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ANÁLISE REGIONAL DE RISCO DE INFECÇÃO POR HIV EM MOÇAMBIQUE

Autor (es):

Instituto Superior de Ciências e Educação à Distancia (ISCED)

RESUMO

O Vírus de Imunodeficiência Humana é uma doença de preocupação mundial e a situação não é diferente se
tratando de Moçambique. Neste contexto, o principal objectivo deste estudo é analisar os factores que
determinam a prevalência de HIV em Moçambique particularmente a nível regional e fornecer mais uma
ferramenta para a luta contra o mesmo. O objectivo primordial do presente estudo era de inferir sobre variáveis
que desempenham fundamental importância na explicação da infeção pelo vírus do HIV, destacando-se a idade,
o género, nível de educação bem como o resultado final do teste (se positivo ou negativo) bem como trazer
informações sobre a distribuição regional dos vírus do HIV. Assim constatou-se que a região Sul é a que detém
maior percentagem de infeção pelo vírus do HIV com uma taxa de 42.9%, seguido da região centro com uma
taxa de 34.6% e por fim a região Norte com uma taxa de 22.5%. A idade com maior incidência ou ocorrência do
vírus do HIV é a do intervalo dos 30 aos 40 anos, no que diz respeito ao género o destacamento vai para o
género feminino que detém 64% do total dos inqueridos.

Palavras-chaves: Vírus da Imunodeficiência Humana, variáveis.

ABSTRACT

The Human Immunodeficiency Virus is a disease of worldwide concern and the situation is no different when it
comes to Mozambique. In this context, the main objective of this study is to analyze the factors that determine
the prevalence of HIV in Mozambique particularly at the regional level and to provide one more tool for the
fight against it. The main objective of the present study was to infer about variables that play a fundamental
importance in explaining HIV infection, highlighting age, gender, education level as well as the final test result
(if positive or negative) as well how to bring information about the regional distribution of HIV viruses. Thus, it
was found that the South region has the highest percentage of HIV infection with a rate of 42.9%, followed by
the central region with a rate of 34.6% and finally the North region with a rate of 22.5%. The age with the
highest incidence or occurrence of the HIV virus is between 30 and 40 years old, with regard to gender, the
secondment goes to the female gender, who holds 64% of the total number of respondents.

Keywords: Human Immunodeficiency Virus, variables.

1. INTRODUÇÃO também considerada uma das doenças mais

A
destrutivas que a humanidade alguma vez
Epidemia do HIV/SIDA é
enfrentou, de acordo com a AIDS
um dos maiores desafios
Communication Department (2014).
alguma vez lançado ao
Segundo o Governo de Moçambique (2010)
desenvolvimento e progresso
o HIV/SIDA constitui, na actualidade, um
sociais do mundo (Nhabinde, 2013), é
dos grandes problemas de desenvolvimento e massa da população pode levar à separação
uma séria ameaça aos progressos e ganhos familiar e à desagregação das estruturas
em várias esferas de actividade económica, sociais e das normas que regulam o
social e política, exigindo um tratamento e comportamento.
atenção em todos os sectores e, como mostra
A prevalência do HIV no país é de
o estudo realizado por Jones-Smith (2007),
13.0% (INS e INE, 2017). A epidemia
tem um impacto negativo no crescimento
continua, actualmente, um dos mais
económico de um país.
destacáveis desafios de saúde pública, sendo
Em Moçambique os Inquéritos que Moçambique foi colocado como o
Demográficos e de Saúde (IDS), têm quinto país no grupo dos países com maiores
assumido uma importância cada vez mais taxas de prevalência (Governo de
crescente por se constituírem numa das Moçambique, 2015). O país vive uma
fontes mais fidedignas de informação sobre situação de epidemia generalizada que afecta
saúde, principalmente no que se refere a todos os segmentos da população, ainda que
desagregação geográfica e análise por determinados grupos populacionais se
características seleccionadas da população. destaquem, quer em termos de
Por este motivo, os seus resultados têm sido vulnerabilidade e propensão ao vírus, quer
amplamente divulgados através de variadas em termos de prevalência e infecção
formas de difusão (INE, 2013). (Governo de Moçambique, 2015).

