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A Importância do Terapeuta

Ocupacional na Reabilitação
Visual e Estimulação Visual

Prof Esp. Christyanne Cardoso


 Segundo Nobre (1998) “a capacidade de ver
propicia-nos as descobertas, os caminhos, a
segurança, provocando-nos a reação ao perigo, a
orientação no espaço, o conhecimento visual do
eu e das outras pessoas, das cores, da natureza,
das criações do homem. Dessa forma, como a
visão representa principal fonte de estimulação, a
deficiência visual traz limitações e complicações
ao pleno desenvolvimento do indivíduo”.
 Para Escanhoela (2014), o Terapeuta Ocupacional na
área da reabilitação visual tem o papel de estimular a
criança a utilizar o máximo de sua visão residual para
facilitar o desempenho e inserção em seu meio social.
 Segundo o Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) a deficiência visual
apresentou a maior incidência sobre a população
brasileira dentre as demais deficiências, sendo que 3,5%
das pessoas declararam ter deficiência visual severa,
apresentando grande dificuldade ou nenhuma capacidade
de enxergar
 Deficiência visual refere-se à perda visual em
decorrência de alterações orgânicas e
compreende cegueira e baixa visão. O Conselho
Internacional de Oftalmologia define cegueira
como perda total da visão ou quando o indivíduo
usa predominantemente recursos de substituição
da visão. Baixa visão é caracterizada quando os
níveis de perda visual são menores, no qual o
indivíduo utiliza recursos para melhorar a
resolução visual.
A estimativa é de que 285 milhões de
pessoas tenham deficiência visual no
mundo: 39 milhões cegos e 246 milhões
com baixa visão.
 Diante dos diferentes níveis de dificuldade visual
o desempenho ocupacional é afetado em maior ou
menor grau, principalmente em atividades de
autocuidado e mobilidade.
 As informações visuais são essenciais para a realização de
atividades cotidianas, assim, pessoas com deficiência visual
podem perceber-se incapazes de desempenharem essas
atividades. Castilho et al. ressaltam ainda que as atividades
desenvolvidas por uma pessoa em seu cotidiano e a sua
participação nas diversas situações da vida influenciam e são
influenciadas por sua condição de saúde.
Visão
 A visão é um dos cinco sentidos e está diretamente ligada
à nossa percepção sobre o meio em que vivemos.
Segundo Mazzaro (2008), a nossa visão nos proporciona
cerca de 80% das informações sensoriais e ainda favorece a
integração da pessoa no mundo. A perda da mesma pode
trazer diversos danos como: minimizar a capacidade de
adaptação da pessoa no meio educacional, social e
consequentemente nas suas atividades da vida diária.
 Dentro do campo da DV, existem duas grandes subdivisões:
a cegueira e a baixa visão. De acordo com Melo (1991) a
deficiência visual é caracterizada por perdas parciais
(visão subnormal ou baixa visão) que após a melhor
correção óptica ou cirúrgica, ou totais da visão (cegos),
que limitam o desempenho normal da visão.
 Segundo a 10ª revisão da Classificação Estatística
Internacional das Doenças e Problemas relacionados à
Saúde (CID-10) da OMS (1993, apud SILVA, 2015, p. 19), é
considerada visão subnormal ou baixa visão, quando o
valor da acuidade visual corrigida no melhor olho é menor
que 0,3 e maior ou igual a 0,05 ou o campo visual é menor
do que 20 graus no melhor olho com a melhor correção
óptica (Categorias 1 e 2 graus de comprometimento
visual).
 As causas do acometimento visual podem ser provenientes de
complicações durante a gestação, como toxoplasmose, rubéola
congênita, deficiência de vitamina A, retinopatia da
prematuridade, entre outros. Outras complicações ao decorrer
da vida também podem aparecer e resultar na perda de visão,
como glaucoma, catarata congênita, diabetes, entre outros.
 De acordo com o CBO (Conselho Brasileiro de
Oftalmologia), não é possível afirmar com
