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NEUROARQUITETURA APLICADA A CENTROS TERAPÊUTICOS:

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA PARA O ANTEPROJETO DE UMA CLÍNICA


MULTIDISCIPLINAR PARA PESSOAS NEURODIVERGENTES EM
JUAZEIRO DO NORTE-CE

NEUROARCHITECTURE APPLIED TO THERAPEUTIC CENTERS: BIBLIOGRAPHIC REVIEW


FOR THE PRELIMINARY DESIGN OF A MULTIDISCIPLINARY CLINIC FOR NEURODIVERGENT
PEOPLE IN JUAZEIRO DO NORTE-CE

NEUROARQUITECTURA APLICADA A CENTROS TERAPÉUTICOS: REVISIÓN BIBLIOGRÁFICA


PARA EL DISEÑO PRELIMINAR DE UNA CLÍNICA MULTIDISCIPLINAR PARA PERSONAS
NEURODIVERGENTES EN JUAZEIRO DO NORTE-CE

CASTRO, Bruna Emanuelle Feitosa


Discente do curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Paraíso
brunafeitosa@aluno.fapce.edu.br
RESUMO
O artigo explora a interseção entre a neuroarquitetura e terapia para pessoas neurodivergentes, buscando
responder à questão de como a arquitetura, combinada com princípios da neurociência, pode influenciar
positivamente no tratamento desses pacientes, destacando as melhores práticas de ambientes terapêuticos.
O objetivo geral visa realizar uma revisão bibliográfica para embasar a elaboração de um anteprojeto de uma
clínica multidisciplinar que atenda às necessidades específicas de pessoas neurodivergentes. Os objetivos
específicos são: a análise das necessidades dos pacientes, a compreensão das particularidades e tratamentos
de pessoas neurodivergentes e a identificação das melhores práticas de arquitetura terapêutica. A pesquisa
é caracterizada como teórica e qualitativa, com base em revisão bibliográfica que envolve trabalhos
acadêmicos, artigos científicos e livros. A limitação geográfica para a aplicação do anteprojeto é Juazeiro do
Norte, principal município do sul do Estado do Ceará. Os tópicos abordados no referencial teórico incluem
neuroarquitetura, necessidades específicas de pacientes, tratamentos e terapias, arquitetura terapêutica e
aspectos da saúde mental. Espera-se que este estudo resulte em uma compreensão das necessidades
específicas dos pacientes neurodivergentes, orientando o desenvolvimento de práticas eficazes para
profissionais da saúde que trabalham com essa população, fornecendo subsídios para o anteprojeto de um
centro terapêutico baseado nos princípios da neuroarquitetura. A conclusão do estudo consolida
conhecimentos adquiridos e suas implicações para o desenvolvimento do anteprojeto do centro terapêutico.
Palavras-chave: Neuroarquitetura. Centro terapêutico. Neurodivergente.

ABSTRACT
The article explores the intersection between neuroarchitecture and therapy for neurodivergent people,
seeking to answer the question of how architecture, combined with principles of neuroscience, can positively
influence the treatment of these patients, highlighting best practices in therapeutic environments. The
general objective is to carry out a literature review to support the development of a preliminary design for a
multidisciplinary clinic that meets the specific needs of neurodivergent people. The specific objectives are: to
analyze the needs of patients, to understand the particularities and treatments of neurodivergent people and
to identify the best practices in therapeutic architecture. The research is characterized as theoretical and
qualitative, based on a literature review involving academic papers, scientific articles and books. The
geographical limitation for the application of the preliminary project is Juazeiro do Norte, the main
municipality in the south of the state of Ceará. The topics covered in the theoretical framework include
neuroarchitecture, specific patient needs, treatments and therapies, therapeutic architecture and aspects of
mental health. It is hoped that this study will result in an understanding of the specific needs of neurodivergent
patients, guiding the development of effective practices for health professionals working with this population,
providing subsidies for the preliminary design of a therapeutic center based on the principles of
neuroarchitecture. The conclusion of the study consolidates the knowledge acquired and its implications for
the development of the therapeutic center's preliminary design.
Keywords: Neuroarchitecture. Therapeutic center. Neurodivergent.

RESUMEN
El artículo explora la intersección entre neuroarquitectura y terapia para personas neurodivergentes,
tratando de responder a la pregunta de cómo la arquitectura, combinada con los principios de la neurociencia,
puede influir positivamente en el tratamiento de estos pacientes, destacando las mejores prácticas de los
entornos terapéuticos. El objetivo general es llevar a cabo una revisión de la literatura para apoyar el
desarrollo de un diseño preliminar para una clínica multidisciplinar que satisfaga las necesidades específicas

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de las personas neurodivergentes. Los objetivos específicos son analizar las necesidades de los pacientes,
comprender las particularidades y tratamientos de las personas neurodivergentes e identificar las mejores
prácticas de arquitectura terapéutica. La investigación se caracteriza por ser teórica y cualitativa, basada en
una revisión bibliográfica que incluye trabajos académicos, artículos científicos y libros. La limitación
geográfica para la aplicación del anteproyecto es Juazeiro do Norte, principal municipio del sur del estado de
Ceará. Los temas tratados en el marco teórico incluyen la neuroarquitectura, las necesidades específicas de
los pacientes, los tratamientos y terapias, la arquitectura terapéutica y los aspectos de la salud mental. Se
espera que este estudio resulte en una comprensión de las necesidades específicas de los pacientes
neurodivergentes, orientando el desarrollo de prácticas eficaces para los profesionales de la salud que
trabajan con esta población, proporcionando insumos para el diseño preliminar de un centro terapéutico
basado en los principios de la neuroarquitectura. La conclusión del estudio consolida los conocimientos
adquiridos y sus implicaciones para el desarrollo del diseño preliminar del centro terapéutico.
Palabras clave: Neuroarquitectura. Centro terapéutico. Neurodivergente.

