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INTRODUÇÃO
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1. Introdução
Eram "inelegíveis para os mesmos cargos, no período subsequente, o Presidente da República, os
Governadores de Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou
substituído nos seis meses anteriores ao pleito". Esse era o texto original do §5º, do artigo 14, da
Constituição Federal de 1988. Todavia, pela Emenda Constitucional nº 16, de 1997, a redação foi
alterada para dispor que "o Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito
Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou substituído no curso dos mandatos poderão
ser reeleitos para um único período subsequente". É a polêmica “emenda da reeleição”.
Com o advento do Plano Real em 1994 e a popularidade alcançada pelo então Presidente Fernando
Henrique Cardoso, desenhou-se no Congresso Nacional as condições políticas perfeitas para que
fosse aprovada a reeleição dos Chefes do Poder Executivo, para um mandato subsequente, pelo
período de mais quatro anos.
Diante da inovação introduzida no ordenamento jurídico pela Emenda Constitucional nº 16, tornou-
se necessário criar instrumentos que impedissem o uso abusivo da máquina administrativa em
benefício do ocupante daquele cargo.
Nesse propósito, foi instituída a Lei nº 9.504, de 30 de setembro de 1997, estabelecendo normas
conferindo tratamento igualitário a todos os candidatos em qualquer eleição majoritária no país.
Deve haver um equilíbrio entre os candidatos e o Poder Público não deve ser utilizado como
instrumento para obtenção de vantagens pelo candidato à reeleição investido no cargo de Chefe do
Poder Executivo.
Este é o Princípio da Igualdade, que fundamenta as normas previstas no artigo 73, da Lei nº
9.504/97. A Constituição Federal, no artigo 5º, caput, estabelece que, sem distinção de qualquer
natureza, todos são iguais perante a lei. Todos devem ser tratados por ela igualmente tanto quando
concede benefício, confere isenções ou outorga vantagens como quando prescreve sacrifícios,
multas, sanções, agravos. Todos os iguais em face da lei também o são perante a Administração
Pública. Todos, portanto, têm o direito de receber da Administração Pública o mesmo tratamento,
se iguais. Se iguais nada pode discriminá-los. Impõe-se aos iguais, por esse princípio, um tratamento
impessoal, igualitário ou isonômico1.
Nas eleições, o Chefe do Poder Executivo, concorrendo a reeleição, deve ser tratado de forma
impessoal, igualitária e isonômica perante os demais candidatos, afastando a prática de condutas
típicas da Administração Pública, os atos de governança, para assegurar que a atuação do Poder
Público não vai interferir na vontade do eleitor e, consequentemente, no resultado da eleição.
O princípio básico que deve nortear as condutas dos agentes públicos no período de eleição está
disposto no caput do artigo 73 da Lei nº 9.504/97, ou seja, são proibidas “...condutas tendentes a
afetar a igualdade de oportunidades entre candidatos nos pleitos eleitorais”.
Assim, de maneira geral é vedada toda ação ou omissão que possa ser caracterizada como abuso
das funções e atribuições administrativas, resultando na intervenção indevida no processo político
eleitoral ou afetando o equilíbrio formal entre os candidatos.
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Já nos ensinamentos de Celso Antonio Bandeira de Mello, a expressão “agentes públicos” é a mais
ampla que se pode conceber para designar genérica e indistintamente os sujeitos que servem ao
Poder Público como instrumentos expressivos de sua vontade ou ação, ainda quando o façam
apenas ocasional ou episodicamente.
Quem quer que desempenhe funções estatais, enquanto as exercita, é um agente público. Por isso,
a noção abarca tanto o Chefe do Poder Executivo (em quaisquer das esferas) como os senadores,
deputados e vereadores, os ocupantes de cargos ou empregos públicos da Administração direta dos
três Poderes, os servidores das autarquias, das fundações governamentais, das empresas públicas
e sociedade de economia mista nas distintas órbitas de governo, os concessionários e
permissionários de serviço público, os delegados de função ou ofício público, os requisitados, os
contratados sob locação civil de serviços e os gestores de negócios públicos3.
De acordo com o § 1º do artigo 73 da Lei nº 9.504/97, reputa-se agente público quem exerce, ainda
que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou
qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nos órgãos ou
entidades da Administração Pública direta, indireta ou fundacional.
As condutas vedadas tipificadas nos artigos 73 a 77 da Lei nº 9.504/97 são destinadas aos agentes
públicos, termo que abrange os agentes políticos, independentemente de serem candidatos ou
não4. Verifica-se que a definição dada pela Lei é a mais ampla possível, de forma que estão
compreendidos desde os agentes políticos (Presidente da República, Governadores, Prefeitos e
respectivos Vices, Ministros de Estado, Secretários, Senadores, Deputados federais e estaduais,
Vereadores etc.), os servidores titulares de cargos públicos ou empregados, sujeitos ao regime
estatutário ou celetista em órgão ou entidade pública (autarquias e fundações), empresa pública ou
sociedade de economia mista, as pessoas requisitadas para prestação de atividade pública (p. ex.:
membro de Mesa receptora ou apuradora de votos, recrutados para o serviço militar obrigatório
etc.), gestores de negócios públicos, até aqueles que se vinculam contratualmente com o Poder
Público como é o caso dos prestadores terceirizados de serviço, os concessionários ou
permissionários de serviços públicos, e os delegados de função ou ofício público (p. ex.: os titulares
de serventias da Justiça não oficializadas, conforme o art. 236 da Constituição Federal).
2 José Cretella Júnior. Dicionário de Direito Administrativo. Agente Público. 5ª Edição. Editora Forense.
3 Celso Antonio Bandeira de Mello. Curso de Direito Administrativo. V – Servidores Públicos. 27ª edição. Malheiros Editores.
4 Agravo de Instrumento nº 5197, Acórdão, Relator(a) Min. Tarcisio Vieira De Carvalho Neto, Publicação: DJE - Diário de justiça
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CONDUTAS VEDADAS
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3. Condutas vedadas
As condutas vedadas ou proibidas aos agentes públicos relativas às eleições estão entre os artigos
73 a 77 da Lei nº 9.504/97, além de algumas restrições financeiras impostas pela Lei nº 4.320/64 e
pela Lei Complementar nº 101/00. Vejamos:
a) é proibido ceder ou usar, em benefício de candidato, partido político ou coligação, bens móveis
ou imóveis pertencentes à administração direta ou indireta da União, dos Estados, do Distrito
Federal, dos Territórios e dos Municípios, ressalvada a realização de convenção partidária (art. 73,
I, Lei nº 9.504/97);
b) é proibido usar materiais ou serviços, custeados pelos Governos ou Casas Legislativas, que
excedam as prerrogativas consignadas nos regimentos e normas dos órgãos que integram (art. 73,
II, Lei nº 9.504/97);
d) é proibido fazer ou permitir uso promocional em favor de candidato, partido político ou coligação,
de distribuição gratuita de bens e serviços de caráter social custeados ou subvencionados pelo
Poder Público (art. 73, IV, Lei nº 9.504/97);
e) é proibido nomear, contratar ou de qualquer forma admitir, demitir sem justa causa, suprimir ou
readaptar vantagens ou por outros meios dificultar ou impedir o exercício funcional e, ainda, ex
officio, remover, transferir ou exonerar servidor público, na circunscrição do pleito, nos três meses
que o antecedem e até a posse dos eleitos, sob pena de nulidade de pleno direito, ressalvados: 1) a
nomeação ou exoneração de cargos em comissão e designação ou dispensa de funções de
confiança; 2) a nomeação para cargos do Poder Judiciário, do Ministério Público, dos Tribunais ou
Conselhos de Contas e dos órgãos da Presidência da República; 3) a nomeação dos aprovados em
concursos públicos homologados até o início daquele prazo; 4) a nomeação ou contratação
necessária à instalação ou ao funcionamento inadiável de serviços públicos essenciais, com prévia
e expressa autorização do Chefe do Poder Executivo; 5) a transferência ou remoção ex officio de
militares, policiais civis e de agentes penitenciários (art. 73, V, Lei nº 9.504/97);
f) nos três meses que antecedem o pleito, é vedado realizar transferência voluntária de recursos da
União aos Estados e Municípios, e dos Estados aos Municípios, sob pena de nulidade de pleno
