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1. A fim de promover os interesses dos consumidores e assegurar um elevado nível de defesa destes,
a União contribuirá para a proteção da saúde, da segurança e dos interesses económicos dos
consumidores, bem como para a promoção do seu direito à informação, à educação e à organização
para a defesa dos seus interesses.
2. A União contribuirá para a realização dos objetivos a que se refere o n.º 1 através de:
interno;
Membros.
Pretendia-se contribuir para a integração das preocupações dos consumidores em todas as outras
políticas da UE, maximizar as vantagens do mercado único para os consumidores e preparar o
alargamento. Os quatro pilares:
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• 1 – Reforçar a segurança dos consumidores;
• 2 - Promover o conhecimento;
• 4 - Ajustar as políticas à evolução da sociedade e garantir a sua relevância para a vida quotidiana.
Um consumidor é uma pessoa física que adquira os bens ou serviços, ou lhe sejam transmitidos
direitos, que se destinem a uso não profissional. Esta aquisição de bens, serviços – ou mesmo direitos
– tem de ser feita a um profissional que desenvolva uma atividade económica que vise obter
benefícios. O uso não profissional consiste na utilização de bens e serviços a título pessoal, familiar ou
doméstico. A proteção do consumidor e a atribuição de direitos específicos dependem a existência de
uma relação de consumo.
Âmbito de aplicação: as CCG são cada vez mais utilizadas na contratação, em especial nos contratos de
consumo, sendo um instrumento de globalização das relações económicas, tendo como principais
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características a pré-elaboração por uma das partes, a generalidade e a rigidez. A Diretiva vai menos
longe que o DL 446/85 em dois aspetos:
Aplica-se apenas às relações jurídicas de consumo enquanto a lei portuguesa não contém
qualquer restrição de natureza subjetiva;
Limita-se a tratar da problemática das clausulas abusivas, não regulando, questões relativas à
comunicação e esclarecimento das clausulas.
A transposição da Diretiva para a nossa ordem jurídica interna tem sido realizada no sentido de
cumprir as exigências do direito europeu. Foi, entretanto, publicada a LDC que no artigo 9 nº 2 e 3
estabelece que os profissionais se encontram vinculados à redação clara e precisa das CCG e à não
inclusão das que originem significativo desequilíbrio em detrimento do consumidor.
O DL 446/85 viu o seu âmbito alargado às clausulas inseridas em contratos individualizados, mas cujo
conteúdo previamente elaborado o destinatário não pode influenciar. Esta impossibilidade deve ser
avaliada tendo em conta o desequilíbrio entre as partes ou as circunstâncias da celebração do
contrato, não bastando que o proponente e predisponente se recuse a receber contrapropostas ou
que o destinatário das clausulas as aceite sem discussão. É necessário que do ato de comunicação das
clausulas resulte que estas se encontrem rigidamente predispostas, não sendo possível modificar. O
art 1º n3 esclarece sobre quem recai o ónus da prova. a referencia àquele que pretenda prevalecer-se
da norma determina que o aderente que queira invocar a existência de uma clausula tenha de provar
que esta foi negociada.
O art 7 estabelece que as clausulas acordadas prevalecem sobre as CCG, mesmo quando constantes
de formulários assinados pelas partes. O art 2 esclarece que o diploma se a plica a todas as clausulas
abrangidas pelo âmbito de aplicação definido no art 1º, independentemente da forma da sua
comunicação, da extensão, do conteúdo ou de quem as elaborou. A comunicação pode ser feita de
varias formas, podendo ser incluídas em documentos dirigidos a pessoa determinada ou ao publico, e
mesmo constar de mensagens de publicidade ou rotulagem. Podem transmitidas por telefone, TV ou
internet. Quanto à forma nada impede que possam resultar de declarações orais. Pode tratar-se de
apenas uma clausula ou um clausulado alargado. Quanto ao conteúdo o DL aplica-se às clausulas
relativas às prestações principais ou características do contrato. Não é relevante se é o utilizador a
emitir a proposta contratual ou a aceitar a proposta formulada pela contraparte. Admite-se que sejam
elaboradas por um terceiro, no caso de apresentar formulados elaborados por outrem.
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A inserção de uma CCG num contrato individualizado implica a superação de 3 obstáculos sucessivos:
Se preenchida a conexão a clausula tem de passar pelo crivo da comunicação nos termos do
diploma;
Conexão com o contrato (art 4 DL 446/45): pressupõe-se que o predisponente é o proponente, que
aquele que impõe a inclusão da clausulas no contrato emite a proposta contratual. Nem sempre o
processo de celebração do contrato obedece a este esquema, podendo as clausulas serem inseridas
num convite para contratar formulado pelo predisponente que assim não fica logo vinculado pela sua
declaração. Neste caso a proposta é emitida pela outra parte, cabendo a aceitação ao predisponente.
Esta conclusão resulta do art 1 n1 e do art 2. Pode a conexão com o contrato ser por remissão tácita
ou expressa impondo-se na mesma um ato de comunicação.
Comunicação: o art 5 nº1 e 2 regulam esta temática, impondo que a inserção de uma clausula num
contrato depende de que o conhecimento completo e efetivo da mesma se torne possível por quem
use de comum diligencia. A lei introduz elementos quanto à forma e tempo da comunicação: deve ser
realizada de modo adequado e com a antecedência necessária. Para aferir da conformidade há que
ter em conta a importância do contrato, extensão e complexidade das cláusulas. É necessário que seja
comunicada de modo adequado, embora a inclusão de CCG não esteja sujeita a forma especial
(valendo o art 219 CC), salvo se forma especial for exigida forma especial para o contrato. Sendo as
clausulas comunicadas por escrito é necessário articular o art 5/1 DL 446/85 com os art 4/2 e 5 da
Diretiva 93/13 CEE que impõem que as clausulas se encontrem redigidas de forma clara e
compreensível, consagrando um especial dever de transparência.
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legais no que respeita à comunicação e ao esclarecimento das clausulas (art 19 d) e 21 e)). Atentas as
circunstâncias poderá ser suficiente em sede de comunicação, o envio da declaração contratual,
sendo dado tempo à outra parte para analisar o seu conteúdo.
O art 5 nº3 esclarece o ónus da prova da comunicação adequada e efetiva. A norma limita-se a
consagrar o regime do art 342 CC, não havendo uma inversão do ónus da prova. o art 8 a) sanciona a
não comunicação adequada e efetiva com exclusão das clausulas do contrato. Nos termos do art 9 a
exclusão destas clausulas não impede a manutenção do contrato. Tendo em conta o objetivo de
proteção do aderente e de censura do predisponente, a exclusão de uma clausula do contrato não
pode ser invocada por este. O tribunal deve conhecer oficiosamente da exclusão sempre que o
aderente ponha em causa a validade de uma clausula nas suas alegações, mas não invoque a falta de
comunicação adequada e efetiva, desde que dos autos constem factos que a demonstrem.
As clausulas transmitidas por escrito devem ser em letra grande o suficiente para poder ser lida sem
dificuldades devendo existir um espaço razoável entre as letras e palavras. Quanto às clausulas
surpresas não se podendo admitir que um contraente fique vinculado a uma clausula que não lhe foi
apresentada durante a fase pré-contratual. A utilização da palavra depois levanta a questão de saber
se se trata de uma referência temporal ou espacial. As primeiras estariam sempre excluídas do
contrato, uma vez que se referem a um momento posterior ao da sua celebração, remetendo para o
problema da alteração unilateral dos termos do contrato. No que se refere à referência espacial,
apenas integrando o contrato as clausulas que se encontrem antes da assinatura, sendo excluídas as
inseridas após a assinatura (art 8 d)).
Esclarecimento (art 6): existe em duas situações, impondo nos termos do art 6/1 devendo a análise
das clausulas que possam não ser claras aferidas casuisticamente. A análise não deve ser objetiva, mas
tendo em conta um destinatário normal relevando a natureza e a condição da pessoa e o nível cultural
revelado durante a negociação. As circunstâncias incluem o grau de complexidade do contrato e das
clausulas, exigindo-se mais esclarecimentos quanto mais difícil possa ser a compreensão das questões
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jurídicas e não jurídicas abrangidas e a relevância de determinadas clausulas no equilíbrio do contrato,
especialmente se prejudiciais. Em segundo lugar o limite dos esclarecimentos prestados é o da
razoabilidade, sendo ultrapassado quando não digam respeito às clausulas ou contrato imposto pelo
princípio da boa fé. A prestação de esclarecimentos solicitados não exonera o predisponente do dever
de prestar esclarecimentos mesmo n´~ao solicitado. Não é suficiente para o cumprimento do dever de
esclarecimento que o destinatário das clausulas declare que lhe foram prestados os esclarecimentos
relevantes ou não os solicite, pois é quase mecânico. A prova do cumprimento do dever de
esclarecimento cabe ao predisponente, estando a consequência prevista no art 8b).
Exige-se para a verificação da usura que tenha existido aproveitamento consciente da situação de
necessidade, inexperiência, dependência ou deficiência psíquica de outrem, e que desse
aproveitamento tenha existido para a contraparte negocial ou para terceiro, a promessa ou concessão
de benefícios manifestamente excessivos ou injustificados. Trata-se de um vício complexo
pressupondo cumulativamente elementos subjetivos e objetivos relevando autonomamente. Ao
contrário da consequência normal dos vícios de conteúdo (nulidade), o legislador optou por um
regime parcial de anulabilidade, característico dos vícios do consentimento. Este regime jurídico
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encontra-se também na alteração de circunstâncias, nos artigos 13.º e 14.º do DL n.º 446/85, para as
cláusulas contratuais gerais. O requisito subjetivo atinente ao lesado é a situação de inferioridade
cujas causas geradoras são a situação de necessidade, inexperiência, ligeireza, dependência, estado
mental ou fraqueza de carácter de outrem. Sublinhamos a:1) inexperiência do lesado (inexperiência
em geral das coisas da vida prática, mas também a ignorância relativa ao tipo de negócio a que
respeita a declaração). Trata-se de situações em que o declarante tem um imperfeito conhecimento
de circunstâncias (que podem ser de ordem científica, técnica, legal, ou relativas aos usos ou práticas
de certa profissão) que interessam à perfeita valoração dos interesses envolvidos no negócio. A
inexperiência não é exclusiva das pessoas com menor literacia e tem de ser avaliada em concreto; 2)
quanto à ligeireza refere-se o legislador ao agir sem a adequada ponderação.
O sentido inerente ao artigo 282.º, a tutela visa obstar a uma situação de inferioridade negocial de
que resulte a falta de compreensão do negócio e da apreensão de todos os seus efeitos prático-
jurídicos.
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PAIS DE VASCONCELOS “A contratação em massa exige o recurso a cláusulas contratuais gerais e
suscita no oferente a tentação dificilmente resistível de aproveitar – de explorar a inferioridade dos
seus clientes, consumidores finais ou intermediários, para deles obter ‘benefícios excessivos ou
injustificados’. A situação de inferioridade dos aderentes às cláusulas contratuais gerais, na
contratação em massa, corresponde sem dificuldades às palavras do artigo 282. Nele encontramos a
pressuposição os elementos subjetivos, bem como o elemento objetivo. Mais do que a posição de
poder do predisponente, a utilização de cláusulas contratuais gerais inibe o aderente de defender os
seus interesses, colocando-o numa posição desvantajosa. O específico poder de que o predisponente
goza sobre o modo de fixação do conteúdo do contrato e a liberdade conformativa que ele
proporciona traduz o apossamento, por uma das partes, da “estrutura jurídica de comunicação do
mercado”, criando-se, pois, “uma assimetria funcional quanto à utilização do contrato, que pode
então ser manipulado e moldado para satisfação exclusiva dos interesses de quem o redige”. A
situação de superioridade de uma das partes, o predisponente do ponto de vista organizativo e
intelectual – e o aproveitamento consciente de uma situação de inferioridade do aderente (resultante
da sua inexperiência, da sua ignorância relativamente ao negócio em questão, da falta de
conhecimento das circunstâncias que interessem à valoração dos interesses envolvidos), constituem a
realidade da utilização de cláusulas negociais predispostas. O artigo 15.º, do DL n.º 446/85, estabelece
a proibição das cláusulas contratuais gerais contrárias à boa fé e tem de ser lido de acordo com os
ditames interpretativos do artigo 16.º, que manda ponderar os valores fundamentais do direito. As
cláusulas substancialmente contrárias à boa fé são eliminadas da nossa ordem jurídica, contagiando
eventualmente todo o contrato. O DL n.º 446/85 surge como instrumento que institui os mecanismos
de defesa contra a “usura em massa”. Contra a vertente subjetiva da usura, o legislador apontou o
controlo procedimental da negociação e conclusão do contrato. Referimo-nos à instituição de um
dever de comunicação e informação das cláusulas predispostas ao aderente (art 5 e 6). Quanto ao
elemento objetivo o controlo já exigirá a análise do conteúdo negocial, a apreciação substancial da
validade do contrato.
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seu significado e alcance no quadro global do programa contratual. A compreensão do dever de
comunicação e de informação ao aderente tem de ser concretizada casuisticamente. Mas a
comunicação das cláusulas predispostas pode não ser suficiente para equilibrar negocialmente as
partes. O aderente necessitará que a comunicação da cláusula seja complementada com a necessária
informação sobre o âmbito e os efeitos do compromisso que está prestes a assumir.