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NEUROARQUITETURA APLICADA A CENTROS TERAPÊUTICOS: REVISÃO
BIBLIOGRÁFICA PARA O ANTEPROJETO DE UMA CLÍNICA
MULTIDISCIPLINAR PARA PESSOAS NEURODIVERGENTES EM JUAZEIRO
DO NORTE-CE

1. Introdução

O presente trabalho percorre a temática da neuroarquitetura e sua aplicação em centro terapêutico, na fase
de embasamento teórico para a posterior elaboração de um anteprojeto de uma clínica multidisciplinar
voltada para pessoas neuroatípicas na cidade de Juazeiro do Norte, no estado do Ceará. Pretende-se abordar
neste artigo, a relevância da arquitetura para o desenvolvimento de indivíduos neuroatípicas, estabelecendo
uma conexão entre projeto arquitetônico e metodologias, nesse caso, de processos construtivos e decisões
projetuais. O trabalho visa a exploração da união sob um olhar científico da saúde e da arquitetura para o
desenvolvimento de espaços democráticos, entendendo a relação sensorial da atmosfera estabelecida nos
ambientes.

1.1. Problemática

Em Juazeiro do Norte, o acesso a serviços que atendem às necessidades específicas de pessoas


neurodivergentes é extremamente limitado, com apenas dois Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e uma
instituição particular, o “Instituto Mão Amiga”. No entanto, ambos sofrem com a capacidade limitada nos
atendimentos e possuem infraestrutura precária. Diante dessa problemática, torna-se evidente a urgência e
a relevância da elaboração de um centro terapêutico adequado, capaz de oferecer assistência de qualidade
à população neurodivergente de Juazeiro do Norte.

O artigo norteia-se em torno das seguintes perguntas-problema: de que forma a arquitetura atrelada a
ciência da neurologia pode impactar positivamente no tratamento de pessoas neurodivergentes? Quais as
principais soluções projetuais que podem resultar em uma arquitetura que contribua no desenvolvimento
dos pacientes?

1.2. Objetivos

1.2.1. Objetivo Geral

O objetivo geral deste artigo propõe conduzir uma revisão bibliográfica que forneça embasamento teórico
para a criação posterior de um anteprojeto que atenda às necessidades específicas dos pacientes, suas
famílias e profissionais da saúde. As decisões de projeto devem estar atreladas no conjunto da neurociência
e arquitetura.

1.2.2. Objetivos Específicos

Quanto aos objetivos específicos, pretende-se analisar as necessidades específicas de pacientes


neurodivergentes, a fim de compreender as demandas e desafios; identificar as particularidades e limitações

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de pessoas neuroatípicas, assim como tratamentos; e constatar as melhores práticas e evidências científicas
relacionadas à concepção de ambientes terapêuticos eficazes para pacientes neurodivergentes, com foco
nas decisões projetuais que refletem na característica arquitetônica que pode promover a melhoria da
qualidade de vida e que contribua para implantação bem-sucedida de um centro terapêutico.

1.3. Metodologia

A pesquisa é caracterizada como teórica, pois, fundamenta-se em uma revisão bibliográfica que abrange
trabalhos acadêmicos, artigos científicos, dissertações e teses, além de obras de autores que discutem a
relação entre a arquitetura e o bem-estar de indivíduos com necessidades neuroatípicas. Seu recorte espacial
limita-se à cidade de Juazeiro do Norte-CE, e tem como população de pesquisa, pessoas com necessidades
neurodivergentes. Possui abordagem qualitativa, onde, segundo Godoy (1995) um fenômeno pode ser
melhor compreendido no contexto em que ocorre e do qual é a parte, devendo ser analisado numa
perspectiva integrada, onde o pesquisador considera diversos elementos a partir das pessoas envolvidas,
considerando pontos relevantes.

Figura 1: Caminho Metodológico

Fonte: Elaborado pela autora (2023)

Este estudo se configura como pesquisa descritiva, por visar a apresentação e análise das características de
uma população específica, no caso, indivíduos neurodivergentes, conforme definido por Gil (2002, p.42): “as
pesquisas descritivas têm como objetivo primordial a descrição das características de determinada
população ou fenômeno, ou, então, o estabelecimento de relações entre variáveis. (…)”. É importante adotar
esses métodos para abordar a pesquisa com segurança, pois a leitura bibliográfica e a classificação da
pesquisa fornecem o conhecimento necessário sobre a população em estudo.

2. Referencial teórico

Esta etapa da pesquisa permeia a fundamentação teórica, dividida em tópicos que auxiliam na compreensão
da temática. O primeiro tópico aborda a neuroarquitetura em termos gerais; o segundo tópico é aprofundado
em uma análise mais específica relacionada às pessoas neurodivergentes; o terceiro tópico explora o
funcionamento do tratamento e a multidisciplinaridade das especialidades consideradas para o

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desenvolvimento dessas pessoas. Por fim, o quarto tópico apresenta contribuições sobre como a
neuroarquitetura pode ser aplicada em centros terapêuticos dedicados ao suporte de pessoas
neurodivergentes.

