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https://novaescola.org.br/conteudo/20407/aprendizagem-baseada-em-projetos-
entenda-o-que-e-e-como-funciona-na-pratica
Metodologias ativas
Aprendizagem Baseada em
Projetos: entenda o que é e como
funciona na prática
A metodologia ativa contextualiza o conhecimento e favorece o
protagonismo, autonomia e a colaboração entre os alunos. Entenda como
implementá-la no ensino remoto
Aline Naomi
O uso de metodologias ativas, que colocam o aluno no centro do processo de ensino e aprendizagem,
tem ganhado força ultimamente. Uma dessas metodologias é a Aprendizagem Baseada em Projetos
(ABP). A partir de uma questão norteadora, em geral ligada à realidade dos estudantes, eles
investigam, debatem e elaboram um produto ou uma possível solução, usando os conteúdos
curriculares. Nesse processo, trabalham em grupos e aprendem de forma coletiva e colaborativa.
Uma das vantagens da ABP é que a relação com um tema ligado ao contexto dos estudantes tende a
despertar o interesse da turma e favorecer o engajamento. Foi o que aconteceu com o professor Luiz
Felipe Lins em seu projeto “Geometria e Construção”, vencedor do Prêmio Educador Nota 10 em 2020.
Ao receber o panfleto de um prédio em construção, Luiz Felipe levou o material a seus alunos e
percebeu que eles nunca tinham visto uma planta baixa. “A maioria mora em comunidades e as casas
são construídas aos poucos”, diz o professor, que dá aula de Matemática para o Fundamental 2 na
rede municipal do Rio de Janeiro.
Ele aproveitou então a oportunidade para ensinar alguns conceitos de arquitetura. Dividiu os alunos
em grupos e propôs que cada um montasse o projeto de uma casa. Com a atividade, ele conseguiu
abordar conceitos matemáticos como escalas e áreas. Durante o processo, percebeu também
algumas deficiências da turma, como a dificuldade de realizar operações com decimais, e aproveitou
para repassar o conteúdo.
ACESSE AQUI OS
CONTEÚDOS
O professor explica que, nesse tipo de prática, há um planejamento de como serão trabalhados
determinados conteúdos, mas o processo pode ser adaptado de acordo com o que os estudantes vão
trazendo. “Existe um planejamento e eu vou articulá-lo aos conceitos que preciso trabalhar, como
área, mas eles apontam outras necessidades também, e eu abordo esses conteúdos na aula
seguinte”.
No projeto, os alunos calcularam a quantidade de piso necessária para a casa, fizeram uma pesquisa
de campo para orçar o custo do material e montaram uma planilha — primeiro de forma manual e,
depois, no computador. Por fim, os grupos construíram uma maquete das casas planejadas e
apresentaram para o restante da classe.
Em ambos os casos, o objetivo é despertar o interesse dos alunos sobre determinados temas,
relacionando diferentes conceitos e habilidades. Nesse sentido, os dois modelos conseguem
colocar o estudante no centro da aprendizagem e atendem às propostas da BNCC.
Alunos protagonistas
A ideia de trabalhar com projetos também pode partir dos próprios alunos. Foi o que aconteceu com
Arabelle Calciolari, professora de inglês para os Anos Iniciais do Fundamental da rede municipal de
Jundiaí (SP) e uma das premiadas do Educador Nota 10 em 2019. Sua colega, a professora de
Educação Física Mariana Maziero, precisava trabalhar hip hop com os alunos. Como Arabelle já havia
envolvido as turmas em outros projetos, eles deram a ideia de convidar a educadora para esse
trabalho. Assim, ela pôde trabalhar os aspectos históricos e sociais do gênero.
Chamado de “Hip hop: do passado à atualidade”, o projeto articulou não só a dança, mas a música, o
grafite e as questões raciais envolvidas. Além disso, os alunos puderam conhecer um coletivo que
atua na cidade, a exemplo dos coletivos norte-americanos da década de 1980.
Quando foi realizado, no período de aulas presenciais, o projeto resultou em um grafite no muro da
escola, mas Arabelle destaca que o mais importante foi o aprendizado durante o processo. “Fomos
notando algumas mudanças nas crianças. Eles aceitaram muito bem o projeto. Teve aluno que ficou o
ano inteiro com vergonha, mas na hora dançou”, conta a professora que já havia desenvolvido outros
projetos anteriormente, envolvendo o dramaturgo William Shakespeare e os Beatles.
