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Solução

pacífica de
controvérsias
Conceito de controvérsia internacional

O conceito de “controvérsia internacional”, bastante simples, foi etabelecido em


1924, quando a Corte Permanente de Justiça Internacional julgou o Caso Mavrommatis:
controvérsia é o desacordo sobre uma questão de fato ou um questão de direito.

“A dispute is a disagreement on a point of law or fact”


Obrigações que surgem em uma controvérsia internacional

Uma vez estabelecida uma controvérsia internacional, surgem para os envolvidos


tanto obrigações negativas (de não fazer) quanto positivas (de fazer)

Obrigação negativa

CONTROVÉRSIA
INTERNACIONAL

Obrigação positiva
OBRIGAÇÃO NEGATIVA

A obrigação negativa consiste em não fazer uso de força para resolver a controvérsia.

Essa obrigação se encontra tanto no jus cogens, através da proibição do uso


da força, quando na Carta da ONU, no parágrafo 4º do seu artigo 2º:
OBRIGAÇÃO NEGATIVA

No entanto, existem exceções a tal obrigação, ou seja, hipóteses em


que o uso da força é aceito pelo Direito Internacional Público:

I) Autorização do Conselho de Segurança da ONU

II) Legítima defesa


OBRIGAÇÃO NEGATIVA

I) Autorização do Conselho de Segurança da ONU

Com base no artigo 42 do Capítulo VII da Carta da ONU, o Conselho de Segurança pode
autorizar o uso de força através de Resolução clara e explícita nesse sentido.

De acordo ainda com o parágrafo 5º do artigo 2º da mesma Carta, todos os Estados


membros devem colaborar com tal ação e se abster de colaborar com o Estado opositor.
OBRIGAÇÃO NEGATIVA

II) Legítima defesa

O artigo 51 da Carta da ONU resguarda o direito à legítima defesa dos Estados agredidos.
OBRIGAÇÃO NEGATIVA

II) Legítima defesa

O Direito Internacional Público entende que


a legítima defesa deve ser necessária e proporcional.

i) Necessária: o Estado deve estar em uma situação em que seja preciso reagir de imediato
a um ataque ilegal e de magnitude protagonizado por outro país, ataque este que pode
estar em vias de se efetivar (imininente) ou já ter se iniciado.

Observação:

Ameaças não justificam legítima defesa.


(isto é: não existe “legítima defesa preventiva”).

No mínimo, a legítima defesa deve ter por objeto um ataque iminente.


(isto é: existe “legítima defesa interceptativa”).

ii) Proporcional: a legítima defesa deve ter por objetivo único repelir o ataque do outro
país, sem ultrapassar em nada o que for preciso para tanto.
OBRIGAÇÃO NEGATIVA

O entendimento de que a
legítima defesa deve ser
necessária e proporcional teve
origem no Caso Caroline (1837),
quando se discutiu se o ato de
incendiar e lançar o navio
Caroline nas Cataratas do
Niágara, levado a cabo pelos
britânicos, teria sido ou não
um ato em legítima defesa.
OBRIGAÇÃO POSITIVA

A obrigação positiva consiste em procurar uma solução


pacífica para as controvérsias internacionais.

Essa obrigação se encontra na Carta da ONU, no parágrafo 3º do seu artigo 2º:


Os diferentes
meios pacíficos
de solução de
controvérsias
O artigo 33 da Carta da ONU

O artigo 33 da Carta da ONU traz uma lista aberta de meios de solução pacífica.
Classificação dos meios pacíficos

Os meios pacíficos costumam ser divididos em três categorias.

MEIOS DIPLOMÁTICOS

MEIOS POLÍTICOS

MEIOS JURISDICIONAIS

Não existe hierarquia nem ordem obrigatória de aplicação desses meios pacíficos, e a
escolha de um, de outro, ou de uma combinação deles, depende da vontade dos Estados.

Não obstante, normas de tratados internacionais podem estabelecer ordens


preferenciais para que um meio seja adotado antes de outro.
Classificação dos meios pacíficos

MEIOS DIPLOMÁTICOS Os meios diplomáticos e os meios políticos são


negociações que não necessariamente estão baseadas em
MEIOS POLÍTICOS discussões sobre normas jurídicas > Power oriented

* A controvérsia só termina quando todas as partes


envolvidas estão satisfeitas com os termos da negociação

MEIOS JURISDICIONAIS Os meios jurisdicionais são soluções baseadas em


normas jurídicas > Rule oriented

* A controvérsia termina com a sentença


OS MEIOS DIPLOMÁTICOS

Inquérito
Bons ofícios
Negociação
Mediação
Conciliação
OS MEIOS DIPLOMÁTICOS

(i) Inquérito

O inquérito pode preceder outros meios de solução de controvérsia quando há a


necessidade de elucidar uma questão de fato.

