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Fundação Getulio Vargas

Armazenagem: estudo de viabilidade de adoção do processo


Irradiação Industrial na prevenção de pragas do Suprimento
Classe I nos Depósitos de Suprimento da 1ª, 2ª e 4ª Regiões
Militares do Exército Brasileiro

Por:

Turma: LOG VIT I 02-03


Fabio da Silva Pereira

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso MBA em


Logística e Gestão da Cadeia de Suprimentos, Pós-graduação Lato
Sensu, em Nível de Especialização

Programa FGV Management, da Fundação Getulio Vargas

Março/2011
1

Armazenagem: estudo de viabilidade de adoção do processo Irradiação


Industrial na prevenção de pragas do Suprimento Classe I nos Depósitos de
Suprimento da 1ª, 2ª e 4ª Regiões Militares do Exército Brasileiro.

Fabio da Silva Pereira1

Resumo
O artigo objetiva o estudo da viabilidade técnica, econômica e ambiental, visando à adoção
da Irradiação Industrial como procedimento para garantir a preservação e conservação dos
alimentos a serem armazenados nos Depósitos de Suprimento (D Sup). A irradiação é uma
das mais importantes aplicações da energia nuclear. Além de prolongar a vida dos produtos,
dispensa o uso de aditivos, preservativos químicos e fumigações. A tecnologia de irradiação
reduz perdas com a armazenagem, conseguindo melhor qualidade, maior tempo de vida útil
e de estocagem e aperfeiçoamento dos processos de aquisição, recebimento e distribuição
dos alimentos. O processo, em termos gerais, baseia-se no transporte de produtos
embalados na câmara de irradiação por meio de um sistema de esteiras. Esses produtos são
submetidos a um campo de irradiação beta (β) ou gama (γ) num ritmo controlado. O estudo
da viabilidade técnica, econômica e ambiental do projeto se apóia nos dados referentes aos
custos e procedimentos da irradiação face às perdas decorrentes das quebras de
armazenagem.

Palavras-chave: Irradiação Industrial, conservação de alimentos, estudo de viabilidade,


Depósitos de Suprimento.

Introdução
A armazenagem compreende a guarda, localização, segurança e preservação dos
materiais adquiridos, produzidos e movimentados por uma organização, a fim de atender às
suas necessidades operacionais, sejam essas de consumo, transformação ou reserva para
uso eventual (Silva, 1986). As operações de armazenagem ocorrem, em geral, em
instalações específicas, que recebem diversas denominações. Modernamente, a instalação
mais conhecida é o Centro de Distribuição – CD. Ballou (2006, p. 373) afirma que:
[...] É estimado que essas atividades absorvem até 20% dos custos de distribuição física da
empresa, constituindo, por isso mesmo, temas merecedores de cuidadosa análise e
consideração. (...) Mesmo para chegar perto da coordenação perfeita entre a oferta e a
demanda, a produção teria de ser instantaneamente reativa e o transporte inteiramente
confiável, com tempo zero de entrega.

1
Concluinte do MBA em Logística e Gestão da Cadeia de Suprimentos da Fundação Getúlio Vargas – LOG-
ECEME 2010
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As aquisições de material Classe I (gêneros para a alimentação) para o Exército


Brasileiro (EB) são regidas pela Lei No8.666, de 21 de junho de 1993 e Lei No10520, de 17
de julho de 2002, onde são definidas as regras no edital de licitação quanto às condições de
recebimento do item. No entanto, os gêneros alimentícios, por serem itens bastante
perecíveis e sujeitos às pragas, passam por testes de qualidade no Laboratório de Inspeção
de Alimentos e Bromatologia (LIAB). O LIAB verifica uma pequena quantidade de
alimento por amostragem e faz a análise da qualidade do gênero, que pode ou não passar
nesse teste. Se passar no teste, o gênero alimentício é integralmente recebido e armazenado.
Como a quantidade dos gêneros alimentícios recebidos no Depósito de Suprimento
(D Sup) é muito grande, há maior probabilidade de erro nos diagnósticos de qualidade,
acarretando um eventual recebimento de alimentos com pragas, insetos e fungos que podem
se disseminar e comprometer o estoque.
Portanto, a preservação e a conservação dos produtos alimentícios nos D Sup do
Exército Brasileiro (EB) têm sido feita de forma corretiva, pois é adotada a prática do
expurgo das pragas e insetos com agentes químicos. Tal procedimento é realizado pelo
LIAB para garantir a conservação dos alimentos, gerando desperdício de tempo e de
recursos. Como consequência, há elevação de seus custos logísticos para a resolução do
problema.
Nesse escopo entra o objeto desse trabalho: que medidas devem ser adotadas na
preservação e conservação dos alimentos estocados nos Depósitos de Suprimento do
Exército Brasileiro para tornar esses processos mais eficientes?
Na busca dessa resposta, pretende-se, neste estudo, verificar a viabilidade técnica,
econômico-financeira e ambiental (EVTEA) do uso da Irradiação Industrial no controle de
pragas, na conservação e na armazenagem dos gêneros alimentícios nos Depósitos de
Suprimento.
Dadas às características peculiares dos meios de conservação, a abordagem de
custos, desde sua prospecção, passando pela contratação do serviço, pelo uso e pela sua
extinção, deve obedecer a critérios que nem sempre consideram apenas embasamentos
financeiros e dedicados ao custo. No entanto, não pode haver o relaxamento da análise
financeira, que continuará sendo uma das principais variáveis no processo decisório.
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No levantamento bibliográfico preliminar sobre o tema proposto, foram encontrados


diversos trabalhos, como apresentações de trabalhos acadêmicos, dissertações e teses que
tratam da aplicação da irradiação industrial na preservação dos alimentos em grande escala
nas organizações civis. Entretanto, nenhum deles está voltado para a preservação e
conservação dos alimentos em grande escala nos depósitos militares.
Para atingir os propósitos deste trabalho, serão realizadas pesquisas bibliográficas
com base em livros, revistas especializadas, Manuais específicos da Instituição, artigos
científicos e trabalhos acadêmicos; documental, mediante consulta ao acervo do EB, não
disponível ao público em geral. Foi verificada a viabilidade econômico-financeira por
conceitos e técnicas de contabilidade e custos. Foram verificadas também a viabilidade
técnica- operacional e a viabilidade ambiental por meio de entrevistas envolvendo os
profissionais que atuam nessa área. Estas verificações têm por finalidade colher as opiniões
sobre o assunto em foco e simular a preservação dos alimentos a serem armazenados nos D
Sup.
O estudo se justifica por promover uma discussão do processo de prevenção dos
gêneros alimentícios dos D Sup das Regiões Militares (RM) da Região Sudeste do Brasil,
embasada nos procedimentos científicos, visando explorar todas as vantagens
proporcionadas por esse recurso, sem descuidar dos custos para a sua utilização.
Acredita-se que o artigo ampliará o conhecimento sobre o que há de mais moderno
no mercado em termos de prevenção e conservação de alimentos voltados para a
armazenagem do Suprimento Classe I nos D Sup EB.

A armazenagem no âmbito da cadeia de suprimentos

Segundo Giunchetti (2004), a Gestão da Cadeia de Suprimento é uma filosofia de


negócio baseada nas demandas do mercado, que visa agregar valor para o consumidor final
por meio de uma movimentação mais efetiva de materiais, produtos e informações ao longo
de toda a Cadeia.
Bowersox e Closs (2001), apud AGUIAR (2008) definem depósito ou armazém
como um lugar onde são guardados estoques de materiais e produtos. Entretanto, os autores
reconhecem que, em muitos projetos de sistemas logísticos, o depósito é uma instalação de
processamento e não somente um local de guarda de mercadorias.
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O controle na armazenagem interdepende das medidas de controle anteriores à


armazenagem, pois pragas e microrganismos têm origem na colheita, na armazenagem
primária, na embalagem e no transporte. A integração de toda a cadeia de suprimentos é
vital para a melhoria do controle de qualidade do produto a ser entregue. Caso contrário,
fica afeta a cada um dos elos da cadeia organizar uma sistemática limitada à sua área de
responsabilidade.
Os suprimentos militares estão voltados para a armazenagem, a entrega, o
recebimento, o transporte e o controle de estoque, entre outras atividades. As tarefas mais
importantes serão definidas ao se abordar a atividade em que elas sejam mais marcantes ou
mais incidentes. O Manual de Campanha C 100–10 Logística Militar Terrestre (Brasil,
2003, p. 1-5) aborda que o advento do Ministério da Defesa (MD) trouxe importantes
reflexos para as Forças Armadas, pois há necessidade de integração da Logística dessas
Forças. Tal necessidade exige um alinhamento às atuais práticas logísticas adotadas no
meio civil, visando diminuir os custos logísticos e aprimorar a cadeia de suprimentos.
Ballou (2006, p. 41) trata da importância da efetividade nos processos de suprimento,
aproximando as realidades civil e militar:
Nossa convicção era de que, se cuidássemos bem das nossas tropas, os objetivos seriam
concretizados, por maiores que fossem os obstáculos. Os soldados são os nossos clientes. Isso
em nada difere do foco determinado, concentrado nos clientes que tantos empresários bem-
sucedidos também têm. Com os soldados, toma-se conta deles não apenas para que tenham
refrigerantes gelados, burgers e boas refeições: é preciso garantir-lhes munição na linha de
frente, para que saibam, quando chegar a hora do combate, que têm tudo para se dar bem.

