. A Páscoa não era até domingo,
mas eles estavam dando uma festa hoje à noite para que as crianças
pudessem fazer um concurso de decoração de ovos.
Ela olhou para o relógio, e cerca de meia hora antes de Ginny acordar,
Alanna deu um banho em Freddy e o trocou.
“Você é tão adorável”, ela cantarolou, pegando-o. Estava levando-o para
fora do banheiro quando Ginny saiu de seu quarto. Levou um minuto para
ela perceber que já o havia vestido com seu traje de Páscoa.
Ela carregou Freddy para o carro de Ginny para ela, observando
enquanto se afastavam. Verificou o celular que Silas havia emprestado e
voltou para a casa dele. Ela deveria chegar antes da Sra. Bates.
Ficou aliviada ao ver que não havia carros na garagem de Silas, o que
significava que ela chegou a tempo.
Enquanto subia os degraus laterais da casa de Silas, Matthew e Isaac
pararam.
Sorrindo, Matthew saltou para fora do carro. “Eu disse que chegaria a
tempo.”
“Eu sabia que você iria”, ela o assegurou, enquanto ele e Isaac subiam
os degraus.
Matthew abriu a porta para ela entrar.
“Alguém quer uma xícara de café?” Silas perguntou enquanto descia as
escadas.
“Não, obrigada."
“Eu quero”, Isaac disse. “Posso pegar se você quiser.” Ele foi em
direção à cozinha.
Silas o seguiu, deixando-a e Matthew na sala.
Pegando a mão dela, ele a puxou para um dos dois sofás que ficavam em
lados opostos da sala, um de frente para o outro.
“Diamond está aqui”, veio da cozinha enquanto Silas carregava duas
xícaras, entregando uma para Matthew.
Alanna esperou sem fôlego pela batida, apavorada que a Sra. Bates lhe
dissesse que eles iriam julgar o caso em Ohio, onde Elizabeth foi
sequestrada, ou que ela tinha uma data marcada para o julgamento. Ela
sabia que era inocente, mas provar isso com tantas evidências contra ela não
era uma conclusão previsível.
Silas abriu a porta quando Isaac saiu da cozinha.
Alanna se levantou quando Diamond entrou pela porta, com Elizabeth
entrando atrás dela e um policial que Alanna reconheceu em Rod MacNeil.
O policial MacNeil fechou a porta.
Alanna não sabia como reagir à visão inesperada de Elizabeth. Então
Elizabeth a viu e começou a chorar, correndo em direção a Alanna.
“Eu sinto muito por ter mentido”, ela soluçou. “Estava com tanto
medo...”
Alanna imediatamente quebrou ao ver a mulher que ela amava desde
criança. Estendendo a mão para abraçá-la, Alanna deu um tapinha em suas
costas, tentando fazer com que Elizabeth parasse de chorar tanto. “Eu sabia
que você estava.”
“Deveria ter dito a você que mamãe entrou em contato comigo quando
nos mudamos para Ohio. Por isso me mudei. Eu não queria correr o risco
dela te machucar.”
“Está bem.”
“Não, não está. Por favor, me perdoe?"
“É claro.” Alanna a acalmou enquanto olhava para a Sra. Bates. “Isso
significa…?”
Diamond assentiu. “Acabamos de chegar do escritório do xerife, onde
Elizabeth deu uma declaração do que realmente aconteceu quando foi
sequestrada por Owen.”
“Eu disse ao xerife que você não tinha nada a ver com meu sequestro,
que Owen me obrigou a dar a ele seu código de corretora de imóveis para as
casas que estava mostrando.”
Um zumbido fez todos olharem ao redor.
“Desculpe a interrupção.” Silas tirou o celular do bolso, saindo da sala
para ir para a cozinha enquanto colocava o telefone no ouvido.
Alanna sentiu um peso enorme sair de seus ombros. “Você sabia quem
Owen era quando você foi sequestrada?”
Elizabeth saiu de seus braços. “Desculpe por ter mentido quando me
perguntou sobre ele. Mamãe ameaçou nunca mais me deixar ver você se eu
o fizesse.”
“Eu gostaria que tivesse me contado. Nunca teria deixado você voltar
para ela. Eu não deveria, de qualquer maneira.” Autorrecriminações a
enchiam quando Silas veio correndo da cozinha.
“Era Gavin no telefone. O ônibus escolar em que Fynn estava foi
desviado da estrada por um carro em alta velocidade que não viu a placa de
pare quando o sobrinho de Greer saiu. O ônibus desceu a montanha com as
crianças a bordo!”
Silas pegou as chaves do carro da mesa. Isaac se levantou da mesa,
assim como Matthew.
“Matthew, você fica aqui com Alanna e manda uma mensagem para
Jody e Jacob para deixar o trabalho que eles estão terminando. Isaac, pegue
a caminhonete de Matthew para reunir Ezra e Moses.”
Matthew jogou as chaves da caminhonete para Isaac, que ele pegou
enquanto corria para fora da sala de jantar.
“Ligue assim que descobrir alguma coisa”, Matthew gritou para eles
enquanto saíam.
O rádio do policial MacNeil começou a apitar. Alanna e o resto deles
ouviram a voz do xerife pelo rádio, chamando o policial e Diamond para a
delegacia para que o carro pudesse ser usado para bloquear o tráfego
subindo a montanha.
“Roger. Estamos a caminho.” O policial abriu a porta. “Precisamos ir.
Sra. Bates, Srta. Easton.”
“É claro. Alanna, vou pedir que as acusações sejam retiradas, e você
deve tirar essa engenhoca do seu tornozelo até a tarde.”
“Obrigada”, ela disse para as costas deles enquanto o policial MacNeil
as conduzia para fora da casa.
Assim que eles saíram, seus lábios tremeram de preocupação por Fynn.
“Você deveria ir. Eu vou ficar bem aqui.”
“Não vou deixar você sozinha. A cidade inteira provavelmente já está lá,
ajudando.”
“Tem certeza?”
“Sim. Tenho certeza de que Fynn está bem. Fynn é duro. Está
acostumado a nos ter jogando-o por aí como uma bola de futebol quando
ele era pequeno.”
Matthew a puxou em seus braços. “Ei, não se preocupe. Devemos ficar
felizes. O caso contra você será arquivado.”
Alanna sabia que ele estava tentando aliviar sua preocupação sendo
positivo.
“Vou pegar os marshmallows. Podemos ir em frente e acender a
fogueira, e você pode começar a assar os marshmallows enquanto pego os
bifes de sua casa.”
“Eu não quero nenhum. Tenho medo de engasgar com eles agora...até
saber que Fynn está bem.”
Ele agarrou os braços dela. “Ele está bem. Ezra saberia se algo ruim
fosse acontecer.”
“Como Ezra saberia?”
O rosto de Matthew assumiu uma expressão firme. “Deixe-me pegar os
marshmallows, acender a fogueira, e quando eu pegar os bifes, vamos ter
uma conversa.”
Ela assentiu, seu estômago revirando. Ele iria inventar alguma desculpa
para eles não se casarem agora que ela estava praticamente livre das
acusações contra ela? Ele gostaria que ela voltasse para Ohio?
As diferentes possibilidades ainda percorriam sua mente quando ele
voltou com os marshmallows. Silenciosamente, ela caminhou ao lado dele
até a fogueira, sua mente em turbilhão de preocupação com Fynn e
Matthew querendo recuar em seu relacionamento.
Ela pulou quando ele colocou uma cadeira a vários centímetros da
fogueira. Ela não o notou pegando as cadeiras do galpão ao ar livre.
Tomando-a pelos ombros, ele a sentou. Entorpecida, ela olhou para ele.