direito, ressalvados os recursos destinados a cumprir obrigação formal preexistente para execução
de obra ou serviço em andamento e com cronograma prefixado, e os destinados a atender situações
de emergência e de calamidade pública (art. 73, VI, “a”, Lei nº 9.504/97);
g) nos três meses que antecedem o pleito, é vedado, com exceção da propaganda de produtos e
serviços que tenham concorrência no mercado, autorizar publicidade institucional dos atos,
programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos federais, estaduais ou municipais, ou
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das respectivas entidades da administração indireta, salvo em caso de grave e urgente necessidade
pública, assim reconhecida pela Justiça Eleitoral (art. 73, VI, “b”, Lei nº 9.504/97);
h) nos três meses que antecedem o pleito, é vedado fazer pronunciamento em cadeia de rádio e
televisão, fora do horário eleitoral gratuito, salvo quando, a critério da Justiça Eleitoral, tratar-se de
matéria urgente, relevante e característica das funções de governo (art. 73, VI, “c”, Lei nº 9.504/97);
i) é vedado empenhar, no primeiro semestre do ano de eleição, despesas com publicidade dos
órgãos públicos federais, estaduais ou municipais, ou das respectivas entidades da administração
indireta, que excedam a 6 (seis) vezes a média mensal dos valores empenhados e não cancelados
nos 3 (três) últimos anos que antecedem o pleito;
j) é vedado fazer, na circunscrição do pleito, revisão geral da remuneração dos servidores públicos
que exceda a recomposição da perda de seu poder aquisitivo ao longo do ano da eleição, a partir
do início do prazo estabelecido no art. 7º desta Lei e até a posse dos eleitos;
l) no ano em que se realizar eleição, é proibida a distribuição gratuita de bens, valores ou benefícios
por parte da Administração Pública, exceto nos casos de calamidade pública, de estado de
emergência ou de programas sociais autorizados em lei e já em execução orçamentária no exercício
anterior, casos em que o Ministério Público poderá promover o acompanhamento de sua execução
financeira e administrativa (art. 73, §10, Lei nº 9.504/97);
m) nos anos eleitorais, os programas sociais de que trata o § 10, do artigo 73, da Lei nº 9.504/97,
não poderão ser executados por entidade nominalmente vinculada a candidato ou por esse mantida
(art. 73, §11, Lei nº 9.504/97);
o) é proibido a qualquer candidato comparecer, nos 3 (três) meses que precedem o pleito, a
inaugurações de obras públicas (art. 77, Lei nº 9.504/97);
p) é vedado aos Municípios empenhar, no último mês do mandato do Prefeito, mais do que o
duodécimo da despesa prevista no orçamento vigente (art. 59, §1º, Lei nº 4.320/64);
q) é vedado ao Poder Público, nos últimos dois quadrimestres do seu mandato, contrair obrigação
de despesa que não possa ser cumprida integralmente dentro dele, ou que tenha parcelas a serem
pagas no exercício seguinte sem que haja suficiente disponibilidade de caixa para este efeito (art.
42, Lei Complementar nº 101/00).
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Art. 73. São proibidas aos agentes públicos, servidores ou não, as seguintes
condutas tendentes a afetar a igualdade de oportunidades entre candidatos nos
pleitos eleitorais:
Essa regra apresenta importantes elementos que devem ser considerados na adequada tipificação
da conduta vedada: a) ceder ou usar; b) em benefício de candidato, partido político ou coligação; c)
bens móveis ou imóveis; d) pertencente à Administração Pública; e) ressalvada a hipótese de
convenção partidária.
O verbo “ceder” significa que a Administração Pública se valeu de um dos institutos jurídicos que
transferem o uso do bem público ao particular. Isso pode ocorrer através da “autorização de uso”,
“permissão de uso”, “concessão de uso”, “concessão de direito real de uso”, “concessão de uso
especial para fins de moradia” ou “cessão de uso”. Isso tudo pode ocorrer oficialmente, utilizando
um desses instrumentos, ou até mesmo extraoficialmente, quando a Administração pública cede
um imóvel sem alardear que o fez, para esconder vícios que ofendem a moral dos atos na
Administração Pública. O verbo “usar” foi adotado para representar que não só a Administração
está proibida de ceder bens públicos a terceiros, como ela mesma, através de seus agentes públicos,
está proibida de usá-los em benefício de candidato, partido político ou coligação.
A conduta vedada exige a “cessão” ou o “uso” de bem público e precisa ser em benefício de
candidato, partido político ou coligação. Ocorrendo hipótese contrária, onde o bem público é
utilizado para outras finalidades, não haverá a incidência da conduta vedada. Pode até ser que a
cessão do bem público a um particular tenha sido ilegal, por não respeitar, por exemplo, o processo
de dispensa de licitação, mas para fins eleitorais, a conduta somente será vedada se resultar em
favorecimento a um candidato, a um partido ou a uma coligação.
O mais importante é que não há interesse público que justifique ceder ou usar bem público nesse
objetivo, pois a afetação do bem público é incompatível com o interesse do candidato ou do seu
partido. Não há como permitir que escolas, creches, postos de saúde, repartições administrativas
sejam cedidas ou usadas para angariar votos a candidato. Haveria um rompimento da afetação do
bem público. Não é ele destinado a essa função. E isso é em qualquer época do ano. Não apenas
5 Recurso Ordinário nº 481883, Acórdão de 01/09/2011, Relator(a) Min. FÁTIMA NANCY ANDRIGHI, Publicação: DJE - Diário da Justiça
Eletrônico, Tomo 195, Data 11/10/2011, Página 42
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nos três meses que antecedem o pleito ou no ano eleitoral. Em momento algum a Administração
pode ceder ou usar bem público em benefício a candidato, partido ou coligação.
A conduta vedada do artigo 73, inciso I, é aplicável em face do patrimônio público, isto é, bens
móveis ou bens imóveis. A cessão de servidores públicos é objeto de conduta vedada prevista em
outro inciso.
Os veículos são os bens públicos mais suscetíveis ao desvio de finalidade. Podemos ter uma
variedade infinita de veículos oficiais sendo utilizados para fins eleitoreiros, tal como:
a) ônibus escolar fazendo transporte de time de futebol para participar de competição em outra
cidade;
e) servidores públicos envolvidos politicamente com certo candidato que usam os veículos para
atividades em prol do candidato, partido ou coligação, tal como protocolar documentos no cartório
ou na justiça eleitoral.
Os equipamentos de escritório também são empregados em larga escala. A impressora usada para
imprimir panfletos. O computador e o telefone usados para entrar em contato com eleitores ou
para assuntos que dizem respeito unicamente ao candidato, partido ou coligação. A própria
estrutura da Administração, mesa, cadeira, espaço físico, papel, caneta, são usados ou desviados
por servidores para atividades administrativas em benefício eleitoreiro.
Os prédios institucionais também não estão disponíveis para a finalidade de beneficiar candidato,
partido político ou coligação. Evidente que a Administração Pública não irá celebrar um instrumento
jurídico, tal como a “permissão de uso”, declarando literalmente que sua finalidade é beneficiar um
candidato. O benefício a ele é enrustido, mascarado, exatamente para fugir da proibição legal. Por
isso, que os órgãos de controle devem sempre levar em consideração o instrumento jurídico
celebrado, mas também a situação de fato encontrada no uso do bem público, pois é comum que
ocorram desvios. Em relação ao “bem público de uso comum do povo”, é possível a sua livre
utilização, como veremos adiante.
Os bens precisam ser públicos, pois se pertencem a particulares, não incide a vedação do artigo 73,
inciso I.
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A vedação a que se refere o inciso I do artigo 73 da Lei no 9.504/97 não diz respeito, apenas, com as
coisas móveis ou imóveis, como veículos, casas e repartições públicas. A interdição está relacionada
ao uso e à cessão de todos os bens patrimoniais indisponíveis ou disponíveis – bens do patrimônio
administrativo – os quais, ‘pelo estabelecimento da dominialidade pública’, estão submetidos à
relação de administração – direta e indireta, da União, Estados, Distrito Federal, territórios e
Municípios. Para evitar a desigualdade, veda-se a cessão e o uso dos bens do patrimônio público,
cuja finalidade de utilização, por sua natureza, é dada pela impessoalidade 6.
4.1. Histórico
A regra do artigo 73, I, mesmo antes da sua promulgação, já se fazia presente em outras legislações.
