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ASPECTOS SOCIOCULTURAIS

DO ENVELHECIMENTO
AULA 4

Profª Tatiane Calve


CONVERSA INICIAL

A sociedade moderna, com a mudança no papel da mulher, tira a


responsabilidade da filha e da nora de cuidar dos idosos da família. Mesmo
assim, a institucionalização ainda não é uma prática frequente em nossa
sociedade.
A instituição, ao receber o idoso, deve oferecer condições necessárias
para que ele possa se sentir acolhido; além, é claro, de disponibilizar os cuidados
a saúde física e mental, com uma equipe multidisciplinar.
O idoso institucionalizado é aquele com idade mais avançada e que, em
sua maioria, é mais dependente e necessita de mais cuidados.
Nesta aula vamos explorar o conceito e a história das Instituições de
Longa Permanência para Idosos (ILPIs), no Brasil e no Mundo.
Serão abordadas aqui as características das ILPIs do Brasil, como as leis
que norteiam a instalação e a oferta de leitos, as atividades e os serviços
oferecidos aos idosos.
Trataremos, também, das características dos idosos que residem em
instituições de longa permanência, como condições físicas, cognitivas e
psicossociais.

TEMA 1 – HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES DE LONGA PERMANÊNCIA PARA


IDOSOS

Há indícios que as primeiras instituições voltadas aos cuidados de idosos


foram encontradas na Grécia Antiga e eram denominadas gerontokomeion
(Santos et al., 2011).
No ocidente, o primeiro registro instituições que recebiam e cuidavam de
idosos foi da casa do Papa Pelágio II. Posteriormente, no século X, na Inglaterra
e nos EUA, surgiram as almshouses, locais utilizados para cuidar de pessoas
necessitadas (mendigos, órfãos, pessoas com problemas mentais) e idosos
(Gremeaux, 2012).
Em meados de 1845, foi iniciada a construção de grandes hospitais e
manicômios para transferir os doentes mentais dos asilos para as novas
instalações (Medeiros; Foster, 2014). Além dos jovens que necessitavam de
auxílio, muitos já eram idosos, com transtornos mentais ou demências.

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A situação dos asilos começou a melhorar com a iniciativa de várias
organizações sem fins lucrativos, que construíram lares de idosos para idosos
pobres (Calve, 2016). Dessa maneira, inúmeras sociedades beneficentes
surgiram durante o século XIX, não somente nos EUA, mas também na Europa.
Essas instituições recebiam pagamentos de adultos ainda jovens para
manutenção das “casas para idosos”, onde eles eram recebidos na velhice para
receber moradia, alimentação e cuidados com a saúde (Gremeaux, 2012).
Com a Revolução Industrial Americana e Europeia, a população
trabalhadora assalariada aumentou e os idosos não tinham mais com quem ficar
em casa; além disso, manter idosos em um lar se tornou inviável, pelo custo com
alimentação e cuidados necessários (Seager, 1910, citado por Calve, 2016).
Assim, houve o aumento pela procura de asilos para idosos, e se fizeram
necessárias a legalização e a regulamentação das instituições voltadas ao
atendimento de idosos. Somente em 1954, com a Lei Hill-Burton, os asilos foram
normalizados, e na década de 1970 eles começaram a ser fiscalizados para
manter a qualidade de atendimento das instituições (Morris et al., 1999).

1.1 ILPIs no Brasil

No Brasil, a Casa dos Inválidos, inaugurada em 1797, na cidade do Rio


de Janeiro, foi a primeira instituição no país a oferecer cuidados a pessoas
idosas, nesse caso, a soldados idosos (Christophe; Camarano, 2010).
Também no Rio de Janeiro, em 1890, foi fundado o primeiro asilo do
Brasil, o Asilo São Luiz para Velhice Desamparada, o qual tinha por objetivo
específico receber, amparar e cuidar de pessoas idosas carentes da cidade
(Christophe; Camarano, 2010).
Inicialmente, as instituições eram de caráter filantrópico e assistencialista.
Porém, a partir de 1909, essa instituição passou a ter alas destinadas a idosos
que pagavam mensalidade para receber atendimento e moradia (Christophe;
Camarano, 2010).
Atualmente, o Asilo São Luiz atende somente idosos com condições
financeiras abastadas da cidade, que pagam pelos cuidados oferecidos pela
instituição.
No século XIX, foi fundada a Santa Casa de Misericórdia, a primeira
instituição de assistência a idosos de São Paulo (Christophe; Camarano, 2010).