“Eu não vou demorar cinco minutos. Lembre-se, há um balde perto do
barril de resfriamento, se precisar. Não...repito: não...ouse assar um
marshmallow até eu voltar.”
Ela não pôde deixar de sorrir para sua expressão de mau presságio.
“Eu prometo.”
“É melhor mesmo”, ele advertiu com um dedo apontado para ela.
Ela mostrou a língua para ele, e Matthew se inclinou, pegando sua boca
em um beijo antes que ela pudesse puxá-la de volta. Sorrindo, ele se
afastou.
“Isso está melhor.” Ele sorriu, dando-lhe uma piscadela sexy, o que
aliviou a maior parte de seu medo.
Ela foi incapaz de tirar os olhos de seu caminhar sexy enquanto ele se
afastava em direção a seu trailer. Procurando no chão um pedaço de pau
para usar para assar os marshmallows, ela viu alguns, mas isso implicaria
que ela se levantasse, o que prometeu a Matthew que não faria.
Ela levou seus olhos de volta para a fogueira quando seu celular tocou,
mostrando que tinha uma mensagem de texto. Ela abriu o telefone e foi para
suas mensagens de texto, e seu sangue gelou quando ela leu.
Corre, vadia. Estou contando até dez, e depois vou atrás de você.
Capítulo Vinte e Sete

Alanna pulou da cadeira, olhando para o telefone. Ela foi à contagem de dez
para se esconder.
O jogo bobo da infância tinha se transformado em um pesadelo de
inteligência entre ela e Kate. Se ganhasse, passaria a noite agachada com
medo de ser pega até o sol nascer pela manhã. Se Kate ganhasse, ela a
arrastaria para o quarto de Owen para deixá-lo abusar dela enquanto ela
tomava conta de seus pais adotivos.
Quando Kate começou a forçá-la a jogar, ela invariavelmente perdia até
que uma noite ela tentou escalar a janela de seu quarto, sem se importar se
ela se machucaria se caísse. Na verdade, chegou ao ponto de não se
importar se sobreviveria. Qualquer coisa era melhor do que Owen machucá-
la do jeito que ele tinha um prazer doentio em fazer com ela.
Ela saiu pela janela e estava parcialmente fora quando ouviu o vento
dizer para ela voltar.
Olhando para o pátio de concreto abaixo, ela se afastou mais,
determinada a não deixar Kate encontrá-la. Seu tempo estava se
esgotando, e ela estava apenas imaginando a voz...até que ela a ouviu
novamente.
Vou te ajudar a se esconder. Deixe a janela aberta.
Subindo de volta para dentro como o vento lhe disse para fazer, ela se
esgueirou para baixo e se escondeu sob o piano da Sra. Fields. Ela nunca
tentou se esconder no andar de baixo.
Ela passou a noite ilesa. Essa foi a primeira vez que ganhou contra
Kate. Ela nem sempre ganhava. Às vezes, Kate trapaceava por não contar
quando ela não fazia algo que Kate queria que fosse feito, mas estava
ganhando mais do que havia perdido, especialmente quando começou a
deixar uma janela aberta em seu quarto.
Foi só depois, quando a Sra. Fields ficou preocupada com o fato dela
não ter menstruado e entrou em contato com sua assistente social, a razão
pela qual ela não revelou a extensão do abuso que sofreu nas mãos de Kate
e Owen. Como Kate e Owen eram menores quando os ataques ocorreram,
os detalhes do que fizeram com ela foram selados pelos tribunais.
Posteriormente, a enviaram para aconselhamento, onde o terapeuta lhe disse
que era sua mente que havia inventado o vento conversando com ela. Ela
tomou o remédio que o terapeuta havia prescrito, e o vento parou de falar
com ela.
Às vezes ela achava que podia ouvir a voz no vento falando com ela,
mas era tão fraca que não conseguia entender. Gradualmente, ela parou de
tentar ouvir. Na cadeia, sem o remédio, começou a ouvi-lo novamente na
noite em que Matthew foi preso. Assustada por estar dando um passo para
trás em um período traumático de sua vida, ela voltou a tomar o remédio.
Então parou de tomá-lo no dia seguinte, quando viu a mágoa nos olhos de
Matthew por seu comportamento.
Segundos preciosos estavam passando...ela girou freneticamente no
lugar, determinando onde se esconder. Matthew deveria estar de volta a
qualquer minuto...ela não queria que ele a procurasse se Kate estivesse
vindo atrás dela.
“O que devo fazer?” Ela gritou, agarrando sua cabeça.
Esconda-se no forte. Matthew está chegando.
Ela correu para o forte de infância dos Coleman e teve que se curvar e se
mexer pela hera crescida que se agarrava à estrutura. Perdendo segundos
preciosos para que ninguém visse que a hera foi perturbada, ela conseguiu
rastejar para dentro, ignorando a teia de aranha grudada em seu rosto. Ela
esperou até estar sentada no canto mais distante e escuro antes de remover a
teia grudada.
“Alanna, onde você está? Aqui é o policial Huxley. O xerife me enviou
para levá-la ao escritório dele.”
Não ouça. Ele não é policial.
Através de uma abertura em alguns troncos empilhados, Alanna pôde
distinguir uma perna uniformizada. Era o mesmo uniforme que o policial
MacNeil usava e que ela viu nos policiais quando estava na prisão.
“Só estou aqui para te ajudar...”
“Quem é você?”
Alívio a encheu ao ouvir a voz de Matthew.
Fique quieta, o vento a avisou.
Mordendo o punho, ela permaneceu em silêncio, o tempo todo querendo
correr para Matthew.
“O xerife me enviou para proteger Alanna.”
“Conheço todo mundo que trabalha para a polícia na cidade. Você não
trabalha lá.”
“Sou um novo contratado.”
“Besteira. Saia da minha propriedade. Se Knox quer proteger Alanna,
pode vir ele mesmo ou mandar o policial MacNeil de volta.”
“Isso pode ser difícil de fazer.” A voz do policial se tornou sinistra.
“Policial MacNeil não pode ajudar a si mesmo agora. Entregue-a e vá
embora.”
“Saia da minha propriedade.”
Alanna teve que se abaixar mais para ver melhor, para ter certeza de que
alguém não tinha chegado quando a voz de Matthew soou tão sinistra
quanto a do policial.
Droga. Ela tinha esquecido o quão assustador ele podia soar quando
queria.
Ela ouviu um farfalhar, e então o clique de uma arma.
“Você deveria ter ido embora”, o policial rosnou.
“Você a encontrou?”
Alanna levou o punho à boca para abafar qualquer som quando
reconheceu a voz de Owen.
“Ainda não. Houve um atraso.”
“Pare de perder tempo. Atire nele e me ajude a procurar”, Owen
ordenou.
Alanna viu as pernas de jeans de Owen enquanto ele se movia fora da
área, olhando para trás da fogueira antes de voltar para onde ela estava
escondida.
“Eu sei que você está aqui, Alanna. Revistei a casa, então você tem que
estar aqui em algum lugar. Sabe o que vou fazer quando encontrar você, não
sabe?” Ele ameaçou. “Oh...baby...faz um tempo desde que eu tive você. Vou
te dar isso com tanta força...”
“Você não vai tocá-la!"
“Atire nele!"
“Droga, estou tentando. O maldito fogo está soprando fumaça em meus
olhos…”
Alanna ouviu um som de carne encontrando carne e viu quando
Matthew saltou em direção ao policial para lutar com a arma longe de seu
aperto. Enquanto isso, Owen continuou vasculhando a área, aproximando-
se do forte. Seu único foco era ela.
Você vai ter que correr quando eu mandar.
Alanna balançou a cabeça freneticamente, assustada demais para falar.
Owen a veria se ela rastejasse para fora do forte.