O artigo 377 do Código Eleitoral estabelece que o serviço de qualquer repartição, federal, estadual,
municipal, autarquia, fundação do Estado, sociedade de economia mista, entidade mantida ou
subvencionada pelo poder público, ou que realiza contrato com este, inclusive o respectivo prédio
e suas dependências não poderá ser utilizado para beneficiar partido ou organização de caráter
político. A violação a este artigo tem pena de 6 meses e pagamento de 30 a 60 dias-multa, aplicado
a autoridade responsável, aos servidores que prestarem serviços e os candidatos, membros ou
diretores de partidos que derem causa a infração.
Aliás, o artigo 24, inciso II, da Lei nº 9.504/97, já estabelece ser vedado, a partido e candidato,
receber direta ou indiretamente doação em dinheiro ou estimável em dinheiro, inclusive por meio
de publicidade de qualquer espécie, procedente de órgão da Administração Pública direta e indireta
ou fundação mantida com recursos provenientes do Poder Público.
Tais bens podem ser utilizados gratuita ou onerosamente por todos, sem a necessidade de qualquer
permissão específica, não perdendo esta característica quando a Administração exigir para o seu
uso e gozo certos requisitos ou até mesmo tarifa, sempre observando em conjunto todas as normas
federais, estaduais e municipais acerca do assunto.
São bens utilizados indistintamente por todas as pessoas, em concorrência igualitária e harmoniosa
com os demais, de acordo com o destino do bem e condições que não lhe causem uma sobrecarga
invulgar, conforme explica Celso Antonio Bandeira de Mello. Dentre esses bens estão as ruas,
praças, estradas, rios, mares, praias, além de outros.
Os bens públicos de uso especial são os imóveis destinados ao serviço público ou para o
estabelecimento da administração federal, estadual e municipal, inclusive pelas suas autarquias.
6 Tribunal Superior Eleitoral - Ac. no 21.120, de 17.6.2003, rel. Min. Luiz Carlos Madeira.
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Exemplos são os prédios onde se instalam as secretarias, ministérios, escolas públicas, creches,
fóruns, tribunais, prefeituras, câmaras, assembleias, hospitais, postos de saúde, cemitérios públicos,
entre outros. Esses bens possuem uma destinação especial, por serem utilizados pelo próprio Poder
Público. Porém, em certos casos, o particular poderá obter o uso exclusivo de parte ou de todo o
bem de uso especial, por ser esta a destinação do imóvel, como, por exemplo, quando a
administração concede, permiti ou autoriza, mediante procedimento licitatório, o uso de todo o
prédio da rodoviária à iniciativa privada, boxes no mercado de peixe ou no mercado municipal,
postos bancários dentro do paço municipal ou do fórum.
Os bens públicos dominicais são os bens que compõe o patrimônio da União, dos Estados e dos
Municípios. Podem ser bens móveis ou imóveis, objetos de direito pessoal ou real das pessoas
jurídicas de direito público interno. São os títulos da dívida pública, estradas de ferro, telégrafos,
oficinas e fazendas do Estado, terrenos de marinha e acrescidos, entre outros. O Poder Público
poderá autorizar que esses bens sejam utilizados por particulares, na forma de arrendamento,
comodato, permissão de uso, concessão de uso, concessão de direito real de uso, concessão de uso
especial, autorização de uso e enfiteuse. Podem ser utilizados pelos seus proprietários para todos
os fins de direito, observadas, evidentemente, as legislações dos demais entes federados, não
podendo ser dada destinação diferente da permitida pelas leis municipais de uso e ocupação do
solo.
4.3. Cessão ou uso
A natureza funcional do vínculo mantido entre o Estado e os bens públicos norteia sua utilização.
Em princípio, os bens devem ser utilizados de acordo com as suas características, em vista da
satisfação das necessidades coletivas atribuídas ao Estado7.
Entretanto, é possível a Administração Pública ceder o uso de bem público para particulares. Isso
materializa-se através de várias formas administrativas: “autorização de uso”, “permissão de uso”,
“concessão de uso”, “concessão de direito real de uso”, “comodato”, “locação”, “enfiteuse”,
“direito de superfície”.
Hely Lopes Meirelles e Marçal Justen Filho estão entre os autores que admitem a possibilidade de
todos os tipos de bens públicos serem objeto de uso por particulares (uso comum, especial e
dominical). Já Diógenes Gasparini considera que os bens públicos de uso comum não são suscetíveis
de cessão de uso, pois devem ser por todos utilizados. Normalmente, todos os bens estão sujeitos
ao uso por particular, inclusive os bens de uso comum, tal como algumas ruas sem saída, que são
de circulação exclusiva dos moradores locais, fechadas mediante autorização municipal e as bancas
de jornal, quiosques, painéis publicitários, que instalam-se em bens públicos de uso comum
também.
Porém, é vedado ao agente público ceder ou usar os bens públicos móveis ou imóveis em benefício
de candidato a mandato eletivo, partido político ou coligação. O legislador além de proibir ao agente
público ceder a terceiros, também proíbe o uso pelo próprio Administrador, em benefício de
candidato, partido ou coligação.
7 Marçal Justen Filho. Curso de Direito Administrativo. “Estrutura Administrativa do Estado: Os Bens Públicos”. Editora Forum.
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O legislador, no artigo 73, inciso I, da Lei de Eleições, não impede que essas cessões de uso sejam
realizadas. As autorizações, permissões ou concessões de uso podem ser realizadas durante todo o
ano das eleições, mas não podem ser em proveito de candidato, partido ou coligação.
A conduta tipificada no art. 73, I, da Lei 9.504/1997 pode ocorrer antes da realização das convenções
partidárias para escolha de candidatos. Embora a violação ao art. 73 da Lei 9.504/1997 também
configure improbidade administrativa, conforme dispõe o § 7º do mesmo dispositivo, a Justiça
Eleitoral é competente para julgar representação que tenha por objeto a conduta de "ceder ou usar,
em benefício de candidato, partido político ou coligação, bens móveis ou imóveis pertencentes à
administração". (REPRESENTAÇÃO nº 11906, Acórdão nº 5627 de 08/01/2014, Relator(a) CLEBER
LOPES DE OLIVEIRA, Publicação: DJE - Diário de Justiça Eletrônico do TRE-DF, Tomo 007, Data
10/01/2014, Página 06)
Os bens públicos de uso comum do povo, especialmente as ruas, as praças, os parques e os jardins
são os locais normalmente utilizados pelos candidatos para promover suas candidaturas, com os
comícios, reuniões ou encontros com partidários e eleitores interessados. Justamente por serem
locais de manifestação pública, é absolutamente possível que qualquer pessoa, inclusive os
candidatos, manifestem neles, perante o público, suas ideias e pretensões.
Os encontros em praças, ruas, jardins independem de autorização do Poder Executivo. São usados
livremente. Mas, quando o evento reunir um número grande de pessoas, exigindo a interdição de
ruas, desvio de trânsito, aumento na segurança pública do local, equipe de saúde, é evidente que o
candidato deverá requerer junto a Administração Pública a utilização do espaço, para que esta
adote as medidas suficientes para atender adequadamente ao público que estará presente.
Normalmente, os Municípios já possuem os locais comuns de realização desses eventos em suas
cidades, observadas as normas de posturas municipais. Segundo Hely Lopes Meirelles, o uso do bem
público não poderá ocorrer quando provocar inutilização ou destruição do bem.
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“A vedação do uso e cessão de bem público em benefício de candidato, prevista no art. 73, inciso I,
da Lei nº 9.504/97, não abrange bem público de uso comum do povo." (Tribunal Superior Eleitoral -
Ac. de 26.8.2010 no AgR-AI nº 12229, rel. Min. Aldir Passarinho Junior.)
“Conduta vedada (art. 73, I e II, da Lei nº 9.504/97). Não caracterização. Evento eleitoral realizado
em área desapropriada para reforma rural. Recurso especial não se presta ao reexame de prova já
analisada pelo tribunal de origem, o qual entendeu que evento eleitoral realizado em área
desapropriada pelo Incra para reforma rural não configura conduta vedada, pois trata-se de área de
uso comum da comunidade ali assentada.” (Tribunal Superior Eleitoral - Ac. de 16.6.2009 no ARESPE
nº 25.969, rel. Min. Joaquim Barbosa.)
