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Resumo
Introdução
das técnicas de automação, os mercados locais não conseguiam absorver toda esta
capacidade industrial. Novos mercados deviam ser procurados, e sistemas mais
amplos de distribuição perseguidos. Então o interesse no sistema distributivo e no
movimento de mercadorias, é o foco principal dos estudos que geraram a disciplina.
grandes centros urbanos, na região sudeste. Junto com elas surge, também, uma
nova filosofia de administração de negócios denominada marketing.
Para Richers (1994), o marketing no país nasceu em uma época muito
oportuna, os famosos “Anos Dourados”. Havia, sobretudo, esperança e a sensação
de que o país estava indo para frente e que isto seria sempre assim. Nesta época, a
disciplina era novidade em todo o mundo, menos para os americanos, onde era
praticada há muitos anos. Gracioso (1971, p.42) reforça que “o marketing assumia
um caráter de indesejada magia negra, espécie de rito secreto de alguns demônios
americanos”. Apesar do início conturbado, a prática do marketing no país prosperou,
mas o real significado do termo, como em grande parte do mundo, continua
nebuloso.
Partindo-se das primeiras premissas relacionadas com a disciplina no início
do século XX até os dias de hoje, muito se pesquisou sobre o real conceito do
marketing pelo mundo. Quando se aborda o tema no Brasil, do ponto de vista
acadêmico, desde os primórdios onde a disciplina relacionava-se fortemente com as
teorias econômicas até os dias atuais, onde assume uma conotação fortemente
social, muito pouco se pesquisa e muito menos se escreve. São poucos os
estudiosos que se encorajam a tratar do assunto, e com um pouco de reserva.
A bibliografia é incipiente, principalmente na academia, onde se verifica,
também, uma grande preocupação com a aplicabilidade dos conceitos nas
organizações, em detrimento à busca do conhecimento. Mas o que mais preocupa é
a miopia da maioria dos empresários brasileiros que ainda tratam o tema como
“qualquer coisa”, menos marketing.
Pode-se afirmar de maneira jocosa, que o Brasil foi o único país que levou a
sério o artigo de Regis McKenna (1991), intitulado “marketing é tudo, e tudo é
marketing”. Existe certa identidade com a afirmação que “cada brasileiro é um
técnico de futebol”, quando se relaciona com a análise do marketing. Pode-se
afirmar que cada um é, ou se considera um “marketeiro”, (termo este fortemente
pejorativo), quando se analisam as origens, a evolução e a disseminação da filosofia
em nosso país.
A Evolução da Disciplina
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práticas de marketing culminando com a sexta geração, nos anos 90, caracterizada
por consumidores cada vez mais exigentes e um mercado cada vez mais
segmentado. A sétima geração se relaciona fortemente com a Internet e, por fim, a
oitava geração ou aftermarketing, que é o marketing digital.
Gracioso (1998) considera o processo de evolução do marketing dividindo-o
em quatro fases distintas. A Fase I (1950-1960), ou de orientação para vendas, era
caracterizada pela utilização da propaganda, merchandising, promoção de vendas e
pesquisas de mercado. A área comercial vende o que a empresa produz, sendo que
o mercado é caracterizado por baixos níveis de consumo e pouca oferta.
Na Fase II (1960-1970), o marketing se consolida, ganha relevância o papel
das Agências de Propaganda que assimilaram os conceitos de marketing integrado
antes da clientela. Segundo o autor, uma geração de anunciantes “aprendeu” a fazer
marketing graças à orientação recebida de suas Agências.
A Fase III inicia em clima de euforia (1970-1980), criado pelo chamado
milagre brasileiro (o autor denomina como o marketing em clima de Brasil grande).
Houve um período de incremento qualitativo do pessoal de marketing nas grandes
empresas, ao mesmo tempo em que o mercado consumidor de bens duráveis e
industriais se expandiu. Cabe comentar que trata-se de uma época de muito
desperdício com os investimentos em propaganda.
A Fase IV (1980-1995), é uma espécie de volta à realidade. Foram os “anos
das ilusões perdidas”. O país acorda para sua realidade e o mercado encolhe. O
marketing perde sua importância no contexto empresarial e o setor financeiro
assume o seu lugar. Nesta fase, mais especificamente de 1995, em diante, o Brasil,
após um longo sono, acorda para a competição. A abertura de mercado forçou os
fabricantes a reduzirem seus custos e melhorar a qualidade dos bens e/ou serviços.
As empresas, em sua grande maioria, tentam se adaptar à concorrência.
Neste período, verifica-se, também, o excessivo empirismo relacionado à
disciplina. Casotti (1995, p.7) afirma que “parece claro que os estudiosos de
marketing ressentem-se de uma volta às suas bases teóricas para promover amplo
questionamento do papel, dos métodos e funções do marketing, quando compara
este pragmatismo excessivo em relação à contribuição teórica.”