Segundo o C 100-10, o Sistema Operacional Logístico engloba seis funções


logísticas: de Saúde, Suprimento, Manutenção, Engenharia, Transporte e Recursos
Humanos. Para cumprir a Função Logística Suprimento, que é o conjunto de atividades que
tratam da previsão e provisão do material de todas as classes, e a Função Logística
Transporte (distribuição dos suprimentos), as RM do EB contam com os D Sup.
O D Sup atua como órgão provedor (OP) nas atividades de aquisição, recebimento,
armazenagem, transporte e distribuição dos suprimentos (AnexoA), onde cada Subunidade
(SU) abarca cerca de uma a duas funções logísticas, onde, além do Cmdo e do Estado-
Maior (EM) afeta a toda Unidade. Estrutura-se também em um LIAB, organizada para o
cumprimento das missões de análise de material a ser recebido pela unidade.

Objetivos e critérios
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Ao se falar em conservação de alimentos, são levadas em conta três características:


físicas (cor, odor e textura), químicas (carboidratos, proteínas, lipídeos etc) e
microbiológicas (microrganismos ou toxinas produzidas por eles e que irão causar doenças
alimentares nos consumidores) (SILVA JUNIOR, 2002; LANDGRAF, 1996; HOBBS e
ROBERTS, 1998).
O ponto de partida para um processo de conservação ideal é o recebimento de
matérias-primas de boa qualidade. Segundo as Normas administrativas relativas ao
suprimento (NARSup, 2002), as quebras de armazenagem são decorrentes da desidratação
do suprimento armazenado e das operações de estocagem e de suprimento.
Essas operações incluem pequenos acidentes de manuseio, por conta de embalagens
furadas ou danificadas. Quebras, rachaduras e fissuras permitem que haja contaminações. A
partir daí, a conservação só age na parte microbiológica, retardando o processo de
proliferação dos microrganismos de acordo com o Centro de Energia Nuclear na
Agricultura (CENA) Silva Júnior (2002) apud CAMARGO (2006).
Silva Júnior (2002) apud CAMARGO (2006) explica o processo da decomposição dos
alimentos:
As alterações químicas nos alimentos são geralmente causadas pela presença de
microrganismos deterioradores. Os carboidratos, por exemplo, são utilizados como fonte de
energia, além de gerarem produtos que alteram sensorialmente os alimentos. As proteínas
são hidrolisadas a aminoácidos e peptídeos e a degradação de aminoácidos resulta na
formação de compostos como aminas biogênicas que causam odor pútrido (podre) aos
alimentos. E os lipídeos são quebrados por enzimas específicas produzidas por algumas
bactérias provocando o aparecimento de compostos menores, como os ácidos graxos livres,
dos quais alguns conferem odor desagradável aos produtos.

As alterações microbiológicas são relativas à parte de microbiologia de alimentos.


Silva Junior (2002) apud CAMARGO e WALDER (2006) define que o problema está na
presença dos microrganismos no alimento ou de toxinas produzidas por eles, uma vez que
ambos irão causar doenças alimentares nos consumidores.

Manuseio de materiais

A movimentação interna do suprimento compreende as operações de descarga,


carga, pesagem, transporte interno e guarda do material estocado. Sua eficiência é
decorrente do equilíbrio direto do pessoal especializado com os equipamentos.
Cabe ressaltar que a correta manipulação dos gêneros alimentícios durante a
armazenagem e o preparo dos alimentos deve seguir o que consta na Resolução da Diretoria
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Colegiada (RDC) nº 216/2004 – Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA),


como na Portaria no 854/ Secretaria de Logística, Mobilização, Ciência e Tecnologia
(SELOM/MD), de 4 de julho de 2005.

Atividades envolvidas nos processos de armazenagem

Com os avanços tecnológicos, o processo de recebimento, armazenagem e


expedição de materiais e produtos é parte integrante das atividades dos depósitos. O
controle efetivo dos estoques deve ser uma das principais metas para redução de perdas e
manutenção competitiva dentro do novo padrão de mercado. Uma das ferramentas
utilizadas para gerenciar estoques, aperfeiçoando os processos de armazenagem e
distribuição de produtos dentro da Cadeia de Suprimento, é a implantação de um sistema de
gerenciamento de depósitos com recursos de automação.
Um sistema de gerenciamento de depósito normalmente referenciado como
Warehouse Management System (WMS) é utilizado para aperfeiçoar o fluxo de todas as
informações e operações de recebimento, armazenagem e expedição de materiais e
produtos.
O WMS pode ser instalado em diferentes portes de hardwares e Micros e permite a
emissão das guias de fornecimento e recebimento, coletores de dados, leitores de código de
barras, balanças, sensores e equipamentos. Tecnologias como código de barras, transações
via rádio-freqüência, banco de dados relacionais e Eletronic Data Interchange (EDI)
possibilitam que o WMS possa processar todas as informações em tempo real, dispensando
o uso de papéis. Seus principais benefícios são o aumento de produtividade em todas as
operações do depósito, a melhoria na acuracidade dos inventários, a otimização de espaços,
tempos e recursos financeiros e a adequação dos níveis de estoques.
Nos D Sup, salvo ordem específica, as funções do sistema se processam de forma
similar, pois há uma busca na integração total dos dados na estocagem, por conta do fluxo
do nível de segurança. As principais funções da armazenagem abordadas pelo sistema
WMS estão no quadro 1.
Quadro 1 – Principais funções da armazenagem abordadas pelo sistema WMS.
• Agendamento de desembarques/Reservas de docas;
Recebimento de • Identificação de mercadorias recebidas;
mercadorias • Conferências físicas e estocagem; e
• Endereçamento automatico.
Separação • Separação de pedidos por rota, cliente, produto e outros critérios;
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• Confirmação da separação dos produtos e quantidades corretas respeitando o


primeiro a entrar, primeiro a sair (FIFO), Lote, entre outros; e
• Integração com equipamentos de movimentação e leitores óticos.
• Agendamento de embarques/Reservas de docas;
• Identificação final dos volumes e paletes expedidos;
Expedição
• Conferências físicas e emissão das guias e notas fiscais; e
• Confirmação de embarques/Liberação de veículos.
• Otimização dos procedimentos de conferência pelo controle em tempo real da
posição de cada item disponível no estoque;
Inventário
• Administração flexível de inventários rotativos; e
• Ajustes em tempo real entre o estoque físico e contábil.
• Identificação e acompanhamento da produtividade dos recursos humanos tarefa a
tarefa;
Gerenciamento
• Administração precisa de informações em tempo real; e
• Suporte à tomada de decisões.
• Quantidades de produtos recebidos no depósito, comparadas com ordens de
produção;
• Estoque físico apurado no processo de inventário;
Integração
• Localização de produtos no depósito;
• Ordens de separação de produtos/pedidos de clientes; e
• Integração de equipamentos e sistemas.
Fonte: Elaborado pelo autor
A automação dos processos logísticos envolvidos deve observar as etapas de
adequação dos recursos e processos de armazenagem, implantação de um sistema de
gerenciamento de depósito e instalação da plataforma tecnológica necessária. Antes da
implantação de um sistema de gerenciamento de depósitos devem ser analisados os
seguintes parâmetros, conforme o quadro 2.
Quadro 2 – Principais cuidados da armazenagem e elaboração do lay out.
• Produtividade atual e/ou desejada de acordo com o nível de serviço;
• Política de estoques, de compras e vendas considerando picos e sazonalidades;
Principais • Capacidades e localizações dos depósitos em relação aos fornecedores, clientes e
cuidados volumes movimentados; e
• Critérios de paletização e unitização de embalagens que permitam um melhor
aproveitamento do espaço e dos recursos de movimentação de mercadorias.
• Instalações físicas disponíveis e/ou necessárias: área, piso, lay-out, pé direito,
modularidade do prédio etc.
• Localizações das docas de recebimento e expedição;
• Meios de estocagem: estrutura porta paletes dinâmicas, estáticas, drive-in, racks,
prateleiras, blocos de produtos, entre outros;
• Critérios de endereçamento que permitam a rastreabilidade e a seletividade de
Elaboração produtos planejados;
do Lay-out • Nível de mecanização necessário: esteiras, transelevadores, separadores automáticos
etc.;
• Tipos e quantidade de equipamentos, tais como empilhadeiras, paleteiras, carrinhos e
esteiras para cada tipo de operação; e
• Elaboração da metodologia de processos, contemplando os procedimentos de
recebimento, estocagem, separação e expedição, e a definição do perfil profissional
da equipe operacional.
Fonte: Elaborado pelo autor
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MOREIRA (2008, p. 124) faz a seguinte abordagem sobre a embalagem na cadeia