“Eleição estadual. Conduta vedada. Art. 73, I, II, e III, da Lei no 9.504/ 97. A vedação do uso de bem
público, em benefício de candidato, não abrange bem público de uso comum.” NE: Governador,
candidato à reeleição, que se utilizou de bem público, Parque das Nações Indígenas, para a gravação
de imagens para seu programa eleitoral. (Tribunal Superior Eleitoral - Ac. no 4.246, de 24.5.2005, rel.
Min. Luiz Carlos Madeira.)
10 Recurso Especial Eleitoral nº 20848, Acórdão, Relator(a) Min. Luis Felipe Salomão, Publicação: DJE - Diário de Justiça Eletrônico,
Data 24/06/2020
11 Ac. no 25.144, de 15.12.2005, rel. Min. Marco Aurélio
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e aplausos durante o discurso, pois assim estará caracterizado o uso indevido de bem público. A
conduta vedada prevista no artigo 73, I, da Lei nº 9.504/97 pode se configurar anteriormente ao
período eleitoral, principalmente quando tem o condão de afetar a igualdade de oportunidade entre
os candidatos ao pleito eleitoral.12
O art. 73, I, da Lei 9.504/97 estabelece a impossibilidade de cessão ou uso de bens móveis ou imóveis
pertencentes à administração direta ou indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos
Territórios e dos Municípios em benefício de candidato, partido político ou coligação. 2. Na espécie,
o recorrido João Alves Filho - então governador e candidato à reeleição - promoveu carreatas de
ambulâncias por todo o Estado de Sergipe às vésperas das eleições, vinculando os serviços do Serviço
de Atendimento Móvel de Urgência do Estado de Sergipe (SAMU) a sua candidatura, em manifesto
desvio de finalidade, transformando a divulgação do serviço em promoção de suas candidaturas. 3.
Diante da gravidade dos fatos e da repercussão dos eventos, aplica-se a multa individual de 50.000
(cinquenta mil) UFIRs ao recorrido João Alves Filho e à Coligação Sergipe no Rumo Certo. 4. Recurso
ordinário parcialmente provido.” (Ac. de 2.12.2014 no RO nº 476687, rel. Min. Nancy Andrighi, rel.
designada Min. Maria Thereza de Assis Moura.)
As carreatas com ambulâncias são muito comuns na jurisprudência eleitoral, mas também não ficam
atrás as carreatas com ônibus, tratores, retroescavadeiras, maquinário pesado e viaturas, diante da
necessidade que o candidato tem de demonstrar que o seu governo promove efetivas ações de
gestão, em uma fórmula já amplamente conhecida de influenciar o eleitor, mas usando dos
equipamentos públicos, mesmo que isso seja velado, resultando em faixas ou discursos voltados
12 Recurso Especial Eleitoral nº 060035327, Acórdão, Relator(a) Min. Og Fernandes, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico,
Tomo 149, Data 05/08/2019
13 RECURSO ESPECIAL ELEITORAL nº 060022562, Acórdão, Relator(a) Min. Benedito Gonçalves, Publicação: DJE - Diário da justiça
MARIA THEREZA ROCHA DE ASSIS MOURA, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 31, Data 13/02/2015, Página 32
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aparentemente para o interesse público. A carreata é sim prática de governo que precisa ser banida,
pois desnecessária, já que a população pode tomar conhecimento da compra pelos meios de
imprensa, e custosa para os cofres públicos com o desperdício de combustível apenas para desfilar
pela cidade.
No caso dos autos, os candidatos, a pretexto da divulgação da aquisição de uma máquina patrol e de
um microônibus pela prefeitura, realizaram carreata utilizando-se de veículos e de servidora pública
municipal visando promover sua candidatura à reeleição. 2. A utilização de bens adquiridos pela
Administração Municipal, com o claro objetivo de beneficiar as candidaturas do prefeito e do vice-
prefeito à reeleição, configura conduta vedada prevista no art. 73, I e II, da Lei nº 9.504/97. 3. Na
aplicação da sanção de multa foram observados os princípios da proporcionalidade e razoabilidade,
além do disposto nos arts. 22, XVI, da LC nº 64/90 e 73, §§ 4º e 5º, da Lei nº 9.504/97 [...]”. (Ac. de
23.6.2015 no AgR-REspe nº 75037, rel. Min. João Otávio de Noronha.)
As opiniões, palavras e votos externados por membro de casa legislativa, no uso da respectiva
tribuna, são protegidas pela imunidade material de modo absoluto, independentemente de
vinculação com o exercício do mandato ou de terem sido proferidas em razão deste. Há precedentes
do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior Eleitoral. Descabe cogitar das condutas vedadas
previstas no artigo 73, I e II, da Lei 9.504/97 relativamente a discurso proferido por vereador na
tribuna da Câmara Municipal15.
Evidente que o conteúdo do seu pronunciamento deverá ser moderado, pois não poderá pedir voto,
no entanto, o simples uso do bem público no seu pronunciamento, não é, por si só, a conduta
vedada de ceder ou usar bem público em benefício de candidato, partido político ou coligação.
A utilização de vídeos ou imagens disponibilizadas pela Prefeitura em seu sítio eletrônico e redes
sociais, divulgando as ações institucionais, são, geralmente, de domínio público podendo ser
utilizadas por particulares e até por candidatos.
15Recurso Ordinário nº 1591951, Acórdão de 11/09/2014, Relator(a) Min. JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, Publicação: DJE - Diário de
justiça eletrônico, Tomo 178, Data 23/09/2014, Página 51
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Acontece que usar o espaço público ou equipamentos públicos, é diferente de apenas obter as
imagens de internet, pois aqui o verbo “ceder” ou “usar” bem público são verdadeiramente
tipificados, com a entrega de bem público para ser usado para fins eleitorais ou com o uso deste,
para os mesmos fins, pelos próprios agentes públicos.
No Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais, São proibidas aos agentes públicos, servidores ou não,
condutas tendentes a afetar a igualdade de oportunidades entre candidatos nos pleitos eleitorais,
dentre elas de ceder ou usar, em benefício de candidato, partido político ou coligação, bens móveis
ou imóveis pertencentes à administração direta ou indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal,
dos Territórios e dos Municípios, ressalvada a realização de convenção partidária. O réu não negou
que realizou propaganda para candidato ao cargo de Deputado Federal, por meio de vídeo, nas
dependências do Gabinete da Prefeitura Municipal. Este fato é incontroverso. Independentemente do
uso do Erário a regra prevista no art. 73, I, da Lei das Eleições é clara ao dispor ser proibido usar, em
benefício de candidato, partido político, bens móveis e imóveis pertencentes à Administração direta
de Municípios. A conduta é objetiva, ou seja, sua prática enseja aplicação de sanção. No caso, houve
uso efetivo do imóvel público pelo réu em benefício de candidatura a cargo eletivo, o que lhe é vedado
pelo ordenamento jurídico, razão pela qual deve ser aplicada multa. Multa fixada no mínimo legal,
diante da ausência de quebra da isonomia do pleito. (REPRESENTAÇÃO nº 060562652, Acórdão de
20/02/2019, Relator(a) PAULO ROGÉRIO DE SOUZA ABRANTES, Publicação: DJEMG - Diário de Justiça
Eletrônico-TREMG, Data 21/03/2019)
De acordo com João Fernando Lopes de Carvalho, no livro “Eleições o que mudou”, a jurisprudência
tem apresentado decisões de punição à utilização de imagens de prédios públicos para fins de
propaganda eleitoral, quando há utilização de bens públicos (gabinete, linha telefônica e página
eletrônica), bem como de servidor comissionado, para produção e divulgação de vídeos
institucionais visando a promoção de candidatura majoritária municipal, bem como a modificação
da regular rotina de funcionamento ordinário dos serviços públicos para encenação de peça de
propaganda eleitoral.
16Recurso Ordinário nº 060219665, Acórdão, Relator(a) Min. Edson Fachin, Publicação: DJE - Diário de Justiça Eletrônico, Tomo 71,
Data 14/04/2020
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violação ao artigo 73, I. O que a lei veda é o uso efetivo, real, do aparato estatal em prol de
campanha, e não a simples captação de imagens de bem público.
O Tribunal Regional Eleitoral do Paraná ao analisar a prova dos autos (vídeo) decidiu que não
ocorreu mera captação de imagens no interior de bem público, mas sim a efetiva utilização da
estrutura de Delegacia de Polícia em que o candidato desempenhava as funções de Delegado em
benefício de sua candidatura ao cargo de vereador do Município. Em que pese não fosse vedado ao
candidato se apresentar como Delegado e enaltecer o exercício de suas funções, a utilização da
estrutura da delegacia e dos bens móveis atinentes ao exercício do cargo, em benefício de sua
candidatura, causou desequilíbrio ao pleito e ferindo a isonomia em relação aos demais candidatos.