Inquéritos são elaborados por comissões neutras e resultam em relatórios


imparciais.
OS MEIOS DIPLOMÁTICOS

(ii) Bons ofícios

Quando os países da controvérsia não têm relações formais estabelecidas


(rompimento de relações diplomáticas, ausência de reconhecimento, fortes
atritos polícos), pode surgir a figura do “bom oficiante”, um terceiro que,
tendo a confiança das partes, tenta criar entre elas um canal direto de
comunicação.

Os bons ofícios não resolvem a controvérsia, apenas criam as condições de


comunicação para que os países consigam resolver seus atritos.
OS MEIOS DIPLOMÁTICOS

(iii) Negociações diplomáticas diretas

As negociações diplomáticas diretas ficam a cargo apenas dos países envolvidos


na controvérsia, o que lhes permite manter o controle sobre o litígio.

Uma negociação pode terminar em desistência ou acordo:

* Desistência: As partes desistem da negociação e devem buscar outro meio de


solução pacífica.

* Acordo: As partes atingem um consenso acerca da controvérsia.


OS MEIOS DIPLOMÁTICOS

(iv) Mediação e conciliação

Mediação e conciliação são dois meios diplomáticos de resolução de controvérsia


que envolvem terceiros. Diferente dos “bons ofícios”, o terceiro aqui envolvido
toma conhecimento dos argumentos de cada parte e procura elaborar uma solução.
OS MEIOS DIPLOMÁTICOS

Mediação Conciliação
O mediador não precisar ser neutro, O conciliador tem de ser absolutamente
bastando que tenha a confiança das neutro
partes
A mediação é feita geralmente por um A conciliação é feita normalmente por
agente único (um país, uma Organização agentes múltiplos (uma comissão, um
Internacional etc.) colegiado etc.)

O mediador produz um parecer O conciliador produz um relatório

Se o parecer for rejeitado... Se o relatório for rejeitado...


... a mediação pode continuar através de ... a conciliação se encerra, e os
novas conversas países da controvérsia terão de iniciar
nova conciliação ou partir para outro
meio pacífico de solução
OS MEIOS POLÍTICOS

Os chamados “meios políticos” de solução pacífica de controvérsias têm por


característica a participação de um órgão político de uma Organização
Internacional.

O meio político mais importante, na atual ordem do Direito Internacional


Público, é a participação do Conselho de Segurança da ONU no intuito de
resolver um litígio na sociedade internacional.
OS MEIOS POLÍTICOS

De acordo com o Capítulo VI da Carta da ONU, o CSNU pode adotar as seguintes medidas
no âmbito da solução pacífica de controvérsias:

A) EXORTAR as partes em conflito a resolver a situação por meios pacíficos (Art. 33.2)

B) SUGERIR métodos de solução pacífica para um litígio (Art. 36.1)

C) RECOMENDAR uma solução concreta para um caso específico, se todas as partes em


conflito assim solicitarem ao Conselho (Art. 38)
OS MEIOS POLÍTICOS

Mas, atenção...

Quando a controvérsia tiver caráter jurídico, o CSNU deve sugerir


que ela seja submetida à Corte Internacional de Justiça (Art. 36.3)

Não sendo viável a solução pacífica, o CSNU pode adotar medidas


coercitivas (Art. 41: bloqueios, interrupções, rompimentos) ou
acionar o uso da força (Art. 42: ações militares aéreas, navais ou
terrestres)
OS MEIOS JURISDICIONAIS

Arbitragem
Tribunal

ARBITRAGEM – meio não judicial

MEIOS JURISDICIONAIS

TRIBUNAL – meio judicial


OS MEIOS JURISDICIONAIS

Arbitragem Tribunal
Órgãos arbitrais são temporários e duram de Tribunais internacionais são permanentes
sua instalação até o julgamento do caso
particular que lhes foi submetido
Jurisdição temporária Jurisdição permanente
Os árbitros devem ser aprovados pelas partes Os magistrados exercem sua função
independentemente da vontade das partes
Em cada arbitragem, há liberdade para Nos tribunais, o procedimento segue o
determinação dos procedimentos que são estatuto previamente determinado
estabelecidos no compromisso arbitral
(equivalente a um tratado)
Sentença obrigatória Sentença obrigatória
E se os meios pacíficos não forem
suficientes para resolver a
controvérsia?
O artigo 37 da Carta da ONU

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