2.1 Neuroarquitetura: aspectos gerais

Os ambientes são comumente projetados a partir da necessidade das pessoas que trabalham no local. Por
exemplo, um ambiente hospitalar será direcionado para que atenda às necessidades dos profissionais de
saúde, o que é importante, mas é preciso que os pacientes que usam o espaço se sintam bem e confortáveis,
e que isso interfira na sua progressão. Sabe-se que o cérebro humano é influenciado pelo ambiente, então é
possível se sentir confortável ou desconfortável em certos espaços. Pensando nisso, ressalta-se a
necessidade de criar ambientes que estimulem pontos positivos para o corpo humano. É nesse desejo que a
neuroarquitetura surge, a junção entre a neurociência e arquitetura. Para Mena (2019) apud Faleiro (2020,
p. 27):

A neuroarquitetura constitui a aplicação da neurociência aos espaços construídos,


analisando os efeitos que o ambiente gera no cérebro e no comportamento humano. O uso
oficial do termo está ligado à criação em 2003, da Academy of Neurocience for Aechitecture
(ANFA, 2020), em San Diego, na Califórnia (EUA) O neurocientista Fred Cage e o arquiteto
John Paul Eberhard fizeram diversos estudos, pesquisas e descobertas, na década de 1990
e ajudaram a impulsionar discussões sobre a aplicação da neurociência na arquitetura
A neuroarquitetura pode ser uma grande aliada de profissionais da saúde quanto ao desenvolvimento dos
pacientes, ou pessoas em tratamento terapêutico. Para Gonçalves e Paiva (2018, p. 445), “(...) a arquitetura
pode também ser usada para reforçar nossas habilidades cognitivas, estimular nossa memória e diminuir o
estresse e os efeitos negativos do ambiente sobre nossas emoções”. Diante disso, utilizando a arquitetura
para estimular o cérebro de maneira assertiva, é permitido um melhor desenvolvimento das pessoas que
vivenciam ambientes baseados na neuroarquitetura.

O espaço pode ser vivenciado de diversas formas, se for capaz de alcançar os sentidos humanos. É possível
perceber um ambiente através do cheiro e guardar memória disso, além de perceber também com a audição,
tato e, a mais comum, a visão. Na arquitetura, pode-se pensar em um partido que envolva maneiras de
alcançar isso nos usuários dos ambientes, caso seja o objetivo. Um paisagismo, por exemplo, com uso de
vegetação e inclusão da natureza na arquitetura, pode atingir sentidos humanos como o olfato, tato, visão e
paladar, além de outras práticas que proporcionam o alcance do objetivo de envolver a arquitetura com as
pessoas que usufruem. Partindo desse princípio, constata-se que a arquitetura, conectada com a natureza,
pode trazer grandes benefícios aos usuários de ambientes hospitalares e terapêuticos, segundo Gonçalves e
Paiva (2018, p. 425), por exemplo:

“O Circle Hospital em Bath, é um exemplo de arquitetura que busca uma conexão com a
natureza para estimular a recuperação. Suas janelas oferecem uma linda visão da paisagem
do campo. Os quartos, que são individuais, possuem piso em carvalho. Todos os ambientes
estão dispostos de uma forma que recebam iluminação natural. Os médicos de lá afirmam
que a quantidade de Robson Gonçalves e Andréa de Paiva 426 anestesia necessária é
consideravelmente menor na maioria dos pacientes. E, devido a uma recuperação mais
rápida, os pacientes são liberados mais cedo do que seriam em hospitais comuns.”

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Quanto à neuroarquitetura aplicada em ambientes terapêuticos e hospitalares, deve-se atentar às
necessidades diferentes das pessoas que utilizam esses ambientes, sejam elas profissionais da saúde, que
diariamente necessitam do lugar para desenvolverem seus trabalhos, sejam pacientes que precisam de
conforto e de um ambiente que contribuam no seu processo de cura ou tratamento e quanto aos familiares
que acabam utilizando também, com necessidades diferentes. Para Paiva (2018, s.p.):

“um espaço concebido para estimular a atenção dos médicos pode não favorecer o
interesse mais imediato dos pacientes, que é o repouso e a recuperação. Por outro lado, as
atividades de hotelaria, cada vez mais importantes na atividade hospitalar, podem ser muito
diferentes dos serviços propriamente ligados à saúde, o que gera requisitos também
distintos em termos de soluções de arquitetura. Portanto, o desafio dos arquitetos é
procurar balancear essa equação levando em conta todo um conjunto de necessidades
relativas a usuários e profissionais que fazem, cada um deles, um uso muito próprio do
espaço construído.”
Os ambientes terapêuticos devem estar atentos a vários fatores e especificidades dos usuários. Um centro
terapêutico que atende pessoas neurodivergentes deve proporcionar condicionantes projetuais que
contribuam para o desenvolvimento deles, com atenção aos mínimos detalhes, seja a escolha das cores,
texturas, organização de layout, volumetria, ou outros aspectos. Ao olhar para as necessidades específicas,
percebe-se o cuidado que deve ser tomado ao projetar esse tipo de espaço. A hiperreatividade, por exemplo,
como mostra Paiva e Galvão (2021, s.p.), “pode estar relacionada com cada um dos diferentes sistemas
sensoriais. No caso do sistema tátil, o indivíduo pode apresentar incômodo com certas texturas, tecidos,
etiquetas de roupas ou reagir de maneira intensa em resposta de toque de pessoas (…)”.