segurança a prevalência da deficiência visual no
Brasil, pois segundo o IBGE (2010), há escassez de
dados populacionais em várias regiões do país.
Porém, é possível utilizar as estatísticas mundiais
que mostram que o nível de desenvolvimento
socioeconômico está diretamente relacionado
com as condições de saúde ocular.
 Tanto na baixa visão como na cegueira, a
deficiência influencia diretamente na
rotina e nas atividades de vida diária (AVDs)
do indivíduo, necessitando de atendimentos
de profissionais especializados e do suporte
familiar para enfrentar os obstáculos e
desafios encontrados.
 Diante dos diferentes níveis de dificuldade visual o
desempenho ocupacional é afetado em maior ou menor
grau, principalmente em atividades de autocuidado e
mobilidade, considerando que esse desempenho resulta da
relação dinâmica entre a pessoa, o contexto e o
ambiente, e a ocupação. As informações visuais são
essenciais para a realização de atividades cotidianas,
assim, pessoas com deficiência visual podem perceber-se
incapazes de desempenharem essas atividades. (CORRÊA;
SANTANA, 2014, p. 44)
 O período entre o nascimento e os primeiros anos
de vida se caracteriza como determinante no
desenvolvimento da criança, pois corresponde ao
momento em que o organismo está pronto para
receber e utilizar os estímulos ambientais,
reunindo condições satisfatórias para a aquisição
e desenvolvimento das diferentes funções (Nobre
et al 1998).
 Ao nascer, o bebê possui uma visão rudimentar, e
as funções visuais básicas serão desenvolvidas se
as condições forem favoráveis. Será entre o 6º e
12º primeiros meses de vida que muitas funções
visuais específicas se desenvolverão por
intermédio da interação da maturação com a
experiência. Considera-se que neste período o
sistema visual possui certa “plasticidade” e
determinadas funções visuais podem se
desenvolver. (Veiztman, 2000).
 A ausência total ou parcial da visão pode interferir no
desenvolvimento psicomotor, cognitivo, social e na
aquisição da linguagem que, por sua vez, são
fundamentais para o processo de independência do
indivíduo. Em decorrência da ausência da realização de
atividades que conectam a criança consigo e com o
mundo, muitas delas iniciam um processo de auto-
estimulação, movimentos repetidos ou balanço de uma ou
ambas as mãos ou da cabeça e mais tarde do tronco,
denominados movimentos estereotipados (Corsi, 2001).
 Veitzman (1992) sugere que as crianças deficientes visuais
devem receber diagnóstico precoce e tratamento médico
e reabilitacional adequado. O diagnóstico precoce de
doenças que causam um prejuízo visual permite um
tratamento efetivo pois, mesmo quando não é possível
tratar a doença ou a lesão que se caracteriza por ser
cicatricial, outros métodos terapêuticos existem para que
a criança possa ter uma integração maior com o meio e
um desenvolvimento saudável.
 A intervenção deve ocorrer no 1º ano de vida, favorecendo um
desenvolvimento integral da criança além da aquisição da eficiência
visual. Neste período, também nomeado como sensório-motor (0-2
anos), ocorre o desenvolvimento cognitivo através da interação da
criança com o meio, da relação com as pessoas, objetos,
acontecimentos, no qual as descobertas e experiências vão sendo
incorporadas através das ações e possibilitando a consciência de si e
do mundo ao seu redor. (Bruno, 1993)
 O terapeuta ocupacional é responsável por avaliar a visão
funcional da criança, oferecer orientações aos pais quanto
a estimulação necessária para que ocorra um adequado
desenvolvimento psicomotor, sensorial, afetivo e social da
criança. Assim, após a realização de uma avaliação global
do desenvolvimento e uma avaliação da funcionalidade
visual, aliadas às informações referentes às condições
sócio-financeiras e culturais, são fornecidas as orientações
referentes à estimulação da criança em casa
Anatomia do Olho
Anatomia do Olho