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Posteriormente, outras instituições foram abertas no Sudeste e outras regiões
brasileiras, denominadas gerontológicas.
As instituições, que eram dirigidas por associações religiosas,
filantrópicas como a Sociedade São Vicente de Paulo (SSVP), presente no Brasil
até a atualidade. A SSVP mantém em torno de 700 ILPIs em todo o país (Born;
Boechat, 2006).
O Brasil possui mais de 1.700 ILPIs. A Tabela 1 indica instituições de
assistência à pessoa idosa de acordo com o caráter de cada uma.

Tabela 1 – Instituições de assistência à pessoa idosa

Tipo Quantidade aproximada


Filantrópicas 250
Privadas 530
Públicas 210
Religiosas 700

Muitas instituições destinadas a cuidar de idosos foram sendo fundadas


em nosso país, em concordância com as necessidades regionais; porém, sem
organização e fiscalização do Estado Brasileiro, o que implica na discrepância
da qualidade de serviços prestados por cada uma delas (Calve, 2016).

TEMA 2 – CARACTERIZAÇAO DAS ILPIS NO BRASIL

Asilos, lares para idosos, abrigos e outras nomenclaturas foram


substituídas por Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI),
denominação sugerida pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia e
implantada pela legislação vigente da RDC n. 283, de 26 de setembro de 2005.
As ILPI são instituições governamentais e não governamentais, de caráter
residencial, destinadas ao acolhimento de idosos com idade igual ou superior a
60 anos de idade.
Segundo o Estatuto do Idoso, tais instituições têm a obrigatoriedade de
manter padrões de habitação compatíveis com as necessidades dos idosos, tais
como alimentação regular, padrões de higiene e conforto, proporcionar cuidados
à saúde e promover atividades educacionais, esportivas, culturais e de lazer.
Além disso, nessas instituições, os idosos devem receber atendimento
multiprofissional, em que são oferecidas assistência social, psicológica, médica,

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de fisioterapia, de terapia ocupacional, de enfermagem, de odontologia,
educação física e outras atividades específicas para esse público e não somente
moradia, alimentação e vestimenta (Christophe; Camarano, 2010).
Em 22 de setembro de 1989, foram registradas 12 normas técnicas na
Portaria n. 810, com o intuito de regulamentar as casas de repouso, clínicas
geriátricas e demais instituições destinadas ao atendimento de idosos. A portaria
do Ministério da Saúde dá as diretrizes em relação a:

• Organização.
• Área física e instalações.
• Recursos humanos.

Dessa forma, é possível que haja maior homogeneização das estruturas


física e de serviço oferecidas pelas ILPIs brasileiras; além de maior fiscalização
para que as instituições possam disponibilizar atendimento de qualidade aos
idosos que delas necessitam.
As ILPIs ainda são classificadas de acordo com a especialização de
atendimento e seguem a Portaria n. 2.874/2000 da Secretaria de Estado de
Assistência Social (SEAS), que define as modalidades das instituições, levando
em consideração a capacidade funcional dos idosos da seguinte forma:

• Modalidade I, destinada a idosos independentes para as atividades da


vida diária, mesmo que necessitem utilizar algum equipamento como
auxílio.
• Modalidade II, destinada a idosos dependentes e independentes que
necessitam de ajuda e cuidados especializados, com acompanhamento e
controle de profissionais da área de saúde.
• Modalidade III, destinada a idosos dependentes que necessitam de
assistência total em pelo menos uma atividade da vida diária (Watanabe;
Di Giovanni, 2009).