Dado isso, a neuroarquitetura, oferece abordagem boa para a criação de ambientes que influenciam de
forma positiva no comportamento humano e no bem-estar mental. Ao considerar a importância dos sentidos
humanos e a capacidade dos espaços de influência sobre nossas emoções e comportamentos, a
neuroarquitetura desempenha papel fundamental na criação de ambientes terapêuticos hospitalares que
atendam às necessidades específicas dos usuários.

2.2. Pessoas Neurodivergentes: análise das necessidades específicas

O termo “neurodiversidade” é de uso relativamente recente, tendo sido introduzido pela socióloga Judy
Singer em 1998. Essa concepção sugere que a neurodiversidade é análoga à biodiversidade neurológica, ao
enfatizar que não há dois cérebros idênticos no mundo; todas as pessoas apresentam variações em termos
neurológicos. No entanto, há uma parcela da população que partilha um conjunto de características distintas
em relação a outras e que, por isso, são consideradas neurodivergentes. Para Singer (1999) apud Strasser
(2023) a neurodiversidade se trata de uma infinita variabilidade neuro-cognitiva da população humana. Na
nossa espécie, a autora argumenta que cada pessoa possui um sistema nervoso único, conferindo-a assim
com uma combinação singular de necessidades e habilidades. Essas pessoas são definidas como
neurodivergentes e, dentre elas, estão indivíduos com autismo, dislexia, TDAH, síndrome de Tourette, dentre
outras.

Os sentidos humanos podem agir de maneira diferente em cada indivíduo, há pessoas que desenvolvem
melhor o olfato, por exemplo, e têm mais sensibilidade aos cheiros, outros desenvolvem bem a audição e
costumam progredir nas atividades particulares a partir de coisas que ouvem; uma música, por exemplo,

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pode ser sinônimo de relaxamento em uma crise de ansiedade ou até mesmo auxílio na concentração. De
acordo com Paiva e Galvão (2021), em pessoas neurodivergentes, esses sentidos podem apresentar maior
sensibilidade, como a hiperreatividade em diferentes sistemas sensoriais, incluindo o tátil, vestibular,
auditivo, olfativo, visual e proprioceptivo.

Para projetar um espaço é necessário fundamentar-se teoricamente, especialmente naquelas pessoas que
irão usufruir desta arquitetura. Neste contexto, na pesquisa em específico, é essencial compreender as
principais condicionantes de pessoas neurodivergentes. É importante observar que uma única pessoa pode
apresentar várias características neurodivergentes, porém, trata-se nesta pesquisa as condições
primeiramente, de maneira específica, a fim de fornecer um melhor entendimento sobre o assunto. Para
entender o Transtorno do Espectro Autista (TEA):

“O TEA, na verdade, é o termo que argumenta diversas condições clínicas, resultantes de


configurações neurológicas atípicas. O que chamamos de configuração neurológica? É a
maneira como os neurônios se organizam, como se conectam, para receber, interagir e
transmitir informações entre as diversas áreas do cérebro. Nas pessoas autistas, essas
configurações podem variar bastante, mas compartilham certas características. Todas elas
apresentam alterações em duas grandes áreas do comportamento humano, comunicação
social e interesses e comportamentos restritos e repetitivos.” (Mendonça, 2019, p.14)
Ultimamente, o TDAH vem sendo popularizado e, inclusive, está acontecendo até mesmo um diagnóstico
próprio, porém é preciso um diagnóstico especializado para fazer o tratamento correspondente. O
transtorno também está incluso quando se fala em pessoas neurodivergentes e é relevante para a pesquisa
entender melhor sobre o assunto.

O TDAH se caracteriza por três sintomas básicos: desatenção, impulsividade e


hiperatividade física e mental. Costuma se manifestar ainda na infância, e, em cerca de 70%
dos casos, o tratamento continua na vida adulta. Ele acomete ambos os sexos,
independentemente de grau de escolaridade, situação econômica ou nível cultural, o que
pode resultar em sérios prejuízos na qualidade de vida das pessoas que o têm, caso não
sejam diagnosticadas e orientadas precocemente. (Silva, 2014, p.9)
A dislexia é outro ponto a ser considerada nesta pesquisa. De acordo com Teles (2004). A definição de dislexia
aceita foi atualmente elaborada pela Associação Internacional de Dislexia em 2003, estabelecendo que a
dislexia é uma incapacidade específica de aprendizagem, de origem neurobiológica. É caracterizada por
dificuldades na correção de palavras e por baixa competência leitora e ortográfica.