 Principais estruturas
 Os principais componentes do olho humano são:

 Esclera
 É uma membrana fibrosa que tem a função de proteger o globo ocular.

 Conhecida popularmente como o “branco dos olhos”.

 É recoberta por uma membrana mucosa, delgada e transparente, denominada


conjuntiva.
 Córnea:
 É uma parte transparente do olho, formada por uma membrana fina e
resistente.
Ela tem a função de transmitir a luz e a refração para o cérebro, além de
proteger o sistema óptico.

 Corpo ciliar:
 Tem como função secretar o humor aquoso (um líquido transparente que é
responsável por manter saúde e transparência dos olhos). Ele possui uma
musculatura lisa responsável pela acomodação do cristalino.

 Íris: É a estrutura central do olho, que controla a entrada de luz. Além disso,
é a parte que possui a cor dos nossos olhos, castanho, verde, azul e suas
derivações.
 Retina : A parte principal do olho.

 A retina envia os sinais pelo nervo óptico, através de seus fotorreceptores,


permitindo que os estímulos sejam processados e que uma imagem seja
criada.

 Cristalino
 O cristalino está localizado atrás da íris. Tem a função de fazer a lente
natural, alterando a forma para garantir que a imagem visualizada esteja
focada.
 A imagem chega então ao cristalino, uma estrutura
flexível que acomoda e focaliza a imagem na retina.

 Na retina existem diversos fotorreceptores, que


transformam a luz recebida pelo globo ocular em impulsos
elétricos. A partir daí, o nervo ótico conduz esses impulsos
até o cérebro, onde vai ocorrer a interpretação e a
correção da imagem.

 Por trás do olho fica o nervo óptico, a parte responsável


por conduzir os impulsos elétricos causados pela imagem
até o cérebro para que eles sejam finalmente convertidos
em imagens que possamos ver, com qualidade e cor.
O caminho da imagem até nosso
cérebro
 Com todas as estruturas dos olhos devidamente apontadas e
explicadas, é importante compreender o caminho que a imagem que
estamos enxergando faz até chegar ao nosso cérebro.

 Primeiramente, no olho humano existem dois tipos de


fotorreceptores: os cones (que possibilitam a visão colorida), e os
bastonetes (que permitem a visão no escuro, em preto e branco).

 Quando abrimos os olhos e enxergamos uma imagem, a primeira coisa


que acontece é que a luz atravessa a córnea e chega a íris, onde lá, a
pupila vai controlar a intensidade de luz a ser recebida pelo olho,
ajustando seu tamanho (expandindo/dilatando, ou diminuindo).
Quanto maior a abertura da pupila, maior é a quantidade de luz que
Considerando que a falta da visão pode ser minimizada através da
integração dos demais órgãos sensoriais e do uso do resíduo visual, o
terapeuta ocupacional preconiza orientar a relação entre mãe-bebê, a
adaptação necessária do espaço físico, no qual a criança vive, para que a
exploração do ambiente seja facilitada, e o uso de maneira apropriada
dos objetos e brinquedos (Nobre, 1998). Como profissional que compõe a
equipe multidisciplinar, o terapeuta ocupacional cumpre também papel
no auxílio diagnóstico, completando-o com informações qualitativas
referentes à funcionalidade visual na realização das atividades cotidianas
(Nobre et al 2004).
Avaliação de Deficiência visual e
Baixa Visão
Tabela de Snellen: uma ferramenta
de avaliação da acuidade visual

 A tabela, também conhecida por Escala Optométrica de


Snellen ou Optótico de Snellen, não substitui o exame
oftalmológico, mas é uma forma simples e prática de
identificar possíveis alterações na condição visual das
pessoas. Ela é utilizada para indivíduos a partir dos 5 anos
de idade e o indivíduo deve saber ler para reconhecer as
letras escritas.
Como utilizar e interpretar?

 O paciente é colocado a 5-6 metros de distância do cartaz com a tabela de


Snellen em tamanho padronizado. O teste é realizado em um olho de cada
vez, sendo assim, cobre-se o olho que não está sendo avaliado no momento
com um objeto sólido sem pressioná-lo, e depois avalia-se o outro. O
avaliador deve pedir para que o paciente diga as letras que está enxergando,
começando de cima para baixo, ou seja, das letras maiores para as menores.
 Se o indivíduo conseguir soletrar as letras da fileira 8 na
imagem abaixo, é definida acuidade visual normal,
representada como 6/6 ou 20/20 (capacidade de enxergar
nitidamente a 6m ou a 20 pés). O paciente com
diminuição da acuidade visual não conseguirá soletrar essa
fileira, e a quantificação do comprometimento depende
da fileira com menor tamanho de letras que o paciente
consegue enxergar com nitidez, ou seja, o déficit é maior
quando o paciente possui dificuldade para soletrar as
fileiras com letras maiores.
 Cada fileira é marcada por uma estimativa de acuidade
visual, por exemplo: uma AV 20/40 quer dizer que o
indivíduo enxerga com nitidez a uma distância de 20 pés o
que uma pessoa com acuidade normal enxergaria a 40
pés.
Avaliações que podemos utilizar
Para processamento visual
MVPT‐4