É irrelevante para a caracterização da conduta vedada o fato de a gravação ter sido realizada
durante ou fora do horário de expediente, bastando a utilização de bens imóveis e/ou móveis da
Administração Pública em benefício do candidato17.
Emprestar mesas, cadeiras, som, iluminação e até palco é algo possível para eventos de recreação
e lazer, folclóricos, culturais, tradicionais, sem distinção, e com critérios para o uso. Quando a
finalidade disso é beneficiar alguém para fins de promoção eleitoral, torna-se uma ação ilegal e
vedada pelo artigo 73, da Lei de Eleições.
Não obstante a flagrante ilegalidade da utilização dos bens públicos em questão (14 cadeiras, 01
mesa e 01 caixa de som), a conduta não se reveste de gravidade suficiente para ensejar seu
enquadramento como prática de abuso do poder político, tampouco resultar na aplicação das severas
sanções oriundas dessa prática, notadamente pela constatação de uso de um reduzido número de
objetos de pequeno valor econômico. Fato apurado que se amolda à conduta vedada aos agentes
públicos em campanha eleitoral, na medida em que a legislação eleitoral proíbe expressamente o
agente público de "ceder ou usar, em benefício de candidato, partido político ou coligação, bens
móveis ou imóveis pertencentes à administração direta ou indireta da União, dos Estados, do Distrito
Federal, dos Territórios e dos Municípios, ressalvada a realização de convenção partidária" (Lei
9.504/97, art. 73, I). (RECURSO ELEITORAL nº 29186, Acórdão nº 20588 de 08/03/2018, Relator(a)
RICARDO FELIPE RODRIGUES MACIEIRA, Publicação: DJ - Diário de justiça, Tomo 48, Data 14/03/2018,
Página 10)
17Representação nº 06007784320206160008, Acórdão de Relator(a) Des. Carlos Alberto Costa Ritzmann, Publicação: DJ - Diário de
justiça, Tomo DJE, Data 26/05/2021
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Por diversas vezes é comum que a Administração no exercício de suas atribuições de organizar a
ocupação das áreas livres da cidade, especificamente as ruas, praças e calçadas, acabe entrando em
conflito com os interesses políticos de supostos adversários de campanha. Cabe a Administração a
limpeza da cidade e a organização do trânsito, não sendo permitida a instalação de cavaletes que
dificultem a circulação de pedestres ou veículos. Se isso ocorrer cabe a Prefeitura atuar no exercício
do poder de polícia, organizando a ocupação da cidade.
RECURSO ORDINÁRIO. REPRESENTAÇÃO. ELEIÇÕES 2010. PREFEITO. CONDUTA VEDADA. ART. 73, I e
III, DA LEI Nº 9.504/97. CESSÃO DE BENS E SERVIDORES PÚBLICOS. NÃO CONFIGURADA. 1. Na origem,
o Ministério Público Eleitoral ajuizou representação contra os recorridos sob o argumento de que o
primeiro representado retirou cavaletes de propaganda eleitoral do candidato adversário de sua
esposa, a segunda representada, com o auxílio de servidores públicos e de veículo de propriedade do
município, configurando-se as condutas vedadas de que tratam o art. 73, I e III, da Lei nº 9.504/97. 2.
Entretanto, as provas demonstram que a ordem para a remoção da propaganda eleitoral não partiu
do representado e que não teve a finalidade de beneficiar determinada candidatura, mas sim de
atender a pedido de comerciantes, pois os cavaletes de propaganda eleitoral estavam dificultando o
trânsito de pessoas, o acesso a lojas e a visibilidade de motoristas. 3. Não configurada a conduta
vedada do art. 73, I e III, da Lei nº 9.504/97. 4. Recurso ordinário não provido. (Recurso Ordinário nº
736967, Acórdão de 20/05/2014, Relator(a) Min. JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, Publicação: DJE -
Diário de justiça eletrônico, Tomo 111, Data 16/6/2014, Página 70)
A mera utilização de linha telefônica do Palácio do Planalto, para único telefonema, e o uso de
computador do mesmo local para envio de apenas uma mensagem eletrônica, de conta pessoal e não
institucional, não têm o condão de repercutir no bem jurídico tutelado, qual seja, a lisura e a isonomia
do pleito eleitoral. 13. Segundo o magistério de José Jairo Gomes, ‘O que se impõe para a perfeição
da conduta vedada é que o evento considerado tenha aptidão para lesionar o bem jurídico protegido
pelo tipo em foco, no caso, a igualdade na disputa, e não propriamente as eleições como um todo ou
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os seus resultados’. E mais: ‘assim, não chega a configurar ilícito em tela hipóteses cerebrinas de
lesão, bem como condutas absolutamente irrelevantes ou inócuas relativamente ao ferimento do
bem jurídico salvaguardado’ (in Direito Eleitoral. 10ª ed. São Paulo: Atlas, 2014, p. 599) [...]” (Ac de
1.10.2014 na Rp 66522, rel. Min. Herman Benjamin.)
Segundo o Tribunal Superior Eleitoral, referido dispositivo veda uso real e efetivo do aparato do
Estado em prol de campanha. Assim, não alcança condutas inexpressivas em termos eleitorais, sem
nenhum potencial para comprometer o bem jurídico tutelado pela norma, a saber, a isonomia entre
candidatos e a legitimidade do pleito18.
Já o Tribunal Regional Eleitoral do Tocantins considerou que incide na prática de conduta vedada
pela legislação eleitoral quem faz uso de aparelho telefônico e/ou de fac-símile custeado pelo
Município, haja vista que os bens públicos somente podem ser cedidos nas hipóteses em que se
identifica interesse público nessa cessão19.
“Eleições 2014. Representação. Conduta vedada a agente público. Utilização de fotografia produzida
por servidor público em sítio eletrônico de campanha. Bem de uso comum ou do domínio público. Não
caracterização. Improcedência. 1. Mera utilização de fotografias que se encontram disponíveis a
todos em sítio eletrônico oficial, sem exigência de contraprestação, inclusive para aqueles que tiram
proveito comercial (jornais, revistas, blogs, etc.), é conduta que não se ajusta às hipóteses descritas
nos incisos I, II e III, do art. 73 da Lei das Eleições. [...]” (Ac. de 9.9.2014 na Rp nº 84453, rel. Min.
Admar Gonzaga.)
A hipótese de incidência do inciso I do referido art. 73 é direcionada às candidaturas postas, não sendo
possível cogitar sua aplicação antes de formalizado o registro de candidatura. Precedente do Tribunal
Superior Eleitoral. 3. O ato de se publicar ou ilustrar determinado fato num sítio da internet, ou em
qualquer outro veículo de comunicação e divulgação, não tem, por si, o poder de convertê-lo em ato
público, para os fins eleitorais, considerada a inteligência do § 2º do art. 73 da Lei nº 9.504/97. (Ac.
de 7.8.2014 no Rp nº 14562, rel. Min. Admar Gonzaga Neto.)
18 Representação nº 329675, Acórdão, Relator(a) Min. Maria Thereza de Assis Moura, Relator(a) designado(a) Min. Herman Benjamin,
Publicação: DJE - Diário da Justiça Eletrônico, Tomo 067, Data 27/11/2008, Página 01 e 02
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20 Tribunal Superior Eleitoral - Ac. no 19.538, de 27.11.2001, rel. Min. Luiz Carlos Madeira.
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Além das sanções previstas na legislação eleitoral, aplicáveis pela Justiça Eleitoral, poderá o
Município prever em sua lei de posturas municipais a mesma proibição, com as respectivas sanções,
já que tais proibições comprometem o meio ambiente paisagístico, a estética e a segurança da
população. Em alguns Municípios, por exemplo, somente é possível a propaganda nos locais
públicos oficialmente permitidos e através de licenças, tal como os painéis e os relógios. Mas isso
não significa que o Município irá adentrar na competência constitucional da União e proibir a
própria propaganda eleitoral. O papel do Município é dar efetivo cumprimento a legislação eleitoral,
fiscalizando o uso dos bens públicos, que deve ser dentro do permitido pelo ordenamento jurídico-
legal.