Além dessas, é necessário compreender também sobre síndrome de Tourette, que, para Jaspers (1979) apud
Hounie e Petribú (1999). Os movimentos são atos compreensíveis. Ele os classificou como neurológicos,
resultantes de distúrbios do aparelho motor, e psicológicos, decorrentes de uma anormalidade mental em
um aparelho motor normal. Os outros fenômenos motores seriam os psicóticos, os quais ele não
compreende nem de um ou outro modo. Os fenômenos neurológicos são denominados distúrbios da
motilidade; os psicóticos, da motricidade, e os psicológicos, não como fenômenos motores e sim como atos
e expressões. Descreve alguns tipos de diagnóstico:

A - Presença de múltiplos tiques motores e um ou mais tiques vocais em algum momento


durante a doença, embora não necessariamente ao mesmo tempo (um tique é um
movimento ou vocalização súbita, rápida, recorrente, não rítmica e estereotipada). B -
Ocorrência de tiques muitas vezes ao dia (geralmente em ataques), quase todos os dias ou

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intermitentemente durante um período de mais de um ano, sendo que durante este
período jamais houve uma fase livre de tiques superior a três meses consecutivos. C -
Acentuado sofrimento ou prejuízo significativo no funcionamento social, ocupacional ou em
outras áreas importantes da vida do indivíduo, ocasionados pelo transtorno. D - O início dá-
se antes dos 18 anos de idade. E - O transtorno não se deve aos efeitos fisiológicos diretos
de uma substância (por exemplo, estimulantes) ou a uma condição médica geral (por ex.,
doença de Huntington ou encefalite pós-viral).” (Hounie e Petribú, 1999, p.52)
A pesquisa se fundamenta nos transtornos mencionados acima para a subsequente elaboração do
anteprojeto do centro terapêutico. No entanto, será necessário aprofundar-se em pesquisas adicionais
posteriormente, a fim de obter uma compreensão mais abrangente. Não obstante, o estudo continuará a se
basear nas informações essenciais já coletadas.

2.3. Tratamentos, terapias e intervenção multidisciplinar

Os tratamentos desempenham um papel fundamental na capacitação de pessoas neurodivergentes para


executar atividades diárias básicas. A ausência de tratamento e acompanhamento profissional pode agravar
consideravelmente os desafios enfrentados por essas pessoas e suas famílias. É importante considerar que
indivíduos neurodivergentes têm o direito de levar uma vida cotidiana semelhante àquelas dos neurotípicos,
e disponibilizar tratamento adequado é uma forma de promover a igualdade e democratizar o acesso aos
direitos básicos. Os tratamentos podem incluir terapias comportamentais, terapias ocupacionais,
psicoterapias, atendimento com fonoaudiólogos, dentre outras intervenções multidisciplinares, e, em alguns
casos, medicamentos. É importante ressaltar que o tratamento deve ser personalizado, considerando as
características de cada pessoa.

As autoras Hounie e Petribú (1999, p.57) falam sobre o tratamento da síndrome de Tourette: “O tratamento
psicológico inclui orientação aos pais e familiares e àqueles que convivem com a criança como seus
educadores. É importante fornecer informações a respeito da doença, suas características e o modo de lidar
com o doente.” Além disso, indicam também tratamento psicoterápico comportamental, quando necessário,
e comentam que “a psicoterapia dirigida ao insight tem sua importância na medida em que estabelece
conexões entre os sintomas e os conflitos psíquicos subjacentes, facilitando o seu entendimento”.

No contexto do Transtorno do Espectro Autista (TEA), após o diagnóstico, é fundamental realizar uma
avaliação abrangente para identificar as áreas específicas em que podem enfrentar maiores desafios. Essas
áreas podem incluir comunicação, interação social, comportamento, habilidades sensoriais, entre outras. As
intervenções terapêuticas desempenham um papel fundamental no apoio às pessoas com TEA. Além disso,
podem incluir terapia comportamental, terapia ocupacional, fonoaudiologia e outras abordagens
terapêuticas baseadas em evidências. O objetivo principal dessas intervenções é maximizar o potencial de
desenvolvimento da pessoa, ajudando-a a adquirir habilidades que lhe permitam participar plenamente da
sociedade.

Existem inúmeros métodos de tratamento para o TEA, alguns com comprovação científica,
enquanto outros não, mas todos eles prometem dar resultados eficazes. Alguns exemplos
são: farmacoterapia, terapia comportamental, abordagem psicopedagógica, equinoterapia
(terapia com cavalos), cinoterapia, metodologia da Análise do Comportamento Aplicado,
Imunoterapia Ativada, programa TEACCH (que é muito usado pelas APAE’s), musicoterapia,

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PECS (sistema de comunicação por figuras), entre outros (Andrade, 2012 apud Santos, 2023,
p.20).
De acordo com Santos (2023, p.20), “o tratamento do TEA é feito por uma equipe multidisciplinar, que
envolve profissionais de inúmeras áreas como psicólogos, neurologistas, psiquiatras, fonoaudiólogos,
psicopedagogos, entre outros.” Por isso a importância de clínica multidisciplinar no tratamento de pessoas
neurodivergentes.

Sobre os métodos de tratamento:

O método de tratamento PECS11 trabalha o desenvolvimento de habilidades de


comunicação do indivíduo autista, o fazendo ter consciência da importância da
comunicação para obter o que deseja. Ele funciona permitindo que a criança se comunique
através de figuras. Na terapia, o autista pode escolher a imagem que representa o objeto
que ela deseja obter e entregar nas mãos do profissional para que ele a entregue o objeto
da imagem. Essa mesma interação pode ser feita em casa, com o indivíduo tendo ao seu
alcance as imagens para que consiga se comunicar com seus familiares (Locatelli; Santos,
2016 apud Santos, 2023, p.22).
Além disso, os profissionais podem contar também com o apoio de tratamento da musicoterapia. Sabe-se
que a música consegue proporcionar ao ouvinte sensações de relaxamento e bem-estar e, om base em uma
pesquisa conduzida por Sharda et al (2018) em crianças com idades compreendidas entre 6 e 12 anos
utilizando ressonância magnética funcional em estado de repouso, foi apurado que o grupo que participou
da terapia musical experimentou melhorias significativas em suas habilidades de comunicação funcional
(Silva; Moura, 2021).

