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FREYRE, Gilberto.

Casa Grande & Senzala: formação da família brasileira sob o regime da


economia patriarcal. São Paulo: Global, 2003. Cap. 1, p. 64-155.

O autor destaca que houve uma incorporação da cultura econômica e social do invasor
através da “união entre o português e a mulher Índia”.

“Formou-se na América tropical uma sociedade agrária na estrutura, escravocrata na técnica


de exploração econômica, híbrida de índio - e mais tarde de negro – na composição.” (p. 64).

O espírito político e o realismo jurídico português “foi” essencial para a formação nacional
brasileira. O autor ressalta uma importância dos donos de terras e de escravos que,
supostamente, teriam sido importantes na luta contra os abusos da metrópole.

O autor afirma haver uma predisposição dos portugueses pelos trópicos devido as suas
relações com o continente africano. A todo momento ele ressalta a influência do clima e
“cultura” das sociedades africanas sobre os portugueses. A influência “africana” teria afetado
as influências “europeias” que pairavam sobre os portugueses.

O autor sugere que não havia uma hierarquia, mas uma convivência pacífica entre as raças.

A mobilidade teria sido o motivo da “vitória” portuguesa. Ele fala sobre os portugueses
“emprenhando” as mulheres dos locais em que chegavam como uma forma de política,
embora “violentamente instintiva”.

Gilberto destaca que os portugueses seriam o povo colonizador que mais foi capaz de se
“misturar gostosamente” com as mulheres “de cor”. Ele parece não querer enfatizar o estupro
e a violência por trás disso. A miscigenação teria sido o modo pelo qual os portugueses
compensaram o seu baixo número de indivíduos.

O intelectual ressalta a sensualidade das “índias” e negras como atiçadora dos desejos dos
portugueses. Ele ressalta uma inveja das mulheres louras para a com as de pele escura e
conflitos entre cristãos e “infiéis”, ressaltando como isso acabou por constituir uma hierarquia.

“Nas condições físicas de solo e de temperatura, Portugal é antes África do que Europa.” (p.
71).

A “miscibilidade” portuguesa foi crucial para a sua adaptação aos trópicos. A “união” com
mulheres indígenas teria um importante papel nisso.

“O português não: por todas aquelas felizes predisposições de raça, de mesologia e de cultura
a que nos referimos, não só conseguiu vencer as condições de clima e de solo desfavoráveis ao
estabelecimento de europeus nos trópicos, como suprir a extrema penúria de gente branca
para a tarefa colonizadora unindo-se com mulher de cor.” (p. 73).

O pensador afirma que os portugueses se depararam com inúmeras dificuldades no que diz
respeito ao clima e solo desfavorável, quando chegaram no Brasil. O português teria vantagens
diante dos outros europeus no que diz respeito à adaptação diante do clima brasileiro.

“O colonizador português do Brasil foi o primeiro entre os colonizadores modernos a deslocar


a base da colonização tropical da pura extração de riqueza mineral, vegetal ou animal [...] para
a de criação local de riqueza.” (p. 78).
Políticas implementadas pelos portugueses: desenvolvimento de riqueza vegetal; agricultura;
sesmaria; lavoura escravocrata; utilização dos nativos como elemento de trabalho e “formação
de família”.

Aqui, afirma Gilberto, a segregação não teria se dado da mesma forma que nas demais
colônias europeias. O autor ressalta, a todo momento, que a iniciativa particular sobrepôs
obras do Estado colonizador no que diz respeito às grandes plantações.

“A família, não o indivíduo, nem tampouco o Estado nem nenhuma companhia de comércio, é
desde o século XVI o grande fator colonizador no Brasil [...]. Os senados de Câmara, expressões
desse familismo político, cedo limitam o poder dos reis e mais tarde o próprio imperialismo
ou, antes, parasitismo econômico, que procura estender do reino às colônias os seus
tentáculos absorventes.” (p. 80).

O autor caracteriza os 50 primeiros anos após a chegada dos portugueses de pré-história


nacional. Nos doía primeiros séculos após a chegada dos portugueses, a jurisprudência
criminal parece estar envolta por um grande misticismo. Enquanto os atos cometidos contra a
religião tinham penas duras, os demais pareciam ter penas bem brandas.

Alguns criminosos, aparentemente, eram mandados para a colônia. O autor afirma que as
mulheres nuas e a possibilidade de uma vida “solta” trazia muitos europeus ao Brasil.

A forte presença da família rural na colonização portuguesa, esta teria tomado rumos não
teocráticos (aparentemente idealizados pelos jesuítas). O autor afirma que o mercantilismo
burguês é havia, há séculos, havia transformado os portugueses no povo que mais
comercializava e “menos rural” da Europa.