Ele não vai te ver. A fumaça vai cegá-lo o suficiente para você ter uma
vantagem.
Ela começou a rastejar até a abertura do forte, mantendo-se de lado o
máximo que pôde.
Corre!
Seu instinto era ir até Matthew, vendo-o e o homem uniformizado
lutando no chão.
Levantando-se bruscamente, ela começou em direção a eles.
Não! Corra! Estamos a caminho para ajudá-lo.
Ela saiu correndo, passando pelo forte, depois pela loja de Matthew e
Isaac, esperando alcançar a cobertura da floresta antes que Owen a pegasse.
Quem está a caminho? Seus pensamentos frenéticos não tinham a
menor ideia de quem estava vindo para ajudar.
Ouvindo passos se aproximando dela, ela não pôde deixar de virar a
cabeça para ver o quão perto Owen estava chegando dela, apenas para
tropeçar e cair sobre a pequena elevação quando viu que era Elizabeth. Ela
é quem o vento disse que estava vindo para ajudar?
Não pare! O vento uivava para ela. Ela quer te machucar, não te ajudar!
Incrédula, ela se levantou, vendo que Elizabeth havia parado de
persegui-la e estava se aproximando dela.
“Venha aqui, Alanna. Eu protegerei você.”
Lentamente, Alanna começou a recuar ao ver o olhar louco nos olhos de
Elizabeth. Ela desviou o olhar para baixo, para as mãos de Elizabeth. Ela
segurava uma faca ensanguentada.
“Você está machucada?”
Elizabeth se aproximou, erguendo a faca ensanguentada.
“Não. Não fui eu quem se machucou.” Elizabeth puxou a faca mais
perto de seu rosto para lamber a lâmina. “Não é meu sangue.”
Alanna deu outro passo para trás, não querendo brincar de gato e rato
com uma mulher que ela adorava desde que ela mesma era apenas uma
adolescente.
“De quem é o sangue?”
“De sua advogada. Ah...e do policial. O xerife realmente deveria dar
uma olhada embaixo dos assentos antes de deixar as pessoas entrarem em
sua viatura. Qualquer pessoa poderia aparecer e esconder uma arma.
Felizmente para mim, alguém o fez.”
Alanna não se perguntou quem era essa pessoa. Kate.
“Você os machucou?”
“Coloque desta forma...o policial fez sua última prisão, e a pobre Sra.
Bates não defenderá ninguém nunca mais. Ela escolheu a pessoa errada
para representar quando escolheu você ao invés de mim.”
“Elizabeth...eu não entendo. Eu te amo. Tentei te proteger...”
“De quem? Minha mãe?” Elizabeth gritou com ela. “Ela é a única que
me entende. Você certamente não...odiava quando ela me fazia ficar com
você...” Uma risada zombeteira saiu de seus lábios. “Você foi estúpida o
suficiente para pagar minhas despesas de mudança para Ohio para aquele
trabalho idiota que mamãe queria que eu fizesse. Eu mal podia esperar para
sair daquele apartamento...se eu tivesse que morar lá mais um dia, eu
teria...”
Elizabeth saltou para ela de repente, e Alanna parou de tentar
argumentar com ela quando viu que a lucidez de Elizabeth se foi. Ela
deixou Elizabeth chegar muito perto dela. Não havia nenhuma maneira que
ela seria capaz de fugir dela.
Nesse momento, ela viu uma das placas dos Porters e virou na direção
de sua propriedade.
Por favor, que seja verdade! Ela gritou em sua cabeça. Por favor, que
seja verdade que um dos Porters está assistindo.
Se Elizabeth estava prestes a matá-la, ela queria uma testemunha do que
havia acontecido com ela e Matthew, se ele também não sobrevivesse.
Ela deu apenas dez passos antes de bater a cabeça em um peito
masculino.
“Que porra você está fazendo...”
“Ela vai me matar”, Alanna conseguiu ofegar. “Eu trabalho para os
Co...”
“Eu sei quem você é.”
Um grito enlouquecido veio em direção a eles, e Alanna se virou para
olhar, vendo Elizabeth correndo em direção a eles com a grande faca
levantada.
O homem a empurrou para o lado para levantar a arma em sua mão,
disparando um tiro no mesmo movimento. O sangue jorrou do peito de
Elizabeth quando ela foi jogada para trás no chão.
Alanna saiu correndo na direção que ela tinha acabado de vir.
“Onde diabos você vai?”
“Eu tenho que ajudar Matthew. Eles vão matá-lo!” Ela gritou, sem parar.
Ela tinha que ajudar Matthew, rezando para que o homem com a arma a
seguisse.
Ouvindo seus passos e galhos quebrando, ela correu mais rápido.
Por favor, deixe Matthew ficar bem. Por favor…
Ela correu pela elevação e viu Matthew saindo do falso policial, que
estava imóvel.
“O que diabos você fez com ele?”
Alanna parou de correr quando ouviu o medo na voz de Owen e viu em
seu rosto.
As costas de Matthew estavam viradas para ela, então ele não a viu
parar a poucos metros de distância.
“Eu fiz com ele exatamente o que vou fazer com você.”
Ela ainda estava congelada no lugar quando viu Silas, Isaac e Moses
correndo pela entrada para cercar Owen.
Silas acenou para o homem no chão. “Foi ele que tirou o ônibus escolar
da estrada. Encontramos o carro do MacNeil com o policial e Diamond
dentro. O policial está morto, e Diamond está sendo tratada no hospital.
Eles acham que ela vai sobreviver.”
Graças a Deus. Alanna começou a chorar ao ouvir que a mulher não
estava morta.
“A estrada está bloqueada com todos tentando passar por onde os
veículos de emergência estão tentando chegar ao ônibus. Jody, Jacob e Ezra
estão com Fynn no hospital. Acho que ele está com o braço quebrado. O
sobrinho de Greer não se machucou. Uma garotinha ficou presa embaixo do
ônibus quando ele caiu. Ela morreu.” O rosto de Silas estava cheio de ódio
enquanto olhava para Owen, que estava apenas olhando para eles. Owen
podia ser um terror no que dizia respeito às mulheres, mas com os homens,
ele se mostrava o covarde que era.
“Eu só estava tentando proteger Alanna de Elizabeth.”
“Como você sabia que Elizabeth estava aqui?” Matthew disparou a
pergunta sem dar a Owen a chance de falar. Então uma faísca de fogo
atingiu Owen em seu peito.
“Onde está seu monitor de tornozelo? Você deveria ficar restrito ao
quarto de hotel que seu advogado conseguiu para você. Onde está toda a
sua grande conversa sobre o que você faria com Alanna quando a
encontrasse?”
Enquanto Matthew falava com desdém, faíscas de fogo continuavam
atingindo Owen, forçando-o a começar a dar tapinhas descontroladamente
em suas roupas.
“Que diabos? Como você está fazendo isso? Pare! Isso machuca!”
Owen gritou, tentando se afastar de Matthew.
Com um assobio baixo, os cães de Moses correram para rosnar para
Owen. Toda vez que Owen tentava se mover, um dos cães o beliscava.
“Eu não estou te machucando um décimo do que você fez com Alanna!”
A voz áspera de Matthew a fez estremecer. “Você transformou um jogo
inocente de esconde-esconde em aterrorizar uma criança pequena, então
você a estuprava, destruindo qualquer chance dela se tornar mãe, ou de eu
me tornar o pai deles!”
Alanna ainda não podia ver a expressão de Matthew, mas podia ver
quando ele levantou a mão no ar para apontar um dedo para Owen. Então
ele começou a fazer um círculo no ar. Ela assistiu em espanto quando o
fogo disparou da ponta de seu dedo para pousar em Owen. Então Matthew
começou a mover o dedo mais rápido, subindo e descendo.