Outra aliada importante no tratamento é a terapia ocupacional, que auxiliará nas habilidades motoras finas
e permitirá atividades rotineiras mais independentes, como se alimentar sozinho, melhorar o equilíbrio,
escrever, escovar os dentes, pentear os cabelos, etc. “Através da TO, o paciente pode desenvolver
autonomia, autoestima, autoconfiança, autorregulação e interação social. Para isso, o profissional avalia
quais são as melhores alternativas para cada indivíduo e utiliza tecnologias e diversas atividades para
proporcionar à pessoa uma adaptação melhor à vida social” (Bandeira, 2022 apud Santos, 2023, p,25).

A Terapia Assistida por Animais também indica eficiência no tratamento. De acordo com Abreu et al. (2008)
apud Caetano (2010, p.22), “a Terapia Assistida por Animais (TAA) exige que haja um acompanhamento de
profissionais da área da saúde como fisioterapeutas, psicólogos e médicos dentre outros, que utilizam os
animais como parte de um tratamento”

(...) nessas terapias são utilizados todos os tipos de os animais que possam entrar em
contato com o homem sem causar-lhes perigo. Entre os escolhidos pelos profissionais
envolvidos nos tratamento estão o gato, o coelho, a tartaruga, o pássaro, peixes diversos, o
cão, o cavalo e inclusive animais exóticos como iguana e camaleão, ou diferenciados como
a chinchila, a cobaia, o hamster. Dos mais utilizados entre eles é o cão, assim como o cavalo,
em terapias denominadas de Cinoterapia e Equoterapia, a serem comentadas e descritas
adiante do estudo (...) (Chagas et al, 2009 apud Caetano (2010, p.28).
O tratamento precoce da dislexia pode ajudar as crianças a desenvolver habilidades de leitura e escrita, o
que é fundamental para o sucesso acadêmico. Sem intervenção adequada, as crianças com dislexia podem
enfrentar sérias dificuldades na escola, o que pode afetar sua autoestima e motivação para aprender. Para

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Cabussú, (2009, p.483): “A dislexia, por ser um transtorno de aprendizagem complexo, exige todo esse suporte
técnico ao redor do disléxico para que ele aprenda a lidar com sua dificuldade e receba o apoio específico para suas
necessidades.”

O tratamento multidisciplinar, com vários profissionais da saúde, desempenha um papel fundamental no


cuidado e no desenvolvimento de pessoas neurodivergentes. As bases do tratamento envolvem técnicas de
mudança de comportamento, programas educacionais ou de trabalho e terapias de linguagem/comunicação.
É essencial trabalhar com psicólogos, médicos, psicopedagogos, fonoaudiólogos, educadores bem treinados
em análise comportamental funcional e em técnicas de mudança de comportamento, dentre outros
profissionais. (Gadia, et al, 2004)

Compreender o tratamento específico para pessoas neurodivergentes é fundamental ao projetar espaços


em que utilizarão em seus tratamentos. Dessa maneira, conhecendo suas particularidades, tem-se cuidado
para não tornar o ambiente estressante e desgastador. Deve-se atentar para técnicas que possibilitem auxílio
no tratamento, como é possível entender melhor no tópico seguinte.

2.4. Design, layout e sensações: princípios da neuroarquitetura aplicadas em centro terapêutico

Um dos primeiros registros do uso da neurociência em projetos de arquitetura foi o Instituto Salk, do
arquiteto Louis Kahn, de acordo com Fiederer (2018). O médico pesquisador Jonas Edward Salk, inventor da
primeira vacina antipólio, percebeu que o ambiente em que estava pesquisando influenciava diretamente
no resultado do seu estudo. O médico acredita que o ambiente contribuiu para o avanço de sua pesquisa e,
em conversa com Louis Kahn, solicitou o projeto do Instituto Salk para que a arquitetura pudesse contribuir
positivamente para o avanço das pesquisas ali desenvolvidas.

Figura 2: Instituto Salk – Louis Kahn

Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/891385/classicos-da-arquitetura-instituto-salk-louis-kahn. Acesso


em: OUT, 2023.

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O Instituto Salk está localizado na Califórnia, ao longo da costa do Pacífico, e o arquiteto teve o cuidado em
remeter à catedral em que Salk teve a vivência, para que a arquitetura pudesse interferir positivamente nas
sensações causadas nas pessoas que a usufruem. Salk exigiu que os espaços de laboratório nas novas
instalações teriam que ser abertos, espaçosos e facilmente atualizados à medida que novas descobertas e
tecnologias avançassem no curso da pesquisa científica. Toda a estrutura deveria ser simples e durável,
exigindo manutenção mínima. Ao mesmo tempo, deveria ser brilhante e acolhedor, um ambiente inspirador
para os pesquisadores que trabalhariam lá. Essas exigêngias remetem diretamente à neuroarquitetura, no
sentido de a arquitetura influenciar no desenvolvimento dos pesquisadores (Fiederer, 2018).