Avaliação e BNCC
Arabelle e Luiz Felipe observam que a avaliação de um projeto tem de considerar todo o processo de
desenvolvimento e não apenas o produto final. “Às vezes, o educador foca no produto final, achando
que isso vai mostrar se o aluno aprendeu ou não. Mas é durante o processo que está ocorrendo a
aprendizagem, e aí devem entrar a escuta e o olhar atento do professor”, ressalta Arabelle.
No projeto de Luiz Felipe, a avaliação final consistiu em uma autoavaliação, na qual os alunos
contaram as dificuldades que encontraram, as aprendizagens que tiveram e como eles usaram a
matemática. “Isso foi muito rico. Alguns estudantes relataram que aprenderam a trabalhar em equipe
e a escutar o outro. Uma estudante disse que perdeu a vergonha do pai, que era pedreiro”, lembra o
professor.
Além disso, a metodologia traz a possibilidade de integrar duas ou mais disciplinas, como fez Arabelle.
“A BNCC é dividida em componentes curriculares, e a ideia do projeto é tentar integrar isso, porque
muitas das habilidades propostas dizem respeito a um mesmo fenômeno, ao mesmo objeto de
estudo”, reforça o consultor.
“Dentro do projeto conseguimos trabalhar um tema e juntar todos os componentes curriculares. Essa
interação é importante porque as coisas não têm essa separação entre as áreas do conhecimento. Se
um rio está poluído, quantas áreas não estarão envolvidas na solução desse problema?”, questiona a
educadora.
Como a ABP pressupõe muita interação entre os alunos, a aplicação da metodologia no modelo
presencial costuma ser mais fácil, uma vez que no ensino remoto essa interação depende da
conectividade e do acesso à tecnologia.
No começo da pandemia, Arabelle ficou preocupada uma vez que a oralidade é muito importante nas
aulas e ela não seria reproduzida pelas famílias que acompanham as crianças. Além disso, poucos
alunos tinham acesso a plataformas como o Google Meets. A professora e sua colega juntaram as
turmas de 4º e 5º ano para elaborar o projeto de hip hop por meio de pesquisa online, apresentação
dos alunos, indicações de músicas, vídeos e filmes e conversa a distância com um membro de um
coletivo.
Além de procurar adaptar o projeto “Geometria e Construção” para o ensino remoto, Luiz Felipe
pensou, ao cozinhar durante a pandemia, em trabalhar com algoritmos e fluxogramas usando
receitas. “Na aula, comecei meu vídeo fazendo um pudim e mostrei que ali tinha um fluxograma.
Desafiei que eles fizessem uma guloseima junto com os pais e montassem um fluxograma”, conta o
professor. “Projetos são ações coletivas e colaborativas. No momento, quem pode colaborar é a
família, que está junto deles, mas deu para ser colaborativo e mão na massa.”
Considere a necessidade ou a vontade dos estudantes. Arabelle conta que o projeto que
desenvolveu sobre Shakespeare, por exemplo, veio de uma necessidade de aprenderem
determinados conteúdos. “Já o projeto do hip hop partiu de um desejo deles.”
Conheça seu aluno. É preciso conhecer o estudante para instigar a curiosidade em aprender.
Tenha escuta ativa e olhar atento. A avaliação de um projeto não pode focar apenas no produto
final. “O importante é o que eles fizeram para chegar a esse produto e o que eles aprenderam”,
afirma Arabelle.
Questione a aplicação dos conhecimentos. É preciso olhar para a realidade dos alunos e
questionar as aplicações práticas do que está sendo ensinado. “As crianças valorizam muito mais
os conhecimentos que elas sabem aplicar”, observa Luiz Felipe.
Coloque-se no lugar da criança. Ao pensar em uma sequência didática mediada por projetos,
tente se colocar no lugar da criança e pensar se aquilo é interessante.
Faça alterações de acordo com as demandas dos alunos.Luiz Felipe relata que é muito
interessante, em cada etapa do projeto, discutir com os estudantes se cada ação planejada surtiu
efeito e gerou aprendizagem. “A partir daí, planejamos novas ações e vamos avançando, mas eles
me auxiliam porque são protagonistas do processo.”