Alanna assistiu, horrorizada, enquanto as chamas consumiam um Owen
gritando. Os cães se afastaram enquanto o fogo o devorava em suas
profundezas, o fogo girando em torno dele como um tornado de calor.
Então Owen desmoronou no chão quando Matthew virou a palma da mão
para cima e a chama voou para ele como se Matthew o tivesse chamado
como Moses com seus cães. As chamas dançaram em sua mão até que ele a
fechou em um punho. Quando ele abriu a mão novamente, as chamas
haviam desaparecido.
Alanna ficou ali, tentando entender o que acabou de acontecer. Ela deve
ter enlouquecido quando viu Elizabeth ser baleada, que era a única
explicação racional que podia encontrar. O cheiro horrível vindo do lugar
queimado e ainda fumegante no chão onde Owen e o falso policial
deveriam estar, mas ambos sumiram, a tirou de seus pensamentos.
Um som estridente a fez tapar os ouvidos para abafar o barulho que era
tão alto que era entorpecente.
“Alanna, pare de gritar.” Matthew a cercou com os braços.
Assustada com o que acabara de testemunhar, ela arrancou-se de seus
braços. “Eu perdi a cabeça. Não apenas vi você queimar...”
“Por favor, não tenha medo de mim.” O rosto sombrio de Matthew
tornou-se de partir o coração. “Eu posso explicar...”
“Como você pode explicar matar um homem?”
“Porque ele não era um homem. Era um monstro que caçava inocentes.
Ele deveria estar preso quando o sistema de adoção descobriu que ele havia
estuprado outras duas garotas, além de você. Ele nunca deveria ser colocado
em uma casa onde houvesse mulheres, e eles nem davam a seus pais
adotivos nenhuma pista de que tipo de monstro eles permitiram em sua
casa.”
Ela olhou para o chão fumegante, o fedor fazendo-a querer vomitar.
Engasgando, ela cobriu a boca.
Matthew a pegou pelo braço para afastá-la do fedor e levá-la para a casa
de Silas. Ajudando-a a sentar-se no degrau superior, ele usou a mão para
pressionar a cabeça dela até os joelhos.
“Isaac, pegue um copo de água para ela.” Ela ouviu Silas dizer ao irmão.
Alanna sentiu Isaac passar correndo por ela e ouviu a porta de tela abrir.
“Apenas respire”, Matthew disse, sentando-se ao seu lado para colocar
um braço em volta dela.
“Greer e Dustin não estão atendendo minhas ligações. Logan está bem?”
“Ele está bem, Tate. Ele já estava fora do ônibus quando capotou”, Silas
respondeu ao homem que havia atirado em Elizabeth. “Eles estão tentando
estabilizar o ônibus antes que possam trazer mais paramédicos para ajudar a
tirar as outras crianças.”
“Se você tem tudo sob controle aqui, vou ajudar com o ônibus.”
“Nós temos. Tate, nossa família deve a você.” Ele deu ao homem um
aceno de cabeça. “Você vai ter que andar. O tráfego está parado nas duas
direções na montanha.”
“Vou pegar uma carona de volta com Dustin ou Greer. Isso são dois
favores. Não pense que Greer não está contando.”
“Ele nunca me deixa esquecer isso”, Silas disse ironicamente.
Levantando a cabeça, ela viu Tate prestes a se afastar, mas então ele
parou.
“Espero que um de vocês cuide da mulher na plantação de maconha de
Greer. Não podemos ter Knox farejando por aí.”
“Ela vai embora antes de você voltar.” Silas assentiu.
Alanna se sentiu como se estivesse em um pesadelo sem fim, onde eles
estavam apenas casualmente parados, conversando como se, livrar-se de um
cadáver, fosse uma ocorrência diária. Talvez fosse. Talvez houvesse tantos
filmes de terror sobre assassinos vivendo nas montanhas por um motivo.
Matthew pegando o copo de água de Isaac para entregar a ela a fez
recuar. Afastando-se dela, ele o colocou entre eles. “Eu nunca te
machucaria.”
Ela apertou os lábios secos, vendo a dor em seus olhos.
“Eu queria te contar sobre o meu dom.” Matthew olhou para cima para
encarar seus irmãos ao pé da escada. “Quais dons todos nós temos. Não
consegui encontrar coragem. Eu deveria ter dito a você ontem à noite.
Tentei te contar ontem à noite, mas depois me distraí.” As mãos de Matthew
pendiam entre suas coxas. “Eu sou um caminhante de fogo.”
Capítulo Vinte e Oito

Ela balançou a cabeça. “Caminhantes do fogo não existem.”


“Existem. Eu sou um. Posso criar fogo, caminhar pelo fogo e qualquer
outra coisa que possa imaginar.” Matthew virou a palma da mão para cima.
Na ponta do seu dedo indicador, uma pequena bola de fogo apareceu.
Alanna observou enquanto ele levantava cada dedo e os movia. A
pequena bola saltou para cada dedo antes de retornar ao dedo indicador.
Enquanto Matthew olhava para ela, ficava cada vez maior até que ficou do
tamanho de uma bola de beisebol e então desapareceu quando ele fechou o
punho, como se tivesse desligado o oxigênio.
“Eu posso controlar a maneira como ela se move.”
“Eu vi isso por mim mesma.” Ela estremeceu.
“Eu posso suportar calor alto, o que iria...”
“Matar alguém,” ela terminou para ele. “Vi isso também, ou minha
mente está inventando?"
“Você não imaginou. Você nunca imaginou nada acontecendo com
você.”
Seus olhos se arregalaram. “Como você sabe o que eu imaginei?”
“Alanna.”
A voz de Silas chamou sua atenção para ele.
“Você não imaginou o vento falando com você. Era eu."
“Isso é impossível …"
Silas foi ficar ao lado de uma pilha de folhas que ela varreu esta manhã,
quando foi à sua casa. Ele estendeu as mãos e as folhas começaram a subir
do chão em um aglomerado de cores. Quando ele baixou as mãos, as folhas
caíram no chão como se não foram mexidas.
“Foi você quem disse para me esconder quando Kate e Owen queriam
jogar?” Confusa, ela o encarou. Como algo assim é possível?
“Sim.”
“Foi você quem me disse que sabia quem era meu príncipe...” Alanna
desviou o olhar de seu sorriso para olhar para Matthew.
Silas assentiu quando ela olhou para ele. “Ezra tem o dom de ler as
estrelas. Ele viu que Matthew e você são almas gêmeas.”
Ela esfregou a têmpora. Isso era inacreditável, mas ela havia
testemunhado o que Matthew e Silas podiam fazer.
“O que você pode fazer?” Ela perguntou, olhando para Isaac.
Ofendido, ele olhou para ela. “Nossos dons não são truques de circo.
São dons que foram passados de geração em geração em nossa família.
Ficamos isolados nesta montanha para que ninguém saiba do que somos
capazes de fazer. Imagine ser um caminhante do fogo, ou um falador do
vento, quando as pessoas acreditavam em feitiçaria. Imagine o que as
pessoas fariam se descobrissem que Ezra pode ler as estrelas como um livro
aberto, ou Fynn, que carrega todos os dons para serem transmitidos às
gerações futuras. Ele tem a visão do futuro… sabe o que aconteceria se as
pessoas descobrissem que ele consegue saber quem ganhará um jogo de
futebol, quais ações vão subir e quais vão cair?”
“Calma”, Matthew disse bruscamente. “Ela está em choque e com
medo.”
“Bem-vinda ao nosso mundo.” Isaac deu-lhe um sorriso triste. “Não há
um dia em que não vivemos com medo de que, quando Fynn for para a
escola, alguém notará seu dom…”
Fynn ainda era apenas uma criança...a imagem mental de alguém
usando-o para satisfazer sua ganância fez seu peito apertar de medo.