Bens de uso comum, para fins eleitorais, são os assim definidos Código Civil e aqueles a que a
população em geral tem acesso, tais como cinemas, clubes, lojas, centros comerciais, templos,
ginásios, estádios, ainda que de propriedade privada (art. 37, §4º, Lei nº 9.504/97). Dessa forma,
pode-se dizer que são bens públicos as praças, ruas, mercados, parques de diversões e todos os
locais de livre acesso à coletividade.
Nas árvores e nos jardins localizados em áreas públicas, bem como em muros, cercas e tapumes
divisórios, não é permitida a colocação de propaganda eleitoral de qualquer natureza, mesmo que
não lhes cause danos (art. 37, §5º, Lei nº 9.504/97).
É permitida a colocação de mesas para distribuição de material de campanha e a utilização de
bandeiras ao longo das vias públicas, desde que móveis e que não dificultem o bom andamento do
trânsito de pessoas e veículos. A mobilidade estará caracterizada com a colocação e a retirada dos
meios de propaganda entre as seis horas e as vinte e duas horas (art. 37, §6º e §7º, Lei nº 9.504/97).
4.6.19. Propaganda eleitoral com sonorização em bens públicos
O funcionamento de alto-falantes ou amplificadores de som, somente é permitido entre as oito e
as vinte e duas horas, sendo vedados a instalação e o uso daqueles equipamentos em distância
inferior a duzentos metros (art. 39, §3º, Lei nº 9.504/97):
I - das sedes dos Poderes Executivo e Legislativo da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, das sedes dos Tribunais Judiciais, e dos quartéis e outros estabelecimentos militares;
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“Conduta vedada. Art. 73, I e III, da Lei no 9.504/97.” NE: “Alega-se que os candidatos recorridos
utilizaram estruturas de metal da Polícia Militar e membros da corporação, na montagem e
desmontagem de palanque para sua campanha eleitoral” (Tribunal Superior Eleitoral - Ac. no 25.145,
de 25.8.2005, rel. Min. Luiz Carlos Madeira.)
É inconcebível usar máquina de xerox para produção de campanha político partidária. Diversos
princípios do artigo 37, da Constituição Federal, são violados. É ato de improbidade administrativa
e conduta vedada pelo artigo 73, I.
“Conduta vedada. Art. 73, inciso I, da Lei no 9.504/97.” NE: “De qualquer modo, restou assentado no
acórdão regional o fato de que o agravante utilizou máquina de xerox do município para copiar
material de propaganda eleitoral, o que caracteriza conduta vedada no art. 73, I, da Lei no 9.504/97,
sujeitando o agente público infrator ao pagamento da multa prevista no § 4o do art. 73 da Lei no
9.504/97.” (Tribunal Superior Eleitoral - Ac. no 5.694, de 25.8.2005, rel. Min. Caputo Bastos.)
“Realização de reunião em escola pública para apresentar aos professores a plataforma política de
candidato, descaracterizando-se a conduta do art. 73, I, da Lei no 9.504/97 por não ter havido o uso
ou cessão continuada do imóvel para beneficiar o candidato”. (Tribunal Superior Eleitoral - Ac. no
25.070, de 21.6.2005, rel. Min. Luiz Carlos Madeira.)
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Municipal é aberto ao público por meio de solicitação formal e pagamento de taxa, e, sendo
cumpridas as formalidades, não há violação a norma. É de se concluir que a sua cessão a candidato,
partido político ou coligação, desde que em igualdade de condições para com os terceiros, não traz
a presunção de desequilíbrio entre candidatos21.
“Conduta vedada. Lei no 9.504/97, art. 73, I, § 7o. Improbidade administrativa. Lei no 8.429/92.
Incompetência da Justiça Eleitoral. Supressão de instância. Não-ocorrência. 1. A Lei no 9.504/97, art.
73, I, § 7o, sujeita as condutas ali vedadas ao agente público às cominações da Lei no 8.429/92, por
ato de improbidade administrativa. 2. Todavia, não é possível a aplicação dessas sanções pela Justiça
Eleitoral, quanto menos através do rito sumário da representação.” NE: Utilização de ônibus da
Polícia Militar do estado na locomoção de cabos eleitorais, tendo a Corte Regional determinado o
processamento da causa, nos termos da Lei no 9.504/97, art. 96. A sanção prevista nessa lei é a
suspensão da conduta vedada e pagamento de multa. “A competência para apreciar os fatos sob a
ótica da improbidade, com a aplicação das sanções previstas na Lei no 8.429/92, é da Justiça Comum.”
(Tribunal Superior Eleitoral - Ac. no 15.840, de 17.6.99, rel. Min. Edson Vidigal.)
21 Tribunal Superior Eleitoral - Ac. no 5.135, de 2.10.2004, rel. Min. Peçanha Martins
22 Tribunal Superior Eleitoral - Ac. no 21.151, de 27.3.2003, rel. Min. Fernando Neves
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4.7. Exceções ao artigo 73, inciso I, da Lei nº 9.504/97 - Transporte oficial de Presidente da
República e uso das residências oficiais
Duas são as exceções ao artigo 73, inciso I, da Lei nº 9.504/97, previstas no §2º, do mesmo
dispositivo legal.
A primeira delas diz respeito a possibilidade de utilização de transporte oficial pelo Presidente da
República. As despesas serão ressarcidas aos cofres públicos e serão de responsabilidade do partido
político ou coligação a que esteja vinculado.
O ressarcimento terá por base o tipo de transporte usado e a respectiva tarifa de mercado cobrada
no trecho correspondente, ressalvado o uso do avião presidencial, cujo ressarcimento
corresponderá ao aluguel de uma aeronave de propulsão a jato do tipo táxi aéreo. No prazo de dez
dias úteis da realização do pleito, em primeiro turno, ou segundo, se houver, o órgão competente
de controle interno procederá ex officio à cobrança dos valores devidos. A falta do ressarcimento,
no prazo estipulado, implicará a comunicação do fato ao Ministério Público Eleitoral, pelo órgão de
controle interno. Recebida a denúncia do Ministério Público, a Justiça Eleitoral apreciará o feito no
prazo de 30 dias, aplicando aos infratores pena de multa correspondente ao dobro das despesas,
duplicada a cada reiteração de conduta.
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Esses locais são tidos como moradia do Chefe do Executivo, local onde pode praticar todos os atos
da sua vida civil, inclusive os atos políticos, visando a campanha eleitoral. O imóvel destina-se a
moradia do Presidente, Governador ou Prefeito, e de sua família, e por essa razão deve ser utilizado
com esse propósito, respeitando as regras gerais de convivência em família, e as de preservação do
patrimônio público. Não é um local para convenções partidárias, reuniões políticas com grandes
grupos, shows musicais, mas de respeito ao sossego e privacidade da família.
São pequenos atos de campanha, como uma reunião entre coordenadores, o uso do computador
ou telefone.
“Audiência concedida pelo candidato à reeleição. Art. 73, § 2o, da Lei no 9.504/97. 1. A audiência
concedida pelo titular do mandato, candidato à reeleição, em sua residência oficial não configura ato
público para os efeitos do art. 73 da Lei no 9.504/97, não relevando que seja amplamente noticiada,
o que acontece em virtude da própria natureza do cargo que exerce.” (Tribunal Superior Eleitoral -
Ac. de 27.9.2007 no AgRgRp no 1.252, rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito.)
“Eleições 2014. Representação. Conduta vedada. Art. 73, Incisos I, III, IV e VI, Alínea b, da Lei nº
9.504/97. Presidente da República. Candidata à reeleição. Bate-papo virtual. Facebook. Face to face.
Programa ‘Mais Médicos’. Palácio da Alvorada. Residência oficial. [...] IV - Não caracteriza infração
ao disposto no inciso I do art. 73 da Lei nº 9.504/97, diante da ressalva contida no § 2º, do mesmo
art. 73, o uso da residência oficial e de um computador para a realização de "bate-papo" virtual, por
meio de ferramenta (face to face) de página privada do Facebook. V - A parte final do disposto no
inciso III do art. 73 da Lei nº 9.504/97 ("...durante o horário de expediente normal..."), não se aplica
à presença moderada, discreta ou acidental de Ministros de Estado em atos de campanha, conquanto
agentes políticos, não sujeitos a regime inflexível de horário de trabalho; VI - A infração esculpida no
inciso IV do art. 73 da Lei nº 9.504/97, requesta que se faça promoção eleitoral durante a distribuição
de bens e serviços custeados ou subvencionados pelo Poder Público; VII - O descumprimento do
preceito consubstanciado no art. 73, inciso VI, alínea b, da Lei nº 9.504/97, pressupõe a existência de
publicidade institucional, o que não se confunde com ato de campanha realizado por meio de um
"bate-papo" virtual, via Facebook. [...]” (Ac. de 4.9.2014 na Rp nº 84890, rel. Min. Tarcisio Vieira.)