No âmbito das CCG, as soluções legais não se compadecem com o cumprimento meramente formal
destes deveres procedimentais do contrato, que não seja suscetível de alterar, o des(equilíbrio)
resultante da intrínseca posição de superioridade do predisponente e de inferioridade do aceitante. Se
a predisposição de CCG é em si um ato abstrato, a sua inserção em contratos singulares requer uma
necessária individualização, que opera a transformação daquelas nas cláusulas de cada contrato
individualmente considerado. E nessa individualização, o predisponente não está isento de adequar a
forma de comunicação e de esclarecimento da sua proposta à concreta parte negocial.
2) A renúncia ao benefício da excussão prévia por parte do fiador: esse cumprimento deve ser
assumido na fase de negociação e feito com antecedência necessária ao conhecimento completo e
efetivo do aderente, tendo em conta as circunstâncias (objetivas e subjetivas) presentes na
negociação e na conclusão do contrato – a importância deste, a extensão e a complexidade das
cláusulas e o nível de instrução ou conhecimento daquele. Em caso algum, poderá levar a admitir que
o predisponente fique eximido dos deveres que o oneram, ou a conceber como legítimas uma sua
completa passividade na promoção do efetivo conhecimento das CCG e uma ausência de
comunicação destas ao aderente com a antecedência necessária ao conhecimento completo e efetivo,
até para que o mesmo possa exercitar aquele seu dever de diligência. A Embargante não leu o texto e
cláusulas do referido contrato de mútuo, embora este tenha sido lido e explicado o seu conteúdo a
todos os seus intervenientes, no dia da celebração do mesmo; pessoalmente e na presença de todos,
a Embargante ao referido contrato a sua assinatura e rubrica na qualidade de fiadora. Tal contrato de
mútuo contém e reproduz, com exatidão, as declarações na altura emitidas por todos os seus
intervenientes. Resultava da Cláusula 19ª do contrato de mútuo que a embargante declarou
constituir-se fiadora e principal pagadora de todas as obrigações emergentes para a “Mutuária” do
referido contrato de mútuo, com renúncia ao benefício de excussão prévia, e declarou aceitar o
contrato de mútuo dado à execução, com todas as suas condições, obrigando-se ao cumprimento do
mesmo. O Tribunal considerou que apenas no circunstancialismo da subscrição ou outorga do
contrato foram dadas a conhecer à aderente a cláusula contratual geral em discussão, quando a
mesma não teria, para o efeito, de desenvolver mais do que uma diligência comum e era à
proponente que caberia propiciar-lhe o antecipado e efetivo conhecimento daquela cláusula cuja
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pertinência mais se realça atentando na significativa complexidade do clausulado alusivo à «renúncia
ao benefício da excussão prévia» e à sua elevada repercussão para a embargante, para quem aquela é
uma expressão de alcance jurídico dificilmente inteligível.
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conhecer, entender e aceitar integralmente, nomeadamente, as condições de preço, entre outras. No
caso em análise, nada nos indica que tenha existido essa comunicação, que não foi alegada pela
Requerida, a quem cabia o ónus da prova da comunicação, nos termos do artigo 5.º, n.º 3. Não tendo
sido comunicadas na íntegra, não fazem parte do contrato celebrado em setembro de 2015, nos
termos do artigo 8.º, alínea a).
Contra a desigualdade situacional das partes, o legislador optou, no regime das CCG, por uma
proteção procedimental, impondo especiais deveres de comunicação e de informação ao
predisponente. Para a avaliação do (des)equilíbrio do negócio, todavia, é necessária uma análise
substancial do seu conteúdo, que permitirá concluir, ou não, que dele resultaram benefícios
injustificados para uma das partes. O artigo 15.º estabelece a proibição das CCG contrárias à boa fé e
que o artigo 16.º determina como se deve concretizar essa proibição. Os artigos 18.º e 19.º fixam o
elenco das cláusulas proibidas, nas relações entre empresários ou entidades equiparadas. O artigo
18.º fornece-nos uma lista das cláusulas absolutamente proibidas, ao passo que o artigo 19.º indica as
proibidas consoante o quadro negocial padronizado. Por força do artigo 20.º, estas proibições
aplicam-se também nas relações com os consumidores finais e, genericamente, em todas aquelas não
abrangidas pelo artigo 17.º. Mas estas relações estão ainda sujeitas às cláusulas proibidas
absolutamente no artigo 21.º e as proibidas, consoante o quadro negocial padronizado, no artigo 22.
Conclusão
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Este dever é paramentado como um dever de assistência, porquanto não se visa que seja prestada
toda a informação possível ao aderente, mas a considerada adequada para a compreensão do efeitos
prático-jurídicos do contrato que vai celebrar. Ao elemento objetivo da usura, a obtenção de
benefícios excessivos ou injustificados, o legislador obviou com o controlo substancial das cláusulas
contratuais. Para a apreciação quer do prejuízo, quer da sua (não) justificação, necessária se torna
uma análise do conteúdo regulatório do contrato, da sua materialidade intrínseca, de modo a apurar a
sua conformação substancial com os valores fundamentais do ordenamento jurídico.
Não sendo mutuamente excludentes, estas vias de avaliação do contrato devem, ambas, ser
operacionalizadas em cada caso, contrariando uma certa hierarquia valorativa em prejuízo do
cumprimento dos deveres de comunicação e de informação pelo predisponente. Só o controlo
procedimental do contrato associado ao controlo material das cláusulas que o compõem permite uma
reação eficaz e adequada contra a assimetria situacional que caracteriza a relação entre
predisponente e aceitante e que, traduzindo uma situação de inferioridade do aderente e a
exploração dessa inferioridade pelo predisponente poderá eventualmente conduzir a um benefício
excessivo ou injustificado. Estas respostas do ordenamento jurídico não fecham a porta a que no
momento da invalidação da cláusula ou do contrato, este possa subsistir, se a subsistência do
contrato, não conduzindo a um desequilíbrio de prestações gravemente atentatório da boa fé, for
considerada como a forma de melhor realizar a composição dos seus interesses – numa situação
igualmente próxima daquela do regime geral da usura.
Conteúdo do contrato: além as declarações dos contraentes, são muitos os elementos externos que
compõem de forma positiva ou negativa o contrato de consumo. Além dos deveres pré-contratuais, é
necessário analisar a questão da qualidade da prestação nos contratos de consumo. Procede-se ao
estudo das normas que têm por objetivo a composição do conteúdo contratual pela negativa, por via
da exclusão de CCG abusivas.
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salvaguardando a performance que dele se espera. A análise só fica completa quando, num segundo
momento, se tiverem em conta as legitimas expetativas do consumidor. A expressão na falta delas
não pode ser interpretada como excluindo o crivo das expetativas do consumidor caso exista uma
norma legal relativa ao bem ou serviço, o que não significa que todas as expetativas do consumidor
sejam afastadas, sendo relevantes para a determinação do conteúdo do contrato, mas apenas são
atendíveis se legitimas, correspondendo a um interesse real e com referencia ao consumidor média,
mas nada na lei se encontra previsto face a esta temática, não havendo razão para limitar as
expetativas do consumidor. O art 4 consagra um critério subjetivo.
Igualmente relevantes são os padrões definidos no art 7 da lei 23/96, aplicável aos contratos relativos
a serviços públicos essenciais. Ai se estabelece que a prestação de qualquer serviço deverá obedecer a
elevados padrões de qualidade, onde se inclui o grau de satisfação dos utentes.
Clausulas abusivas: em sede de formação do contrato conclui-se que uma CCG só se considera
inserida no conteúdo do contrato se passar por um controlo triplo: conexão com o contrato,
comunicação ao aderente e esclarecimento. O objetivo deste ponto consiste em estudar o quarto
momento, incidindo não sobre aspetos relativos à cognoscibilidade pelo aderente, mas no próprio
mérito da clausula, em função do seu conteúdo para determinar se é abusiva. Nos termos do art 15 do
DL 446/85 diz quais as CCG proibidas de acordo com a boa fé objetiva. Salienta-se que o caracter
censurável do comportamento do predisponente não constitui um pressuposto de aplicação da
norma, podendo a clausula ser considerada abusiva mesmo que não tivesse essa consciência. O art 16
estabelece critérios no sentido de facilitar a concretização do conceito de boa fé, mas os critérios são
igualmente indeterminados. As duas alíneas consagram dois princípios concretizadores da boa fé: a
tutela da confiança e primazia da materialidade subjacente. O art 3 da diretiva 93/13/CEE não foi
totalmente transporto sendo que é mais claro: uma clausula contratual que não tenha sido objeto de
negociação individual é considerada abusiva quando, a despeito da exigência da boa fé, der origem a
um desequilíbrio significativo em detrimento do consumidor, entre os direitos e obrigações das partes
decorrentes do contrato. O TJUE acrescenta que importa verificar se o profissional, ao tratar de forma
leal e equitativa com o consumidor, podia razoavelmente esperar que ele aceitaria a clausula na
sequência de uma negociação individual. O desequilíbrio significativo exigido tem consagração legal no
art 9/2 b) LDC. O carater abusivo deve ser avaliado tendo em conta a natureza dos bens ou serviços
objeto do contrato e de todas as circunstâncias que rodearam a sua celebração. Além da referida
clausula geral o DL 446/85 contém 4 listas de clausulas proibidas, agrupadas em função da natureza da
relação entre as partes a da intensidade da proibição. As listas não são exaustivas, pelo que na
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circunstância de uma clausula não se encontrar prevista nos art 18, 19,20 e 21, não impede a sua
qualificação como abusiva.
Período de fidelização:
Nos últimos anos generalizou-se inserir clausula relativa ao período de fidelização na aceção dos art
8/1 h) LDC e 4/1 p) do DL 24/2014 em contratos de consumo de execução duradoura. O período de
fidelização é o período mínimo de vigência de um contrato de execução duradoura, sem termo final,
durante o qual os contraentes não lhe podem por fim por via da denúncia. O contrato com termo final
não existe a possibilidade de denuncia e deve ser cumprido integralmente. A prática consiste em
incluir nos contratos de execução duradoura, aparentemente com termo final, uma clausula de
prorrogação de vigência do contrato por igual período se as partes nada disserem em tempo útil,
estabelecendo-se novo período de fidelização. As clausulas que impõem o pagamento de um valor até
ao final do período mínimo de vigência do contrato, em caso de renovação automática têm sido
consideradas abusivas, sendo excluídas. O período de fidelização tem fonte contratual e não legal.
Produz efeitos se inserido numa clausula de um contrato, tratando-se de um CCG, que não pode ser
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negociada pelo aderente. A natureza da clausula só pode ser avaliada em concreto, dependendo da
interpretação das declarações das partes (art 236 a 238 CC e 10 e 11 do DL 446/85). Ao nível da
inserção da clausula no contrato, têm de ser cumpridas as referida regras do DL 446/85 que impõem a
conexão com o contrato, a comunicação e o esclarecimento. Caso contrário é excluída, subsistindo o
contrato sem o período de fidelização. Estas regras devem ser cumpridas quer no contrato inicial
querem eventual alteração posterior, que deve acontecer com acordo das partes, pois modifica os
termos do contrato anterior. O nível de controlo de inserção das clausulas deve ser idêntico ao do
contrato anterior.
Quanto ao conteúdo da clausula não existem regras gerais especificas que estabeleçam limites
objetivos quanto ao prazo dos períodos de fidelização. Em matéria de comunicações eletrónicas prevê
o art 4 DL 446/85 e 5 da lei das comunicações eletrónicas que o período de fidelização não pode
ultrapassar os 24 meses, devendo também serem apresentadas propostas sem fidelização ou com
fidelização por 6 ou 12 meses. Em qualquer caso aplicam-se os art 15 e ss do DL 446/85 que impõem o
controlo de conteúdo das CCG. O controlo do conteúdo de uma clausula de fidelização deve ser feito
tendo em conta os dois elementos da clausula (relativo ao tempo e ao valor a pagar em caso de
incumprimento desse período mínimo). O art 22/1 a) estabelece que são proibidas as CCG que
prevejam prazos excessivos para a vigência do contrato ou para a sua denuncia). A clausula supõe
como é do conhecimento geral, a previa concessão de um certo número de vantagens de ordem
comercial ao aderente em troca da sua especifica vinculação ao período contratual estabelecido.
Podemos concluir que a jurisprudência aponta no sentido de que a validade da clausula que impõe um
período de fidelização depende da existência de contrapartidas para o consumidor apenas pela
manutenção do contrato por um período mínimo impedindo-se a sua renovação sem a existência de
novas contrapartidas.
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De acordo com o AC da TRP 1/4/2014 a fidelização existe para compensar a operadora da despesa
acrescida implícita na promoção que lhe está associada e a clausula penal permite, por um lado,
contrabalançar, através da fixação acordada de uma indemnização, o custo associado ao desrespeito
pelo utente do compromisso assumido que tornou inútil o benefício concedido e impede um ganho
injustificado do utente. Considera-se excessiva uma clausula que preveja o pagamento de um valor
correspondente ao preço contratado para a globalidade do período contratual mínimo, não sendo
admissível uma clausula penal equivalente ao valor correspondente às mensalidades em falta. No
domínio das comunicações eletrónicas, é necessário ter em conta os nº11 a 13 do art 48 da lei das
Comunicações Eletrónicas. O nº12 determina que o valor a pagar deve ser proporcional à vantagem
que lhe foi conferida e como tal identificada e quantificada no contrato celebrado, não podendo
corresponder à soma dos valores das prestações vincendas à data da cessação. O limite é sempre o do
nº11 o utente só é responsável pelo pagamento das vantagens na medida dos custos de instalação.