Isaac acenou para ela, sabendo que ela estava começando a entender o
medo deles.
“Para responder sua pergunta”, sua voz suavizou, “eu sou um
caminhante das sombras. Posso manipular o fogo, não tanto quanto
Matthew, mas posso usá-lo para andar nas sombras das chamas. Onde quer
que haja um incêndio, passado ou presente, posso estar presente sem ser
visto, ou se me virem, tudo o que verão é minha sombra.”
“Você não pode ir para o futuro?”
“Não, não sem pagar um preço. Nossos dons têm um custo. Eu não sou
um observador de estrelas, nem tenho a visão. Se eu for para o futuro e o
fogo se apagar, ficarei preso. Não poderei voltar.”
Alanna virou-se para olhar para Matthew. “Você terá que pagar um
preço por usar seu dom hoje?”
“Não, a montanha é nosso domínio. Se eu tivesse usado meu poder fora
desta montanha, então teria que pagar.”
Ela lambeu os lábios secos. Então, pegando o copo de água, tomou
vários goles. “Quando você, Isaac, disse custo, imagino que não estamos
falando de dinheiro?”
“Não, algo ruim vai acontecer em nossa vida como punição.”
Ela olhou para Silas. “Você me ajudou a escapar de Kate e Owen
inúmeras vezes.” Ela estava quase com medo de perguntar: “Você teve que
pagar para me ajudar?”
O rosto de Matthew enquanto olhava para Silas estava cheio de puro
amor.
“A alma gêmea de Silas deveria ter se apaixonado por ele há muito
tempo, mas ela não se apaixonou. Ela está muito ocupada com sua família
para se dar a chance de conhecer Silas e se apaixonar.”
“A mulher do pomar.” Alanna supôs.
Silas deu seu sorriso doloroso de reconhecimento.
“Pelo menos desta vez, você me ajudou na montanha.”
“Quando tiramos Fynn do ônibus e ele me contou o que ia acontecer
aqui, sabia que não chegaríamos a tempo. Falei com o Tate. Se não tivesse,
você estaria morta antes que Matthew pudesse alcançá-la.”
Alanna fechou os olhos com força, entendendo a expressão de dor em
seu rosto. Ele não estaria recebendo sua alma gêmea tão cedo.
Abrindo os olhos, ela olhou para Moses, cujos lábios se curvavam em
diversão.
“Meu dom não é nada de especial. Posso me comunicar com os
animais.”
Alanna revirou os olhos para ele descrevendo seu dom como nada
especial. Os cães deitados a seus pés podem parecer gentis agora, mas
minutos antes, eles pareciam os cães do inferno.
“Quais são os dons de Jacob e Jody?”
“Acho que são revelações suficientes para uma noite.”
“Sabe de uma coisa, você está certo.” Ela olhou para os homens ao seu
redor. “Tem certeza de que não vou acordar de manhã e descobrir que tudo
isso é um sonho?”
Isaac deu a ela um sorriso torcido. “Pelo menos você não disse
pesadelo.”
Virando a cabeça, ela olhou na direção onde Elizabeth estava deitada
fora de vista. Ela começou a chorar. “Elizabeth ia me matar.”
“Ezra e Fynn sabiam que algo iria acontecer hoje. Como o acidente
envolvia Fynn, ele não teve permissão para ver o que era”, Matthew
explicou.
“Você pode ligar e ver como Fynn e Diamond estão?”
“Fynn foi liberado com um braço quebrado e um gesso temporário. Ele
está a caminho com Jody e Jacob. Eles ainda estão presos no trânsito.”
Ela começou a chorar mais forte. “Aquela garotinha está morta porque
Kate e Owen me queriam morta.”
“Elizabeth é tão culpada quanto. Ela sabia que o acidente foi planejado.
Ela aproveitou a oportunidade para cortar a garganta do policial quando ele
foi parado no trânsito.”
“Ele também está morto?”
“Sim,” Silas confirmou. “Diamond também teria morrido se não
tivéssemos visto onde o policial deve ter parado enquanto Elizabeth
ameaçava Diamond com uma faca no banco de trás.”
“Eles vão finalmente prender Kate?” Ela perguntou.
“Eu não sei,” Matthew respondeu, cautelosamente se sentando ao lado
dela. “Acho que sim, se o xerife puder provar que ela estava no plano.”
“Foi ela quem planejou. Tenho certeza, Matthew. Owen não amarrava os
sapatos sem a permissão de Kate.”
“Falarei com Knox assim que ele souber que Diamond está bem.”
Nenhum deles estava seguro até que Kate estivesse onde ela merecia
estar. Ela deveria...
“Ela não ficará impune”, Matthew prometeu a ela. “Mas tornar-se um
alvo para nos manter seguros não vai acontecer.”
“Como você sabia o que eu estava pensando?” Ela estreitou os olhos
para ele. “Algum de vocês é leitor de mentes?”
Matthew sorriu. “Ainda não, mas não saberemos até que meus irmãos
comecem a ter filhos.”
Taciturna, ela enxugou de suas bochechas as lágrimas que derramava
por Elizabeth. “Você não vai…”
Matthew deu-lhe um sorriso terno. “Você é minha alma gêmea, Alanna.
Eu te amo. Além disso”, ele começou a provocar, “todos os meus irmãos
me prometeram seu filho primogênito.”
A boca de seus irmãos se abriu em sua afirmação estranha.
“Nós dissemos a você”, Isaac o lembrou, “que você podia ser o primeiro
a segurá-los.”
Silas inclinou a cabeça para o lado, como se pudesse ouvir algo que
ninguém mais podia. “Moses, Isaac, venham comigo. Tate e Dustin estão
prestes a voltar para casa.”
Alanna engoliu em seco. “Não a queime como você fez com Owen.”
Silas deu-lhe um olhar gentil. “Nós não vamos. Há um cemitério onde
nossa família está enterrada. Pensei em enterrarmos ela lá. Vou fazer uma
bela caixa para ela.”
Alanna segurou as lágrimas por Elizabeth na superfície. Sua mente foi
para a mãe cujos braços estariam vazios esta noite por causa das ações de
Elizabeth. Se Elizabeth estava ciente do plano, então Silas estava certo, ela
era tão culpada quanto.
Matthew ajudou-a a se levantar e levou para a casa de Silas. Sentando-a
à mesa, ele foi até a cozinha e voltou com um prato de arroz da refeição que
ela preparou para Silas.
“Eu não posso comer.” Ela começou a empurrar o pequeno prato para
longe.
“Só peguei um pouco de arroz. Basta comer um pouco para acalmar seu
estômago.”
Pegando a colher que ele trouxe, ela conseguiu pegar algumas porções,
em seguida, colocou a colher de volta para baixo. Ele estava certo; o arroz
tirou o gosto horrível de sua boca. No entanto, quando ela percebeu que era
o corpo fumegante de Owen que ela estava respirando, seu estômago
revirou.
Empurrando para fora de seu assento, ela correu para o banheiro e
vomitou. Matthew a seguiu, umedecendo uma toalha e colocando-a em
volta do pescoço dela enquanto ela se movia sobre o vaso sanitário.
“Respire isso.” Matthew segurava uma garrafa de álcool aberta ao lado
do rosto dela. “Vai ajudar.”
Ela respirou, e seu estômago aliviou o suficiente para ela se endireitar.
Puxando a toalhinha do pescoço, ela a usou para enxugar o rosto. A
frieza aliviou o último de seus suspiros.
Ela abaixou o pano de seu rosto. “Apenas me prometa uma coisa.”
“Qualquer coisa”, ele disse, colocando uma mecha do cabelo dela atrás
da orelha.