de suprimentos:
No que se diz respeito à embalagem é impossível separar o sistema embalagem da logística.
Eles estão amalgamados. O sistema embalagem é o conjunto de operações, materiais e
acessórios utilizados na indústria com a finalidade de conter, proteger e conservar os
diversos produtos e transportá-los aos pontos de venda ou utilização, atendendo às
necessidades de um custo adequado e respeitando a ética e o meio ambiente.
É fundamental conhecer as propriedades do material e a resistência à compressão da
caixa utilizada para um determinado produto. No entanto, nem sempre essas características
bastam para afirmar que a embalagem secundária é adequada. Os gastos equivalem a 10%
do faturamento da empresa. O produto necessita da embalagem para ser transportado,
conservado ou vendido, e para servir como meio de comunicação para os consumidores.

Custos logísticos

Segundo Bowersox e Closs (2001), um dos principais desafios da logística moderna


é conseguir gerenciar a relação entre custo e nível de serviço (trade-off)2. O maior
obstáculo é a exigência dos clientes por melhores níveis de serviço, sem que eles tenham
que pagar mais por isso. O preço vem passando a ser um qualificador e, o nível de serviço,
um diferenciador perante o mercado. Portanto, a logística ganha a responsabilidade de
agregar valor ao produto através do serviço por ela oferecido. Entre estas exigências por
serviço, destacam-se a de redução do prazo de entrega, uma maior disponibilidade de
produtos, a entrega com hora determinada, o cumprimento dos prazos de entrega e a maior
facilidade de colocação do pedido.
A cadeia de suprimentos fica mais crítica quando se cogita a redução de custos,
havendo uma pressão maior sobre os fornecedores dos materiais. A equipe do setor de
aquisições se satisfaz quando a meta é atingida, mesmo ocorrendo mais perdas na
distribuição. Esta última, por sua vez, não aceita melhorar as condições do transporte,
aumentando seu custo e minimizando essas possíveis perdas, porque seu resultado será
prejudicado. Em síntese, cada departamento quer atingir o seu resultado específico sem se
importar com o desempenho do sistema como um todo.

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Os trade-offs de custos entre duas ou mais atividades do processo logístico, quando claramente
identificados, enquadram-se na categoria de custos relevantes para a tomada de decisão. Afirma-se com
freqüência que um trade-off ocorre quando aumentos de custo numa determinada atividade são mais do que
compensados por reduções de custos em outra atividade. Neste sentido os trade-offs de custo constituem um
importante elemento auxiliar para a tomada de decisão.
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Não há dúvidas de que os problemas que afetam a rentabilidade se agravam quando


demoramos a percebê-los e desconhecemos suas causas. Esses problemas precisam ser
identificados com o máximo de antecedência possível e resolvidos antes que se tornem
críticos. Diante desta necessidade, os sistemas gerenciais de custos se tornam um elemento
chave para as empresas.
Dentre os custos difíceis de mensurar, encontra-se o custo logístico que, segundo
Ballou (1993) apud AGUIAR (2008), é composto pelos custos das atividades primárias da
logística, ou seja, os custos de transportar, estocar e processar pedidos. Lima (1998, p.37)
aborda uma visão gerencial de custos no suprimento:
No suprimento, uma ferramenta de custeio pode favorecer no critério de seleção de
fornecedores, na definição dos tamanhos dos lotes de compras e na determinação da política
de estoques. No passado, a função compras era avaliada em função do preço de compra dos
insumos. Ou seja, sua preocupação estava voltada para obter o menor preço, e o serviço
prestado por esses fornecedores era colocado em segundo plano. Muitas vezes as empresas
eram obrigadas a trabalhar com elevado nível de estoque de materiais, a fim de garantir o
suprimento da linha de produção diante do risco da não disponibilidade, de atrasos ou de
devoluções desses materiais. A própria política de barganha de preço, em função do
tamanho de lote, já atrapalhava a eficiência do processo produtivo.
Hoje existe uma transformação conceitual neste processo, uma vez que o preço de
compra passa a ser visto apenas como um dos custos de aquisição, que engloba os custos de
colocação do pedido, transporte, recebimento e estoque de materiais. Pelo do Pregão
Eletrônico (BRASIL, 2002) é possível identificar fornecedores que, mesmo não sendo
líderes em preço, conseguem oferecer um produto a um custo mais baixo, já que possuem
um sistema com frequência maior de entregas, com alta disponibilidade de produtos e com
menor índice de devoluções.
Esta informação é primordial para análises de rentabilidade. Ela deve ser utilizada
pela equipe da área de aquisições, licitações e contratos no processo de segmentação dos
seus fornecedores, por meio do Sistema unificado de Cadastro dos Fornecedores (SICAF).
Dessa forma, o nível de serviço pode ser estabelecido não só em função da necessidade das
Organizações Militares (OM) usuárias, mas também em função da rentabilidade que estes
propiciam para a organização.

Processos de preservação e conservação

O alvo da conservação dos alimentos e dos produtos alimentícios é conseguir que


eles fiquem disponíveis por mais tempo para o consumo, desde que mantenham as
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qualidades nutritivas, organolépticas e sensoriais normais, além de estarem livres de


microrganismos patogênicos e de suas toxinas. Os processos de conservação de alimentos
se caracterizam pela ação indireta (onde há modificação do substrato) ou direta (eliminação
ou controle) sobre o microrganismo.
Na ação indireta sobre o microrganismo, há vários processos de conservação, tais
como a conservação pelo frio, por secagem, por adição de elementos, pela fermentação, por
osmose reversa e até pela utilização da embalagem. Na conservação pelo frio são aplicadas
temperaturas baixas, capazes inibir ou destruir os microrganismos e retardar ou anular
atividades enzimáticas e reações químicas ( DOMARCO e WALDER, 2006), conforme o
quadro 3
Quadro 3 – Processo de conservação pelo frio.
Variação do
Características
processo
• Utiliza temperaturas entre –1ºC a +10ºC;
• Retarda a ação dos microrganismos deteriorantes já instalados e impede o
Refrigeração surgimento de novos agentes; e
• Recomendado para alimentos de fácil perecibilidade e que não são de consumo
imediato.
• Utiliza temperatura de -18ºC
• Mantém a maioria das características organolépticas e nutritivas originais e dificulta
Congelamento as ações desfavoráveis de microrganismos e enzimas; e
• Tratamento destinado aos alimentos que necessitam de maior período de
conservação.
• Processo de congelamento rápido do alimento, aplicado em temperatura de impacto
Supercongelamento (entre -40ºC a -50ºC) durante 30 minutos e depois mantido a –18ºC.
• Utilizado para conservação de alimentos prontos ou semi-prontos.
• Processo em que se desidrata uma solução congelada, impedindo seu
Liofilização descongelamento, enquanto se processa a evaporação (sublimação). Ex: Ração
Operacional.
Fonte: CENA, 2006.
A conservação por secagem consiste na redução de água livre do alimento, evitando
a proliferação de microrganismos e promovendo a inativação de enzimas que causam
alterações, conforme o quadro 4.
Quadro 4 – Processo de conservação pela secagem.
Variação do
Características
processo
• Utilizada em frutas, hortaliças, carnes bovina e suína, peixes, animais de caça,
Secagem natural cereais, leguminosas, condimentos, etc.
• Os exemplos mais comuns são o damasco e a uva-passa.
• Método baseado na extração de água por aquecimento e evaporação, sob condições
Secagem artificial
controladas. Normalmente via corrente de ar aquecido.
• Produto conhecido como instantâneo ou solúvel, obtido em secadores de desenho
Instantaneização especial ou em equipamentos de aglomeração, trabalhando sincronizadamente com
secadores por atomização.
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Concentração • Também chamada de evaporação, consiste em reduzir parte do conteúdo aquoso de