Em caso de incumprimento do contrato pelo profissional o consumidor tem direito de resolução nos
termos gerais do CC mesmo que dentro do período de fidelização. O profissional não pode exigir
qualquer contrapartida e o consumidor tem direito a indemnização se estiverem os pressupostos da
responsabilidade civil contratual. O profissional vincula-se pelo período de fidelização tanto como o
consumidor.
O art 22/1 e) do DL 446/85 proíbe as CCG que permitam elevações de preços em contratos de
prestações sucessivas, em prazos manifestamente curtos ou para além desse limite, elevações
exageradas. Em geral o art 22/1 c) proíbe CCG que atribuam direito de alterar unilateralmente o
contrato. O incumprimento da clausula de fidelização por parte do consumidor só pode resultar da
cessação do contrato por causa não imputável ao profissional, antes do termo do período mínimo de
vigência do contrato que ocorre em duas situações: denuncia do contrato pelo consumidor dentro do
período de fidelização; resolução pela empresa com fundamento em incumprimento definitivo pelo
consumidor.
Serviços públicos essenciais: nos termos do art 9 nº8 da LDC Incumbe ao Governo adotar medidas
adequadas a assegurar o equilíbrio das relações jurídicas que tenham por objeto bens e serviços
essenciais, designadamente água, energia elétrica, gás, telecomunicações e transportes públicos. E a
lei 23/96 regula certos aspetos dos contratos relativos a serviços públicos essenciais, cuja relevância
resulta da elevada conflitualidade de consumo neste âmbito.
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Âmbito de aplicação da lei 23/96: a lei não se aplica apenas a contratos de consumo, tendo um âmbito
subjetivo mais alargado. O artigo 1º refere-se à proteção do utente e o nº3 define o conceito de
utente. Aplica-se a todos ps contratos em que se verifique a prestação de um serviço publico
essencial, independentemente da natureza jurídica ou da dimensão do utente. Apesar da referência a
serviços públicos, são contratos de direito privaod cuja resolução de litígios compete aos tribunais
comuns. O art 1º/4 esclarece o conceito de prestador de serviço. O carácter publico dos serviços está
relacionado com o interesse geral nestes serviços, sendo a essencialidade remetida para a relevância
na vida dos cidadãos. Tendo em conta a natureza privada, não se pode excluir a possibilidade de
aplicação de CCG por força do art 3º 1 c) DL 446/85.
No que respeita aos serviços abrangidos deve atender-se ao art 1º 2 da lei 23/96, e apesar de se
debater do caracter taxativo é duvidoso que face à letra da lei possam ser acrescentados serviços por
via interpretativa. O serviço de telefone encontra-se novamente abrangido pelo regime, bem como os
outros serviços relativos a comunicações eletrónicas (internet e televisão por cabo). Quanto à
compatibilização do regime da lei 23/96 com a lei das comunicações eletrónicas não se verifica uma
contradição, sendo vantajoso para o utente a aplicação da lei 23/96, sujeitando os prestadores de
serviços a normas que não encontram paralelo na Lei das Comunicações eletrónicas, como a proibição
de imposição de consumos mínimos (8º) e em especial o estabelecimento de um prazo de prescrição
relativamente curto do direito de exigir o pagamento do preço do serviço (art 10º).
Quanto à agua, eletricidade e gás, o contrato não consiste no simples fornecimento de uma
quantidade, caso contrario seriam CCV, mas na disponibilização de um sistema de abastecimento que
permite ao utente a utilização da quantidade efetivamente consumida.
Dever de contratar: a Lei 23/96 não contém qualquer norma que imponha expressamente o dever de
contratar, sendo que este não pode ser inferido da articulação dos preceitos 3 e 4 do respetivo
diploma. Quanto às comunicações eletrónicas, a respetiva lei acolhe o conceito de serviço universal,
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transpondo a diretiva 200/22 CE sendo que do art 88/1 se retira uma efetiva imposição do dever de
contratar, balizada e regulada pela ANACOM.
Suspensão da prestação do serviço: o art 5 da Lei 23/96 consagra o princípio da continuidade, pelo
que os serviços públicos essenciais devem ser prestados de forma interrupta. Nos termos do nº1
impõem-se que o prestador de serviço avise previamente o utente de que o fornecimento do serviço
poderá ser suspenso. Esta regra não se aplica se a suspensão for devida a causa fortuita ou de força
maior. O nº2 regula os casos de mora do utente, e articulado com o nº 3 se impõem que o utente tem
de ser informado da possibilidade de suspensão, com antecedência razoável e dos passos que deve
dar se pretender evitar a suspensão ou se esta já tiver tido lugar, se quiser voltara a beneficiar da
prestação do serviço. A notificação deve ser feita por escrito, e embora n´~ao se exiga carta registada,
esta é aconselhável para efeitos de prova do pré-aviso que cabe ao prestador de serviço. O nº4
reforça a posição do utente pois sendo dissociáveis os serviços, não pode ser suspensa a prestação de
um na sequência da falta de pagamento de outro. O critério é o da indissociabilidade funcional e não
da indissociabilidade jurídica ou contratual. Em estreita articulação com este preceito encontra-se o
art 6 da lei 23/96, que se não fosse assegurado o direito aí previsto inutilizaria o efeito útil do art 5
nº4.
No que respeita aos serviços de comunicações eletrónicas o regime é menos favorável para o
consumidor (incompreensível) aplicando-se o art 52-A da LCE. O nº1 deste artigo alarga o prazo de
pré-aviso da lei 23/96 para 30 dias. O nº2 determina que o mesmo deve ser comunicado por escrito
ao consumidor e o respetivo conteúdo, incluindo a resolução automática apos a suspensão do serviço.
Significa que mesmo que não o queira fazer, o prestador do serviço de comunicações eletrónicas tem
o dever de desencadear o mecanismo que conduzir à à suspensão do serviço e sequente resolução do
contrato, no prazo de dez dias após a data de vencimento da fatura, sem possibilidade de acordarem
dilação deste prazo (art 3). A suspensão só pode ser evitada pelas partes se celebrado acordo de
pagamento por escrito com vista à regularização dos valores em divida. A suspensão também não tem
lugar nos termos do nº4 perante uma reclamação com fundamento na inexistência ou inexigibilidade
da divida. Se o consumidor pagar os valores em divida ou existir o acordo para pagamento cessa a
suspensão nos termos do nº6. O nº 7 reitera o dever de resolver o contrato pelo prestador de serviço.
Este regime parece ter tido como objetivo resolver o problema das pendencias nos tribunais
portugueses e combater o sobre-endividamento dos consumidores. Mas não se evita a propositura de
ações em tribunal pois será sempre devido o valor ao mês que desencadeou este procedimento mais
o correspondente à prestação do serviço nos 40 dias seguintes, concorrendo também para a
acumulação de dividas pelo consumidor. Também o nº 8 estabelece a possibilidade de uma
18
contrapartida a título indemnizatório ou compensatório pela resolução durante o período de
fidelização. Se a empresa decidir continuar a prestar o serviço depois de ultrapassados os prazos
legalmente previstos, deixa de poder exigir o seu pagamento (art º), compelindo o prestador de
serviço à resolução.
Direito a faturação detalhada: o art 9nº1 estabelece o direito sendo que o número 2 refere a sua
periodicidade mensal. No nº3 coloca-se a possibilidade de fatura detalhada a pedido do consumidor
para os serviços de comunicações eletrónica.
O elemento literal de interpretação da lei não resolve a questão de saber se a fatura deve ser emitida
por via eletrónica ou em papel e disponibilizada gratuitamente, mas os elementos sistemáticos e
teleológicos apontam para o envio gratuito através de um meio acessível ao utente. O dever de emitir
fatura está associado ao direito à informação, DF consagrado no art 60 CRP e 3d) e 8 da LDC. O
exercício do direito à informação não pode estar associado a quaisquer custos, nem ser impedido por
via da exigência de conhecimentos técnicos. O art 9/3 da lei 03/96 deve ser interpretado de forma
atualista, pelo que a fatura pode ser prestada através de qualquer meio que permita ao utente
conhecer a razão de ser dos valores. A interpretação da lei deve também levar a que a solução
adotada seja a mais eficaz na proteção do ambiente.
Prescrição e caducidade
19
de prescrição conta-se a partir da data em que terminar o período de faturação em causa e o direito
puder ser exercido (art 106/1 CC). Para efeitos de prescrição, o momento relevante é o último dia do
período mensal de referência para efeitos de faturação.
A questão pode colocar-se também relativamente ao crédito de juros, no caso do crédito principal ter
prescrito no prazo de 6 meses previsto no art 10 da lei 23/96. Apesar do caracter acessório do crédito
de juros relativamente ao principal, é necessário ter presente o art 561 do CC. De acordo com o Ac
TRL 20/12/2016 a obrigação de juros surge em consequência da obrigação de capital, visto que
representa um rendimento dele, logo é ontologicamente incompreensível conceber a existência dessa
obrigação quando o dever de que ela depende deixou de existir ou se tornou inexigível. O risco de
acumulação de dividas e de sobre-endividamento que está na base da consagração de um prazo curto
de prescrição, existe quer para obrigação principal como para a de juros. Se se aplicasse o art 310 d)
CC seria alargar o prazo de seis meses para cinco anos o que contraria o espírito do regime. A
aplicação do art 10 da lei 23/96 aos créditos de juros.
A prescrição como a caducidade não é de conhecimento oficioso, podendo ser invocada judicial ou
extrajudicialmente (art 303 CC). Sendo a prescrição invocada pelo utente em oposição a requerimento
de injunção, o autor deve responder à exceção na ação declarativa subsequente sob pena do juiz
poder conhecer de imediato do mérito da causa.
O CCV para consumo é um subtipo do CCV. A este aplica-se as regras gerais do código civil, da Lei da
Defesa do consumidor e outros diplomas para proteção dos consumidores e o DL 67/2003 que
procede à transposição da diretiva 1999.
20
Ao contrário da diretiva, aplica-se a coisas móveis e imóveis (art.º 1-Bº, al. B) (exclui os bens
incorpóreos, sem existência física, como os bens intelectuais ou os direitos de autor.
Caso de terceiro adquirente – transmitem-se os direitos e a garantia. A transmissão dos direitos não
implica a alteração dos prazos legalmente previstos para o seu exercício, continuando a relevar o
momento da primeira alienação do bem – Art.º 4. Deve interpretar-se restritivamente o art.º 4, n.º 6,
pois o espírito é que o terceiro adquirente seja também um consumidor, não se aplicando se for
profissional.
O art.º 406º, n.º 1 do C.C., estabelece o princípio da pontualidade dos contratos e o art.º 762º, n.º 1
determina que o devedor cumpre a obrigação quando realiza a prestação a que está vinculado. Alguns
autores entendem que a noção de conformidade se retira destes preceitos, mas a prática demonstra
que a falta de conformidade não se equipara ao incumprimento das obrigações.
Na transposição da diretiva 1999/44 CE, a noção de conformidade acaba por não ser consagradas no
C.C. A noção de desconformidade abrange os vícios da coisa objeto do contrato e os vícios de direito.
Só é conforme o contrato o objeto que seja entregue ao consumidor sem qualquer limitação física ou
jurídica.
Quanto a diferença de identidade quando entregue um bem diferente do acordado, a reparação não é
possível e a substituição depende da entrega de um bem diferente.
O art.º 2º contêm critérios que tem como objetivo definir os elementos que integram o contrato.
O Art.º 2º, n.º 2 deve ser interpretado no sentido de não consagrar uma presunção. O facto de não
estarmos perante um raciocínio indutivo baseado em regras de enunciação dos factos integrante de
previsão da norma que estatui a desconformidade do bem com o contrato.
21
Se se tratasse de uma presunção o vendedor tria de provar, para ilidir a presunção, que apesar do
bem não corresponder a descrição, este é conforme o contrato, sendo a prova inconcebível.
Em princípio as regras acordadas pelas partes prevalecem sobre os critérios legais definidos no art.º
2º, n.º 2, mas o afastamento de um critério legal tem de ser analisado face ao art.º 16º, n.º 1. Assim, a
possibilidade de conformar o conteúdo do contrato encontra-se limitado.
Descrição entendida como qualquer declaração do vendedor, dirigida ao público (através de cartaz ou
catálogo, ou diretamente ao consumidor). A declaração integra o conteúdo do contrato, devendo a
prestação recair sobre o objeto que tem as características descritas e que cumpre os objetivos
referidos - correspondência absoluta.
As partes não podem excluir a relevância da discrição pelo vendedor, que tradicionalmente,
meramente indicativa, mas atua vinculativa para o profissional. Assim, uma declaração faria com que o
conteúdo promocional perdesse toda a sua eficácia prática.
O vendedor fica vinculado pela descrição precisa, concretas e objetivas – nos termos gerais do art.º
236º C.C. - O declaratário normal não conta com um sentido que passe pela vinculação do vendedor a
cláusulas genéricas, vagas e/ou subjetivas.
Não é válido uma cláusula que exclua a relevância contratual de qualquer descrição feita pelo
profissional.
2. Conformidade com uma amostra ou modelo (art.º 2º, n.º 2 al.a), in fine)
O regime de compra e venda de coisas defeituosas do C.C., já continha uma norma neste sentido (art.º
919º C.C.) Apenas em algumas circunstâncias em que o vendedor esclareça o consumidor de o bem
vendido não tem a mesma identidade da amostra, essa cláusula pode ser válida.
Modelo - reprodução em pequena escala de uma imagem ou um pequeno objeto que se pretende
fazer com dimensões maiores. Assim, as fotografias inseridas em catálogos ou em cartazes devem
corresponder ao bem contratado.