De acordo com a literatura, o HIV e As acções desenvolvidas por


as emergências têm uma interacção singular. diferentes grupos da sociedade em geral, tais
Os factores que determinam a transmissão do como: Estratégia de Aceleração de
HIV durante emergências humanitárias são Prevenção (2008), Estratégia Nacional de
complexos e dependem do contexto e da Resposta ao HIV e SIDA na Função Pública
estratégia de resposta global. As (2009), Lei 19/2014 (Lei de Proteção da
desigualdades existentes entre os géneros Pessoa, do Trabalhador e do Candidato a
podem ser amplificadas, tornando as Emprego Vivendo com HIV/SIDA), os
mulheres e crianças desproporcionalmente Planos Estratégicos de Combate ao HIV
mais vulneráveis ao HIV. A perda de meios desenhados desde 2000 (estando agora em
de subsistência e a falta de emprego pode vigor o IV Plano), campanhas realizadas em
resultar no aumento do trabalho e a centros de saúde, brigadas montadas em
exploração sexual. O deslocamento em escolas, entre outros, esperam como
resultado final uma redução no número de Serve para ambientar o pesquisador com o
novas infecções, da mortalidade e morbidade conjunto de conhecimento sobre o tema. É a
associadas ao HIV e SIDA, bem como uma base teórica para o estudo, devendo, por isso,
significativa estabilização da vida das constituir leitura seletiva, analítica e
famílias moçambicanas e, sobretudo, uma interpretativa de livros, artigos, reportagens,
crescente disponibilidade de força de textos da Internet, filmes, imagens e sons. O
trabalho apta para os desafios que a pesquisador deve buscar ideias relevantes ao
economia nacional apresenta (Governo de estudo, com registo fidedigno das fontes.
Moçambique, 2015).
2.1. Método para a recolha dos dados
2. METODOLOGIA
Para a obtenção de dados para o presente
Antes da recolha de dados, foi realizada uma estudo foi empregue a entrevista como
revisão da literatura tida como Pesquisa método de colecta de dados, por ser a que
bibliográfica, em que no dizer de Gil (1991), mais se enquadra no tipo de estudo, por meio
a pesquisa bibliográfica é um trabalho de de inquéritos previamente estruturado com a
natureza exploratória, que propicia bases finalidade de obter informações intencionais
teóricas ao pesquisador para auxiliar no por parte dos entrevistados.
exercício reflexivo e crítico sobre o tema em
2.2. Amostra
estudo. Em primeiro momento é bastante útil
para aguçar a curiosidade do pesquisador e
A amostra para o presente estudo e de 11300
despertar inquietações sobre o tema a ser
indivíduos distribuídos ao longo das
estudado.
seguintes províncias de acordo com a tabela
abaixo:

Tabela 1: Amostra populacional


Província Número de indivíduos inqueridos
Cabo Delgado 1036
Niassa 1090
Nampula 1001
Zambézia 1000
Manica 1020
Sofala 990
Tete 1010
Gaza 1000
Inhambane 1100
Maputo cidade 1030
Maputo Província 1023

2.3. Ferramenta para o processamento dos dados

Para o processamento dos dados proveniente das entrevistas foi utilizado o Microsoft Excel
2010, para a organização dados na planilha bem como a obtenção de gráficos e as possíveis
inferências dos resultados obtidos.

2.4. Processamento dos Dados

Em função do tema, os dados foram divididos em região, sendo de acordo com a tabela

abaixo:

Tabela 2: Distribuição regional dos dados


Região Províncias correspondentes
Região Norte Cabo Delgado
Niassa
Nampula
Região Centro Zambézia
Sofala
Manica
Tete
Região Sul Gaza
Inhambane
Maputo (Cidade e província)

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Gráfico 1: Distribuição do género no inquérito do presente estudo


Gênero Região Norte
Mulheres Homens

36%

64%

De acordo com os dados 64% das pessoas inqueridas na região Norte são do género feminino,
e 36% das pessoas inqueridas são homens. As questões de género impactaram na percepção
dos participantes sobre a necessidade de serem testados e tratados. Por exemplo uma
participante descreveu uma situação:

“Os homens recusam ser testados por causa da sua imagem de


homem. Eles gostariam de fazer o teste em privado mas o centro de
saúde está longe e sentem que serão apontados caso dirijam-se para
lá”

De acordo com a INSIDA (2013), em estudos envolvendo género principalmente sobre saúde
e bem-estar a maior percentagem registada e do género feminino, por vários motivos e
justificativas os homens pouco frequentam os postos de saúde a procura de informações sobre
o seu estado, ao passo que as mulheres pela frequente ida aos postos de saúde em buca de
informações sobre sua saúde, métodos contraceptivos entre outros acabam obtendo
informações adicionais sobre a sua saúde.