“Nunca mais queime ninguém perto de mim.”
Matthew fingiu considerar a promessa. “Vou tentar.”
O homem que ela amava não podia falar sério por cinco minutos.
Matthew iluminaria até os dias mais nublados. Ele era exatamente o oposto
de Greer.
“Quero saber o que está te fazendo sorrir?”
“Estava pensando em como você está sempre de bom humor, brincando
e sempre fazendo todos ao seu redor se sentirem felizes. Você é o oposto de
Greer.”
Matthew fez uma cara estranha para ela.
“O que?”
“Nada.”
Ela colocou as mãos no quadril ameaçadoramente. “O que?”
“Eu não acho que este seria o momento de lhe dizer que os Porters e os
Colemans são primos.”
Epílogo

Contra seu melhor julgamento, Alanna bateu na porta de Ginny. Ela deveria
ter mandado uma mensagem dizendo que não estava se sentindo bem hoje e
tirar a tarde de folga. Se hoje não fosse seu primeiro dia de volta ao trabalho
depois de voltar da lua de mel dela e de Matthew, em uma pequena pousada
no Caribe, ela teria enviado. Apenas algumas horas, então ela iria para casa
e faria uma sopa para acalmar seu estômago enjoado. Ela pegou um vírus
na viagem?
“Entre.”
Ouvindo a voz de Ginny, ela abriu a porta e entrou.
De pé atrás do balcão da cozinha, Ginny deu uma olhada em seu rosto e
foi até o armário para pegar uma xícara. Ela derramou um pouco de água
quente nela, em seguida, abriu uma caixa e pegou um saquinho de chá,
jogando-o na xícara.
Alanna foi para a banqueta de pernas compridas para se sentar ao lado
da cadeira alta de Freddy.
“Senti sua falta, cara.” Ela sorriu para a criança roendo sua bolacha e
seu punho.
Ginny deslizou a xícara de chá na frente dela. “Espero que você tenha se
divertido melhor do que parece.”
“Foi fantástico. O problema é que ou tenho jetlag ou trouxe um vírus da
viagem para casa comigo.” Pegando a xícara de chá, ela encarou Freddy.
“Achei que já estaria me sentindo melhor. Devo sair no caso de Freddy ou
você pegá-lo?” Ela perguntou preocupada.
Tomando um gole do chá, Alanna sentiu os efeitos imediatamente. Ela
pulou da cadeira e correu para o banheiro de hóspedes de Ginny.
Depois de vomitar o que sentiu ser seu rim esquerdo, ela finalmente
conseguiu lavar o rosto e jogar água fria na nuca.
Ginny estava esperando do lado de fora da porta com simpatia. “Eu
coloquei Freddy para dormir cedo. Você está bem?”
“Sinto que vou sobreviver agora. Deve ser algo que comi ontem à
noite.”
Ginny deu a ela um olhar pensativo. “Você pode estar grávida?”
“Não, não há chance de isso ser possível.”
“Você sabe quantas pensaram a mesma coisa, apenas para descobrir que
estavam?”
Ginny se aproximou dela, então Alanna foi forçada a dar um passo para
trás dentro do banheiro. Ela observou enquanto Ginny abria o pequeno
armário e enfiava a mão dentro de uma cesta para tirar uma caixa fina.
“Aqui. Eu tenho alguns testes de gravidez extras que sobraram de antes
de engravidar.”
Alanna começou a balançar a cabeça. “Não há realmente nenhuma
maneira. Eu nunca menstruei…”
“Então você provavelmente não está. O bom é que não custa fazer o
teste.” Colocando o teste na pia, Ginny foi até a porta. “Eu vou dar sua
privacidade. Apenas chame se precisar de mim”, ela disse, fechando a
porta.
Olhando para o teste, Alanna começou a abrir a porta novamente. “Isto é
ridículo. Eu não estou grávida.” Ela olhou para o teste. “Isso é loucura.”
Ela revirou os olhos para si por sequer pensar em pegá-lo. No entanto,
sua mão esticou para pegar o teste.
“Que mal isso pode fazer?” Ginny teria provas de que ela não estava, e
não teria que explicar que não havia nenhuma possibilidade de ela estar
grávida.
Ela fez o teste, depois lavou as mãos e sentou-se ao lado da banheira
para esperar. Passando o tempo, ela olhava através de diferentes receitas na
panela elétrica para ampliar seus horizontes. Matthew adorava picante...ela
olhou para o teste, piscou ao ver uma linha. O que isso significava?
Tardiamente, ela examinou as instruções. Ela teve que piscar
novamente. Ainda estava olhando para o teste em sua mão quando Ginny
deu uma batida suave antes de entrar.
“Então?”
Alanna virou o teste para que Ginny pudesse ver. “Isso não pode estar
certo.”
Ginny lhe deu um sorriso travesso enquanto voltava para a pequena
cesta. “Felizmente para você, comprei a granel. Você pode fazer de novo?”
Entorpecida, ela assentiu.
“Legal. Então vou deixar você de novo.”
Alanna olhou para a porta fechada.
Desta vez, lendo atentamente as instruções, ela fez o teste novamente.
Lavou as mãos enquanto olhava para o teste com cuidado, sem tirar os
olhos dele, como se um pequeno gremlin tivesse trocado o último teste para
fazer uma piada de mau gosto sobre ela.
Quando o teste voltou do mesmo jeito que o primeiro, ela o pegou,
como se fosse mudar apenas com seu toque.
Engolindo em seco, ela abriu a porta. Esperando que Ginny estivesse lá,
foi procurá-la na sala. Mas quando entrou na sala, viu Matthew sentado
com as mãos no colo. Ele deve ter saído da oficina com muita pressa porque
ainda usava as luvas de quando trabalhava na forja.
Ao ouvi-la entrar na sala, ele ergueu a cabeça. Pelo olhar esperançoso
em seus olhos, Ginny deve ter lhe contado o que estava fazendo no
banheiro.
“Não devemos ter esperanças até que eu vá ao consultório médico para
fazer outro teste”, ela disse com voz rouca.
“Isso diz que você está grávida?”
Ela assentiu com desânimo. “Isso não pode ser preciso, Matthew. Já
consultei vários médicos que me disseram que era impossível engravidar.”
Ele acenou de volta para ela. “Então não teremos esperanças até que
tenhamos certeza. Eu vou ligar...”
Ginny limpou a garganta da cozinha. “Acabei de ligar para a minha
obstetra. Ela vai encaixar você em sua agenda.” Ginny foi até uma bandeja
de vidro ao lado da porta. “Aqui, você pode pegar meu carro.”
Removendo suas luvas, ele as entregou para Ginny e então pegou as
chaves do carro. “Pronta?”
Confusa, ela o seguiu até o carro de Ginny.
Durante todo o caminho para a cidade, nenhum deles falou. Depois de
estacionar, Matthew saiu do carro e abriu a porta antes que ela pudesse
soltar o cinto de segurança.
“Não é possível, Matthew.” Ela em lágrimas pegou a mão dele.
“Alanna, eu vou te amar do mesmo jeito que te amo agora, quando
entrarmos por aquela porta, também quando sairmos.”
Reunindo sua coragem, ela já estava se preparando para sentir a amarga
pontada de decepção até que olhou para o rosto dele. Ele estava sorrindo
para ela com toda a riqueza do amor que sentia por ela.
Agarrando a mão dele com mais força, ela a puxou para sua bochecha,
sentindo o calor reconfortante que nunca deixava de acalmá-la.
“O fogo não é seu dom.”
“Isso é...”
“Não, ser capaz de iniciar um incêndio é apenas uma parte de você. Seu
verdadeiro dom é como você faz as pessoas se sentirem, como me faz
sentir.”