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Não é válida uma cláusula contratual geral que exclua a vinculação do profissional à amostra ou
modelo apresentado (art.º 21º, al. C) DL 446/85). A conclusão será a mesma se negociado (art.º 2º e
10º DL 67/2003).
Deve ser admitida uma declaração do profissional indicando que a amostra ou modelo não
corresponde ao bem ou serviço, limitando-se o consumidor a aceitar esse elemento.
O consumidor conhece o elemento de diferente em relação a amostra ou modelo, não existindo falta
de conformidade (art.º 2º, n.º 3). Conclusão, só é válida no caso da variação em relação à amostra ou
modelo ser esclarecida pelo profissional, com indicação dos aspetos com que o bem ou serviço objeto
do contrato diverge em relação aquela.
A análise da conformidade é feita objetivamente. Este deve ser apo para as utilizações habituais, não
sendo suficiente a adequação a utilização mais habitual. O critério deve ser objetivo, não revelando
utilizações específicas de um consumidor em concreto, protegendo-se quer o consumidor médio quer
o consumidor que tenha conhecimentos especiais relativos ao bem. As utilizações habituais são as que
permitem retirar do bem a sua utilidade normal, coordenando com a sua frequência.
Aas Partes não podem acordar em termos vagos que o bem não tem aptidão para uma ou todas as
utilizações habituais, pois todas se encontram protegidas pelo regime legal.
Só em concreto se pode apreciar a relevância da indicação pelo profissional que o bem/serviço não é
apto para uma das suas utilizações habituais, quando a sua restrição não é expectável para o
consumidor, mas em regra não é admissível.
O bem também deve ser adequado nos usos específicos a que o consumidor o destinou, mas é
necessário que tenha havido acordo das partes no sentido da inclusão desse uso no âmbito do
contrato. Se, em algum momento prévio à celebração do contrato, tiver sido feito uma referência ao
uso específico, a qual integra o contrato, se o vendedor a tiver aceitado. A aceitação consiste na não
contradição.
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consumidor no período pré-contratual impede-o de invocar qualquer cláusula contraditória, que
afetaria o conteúdo imperativo do preceito, pondo em causa o interesse do consumidor
Não estão em causa as utilizações habituais que alude a al. C), mas as próprias características do bem
de consumo objeto contratado. O bem deve ser apresentado todas as particularidades ao nível da
essência e performance – que o consumidor pode razoavelmente esperar (a natureza do bem, as
declarações públicas feitas pelo vendedor, produtor ou representante). No conceito de desempenho
deve ser incluído uma referência temporal, assim a falta de conformidade pode manifestar num mau
funcionamento posterior e por causa não imputável ao consumidor.
A razoabilidade deve ser avaliada segundo um critério objetivo tendo como referência. Um
consumidor médio e com poucos conhecimentos na área do bem em causa. Não releva a espectativa
do consumidor em concreto.
Deve também ter-se em conta a natureza do bem (novo/usado, tipo, material). Não releva o preço,
pois tal contrariaria o espírito do diploma.
Se a coisa for genérica, a verificação da conformidade tem como referência o género acordado, com
base nas características identificadas como essenciais.
Sendo coisa específica a verificação da qualidade do desempenho deve também ter em conta a sua
natureza. Se a coisa for infungível, as qualidades e desempenho estão ligados a circunstância que
gerou essa infungibilidade.
6. Relevância contratual da publicidade e da rotulagem (art.º 2º, n.º 2 do DL 67/2003 e artº 7º,
n.º 5 LDC)
A publicidade é um dos principais técnicas utilizadas pelas empresas para promover a celebração dos
contratos. Apesar de regulada de forma rigorosa regista-se total ineficácia na aplicação prática do
regime legal. Se um profissional com o intuito de enganar os consumidores publicita determinadas
características de um bem ou serviço, deve ficar vinculado a essa declaração, incumprindo o contrato
no caso de bem ou serviço não apresentar essa característica.
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Aplicando os princípios gerais do direito civil relativos à celebração do contrato e a determinação do
seu conteúdo, deve entender-se que as mensagens publicitárias ou constantes de rotulagem sobre os
quais incida o acordo das partes, constituem cláusulas contratuais.
O Art.º 7º, n.º 5 LDC e at.º 2, n.º 2 al d) DL 67/2023, aludem à necessidade de que as informações
sejam concretas para que possam ser incluídas no conteúdo do contrato, acrescentando-se uma
referência à natureza objetiva das informações. Referências abstratas não se podem traduzir em
cláusulas contratuais. Mesma conclusão se as mensagens forem totalmente subjetivas, referência as
qualidades e desempenho habituais devem ser lidos no sentido das qualidades e desempenhos
possíveis de um ponto de vista físico ou legalmente admissível.
O critério para definir a conformidade das instruções deve ser feita pelo consumidor médio daqueles
produtos. Se estiverem tecnicamente corretas, mas de complexidade que impeça a compreensão, não
se pode considerar conforme.
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B. A possibilidade de imputação da falta de conformidade a um facto do consumidor.
Em caso de resposta afirmativa, não se trata do consumidor conhecer a falta de conformidade, mas
apenas o defeito ou ónus.
Aqui não há desconformidade, tal como na venda de um bem com defeito, em que o consumidor
conhece a imperfeição e ainda assim decide celebrar o contrato.
A norma é clara ao estabelecer que o conhecimento tem como referência o momento da celebração
do contrato e não a do cumprimento da obrigação de entrega por parte do vendedor, pelo que não
existe qualquer ónus de examinar a coisa comprada.
Questão resolvida no art.º 9º al. C) da LDC, em que estabelece que numa relação de consumo, o risco
transfere-se para o consumidor no momento da entrega.
O vendedor responde se não entregar um bem conforme (art.º 3º, n.º 1), mas esta norma não altera
as regras relativas à distribuição do risco.
O vendedor tem o dever de entregar ao consumidor o bem em conformidade com o contrato. Não
cumpre este dever com a simples entrega do bem no estado em que se encontrava no momento da
celebração do contrato. A conformidade com o contrato afere-se pela comparação entre o bem,
acordado pelas partes e o bem entregue ao consumidor.
No regime geral do código civil, tratando-se de compra e venda de coisa de venda específica, o risco
transfere-se para o comprador por mero efeito do contrato (art.º 408º, n.º 1 e 796º, n.º 1), a não ser
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que continue em poder do alienante (art.º 796º, n.º 2). Tratando-se de coisa genérica, o risco
transfere-se com a concentração da obrigação (art.º 408º, n.º 2 e 541º). Na compra e venda de bens
de consumo não releva a distinção e o risco transfere-se no momento da entrega. Aplica-se um
regime especial face a distribuição do risco, correndo o risco de perecimento ou deterioração antes da
entrega por conta do vendedor, transferindo-se para o consumidor no momento da entrega.
A determinação do momento da entrega é muito relevante, uma vez que os prazos de garantia de
conformidade e da dispensa ou liberação legal do ónus da prova de anterioridade da falta de
conformidade se contam a partir dessa data (art.º 3º, n.º 2)
Esta regra liberta o consumidor da difícil prova da existência da falta de conformidade no momento da
entrega do bem. Se deixa de funcionar um ano após a entrega, o comprador tem de provar o defeito
de funcionamento e a lei liberta-o da prova que esse defeito já existia no momento da entrega,
embora se tenha manifestado posteriormente.
O vendedor tem de provar o facto concreto, posterior à entrega, que gerou a falta de conformidade. A
principal via utilizada pelos profissionais consiste na prova do mau uso ou uso incorreto do bem pelo
consumidor.
A regra da dispensa ou liberação do ónus da prova é incompatível com a natureza da coisa se se tratar
de um bem de desgaste rápido (vale apenas liberação durante esse período) ou sujeito a um prazo de
validade (aplicável a esse prazo).
O consumidor não está obrigado a provar a causa da falta de conformidade nem que é imputável ao
vendedor e a responsabilidade deste só pode ser excluída se demonstrar que a causa ou origem da
desconformidade assenta em circunstâncias ocorrida depois da entrega do bem.
Direitos do consumidor
O art.º 4º, n.º 1 DL 67/2003 estabelece os direitos do consumidor na falta de conformidade do bem
com o contrato. Além destes, o consumidor também pode:
27
c. Exigir uma indemnização como consequência da desconformidade, verificados os
pressupostos.
I. impossibilidade;
2. Não sendo possível, exigir a redução do preço ou a resolução do contrato (art.º 3º, n.º 5 e 6)
Para quem entenda no direito Português que existe uma hierarquia, essa não pode existir entre a
reparação e a substituição, pois tal significaria uma incorreta transposição da diretiva.
A jurisprudência oscilou entre a existência de hierarquia e a livre escolha pelo consumidor, dos seus
direitos, apenas limitado pelo abuso de direito (inexistência de hierarquia).
A lei atual parece ser clara na inexistência de hierarquia, no sentido da escolha caber ao consumidor.
Uma vez efetuada a escolha pelo consumidor, esta é irreversível. Em juízo, o consumidor deve fazer o
pedido indicando o direito que pretende exercer, podendo invocar a título subsidiário um segundo,
terceiro ou quarto direito para o caso do anterior não ser concedido.
O art.º 4º, n.º 5 estabelece que o consumidor pode exercer qualquer dos direitos exceto no caso de
impossibilidade ou abuso de direito.
Quanto ao abuso de direito, os requisitos não são menos exigentes que os do art.º 334º C.C., logo este
tem de se verificar para concluir do carácter da escolha abusiva pelo consumidor.
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No art.º 334º C.C. deve entender-se a desproporcionalidade entre a vantagem do titular e a
desvantagem do outrem pode caber no âmbito deste preceito, desde que preenchido os
pressupostos.
Embora se reconhece o potencial do respeito pelo fim social ou económico do direito, a doutrina e a
jurisprudência tem reduzido a análise ao respeito pelo princípio da boa fé no que respeita a limitação
da escolha do consumidor.
A não reposição da conformidade do bem com o contrato por parte do vendedor, nomeadamente
através da reparação (ou substituição), afasta a qualificação como abusiva de escolha pelo consumidor
de outro direito, como a resolução do contrato.
O bem vendido a prestações, a falta de pagamento de uma ou mais prestações não impede o exercício
de qualquer um dos direitos pelo consumidor. O que não impede o vendedor de exercer os seus
direitos por incumprimento contratual.
DIREITOS DO CONSUMIDOR:
Reparação do bem
Operação material sore a coisa transformando-a para que passe a estar conforme o contrato.
Também se considera reparação um ato que não afetando diretamente o bem, altera alguma
faculdade a ela inerente (como a desconformidade resultar de um registo, garantir ou cumprimento
de uma obrigação).
O Art.º 4º, n.º 2 DL 67/2003, reparação com prazo razoável, no caso de imóvel, e 30 dias no caso de
móvel.
O prazo razoável continua a ser o critério dos bens imóveis. Conceito indeterminado, aferido
casuisticamente e auxiliado pelo princípio da boa fé - art.º 762º n.º 2 C.C:
A reparação (bens móveis e imóveis) feitas sem grande inconveniente para o consumidor, sendo o
conceito concretizado casuisticamente. No caso da reparação não ser realizada nos prazos referidos, o
vendedor incorre em responsabilidade contraordenacional (art.º 12-Aº, n.º 1, a) Dl 67/2003). Além
desta sanção, o consumidor pode optar pela resolução do contrato (solução que resulta do espírito do
regime).
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De acordo com o art.º 4º, n.º 1 – reposta a conformidade sem encargos para o consumidor (reparação
e custos de envio do bem para o vendedor).
Se o consumidor não obter resposta pelo vendedor para o seu pedido, se nos prazos, o bem não for
reparado, deve considerar-se definitivamente incumprido o contrato, pelo que o consumidor pode:
I. Resolver o contrato;
Substituição do Bem
Existe sinalagma entre as duas obrigações pelo que o vendedor só pode recusar a substituir sem a
entrega do bem desconforme.
Tal como a reparação, a substituição deve ocorrer em prazo razoável, no caso de imóvel e 30 dias em
caso de móvel, sem grave inconveniente para o consumidor (art.º 4º, n.º 2) aferido casuisticamente.
O consumidor pode sempre exigir a substituição, exceto (art.º 4º, n.º 5):
a) Impossível;
b) Abuso de direito.
Estes princípios resultam da boa fé no comportamento das partes, não havendo razão para uma perda
de confiança em relação ao bem, se o defeito puder ser reparado imediatamente e rapidamente pelo
vendedor, o comprador não pode exigir a substituição do bem ou a resolução do contrato, sob pena
de exercício abusivo do direito de substituição (Ac. Tribunal da Relação de Lisboa 6/7/2017)
A substituição deve ser feita sem encargos para o consumidor (incluindo despesas de devolução, envio
ou recolha do novo bem).
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O consumidor não pode proceder a substituição do bem a sua custas, exigindo depois o pagamento
do valor correspondente, mas já poderá fazer se o vendedor não substituir o bem nos prazos
legalmente previstos.
Resolução do contrato
Implica a destruição dos seus efeitos, eficácia retroativa, nos termos do art.º 434º C.C. O fundamento
é a desconformidade do bem com o contrato, implicando a devolução do valor paro pelo consumidor,
que não pode ser creditado em eventuais futuros contratos.
A resolução é feita por declaração do consumidor ao profissional (art.º 436º, n.º 1 CC). Não existindo
hierarquia entre os direitos, o consumidor pode exigir imediatamente a resolução do contrato em
caso de desconformidade do bem. Não foram transpostas para a lei portuguesa os art. ºs 3º, n.º 5 e 6
da diretiva de 1999/44 CE, que faziam depender a resolução do contrato de circunstância da
reparação ou substituição não terem reposto a conformidade, ou que não existe direito a resolução se
a desconformidade for irrelevante.