determinados produtos, numa proporção de 1/3 a 2/3 de água.
Fonte: CENA, 2006.
A conservação por adição de elementos consiste na colocação de conservantes que
previnem ou retardam os processos de deterioração de produtos alimentícios por de
microrganismos e enzimas, constantes do quadro 5.
Quadro 5 – Processo de conservação pela adição de elementos.
Variação do
Características
processo
Aditivos • Exemplos: ácidos benzóico, paracético, sórbico, bórico, nitratos, etc.
• Processos que envolvem várias operações e utilizam agentes como o cloreto de sódio.
Salga e cura • Impede o desenvolvimento de microrganismos pela elevação da pressão osmótica do
produto, o que torna o substrato inadequado para seu desenvolvimento. Ex – charque
• Crescimento de microrganismos contaminantes é impedido, modificando-se a atmosfera
de armazenamento do produto.
• Vários gases são utilizados em câmaras de refrigeração ou em embalagens apropriadas,
tais como:
Atmosfera ü Dióxido de carbono – inibe o crescimento de bactérias altamente aeróbias, bactérias
modificada aeróbias psicotróficas, fungos e leveduras;
ü Ozônio – retarda o crescimento de fungos e bactérias, principalmente as anaeróbias ou
facultativas, em pequenas concentrações e sob refrigeração;
ü Dióxido de enxofre – aplicado juntamente com refrigeração para diminuir a
decomposição de uvas pelo Botrytis spp; e
ü Triclorureto de nitrogênio – usado para controlar fungos em frutas cítricas.
Fonte: CENA, 2006.
A conservação por fermentação preserva os alimentos pela remoção seletiva do
substrato fermentável, resultando em substâncias que, de acordo com suas características,
são transformadas em produtos constantes do quadro 6.
Quadro 6 – Processo de conservação pela fermentação.
Variação do
Características
processo
Alcoóis • Utilizados em bebidas alcoólicas
• Utilizados para preparar iogurtes, queijos, bebidas fermentadas e vegetais fermentados
Ácidos
(pickles, azeitona)
Fonte: CENA, 2006.
A conservação por osmose reversa tem sido utilizada para a retirada de ácidos em
sucos de frutas, de cloretos e sais na fabricação do açúcar e para recuperação de proteína e
lactose no soro do leite

A conservação pela embalagem evita impactos contra a estrutura do alimento e


protege contra danos por agentes químicos e biológicos. Por ter ação conservadora, o
material usado na embalagem deverá responder às necessidades do alimento, impedindo a
saída ou entrada de elementos prejudiciais à estabilidade deles.
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Já na ação direta sobre o microrganismo, há o processo de conservação pelo calor,


que visa à eliminação de microrganismos deteriorantes ou patogênicos ou simplesmente
retarda ou impede seu crescimento. Sua aplicação está condicionada ao grau adequado de
temperatura, ao tempo de exposição e às características distintas dos alimentos, listados no
quadro 7.
Quadro 7 – Processo de conservação pelo calor.
Variação do
Características
processo
• Processo térmico de curto tempo de aplicação que precede o início de outros processos
Branqueamento de elaboração industrial, como nos tratamentos de congelamento e hidratação de frutas e
hortaliças para inativar enzimas
• Processo térmico que tem por objetivo o extermínio parcial da flora comum e a
eliminação total da flora microbiana patogênica.
• Emprega temperaturas altas, que não ultrapassam os 100ºC e que podem ser obtidas
por água quente, calor seco, vapor e corrente elétrica.
Pasteurização • A temperatura e o tempo de duração do processo estão condicionados à carga inicial
de microrganismos do produto e às condições de transferência de calor através do
alimento.
• Indicada especialmente para: leite, creme de leite, polpa de frutas, sorvetes, embutidos,
compotas etc.
• Realizada por processos diversos, visa à destruição das floras normal e patogênica
presentes em alimentos, prevenindo sua deterioração e eliminando agentes nocivos à
Esterilização saúde.
• A temperatura destroi o Clostridium botulinum em sua forma vegetativa e esporulada e
é considerado o mínimo térmico exigido para a eficácia do tratamento.
• Normalmente utilizadas em carnes de vários tipos e seus derivados.
Defumação • As carnes entram em contato com o calor e a fumaça, perdem água e ficam ressecadas
na superfície, fornecendo uma verdadeira barreira física e química contra atividade dos
microrganismos.
Fonte: CENA, 2006.
Irradiação de alimentos
O processo de irradiação de materiais é utilizado há mais de um século por vários
países e é regulado por organizações científicas especializadas (OLIVEIRA, 1998). A
maior aplicação deste processo está na possibilidade de se alcançar um controle da
contaminação microbiológica. Portanto, podemos obter a desinfestação, que é a redução do
número de microrganismos até um nível compatível com a utilização final do produto
(VITAL, 2008). O interesse crescente pelo uso do tratamento por irradiação se deve, em
parte, à preocupante incidência de doenças causadas por alimentos contaminados e também
devido ao banimento gradual de fumicidas e conservantes químicos (Agência Internacional
de Energia Atômica - IAEA, 1991).
Trata-se de um processo de alta confiabilidade, simplicidade e custo competitivo
quando comparado a outros processos. Além disso, este processo não deixa resíduos
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tóxicos nem radioativos, pois o alimento irradiado nunca entra em contato direto com a
fonte de radiação e, portanto, não se contamina. Os microrganismos são mortos pela
destruição de uma molécula vital ou pela ação de compostos que resultam da ação da
radiação. Segundo FARIA, E.F. et al, (1999, p.3), cabem ainda as seguintes observações:
A esterilização de alimentos com raios γ, além de prolongar a vida dos produtos, dispensa o
uso de aditivos, preservativos químicos e fumigações, tornando-os isentos de
microorganismos indesejáveis. A irradiação não só propicia a elevação da quantidade de
produtos exportados como também contribui para a redução de perdas diversas cujos índices
variam de 23% dos grãos a 36% dos hortigranjeiros. A quantidade de radiação absorvida ou
dose absorvida é medida pela quantidade de energia que a radiação libera no meio com o
qual interage. No sistema internacional a unidade de medida é chamada de Gray (Gy) e
corresponde a energia absorvida de 1 Joule/Kg.

As inovações de métodos modernos de aplicação da irradiação no processamento


das frutas (Quadro 8), podem contribuir muito para o desenvolvimento de produtos
adequados aos grupos de tendências. Além disso, os ganhos de produtividade advindos das
novas tecnologias podem contribuir para a redução dos custos de produção, favorecendo a
formação de preços competitivos.
Quadro 8 - Principais aplicações e vantagens da irradiação no processamento de alimentos.
Processo preservativo e de desinfestação para alimentos líquidos, sólidos e matérias-
Aplicações
primas “in natura”; Conservação dos alimentos em uma única operação.
Destruição de microrganismos em baixas temperaturas; Segurança; Utilização em
Vantagens derivados congelados ou embalados; Alterações sensoriais e nutricionais insignificantes;
Baixo consumo energético; Baixo custo operacional.
Fonte: CGEE,2010
Por outro lado, da mesma forma que os demais processos de conservação, a técnica
também apresenta limitações, segundo VITAL (2008, p.5-6):
[...] nem todos os tipos de alimentos se prestam à irradiação, pois em alguns casos não há
vantagens em irradiá-los; quando usado em condições inadequadas, o processo pode alterar
o sabor ou outros atributos sensoriais de alguns produtos que têm elevados teores de gordura
e água. Além disso, a técnica não permite recuperar alimentos já visivelmente deteriorados,
e freqüentemente precisa ser combinada a outros métodos. Finalmente, ressalta-se que a
construção de um irradiador é um investimento dispendioso e sua operação, embora
relativamente barata, normalmente exige uma boa infra-estrutura de apoio e um
planejamento logístico adequado.

