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Consequências Legais da Construção do Muro em Território Palestino Ocupado

Parecer Consultivo da CIJ


2004

Estêncil no Muro, em Belém, feito por Banksy


1. CIJ – sentenças e pareceres
2. o problema entre Israel e os palestinos
3. discussão sobre a competência da CIJ (preliminares)
4. questões substantivas - Direitos Humanos e Direito Humanitário
5. Suprema Corte de Israel
1. CIJ
Artigo 92, Carta: principal órgão judiciário das Nações Unidas

Organização
15 juízes (9 anos + 1 reeleição)
Eleitos pela AGNU e pelo CSNU
... “representativos das mais altas formas de civilização e dos principais sistemas jurídicos do mundo” (Artigo 9º, Estatuto)

a. Sentença – obrigatória. Só Estados podem ser partes em disputas perante a CIJ

b. Opiniões consultivas
Artigo 96, § 1, Carta

A Assembleia Geral ou o Conselho de Segurança poderá solicitar parecer consultivo da Corte Internacional de Justiça, sobre qualquer questão de ordem
jurídica.

Outros órgãos das Nações Unidas e entidades especializadas, que forem em qualquer época devidamente autorizados pela Assembleia Geral, poderão também
solicitar pareceres consultivos da Corte sobre questões jurídicas surgidas dentro da esfera de suas atividades.
2. Israel e palestinos
1947 Resolução 181, Assembléia Geral (Osvaldo Aranha a presidiu): Plano de Partilha da Palestina

maio 1948 – estabelecimento do Estado de Israel


também – estabelecimento da primeira operação de paz - Organização das Nações Unidas para Supervisão da Trégua (UNTSO)
para buscar o fim das hostilidades e observar o cessar-fogo no Oriente Médio no pós-guerra de 1948 entre árabes e israelenses –
existe até hoje.

1948-1949 guerra entre judeus e palestinos com apoio dos países árabes

ao final da guerra – Jerusalém dividida (árabes e judeus)

1956 Crise do Suez

1967 Guerra dos Seis Dias


Resolução 242, Conselho de Segurança, 1967

1973 Guerra de Yom Kippur


Décima Sessão Extraordinária de Emergência da AG, 2003

Resolução ES-10/14, 8/12/2003 – solicita parecer consultivo à CIJ


foi convocada em 1997 (ES-10/2, 25/4/1997), várias vezes nos anos seguintes, e em 2003
pede o parecer à CIJ

⇒ Quais são as consequências jurídicas advindas da construção do muro que Israel, Potência Ocupante, está
construindo no Território Palestino Ocupado, incluindo o interior e os arredores de Jerusalém Oriental, tal como
descrito no relatório do Secretário-Geral, considerando-se as regras e os princípios do direito internacional,
notadamente a Quarta Convenção de Genebra de 1949, e as resoluções do Conselho de Segurança e a Assembleia
Geral sobre a questão?

I. Competência da CIJ? (preliminares)

II. Parecer em si (parte substantiva)


direito humanitário + direitos humanos
Ver Resumo do Parecer (Arquivos)
I.QUESTÕES DE COMPETÊNCIA
- a CIJ tem competência para dar o parecer consultivo solicitado?
- caso tenha competência, deveria deixar de dar o parecer por algum motivo?

(i) Estatuto Artigo 65, 1.

A Corte poderá emitir pareceres consultivos sobre qualquer questão jurídica, sob solicitação de qualquer
organismo autorizado para isso por Carta das Nações, ou de acordo com as disposições da mesma.

(ii) Carta Artigo 96, § 1


A Assembleia Geral ou o Conselho de Segurança poderá solicitar parecer consultivo da Corte Internacional
de Justiça, sobre qualquer questão de ordem jurídica.

Outros órgãos das Nações Unidas e entidades especializadas, que forem em qualquer época devidamente
autorizados pela Assembleia Geral, poderão também solicitar pareceres consultivos da Corte sobre questões
jurídicas surgidas dentro da esfera de suas atividades.
(iii) Artigo 10, Carta
A Assembleia Geral poderá discutir quaisquer questões ou assuntos que estiverem
dentro das finalidades da presente Carta ...

(iv) Artigo 11, Carta


A Assembleia Geral poderá discutir quaisquer questões relativas à manutenção da paz
e da segurança internacionais, que a ela forem submetidas por qualquer Membro das
Nações Unidas
...
Poderá fazer recomendações relativas a quaisquer destas questões ao Estado ou
Estados interessados, ou ao Conselho de Segurança ou a ambos.
⇒Israel alega que

• o problema israelo-palestino já está sendo tratado pelo CS

Artigo 12, Carta


Enquanto o Conselho de Segurança estiver exercendo, em relação a qualquer
controvérsia ou situação, as funções que lhe são atribuídas na presente Carta, a
Assembleeia Geral não fará nenhuma recomendação a respeito dessa
controvérsia ou situação, a menos que o Conselho de Segurança a solicite.
⇒A CIJ observa:

- trata-se de uma solicitação de parecer consultivo e não de uma recomendação da AG sobre uma disputa ou situação

- Artigo 24, Carta: o CS tem RESPONSABILIDADE PRIMÁRIA sobre a manutenção da paz e a segurança internacionais

evolução interpretação do Artigo 12, Carta

Interpretação inicial – se uma questão relativa à manutenção da paz e da segurança internacionais estivesse na agenda
do CS, a AG NÃO deveria fazer recomendações sobre essa questão

Resolução 377 da AG (1950) - muda a interpretação Artigo 12

if the Security Council, because of lack of unanimity of the permanent members, fails to exercise its primary
responsibility for the maintenance of international peace and security in any case where there appears to be a threat
to the peace, breach of the peace, or act of aggression, the General Assembly shall consider the matter immediately
with a view to making appropriate recommendations to Members for collective measures. . . .
A CIJ conclui que a AG não contrariou o sentido do Artigo 12 – não excedeu à
sua competência

- quando a Décima Sessão Extraordinária de Emergência da AG foi convocada em


1997, o CS não conseguia tomar uma decisão sobre a questão de assentamentos
israelenses nos Territórios Palestinos Ocupados por causa de um voto negativo de um
P5 (EUA).