De acordo com o art.º 4º, n.º 4, o direito de resolução pode ser exercido mesmo que o bem tenha
perecido ou deteriorado por motivo não imputável ao consumidor, sendo que o bem não está
conforme o contrato. O risco corre pelo vendedor a partir do momento em que se revela a falta de
conformidade.
Afasta-se da aplicação do art.º 432º, n. º 2 do C.C. Assim, se o bem desconforme com o contrato
parecer ou deteriorar após denúncia e antes da reposição de conformidade, o consumidor pode
resolver o contrato, salvo se lhe for imputável.
A resolução tem efeito retroativo (art.º 434º, n.º 1CC) e a falta de conformidade presume-se existente
no momento da entrega (art.º 5º DL 67/2003) pelo que a regra é a de que o consumidor não tem de
pagar qualquer utilização do bem, é ressarcido na integra.
Redução do Preço:
Em caso de falta de conformidade do bem com o contrato, o consumidor pode também exercer o
direito à redução do preço, sendo estatisticamente menos utilizado, pressupondo a vontade do
consumidor ficar com o bem mesmo desconforme.
O Diploma não determina o valor da redução, mas este deve ser apurado objetivamente e, na falta de
critérios, podem aplicar-se as normas do C.C. que regulam a redução do preço (art.º 884), da venda de
bens onerados (art.º 911º) e de empreitada defeituosa (art.º 1222º).
31
A redução do preço corresponde a desvalorização do bem imposto pela desconformidade, devendo o
vendedor restituir o correspondente na sequência do exercício do direito do consumidor, equilibrando
as prestações.
O exercício extrajudicial deste direto depende da existência de um acordo quanto ao valor da redução.
O direito de redução pode ser exercido várias vezes no caso de várias faltas de conformidade.
Nada impede, em caso de acordo, a utilização desta solução em conjunto com a reparação ou
substituição do bem. Na falta de acordo, pode apenas cumular um dos direitos com um pedido de
indemnização.
Recusa da prestação:
O consumidor pode recusar-se a receber o bem desconforme com o contrato. Considera-se que o
vendedor ainda não cumpriu a sua obrigação de entrega do bem, podendo ou não, ainda corrigir a
prestação.
O consumidor pode recusar-se a pagar o preço enquanto o vendedor não lhe entregar um bem em
conformidade com o contrato, constituindo um meio de pressão com vista ao cumprimento da
obrigação pelo vendedor. O regime encontra-se previsto no art.º 428º a 431º, aplicando-se aos
contratos abrangidos pelo âmbito de aplicação do DL 67/2003.
Indemnização:
Independentemente do exercício de um dos direitos previstos na lei, o consumidor tem direito a ser
indemnizado pelos danos causados pela desconformidade do bem com o contrato. Possibilidade que
resulta dos princípios gerais do cumprimento dos contratos e do art.º 12º, n.º LDC.
32
patrimoniais e não patrimoniais (estes últimos, na prática, pouco ressarcidos pelos Tribunais). Não
relevam os simples incómodos ou contrariedade inerentes ao litígio do consumo (Antunes Varela).
PRAZOS:
Prazo dentro do qual o consumidor tem direito a reagir face a uma manifestação de falta de
conformidade do bem.
Art.º 2º, n.º 1 e 3º, n.º 1 – O consumidor tem direito a um bem em conformidade com o contrato,
respondendo o vendedor por qualquer desconformidade, que se presume que as faltas de
conformidade se manifestem no prazo de 2 ou 5 anos da data de entrega (móvel/imóvel) existiam
nessa data (art.º 3º, n.º 2).
Art.º 5º, n.º 1 – equipara o prazo de garantia legal de conformidade ao da presunção de anterioridade
dos defeitos, pelo que coincide o prazo dentro do qual o consumidor pode reagir.
O consumidor que pretende exercer um dos direitos previstos na lei não tem a seu cargo o ónus de
prova da existência da desconformidade no momento da entrega, apenas que se manifestou dentro
do prazo previsto.
O direito Português é mais favorável ao consumido. A aplicação de uma presunção de apenas 6 meses
teria tido como consequência uma diminuição da proteção dos consumidores portugueses. Tratando-
se de uma diretiva de harmonização mínima, a solução adotada não implica a sua incorreta
transposição.
No caso de coisas imóveis, qualquer desconformidade que se manifeste num prazo de 5 anos tem o
regime previsto no art.º 4º do DL 67/2003. Aplica-se o conceito de coisas imóvel do art.º 204º CC,
incluindo as partes integrantes.
No caso de coisa móvel, o consumidor pode exercer estes direitos se a desconformidade se manifestar
num prazo de 2 anos a partir da entrega. O prazo pode ser reduzido para um ano*, por acordo, se se
tratar de coisa móvel usada (art.º 5º, n.º 2). Se prescindir da totalidade do prazo, este será de 2 anos.
33
O acordo entre as partes não produz efeitos se resultar de cláusulas contratual geral (art.º 21º d) DL
446/85).
*Solução conforme a diretiva e fundada numa menor expectativa do consumidor pelo facto dos bens
serem em segunda mão, mas duvidoso perante bens valiosos.
Art.º 5º, n.º 6 – No caso do consumidor optar pela substituição do bem, o segundo bem goza de novo
prazo de garantia legal de conformidade.
Art.º 5º, n.º 7 – prazo suspende-se na data de denuncia durante o período que o consumidor estiver
privado dos seus bens, recomeçando quando o bem é devolvido.
A norma aplica-se apenas quando o consumidor opte pela reparação ou redução do preço. No caso de
substituição, aplica-se o art.º 5º, n.º 6.
Prazo para o exercício dos direitos (não cumprimento leva à perda do direito pelo consumidor)
Art.º 5-Aº, n.º 2 DL 67/2003 - 2 meses no caso de móveis; 1 ano no caso de imóvel. O prazo conta-se
da data em que desconformidade foi detetada.
A Denuncia tem como objetivo informar o vendedor da desconformidade do bem, não revelando se
este tinha conhecimento da mesma.
A denuncia não está sujeita a forma especial, podendo ser feita oralmente junto do vendedor ou um
funcionário, pois o consumidor não tem que conhecer dos poderes deste.
34
A denuncia pode ser feita nos articulados da ação ou resultar do contato de um terceiro no âmbito de
um processo de mediação.
A falta de conformidade que se revele depois da denuncia não se encontra abrangida por esta,
devendo também ser denunciada.
No regime da compra e venda de coisa defeituosa, o comprador não tem o dever de denunciar o
defeito no caso do vendedor ter usado de dolo (art.º 916º, n.º 1 CC). Exceção aplicada por analogia à
venda de bens de consumo, sendo o regime do CC mais favorável ao consumidor e afastando a lei
especial.
Dolo refere-se ao conhecimento do defeito e sua ocultação, pelo que a denuncia, enquanto tem como
objetivo dar a conhecer a desconformidade ao vendedor, torna-se desnecessária.
Caducidade da ação:
Após a denuncia, a lei impõe um prazo para o consumidor exercer judicialmente os direitos de
reparação do bem, substituição do bem, redução do preço ou resolução.
O prazo era inicialmente de 6 meses diminuindo a proteção dos consumidores, implicando também
transposição incorreta da diretiva 1999/44 CE.
Aplicam-se as regras gerais sobre a caducidade pelo que tem de se observar se se verifica alguma
causa impeditiva (artº 331 CC). Se o vendedor admitir a falta de conformidade, o prazo de caducidade
deixa de correr, podendo o direito ser exercido pelo consumidor após o seu termo (art.º 331º, n.º 2
CC).
Art.º 5-Aº, n.º 4 – prazo de caducidade suspende-se nos casos aí previstos. Traduz numa das suas
vertentes a tentativa de resolução do litígio sem que esteja pressionada pelo prazo de caducidade,
dando também a conhecer ao consumidor formas mais céleres e económicas para a resolução de
litígios.
35
Responsabilidade pela reposição da conformidade:
Art.º 6º DL 67/2003 - O consumidor pode dirigir-se quer ao vendedor, quer ao produtor, e até em
simultâneo aos dois para satisfação da sua pretensão.
A responsabilidade do produtor não é tão ampla como a do vendedor, tornando o exercício dos
direitos perante este último mais vantajoso para o consumidor.
O produtor não é parte no contrato com o consumidor, considera-se que não é responsável pela
desconformidade com a declaração dos contraentes.
(crédito ao consumo e hipotecário) - se for fiança não se aplica, pois, o fiador não é consumidor e a
garantia acessória.
Conceito art.º 4º, n.º 1 al c) - define contrato de crédito. Pressupõe a existência de uma relação
jurídica de consumo, devendo o consumidor definido nos termos do art.º 4º, n.º 1 al a) e o profissional
denominado credor nos termos do art.º 4º, n.º 1 al. B).
II. A lei recorre a uma noção ampla para caracterizar o contrato de crédito, bastando a
concessão ou promessa de concessão de um crédito.
Diferente do art.º 1142º CC – No crédito ao consumo, além do contrato não poder ser qualificado
como quad constitutionem, a letra e o espírito do diploma apenas abarcam o empréstimo de dinheiro
36
e não o de outra coisa fungível e encontram-se abrangidos unicamente os contratos de mútuo
oneroso (art.º 2º, n.º 1 al e))
Por uma instituição de crédito (pode ou não existir ligação a um outro contrato celebrado com
um terceiro)
Se não existir, o consumidor pode utilizar o dinheiro com tendencial liberdade, tratando-se de
uma relação bilateral (instituição de crédito e consumidor).
No art.º 4º, n.º 1 al. D), assume.se também a modalidade de facilidade de descoberto.
Taxa anual de encargos efetiva global (TAEG) - conceito e função art.º 4º, n.º 1 art.º 24º, regula o
cálculo da TAEG.
TAEG constitui elemento muito relevante ao longo da fase pré-contratual e momento da celebração
do contrato (art.º 5º, 6º, n.º 3 al g), art.º 12º, n.º 3; consequência art.º 12º, n.º 3 e 5.
Deveres pré-contratuais:
1. Publicidade, regulada no art 5º DL 133/2009 e art.º 11,n.º 5 - não encontra paralelo com a
diretiva 2008/48/CE.
Deveres de informação:
a) O credor tem de emitir uma declaração que constitua uma comunicação comercial;
O art.º 5º do regime do crédito ao consumo. Norma que se apta quer a comunicação dirigidas ao
público e especificamente a um consumidor.
37
A Lei também não opera qualquer distinção com função de suporte utilizado para divulgação.
Art.º 6º DL 133/2009 - art.º 3º da diretiva 2008/48 CE – quais os elementos relativos ao contrato a que
o consumidor deve ter acesso antes da celebração.
Formação do contrato:
Art.º 12º ,n.º 1 e 2 DL 133/2009 - condições de legibilidade – dificilmente a forma pode não ser a
escrita. Deve dar garantias da durabilidade face ao acesso à informação nela contida.
Exceciona-se a liberdade de forma do art.º 219º CC, para consciência de celebração de contrato e para
prova.
A prova de entrega do exemplar do contrato de crédito cabe ao credor pela aplicação da teoria da
distribuição da dinâmica do ónus da prova, sendo mais difícil a prova pelo consumidor.
A inobservância da forma legal acarreta a nulidade do contrato (art.º 13º, n.º 1 DL 133/2009 e 220º
CC, noa termos gerais e opera-se o contrato não for celebrado por escrito, em papel ou suporte
duradouro (incluindo assinaturas doas partes) ou se não entregue exemplar ao consumidor,
presumindo-se estas omissões imputáveis ao credor (art.º 13º, n.º 4).
é uma nulidade atípica podendo ser apenas invocada pelo consumidor. A nulidade não é de
conhecimento oficioso quando o consumidor pretenda a manutenção do contrato. A entrega do
exemplar posteriormente ao legalmente exigidos não convalida a invalidade.
38
Se apesar da nulidade do contrato, o montante vir a ser concedido ao consumidor e este agir em
conformidade com uma celebração válida, admite-se que o financiador posso recorrer ao abuso de
direito (art.º 334º CC).
A fiança é nula se não for entregue exemplar do contrato assinado pelo garante, não sendo nulo o
contrato de crédito.
Prazo art.º 17º, n.º 1 – 14 dias de calendário aplicando-se p art.º 279º, c) CC., pelo que se terminar em
domingo/feriado transfere-se o seu termo para o primeiro dia útil seguinte, contando-se a partir da
celebração do contrato – art.º 17, n.º 2.
Sem esquecer que não cumprindo os requisitos formais, o contrato é nulo (art.º 13º, n.º 1).
Forma – art.º 17º, n.º 3 – expedir a declaração pelo consumidor em papel ou suporte duradouro à
disposição do credor com os requisitos do art.º 13º, n.º 3 al. H).
Nota: Podem as partes acordarem no sentido do montante só ser disponibilizado após o decurso do
prazo para o exercício do direito de arrependimento, verificando um contrato sob condição
suspensiva.
39
Efeitos do exercício do direito - consequências previstas no art.º 17º, n.º 4 – o consumidor deve
devolver o capital e pagar os juros relativos ao período em que o valor foi utilizado.
Outro efeito resulta do art.º 18º, n.º 1 e 5, que consiste na sua repercussão em qualquer contrato
coligado com o contrato de crédito ou relativo a um serviço acessório com ele conexo prestado pelo
credor ou por terceiro. Extinto os efeitos do contrato de crédito, extinguem-se os efeitos do contrato
coligado ou conexo.