“Como eu faço você se sentir?” Ele perguntou com a voz rouca.
Ela poderia responder-lhe com uma simples palavra.
“Amada.”

Alanna ergueu os olhos ao ver a pequena mão segurando seu dedo ao


som da porta do quarto sendo aberta.
Sorrindo para Matthew enquanto ele entrava no quarto, ela então franziu
a testa ao ver a pele pálida em seu rosto, que não estava lá quando ele saiu
para pegar a mala da caminhonete.
“Esquecemos algo no hospital? Não há necessidade de ficar chateado se
o fizemos.”
“Não. Esqueci a mala. Vou buscá-la em um minuto. Eu estava falando
com Silas.” Matthew sentou-se ao lado da cama, onde ela estava deitada
com o filho recém-nascido.
“Ele queria entrar para ver o bebê? Eu não me importo...”
“Não, ele foi embora. Ele vai voltar mais tarde.”
"Matthew, você está me assustando...”
Matthew era terrível em esconder seus sentimentos, e ela podia ver
claramente a angústia em seus olhos.
"O que há de errado?” Ela perguntou com medo.
“Greer teve um derrame.”
“Oh Deus...” Ela se sentou na cama. “Quão ruim é isso?”
“Ruim”, Matthew disse a ela, com o rosto contorcido de dor. “Ele teve
três dias atrás.”
“Três dias...” Sua voz falhou. Ela estava em trabalho de parto há três
dias. Seus olhos se encontraram, tendo o mesmo pensamento terrível. Ela
começou a sair da cama.
“Ele ainda está no hospital?”
“Não. Eles apenas o levaram para casa. Ele se recusou a ficar por mais
tempo. O que você está fazendo?” Ele perguntou, gentilmente levantando o
bebê em seus braços.
“Vestindo-me. Você vai me levar para ver Greer.”

Tate atendeu quando ela bateu na porta de Greer. Linhas de fadiga se


espalhavam pelo rosto do homem enquanto ele olhava para Matthew e
depois para ela interrogativamente.
“Podemos ver Greer?”
“Greer não está recebendo visitas. Ele acabou de chegar do hospital.”
Ela não se afastou da porta, implorando: “Não vamos demorar, eu
prometo.”
Tate afastou-se da porta, permitindo-lhes a entrada. “Greer não vai
querer ver você. Ele até trancou Holly para fora do quarto.”
Entrando na casa, ela viu o outro irmão de Greer, Dustin, e a esposa de
Greer parados na frente de uma porta. Ambos se viraram quando se
aproximaram.
Dustin deu a Tate um olhar irritado. “Eu disse para você pegar uma
chave de fenda, não deixar a visita entrar.”
Tate deu de ombros. “Eles não podem fazer nada pior do que nós
estamos fazendo. Ele está trancado aí há uma hora.”
Alanna olhou para eles em choque. “Você não arrombou a porta? E se
ele teve outro derrame?”
Dustin e Tate a encararam.
“Eu o ouço jogando coisas. Ele só não quer que o vejamos. Além disso,
acabei de voltar depois de olhar pela janela. Ele me mostrou o dedo.”
“Nesse caso.” Alanna se afastou da porta. “Abra a porta, Matthew.”
“O que faz você...”
“Se você pode abrir a porta de uma cela, pode abrir essa.”
Matthew deu-lhe um olhar hostil.
“Ele não está com o melhor humor para companhia...” Dustin advertiu.
Alanna torceu as mãos. “Eu só preciso...” Piscando para conter as
lágrimas, ela tentou falar o que queria dizer e não conseguiu.
Matthew xingou baixinho, movendo a mão para o bolso. Tirando seu
canivete, abriu a lâmina e a deslizou na fechadura de metal, então deslizou a
faca até que a fechadura se abriu.
Abrindo a porta silenciosamente, ela entrou e viu Greer sentado no
quarto escuro, olhando pela janela. O sol forte da janela permitiu que ela
visse por onde caminhar até ele sentado em uma cadeira de rodas.
“Vá embora”, ele disse em uma voz espessa, virando-se da janela para
olhar para ela.
O rosto devastado de Greer a fez cair de joelhos. Incapaz de conter as
lágrimas por mais tempo, ela começou a soluçar.
Deitando a cabeça no colo dele, ela chorou tanto que não conseguia
parar de despejar a angústia que sentia pelo que havia acontecido com
Greer. O homem arrogante que a deixou louca na cadeia e que quase
destruiu seu jantar de casamento ao entrar em uma discussão com o bufê e
praticamente sempre entrava quando ela e Matthew brigavam, era a antiga
casca do homem que era quando ela o viu pela última vez; quando ele lhes
deu uma escolta policial para o hospital quando ela entrou em trabalho de
parto.
Uma mão pesada pousou em sua cabeça. “De...sista. Eu não pos...so
dizer qual de n...ós está mol....hando meu pij... ama.”
“Você está pagando o preço de eu ter um bebê...não deveria...” ela
soluçou.
Quando eles saíram do consultório com a gravidez confirmada, ela ainda
não acreditava que fosse possível. Matthew sentou no carro e explicou
sobre o poder de cura de Greer, que era um segredo que sua família
mantinha escondido. Eles chegaram à conclusão de que Greer deve tê-la
curado quando segurou sua mão enfaixada, inevitavelmente curando seu
útero.
“Você podia estar apenas tentando curar minha mão...mas você me deu
muito mais, Greer.” Ela ergueu os olhos para ele. “Você me deu um
milagre.” Virando a parte superior do corpo, ela estendeu os braços para
Matthew, que veio atrás dela e gentilmente deu a ela seu filho.
Segurando o filho, ela se virou para Greer para colocá-lo no colo de
Greer, de modo que o bebê estava deitado de lado, deixando Greer dar uma
boa olhada no que ele tornou possível.
“Nós o chamamos de Greer Alexander Coleman”, ela disse a ele
suavemente. “Greer em sua homenagem, é claro, Alexander em
homenagem ao Alexandre, o Grande. Nós”, Alanna teve que conter outro
soluço, “o nomeamos em homenagem a homens que não têm a palavra
derrota em seu vocabulário. Você me fez inteira novamente...Greer.
Matthew pode ter trazido o sol de volta à minha vida...mas, Greer, o
presente que você compartilhou comigo...tornou o impossível...possível. Eu
deveria estar pagando...não você.”
O rosto de Greer se contorceu enquanto ele tentava formar palavras.
“Não...se estresse.” Enxugando as lágrimas, ela deu a ele um olhar
firme. “Então, é isso que eu vou fazer. Todos os dias, vou vir e trazer o
pequeno Greer Alexander comigo, e trabalharei com você em sua fala.
Então vou ajudá-lo com seus exercícios de fisioterapia.”
Em vez de parecer satisfeito, Greer começou a balançar a cabeça.
“Não...não preciso de sua aju...da.”
Levantando-se, ela colocou as mãos no quadril. “Holly e eu
examinaremos seu cardápio, então você vai comer apenas os alimentos mais
saudáveis, o que o ajudará a recuperar a força de que precisa. Chega de
bifes gordurosos, batatas fritas, hambúrgueres de três andares.”
Os olhos de Greer começaram a se arregalar quando ela mencionou os
hambúrgueres de três andares.
“Você vai voltar a ficar de pé assim.” Ela estalou os dedos, o que
resultou em seu bebê Greer acordar. Ela deixou o bebê chorar por alguns
segundos antes de levantá-lo em seus braços para passá-lo de volta para
Matthew, que estava tentando não rir, enquanto Dustin e Tate tiveram que
sair da porta quando não conseguiram segurar o riso.