- em 2003, o CS não aprovou uma resolução sobre a construção do muro por Israel
nos Territórios Palestinos Ocupados por causa de um voto negativo de um P5 (EUA).

A CIJ conclui que a Décima Sessão de Especial da AG foi convocada


corretamente em razão da Resolução 377 da AG (1950) e podia ter provocado a
CIJ.
⇒ Israel alega que

A solicitação não versa sobre uma questão de “natureza legal”, no sentido do Artigo 96, parágrafo 1, Carta,
e do Artigo 65, parágrafo 1, Estatuto

⇒ A CIJ observa

a solicitação tem, sim, caráter legal

It is indeed a question of a legal character

If the General Assembly requests the Court to state the “legal consequences” arising from the construction
of the wall, the use of these terms necessarily encompasses an assessment of whether that construction is
or is not in breach of certain rules and principles of international law - Quarta Convenção de Genebra
sobre a Proteção de Civis em Tempos de Guerra (1949)

The fact that a legal question also has political aspects, “does not suffice to deprive it of its character as a
‘legal question’ and to ‘deprive the Court of a competence expressly conferred on it by its Statute’, and the
Court cannot refuse to admit the legal character of a question which invites it to discharge an essentially
judicial task”.
⇒Israel alega que

The Court should decline to exercise its jurisdiction because of the presence of specific aspects of the General Assembly’s request that
would render the exercise of the Court’s jurisdiction improper and inconsistent with the Court’s judicial function.

⇒A CIJ observa

Article 65, paragraph 1, of its Statute - “The Court may give an advisory opinion . . .” The Court retains a discretionary power to decline to
give an advisory opinion even if the conditions of jurisdiction are met. Given its responsibilities as the “principal judicial organ of the
United Nations” (Article 92 of the Charter), the Court should in principle not decline to give an advisory opinion, and only “compelling
reasons” should lead the Court to do so.

The first argument the Court should not exercise its jurisdiction in the present case because the request concerns a contentious matter
between Israel and Palestine - Israel has not consented to the exercise of that jurisdiction. The Court observes in this respect that the lack
of consent to the Court’s contentious jurisdiction by interested States has no bearing on the Court’s jurisdiction to give an advisory opinion
settlement without its consent. The opinion is requested on a question which is of particularly acute concern to the United Nations, and
one which is located in a much broader frame of reference than a bilateral dispute.

In the light of the foregoing, the Court concludes that it has jurisdiction to give an opinion on the question put to it by the General
Assembly and that there is no compelling reason for it to use its discretionary power not to give that opinion .
II.QUESTÕES DE FUNDO
substantivas

Regras e princípios relevantes de direito internacional

INTERDIÇÃO DE RECORRER À FORÇA E À AMEAÇA OU AO USO FORÇA


Carta, Artigo 2, p. 4,
Todos os Membros deverão evitar em suas relações internacionais a ameaça ou o uso da força contra a integridade territorial ou a dependência política de qualquer Estado, ou qualquer
outra ação incompatível com os Propósitos das Nações Unidas

DIREITO À AUTODETERMINAÇÃO DOS POVOS


Resolução da Assembleia Geral 2625 (1970): Declaração de Princípios de Direito Internacional relativos às Relações de Amizade e Cooperação entre os Estados
“Nenhuma aquisição territorial que resulte de ameaça ou uso da força será reconhecida como legal”

Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, AG, 1966


Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, AG, 1966

Artigo 1º
3. Os Estados Partes do Presente Pacto, inclusive aqueles que tenham a responsabilidade de administrar territórios não-autônomos e territórios sob tutela, deverão promover o
exercício do direito à autodeterminação e respeitar esse direito, em conformidade com as disposições da Carta das Nações Unidas.

DIREITO HUMANITÁRIO
Regulamento de Haia (1907), Artigo 42
“considera-se um território como ocupado quando se encontra colocado de fato sob a autoridade do exército inimigo. A ocupação somente estende-se aos territórios onde essa autoridade
esteja estabelecida e em condições de exercê-la"

Quarta Convenção de Genebra (1949)


Israel não considera que a Convenção seja aplicável ao território palestino porque não era reconhecido como soberano antes da sua anexação pela Jordânia e pelo Egito. Em 1949, a
Jordânia (na época Reino Haxemita da Transjordânia, independente desde 1946) controlava a a Cisjordânia (desde a guerra arabe-israelense de 1948-1949).
5. Suprema Corte de Israel
Como a mudança de interpretação da Suprema Corte de Israel influenciou
a realidade local?
Desde o Parecer - virada de posição da Suprema Corte

aplicação do direito internacional em questões envolvendo


a construção do muro - critérios legais para

equilibrar

imperativos de segurança - necessidades da população local

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