Cumprimento antecipado do contrato pelo consumidor (art.º 19º) - procura-se conciliar interesses
contrapostos. O financiador tem interesse na manutenção do contrato e o consumidor pode ter
interesse me reduzir a contraprestação, prescindindo do benefício do prazo.
Art.º 19º, n.º 1, permite o exercício do direito de cumprimento antecipando o contrato de crédito
desde que cumprido com o n. º2.
O art.º 26º, refere que o consumidor não pode renunciar aos direitos atribuídos pelo diploma, sendo
nula a estipulação em contrário.
Segundo o regime do art.º 781º CC, a não realização de uma das prestações implica o vencimento de
todas as outras, possibilidade conferida ao credor, pelo que a produção do efeito opera na sequência
da comunicação dirigida ao devedor pelo credor.
40
Tratando-se de CCV a prestação aplica-se o regime especial do art.º 934º CC, que interpretado a
contrário sensu, implica a perda do benefício do prazo se preenchidos os pressupostos.
O DL 133/2009 consagrou um regime especial para o contrato de crédito ao consumo – art.º 20º, n.º 1
e 2. O credor não tem a possibilidade de invocar um destes institutos no caso de falta de pagamento
de duas prestações excessivas, desde que excedam 10% do montante do crédito. Exige-se também do
credor um dever de interpelação do consumidor para que este cumpra e só após o decurso do prazo
aí definido podendo ser invocada a perda do benefício do prazo ou a resolução do contrato.
A perda do benefício do praxo pelo consumidor não implica a perda do benefício do prazo para o
fiador.
A jurisprudência esclarece que o credor não tem direito aos juros remuneratórios relativos as
prestações vinculadas. O Supremo Tribunal de Justiça uniformizou jurisprudência nesse sentido.
Tendo em conta que o regime do art.º 781º (art.º 20º,n.º 1 al b) DL133/2009) não é meramente
sancionatório, é adequado que para salvaguardar algum equilíbrio entre as prestações, deixe de ser
possível o credor exigir o pagamento de juros remuneratórios. O credor pode optar pela restituição
faseada com juros remuneratórios ou pela restituição imediata sem juros remuneratórios.
Admite-se, com cautela, que este regime (art.º 781º CC) possa ser afastado pelas partes. Tratando-se
do contrato de crédito ao consumo a referência é feita pelo art.º 20º DL 133/2009, o conteúdo é
imperativo com fundamento nos interesses do consumidor.
Conexão dos contratos (entre CCV e o financiamento e as repercussões dessa conexão em caso de
ineficácia ou incumprimento de um dos contratos tem sido objeto de um grande número de decisões
jurisprudencial.
41
O problema coloca-se em dois sentidos:
O conceito de contrato de crédito coligado constitui conceito central e unitário para a compreensão
do regime. (art.º 4º, n.º 1 o)).
O preenchimento dos dois pressupostos é necessário para se concluir no sentido da conexão entre
dois contratos.
Apesar de um Mercado de crédito mais transparente e mais eficiente no espaço europeu ser
considerado vital para a promoção do desenvolvimento das atividades transfronteiriças e para a
criação de um mercado interno de contratos de crédito para imoveis de habitação, a Comissão
havia encontrado diferenças substanciais nas legislações dos Estados-Membros relativamente às
normas de conduta na concessão de crédito, bem como na regulação e supervisão dos intermediários
de crédito e das instituições que celebravam esses contratos. Essas diferenças criavam obstáculos
reduzindo assim a concorrência € as opções de escolha disponíveis no mercado, aumentando o custo
do crédito para os contraentes e constituindo mesmo, em concreto, um obstáculo a realização de
negócios. Foi neste quadro que surgia a Diretiva 2014/17/UE crédito aos consumidores para imóveis
de habitação, que visa “desenvolver um mercado interno mais transparente, eficiente e competitivo,
através de contratos de crédito para bens imóveis que sejam coerentes, flexíveis e equitativos.
Verificou-se que muitos consumidores haviam perdido a confiança no setor financeiro e que os
mutuários sentiam cada vez mais dificuldade em reem- bolsar os seus empréstimos, dai resultando
um aumento das situações de incumprimento e venda coerciva do imóvel os níveis de divida
dos consumidores na União eram já significativos e concentravam-se em grande parte em créditos
para imóveis de habitação. E era conveniente assegurar que o enquadramento regulamentar da
União fosse robusto e coerente com os princípios internacionais e utilizasse adequadamente o leque
de instrumentos existentes, incluindo o recurso a ratio entre o valor do empréstimo e o valor da
42
garantia, 4ratio entre o valor do empréstimo e€ o rendimento para prevenir o endividamento
excessivo das famílias.
Os problemas detetados nos mercados de crédito hipotecário na Unido estavam relacionados com a
contratação (concessão e contração) irresponsável de empréstimos e com comportamentos
potencialmente irresponsáveis dos intervenientes no mercado, incluindo os intermediários de crédito
e outras instituições.
O objetivo da Diretiva 2014/17/UE foi promover a concessão responsável de crédito e assegurar que
os consumidores que celebrem contratos de crédito para bens imóveis beneficiem de um elevado
nível de proteção, sendo que naqueles se compreendem os créditos garantidos por bens imóveis,
independentemente da finalidade do crédito, os contratos de refinanciamento e outros contratos de
crédito cuja finalidade seja permitir que um proprietário ou comproprietário mantenha direitos reais
sobre um edifício ou terreno entre outros. Os contratos de crédito sem garantia associada cuja
finalidade seja a realização de obras em imóveis de habitação e envolvam montantes superiores a
75.000 EUR caem no Âmbito de aplicação da Diretiva 2008/48/ CEI, que foi para tal alterada.
A Diretiva 2014/17/UE prevê regras harmonizadas no que se refere aos domínios de conhecimentos e
competências que o pessoal dos mutuantes, dos intermediários de crédito e dos representantes
nomeados deverá possuir para a elaboração, a oferta, a concessão e a intermediação de contratos de
crédito!?], no que respeita a publicidade dos produtos, pretendeu-se assegurar que a publicidade dos
contratos de crédito não dê uma imagem enganadora do produto.
Definiu-se o modo de cálculo do custo total do crédito para o consumidor, que deverá incluir todos os
custos que este tenha de pagar. Núcleo fundamental é a regulamentação relativa à prestação de
informação do pré-contratual, que terá de ser feita, de acordo com o artigo 14. °, n.º 2, e com o Anexo
Il, através da (FINE), e ao cálculo da TAEG. n estas matérias, a Diretiva apresenta-se Como um
instrumento de harmonização total, exceto a possibilidade dos EM introduzirem disposições mais
restritivas face às instruções de preenchimento da FINE.
A Diretiva 2014/17/UE foi transposta para o direito português através de dois diplomas: pelo Decreto-
Lei n.° 81-C/2017, de 7 de julho, que regula as atividades de intermediação de crédito e de prestação
de serviços de consultoria, e pelo Decreto-Lei n.º 74-A/2017, de 23 de junho, que procedeu à
transposição das disposições da Diretiva que regulam a comercialização dos contratos de crédito com
garantia hipotecaria ou equivalente, objeto do presente texto!)
43
Com o Decreto-Lei 74-A/2017, em síntese, reforçaram-se as disposições relativas a avaliação da
capacidade do consumidor para reembolsar o crédito hipotecário racional e esclarecida sobre as
características do crédito a celebrar. Além disso, considerando a frequência com que, no mercado
hipotecário português, se recorre à garantia da fiança, estendeu-se, em parte, esta proteção também
ao consumidor que atua enquanto fiador, e que também assume um Compromisso. Assegurou-se que
os consumidores dispõem de um prazo suficiente para ponderarem as implicações.
Comunicação comercial e publicidade: o legislador não afastou o regime geral, isto é, qualquer ação,
omissão, conduta ou afirmação de um profissional, incluindo a publicidade e a promoção comercial,
em relação direta com a promoção, a venda ou o fornecimento de um bem ou serviço ao consumidor,
e proíbe aquelas que possam ser consideradas desleais, em virtude do seu carácter enganoso (artigos
7.°, 8.°, 9.° e 10.°) ou agressivo (artigos 11.° e 12.°), ou que, desconformes à diligência profissional,
44
distorçam ou sejam suscetíveis de distorcer de maneira substancial o comportamento económico do
consumidor seu destinatário ou que afetem este relativamente a certo bem ou serviço (artigo 5.°). No
que se refere a informação normalizada a incluir na publicidade, estabelece o artigo 10.
O artigo 15. ° determina o modo de calculo da TAEG e que este é efetuado no pressuposto de que o
contrato de crédito vigora pelo período de tempo acordado e de que o mutuante e o consumidor
cumprem a respetivas obrigações nas condições e nas datas especificadas no contrato de crédito.
Praticas comerciais proibidas: O artigo 11.° regula a licitude das vendas associadas ao contrato de
crédito. Estas vêm definidas no artigo 4. °, alíneas v) e w).
Ao mutuante está vedado fazer depender a celebração ou renegociação dos contratos abrangidos
pelo Decreto-Lei 74-A/2017 da realização de vendas associadas obrigatórias, com exceção das
previstas no n.° 2 do artigo 11.°.
Naqueles casos em que sejam propostos ao consumidor outros produtos ou serviços financeiros como
forma de reduzir as comissões. O mutuante deve apresentar ao consumidor uma TAEG que reflita
aquela redução de comissões Ou Outros Custos, indicando clara e expressamente que a efetiva
aplicação desta está condicionada á contratação dos produtos ou serviços financeiros adicionais.
Quanto 4áquestão da fixação da taxa de juro, rectius, os seus limites, nos contratos de mútuo
celebrados por entidades bancárias com consumidores, esta requer uma resposta diferenciada. Nos
contratos de crédito abrangidos pelo Decreto-Lei 133/2009, 0 artigo 28.° determina que é havido
como usurário (…). quanto aos contratos de crédito aos consumidores abrangidos pelo Decreto-Lei
74-A/2017, não existe neste diploma norma equivalente. Poderia pensar-se que nado existe limite
para a taxa de juros, pensamento que parece sustentar-se no Aviso do Banco de Portugal n.° 3/93.
Para Pedro Vasconcelos fortes razões materiais impedem que se possa aceitar aquela posição e se
45
entenda que as taxas de juros são livremente estabelecidas pelas instituições de crédito e sociedades
financeiras... mas dentro dos limites da lei.
Estando a determinação das taxas de juros estruturalmente ligada ao custo e ao risco do crédito,
aquelas instituições têm uma capacidade maior para o obter mais barato e para melhor avaliarem o
risco. Por outro lado, visando os limites das taxas de juros proteger o mutuário, a parte vulnerável do
contrato, é precisamente perante aquelas instituições que existe maior desequilíbrio em termos
negociais. Os limites das taxas de juro encontram-se no regime geral do mutuo em especial no art
1146 n1.
Este regime não obsta á aplicação das regras constantes dos artigos 282. ° a 284.° do CC, quanto ao
regime da usura. O lesado pode requerer a anulação do contrato ou a sua modificação segundo juízos
de equidade. Foi recentemente aditado o artigo 21.°-A, determinando que, quando do apuramento da
taxa de juro resultar um valor negativo, deve este valor ser refletido nos contratos de crédito.
Antes da aprovação do contrato de crédito, o mutuante avalia a solvabilidade do devedor, id est, nos
termos do artigo 4°, n.° 1, c), e deve faze-lo de acordo com o art 16. O Aviso do Banco de Portugal n.°
4/2017 veio concretizar procedimentos e critérios a observar pelas instituições na avaliação da
solvabilidade dos consumidores no âmbito da concessão de contratos de crédito abrangidos pelo
disposto no Decreto-Lei 74-A/2017. Impõe o artigo 3.° que as instituig6es devem proceder com
diligência e lealdade, promovendo a concessão de crédito responsável. No artigo 5.° determina-se
quais os elementos relevantes. O artigo 10.° do Aviso 4/2017 refere ainda que, na avaliação da
solvabilidade do consumidor, a instituição deve ter em consideração quaisquer circunstâncias futuras
que, sendo previsíveis, possam ter um impacto negativo no nível de endividamento global do
consumidor e na sua capacidade para cumprir as obrigações decorrentes do contrato de crédito. A
46
instituição deve solicitar ao consumidor a prestação das informações consideradas necessárias para a
avaliação da solvabilidade, bem como os documentos indispensáveis à com- provação da veracidade e
atualidade dessas informações e advertir expressamente o Consumidor de que a não prestação das
informações ou a não entrega dos documentos solicitados, bem como a prestação de informações
falsas ou desatualizadas, tem como efeito a nado concessão do crédito. Cabe ainda ao mutuante
verificar a informação ( O artigo 19.°). Aprovado o contrato de crédito, o mutuante não o pode
resolver ou alterar em prejuízo do consumidor com base no facto da avaliação de solvabilidade ter
sido incorretamente efetuada, a menos que seja comprovado que o consumidor deliberadamente
omitiu ou falsificou informações. O mutuante sé deve celebrar um contrato de crédito com o
consumidor quando o resultado da avaliação de solvabilidade indicar que é provável que as
obrigações do contrato de crédito sejam cumpridas (artigo 16.°, n.° 2, do artigo 18.°, n.° 5, da
Diretiva). Se o pedido de crédito for rejeitado com fundamento nos dados constantes das bases de
dados de responsabilidades de créditos, ou da lista publica de execuções, ou de outras bases de dados
consideradas Uteis para a avaliação da solvabilidade dos consumidores, o mutuante deve informar o
consumidor imediata, gratuita e justificadamente desse facto salvo se a prestação destas informações
for proibida por lei ou for contrária a objetivos de ordem publica ou de segurança pública.
