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Lei 11.

340/2006
(Lei Maria da Penha)
Diego Fontes
@profdiegofontes
1. Quem é o destinatário da Lei?
2. Âmbito de Aplicação (arts. 5º, 6º)

❑ UD (Unidade Doméstica) → espaço de convívio permanente de pessoas com ou sem


vínculo familiar (inclusive as esporadicamente agregadas)
❑ F (Família) → são ou se consideram aparentados (laços naturais, afinidade ou vontade
expressa) – “natureza ampla de parentesco”
❑ RIA→ Relação Íntima de Afeto (conviva ou tenha convivido, independentemente de
coabitação). Obs! Namoro efêmero.
❑ Súmula 600-STJ: Para a configuração da violência doméstica e familiar prevista no
artigo 5º da Lei n. 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) não se exige a coabitação entre autor
e vítima.
❑ Independem de orientação sexual
3. Formas de Violência (art. 7º)
❑ Física: qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal
❑ Psicológica: qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe
prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações,
comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação,
isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, violação de sua intimidade,
ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à
saúde psicológica e à autodeterminação;
❑ Sexual: qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não
desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a
utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou
que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno
ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos

❑ Patrimonial: qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus
objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos,
incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades;

❑ Moral: entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria.
❑ Obs! Atualização 2023

Art. 40-A. Esta Lei será aplicada a todas as situações previstas no seu art. 5º,
independentemente da causa ou da motivação dos atos de violência e da condição do
ofensor ou da ofendida. (Incluído pela Lei nº 14.550, de 2023)
Situação de
violência
4. Medidas de Assistência
4.1. Prevenção - Exemplos

❑ Estudos, pesquisas, estatísticas → perspectiva de gênero e de raça ou etnia (causas,


consequências e frequência da VDFcM)
❑ Meios de comunicação social – coibir papéis estereotipados
❑ Campanhas educativas
❑ Convênios e parcerias com entidades não-governamentais
❑ Programas educacionais (valores éticos) e currículos escolares
4. Medidas de Assistência
4.2. Medidas Administrativas - Exemplos

❑ Violência sexual (contracepção de emergência, profilaxia de DST e AIDS).


❑ Ressarcimento dos custos com o SUS e da “tornozeleira eletrônica” – sem importar ônus ao
patrimônio da mulher e dos dependentes e NÃO configurar atenuante nem ensejar
possibilidade de substituição da pena aplicada.
❑ Prioridade para matrícula ou transferência escolar dos dependentes – apresentação dos
documentos comprobatórios do registro da ocorrência policial ou do processo de violência
doméstica e familiar em curso (dados sigilosos).
4. Medidas de Assistência
4.3. Medidas Judiciais

a) determinar, por PRAZO CERTO, a inclusão no cadastro de programas assistenciais


(governo federal, estadual e municipal);
b) acesso prioritário à remoção, quando servidora (administração direta ou indireta);
c) manutenção do vínculo trabalhista, POR ATÉ 6 MESES;
d) encaminhamento à assistência judiciária, quando for o caso (ações cíveis relacionadas –
divórcio, separação judicial, anulação de casamento, dissolução de união estável);
5. Medidas Protetivas de Urgência
5.1. Que obrigam o agressor (art. 22)

❑ SUSPENSÃO da posse ou RESTRIÇÃO do porte de armas, com comunicação ao órgão


competente
❑ Restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida a equipe de
atendimento multidisciplinar ou serviço similar;
❑ Prestação de alimentos provisionais ou provisórios.
❑ Afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida;
Afastamento do Agressor (Risco Atual e Iminente) – art. 12-C

Verificada a existência de risco ATUAL ou IMINENTE à VIDA ou à INTEGRIDADE FÍSICA ou PSICOLÓGICA da


mulher em situação de violência doméstica e familiar, ou de seus dependentes, o agressor será imediatamente
afastado do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida:

A. Pela autoridade judicial;


B. Pelo delegado, quando o Município não for sede de comarca;
C. Pelo policial, quando o Município não for sede de comarca e não houver delegado disponível no momento.
❑ Obs1! “B” e “C” → Juiz deve ser comunicado no prazo máximo de 24h e decidirá também em 24h pela
manutenção ou revogação da medida aplicada, dando ciência concomitante ao MP.
5. Medidas Protetivas de Urgência
5.1. Que obrigam o agressor (art. 22)

❑ PROIBIÇÃO de:
•aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite mínimo
de distância;
•contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por QUALQUER MEIO de
comunicação;
•frequentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade física e
psicológica da ofendida;
5. Medidas Protetivas de Urgência
5.1. Que obrigam o agressor (art. 22)

❑ Comparecimento do agressor a programas de recuperação e reeducação.


❑ Acompanhamento psicossocial do agressor, por meio de atendimento individual e/ou em
grupo de apoio.
5. Medidas Protetivas de Urgência
5.2. De proteção à Ofendida (art. 23)

❑ Encaminhamento a programa oficial ou comunitário de proteção ou de atendimento.


