1) O documento analisa a peça teatral "Farsa de Inês Pereira", de Gil Vicente, situando-a no contexto das transformações sociais em Portugal no século XVI.
2) A peça critica as mudanças nos padrões de conduta da sociedade portuguesa, onde valores como aparência e status passaram a primar sobre a honestidade e trabalho.
3) Através da sátira, Gil Vicente alerta o público para os perigos da dissolução dos princípios tradicionais e da valorização do artificial em detrimento
1) O documento analisa a peça teatral "Farsa de Inês Pereira", de Gil Vicente, situando-a no contexto das transformações sociais em Portugal no século XVI.
2) A peça critica as mudanças nos padrões de conduta da sociedade portuguesa, onde valores como aparência e status passaram a primar sobre a honestidade e trabalho.
3) Através da sátira, Gil Vicente alerta o público para os perigos da dissolução dos princípios tradicionais e da valorização do artificial em detrimento
1) O documento analisa a peça teatral "Farsa de Inês Pereira", de Gil Vicente, situando-a no contexto das transformações sociais em Portugal no século XVI.
2) A peça critica as mudanças nos padrões de conduta da sociedade portuguesa, onde valores como aparência e status passaram a primar sobre a honestidade e trabalho.
3) Através da sátira, Gil Vicente alerta o público para os perigos da dissolução dos princípios tradicionais e da valorização do artificial em detrimento
comércio de artigos do Oriente promove o desenvolvimento da burguesia, o surgimento de várias atividades profissionais e, consequentemente, a estrutura da sociedade feudal desestabiliza-se. O comportamento e a moral tradicionais sofrem abalo em decorrência da urbanização e de clas- 5 ses intermediárias desejosas de imitar o estilo de vida das classes mais abastadas. […] A produção de Gil Vicente é intensa e diversificada. Em 34 anos de atividade escreveu por volta de 45 peças, abarcando desde autos religiosos (Auto da Visitação, Auto da Fé), narrativas de cavalaria (D. Duardos) até farsas que expõem o quotidiano da vida social (Auto da Índia, Velho da Horta). […] 10 O talento fértil do dramaturgo provocou suspeitas de que as suas obras fossem plágios, ao ponto de proporem que Gil Vicente passasse por um teste. Alguns nobres entregam ao escritor o mote “Mais quero asno que me carregue que cavalo que me derrube”, a partir do qual deveria compor uma peça. O resultado desse desafio é o texto Farsa de Inês Pereira. A sensatez de escolher adequadamente um estilo de vida, de acordo com a classe social a 15 que se pertence, é o tema central da Farsa de Inês Pereira. O mote – “Mais quero asno que me leve que cavalo que me derrube” – sintetiza a lição aprendida por Inês: mais vale casar-se com um gentil lavrador que a sustente do que unir-se a um marido fidalgo, de atitudes requintadas, que a trate mal. Ao condenar essa escolha por valores fúteis, Gil Vicente expressa a sua aversão em relação às transformações por que passa a sociedade portuguesa quinhentista, que se liberta 20 da rigidez feudal, conhece maiores possibilidades de mobilidade social e perde hábitos e valores tradicionais. A nova ordem possibilita que indivíduos de classes mais baixas queiram aproximar- -se, ao menos no que diz respeito à aparência, do modo de vida das classes superiores. As alterações económicas e sociais da época redefinem inteiramente os padrões de conduta até então convencionados. A nobreza necessita de manter o conforto a que está habituada; os 25 camponeses, os artesãos, os comerciantes, os serviçais do paço são movidos pelo desejo de as- censão e encantam-se com a possibilidade de enriquecimento. Para satisfazer essa necessidade e esse desejo corrompem-se os valores mais autênticos e adequados, segundo a visão de Gil Vi- cente. Valoriza-se a aparência, a futilidade, a ociosidade, a trapaça que resulta em benefício, e despreza-se o esforço, a honestidade, a satisfação com a vida modesta e pureza de carácter. 30 Em Inês Pereira, esses vícios estão representados pelo comportamento do interesseiro Brás da Mata e da sonhadora Inês; o ingénuo Pêro Marques e a sensata Mãe indicam a virtude que se está perdendo. Ridicularizando as pretensões descabidas de Inês e o postiço refinamento do fidalgo Brás da Mata, Gil Vicente, por meio do humor, adverte o público das consequências desastrosas da disso- 35 lução dos princípios que regiam tradicionalmente a sociedade portuguesa. Com essa sátira, o autor cumpre o seu ideal moralizante: expõe comportamentos risíveis e condenáveis, nos quais a plateia se reconhece. TORRALVO, Izeti Fragata, e MINCHILLO, Carlos Cortez, 2006. “Apresentação” In VICENTE, Gil, 2006. Farsa de Inês Pereira. Granja Viana: Ateliê Editorial (pp. 11, 18 e 19) [adaptado a português europeu] fotocopiável