Outras características são apresentadas por IPEA/SEDH/MDS e CNPq


em que mais de 90% das ILPIs brasileiras têm refeitório, espaço externo para
lazer e convivência, salas de TV e sala ecumênica ou capela (Stevenson, 1994,
citado por Calve, 2016).
Christophe e Camarano (2010) indicam que aproximadamente 72% das
ILPIs possuem entre um e dois leitos e 5,9% possuem número superior a cinco

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leitos por quarto, o que não é compatível com a normatização da Anvisa, de que
as instituições devem ter no máximo quatro leitos por quarto.
Há estimativas que atualmente existam no Brasil cerca de 3.548 ILPIs,
sendo aproximadamente 65,2% de caráter filantrópico, 6,6% são públicas e as
demais privadas (Brasil, 2005, citado por Calve, 2016).
Essa caracterização se dá em virtude das pessoas que procuram esse
serviço serem, em sua maioria, de baixa renda e ao vínculo das instituições com
a isenção fiscal e serem de caráter assistencialista. Mas, ainda assim, é
necessária que as ILPIs brasileiras sigam as diretrizes legais.

TEMA 3 – PERFIL DO IDOSO INSTITUCIONALIZADO

Dados do IPEA (2011) indicam que até 2020 a população idosa do país
será superior a 30 milhões, principalmente os idosos com idade igual ou superior
a 80 anos. Entretanto, dessa população, apenas 1% reside em ILPI (Camarano;
Mello, 2010).
Alguns autores como Camarano e Mello (2010) afirmam que a pequena
procura por ILPI para residência de idosos é decorrente do baixo número de
instituições no país e do preconceito existente em relação a essa modalidade de
atendimento à população idosa.
Atualmente, os principais motivos que levam os idosos a residir em uma
ILPI são dependência de cuidados médicos integralmente, baixa renda familiar,
viuvez (Camarano; Kanso, 2010) e dificuldade no convívio familiar.

3.1 Características cognitivas

O declínio cognitivo é um aspecto importante da institucionalização, pois


está presente em grande número dos idosos mais velhos.
A diminuição da cognição prejudica a vida social, a realização das
atividades da vida diária, a participação em atividades de lazer, características
que interferem também no declínio funcional e na redução da independência do
idoso residente em ILPI (Bessa; Silva, 2008), reduzindo em 22% na capacidade
da pessoa para realizar atividades da vida do dia a dia (Kanso et. al., 2010).
Dessa maneira, podemos considerar acometimento de demências senis
nessa população, o que exige maior cuidado com os idosos mais velhos,
residentes em ILPIs.

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3.2 Os aspectos socioafetivos

O idoso institucionalizado cria menos vínculos afetivos dentro das


instituições, diminuindo as relações sociais também fora da instituição, mesmo
com a recomendação do estatuto do idoso (Lei n. 10.741, de 1º de outubro de
2003) de que idosos residentes nas ILPIs devam manter o vínculo com seus
familiares (IBGE, 2014).
Mesmo com a falta de vínculo afetivo, o idoso que vai para uma ILPI passa
a fazer parte de uma nova comunidade, onde ele inicia novas relações sociais e
processo de diminuição dos relacionamentos familiares após um período de
adaptação (Calve, 2016).
A falta de afetividade, vínculo familiar e socialização podem levar os
idosos institucionalizados a um quadro de maior irritabilidade, dependência
emocional e física. Além disso, o afastamento da família e falta de interação
dentro da instituição propicia o desânimo, a melancolia e até mesmo a
depressão, que podem antecipar a morte (Camarano; Mello, 2010).
Assim sendo, uma das recomendações é que sejam oferecidas atividades
cooperativas, para melhorar a socialização dos idosos institucionalizados.

