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Supremo Tribunal Federal

RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO 835.267 DISTRITO FEDERAL

RELATORA : MIN. CÁRMEN LÚCIA


RECTE.(S) : DISTRITO FEDERAL
RECTE.(S) : GOVERNADOR DO DISTRITO FEDERAL
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO DISTRITO FEDERAL
RECDO.(A/S) : PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO
FEDERAL E TERRITÓRIOS
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO
FEDERAL

DECISÃO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM


AGRAVO. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO
NO QUAL NÃO SE INFIRMAM OS
FUNDAMENTOS DA DECISÃO
AGRAVADA: INVIABILIDADE. AGRAVO
AO QUAL SE NEGA SEGUIMENTO.

Relatório

1. Agravo nos autos principais contra inadmissão de recurso


extraordinário interposto com base no art. 102, inc. III, al. a, da
Constituição da República contra o seguinte julgado do Tribunal de
Justiça do Distrito Federal e dos Territórios:

“AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE –


PERMISSÃO DE USO DE ESPAÇO PÚBLICO – ATO
PRECÁRIO E DISCRICIONÁRIO - TRANSFERÊNCIA A
SUCESSOR EM CASO DE MORTE OU INVALIDEZ DO
PERMISSIONÁRIO – VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA
IMPESSOALIDADE – POSSIBILIDADE DE A
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA CONCEDER PERMISSÃO DE
USO NÃO QUALIFICADA A ATUAIS OCUPANTES DE
ESPAÇOS PÚBLICOS, DESDE QUE DE ACORDO COM A
CONVENIÊNCIA DO INTERESSE PÚBLICO E MEDIANTE O

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ARE 835267 / DF

PREENCHIMENTO DE REQUISITOS.
1) A permissão de uso do bem público, diferentemente da
permissão de serviço público, regida pela Lei 8987/95, que
regulamentou o art. 175 da Constituição Federal, é conceituada
classicamente como ato administrativo discricionário e precário, não
exigindo em regra a licitação pública.
2) Com a evolução das relações jurídicas, muitas figuras do
direito administrativo sofreram mutações, sendo que, com relação à
permissão, a Administração passou a relativizar a discricionariedade e
a precariedade do ato, em busca de uma segurança jurídica e em
contrapartida a investimentos realizados pelo particular. A doutrina,
então, passou a vislumbrar a figura da permissão qualificada, assim
denominada por se aproximar da concessão, que, conforme art. 175 da
Constituição Federal e a Lei 8987/95, depende de licitação pública.
3) É inconstitucional dispositivo legal que possibilita a
transferência da permissão a parentes, em caso de morte ou de
invalidez do permissionário, não propriamente por dispensar a
licitação pública, mas por criar uma situação de privilégio, em
detrimento do princípio da impessoalidade e do caráter personalíssimo
do instituto.
4) É possível à Administração Pública conceder permissão de
uso não qualificada àqueles que já exercem atividade econômica em
espaço público, de acordo com a sua conveniência e seguindo critérios
objetivos. No entanto, assegurar automaticamente a permanência de
atuais ocupantes como um direito adquirido, independentemente de
apreciação por parte da Administração Pública, fere os princípios da
impessoalidade e do interesse público.
5) Pedido julgado em parte procedente. Declaração de
inconstitucionalidade do artigo 26 e do parágrafo 2º do art. 29 da Lei
Distrital 4.954/2012” (fl. 110-110 v.).

Os embargos de declaração opostos foram rejeitados.

2. No recurso extraordinário, os Agravantes alegam contrariados os


arts. 37, caput e inc. XXI, e 175 da Constituição da República.

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3. O recurso extraordinário foi inadmitido aos seguintes


fundamentos:
“Verifico, de início, que o Distrito Federal não é parte legítima
para interpor o presente apelo, pois o artigo 8º, § 2º, da Lei
11.697/2008 não lhe confere legitimidade para propor ação direta de
inconstitucionalidade.
Assim, é manifesta a ilegitimidade do Distrito Federal para a
interposição deste recurso extraordinário.
(…)
Ultrapassada essa questão, passo à análise do recurso interposto
pelo Governador do Distrito Federal.
Analisando os pressupostos constitucionais de admissibilidade,
verifico que o recurso extraordinário não merece prosseguir, embora o
recorrente tenha afirmado a existência de repercussão geral, no tocante
à mencionada ofensa aos artigos 37, caput e inciso XXI, e 175, ambos
da Constituição Federal. Isso porque a verificação da violação dos
mesmos depende de reexame prévio de normas infraconstitucionais, a
revelar ofensa indireta ou reflexa à Constituição Federal” (fl. 207-207
v.).