Os efeitos da irradiação em um alimento dependem primariamente de sua


composição, da dose aplicada, da temperatura e da presença ou não de oxigênio durante o
tratamento. Consequentemente, enquanto as alterações químicas produzidas são mínimas,
tipicamente da ordem de uma parte em um milhão, a população de bactérias responsáveis
pela deterioração precoce dos alimentos pode ser reduzida milhares de vezes.
14

A viabilidade do processo está basicamente associada a esse mecanismo. Uma dose


de 0,1 kGy, considerada muito baixa, é capaz de reduzir significativamente a carga
microbiana de um alimento, produzindo danos em 2,8% do DNA, o que é letal para a
maioria dos microrganismos (DIEHL, 1990).
Curiosamente, certas alterações enzimáticas, embora pequenas, podem concorrer
para aumentar a vida útil de vários produtos de origem vegetal por meio da inibição de
brotamento ou retardo do amadurecimento, como ocorre com as frutas, conforme a tabela 1.
Tabela 1 - Radurização - Funções, Doses e Produtos.
Fonte: CGEE, 2010.
Dose reduzida (até 1 kGy)
Função Dose (kGy) Produtos Irradiados
Inibir a germinação 0,05-0,15 Batatas, cebolas, alho, raiz de gengibre e outros
0,15-0,50 Cereais e legumes, frutas frescas e secas, pescados e
Eliminar insetos e parasitas
carnes frescas e secas, carne de porco frescas
Atrasar processos fisiológicos 0,50-1,00 Frutas e hortaliças frescas
Na garantia da segurança alimentar, o tratamento por irradiação pode ser um
poderoso aliado para prevenção de doenças transmitidas por alimentos contaminados por
patógenos. Doses intermediárias eliminam completamente bactérias patogênicas, como
Salmonella, Escherichia coli e Staphylococcus aureus, sem prejudicar as características
sensoriais dos produtos (URBAIN, 1986).
As alterações nutricionais induzidas pela irradiação nos alimentos ocorrem em
níveis comparáveis àquelas que ocorrem nos métodos convencionais de processamento. Por
exemplo, as vitaminas C e B1 são sensíveis à irradiação e ao tratamento térmico. O Comitê
Misto composto pela Organização para as Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação
(FAO), pela IAEA e pela Organização Mundial de Saúde (OMS) avaliaram estas questões e
concluíram, a partir de 1980, que o processo, desde que esteja dentro dos limites
recomendados, não acarreta nenhum tipo de problema toxicológico (OLIVEIRA, 1998).

Metodologia

Quanto à natureza, esta pesquisa caracteriza-se por ser do tipo aplicada e por
objetivar conhecimentos para aplicação prática dirigidos à solução de problemas
específicos relacionados ao processo de preservação e conservação dos alimentos nos D
Sup, valendo-se para tal do método dedutivo. Optou-se por empregar a abordagem
qualitativa, por meio de uma pesquisa bibliográfica e documental, por pesquisa de campo e
por um cálculo da viabilidade do uso do processo de irradiação industrial na preservação
15

dos alimentos estocados no armazém de víveres (AV) dos D Sup.


Inicialmente, foi realizado um estudo bibliográfico e documental que teve por
método a leitura exploratória e seletiva de material já publicado, constituído principalmente
de manuais doutrinários, livros, monografias, documentos e relatórios dos D Sup e
Organizações Militares (OM) e materiais disponibilizados na Internet, com sua revisão
integrativa.
O delineamento de pesquisa contemplou as fases de levantamento e seleção da
bibliografia e de documentos, crítica dos dados, leitura analítica e fichamento das fontes e
argumentação e discussão dos resultados.
Para identificar oportunidades de melhoria para o sistema de preservação,
conservação e armazenagem dos alimentos nos Depósitos de Suprimento, foi realizada uma
pesquisa de campo, com entrevistas semi-dirigidas e guiadas por roteiro (Apêndice A),
feitas com profissionais relacionados e conhecedores da realidade em foco.
Durante as entrevistas, ficaram disponíveis relatórios e dados importantes, tais como
quantidades totais, tempo de estocagem, aspectos do nível de segurança, mensuração das
perdas da estocagem e custos para a aquisição dos gêneros alimentícios. As entrevistas
foram realizadas de 03 de novembro de 2010 a 22 de fevereiro de 2011, no 1º D Sup, no
Centro Tecnológico do Exército (CTEx) e na Acelétron Industrial Ltda, estabelecimento
civil de irradiação de alimentos.
Complementando a pesquisa, foi realizado o estudo da viabilidade econômica pelo
uso dos procedimentos de custos logísticos, visando identificar o quantitativo necessário de
alimentos do AV para tornar viável a implantação do irradiador de materiais e o tempo
requerido para que o investimento apresentasse o seu retorno.

Resultados e discussão

A seguir serão apresentados os resultados da investigação, ordenados pelos dados


obtidos da revisão de literatura, da documentação de referência, das informações obtidas na
pesquisa de campo e pelo cálculo dos custos fixos e variáveis no estudo de viabilidade
econômico-financeiro.
A partir da análise das respostas do roteiro 1, foram definidas as características dos
produtos utilizados na preservação e conservação dos itens de Classe I. Uma vez
mensurados e analisados, esses itens poderão fornecer a avaliação dos desempenhos dos
16

componentes químicos. As características estão no quadro 9.


Quadro 9 – Características dos produtos utilizados nos processos de preservação e conservação dos alimentos.
Característica Polvilhamento com Fumigação com Brometo
Fumigação com Fosfina
do material Malation a 2% de metila
Gêneros empilhados, Gêneros empilhados Gêneros empilhados e a granel
Aplicabilidade instalações e
equipamentos.
Prevenção contra os Expurgo de grãos infestados Expurgo de grãos infestados
Combate às
carunchos do milho e
pragas
do feijão
Através do misturador Munido de aplicador Como a fosfina se apresenta em
(manual ou simples (um botijão, uma comprimidos ou saquinhos, basta
mecânico), aplica-se mangueira de borracha e abrir o recipiente para que o gás
uma camada intensa e uma cruzeta de latão) (resultante da hidrólise do fosfato
Técnica de uniforme de pó em estende-se a mangueira de alumínio com a umidade do ar)
aplicação todas as faces da carga sobre a carga e, após a se propague. Assim como o
e sob os estrados. vedação completa do local, brometo de metila, necessita-se de
faz-se a aplicação na uma vedação completa do local.
proporção de 30 gramas por Faz-se a aplicação na proporção
metro cúbico. de 10 gramas por metro cúbico.
leva até 180 dias, 3 dias (Um para a 5 dias (Um para a preparação da
dependendo da preparação da tenda e da tenda e da carga, três para a
Tempo de dosagem carga, um para a aplicação aplicação da fosfina e um para a
imobilização do brometo de metila e um desmobilização da tenda)
para a desmobilização da
tenda)
Dos Produtos listados, Menor tempo de É o processo mais prático de
é o mais utilizado na imobilização expurgo de grãos, seja por
Vantagens preservação de empilhamento ou em silos.
alimentos e
instalações
Os grãos tratados não Não pode ser utilizado para Não pode ser utilizado para o
podem ser o expurgo do arroz e do expurgo do espaguete, pois o
consumidos trigo, nos quais agente químico derrete a sua
imediatamente (leva permanecem resíduos de composição;
até 180dias, bromo; Provoca danos ao meio ambiente,
Limitações dependendo da Exige uma técnica apurada principalmente à camada de
dosagem); e complexa para a sua ozônio.
Necessita do uso de aplicação no armazém
misturadores. Provoca danos ao meio
ambiente, principalmente à
camada de ozônio.
Fonte: Elaborado pelo autor
Pôde-se observar que os meios utilizados para a realização da conservação e do
expurgo dos D Sup ainda são eficientes no ponto de vista técnico-operacional. Entretanto, dos
pontos de vista ambiental e pessoal, constitui-se num risco elevado, tendo em vista que tais
agentes químicos são extremamente danosos às pessoas que os aplicam, pois a manipulação
dos gêneros expurgados é obrigatória e a possibilidade de contaminação por estes agentes
químicos é razoável, não podendo ser descartado a hipótese de contaminação por contato
17

manual ou por inalação dos produtos. A utilização final do produto tratado exigirá, ainda, uma
medida de eficiência de aeração, garantindo a eliminação dos resíduos dos gases que são
altamente tóxicos, e que podem acarretar danos ao meio ambiente. Segundo o Instituto de
Pesquisas Energéticas e Nucleares IPEN (2008, p. 1), afirma que:
Os alimentos podem ser tratados após a colheita com fumegantes como o brometo de metila,
que é altamente eficiente para a desinfestação de produtos agrícolas. Entretanto, essa substância
é altamente prejudicial ao meio ambiente, por ser destruidora da camada de ozônio da
estratosfera. Por este motivo, está previsto até o ano de 2015 a proibição da utilização do
brometo de metila no mundo todo.
As opções supracitadas não realizam o controle microbiológico, pois elas não
eliminam completamente a carga microbiológica do produto nem ovos e larvas de insetos e
artrópodes presentes no interior dos alimentos. Tampouco são capazes de causar a morte
dos microrganismos termossensíveis.
Além desses fatores, os agentes químicos em tela podem deixar resíduos nos
alimentos. Todavia, tais produtos químicos são utilizados há mais de 40 anos sem que haja um
aperfeiçoamento dos métodos de preservação e conservação feitos por eles. Há a necessidade
de melhores recursos tecnológicos para suprir essa deficiência. O fato é claramente relatado
nos seguintes discursos: “... necessita-se de completa vedação no local” e “... leva-se até 180
dias de imobilização dos gêneros alimentícios polvilhados por malation a 2%”. A condição
dos agentes químicos, contrária às questões ambientais e de recursos humanos dos militares
dos D Sup, parece gerar uma preocupação no militar que necessita manipular os gêneros, tanto
no armazenamento quanto no consumo dos alimentos.
Essas percepções no aspecto ambiental e de recursos humanos dos métodos de
preservação e conservação praticados pelos Órgãos Provedores (OP) podem ser mais
esclarecidas quando a FAO estima que de um quarto a um terço da produção mundial de
alimentos se perde devido às pragas, insetos, bactérias, fungos e enzimas que consomem,
estragam ou contaminam os alimentos depois da colheita e durante o armazenamento. A
diminuição dessas perdas poderá gerar uma redução dos custos logísticos e de pessoal.
Segundo VITAL (2008, p.5), o processo de irradiação de alimentos pode ser uma
alternativa para substituir o processo da aplicação dos agentes químicos fumegantes, pois
oferece uma série de vantagens:

Somente a irradiação permite tratar alimentos em suas embalagens finais, reduzindo assim o
risco de recontaminação. Os alimentos irradiados em geral mantêm-se mais atraentes e
saudáveis por um período significativamente mais longo, sem a necessidade do uso de
18

conservantes químicos. Além disso, o processo permite tratar adequadamente todo o volume
do alimento, sem deixar resíduos e sem alterar significativamente a temperatura, evitando
assim a perda de nutrientes por ação térmica, sendo que alguns alimentos secos apresentam
menor tempo de cozimento depois de irradiados.

Traçando um paralelo com o objetivo de tornar o processo de irradiação dos


alimentos mais adequado, os operadores dos armazéns dos D Sup e das OM apoiadas, bem
como os cozinheiros e auxiliares de rancho devem, de acordo com requisitos da segurança
alimentar (Portaria 854/SELOM/MD, Resolução-RDC nº 216/2004), unir os procedimentos
de preservação e conservação aos procedimentos corretos de manipulação dos alimentos.
A partir da análise das respostas do roteiro 2, foram definidas as quantidades dos
itens de Classe I que são adquiridos pelos Depósitos de Suprimento da 1ª, 2ª e 4ª RM, bem
como o custo para a consecução das tarefas administrativas e que, uma vez mensurados e
analisados, poderão oferecer com eficiência a avaliação dos custos envolvidos no processo
de aquisição. As características estão demonstradas no quadro 10.
Quadro 10 – Custos no processo de aquisição dos gêneros de alimentação
Perguntas Escalão Logístico Depósitos de Suprimento

Para aquisição dos agentes químicos e do


Itens licitados 14 Itens do AV
material auxiliar

Total de até 82 dias, sendo: Total de até 42 dias, sendo:


15 dias para análise do edital pelo 15 dias para análise do edital pelo Núcleo de
Núcleo de Assessoria Jurídica da Assessoria Jurídica da Advocacia Geral da
Advocacia Geral da União (NAJ/AGU) União (NAJ/AGU)
30 dias para a divulgação do edital de 5 dias para a divulgação do edital de licitação
Tempo de licitação (Diário Oficial da União e (Diário Oficial da União e Jornais de grande
realização do Jornais de grande circulação); circulação);
certame 22 dias para habilitação jurídica, 22 dias para habilitação jurídica, qualificação
licitatório qualificação técnica, entrega das técnica, entrega das propostas, análise das
propostas, análise das propostas, propostas, adjudicação do vencedor e a
adjudicação do vencedor e a homologação da licitação. Caso haja algum
homologação da licitação. Caso haja recurso, este prazo pode estender-se por mais
algum recurso, este prazo pode estender- 15 dias.-
se por mais 15 dias.
Tempo de De acordo com a capacidade de
consumo das armazenagem das OM apoiadas, pode ser de
OM apoiadas até 3 meses.
Tempo de Tempo de validade dos gêneros alimentícios,
-
estocagem em média de 1 ano
Ciclo de 3 meses. Mas este ano (2010) não houve o repasse normal de créditos
Ciclo do Nível
orçamentários para os meses de Junho, julho e agosto, havendo a necessidade do
de segurança
consumo dos alimentos estocados no Nível de Segurança (Ni Seg).
Mensuração de Aproximadamente 2%
perdas de -
estocagem
Fonte: Elaborado pelo autor
19

As atividades de aquisição, recebimento, armazenagem e estocagem demandam muito


tempo e recursos, ficando evidenciadas nos seguintes discursos: “... leva-se cerca de 80 dias
para a consecução do certame licitatório, com um custo de cerca de 42000 Reais” e “... os
gêneros alimentícios podem permanecer por até um ano estocado no armazém, tendo perdas
médias de 2%, sendo 1% do que é separado para o exame no LIAB e 1% com derrames e
outras perdas oriundas de quebras de armazenagem”.
Os processos de aquisição de materiais e serviços estão sob a égide das leis no 8666/93
e no 10520/2002. O Artigo 2o da Lei no8666/93 trata especificamente sobre as aquisições no
âmbito dos Poderes da União:
Art.2o As obras, serviços, inclusive de publicidade, compras, alienações, concessões,
permissões e locações da Administração Pública, quando contratadas com terceiros, serão
necessariamente precedidas de licitação, ressalvadas as hipóteses previstas nesta Lei.
Em conjunto com a Lei 8666/93, a lei no10520 aborda a modalidade do Pregão,
visando dar celeridade ao processo da aquisição dos materiais e serviços:
Art. 1º Para aquisição de bens e serviços comuns, poderá ser adotada a licitação na
modalidade de pregão, que será regida por esta Lei.
Parágrafo único. Consideram-se bens e serviços comuns, para os fins e efeitos deste artigo,
aqueles cujos padrões de desempenho e qualidade possam ser objetivamente definidos pelo
edital, por meio de especificações usuais no mercado.
Atualmente, a administração militar realiza de dois a quatro Pregões ao ano para a
aquisição dos alimentos do AV, onde ficam estocados os alimentos secos (feijão, arroz,
farinha de mandioca, fubá de milho, leite em pó, café torrado e moído, macarrão, açúcar
refinado, sal refinado, ração operacional e xarope de guaraná). Apesar de haver mais 3 itens
(vinagre, óleo de soja e margarina), eles não pertencem ao foco do presente trabalho, pois as
técnicas de preservação e conservação utilizadas são eficazes para a administração militar.
Contudo, no momento em que a administração militar não recebe os gêneros
alimentícios celebrados no contrato, poderão ser exigidas as garantias contratuais (Art 56, Lei
no 8666/93), bem como a aplicação das multas rescisórias (Art 87, Lei no 8666/93). Essas
medidas mostram que existe o ressarcimento financeiro do dano à administração militar.
Entretanto, esse fato não livra da possibilidade da escassez de alguns gêneros licitados, uma
vez que o material adquirido, ao ser inspecionado pelo LIAB, poderá ser recusado se for
constatada alguma irregularidade. Esses trâmites demandam tempo e gêneros de alimentação
que são do nível de segurança (Ni Seg).
O Ni Seg é a quantidade de suprimento estocado no D Sup necessária para garantir a
20

continuidade das operações na eventualidade de pequenas interrupções da reposição ou


flutuação imprevisível nas necessidades de suprimento (NARSup, 2002). Os valores
financeiros para constituir o Ni Seg são regulados pelo Comando Logístico (COLOG),
apoiado pela Diretoria de Abastecimento (D Abst), conforme o ANEXO A.
Todavia, o Ni Seg não tem um tempo especificado na NARSup e isto pode gerar um
problema logístico no tocante às determinações dos prazos de consumo e sua reposição nos
armazéns.
Na hipótese de um D Sup possuir um Ni Seg para apoiar às OM usuárias por um
período de três meses e posteriormente não receber o repasse orçamentário previsto para os
meses subsequentes, os estoques poderão ficar seriamente comprometidos. Além da hipótese
citada, caso haja um problema na aquisição (demora no certame licitatório e celebração do
contrato) e no recebimento de novos produtos (rejeição dos artigos pelo LIAB ou dificuldades
no transporte por parte dos fornecedores), o D Sup não disporá de artigos para suprir as OM na
eventualidade, criando um problema no abastecimento das OM usuárias.
A irradiação dos alimentos poderia atuar como uma grande aliada para a cadeia de
suprimentos, pois tem um ótimo potencial para minimizar ou até resolver problemas
logísticos, reduzindo a demora no abastecimento e escassez do alimento no mercado. Em
combinação com outros processos, como a atmosfera modificada e o aperfeiçoamento de
embalagens, a irradiação de alimentos é capaz de oferecer produtos mais estáveis em
condições tropicais (CGEE, 2010). Essa combinação pode aumentar a durabilidade dos
gêneros alimentícios, de acordo com a tabela 2.
Tabela 2 – Vida útil dos Alimentos com e sem a Irradiação.
Fonte: CGEE, 2010.
Produto Vida útil sem irradiação Vida útil com irradiação
Arroz 1 ano 3 anos
Farinha 6 meses 2 anos
Milho 1 ano 3 anos
Trigo 1 ano 3 anos