3.3 Imobilidade e dependência

A diminuição das capacidades funcionais e mobilidade estão associadas


às limitações em executar as atividades da vida diária, como levantar-se de uma
cadeira, caminhar, alimentar-se e fazer a higiene pessoal de maneira
independente (Almeida; Rodrigues, 2008).
Os idosos residentes em instituições de longa permanência,
normalmente, não são estimulados a executar as tarefas simples do dia a dia,
por estarem em um ambiente com menos oportunidades de mobilidade; por
consequência, se tornam cada vez mais dependentes e imóveis.
A imobilidade pode ser crônica ou aguda, temporária ou prolongada,
dependendo da ocorrência de quedas, fraturas, acidente vascular encefálico,
pós-operatório ou processos infecciosos. A imobilidade dos idosos também pode
ser agrupada em relação aos fatores de risco, sendo esses fatores intrínsecos
(idade avançada, dependência nas atividades básicas da vida diária, doenças
neuropsiquiátricas, polipatologias e presença de instabilidade postural), e

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extrínsecos (problemas familiares, ambientais, hospitalização prolongada e
institucionalização) (Liu-Ambrose et al., 2004; Lollar; Crews, 2003).
As causas da imobilidade podem ser parciais ou completas, dependendo
das doenças que acometem o idoso, prescrição de fármacos e fatores
socioambientais, como isolamento social, contenção física, calçados
inadequados, dispositivos de auxílio e falta de adaptação ambiental (Liu-
Ambrose et al., 2004).
Bessa e Silva (2008) consideram que há maior dificuldade de equilíbrio e
realização do andar em ambientes institucionalizados, devido à interação entre
as alterações no organismo e as características do ambiente segregado,
desprovido de estímulo. Além disso, idosos institucionalizados são mais
suscetíveis às agressões ambientais e aos efeitos secundários das medicações.
Para Taveira (2010) é comum indivíduos institucionalizados,
principalmente os com mais 75 anos de idade, desenvolver a síndrome de
fragilidade geriátrica, que provoca perda de peso, massa magra, diminuição de
força e aumento da fadiga, levando ao aumento da morbidade e mortalidade
dessa população.

TEMA 4 – CUIDADOS COM O IDOSO INSTITUCIONALIZADO

Os idosos institucionalizados exigem muitos cuidados em relação a saúde


física, mental e social, para que sua institucionalização não interfira
demasiadamente em sua condição de saúde e bem-estar.
Uma possível maneira de tentar amenizar as influências da
institucionalização de idosos seria propor programas de cuidados e intervenção
para que eles sejam motivados a se manterem mais ativos, uma vez que a
prática de exercício físico regular proporciona melhor desempenho funcional,
aumento da autonomia, autoconfiança e autoestima (Graf, 2006).
O objetivo dos cuidados gerais e intervenções para os idosos
institucionalizados é maximizar a longevidade e a independência funcional dos
domínios físico e mental, tornando-os capazes de realizar as atividades básicas
do dia a dia sem precisar da assistência dos outros, e mantendo-os o maior
tempo possível com independência e autonomia (Taveira, 2010).

4.1 Programas na área da saúde

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As ILPIs devem oferecer, além de um ambiente adequado ao idoso,
assistência médica e odontológica, cuidados de enfermagem, fisioterapia,
terapia ocupacional e tratamento com psicólogo.
O tratamento psicológico é fundamental para que os idosos
institucionalizados possam ter atendimento para promoção da saúde mental,
principalmente os que já foram acometidos por demências ou depressão.
Atendimento fisioterapêutico também é necessário, pois muitos idosos
institucionalizados necessitam de cuidados em relação a doenças articulares e
neuromusculares.
Os atendimentos ocorrem uma ou duas vezes por semana, dentro das
instituições, por profissionais contratados pela instituição ou oferecidos pelo
município onde a instituição está sediada.
Quando não há possibilidade de o atendimento ser realizado dentro da
instituição, o idoso deve ser levado e assistido em outros órgãos da área da
saúde.
A Avalição Geriátrica Ampla (AGA) deve ser realizada e registrada nos
prontuários, constando:

• Histórico de Enfermagem.
• Exame físico.
• Prescrição da Assistência de Enfermagem.
• Evolução da Assistência de Enfermagem.
• Anotações de Enfermagem.