De acordo com o Governo de Moçambique (2015), até 2014 a prevalência de HIV foi de
11.5%, sendo 13.1% nas mulheres e 9.8% nos homens. Os dados do IMASIDA-2015 indicam
que estas prevalências aumentaram tendo saído de 11.5% para 13.2%, o que torna a situação
mais preocupante visto que várias ações têm sido tomadas tendo em vista a contenção da
epidemia. A ONUSIDA citada pelo Governo de Moçambique (2015) coloca o país entre os
cinco países do mundo onde os índices de novas infecções continuam a crescer e constitui
uma preocupação.

Gráfico 2: Distribuição da idade de indivíduos inqueridos

Idade de mulheres inqueridas Idade de homens inqueridos


região Norte regiao Norte
1800 1200
1600
1000
Numero de Mulheres

1400

Numero de Homens
1200 800
1000
600
800
600 400
400
200
200
0 0
De 15-25 De 26-36 De 37-47 De 48-59 De 15-25 De 26-36 De 37-47 De 48-59
Intervalo de idade Intervalo de idade

Para o caso da idade, o gráfico mostra que a faixa etária mais inquerida segundo os dados e a
dos 15-25 anos na região norte do pais, tanto nos homens assim como nas mulheres. Esta
faixa etária e a que mais tem tido problemas de informação bem como interesse na obtenção
ou procura de informações sobre saúde sexual e reprodutiva particularmente sobre o HIV e os
respectivos métodos de prevenção ou medicação em caso de resultado positivo.

Gráfico 3: Nível de escolaridade


Nivel de escolaridade de Mulheres no Nivel de escolaridade de Homens 1-
Norte 4- Nao En-
Norte sino
fre-
quen- Pri-
tou mario
18%
18% 34%
34%

23%
3- Nao
termi-
24% nou o
ensino
se-
1- Ensino Primario cun-
2_Ensino Secundario dario 2_Ensino Se-
3- Nao terminou o ensino secundario 23% cundario
24%
4- Nao frequentou

Neste ponto, o gráfico acima ilustra que 34% dos indivíduos inqueridos tinha o ensino
primário feito, seguido de 24% que tinham o nível secundário feito, e 24% dos inqueridos
não tinham terminado o ensino secundário, e uma percentagem de 18% dos inqueridos nem
se quer tinham frequentado a escola. Esta distribuição de percentagens de 18% da população
não ter frequentado a escola, pode estar a mostrar um autentico desconhecimento frente ao
HIV bem como a sua disseminação bem como os seus métodos de prevenção, visto que até
mesmo o desconhecimento e visto até em algumas pessoas que já tenham pelo menos o nível
primário feito.

Gráfico 4: Distribuição dos indivíduos infectados pelo HIV (%) por grupos de idade

Para o gráfico acima, a faixa etária que apresenta maior taxa de infecção e a dos 31 aos 40
anos, quanto ao estado civil, os resultados mostram que a distribuição dos seropositivos em
função do mesmo é maior para os homens e mulheres que vivem com suas parceiras e para os
casados. A categoria “vivendo com parceiro (a)” apresenta maior percentagem de
seropositivos sendo também a diferença a maior comparativamente às restantes categorias
(13,8%; sendo 29,8 mulheres e 43,6% homens). A menor percentagem verifica-se nos viúvos
para os homens e mulheres que nunca estiveram em união.

Gráfico 5: Distribuição dos infectados pelo HIV (%) em função do nível de educação do
individuo.

No Gráfico 5 acima ilustrado, e patente a conclusão de que o nível de educação de um


individuo influencia no seu comportamento sexual frente a prevenção de doenças incluindo o
HIV, verifica-se que parte significante dos inqueridos no presente estudo tinham o ensino
primário feito mas isso não impediu que a taxa de infeção pelo nível de educação não fosse
maior para os do ensino primário feito, e é possível concluir com base no gráfico 5 de que
nem sempre a educação do individuo pode o fazer ciente e mudar de comportamento
correspondente a vida sexual, prevenção de doenças bem como de gravidez indesejada, pois
há que considerar que a cultura e a religião desempenham um papel preponderante na
mobilização de indivíduos frente a essa pandemia de impacto mundial. A taxa de menor
infeção recai sobre os sem educação o que ressalta de certa forma a importância da cultura e
religião frente a isso.