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Art. 73. São proibidas aos agentes públicos, servidores ou não, as seguintes condutas
tendentes a afetar a igualdade de oportunidades entre candidatos nos pleitos eleitorais:
A proibição prevista neste artigo engloba, dentre muitas outras, mas principalmente, o uso dos
seguintes materiais e serviços: papel, caneta, cartucho de tinta para impressão, materiais de
construção civil (encanamento, tijolo, pedra, aterro, tinta), combustível, postagem de cartas,
disparo de e-mails, uso de assessoria jurídica dos órgãos públicos, privilégio a pretensos eleitores
com atendimentos preferenciais na saúde, no ensino, na defesa ao consumidor.
Diferencia-se da norma do artigo 73, I, pois enquanto neste está proibido “ceder ou usar” “bens
móveis ou imóveis” que compõem o patrimônio público, o artigo 73, II, se enquadra na proibição
de usar “materiais ou serviços”. Estes são destinados ao funcionamento regular da Administração,
com a utilização de materiais de consumo, que se perdem com o uso. No artigo 73, I, os bens móveis
compõem o patrimônio permanente. Ceder ou usar impressora é vedação do artigo 73, I, pois a
impressora, os computadores, os equipamentos eletrônicos e mobília são bens móveis
permanentes. Já o papel sulfite, a tinta da impressora, a caneta, são materiais que embora
adquiridos com recursos públicos, são destinados ao consumo e não ao patrimônio permanente e
inventariável. E o uso destes é a vedação do artigo 73, II. Reforçando o assunto com mais um
exemplo. Os veículos podem ser patrimônio público, mas o combustível é item de consumo. Ceder
ou usar o veículo em benefício de candidato, partido ou coligação é a conduta vedada do artigo 73,
I. No entanto, usar do combustível para fins eleitorais, afastando-se do interesse público, estaremos
diante da conduta proibida pelo inciso II.
Podemos observar que a norma, na sua parte final, veda o uso de materiais ou serviços “que
excedam as prerrogativas consignadas nos regimentos e normas dos órgãos que integram”. Com
isso, em tese, poderia ser possível a utilização de material e serviço custeado pelo Poder Público,
dentro dos limites estabelecidos regimentalmente.
Este, todavia, não é o entendimento do Tribunal Superior Eleitoral a respeito da questão, pois, se
assim fosse, estaria a norma do artigo 73, inciso II, ao invés de estabelecer uma conduta proibindo
o uso desses materiais, autorizando essa utilização dentro dos limites estabelecidos
regimentalmente.
Na consulta nº 14.404, o Tribunal Superior Eleitoral decidiu ser vedado aos parlamentares, no
período eleitoral, até mesmo a remessa de boletins informativos de sua atuação congressual,
23 Recurso Ordinário nº 481883, Acórdão de 01/09/2011, Relator(a) Min. FÁTIMA NANCY ANDRIGHI, Publicação: DJE - Diário da Justiça
Eletrônico, Tomo 195, Data 11/10/2011, Página 42
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elaborados e expedidos por conta do erário apontando que tal consulta foi respondida com esteio
na ordem jurídica em vigor, não introduzindo, em si, uma data consubstanciadora de termo inicial
para que se pudesse ter configurado o abuso que, em última análise, implica o afastamento do
equilíbrio que deve haver em toda e qualquer disputa eleitoral.
A utilização de serviços ou materiais custeados pelo erário público – não importa o seu valor, sempre
estimável, porém, em dinheiro – viola o princípio de igualdade de oportunidades que, segundo a
Constituição, haverá de presidir a disputa eleitoral24.
A imprecisa redação do inciso II, do artigo 73, não autoriza que “nos limites consignados nos
regimentos e normas dos órgãos que integram”, os membros do Poder Legislativo possam utilizar
materiais ou serviços custeados pelas suas Casas Legislativas em benefício de suas campanhas
eleitorais, partidos políticos ou coligações.
Não existe no artigo 73, inciso II, um marco temporal. A conduta vedada nele prevista se aplica não
só nos três meses que antecedem o pleito como em qualquer período, mesmo em anos anteriores
ao da eleição. É uma regra de moralidade na Administração Pública, prevista neste artigo para fins
eleitorais, mas em qualquer situação, a Administração não deve permitir que agentes públicos
utilizem da “máquina administrativa” (materiais e serviços), para finalidades de interesse privado.
O patrimônio público, mobiliário ou imobiliário, os bens de consumo e os serviços por ele prestados
são apenas dirigidos ao interesse da coletividade. Não haverá interesse público se o uso do material
ou a prestação do serviço forem direcionados a promoção política de candidato. Caracteriza-se
como improbidade administrativa, mas também será punido como conduta vedada eleitoral.
A distribuição de uma publicação com a geografia, meio ambiente e história da cidade, com
finalidade educativa ou de informação, em nada se confunde com a conduta vedada pelo artigo 73,
inciso II. Quanto, todavia, a Administração extrapola da moral, usa os recursos públicos para
produzir impressos que divulgam propostas de governo, de campanha, comete conduta vedada.
Promessas que velada e indiretamente remetem ao candidato, em desequilíbrio ao pleito eleitoral.
Assim aconteceu no Rio de Janeiro:
24 Lauro Barreto. Condutas Vedadas aos agentes públicos, Lei das Eleições, suas implicações processuais. Editora Edipro.
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O artigo 73, inciso II, da Lei n.º 9.504/97 veda aos agentes públicos, servidores ou não, "usar materiais
ou serviços, custeados pelos Governos ou Casas Legislativas, que excedam as prerrogativas
consignadas nos regimentos e normas dos órgãos que integram". XII - Em vista do que consignado
pela norma, há que se investigar o preenchimento de todos os elementos do tipo eleitoral, na medida
em que o uso de material ou serviço, custeado pela Administração Pública, tem que exceder as
prerrogativas consignadas nas normas do órgão. Desse modo, a contratação da consultoria e a
elaboração do Plano "Visão Rio 500" possui a natureza de serviço e comprovadamente foi custeada
pela Administração municipal. Como consequência da caracterização do ilícito, o §4º do artigo 73
sujeita os responsáveis pela conduta à multa no valor de cinco a cem mil UFIR, impondo-se com o
reconhecimento do tipo eleitoral, a realização da dosimetria da multa a ser cominada. (RECURSO
ELEITORAL nº 170594, Acórdão de 11/12/2017, Relator(a) ANTONIO AURÉLIO ABI RAMIA DUARTE,
Publicação: DJERJ - Diário da Justiça Eletrônico do TRE-RJ, Tomo 299, Data 14/12/2017, Página 26/33)
Restou provado ainda que houve o abastecimento, à custa do erário, de carro particular, cujo
proprietário é servidor público municipal. Se a conduta por si mesma já não condiz com os princípios
da moralidade e legalidade, pois é proibido o pagamento de combustível pelo erário público para
abastecimento de veículos particulares, a ilicitude acentua-se ainda mais por ter ocorrido em plena
campanha eleitoral. Mais uma vez incide o impugnado na regra da Lei 9.504/97, no seu Artigo 73, II,
que diz ser vedado usar materiais ou serviços custeados pelos governos ou casas legislativas. (AÇÃO
DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO nº 6904, Acórdão nº 6904 de 21/06/2007, Relator(a) MARIA
SOLEDADE DE ARAÚJO FERNANDES, Publicação: DJ - Diário de justiça, Data 23/6/2007, Página 78/79)
5.1.3. Correspondência
A postagem de correspondências por parlamentares deve ser realizada, obviamente, respeitando
os fins para o qual o cidadão foi eleito vereador, deputado, senador.