Como é possível identificar, entre as equipes que assistem os idosos


institucionalizados, diariamente, está a equipe de enfermagem, que tem a
responsabilidade de oferecer um cuidado humanizado aos residentes.
Na AGA, algumas escalas são utilizadas, tais como:
• Avaliação funcional: Índice de Katz para atividades da vida diária (AVD).
(Enfermeiro). Avaliar a independência funcional.
• Escala de depressão geriátrica. (Enfermeiro) – avaliar estados
depressivos.
• Escala de avaliação nutricional. (Enfermeiro) – identificar sinais de
alterações nutricionais.
• Mine Exame do Estado Mental. (Enfermeiro) – identificar sinais de
Distúrbios cognitivos e avaliação de estágios demenciais.

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• Escala de Braden. (Enfermeiro) – avaliar risco de escaras de decúbito em
idosos acamados.

Por meio das avaliações da equipe de enfermagem, é possível assistir os


idosos institucionalizados de maneira adequada, oferecendo terapias para
melhora, recuperação ou manutenção da saúde física e mental do indivíduo.
Entre as terapias, podemos citar os programas de fisioterapia,
psicoterapia, terapia ocupacional, musicoterapia e de exercícios físicos, o qual
será descrito a seguir.

4.2 Programas de exercícios físicos

Com visto anteriormente, são inúmeros os atendimentos que devem ser


oferecidos de forma adequada ao idoso institucionalizado. Porém, infelizmente,
a maioria das ILPIs não possui um grupo de funcionários e ambiente favorável
às necessidades dos idosos.
A falta de oportunidade para prática de exercícios físicos regulares é um
dos fatores que deve ser levado em consideração em relação às terapias e aos
atendimentos oferecidos ao idoso institucionalizado.
Isso porque a falta de atividade física pode provocar comprometimento
das capacidades físicas e hipocinesia (falta de movimento), que, por sua vez,
pode acometer o idoso institucionalizado com doenças cardiovasculares,
respiratórias, osteomusculares, articulares e problemas psicossociais (Žalik;
Zalar, 2013), fazendo com que o idoso necessite de outros atendimentos na área
da saúde.
A prática de exercício físico é uma das melhores maneiras de reduzir a
morbidade ao longo da vida, proporcionando o aumento da expectativa de vida,
mesmo nos idosos institucionalizados com idade avançada (Taveira, 2010).
Diferentes protocolos de intervenção podem ser oferecidos para os idosos
institucionalizados, tais como exercícios de flexibilidade articular, resistência
muscular localizada, força muscular, equilíbrio e locomoção. Tais protocolos
podem ser oferecidos em diferentes modalidades esportivas, como, por
exemplo, alongamento, dança, ginástica localizada, minitrampolim, yoga, entre
outras (Bradley; Pointer, 2008). No entanto, é importante considerar as
condições mais favoráveis e, principalmente, motivadoras para um programa de

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intervenção para os idosos institucionalizados, de modo que possam garantir
adesão e bons resultados.

TEMA 5 – RECREAÇÃO E LAZER DO IDOSO INSTITUCIONALIZADO

Há grande incidência de depressão entre os idosos institucionalizados,


sendo até cinco vezes maior do que em idosos da comunidade. A falta de
estímulos psicofísicos, como nos idosos institucionalizados, ocasiona maior
déficit de locomoção, uso de dispositivo de auxílio para se locomover, problemas
neuromusculares e ortopédicos, depressão, declínio cognitivo e prevalência de
quedas (Santos et al., 2011; Winter et al., 1990).
Para reduzir o impacto do processo de envelhecimento e influência da
falta de mobilidade e motivação de viver, se faz necessária a intervenção, com
aplicação de atividade física regular, atividades de socialização, recreativas e de
lazer.
O lazer e as atividades recreativas são, além de direito constitucional,
consideradas como necessidades humanas básicas. Para Moura e Souza
(2013), prática do lazer inclui, entre outras funções, a oportunidade de usufruir
de inúmeras manifestações cultuais, tais como:

• jogos e brincadeiras;
• festas e eventos comemorativos;
• passeios e viagens;
• esportes;
• arte.