Tabela 3: Distribuição dos infectados pelo HIV por províncias (%)

Província Mulher (%) Homem (%) Todos (%)


Niassa 3.3 2.6 3.1
Cabo Delgado 9.7 11.3 10.2
Nampula 7.1 13.6 9.2
Zambézia 12.5 13.6 12.8
Sofala 11.8 11.5 11.7
Manica 7.3 7.6 7.4
Tete 3 2.1 2.7
Gaza 17.2 12.4 15.6
Inhambane 7.5 4.3 6.5
Maputo cidade 9.9 9 9.6
Maputo província 10.8 12 11.2

Tabela 4: Distribuição dos infectados pelo HIV por região

Região Províncias Distribuição (%)


Norte Niassa 22.5
Cabo Delgado
Nampula
Centro Zambézia 34.6
Sofala
Manica
Tete
Sul Gaza 42.9
Inhambane
Maputo (cidade e província)

Gráfico 5:Distribuicao dos infectados pelo HIV por região

Distribuição dos infectados pelo HIV por região

3- Sul
Regiao

2- Centro

1- Norte
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
Distribuicao (%)

Distribuição (%) Região


De acordo com os dados da Tabela 5 acima ilustrado, a taxa dos infectados e maior na região
sul do pais com uma taxa de 42.9%, seguido da região centro com uma taxa de 34.6% e por
fim a região Norte com uma taxa de 22.5%. As taxas de infeção são maiores na região sul do
pais devido a província de Gaza que tem estado no ranking das províncias com maiores
infeções a nível do pais, seguido da região centro que se tem destacado com a seguida região
de maior taxa de infeção devido a província da Zambézia que se tem destacado com uma das
províncias com maiores taxas de infeção pelo vírus do HIV a nível do pais.

4. CONCLUSÃO

É sabido que mulheres apresentam maior vulnerabilidade biológica ao HIV quando


comparadas aos homens, por apresentarem maior área de exposição do tracto genital, pelo
facto de a carga viral no sémen ser maior do que nos líquidos vaginais, e pelo facto de o
sémen permanecer por mais tempo no tracto feminino após a exposição sexual. Além disso, a
probabilidade de transmissão do HIV em mulheres jovens é maior por apresentarem trato
genital imaturo que pode se ferir mais facilmente durante o acto sexual, e neste sentido a
faixa etária dos 30 aos 40 e a que mostrou maiores taxas de infeção a nível do pais

A região com maior taxa de infeção é a região Sul com uma taxa de 42.9% e dessa taxa a
província de Gaza detém 15.6%, seguida da região Centro que detém 34.6%, e dessa taxa a
província da Zambézia lidera com 12.8% e finalmente a região Norte com uma taxa de 22.5%
das infeções dos quais 10,2% estão para a província de Cabo Delgado. No sul por causa de
Gaza que detém percentagem elevada de casos de infeção pelo vírus, seguida da região centro
por causa de Zambézia que a nível dessa região detém números maiores de infeção e por
último a região Norte que apesar de estar entre as regiões de menos casos de infeção a
província de Cabo Delgado esta como a província com mais casos a nível dessa região.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Nhabinde, S. A. (2013). Avaliação Do Impacto DO VIH/SIDA no Crescimento Económico


De Moçambique. Dissertação de Mestrado, Universidade Eduardo Mondlane,
Maputo.

Portal do Governo. (2015). Prevalência do HIV aumenta para 13,2 por cento em
Moçambique. Obtido em 16 de Julho de 2018, de
https://www.portaldogoverno.gov.mz/por/Imprensa/Noticias/Prevalencia-do-HIV-
aumenta-para-13-2-por-cento-em-Mocambique>

Jones-Smith, K. (2007). The Impact of HIV on Economic Development. Illinois State


University.

INE. (2013). Moçambique: Inquérito Demográfico e de Saúde 2011. Maputo: Ministério Da


Saúde.

Instituto Nacional de Saúde (INS), Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA
(CDC), Universidade de Califórnia, São Francisco (UCSF), Pathfinder International,
Centro Internacional de Formação e Educação para a Saúde (I-TECH), Improving
health and reducing inequities worldwide. Relatório Final: Inquérito Integrado
Biológico e Comportamental entre Mulheres Trabalhadoras de Sexo, Moçambique
2011–2012 [Internet]. São Francisco: UCSF; 2013 p. 99. Available from:
https://globalhealthsciences.ucsf.edu/gsi/> IBBS-MTS-Relatorio-Final.pdf

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