Por outro lado, a análise de alguns autores americanos evidencia o mesmo
dilema dos pesquisadores nacionais. Bartels (1974, p.73) descreve que: “no início a
disciplina não possuía muita identidade, mas passados os anos, a qualidade do
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Talvez por ter surgido sem uma denominação concreta no cenário nacional, o
termo marketing serve a muitos senhores, escravo que é da miopia advinda da
academia, das organizações, dos publicitários que advogam o direito de serem seus
padrinhos, e daqueles que sem falsos pudores julgam conhecê-lo o suficiente para
opinar sobre assuntos relacionados com a disciplina.
Webster Jr. (1998, p.66) menciona que “ouve uma época onde ele e outros
cientistas enfatizaram que o marketing seria tão importante que não poderia ser
deixado apenas como responsabilidade dos administradores de marketing”.
Segundo o autor, foi uma ilusão, pois se o marketing é responsabilidade de todos,
ele acaba, ao mesmo tempo, não sendo responsabilidade de ninguém. Parece que é
exatamente isso o que vem ocorrendo no Brasil.
O marketing vem sofrendo um verdadeiro “tratamento de enteado” por parte
dos acadêmicos. Existe uma ênfase muito grande relacionada com a questão de sua
adequação às práticas de gestão, em detrimento de um aprofundamento maior no
que diz respeito à teoria, o que seria benéfico para todos os públicos envolvidos.
Então é isto: tudo o que temos de bom ou ruim é conseqüência de um
marketing “bem ou mal feito”. Penteado (1990, p.3) escreve: “o pesquisador do ano
2010 que ao analisar revistas e jornais brasileiros, vai encontrar com freqüência a
palavra ‘marketing’ com aspas ou sem elas. E não será somente na página de
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A Face Empresarial
A Face Promocional
A Face Popular
O futuro do marketing
desde que sejam compreendidas de fato pelos gestores. Ao que tudo indica apesar
das perspectivas futuras para o marketing no país não serem das mais positivas,
pode-se visualizar um ambiente propício para que uma evolução positiva aconteça.
Como fazer esta mudança? A resposta a esta questão pode estar na avaliação da
literatura mundial, verificando os novos rumos da disciplina.
Os autores anteriormente citados também citam Richard Lowe executivo da
Hewlett-Packard, quando pinta o novo cenário para o século XXI. O ritmo da
mudança é tão rápido, que a capacidade de mudar já é uma vantagem competitiva.
O autor definiu alguns cenários relacionados ao velho e o novo marketing,
conectados a um mundo em transformação, onde os clientes são vistos como
parceiros. Abaixo as principais premissas deste pensamento
Maior orientação ao
mercado e o foco na
suprema satisfação do
consumidor
Estabelecer
relacionamentos mais
próximos com os
principais consumidores
bens e serviços (vide sites de busca Buscapé ou Bondfaro). O serviço ao cliente vai
mover-se decisivamente para a plataforma da WEB. A gestão de relacionamento
com o cliente através de multimídia (voz, correio eletrônico, videoconferência) será
decisiva. (SEVERINO e MANFRIN, 2001, p. 44)
Em relação às pesquisas de mercado,) verifica-se que estamos diante de um
contingente maior de idosos (ampliação das expectativas de vida), o que abre as
portas para este novo mercado. Novos enfoques surgem no mercado infantil, na
família com maior concentração de rendas, existência de mais solteiros e mais
homens vivendo sozinhos, a presença de famílias expandidas, maior expectativa no
mercado teen e mercado LGVT. Entender este novo consumidor pede que o
marketing seja repensado. Há uma irresistível tendência do marketing de massa
perder sua posição para um marketing individualizado, mais personalizado.
A gestão dos produtos e serviços se amplia. Tome-se como exemplo a
evolução da telefonia celular em mercado, serviços e aparelhos nesta última
década. As comunicações tendem a integrar-se cada vez mais, com a procura de
uma mídia mais fragmentada para poder atingir este consumidor de forma
customizada, visando ampliar o relacionamento.
Gracioso (1999) descreve os oito novos mandamentos do marketing: “O
novo marketing está surgindo e nem nos apercebemos disto. Palavras como
‘fidelização’ e siglas como CRM, não explicam o que está acontecendo. A rigor não
se pode falar sobre novos conceitos. As velhas lições de Kotler continuam válidas e
serão ensinadas por muitos anos” 1º) o marketing vem se tornando uma filosofia
empresarial; 2º) ganhou nova dimensão estratégica; 3º) as alianças estratégicas
entre empresas estão se tornando cada vez mais comuns; 4º) o marketing vem se
apoiando no tripé raciocínio conceitual (raciocinar com lógica e clareza), na
intuição,(enxergar o invisível) e na criatividade (soluções novas ou originais na
resolução de problemas); 5º) o desenvolvimento de sistemas faz com que as
comunicações fluam mais rapidamente, exigindo das empresas diretrizes sólidas
para não perder o rumo. 6º) o marketing descobre a partir da segunda metade da
década de 90 outros agrupamentos de consumidores (as classes C e D). 7º)
Relacionar é mais importante que comunicar; 8º) estamos vivendo o marketing do
mundo globalizado.”