Os Agravantes sustentam que, “ao contrário do que se contém na r.


decisão impugnada, o recurso extraordinário é perfeitamente admissível, uma vez
que a controvérsia em questão não há óbices à sua admissão, uma vez que a
matéria encontra-se devidamente prequestionada e a ofensa perpetrada ao texto
da Carta Magna de 1988 é direta e não reflexa” (fl. 216).

Argumentam que
“a discussão no presente caso transcende os interesses subjetivos
das partes envolvidas, mormente porque se está diante de ação direta
de inconstitucionalidade estadual, vale dizer, de controle concentrado
de constitucionalidade de leis e atos normativos distritais em face da
Lei Orgânica do Distrito Federal, onde não se tem, em regra, uma
causa propriamente dita, mas sim o exercício de defesa da supremacia
da Constituição.
(…)
A questão que põe no presente recurso extraordinário foi

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examinada e decidida pela Corte a quo.


(…)
De maneira que estão preenchidos os requisitos de cabimento do
presente recurso, o qual é tempestivo e reúne plenas condições de
admissibilidade, tanto mais porque se cuida de questão exclusivamente
de direito constitucional, a saber, a exigência da licitação (art. 37, XXI
da CF/88), bem como os princípios decorrentes do artigo 37, caput e
175 da Constituição Federal.
(…)
Consoante se pode observar, a permissão de uso de bem público,
quando ato unilateral e precário, não está abrangida pela Lei n.
8.666/93, não estando, portanto, sujeito ao princípio do procedimento
licitatório.
(…)
Desta forma, não há que se falar em ofensa aos princípios
constitucionais da licitação, legalidade, impessoalidade, moralidade,
razoabilidade, motivação ou interesse público” (fls. 218-227).

Examinados os elementos havidos no processo, DECIDO.

4. No art. 544 do Código de Processo Civil, com as alterações da Lei


n. 12.322/2010, estabeleceu-se que o agravo contra inadmissão de recurso
extraordinário processa-se nos autos do recurso, ou seja, sem a
necessidade de formação de instrumento, sendo este o caso.

Analisam-se, portanto, os argumentos postos no agravo, de cuja


decisão se terá, na sequência, se for o caso, exame do recurso
extraordinário.

5. Razão jurídica não assiste aos Agravantes.

6. Os Agravantes não infirmam, no agravo interposto, todos os


fundamentos da decisão agravada, não se manifestando sobre a
“ilegitimidade do Distrito Federal para a interposição deste recurso
extraordinário” (fl. 207).

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A jurisprudência deste Supremo Tribunal consolidou-se no sentido


de dever ser negado seguimento ao agravo no qual não se impugnam
todos os fundamentos da decisão agravada:

“AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE


INSTRUMENTO. PROCESSUAL CIVIL. AUSÊNCIA DE
IMPUGNAÇÃO ESPECÍFICA DOS FUNDAMENTOS DA
DECISÃO AGRAVADA. AGRAVO REGIMENTAL AO QUAL SE
NEGA PROVIMENTO. A Agravante tem o dever de impugnar, de
forma específica, todos os fundamentos da decisão agravada, sob pena
de não provimento do agravo regimental” (AI 681.329-AgR, de
minha relatoria, Primeira Turma, DJe 2.10.2009).

Nada há a prover quanto às alegações dos Agravantes.

7. Pelo exposto, nego seguimento ao agravo (art. 544, § 4º, inc. I, do


Código de Processo Civil e art. 21, § 1º, do Regimento Interno do
Supremo Tribunal Federal).

Publique-se.

Brasília, 3 de agosto de 2015.

Ministra CÁRMEN LÚCIA


Relatora

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