As dimensões culturais fazem com que o indivíduo seja visto como um ser
social e integrativo. Assim, a prática do lazer traz contribuições para o processo
de desenvolvimento psicossocial a todas as idades, incluindo os idosos.
Moura e Souza (2013) afirmam que a quantidade de tempo livre varia e
que, na aposentadoria, esse tempo é aumentando; porém, não é valorizado
pelos aposentados, acostumados no ritmo da produção.
Os idosos residentes em ILPIs, assim como demais da sociedade,
também devem usufruir de atividades de lazer e recreação. Entretanto, em sua
maioria, as instituições não possuem espaço físico apropriado para a prática da
recreação e do lazer.

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Como citado, para que os idosos institucionalizados tenham uma boa
qualidade de vida nas ILPIs, é necessário que haja uma equipe multidisciplinar,
que desenvolva atividades diferenciadas, incluindo lazer e recreação.
A recreação e o lazer em ILPIs trazem inúmeras contribuições para a
inserção do idoso no ambiente social, combate a solidão e depressão, além de
proporcionar ganhos aos aspectos físicos.
Com o aumento da longevidade e a vida dinâmica das famílias brasileiras,
muitos idosos são recebidos em ILPIs.
Mesmo com ambiente adequado, muitos idosos institucionalizados
apresentam maior debilidade e independência, depressão e declínio cognitivo
(Santos et al., 2011; Winter et al., 1990).
Em ILPI, a rotina oferece pouco ao tempo disponível para lazer do
residente da ILPI, que o ocupa predominantemente com ler, ouvir rádio e assistir
à TV. Isso ocorre porque as instituições não possuem espaço físico específico e
adequado para lazer (Faleiros; Justo, 2007, citados por Moura; Souza, 2013).
Em estudo realizado por Moura e Souza (2013) infere que práticas
religiosas, relações interpessoais, ginástica, assistir à TV e práticas
manuais/artesanais envolvem as práticas de lazer mais citadas por 47 idosos
institucionalizados entrevistados.
Mesmo com atividades simples como as citadas acima, o lazer é uma
ocupação obrigatória, de livre escolha e proporcionam melhora do
desenvolvimento cognitivo, psicossocial e afetivo (Dumazedier, 1997).
As atividades oferecidas aos idosos institucionalizados podem ser:

• aulas de dança, canto e musicalidade;


• atividades circenses;
• jogos de diversos tipos;
• sessões de cinema;
• festas comemorativas;
• passeios e viagens curtas.

Com a prática de recreação e lazer, os idosos se sentem mais felizes, com


mais vontade de viver e desfrutam de benefícios psicofísicos. Assim sendo, é
importante que as instituições ofereçam atividades e espaços adequados de
lazer para seus residentes, proporcionando a eles melhora no comportamento
psicossocial e afetivo dos idosos.

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NA PRÁTICA

Idosos institucionalizados são mais sedentários e necessitam, inúmeras


vezes, de mais atenção e cuidados. A prática de atividade física, recreativa e de
lazer é importantíssima para essa população. Assim sendo, quais são os
benefícios dessas práticas para os idosos residentes em ILPIs?
Como vimos nesta aula, os idosos institucionalizados que participam das
atividades físicas, recreativas e de lazer são mais felizes, possuem melhora dos
aspectos psicomotores e menor incidência de doenças associadas ao processo
natural do envelhecimento e da institucionalização.

FINALIZANDO

Nesta aula pudemos compreender o que são e como são as Instituições


de Longa Permanência para Idosos (ILPIs) no Brasil, além de um breve histórico
dessas instituições em nosso país e no mundo.
Vimos como é caracterizado o idoso institucionalizado e quais os tipos de
atendimento que ele recebe na instituição.
Os benefícios da prática de atividade física, recreação e lazer dos idosos
institucionalizados também foram abordados.
Para finalizar, foi relacionada a prática de exercícios físicos com
prevenção e redução do número de quedas na população idosa.

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