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Considerações Finais
construir, no sentido de evolução para novas teorias e melhores práticas. Isto pode
ser conseguido por meio de um processo de geração de conhecimento pelas
escolas de administração, fato este que permitirá uma discussão mais concreta dos
princípios fundamentais da disciplina, deixando de lado os mal-entendidos
relacionados a ela.
Vivemos em um contexto diferente dos países de primeiro mundo. Nosso
consumidor é mais pobre, e a população de renda mais baixa apenas recentemente
teve acesso ao consumo. O ensino ainda é elitista e poucos segmentos da
população têm acesso ao conhecimento, principalmente às universidades.
Convivemos constantemente com as incertezas geradas pelas forças
ambientais, principalmente a legislação e a economia. Somos os consumidores que
arcam com a maior carga tributária em preços de bens, bem como àquela
relacionada aos salários, sem qualquer benefício. Sobra pouca disponibilidade para
o brasileiro, que tem de arcar do próprio bolso as despesas de saúde, educação e
aposentadoria. Sendo assim, o investimento em outros bens (impulso, compra
comparada, especialidade), é quase impossível.
O profissional de marketing deve estar atento a estas nuances de mercado.
Sendo assim, não pode deixar de demonstrar sua preocupação com os rumos que
devem ser traçados em relação ao pensamento em marketing no Brasil, cuidando do
tratamento que lhe é dispensado. Tal afirmação busca sustentação no fato de que a
maioria das informações contidas neste artigo, é fruto da experiência de profissionais
de mercado, havendo muito pouca produção acadêmica relacionada ao progresso
da disciplina, principalmente no que se refere a artigos e outras publicações. Porém,
se no estudo do marketing como disciplina básica a produção é pouca, o mesmo
não se pode dizer de suas áreas aplicadas, onde as contribuições tem sido
satisfatórias. Ou seja: - enquanto os estudos sobre a sua aplicabilidade nas
organizações e públicos de interesse estão em constante incremento, muito pouco
conhecimento tem sido gerado para ampliar a abrangência de seu conteúdo
histórico.
Por isto precisamos mais. Necessitamos uma política de fomento do governo
as instituições educacionais, sejam elas federais, privadas ou comunitárias, no
sentido de ampliar o acesso do indivíduo ao ensino superior. Fomentar a pesquisa,
patrocinar por meio de órgãos federais, encontros científicos regionais visando a
troca de idéias e a conseqüente disseminação da filosofia de maneira correta em
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nosso meio. Além do que foi exposto, ainda existe carência de estudiosos
prestando contribuição à disciplina. Sabe-se que pesquisadores renomados das
principais instituições educacionais do país e novas publicações circulam quase que
mensalmente entre nós. O advento da WEB permite uma integração ainda maior.
Talvez seja necessário integrarmos os conhecimentos dos profissionais e dos
acadêmicos em uma única bandeira. Esta união está cada vez mais fácil, visto a
maior presença destes executivos nos bancos universitários, em mestrados ou
MBA’s executivos, na busca de aperfeiçoamento em suas práticas. Isto está
permitindo uma maior discussão e um compartilhar que vem integrando academia-
empresa, gerando um só pensar, e a melhor compreensão deste “incompreendido”
A nova sociedade não é a mesma da década de 50 quando este
“estrangeiro” aqui chegou. Costumes mudaram, muros caíram e, com o advento e
evolução no que tange à comunicação e às novas tecnologias, vários modos de
consolidar este conhecimento são possíveis. Seguindo as palavras de Lehmann
(1997), “as coisas serão no futuro como foram no passado. Os princípios
fundamentais se repetem a despeito de nossa tendência em inventar novos jargões
para descrevê-los. Os consumidores continuarão a negociar e conseqüentemente os
negociantes continuarão empenhando-se em suprir estas necessidades [e desejos]
– esta é a essência do marketing”.
Seguindo o pensamento do autor, verifica-se que falta apenas a construção
de um pano de fundo, ou de um contexto verde e amarelo para o marketing
nacional, de forma a garantir sua real identidade, evitando-se as zombarias com as
quais os gestores de marketing e não os “marketeiros” como vulgarmente costumam
nos chamar, convivem diariamente. O respeito aos princípios fundamentais e a
ampliação da educação da forma de pensar, serão a garantia de um futuro melhor
para o marketing brasileiro.
Referências Bibliográficas
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WEBSTER, Frederick E., Jr. The Future Role of Marketing in Organization. In:
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