O MVPT‐4 é a mais recente revisão do teste de percepção


viso‐motora livre (Motor free visual perception
test‐publicado 2015) pode ser usado durante toda a vida
Fornece uma medida pura de percepção visual. Avalia a
percepção visual sem qualquer necessidade de envolvimento
motor para dar uma resposta.
 Fornece uma avaliação rápida, precisa, confiável e válida
da capacidade de percepção visual global;
 Pode ser administrada para diferentes populações:
Crianças, adultos, indivíduos não verbais e com
deficiência física;
 Fácil de administrar;
 Habilidades motoras não são necessárias;
Beery VMI
 Os estudos indicam que Beery VMI é praticamente livre de
influências culturais, devido ao uso de figuras
geométricas, ao invés de letras e números.
 Inclui duas provas suplementares: Percepção visual e
Coordenação motora.
 Autores: Natasha e Keith Beery
 O teste foi inicialmente conhecido como a sequência de
desenvolvimento da forma. Após novos estudos, o teste foi publicado
em 1967 como Teste de Desenvolvimento de Beery‐Buktenica para a
Integração Visuomotora (VMI).
 O Beery VMI foi utilizado amplamente em muitos países com fins
educativos, médicos entre outros (Baghurste outros,
1995;Brooks‐Gunn 1992;Georgas e Papadopoulou, 1991; Junior e
Pasquali, 1992; Kingma,1993; Liu 1991, Maeland,1992; Rourke, 1995;
Vanoverloop e outros,1992;Webb, 1985, Wills 1990).
 O Beery VMI foi padronizado em seis ocasiões desde 1964, e foram
obtidos resultados bastante consistentes nos Estados Unidos e em
outros países, nos níveis de idade pré‐escolar e primária para os quais
o Beery VMI foi projetado principalmente.
TVPS-4
 O Teste de Habilidades de Percepção Visual ‐ Quarta
Edição (TVPS‐4; Martin, 2017) é uma versão revisada do
Teste de Habilidades de Percepção Visual ‐ Terceira Edição
(TVPS‐3; Martin, 2006)
 O TVPS‐4 inclui 18 itens em cada uma das sete áreas
perceptivas e itens adicionais de nível inferior para
atender às necessidades de pessoas mais jovens ou com
maior dificuldade.
O que avalia?

 O Teste de Habilidades Perceptivas Visuais ‐ 4ª Edição (TVPS‐4) é uma


avaliação abrangente das habilidades de análise e processamento
visual,usada para determinar os pontos fortes e fracos da percepção
visual;
 Avalia as habilidades de percepção visual bidimensionalmente
 Não requer resposta motora
AVALIAÇÕES QUE PODEMOS
UTILIZAR PARA DESEMPENHO
OCUPACIONAL
COPM

 A COPM é em um instrumento capaz de mensurar o


impacto de uma intervenção para um indivíduo, tendo
como finalidade detectar mudanças na percepção do
cliente sobre seu desempenho ocupacional ao longo do
tempo, bem como mudanças em sua satisfação em relação
a esse desempenho.
CIF

 Os domínios contidos na CIF podem ser considerados como domínios da saúde


e domínios relacionados com a saúde. Estes domínios são descritos com base
na perspectiva do corpo, do indivíduo e da sociedade em duas listas básicas:

 Funções e Estruturas do Corpo;


 Atividades e Participação;
 Como classificação, a CIF agrupa, sistematicamente, diferentes domínios de
uma pessoa com uma determinada condição de saúde, e o que uma pessoa
com uma doença ou perturbação faz ou pode fazer.
 A funcionalidade éum termo que engloba todas as funções
do corpo, atividades e participação. De maneira similar,
Incapacidade é um termo que inclui deficiências,
limitação de atividade ou restrição na participação. A CIF
também relaciona os fatores ambientais que interagem
com todas estes constructos. Neste sentido, a
classificação permite ao utilizador registrar perfis úteis da
funcionalidade, incapacidade e saúde dos indivíduos em
vários domínios.
PEDI

 O Inventário de avaliação pediátrica de incapacidade (PEDI) traz para


os profissionais de saúde no Brasil um excelente instrumento de
trabalho que, diferentemente das traduções em outros idiomas, foi
adaptado à realidade brasileira, adequando-o culturamente ao nosso
público e desenvolvendo referências normativas nacionais. O
desenvolvimento desse teste, além de conferir precisão ao processo
de mensuração, ao possibilitar o acompanhamento sistematizado da
evolução do cliente, permite também uma caracterização detalhada
do perfil funcional de crianças com diferentes distúrbios do
desenvolvimento, salientando a verdadeira capacidade funcional
dessas crianças, até então subestimada pelas ferramentas tradicionais
disponíveis
PEDI-CAT
 O PEDI-CAT possui duas versões: rápida (Speedy CAT), na qual são
administrados de 5 a 15 itens por domínio; e conteúdo-balanceada
(Content-Balanced CAT), mais longa, com cerca de 30 itens por
domínio. Ambas podem ser aplicadas presencialmente ou à distância,
sendo mais comum o formato de entrevista com os cuidadores.
Exemplos de recursos
Gratidão!

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