Com base nas pesquisas já realizadas para compreender a neuroarquitetura, as características das pessoas
neurodivergentes e suas intervenções terapêuticas, torna-se viável estabelecer com maior clareza os
princípios da neuroarquitetura aplicada para centros terapêuticos, possibilitando o tratamento de maneira
eficaz. O design e o layout consciente podem contribuir significativamente para eficácia das intervenções
terapêuticas, ajudando as pessoas neurodivergentes a alcançarem seu potencial máximo e melhorarem sua
qualidade de vida.

Em relação ao aspecto visual, é interessante que se distancie da aparência convencional de hospitais,


evitando, dessa maneira, tensão nas pessoas neurodivergentes. O uso das cores, juntamente com a
iluminação, também é essencial nesse quesito, pois “este fator é responsável por acarretar efeitos ao
ambiente, fazendo com que haja a produção de melatonina, mais conhecida como o hormônio do sono,
resultando em sensações diferentes e atribuindo positivamente ou impactando de forma negativa o conforto
do usuário” (Abrahão, 2019 apud Rangel, 2021, p.68).

As cores estimulam o cérebro e possuem uma linguagem única, que de certa forma está
associada às memórias e experiências do indivíduo, sua cultura, e a educação a qual teve
acesso, por isso mesmo as combinações geram uma linguagem capaz de impactar direta ou
indiretamente no comportamento humano. A cor humaniza, desperta, cria, transforma e
gera sensações através da percepção visual. Em essência, a cor é muito mais do que um
fenômeno ótico. Todas as cores têm um significado próprio, todas criam um determinado
impacto no nosso cérebro (Rangel, 2021, p.70).
Para Luscher (2007) apud Rangel (2021), a cor cinza transmite neutralidade psicológica, ou o desânimo, bem
como falta de confiança, ou de energia; o preto representa sofisticação, elegância e a eficiência; marrom
expressa serenidade, calor, natureza, naturalidade e confiabilidade, mas também pode impactar na falta de
humor e angústia; o amarelo representa otimismo, confiança, autoestima, criatividade; por outro lado, o
medo, ansiedade e fragilidade; a influência da cor vermelha é ampla, remetendo a força, coragem física,
calor, energia, sobrevivência básica, agitação e estimulação. Os efeitos negativos surgem como impacto
visual, tensão, agressão e desafio; o azul transmite a confiança, eficiência, serenidade, dever, inteligência,
reflexão, frescor, calmaria e lógica. Como sentimento negativo, a frieza, altivez, antipatia e a falta de emoção;
por fim, o verde está associado a reconforto, paz, equilíbrio, restauração, consciência mental, harmonia,
amor universal e frescor. Como contrapartida, o tédio, estagnação, desinteresse e abatimento.

A imagem abaixo, por exemplo, pode proporcionar através das cores nos materiais utilizados, algumas
sensações, como conforto, equilíbrio, naturalidade e confiabilidade por meio do material amadeirado
presente no ambiente, percebe-se também o uso do cinza que transmite neutralidade, além do verde que
possibilita reconforto, paz, equilíbrio e harmonia.

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Figura 3: Ambiente e as sensações possibilitadas através das cores e materiais utilizados

Disponível em: https://www.behance.net/gallery/85587757/PrimarySecondary-Art-School. Acesso em: OUT, 2023.

A escolha cuidadosa de iluminação e cores desempenha um papel vital na criação de um ambiente


terapêutico acolhedor. Iluminação natural e controlada, bem como cores suaves, podem reduzir o estresse
e melhorar o foco. Ambientes bem iluminados e cores vibrantes também podem ajudar a criar uma
atmosfera calma e agradável. De acordo com Lacerda (2021), é importante criar ambientes que
proporcionam desenvolvimento e independência do paciente. Pessoas neurodivergentes podem apresentar
sensibilidade a luzes mais intensas, então a possibilidade de regular a intensidade da iluminação é
importante. Além disso, destaca-se a importância da variação de luzes brancas e amarelas conforme a
necessidade de cada ambiente para gerar conforto ou estimular a concentração, além do uso da iluminação
natural.

Figura 4: Ambiente e as possibilitadas de iluminação e suas diferentes funcionalidades nas sensações humanas

Disponível em: https://interiordesignloverbr.wordpress.com/2017/03/31/o-segredo-da-boa-iluminacao/. Acesso


em: OUT, 2023.

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A inclusão de elementos sensoriais, como texturas, sons desafiadores e materiais naturais, pode estimular
os sentidos positivamente. Isso pode ser particularmente benéfico para pacientes com necessidades
sensoriais específicas. Para Lacerda (2021), estimular, através da visão e do tato, mecanismos que promovam
a consciência corporal e cognitiva do paciente é um excelente aliado no tratamento.

A integração de elementos naturais, como jardins terapêuticos ou áreas ao ar livre, para promover a prática
da Terapia Assistida por Animais, por exemplo, pode promover a tranquilidade e o bem-estar. A natureza
tem um efeito calmante e pode ser benéfica para o desenvolvimento de pacientes neurodivergentes.