“Ah...e antes que eu me esqueça, vou pedir para Matthew tirar aquelas
placas de ‘Proibido invadir’ que dizem ‘você estará morto em sessenta
segundos’ para ‘você estará morto em dez minutos, mais ou menos’ até
você conseguir o domínio de correr novamente.”
Ela se virou para olhar Matthew, que estava colocando o bebê Greer de
volta no carrinho. “Esqueci alguma coisa?”
“Não”, Matthew disse antes que não pudesse mais segurar sua risada
com a expressão afrontada de Greer.
Voltando-se para Greer, ela lhe deu mais um petisco para mastigar.
Estendeu a mão para alisar seu cabelo branco, em seguida, colocou uma
mão em cada lado de seu rosto. “A propósito, não pense que vai manter
essa porta trancada. Holly parecia bem chateada quando cheguei aqui. Não
queremos que ela se preocupe com você, não é? Acredite em mim, Greer,
ela não dá a mínima para a sua aparência. Garanto que está apenas
agradecendo a Deus por você estar vivo.” Endireitando-se, ela se afastou de
Greer. “Vejo você amanhã. Descanse.”
Ela saiu do quarto alegremente e virou para encontrar Dustin, Tate e
Holly esperando com admiração em seus rostos.
Ela abriu a boca para dizer algo, mas Tate colocou um dedo sobre os
lábios, gesticulando para que eles saíssem.
Na varanda, Tate verificou duas vezes para ter certeza de que a porta
estava fechada antes de se dobrar.
“Você sabe que cortou a alma de Greer falando sobre suas placas,
certo?”
Seus lábios se contraíram. “Matthew mencionou o quão sério ele leva
suas placas.”
“Ninguém toca em suas placas.” Dustin riu, tendo que apoiar seu peso
contra Tate. “Então você ameaçou tirar a comida dele. Jesus...aposto que,
quando voltarmos, ele implorará que o levemos de volta ao hospital.”
Alanna enrolou o braço no de Matthew, feliz que seus espíritos haviam
se levantado e eles não pareciam tão terríveis quanto antes. Talvez uma
pequena parte do dom de Matthew estivesse passando para ela.
“Não, ele não vai. Ele tem que provar quem é maior...” Holly deu
gargalhadas, enxugando as lágrimas. “Ele ou Alexander.”
Sua expressão ficou séria. “Obrigada por ter vindo. Você deu a Greer
algo para se preocupar mais do que sua recuperação. Antes de chegar, ele
estava preocupado se conseguiria falar novamente. Agora acho que ele está
mais preocupado se eu vou deixá-lo comer bife novamente. A única coisa
que Greer ama mais do que falar é comer.”
Alanna lançou a Matthew um olhar provocante. “Pensei na mesma
sintonia dele.”
“Nós deveríamos ir.” Matthew deu-lhe um sorriso largo, em seguida,
olhou para o céu. Uma nuvem de tempestade se aproximava.
Dando boa noite aos Porters e prometendo voltar amanhã, eles correram
para a caminhonete, querendo levar o bebê para dentro antes que começasse
a chover.
Voltando para o lado Coleman da montanha, Alanna virou-se para olhar
para o perfil de Matthew enquanto ele dirigia, pensando no quanto ela o
amava e a família que tinha aprendido a adorar. Ela tinha a família que
nunca sonhou ser possível.
Ela virou a cabeça no encosto. “Vamos parar na casa do Silas antes de ir
para casa.”
“Alanna, você deveria estar na cama, descansando.”
“Quero falar com Silas. Sei como ele e Greer são próximos. Não vamos
ficar muito tempo.”
Matthew fez a curva para o longo caminho de entrada e, quando
entraram, viram Ezra sentado na grama, olhando para o céu que escurecia.
Tornou-se uma visão familiar ao longo dos onze meses desde que ela vivia
aqui.
Ela esperou que Matthew abrisse a porta e a ajudasse a descer. Então,
parada na frente da caminhonete, olhou para as nuvens, que estavam
ficando mais escuras a cada minuto.
Ela ouviu Matthew chegando ao seu lado depois de tirar Greer da
caminhonete.
“Eu costumava odiar nuvens quando as via no céu. Sentia como se elas
estivessem prontas para mim, apenas esperando para enfrentar uma
tempestade após a outra sozinha.”
Matthew enganchou um braço em volta dos ombros dela. “Você não se
sente mais assim?”
“Não. Eu tenho você e nossa família para enfrentar qualquer tempestade
comigo.” Ela moveu os olhos para Ezra, que estava sentado de fora,
observando as estrelas com mais frequência. Além disso, toda vez que ela
encontrava os irmãos ultimamente, eles falavam em voz baixa. Algo estava
por vir, e eles estavam se preparando para isso.
Ela se preocupava com Kate, que havia convencido as autoridades de
que não estava envolvida nos planos de Elizabeth e Owen, então
desapareceu imediatamente.
Alanna deu um suspiro interno. Ela não sabia se Kate era a ameaça
iminente que Ezra estava esperando, mas o que ela sabia era que você não
pode prever um relâmpago. Você só pode ter certeza de não estar ao ar livre.
Os irmãos Coleman forneceram esse escudo. Eles tinham a coragem de
enfrentar a tempestade, sabendo que o sol voltaria a nascer.
Como eles não ganhariam? Ela pensou, olhando para o marido com seu
amor por ela brilhando em seus olhos. Eles tinham o sol como sua arma
secreta.
“Lembro-me do melhor conselho que já me deram. Quando olho para as
nuvens, digo duas palavrinhas.”
“Que palavras?” Matthew deu-lhe um sorriso curioso.
“Fodam-se elas.”
Posfácio

A Mãe saiu para a varanda privada para ler as estrelas. Elas estavam
ficando mais escuras a cada milênio que passava. A fé que era a força vital
de todos os deuses estava se extinguindo. Os céus dependiam da devoção
dos mortais, tanto quanto os mortais precisavam do favor dos deuses.
Os céus e o mundo mortal chegaram a uma encruzilhada. Uma curva
errada e uma escuridão nunca antes conhecida envolveria os dois mundos,
pondo fim a ambos.
Olhando para o mundo mortal, a Mãe se recusou a derramar as lágrimas
que ardiam em seus olhos. Ela sabia o custo que teria que pagar, mas ele
havia curado aquilo que não deveria ser curado. Através de sua
interferência, uma vida foi criada, uma vida que não deveria existir.
Ela impediu a mão de remover seu dom, mas sua punição não foi feita.
Ele deveria aprender sua lição e aprendê-la bem. A menina precisava de sua
orientação. Ela deve aprender o custo de seu dom, e só ele poderia lhe
ensinar a gravidade das decisões que ela teria que tomar um dia. Mesmo
assim, a Mãe não sabia se seria suficiente para prepará-la.
Identificando a estrela que estava procurando, ela finalmente se permitiu
derramar as lágrimas que estava segurando.
Verdade seja dita, ela nunca admitiria isso, mas não estava tão zangada
com ele como deveria estar...se fosse qualquer outra pessoa, seus dias
mortais estariam acabados, e ele estaria tentando apaziguar sua raiva
pessoalmente.
Ainda…
A Mãe secou as lágrimas. A breve tempestade acabou. Ele deve
aprender a lição. Ela não podia deixá-lo derrubar seus planos para seus
guerreiros.
Desviando seu olhar ligeiramente para as estrelas que representavam
seus guerreiros, ela examinou o céu como um tabuleiro de xadrez enquanto
colocava suas emoções de lado e recomeçava a planejar seu próximo
movimento.
O que fazer…? O que fazer…? A Mãe meditou. Ah.
Um cavaleiro está sempre pronto para entrar na briga…
Notas
[←1]
Regina Georne é a principal antagonista do filme Meninas Malvadas.

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