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A orientação educacional tem o compromisso de auxiliar a escola em sua

função socializadora, criando ou reformulando ações pedagógicas educacionais e


favorecendo a articulação de valores que resultam em atitudes éticas no âmbito do
convívio social. Ainda que a instituição não conte com um cargo específico para essa
função, suas atribuições precisam ser realizadas no cotidiano. Como o campo
educacional se ocupa em desenvolver estratégias para a aprendizagem dos conteúdos
atitudinais, um dos papéis mais importantes do orientador é gerenciar o currículo oculto.
Pois, a maior parte dos problemas tradicionais enviados para a sala do professor são, por
exemplo, a exclusão do aluno em sala de aula, o bullying, os maus usos dos espaços
coletivos, o furto, as brigas, a cola em provas,o plágio de trabalhos, as atitudes de
desrespeito ao professor. Esses problemas estão vinculados aos conteúdos que são
ensinados e aprendidos de forma não explícita nas relações interpessoais que se
constroem na escola.

Vale ressaltar, que trata-se de um equívoco acreditar que o educador deva


se ocupar exclusivamente dos alunos indisciplinados e os que tem baixo poder
econômico. Infelizmente, ainda existem escolas que trabalham nessa perspectiva
antiquada, que posiciona o orientar educacional como alguém destinado a abafar e não
resolver os conflitos na base da mediação com estudantes, pais e professores. Esse
modo de atuar, faz com que esse profissional muitas vezes se sinta como um bombeiro,
que todos os dias tenha que apagar incêndios e que deixa brasas pelo caminho. Pois, o
mesmo fica fechado em uma sala de aula, geralmente distante dos espaços onde o
currículo oculto se manifesta. É de real importância que o orientador educacional deixe
a rotina da sua sala de aula e se insira em outros espaços para procurar e explicitar os
elementos do currículo oculto. As ações serão eficazes quando contribuírem para
melhorar a qualidade do ensino e da aprendizagem, o que requer a interlocução com a
equipe docente e o entendimento do ser humano como um ser histórico, crítico e social.
Porém, embora o orientador educacional não seja um especialista nas didáticas, essa é a
especialidade do coordenador pedagógico, ele deve ser capaz de identificar se a ação
docente está de acordo com os princípios que norteiam o projeto pedagógico da escola.
Além de tudo isso, é importante o educador compartilhar as observações do cotidiano
escolar que ajudem a descobrir os aspectos do currículo oculto; compreender as
características da diversidade da família moderna e seus impactos na Educação;
informar-se sobre as principais características dos alunos com necessidades educativas
especiais e como garantir a socialização e aprendizagem. Em suma, a integração do
educacional com o coordenador pedagógico só funciona nas escolas que acreditam e
apostam na troca de experiências e saberes, com o apoio institucional necessário e a
adesão de gestores e docentes que não temem buscar oportunidades para propiciar o
desenvolvimento de suas competências profissionais.

Podemos mencionar, que existe uma relação de dependência entre


currículo, escola e sociedade. Pois, as transformações sociais exigem reformas
educacionais, que ocasionam mudanças no currículo e este se refletirá na escola e na
sociedade. Diante deste exposto, podemos compreender que o currículo é algo
composto a partir de dois eixos, que embora distintos, estão ligados entre si. Um deles
refere-se ao currículo oficial e o outro ao currículo oculto. Vale ressaltar, que o
ambiente acadêmico, não ensinam os alunos apenas a ler, escrever, calcular e entre
outros conteúdos, mas são também agentes de socialização e sendo um espaço social,
tem um duplo currículo.

Mas, afinal o que é currículo oculto? Que foi tão mencionado no decorrer do texto! O
currículo oculto se constitui de todas as ações realizadas no ambiente escolar que,
mesmo não fazendo parte do currículo oficial, contribuem de forma implícita para as
aprendizagens sociais relevantes dos indivíduos. Através da estrutura do currículo e da
pedagogia que se aprendem os códigos de classe e as aprendizagens sociais. No livro
“Quem escondeu o currículo oculto?” é importante expor que o currículo oculto exerce
forte influência em quase todas as perspectivas críticas sobre currículo. A noção de
currículo oculto abordada no livro, estava implícita em : Bowles e Gintis, “Princípio da
Correspondência”. Isso quer dizer, que relações sociais na escola espelham as relações
do mundo do trabalho. Pois, a escola é como uma fábrica, que cria hábitos, atitudes e
valores que modelam o indivíduo para o mercado capitalista. Além de tudo isso, o livro
aborda que o termo “Currículo Oculto” foi utilizado pela primeira vez por Philip
Jackson, em 1968. Seu pensamento baseava-se na perspectiva de que todo o aluno e
professor precisavam dominar a dinâmica da sala de aula, que se consistia em uma ação
coletiva que formava o currículo oculto. Essa dinâmica era baseada na utilização do
elogio e do poder. Mas foi Robert Dreeben que desenvolveu uma definição mais
funcionalista do “Currículo Oculto”. Para os autores funcionalistas, era as características
da sala de aula e da estruturação do ensino que ensinavam certas coisas, como a relação
de autoridade, a organização espacial, a distribuição do tempo, os padrões de
recompensa e castigo. Caberia a Robert Dreeben, falar que são as características
estruturais da sala de aula e da situação do ensino que ensinam certos comportamentos e
atitudes. As escolas fazem mais do que fornecer instruções. Elas oferecem normas, ou
princípios de conduta, que são aprendidos por meio das experiências escolares sociais
variadas que influenciam a vida dos estudantes.

Portanto, o que se aprende no currículo oculto são atitudes,


comportamentos, valores e orientações que permitem que crianças e jovens se ajustem
de forma mais conveniente as estruturas e as pautas de funcionamento de uma
sociedade. O mesmo sem sombra de dúvida cumpriu um papel importante na
perspectiva crítica sobre o currículo por descrever os processos sociais que moldam
nossa subjetividade inconsciente, serviu de instrumento para uma análise sociológica
dos processos invisíveis e opacos da vida cotidiana na sala de aula. Com o passar dos
anos,o conceito de currículo oculto, apesar de ainda ser importante, foi perdendo e
desgastando seu discurso de invisibilidade para a visibilidade das relações sociais. Em
suma, as características estruturais do currículo oculto se tornaram cada vez mais
determinantes, não havendo a necessidade de sua ocultação. Com o neoliberalismo o
currículo tornou-se assumidamente capitalista, pois a afirmação explícita da
subjetividade e dos valores do capitalismo não permite que tenha muita coisa oculta no
currículo.

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