O processo de irradiação permite um maior tempo de estocagem dos alimentos do


armazém de víveres, ajudando a administração militar a resolver alguns problemas de
escassez ou demora no tempo de entrega por parte das empresas fornecedoras.
21

Uma sugestão que poderia cumprir as condições acima descritas é a mudança do


processo de aquisição dos alimentos irradiados do AV de seis meses para um ano, pelo
Escalão Logístico da Região Militar (Esc Log RM) e sem precisar fazer processos
intermediários. Este procedimento elimina parte dos custos indiretos, como o emprego da
comissão de licitação várias vezes ao ano para adquirir o mesmo produto.
Sobre o ponto de vista técnico, o processo de irradiação dos alimentos permite
também um tempo maior para a entrega no D Sup e para análise dos produtos pelo LIAB,
diminuindo também a incidência de possíveis problemas de ordem logística entre as etapas
da cadeia de suprimento do EB.
Em contraste aos custos do processo, são apontados os investimentos na tecnologia de
irradiação de materiais para a consecução das tarefas, seja o EB realizando o processo, seja
o EB terceirizando o processo para empresas civis. Esses dados, uma vez mensurados e
analisados, poderão oferecer com eficiência a avaliação dos custos envolvidos no processo
de aquisição. As características estão demonstradas no quadro11.
Quadro 11 – Características e custos no processo de irradiação industrial dos gêneros de alimentação.
Seção de Energia Nuclear
Perguntas
CTEx - RJ
Acelétron Industrial Ltda
O irradiador de Césio 137 é somente O irradiador de feixe de elétrons trabalha à
Capacidade de para fins de pesquisa; o irradiador de razão de 2 KGy/segundo, dependendo do
utilização dos Cobalto 60 atualmente é o mais coeficiente de penetração do material a ser
irradiadores utilizado na irradiação comercial dos irradiado.
alimentos
O irradiador de Cobalto 60 tem um Os dois aceleradores de feixe de elétrons
custo de US$ 5 milhões com uma meia- custaram US$ 8 milhões, lembrando que neste
vida útil de 5,23 anos. A estrutura processo não há meia-vida útil, já que não há
Custo do necessária para atender às normas da fonte de origem radioativa no processo.
irradiador e RDC no 21, de 2001 da ANVISA custa Somente é utilizada a energia elétrica como
sua estrutura em torno de US$ 2 milhões, tendo em fonte de energia. A estrutura para o provimento
vista a operação do sistema ser feito em da segurança radiológica e operacional
ambiente fechado. (ambiente aberto) custou em torno de US$ 3
milhões
Nos países desenvolvidos, o custo varia
entre 2 e 8 US$/ tonelada. Aqui no
Brasil, o custo da irradiação de Para a desinfestação de insetos e a eliminação
Custo da
alimentos varia entre 10 e 15 de fungos responsáveis por micotoxinas, o
irradiação
US$/tonelada, lembrando sempre que valor é de US$ 65 a tonelada
são utilizadas baixas doses (de 0,1 até 1
KGy) no alimento a ser irradiado.
Fonte: Elaborado pelo autor
Essa percepção da amplitude nos custos logísticos pode ser elucidada quando se
avaliam os dados referentes aos custos da aquisição dos víveres regionais, que avultam da
ordem de 32 milhões de Reais anuais e que correspondem a uma carga de mais de 10.000
22

toneladas/ano. Se for levado em conta que a tonelada de alimento beneficiado custa cerca
de R$ 112, 00, o custo da contratação anual do serviço terceirizado é de aproximadamente
3,45% das aquisições dos víveres anuais.
Entretanto, caso do EB invista na estrutura e na aquisição do irradiador comercial de
médio porte para alcançar um objetivo estratégico, a taxa de retorno do investimento é
positiva em ambas as situações explicitadas na tabela 3.
Tabela 3 – Processo de custeio por absorção da implantação de um irradiador de materiais
Fonte: Elaborada pelo autor
Acelerador de elétrons (Raios β) Irradiador de 60Co (raios γ)
Custeio Valor (R$) Custeio Valor (R$)
Custos Fixos 17.000.000,00 Custos Fixos 8.500.000,00
Depreciação (30 anos) 800.000,00/ano Depreciação (6 anos) 1.190.000,00/ano
Despesas administrativas Despesas administrativas
41.085,00/ano 41.085,00/ano
(amortização) (amortização)
Custo Fixo Total (CFT) 758.915,00/ano Custo Fixo Total (CFT) 1.148.915,00/ano
Matéria-Prima 31.488.000,00/ano Matéria-Prima 31.488.000,00/ano
Mão de Obra 150.000,00 Mão de Obra 150.000,00
Peso (Kg/ano) 10.245.360 Kg/ano Peso (Kg/ano) 10.245.360 Kg/ano
Custo Variável 3,25/Kg Custo Variável 3,25/Kg
Preço de venda (Kg) 0,08 Preço de venda (Kg) 0,12
Ponto de Equilíbrio Físico Ponto de Equilíbrio Físico
9.486.438Kg 9.574.292 Kg
(PEF) em Kg (PEF) em Kg
Tempo de Retorno (meses) 128 meses Tempo de Retorno (meses) 42 meses

A aquisição do irradiador de médio porte pela administração militar com o objetivo


de irradiar alimentos do AV é viável, pois o volume a ser irradiado é suficiente para dar
sustentabilidade ao processo, deixando a máquina próxima da sua capacidade nominal.
A gama de aplicações de uma irradiação poderia ser a chave mestra para a sua
expansão. Apesar do investimento relativamente alto do irradiador de materiais, a variedade
dos itens que podem ser irradiados aumenta o percentual de tempo de uso e, por
conseguinte, a redução dos custos operacionais pelo seu não-uso em horas/máquina.
Como exemplo dessa afirmativa, há a possibilidade do uso do irradiador pelas
parcerias público–privadas (PPP) no sentido de atender, além dos demais artigos dos D Sup
EB e que não foram alvo deste estudo, como os artigos frigorificados e a ração de
campanha, também diversos segmentos da sociedade civil. A irradiação de materiais atua
23

numa ampla variedade de produtos, desde víveres, escopo do presente trabalho, passando
por materiais hospitalares, embalagens, cosméticos, temperos, fitoterápicos, polímeros e
outros itens.
Em contrapartida, as perdas decorrentes das quebras de armazenagem são ainda
altas no Brasil. Segundo o Ministério da Agricultura, essas perdas representam cerca de
10% dos grãos ou cerca de 9,8 milhões de toneladas por ano (Tabela 4)
Tabela 4 - Perdas por pragas em grãos armazenados nas principais commodities brasileiras.
Tipo de grão Produção Anual (t) Perda Anual (t) Valor da Perda Anual (R$ milhão)
Milho 41.536.000 4.154.000 465
Soja 37.216.000 3.722.000 587
Arroz 10.366.000 1.037.000 216
Trigo 2.967.000 296.000 44
Feijão 2.591.000 259.000 109
Cevada 338.000 33.000 5,8
Outros 3.103.300 310.000 -
Total 98.117.300 9.811.000 1427
Fonte: CGEE, 2010.
As informações obtidas mostram o papel estratégico que a implantação do
irradiador teria no aperfeiçoamento dos processos de armazenagem e transporte no meio
civil, minimizando as quebras nos elos da cadeia de suprimentos como um todo, além de
representar um avanço ambiental perante os organismos internacionais.
Outros fatores que poderiam ser levados em conta e que aumentariam a demanda
são a diversificação dos produtos a serem irradiados e ainda o alcance que uma aquisição
centralizada dos OP de alimentos poderia atingir. Com o aumento da vida útil, os víveres
poderiam ser armazenados por períodos mais longos e transferidos para cidades mais
distantes, inclusive para aquelas que apresentam características climáticas extremamente
desfavoráveis para os alimentos, como os depósitos da região amazônica do Brasil. Nesses
locais a tecnologia de irradiação de alimentos ainda não está disponível.