Aprovação do contrato de crédito pelo mutuante e aceitação pelo mutuário: com a comunicação da
aprovação do contrato de crédito, os mutuantes devem entregar aos consumidores uma ficha de
informação normalizada que incorpore as condições do contrato de crédito aprovadas, acompanhada
da minuta do contrato de crédito. Nos casos em que o crédito deva ser garantido por fiança. o
mutuante deve entregar simultaneamente a copia da FINE e da minuta do contrato ao fiador e
prestar-lhe as explicações adequadas assegurando-lhe o período mínimo de reflexão. Só se
consideram cumpridos os requisitos de prestação de informação ao consumidor antes da celebração
de um contrato à distância se tiverem, pelo menos, disponibilizado a FINE e a minuta do contrato de
crédito antes da celebração do contrato. Os contratos de mutuo consistirão, normalmente, em
contratos de adesão, sujeitos nos termos do artigo 5.°, a cláusulas contratuais gerais devem ser
comunicadas na integra aos aderentes que se limitem a subscrevê-las ou a aceitá-las. A entrega da
FINE e da minuta do contrato serão um indicio da adequação do modo de comunicação das cláusulas,
mas, dada a exigência deste preceito não constituem presunção inilidível do cumprimento daquele
dever, cabendo ao mutuante a prova do seu cumprimento, nos termos do artigo 5.°, n. 3. No que diz
47
respeito ao consumidor o legislador impôs-lhe um período mínimo de reflexão refere o n.° 4. Este
período de reflexão obrigatória deve ser-lhe comunicado pelo mutuante.
Caso o propósito seja o reembolso antecipado do contrato de crédito por parte do consumidor, o
mutuante esta obrigado a informar o consumidor sobre os montantes entregues tendo em vista o
reembolso antecipado, parcial ou total. Os mutuantes podem cumprir os deveres de informação
previstos mediante a prestação de informação em suporte de papel ou noutro suporte duradouro,
exceto se o consumidor solicitar, de forma expressa, a prestação de informação em suporte de papel;
compete-lhes a eles, todavia, a prova da disponibilização da informação ao consumidor.
Reembolso antecipado (art 23.° do Decreto-Lei 74-A/2017): No caso de reembolso antecipado com
vista a transferência do crédito, determina o artigo 24.° Considera-se estar em situação de
desemprego quem, tendo sido trabalhador por conta de outrem ou por conta própria, se encontre
inscrito como tal em centro de emprego há mais de três meses, constituindo prova a exibição de
declaração do Instituto do Emprego e Formação Profissional.
48
prestação que não chegue para as extinguir a todas, de escolher as dividas a que o cumprimento se
refere. O artigo 26.° do Decreto-Lei 74-A/2017 vem conferir este direito ao Consumidor. Em caso de
incumprimento do contrato de crédito pelo consumidor, determina o artigo 27.° que o mutuante só
pode invocar a perda do beneficio do prazo (nos termos do artigo 781.° do CC) ou a resolução do
contrato (nos termos do artigo 801.°, n.° 2). O consumidor tem direito á retoma do contrato, nos
termos do artigo 28.°. Caso o consumidor exerça o direito de retoma do contrato, considera-se sem
efeito a sua resolução, mantendo-se o contrato de crédito em vigor nos exatos termos e condições
iniciais. O mutuante apenas esta obrigado a aceitar a retoma do contrato duas vezes durante a
respetiva vigência.
Em face da atual configuração dos centros de resolução alternativa de litígios, o cumprimento desta
obrigação tem levado a resultados pouco satisfatórios, enganadores para o consumidor.
Os mutuantes devem ainda assegurar que a resolução de litígios transfronteiriços seja encaminhada
para entidade signatária do protocolo de adesão da rede de cooperação na resolução alternativa de
litígios transfronteiriços no setor financeiro (FIN-NET). Compete ao Banco de Portugal a fiscalização do
cumprimento dos deveres estabelecidos no DL 74-A/2017, bem como das normas regulamentares
emitidas, a averiguação das contraordenações previstas, a instrução dos respetivos processos e a
aplicação das correspondentes sanções.
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Dl 24/2014 – Contratos celebrados à distância e fora do estabelecimento comercial
A diretiva 2011/2003/EU implementa uma política de harmonização total, segundo a qual os Estados
Membros não podem manter ou adotar disposições que divirjam das consagradas na diretiva,
concorrendo para o estabelecimento de um verdadeiro mercado interno para empresas e
consumidores, refletindo um equilíbrio justo entre o elevado nível de defesa dos consumidores e a
competitividade das empresas.
Noção de contratação a distância e fora do estabelecimento comercial: Para referida diretiva implica
um contrato entre profissional e consumidor no âmbito de sistema de vendas ou prestações de
serviços organizado para o comércio a distância, sem a presença física, simultânea do profissional e
consumidor mediante utilização exclusiva de um ou mais meios de comunicação a distância até ao
momento da celebração do contrato (local que não seja o estabelecimento comercial do profissional
ou quando o consumidor fez uma oferta ao profissional nas mesmas circunstâncias ou ainda através
de meios de comunicação a distância imediatamente após o consumidor ter sido pessoal e
individualmente contactado num local que não seja o estabelecimento comercial.
Dever de informação pré -contratual: diretiva impõe no art.º 6 que antes do consumidor ficar
vinculado (…) o profissional faculta ao consumidor, de forma clara e compreensível, uma extensa lista
de informações, incumbindo ao profissional o ónus da prova relativamento ao cumprimento deste
preceito. O art.º 7º que se aplica aos contratos fora do estabelecimento comercial estabelece que as
informações devem ser ligiveis e redigidas em termos claros e compreensíveis. Em papel ou suporte
duradouro.
O legislador português transpôs esta disposição para o art.º 9º do DL 24/2014 (desvio a liberdade de
forma previsto no C.C., tendo como cominação a nulidade nos termos do art.º 241º C.C.).
Se um contrato a distância dor celebrado por telefone, os EM podem prever que o profissional tenha
que confirmar a oferta ao consumidor que só fica vinculado depois de ter assinado a oferta ou ter
enviado o seu consentimento por escrito. A diretiva não estabelece as consequências para o não
cumprimento dos deveres de informação consagrados no art.º 6º, consagrando sanções específicas
nos termos do art.º 6º se o profissional não cumprir os requisitos de informação expressos no n.º1 da
al. a), e), o) e p).
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DL 24/2014 – tem o seu aâmbito de aplicação entre os art.º 1 a 3º, e contem regras sobre a
informação pré contratual e os requisitos de forma e a celebração dos contratos a distância e fora do
estabelecimento comercial, artºs 4 a 9, sobre o direito de livre resolução art.º 10 a 17, a execução do
contrato celebrado a distância art.º 19, a identificação do fornecedor, dos seus representantes, artigos
de catálogo e outros suportes art.ºs 20º e 21º , bem como disposições sobre outras modalidades de
venda art.º 22º a 26º, e praticas proibidas art.ºs 27 e 28.
Deve notar-se que o legislador nacional não fez uso da possibilidade prevista no art.º 3º, nº 4 da
diretiva, de não aplicar as suas disposições, manter ou introduzir disposições nacionais
correspondentes para os contratos celebrados fora do estabelecimento comercial quando o
pagamento a efetuar pelo consumidor não exceder o máximo de 50 € podendo os estados membros
definir um valor inferior na legislação nacional. No entanto, a lei 47/2014, acrescentou uma nova
exclusão a aquisição de assinaturas de publicação periódicas quando o pagamento a efetuar não
chega os 40€, quando contratados fora fo estabelecimento comercial.
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A Lei prevê um extenso elenco de informações que o fornecedor de bens ou prestador de serviços
deve facultar ao consumidor, em tempo útil e de forma clara e compreensiva, antes deste se vincular
ao contrato art.º 4º.
A lei impõe que nos sítios na internet dedicados ao comércio eletrónico se inclua a indicação clara e
legível (…) art.º 7º.
As informações relativas ao direito de livre resolução estão previstas no art.º 4º, n.º 2.
Quantos os efeitos das referidas informações, esclarece o art.º 4º, n.º 3 que elas integram o contrato
celebrado à distância ou fora do estabelecimento comercial, logo o consumidor poderá exigir uma
prestação correspondente a essas informações pois está será contratualmente devida.
O ônus da prova do cumprimento dos deveres de informação está previsto no art.º 4º, n.º 7.
Quanto aos contratos celebrados fora do estabelecimento comercial a lei prevê os requisitos de forma
do art.º 9º, sob pena de nulidade, devendo também elencar as informações do art.º 4º.
A falta de forma escrita, levará a nulidade nos termos gerais do art.º 220º do C.C. e a lei elevou
mesmo a prestação por escrito das informações a requisito de forma do contrato, cuja falta causa
também a sua nulidade. Deve também ser entregue cópia do contrato em suporte duradouro, sob
pena de resolução - Art.º 17º, n.º 1 al. l)
Quanto aos celebrados a distância, a própria natureza destes contratos faz com que a lçei dispense a
forma escrita, substituindo-a por outros requisitos. As informações pré contratuais deverão ser
prestadas de forma clara e compreensiva e por meio adequado â técnica de comunicação utilizada
com respeito pelos princípio de boa fé e lealdade – art.º 5º, n.º1.
No caso de contratos celebrados à distância por via eletrónica, em que a encomenda implique uma
obrigação de pagamento, deverão cumprir se as informações previstas no art.º 4º, n.º 1 als. C), d), e),
f), G), H), P) e t).
Além disso o fornecedero deverá cumprir com o previsto no art.º 5º, n.3.
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Como sanção para o não cumprimento destes deveres de informação e da exigência de confoirmação
do contrato dispõem se que o consumidor não fica vinculado ao contrato, art.º º, n.º1.
Se for celebrado através de um meio de comunicação a distância com espaço e tempos limitados para
divulgar a informação (art.º 5º, n.º 5), o fornecedor deve facultar antes da celebração do contrato as
informções pré contratuais exigidas no art.º 4º, n.º 1, al. a), c), d) e) f) g) h)j) e p).
Em caso de comunicação por via eletrónica, a identidade do fornecedor deve ser inicialmente explicita
– art.º 5º, n.º6.
Uma vez que o contrato celebrado a distância não carece de forma escrita e dispensa algumas ds
informações previstas no art.º 4º, n.º 1, o legislador previu um, dever a cargo do fornecedor, da
confirmação da celebração do contrato (art.º6º, n.º 1). Essa confirmação deve incluir a entrega das
informações pré contratuais exigidas no art.º 4º ,n .º 1 em suporte duradouro.
Mais que uma verdadeira declaração negocial, indispensável a perfeição do contrato esta se perante
uma confirmação do conteúdo.
Quanto a conclusão dos contratos por via exclusivamente eletrónica, o prestador de serviços, deve
acusar a receção, igualmente por meios eletrónicos, (art.º 29, n.º1 e 2 – excepções). Mas encomenda
só se torna definitiva com a confirmação do destinará Io dada na sequência do AR (art.º 29º, n.º 5).
Assim, o poder de decisão sobre a conclusão do contrato é deferido ao consumidor, mesmo depois do
envio da encomenda. Ao contrário do modelo subjacente aos n.ºs 3, 4 e 8 do art.º 5º.
Assim, nos termos do art.º 5º, n.ºs 3, 4 e 8 do DL 24/2014, o contrato apenas fica perfeito com a
conclusão da encomenda, desde que observados os requisitos deste diploma.
Direito de arrependimento:
53
legislador a conceder essa possibilidade ao consumidor entendeu que quando a celebração de
contratos entre profissionais e consumidores em certas circunstâncias é tipicamente acompanhada de
uma “influência indevida”. Impõe-se, por isso, reconhecer ao consumidor ad nutum, sem necessidade
da prova da falta de informação (art.º 8º, n.º 4 da LDC), um direito de retratação.
Prazo:
o art 10 nº1 (art.º 9º, n.º 7 LDC) estabelece um prazo de 14 dias, de contagem continua de acordo
com o art 296 e 279 alíneas b) e e) do CC. O momento a partir do qual este prazo é contado depende
do contrato celebrado. No caso do contrato incidir sobre um bem o prazo conta-se a partir do dia da
sua receção pelo consumidor (art 10/1 b)), sendo que a expressão que corresponde à entrega “posse
física dos bens” (art 9-B LDC) que é uma das obrigações do vendedor (art 879 b) CC). O bem pode ser
entregue ao consumidor ou a terceiro indicado por este. As subalíneas do art 10/1 b) resolvem
situações que podiam suscitar dúvidas.
Saliente-se que podendo o direito ser exercido depois da data de receção do bem, por maioria de
razão pode ser exercido antes, evitando-se assim o envio desnecessário da coisa.
Nos contratos de prestação de serviços, a regra é a de que o prazo começa a contar a partir da data da
celebração do contrato (art 10/1 a) DL 21/2014), regime mais desfavorável que o anterior em que o
prazo se iniciava desde o inicio da prestação do serviço. Atualmente, mesmo depois do inicio da
prestação do serviço, o consumidor pode exercer o direito de arrependimento, embora tenha de
pagar o valor correspondente ao serviço prestado (art 15/2). O art 15/1 confere ao consumidor o
direito potestativo de requerer de imediato o inicio da prestação do serviço.