❑ Determinar a recondução da ofendida e a de seus dependentes ao respectivo domicílio,
após afastamento do agressor.
❑ Determinar o afastamento da ofendida do lar, sem prejuízo dos direitos relativos a bens,
guarda dos filhos e alimentos;
5. Medidas Protetivas de Urgência
5.2. De proteção à Ofendida (art. 23)
❑ Determinar a separação de corpos.
❑ DETERMINAR A MATRÍCULA dos dependentes da ofendida em instituição de educação
básica mais próxima do seu domicílio, ou a TRANSFERÊNCIA deles para essa instituição,
independentemente da existência de vaga.
5. Medidas Protetivas de Urgência
5.2. De proteção à Ofendida (art. 24)

❑ Proteção patrimonial (bens da sociedade conjugal):


•restituição de bens indevidamente subtraídos
•proibição temporária para a celebração de atos e contratos de compra, venda e locação de propriedade
em comum, salvo expressa autorização judicial; (Juiz deve oficiar ao cartório)
•suspensão das procurações conferidas pela ofendida ao agressor; (Juiz deve oficiar ao cartório)
•prestação de caução provisória, mediante depósito judicial, por perdas e danos materiais decorrentes
da prática de violência doméstica e familiar contra a ofendida;
6. Atendimento pela Autoridade Policial
6.1. Disposições Gerais (art. 10)

❑ Atendimento policial e pericial especializado, ininterrupto, prestado


PREFERENCIALMENTE por servidores do sexo feminino previamente capacitados
❑ Atendimento especializado: Estados e DF – criação de DEAMs, Núcleos Investigativos de
Feminicídios e de equipes especializadas de atendimento e investigação.
6. Atendimento pela Autoridade Policial
6.2. Regras para Inquirição (art. 10-A)

❑ Salvaguarda da integridade física, psíquica e emocional;


❑ Contato da mulher, de seus familiares ou testemunhas com investigados ou suspeitos e
pessoas a eles relacionadas: EM NENHUMA HIPÓTESE
❑ Não revitimização
❑ Obs! Crime de Abuso de Autoridade - Figura“Sui Generis” – (Violência Institucional)
detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano. [Lei nº 13.869/2019, Art. 15-A].
6. Atendimento pela Autoridade Policial
6.2. Regras para Inquirição (art. 10-A)

❑ Em recinto especialmente projetado (idade, tipo e gravidade da violência)


❑ Quando for o caso, será intermediado por profissional especializado
❑ Registro do depoimento em meio eletrônico ou magnético
6. Atendimento pela Autoridade Policial
6.3. Providências (art. 11)

❑ Proteção policial, quando necessário (comunicação imediata ao MP e ao Juiz)


❑ Encaminhamento ao hospital/posto de saúde e ao IML
❑ Fornecer transporte para a ofendida e seus dependentes para abrigo ou local seguro, quando
houver risco de vida (Casa Abrigo)
❑ Se necessário, acompanhar p/ assegurar a retirada de seus pertences do local da ocorrência ou do
domicílio familiar
❑ INFORMAR direitos e serviços disponíveis (inclusive o de assistência judiciária)
❑ REQUISITAR os serviços públicos necessários à defesa da mulher e de seus dependentes
6. Atendimento pela Autoridade Policial
6.3. Providências (art. 11)
❑ Ouvir, lavrar BO e tomar representação a termo, se apresentada.
❑ Colher todas as provas.
❑ Remeter, NO PRAZO DE 48H, expediente APARTADO ao Juiz com o pedido da ofendida,
para concessão das MPUs.
❑ Determinar exame de corpo de delito e outros exames periciais
▪ Admitidos como meios de prova os laudos ou prontuários médicos fornecidos por hospitais e postos de
saúde).
▪ Prioridade na realização do exame de corpo de delito (CPP, art. 158, P.U, I).
6. Atendimento pela Autoridade Policial
6.3. Providências (art. 11)

❑ Ouvir agressor e testemunhas;


❑ Identificação do agressor, juntando folha de antecedentes criminais;
❑ VERIFICAR se o agressor possuir registro de porte ou posse de arma de fogo→ JUNTAR
informação aos autos → NOTIFICAR a ocorrência à instituição responsável pelo concessão
do registro ou da emissão do porte.
❑ Remeter, no prazo legal, os autos do IP ao Juiz e ao MP.
7. Procedimentos na esfera judicial
7.1. Disposições Gerais (arts. 13 a 17)