Devido aos fatores acima apresentado, o autor denomina como “curioso” que a colonização
portuguesa se sustentasse sobre uma base rural. Gilberto afirma que as circunstâncias foram a
força que empurrou os portugueses rumo a um colonização baseada na agricultura (moral dos
habitantes; condições geográficas; etc.).

Os pequenos e regulares rios parecem ter “prestado” um grande “serviço ao Brasil”. Ele
parece entender os elementos como “importantes” sempre através da ótica do colonizador,
dentro de uma lógica civilizatória.

Gilberto narra a chegada dos portugueses ao Brasil quase que como uma epopeia: eles
encontraram um clima e sociedades bastante diversas do que esperavam, mas perseveraram.
Ele destaca como a natureza da região parecia ser um empecilho à civilização.

O autor destaca como o furor expansionista dos bandeirantes, em alguns momentos, pós em
risco a saúde econômica e a unidade política da Colônia. Diferente dos espanhóis, assolados
por um separatismo político, e dos ingleses, atravessados por divergências religiosas, os
portugueses chegaram ao Brasil sem tantos conflitos internos.

O autor afirma que a pureza da raça pouco importava para a Coroa portuguesa, sendo a fé
católica o mais importante. No século XVI, Portugal também se encontrava repleta de
estrangeiros. O perigo, para eles, não estava no estrangeiro, mas no herege. O catolicismo
forte de Portugal, aponta o pesquisador, também se fez presente no Brasil. O catolicismo teria
sido, para ele, “cimento da nossa unidade”.
Ele afirma que as condições físicas aqui encontradas afastaram o Brasil de um separatismo,
influenciando o desenvolvimento unionista. O clima, afirma, não variava de forma a formar
duas sociedades completamente diferentes em duas regiões distintas.

Embora o apoio econômico viesse a mudar com o tempo (açúcar, ouro, café, etc.), o
instrumento de exploração da elite permaneceu sendo o “braço escravo”. Onde quer que, no
Brasil escravocrata, a agricultura tenha vingado, o latifúndio dominou. Ele aponta para a
dicotomia “branco das casas-grandes e negros das senzalas.

O autor afirma que a alimentação aqui presente foi a responsável pelas diferenças somáticas e
psíquicas entre europeus e brasileiros, cujo por muito tempo foram atribuídos à miscigenação.
A força da monocultura teria acentuado a desnutrição no país. Ele afirma que os brancos das
casas-grandes e os negros das senzalas se alimentavam melhor, destacando que doa
escravizados surgiram os “indivíduos mais fortes e sadios da nossa população”. Ele afirma que
da população média vieram os piores elementos.

Gilberto destaca a má higiene e péssima conservação dos gêneros alimentícios. Ele afirma que
os próprios senhores de engenho também se alimentavam de forma deficitária.

Ele afirma que o Brasil dos três séculos coloniais foi um país “de alimentação incerta e vida
difícil”. O autor segue destacando como as vilas pareciam quase que abandonadas.

Ele aponta que, para o Brasil, a maior influência foi a do “africano” e destaca os alimentos que
este teria trazido consigo. O autor também informa que, apesar de não ser rum “primor”,
alimento “não faltava ao negro”. Para ele, eles eram os que melhor se nutriam. Afirmando que
a união entre brancos e indígenas constitui uma sub-raça, Gilberto diz que a exaltação do
físico do “índio” não constitui um panorama da realidade.

Mesmo onde se acha que o sangue ameríndio se manteve puro, afirma Freyre, o negro teria
se misturado com ele.

Ele afirma que a sífilis “contraída através da relação com mulheres negras” era “ostentada”
pelos jovens brancos. O autor afirma que a sífilis teria surgido dos primeiros contatos entre os
europeus e as indígenas que, de acordo com ele, “se ofereciam sexualmente”.

Gilberto Freyre afirma que um “sadismo do branco” e um “masoquismo da Índia e da negra”


predominou nas relações sexuais e sociais entre o europeus e as “mulheres das raças
submetidas ao seu domínio”. O menino branco desenvolvia já cedo um gosto de mando
violento e perverso. A mulher, destaca, quando senhora, também nutria certo sadismo,
principalmente “sobre as mulatas”.

Esse sadismo, afirma ele, citando Floriano Peixoto, teria reverberado no campo social e
político. O que grande parte do “povo brasileiro” goza é a pressão de um governo másculo e
autocrático. Ele afirma que aqui reside o eco desse masoquismo. O Brasil, afirma, ainda é
profundamente influenciado pela relação dialética sadismo e masoquista.

Gilberto Freyre deixa bem claro que o Brasil surgiu através de uma profunda miscigenação
entre “as raças”. Ele afirma que não se pode compreender a formação do Brasil sem que
percebamos a forte “influência africana” até mesmo no sistema jesuítico. A formação
brasileira estaria imersa em um equilíbrio de antagonismos.

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