Conclusões

Com relação aos alimentos, o valor agregado ao produto final poderia ser ainda
maior se os víveres fossem adquiridos de forma centralizada. Há uma redução considerável
nos custos com a aquisição dos alimentos, bem como uma celeridade nos processos
administrativos básicos nos D Sup, economizando tempo e recursos. Esse objetivo é viável
pelo fato de o processo de irradiação aumentar consideravelmente o tempo de vida útil dos
24

alimentos. Por conseguinte, o transporte de um produto poderia ser feito num espaço de
tempo maior, diminuindo assim o custo de transporte.
A análise da perspectiva ambiental observa que a irradiação de materiais não
oferece riscos. Os alimentos irradiados não têm suas características alteradas e as fontes
energéticas decaem para um elemento estável, não causando danos ao meio ambiente.
De acordo com a perspectiva técnica, o processo de irradiação de materiais é
simples, seguro, de fácil operação e altamente eficiente, desde que as normas de segurança
e manipulação dos alimentos sejam devidamente seguidas.
O estudo da viabilidade econômica demonstrou que o processo de irradiação de
materiais, apesar do alto investimento, tem custo de operação baixo graças ao seu amplo
espectro de aplicação para fins pacíficos. A utilização das propriedades da irradiação
industrial nos itens de suprimento com maior valor agregado proporciona um tempo de
retorno satisfatório. Para processamento contínuo, o período de retorno de investimento fica
entre 42 e 128 meses e está bem aquém do período geralmente aceito pelo mercado
nacional para empreendimentos deste porte.
Finalmente, sob a ótica social e estratégica e pelos dados obtidos, a irradiação de
alimentos é uma ótima ferramenta. A utilização da parceria entre as instituições públicas,
civis e militares pode resultar em diminuição de preços e resolução de problemas logísticos,
sem, contudo, causar redução de empregos por conta da introdução das novas tecnologias.

Referências

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logísticas de localização de centros de distribuição. Disponível em http://www2.dbd.puc-
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25

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27

ANEXO A
FLUXOGRAMA DA CADEIA DE SUPRIMENTO
A Cadeia de Suprimento tem a seguinte composição:
I - Órgão de Direção Geral - Estado-Maior do Exército (EME);
II - Órgão de Direção Setorial – Comando Logístico (COLOG);
III - Órgão de Apoio Setorial - Diretoria de Abastecimento (DAbst);
V - Órgãos Provedores (OP) – Batalhões e Depósitos de Suprimento (B/DSup); e
VI - Organizações Militares (OM) usuárias.
EME

COLOG RM

DAbst OP

DFR D Mat OM

___________Canal Técnico
___________Canal de Comando
Nível 1 - E M E
DETERMINAÇÃO DAS
NECESSIDADES GLOBAIS

Nível 2 - COLOG
-Determinação das necessidades
- Obtenção do material
- Distribuição

Nível 3 – D Abst
-Determinação das necessidades e obtenção do material como participante direto do COLOG
- Coordenação em nível nacional a distribuição e o remanejamento do material

Nível 4 – RM*
-Determinação das necessidades e obtenção do material como participante regional da D Abst
- Coordenação em nível regional a distribuição e o nivelamento do material
*Observação: O OP é o executor das determinações e distribuidor a nível regional.
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Apêndice A - Roteiro

PROBLEMATIZAÇÃO
Distúrbios alimentares e o montante de alimentos desperdiçados têm sido fontes crescentes
de preocupação na preservação dos alimentos. De acordo com a FAO (Organização das
Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), mais de 25% da produção agrícola
mundial está contaminada por alguma toxina. A deterioração de alimentos por fungos tem
resultado em perdas de 5 a 20% da produção em países desenvolvidos, podendo atingir
50% em países em desenvolvimento, principalmente em regiões de clima tropical. Além
dos problemas das perdas econômicas, o desenvolvimento de fungos está associado à
possível produção de toxinas.
Pesquisas que relatam a incidência de toxinas em alimentos têm sido conduzidas em
diferentes países. No Brasil, os níveis de contaminação, apesar de terem diminuído, são
motivos de preocupação dos Ministérios da Saúde e da Agricultura. Os valores detectados
de toxinas nos alimentos estão muito acima dos limites recomendados pela legislação em
vigor.
Nos Depósitos de Suprimento do Exército Brasileiro (EB), os alimentos são tratados com
fumegantes, que são altamente eficientes para a desinfestação de produtos agrícolas e na
preservação dos alimentos. Entretanto, essas substâncias são altamente prejudiciais ao meio
ambiente, por serem destruidoras da camada de ozônio. Por este motivo, está previsto até o
ano de 2015 a proibição da utilização desses produtos no mundo todo. O tratamento por
radiação pode vir a ser uma alternativa para a desinfestação de diversos produtos agrícolas.
Nessa perspectiva emerge a questão objeto dessa pesquisa: que medidas devem ser
adotadas na preservação e conservação dos alimentos estocados nos Depósitos de
Suprimento do Exército Brasileiro, tendo em vista tornar esses processos mais eficientes e
eficazes?
FINALIDADE

Esta entrevista é parte integrante do Trabalho de Conclusão de Curso, intitulado


“Armazenagem: estudo de viabilidade de adoção do processo da Irradiação Industrial na
prevenção de pragas do Suprimento Classe I nos Depósitos de Suprimento da 1ª, 2ª e 4ª
Regiões Militares do Exército Brasileiro”, a ser apresentado à Fundação Getúlio Vargas,
como pré-requisito para obtenção do Certificado de Pós-graduação lato sensu no Curso
MBA em Logística e Gestão da Cadeia de Suprimentos.

Tem como finalidade propor a adoção de equipamentos, instalações e procedimentos de


preservação e conservação dos alimentos, fim de que se tenha uma situação ideal de
trabalho dentro das normas em vigor.

As informações fornecidas serão utilizadas tão-somente para a presente pesquisa, e a


identidade dos participantes será mantida em sigilo, visando conferir maior liberdade na
expressão das opiniões pessoais.
29

APLICAÇÃO
Solicito que a presente pesquisa seja respondida pelos militares e civis colaboradores que
atuam diretamente nas atividades abaixo descritas. O universo a ser pesquisado será de
oficiais do EB e civis com experiência nas atividades de operações de suprimentos,
nutrição, pesquisa e desenvolvimento de materiais. Coloco-me à disposição para prestar
quaisquer informações a respeito do trabalho em desenvolvimento, e agradeço-lhe pela
colaboração.
Fabio da Silva Pereira – Capitão Intendente
Email: almox10blog@gmail.com
Entrevista destinada aos integrantes do LIAB
1. Quais são os itens de suprimento classe I que recebem o expurgo?
2. Qual é o peso total desses itens?
3. Quais são os materiais que auxiliam na prática do expurgo?(lona, pallets, etc.)
4. Quais são os componentes químicos usados no expurgo? E quais são as quantidades
padronizadas?
5. Com que freqüência é realizada o expurgo nos gêneros (por ano)?
6. Quantos militares são necessários para a realização da tarefa?
7. Por quanto tempo os gêneros ficam imobilizados com os componentes químicos?
8. Quanto tempo desse procedimento é destinado à re-embalagem?
9. Qual é a eficiência da aplicação do procedimento nos gêneros alimentícios?
Entrevista destinada aos integrantes do Escalão Logístico da 1ª Região Militar
1. Quais e quantos itens de Classe I são licitados?
2. Por quanto tempo pode durar um processo licitatório para a aquisição desses
gêneros?
3. Existe um custo para a realização do Pregão? Qual?
Entrevista destinada aos integrantes do Depósito de Suprimento da 1ª Região Militar
1. Quais e quantos itens de Classe I são estocados?
2. Por quanto tempo os gêneros podem ficar estocados?(Meses)
3. Por quanto tempo o estoque do nível de segurança completa o seu ciclo?
4. Existe uma mensuração de perdas na estocagem? Caso haja, qual a taxa e quais os
itens de maior perda?
Entrevista destinada aos integrantes da Seção de Energia Nuclear (CTEx-RJ)
1. Por que o irradiador trabalha com meia-vida útil?
2. Qual é a capacidade de utilização dos irradiadores existentes no mercado?
3. Qual é o custo desses irradiadores?
4. Qual é o nível de especialização que o operador do irradiador deve ter para atender
aos requisitos básicos?
5. O armazém de víveres precisará realizar modificações nas suas instalações para
receber o alimento irradiado? Se a resposta for sim, quais?
6. Qual é o custo médio para irradiar os alimentos de 0,1 a 1 KGy (KJ/Kg)?

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