❑ Aplicação subsidiária do CPP, CPC, ECA e Estatuto do Idoso (causas cíveis e criminais)
❑ Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher
a)Órgãos da Justiça ordinária
b)Competência cível E criminal
c)Podem ser criados: União (DF e Territórios) e pelos Estados
d)Atos processuais podem se realizar em horários noturnos
7. Procedimentos na esfera judicial
7.1. Disposições Gerais (arts. 13 a 17)
❑ Ofendida pode propor ação de divórcio ou dissolução da união estável no Juizado de
Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher
Obs! EXCLUI-SE da competência a pretensão relacionada à PARTILHA DE BENS.
❑ Caso a VDFcM se inicie após o ajuizamento da ação (divórcio ou dissolução de união
estável) → a ação ganha preferência no juízo onde estiver.
❑ Competência cível (opção da ofendida)
a)seu domicílio ou residência;
b)lugar do fato;
c)domicílio do agressor.
7. Procedimentos na esfera judicial
7.1. Disposições Gerais (arts. 13 a 17)
❑ Não se aplica a 9.099/95 (art. 41)
❑ Não cabe Acordo de Não Persecução Penal (CPP, art. 28-A, §2º, IV)
❑ Obs! Lesão Corporal Leve e Lesão Corporal Culposa (Súmula 542 STJ) → Ação Penal
❑ Vedadas → pena de cesta básica / outras de prestação pecuniária / pagamento isolado de multa
❑ Súmula 588-STJ: A prática de crime ou contravenção penal contra a mulher com violência ou grave ameaça
no ambiente doméstico impossibilita a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de
direitos.
❑ Súmula 589-STJ: É inaplicável o princípio da insignificância nos crimes ou contravenções penais
praticados contra a mulher no âmbito das relações domésticas.
Art. 16. Nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida de que
trata esta Lei, só será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência
especialmente designada com tal finalidade, ANTES DO RECEBIMENTO DA DENÚNCIA e
ouvido o Ministério Público.
7. Procedimentos na esfera judicial
7.2. Regras Gerais das Medidas Protetivas de Urgência (arts. 18 a 21)

❑ Recebido o expediente com o pedido da ofendida, no prazo de 48h, o Juiz:


a) Decidir sobre as MPUs
b) ENCAMINHAMENTO da ofendida ao órgão de assistência judiciária (inclusive para ações de família
relacionadas)
c) Comunicar ao MP
d) Determinar a APREENSÃO imediata de arma de fogo sob posse do agressor
7. Procedimentos na esfera judicial
7.2. Regras Gerais das Medidas Protetivas de Urgência (arts. 18 a 21)

❑ Medidas Protetivas de Urgência


• Concedidas pelo Juiz, a requerimento do MP ou da ofendida;

Obs! Juiz pode conceder MPU de ofício?!


Art. 282, CPP:
§ 2º As medidas cautelares serão decretadas pelo juiz, de ofício ou a requerimento das partes ou, quando no curso da investigação
criminal, por representação da autoridade policial ou mediante requerimento do Ministério Público. (Incluído pela Lei nº 12.403/2011).
§ 2º As medidas cautelares serão decretadas pelo juiz a requerimento das partes ou, quando no curso da investigação criminal, por
representação da autoridade policial ou mediante requerimento do Ministério Público. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de
2019)
7. Procedimentos na esfera judicial
7.2. Regras Gerais das Medidas Protetivas de Urgência (arts. 18 a 21)

❑ Medidas Protetivas de Urgência


• Concessão inaudita altera pars (MP pode não ser ouvido previamente, mas será prontamente
comunicado)
• Aplicadas isolada ou cumulativamente, podendo ser substituídas a qualquer tempo;
• A requerimento do MP ou a pedido ofendida, ouvido o MP → conceder novas MPUs ou rever as já
concedidas
7. Procedimentos na esfera judicial
7.2. Regras Gerais das Medidas Protetivas de Urgência (arts. 18 a 21)

❑ Notificação da ofendida → atos processuais relativos ao agressor, especialmente dos


pertinentes ao ingresso e saída da prisão (sem prejuízo da intimação do advogado
constituído ou do defensor público);
❑ A ofendida não poderá entregar intimação ou notificação ao agressor.
7. Procedimentos na esfera judicial
7.2. Regras Gerais das Medidas Protetivas de Urgência (Atualização 2023)

Art. 19, § 4º As medidas protetivas de urgência serão concedidas em juízo de cognição


sumária a partir do depoimento da ofendida perante a autoridade policial ou da
apresentação de suas alegações escritas e poderão ser indeferidas no caso de avaliação
pela autoridade de inexistência de risco à integridade física, psicológica, sexual,
patrimonial ou moral da ofendida ou de seus dependentes.
7. Procedimentos na esfera judicial
7.2. Regras Gerais das Medidas Protetivas de Urgência (Atualização 2023)

§5º As medidas protetivas de urgência serão concedidas independentemente da


tipificação penal da violência, do ajuizamento de ação penal ou cível, da existência de
inquérito policial ou do registro de boletim de ocorrência.
§6º As medidas protetivas de urgência vigorarão enquanto persistir risco à integridade
física, psicológica, sexual, patrimonial ou moral da ofendida ou de seus dependentes.
8. Crime de Descumprimento à MPU

Art. 24-A. Descumprir decisão judicial que defere medidas protetivas de urgência previstas nesta Lei: (Incluído
pela Lei nº 13.641, de 2018)
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos.

❑ Independe da competência civil ou criminal do juiz que deferiu as medidas


❑ Na hipótese de prisão em flagrante, apenas a autoridade judicial poderá conceder fiança.
❑ Não exclui a aplicação de outras sanções cabíveis.

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