A necessidade de se conectar com a natureza, não é algo que está somente relacionada com
o ver, ou seja, o sentido da visão, pois precisamos além de tudo percebe-la através dos
nossos sentidos, como por exemplo, algumas pesquisas feitas no Japão compararam os
efeitos do toque em materiais distintos como a madeira, azulejos, metal e constataram que
somente o fato de tocar na madeira, o sistema nervoso parassimpático, que é o sistema
responsável por fazer o organismo se acalmar após uma situação de estresse, torna-se
ativo, significando que os níveis de estresse do nosso corpo tendem a diminuir, ajudando
no relaxamento e também sendo estimulado pelo contato tátil com alguns materiais
providos da natureza. (Costa, 2022, P. 27)
Também é importante destacar o uso da biofilia em projetos de arquitetura que utilizam práticas da
neuroarquitetura, pois a presença de elementos naturais, como luz natural, plantas, água e materiais
orgânicos, associa-se a melhorias significativas no bem-estar humano. Esses elementos podem reduzir o
estresse, promover o relaxamento e melhorar o humor, contribuindo para uma experiência mais positiva nos
ambientes construídos. Segundo Paiva (2022) apud Costa (2022), em ambientes de saúde, como hospitais e
clínicas, a biofilia pode acelerar a recuperação de pacientes. A exposição de elementos naturais, como luz do
sol e vista para a natureza, pode reduzir o tempo de internação e a necessidade de medicamentos. E quando
não temos contato direto com a natureza e, por consequência, os efeitos positivos desse contato no nosso
organismo, entende-se que isso impacta diretamente na nossa saúde mental.

Figura 5: Biofilia aplicada em ambiente hospitalar

Disponível em: https://blog.archtrends.com/arquitetura-hospitalar-e-influencia-na-saude-e-bem-estar-do-


paciente/. Acesso em: OUT, 2023.

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As principais teorias referentes aos benefícios trazidos por ambientes restauradores para a
realidade de seus usuários se estruturam na ideia que esses ambientes podem conferir aos
frequentadores maior qualidade de vida, reduzindo os impactos negativos do meio urbano
nos indivíduos. Roger Ulrich (1983), R. Kaplan e S. Kaplan (1989) em seus estudos relatam
aumento da capacidade cognitiva, redução do estresse e restauração da capacidade de
atenção direta em frequentadores de ambientes restauradores. (Barros, 2019, P.22)
A autora ainda afirma que dentre as áreas da saúde, a que mais se beneficia da aplicação dos princípios de
ambientes restauradores no tratamento dos pacientes é o campo da saúde mental. Nesse contexto, os
usuários se constituem majoritariamente de pacientes, familiares e profissionais da saúde, grupos que
podem se beneficiar de locais que reduzam o estresse e promovam o bem-estar, principalmente para abrigar
os processos de tratamento e cura dos pacientes (Barros, 2019).

3. Resultados Esperados

Em consonância com os estudos realizados sobre a temática em questão, é possível entender melhor os
princípios fundamentais para a aplicação posterior no anteprojeto de um centro terapêutico. A compreensão
desses princípios desempenha papel no desenvolvimento e tratamento eficaz, para entender como funciona
e então aplicar na arquitetura.

Torna-se evidente que o emprego consciente dos princípios da neuroarquitetura pode criar ambientes
propícios para o tratamento e o desenvolvimento de pessoas neurodivergentes. Através do design, layout
cuidadosamente aplicado e aplicação da biofilia, é possível melhorar significativamente a eficácia das
intervenções terapêuticas, proporcionando às pessoas neurodivergentes a oportunidade de alcançar seu
potencial máximo e melhorar sua qualidade de vida.

Posteriormente, com base nas informações coletadas neste artigo, será empreendida a etapa de elaboração
do anteprojeto do centro terapêutico direcionado ao atendimento de pessoas neurodivergentes, situado na
cidade de Juazeiro do Norte, no estado do Ceará. A integração dos princípios da neuroarquitetura, elucidados
ao longo deste estudo, servirá como fundamento para o planejamento e a concepção desse centro
terapêutico, visando garantir a eficácia das intervenções terapêuticas.

4. Considerações Finais

O presente trabalho explorou a relevância da neuroarquitetura, mais especificamente aplicada a centros


terapêuticos voltados para pessoas neurodivergentes. O estudo buscou responder às perguntas-problema
que nortearam a pesquisa, de como a arquitetura, aliada à neurologia, pode impactar positivamente o
tratamento de pessoas neurodivergentes e quais soluções projetuais podem contribuir para o
desenvolvimento desses ambientes.

O artigo teve como objetivo principal uma revisão bibliográfica em torno da temática abordada, e foi
atendido, proporcionando embasamento teórico para a posterior criação do anteprojeto do centro
terapêutico. Os objetivos específicos possibilitaram uma compreensão das necessidades dos pacientes
neurodivergentes, das limitações enfrentadas por eles, dos tratamentos e das melhores práticas no
desenvolvimento de ambientes terapêuticos.

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Por fim, ressalta-se a importância de continuar a pesquisa e o desenvolvimento nessa área, uma vez que a
neuroarquitetura representa uma abordagem promissora para a promoção da saúde e do desenvolvimento
no tratamento de pessoas neurodivergentes, contribuindo para uma sociedade mais inclusiva e democrática.

6. Referências Bibliográficas

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centro de saúde mental para a cidade de Natal-RN. Natal-RN, 2019.

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