O prazo é alargado em mais 12 meses no caso do profissional não informar o consumidor, antes da
celebração do contrato, quando da existência do direito de arrependimento, respetivo prazo e
procedimento para o exercício (art 4/1 j) e art 10/2). Preceito que serve como incentivo ao
cumprimento do dever de informação. Esta é uma regra especifica do direito de arrependimento, pelo
que a omissão de qualquer outra informação do art 4 não despoleta a consequência do alargamento
do prazo do direto de arrependimento. Há também a considerar a eventual sanção
contraordenacional. Se, enquanto correr o prazo de 12 meses e 14 dias, o profissional informar o
consumidor, cumprindo as formalidades do art 4, de que dispõe do direito de arrependimento,
entregando o respetivo formulário, o prazo anterior interrompe-se, começando a contar o prazo de 14
dias. O consumidor tem no mínimo 14 dias para exercer o direito a contar da data em que recebeu a
informação sobre a existência do direito de arrependimento.
Exercício:
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Forma:
Os art 11/1 e 11/2 regulam esta situação. O formulário de livre resolução é feita através do envio do
modelo de “livre resolução”, constante da parte 8 do anexo do DL 24/2014, que deve ser entregue
nos termos do art 4/1 j), vem facilitar o conhecimento do direito de arrependimento e
consequentemente o seu exercício. O consumidor não tem de utilizar o formulário para se considerar
exercido o direito. A lei é clara no sentido da validade de qualquer declaração inequívoca de
arrependimento, independentemente da forma usada (carta, telefone ou tacitamente pela devolução
do bem). O art 11/4 admite a possibilidade da pagina da internet do profissional estar preparada para
o exercício deste direito, mas a lei desconfiando do profissional, faz recair sobre ele o dever de acusar
a declaração no prazo de 24 horas em suporte duradouro, assegurando um meio de prova ao
consumidor.
Apesar da lei não impor forma especial para o exercício do direito, o mais adequado é através de carta
com aviso de receção, de preferência incluindo o modelo de livre resolução, pois a prova do exercício
do direito cabe ao consumidor (art 11/5). A declaração de arrependimento deve ser emitida no prazo
previsto na lei ou em superior se convencionado, podendo ser conhecida pelo profissional
posteriormente (art 11/3). No caso da carta conta a data de envio. Este regime tem conteúdo
imperativa sem possibilidade de qualquer limitação (art 29).
Em excepção ao críterio geral, sobre o momento da efeicácia das declarações negociais , prevê-se que
o direito de resolução se considera exercido pelo consumidor dentro do prazo “quando a declaração
de resolução é enviada antes do termo dos prazos previstos na lei (art.º 11º, n.º 3).
A lei considera nulas as cláusulas contratuais que imponham ao consumidor uma penalização pelo
exercício do direito de livre resolução ou que se estabeleçam a sua renuncia.
O consumidor pode por vários comportamentos posteriores ao contrato, tornar inviável o exercício,
usando o bem extensivamente, vendendo-o a terceiro, ou praticando atos que impossibilitem a sua
restituição . Apesar de parecer que o cumprimento desse dever apenas tem como consequência a
responsabilidade do consumidor, e não a exclusão do direito de resolução, pensamos que, uma
utilização intensa no prazo de resolução que implique a detioração, destruição, apropriação
irreversíveis, devem levar a exclusão de direito de livre resolução art.º 14º, n.º 1 e 2.
55
é necessário distinguir entre os efeitos resultantes da celebração do contrato e os efeitos do exercício
do direito pelo consumidor.
No que respeita aos contratos que têm como objeto um bem, o art 14 DL 24/2014 regula uma
pequena parte dos efeitos resultantes da celebração do contrato, em especial no que respeita à
utilização que o consumidor pode dar ao bem durante o decurso do prazo para o exercício do direito
de arrependimento. Regra que não se aplica aos contratos que incidem sobre um serviço. O contrato
produz os seus efeitos típicos, e sendo um CCV, a propriedade transmite-se por mero efeito doo
contrato (art 408/1 CC) ou no momento do cumprimento (art 541). Nas relações de consumo em
especial á distancia, o objeto do contrato é em regra uma coisa genérica, coincidindo o momento da
receção do bem com o da concentração da obrigação e transmissão da propriedade. Como
proprietário, o consumidor pode usufruir das faculdades «inerentes ao seu direito (art 1305 CC)
usando-o normalmente. Quanto ao experimentar o bem não se coloca qualquer problema (art 14/1).
Em relação à utilização o DL 24/2014 não altera a regra geral, permitindo-a, mas torna mais oneroso o
exercício do direito de arrependimento, podendo o consumidor ser responsabilizado pela depreciação
do bem (art 14/2). Assim o profissional não pode obstar ao exercício do direito de arrependimento,
mas pode invocar a desvalorização inerente à sua utilização e obter uma compensação financeira. Se
experimentar apenas tal depreciação não é possível de ser invocada. O valor da desvalorização não é
devido se o profissional não tiver informado antes da celebração do contrato do direito de
arrependimento, prazo e procedimento (art 4/1 j) + 14/3). Funciona como encargo/ónus do exercício
do direito de arrependimento, obrigando a uma utilização comedida para evitar tal consequência.
Relevam também os limites impostos pela boa fé no exercício de qualquer direito (art 334).
O exercício do direito de livre resolução tem como consequência extinguir as obrigações de execução
do contrato e toda eficácia da proposta contratual quando o consumidor a tenha feito. O legislador
não remeteu para o regime geral da resolução, tendo definido as obrigações do fornecedor e
consumidor decorrentes da livre resolução do contrato. Para fornecedor art.º 12º, n.º 1 e 2. EM caso
de bens entregues ao domicílio, no momento da celebração do contrato fora do estabelecimento
comercial (..) 12º, n.º 5.
Conexa com a questão da transmissão da propriedade está a da transferência do risco, sendo que o
diploma não regula este ponto, aplicando-se o regime geral (art 796CC). Estando em causa um CCV de
coisa genérica, o risco de perecimento corre pelo consumidor a partir da concentração da obrigação
(entrega do bem).
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resolutiva, legal e potestativa, ficando a resolução dos seus efeitos subordinada a um acontecimento
futuro e incerto, que consiste no exercício do direito pelo consumidor. A condição é resolutiva pois os
efeitos produzem-se integralmente com a celebração do contrato. Não se aplica o art 274 CC pois o
consumidor pode alienar o bem, após o contrato, mesmo durante o decurso do prazo para o exercício
do direito de arrependimento. Neste caso o direito de arrependimento deixa de poder ser exercido. O
consumidor já não tem domínio sobre o bem, não podendo cumprir a obrigação de devolução
resultante do exercício do direito. O adquirente também não pode exercer o direito de
arrependimento, pois não é parte do contrato e porque o direito não se transmite com o bem. Se o
consumidor aliena o bem presume-se que não se arrependeu da celebração do contrato. Aplicam-se
os art 270 e ss do CC com as devidas adaptações.
No que respeita á qualificação jurídica relacionada com a transferência do risco, deve aplicar-se o art
796/3 CC.
O modelo é diferente no caso do objeto do contrato ser um serviço. A regra geral do art 15/1
interpretado ao contrariio sense é a de que nos contratos de prestação de serviço, os efeitos ficam
suspensos até termo do prazo para o exercicio do direito de arrependimento, só se iniciando a
prestação do serviço depois de decorrido o prazo para o exercicio do direito de arrependimento sem
que o consumidor o tenha exercido. Neste modelo o contrato fica sujeito a condição suspensiva de
facto negativo, pelo que o não exercicio do direito de arrependimento tem como efeito a produção
dos efeitos do contrato. Se exercido o direito extinguem-se os direitos e as obrigações decorrentes do
contrato com efeitos a partir da sua celebração, tendo o exercicio do direito eficácia retroativa. O
profissional não incorre em custos e o cinsumidorpode exercer o direiro sem estar sujeito ao
apgamento de qualquer valor. A consequência negativa é a do consumidor não ter a possibilidade de
avaliar o serviço. Para evitar esta consequência, o consumidor tem o direito de exigo«ir o
cumorimento imediatob do contrato (art 15/1). O interesse na prestação imediata do serviço é
normalmente do profissional, logo a lei impõe-lhe o direito de exigir o cumprimento imediato do
contrato pelo consumidor através de declaração expressa em suporte duradouro. Esta formalidade
constitui ónus do profissional, já que a sua inobservância determina a inexigibilidade do preço relatico
ao serviço prestado. (art 15/5 a) ii)). Caso os efeitos se produzam de imediato apedido do consumidor
este ,mant+e,m o direito de arrependimento (art 15/2). O consumidor apenas deixa de ter direito ao
exercicio do direito de arrependimento nos termos do art 17/1 a). Neste modelo o contrato fica
sujeito a condição resolutivs a qual não tem efeitos retroativos (ao contrario da regra), uma vez que o
consumo é devido pelo consumidor. (art 15/2)
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Efeitos do exercício do direito:
Nos casos em que o contrato incide sobre um bem, os dois principais efeitos do exercício do direito de
arrependimento são: 1) o dever do profissional reembolsar o consumidor do valor pago; e 2) o dever
do consumidor conservar e restituir o bem ao profissional, destruindo-se os efeitos principais
resultantes da celebração do contrato, tendo o exercício do direito eficácia ex tunc (art 276 + 224 CC e
art 12/10 DL 24/2014). O consumidor deverá ser reembolsado de todos os montantes pagos ao
profissional ou a terceiro, bem como os custos do envio, caso contrario seria dissuasor do exercício do
direito de arrependimento e poria em causa a repartição equilibrada dos riscos (art 13 2011/83 EU). O
art 12/1 abrange também uma eventual avaliação que o profissional tenha achado necessária bem
como o contrato de seguro imposto ao consumidor, bem como as inerentes à celebração de um
contrato de crédito para aquisição do bem. Se nada foi acordado quanto à devolução do bem, ela é da
responsabilidade do consumidor (Art 13/2 DL 24/2014). Quanto a despesas inerentes à conservação
do bem devem ser suportadas pelo consumidor. O meio para o reembolso vem regulado no art 12/2,
mas deverá ser outro se a utilização do mesmo meio trouxer encargos para o consumidor, devendo as
partes atuar segundo os princípios de lealdade e boa-fé (art 9/1 LDC). A obrigação de reembolsa que
recai sobre o profissional tem um sinalagma com a obrigação da devolução do bem pelo consumidor
pelo que se aplica o regime do art 428 CC (exceção de não cumprimento).
Caso o consumidor prove a devolução, mas o bem se tiver perdido ou deteriorado pelo caminho
estamos perante o problema do risco. O risco corre pelo consumidor desde a entrega do bem.
Configurando-se a situação como um contrato celebrado sob condição resolutiva, o risco corre por
conta do adquirente durante a pendencia da condição, passando a correr pelo alienante quando se
verifique a condição (art 796/3 CC). O risco só se pode transferir quando aquele por conta de quem
este passa a correr tenha conhecimento desse facto, podendo precaver-se do perecimento ou
deterioração da coisa. Logo é relevante para a transferência do risco o momento em que a declaração
do exercício do direito se torna eficaz. O profissional tem o dever de recolher o bem ao domicílio do
consumidor em duas situações: quando resulte do acordo das partes (art 12/4 e 13/1); ou quando
pelas circunstâncias ou natureza e dimensão do bem não seja possível a devolução pelo correio (art
12/5). O art 12/6, sem paralelo no direito europeu, estabelece uma sanção que visa garantir o
cumprimento do dever de reembolso pelo profissional. Além da sanção civil, o consumidor tem direito
a uma indemnização nos termos gerais da responsabilidade civil contratual quer pelos danos
patrimoniais quer não patrimoniais.
O exercício do direito da livre resolução implica também a resolução automática dos contratos
acessórios. Ficam salvaguardadas as disposições sobre ligação entre contratos de crédito ao
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consumidor e contratos de aquisição de bens e serviços nos termos dos art.ºs 16, 17 e 18 do DL
133/2009.
O art 15 trata essencialmente dos casos em que a prestação do serviço teve inicio mas inda não se
concluiu o que permite o pagamento de montante proporcional ao serviço prestado em caso de
exercício do direito de arrependimento (art 15/2).
O consumidor não suportará quaisquer custos relativos a execução dos serviços durante o prazo de
livre resolução se o prestador não tiver cumprido o dever de informação pré contratual. Art.º 15º, n.º
5 al. a). Também não deve surportar custos relativos ao fornecimento de conteúdos digitais, não
fornecidos num suprote material sem que tenha dado o consentimento para que a execução se inicie
antes do fim do prazo para o exercício do direito de livre resolução.
Execução do contrato celebrado a distância: O art.º 19º, n.º 1 mantem a obrigação de o fornecedor de
bens ou prestador de serviços em contratos celebrados a distância dar cumprimento a encomenda no
prazo máximo de 30 dias a contar do dia seguinte a celebração do contrato (art.º 9º-B, n.º 2 da LDC).
Em caso do não cumprimento do contrato devido a indisponibilidade do bem ou serviço
encomendado aplica-se o 19º, n.º 2.
O 19º, n.º 3 prevê uma sanção compulsória referente ao prazo do n.º 2, sem prejuízo do direito a
indemnização pelos danos patrimoniais e não patrimoniais. Os não patrimoniais (sejam graves e
mereçam tutela do direito art.º 496º, n.º 1 C.C.. Em alternativa, pode o fornecedor dispor-se ao
previsto no art.º 19º, n.º 4 e 5 (substituição por um equivalente).
Sem prejuízo do disposto no regime das cláusulas contratuais gerais e contratos de adesão, são
proibidas as cláusulas que excluam ou limitem os direitos dos consumidores previstos no DL 24/2014
que é globalmente imperativo, em proteção do consumidor, tendo-se por não escritas.
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