Não se utilizam os materiais e serviços do Legislativo para a campanha eleitoral, mas para as
atividades implícitas ao cargo que ocupa. Discutir e apresentar projetos de lei, oferecendo
impressos com temas voltados ao interesse público, de modo impessoal, sem promoção político-
partidária, serão consideradas como ações admitidas pelo legislador. Entretanto, ao se reportar
diretamente a campanha eleitoral, fazendo críticas a adversários políticos, os impressos obtidos
com recursos públicos poderão ser declarados eleitoralmente vedados. Nos impressos busca-se
informar o cidadão, mesmo citando o nome do parlamentar, e os projetos ou indicações de autoria
dele. A propaganda, ao contrário, embora também possa ter um caráter informativo, o modo como
a redação e as fotografias são apresentadas, buscam capitar clientes, consumidores, eleitores. Na
propaganda, a informação é maquiada para aparecer como um feito do parlamentar, o
diferenciando, pessoalmente, dos demais. Valoriza-se a autoridade e se deixa de lado o conteúdo
da ação de governo. Informar com dinheiro público é moral. Fazer propaganda de ações
governamentais com recursos públicos não é.
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“Embargos de declaração. Decisão que impõe multa por conduta vedada a agente público,
caracterizada pelo envio de milhões de cartas contendo mensagem com caráter de propaganda
eleitoral. 1. Alegação de omissão em relação a quantidade de cartas que ensejaria a tipificação de
conduta vedada. Omissão não evidenciada, tendo em conta que para a lei basta a configuração de
ato de propaganda, em que a quantidade de cartas e apenas um dos elementos a serem
eventualmente considerados. 3. Omissão existente. Art. 5o, XXXIII, da Constituição Federal. Norma
que garante aos interessados obter dos órgãos públicos informações de seu interesse, não, porém, as
autoridades fazer quaisquer tipos de comunicação, especialmente as que contenham propaganda
25 RECURSO ESPECIAL ELEITORAL nº 060010183, Acórdão, Relator(a) Min. Benedito Gonçalves, Publicação: DJE - Diário de Justiça
Eletrônico, Tomo 72, Data 25/04/2022
26 Tribunal Superior Eleitoral - Ac. no 68, de 25.8.98, rel. Min. Garcia Vieira, red. designado Min. Eduardo Alckmin
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eleitoral. Embargos acolhidos para suprir a omissão existente, mantendo-se, porém, a decisão
embargada.” (Tribunal Superior Eleitoral - Ac. no 68, de 31.8.98, rel. Min. Eduardo Alckmin.)
“Deputados. Trabalhos gráficos. Possibilidade de que sejam fornecidos pela Câmara, no ano eleitoral, desde
que relativos à atividade parlamentar e com obediência às normas estabelecidas em ato da Mesa, vedada
sempre qualquer mensagem que tenha conotação de propaganda eleitoral.” (Tribunal Superior Eleitoral - Res.
no 20.217, de 2.6.98, rel. Min. Eduardo Ribeiro.)
“Conduta vedada. Remessa de propaganda eleitoral pela Câmara de Vereadores. Art. 73, II, da Lei n o 9.504/97.
Ressarcimento do valor da postagem. Irrelevância. Princípio da proporcionalidade. 4. É irrelevante o
ressarcimento das despesas, para descaracterização das condutas vedadas pelo art. 73 da Lei n o 9.504/97.”
(Tribunal Superior Eleitoral - Ac. de 6.3.2007 no AgRgREspe no 25.770, rel. Min. Cezar Peluso.)
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Os serviços de manutenção da cidade não são proibidos. O que se proíbe é utilizá-los para fins
eleitoreiros.
“Conduta vedada a agente público. Abuso do poder. Não-comprovação. Fragilidade das provas.
Reexame probatório. Inviabilidade. – O asfaltamento de ruas e a realização de reunião com
associação de bairro, promovidos pelo prefeito e vice-prefeito, às vésperas da eleição, não configuram
as condutas vedadas descritas nos incisos I e II do art. 73 da Lei no 9.504/97. – Se a Corte Regional,
soberana na análise da prova, concluiu pela ausência de finalidade eleitoreira dos atos, pela
fragilidade e inconsistência dos depoimentos, e pela não-comprovação do uso promocional das
condutas praticadas pelo agente público, não há como modificar tal entendimento, sem a análise do
conjunto probatório, o que é vedado em sede de recurso especial.” (Tribunal Superior Eleitoral - Ac.
de 5.12.2006 no AgRgAg no 7.243, rel. Min. Gerardo Grossi.)
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“Representação. Prefeito. Candidato à reeleição. Conduta vedada. Art. 73, II e VI, b, da Lei nº
9.504/97. Uso de papel timbrado da Prefeitura. Publicidade institucional no período vedado. 1. O uso
de uma única folha de papel timbrado da administração não pode configurar a infração do art. 73, II,
da Lei nº 9.504/97, dada a irrelevância da conduta, ao se tratar de fato isolado e sem prova de que
outros tenham ocorrido. 2. O art. 73 da Lei nº 9.504/97 visa à preservação da igualdade entre os
candidatos, não havendo como reconhecer que um fato de somenos importância tenha afetado essa
isonomia ou incorrido em privilégio do candidato à reeleição. 3. A intervenção da Justiça Eleitoral
deve ter como referência o delicado equilíbrio entre a legitimidade da soberania popular manifestada
nas urnas e a preservação da lisura do processo eleitoral.” (Tribunal Superior Eleitoral - Ac. nº 25.073,
de 28.6.2005, rel. Min. Humberto Gomes de Barros.)
“Eleição estadual. Conduta vedada. Art. 73, I, II, e III, da Lei no 9.504/97. Para a ocorrência de violação
ao art. 73, II, da Lei no 9.504/97, é necessário que o serviço seja custeado pelo Erário, o que não restou
caracterizado.” NE: Alegações de que o candidato teria se utilizado de empresa de ônibus contratada
para o transporte de servidores para transportar correligionários. O fato de a empresa ser contratada
pelo estado, por si só, não importa em violação ao dispositivo legal invocado. A infringência somente
ocorreria se o serviço prestado à campanha fosse custeado pelo Erário e não pelo candidato. E isso,
além de não ser possível inferir das provas constantes dos autos, não foi mencionado no recurso.”
(Tribunal Superior Eleitoral - Ac. no 4.246, de 24.5.2005, rel. Min. Luiz Carlos Madeira.)
“Agravo regimental. Recurso especial. Eleições 2004. Agente público. Conduta vedada. Utilização.
Serviços. Servidor público.” NE: O quadro fático delineado no acórdão recorrido demonstra que o
candidato utilizou-se de favores de servidor público para, enviando ofício em nome da Câmara
Municipal, obter informações e documentos para instruírem impugnação de registro do candidato
adversário. (Tribunal Superior Eleitoral - Ac. no 24.869, de 18.11.2004, rel. Min. Carlos Velloso.)
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A utilização dos bancos de dados dos órgãos públicos, quando o acesso for restrito, não poderá ser
acessado ou fornecido para fins de contato com os cidadãos, pedidos de votos, através de cartas
postadas pelos CORREIOS ou mesmo uso de e-mail e Whatzapp. Se o acesso aos dados é público,
não há de se falar em conduta vedada.
RECURSO ORDINÁRIO. ELEIÇÕES 2006. GOVERNADOR. SENADOR. REPRESENTAÇÃO. CONDUTAS VEDADAS AOS
AGENTES PÚBLICOS EM CAMPANHA. ART. 73, I E II, DA LEI Nº 9.504/97. FALTA DE PROVAS. 1. A caracterização
da conduta vedada prevista no art. 73, I, da Lei nº 9.504/97 pressupõe a cessão ou o uso, em benefício de
candidato, partido político ou coligação, de bens móveis ou imóveis pertencentes à administração direta ou
indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios. 2. A conduta vedada do
art. 73, II, da Lei nº 9.504/97 configura-se mediante o uso de materiais ou serviços, custeados pelos Governos
ou Casas Legislativas, que excedam as prerrogativas consignadas nos regimentos e normas dos órgãos que
integram. 3. Na espécie, aduz-se que houve utilização da máquina administrativa do Estado de Sergipe em
favor da candidatura do governador, candidato à reeleição, e de sua esposa ao Senado, por meio da distribuição
de cartas com pedido de voto, em setembro de 2006, a alunos de um estabelecimento de ensino no Estado de
Sergipe, com violação do art. 73, I e II, da Lei nº 9.504/97. 4. Contudo, o recorrente não se desincumbiu do ônus
de demonstrar que as correspondências foram confeccionadas com dinheiro público e que o primeiro recorrido
determinou a distribuição das cartas na rede pública de ensino. 5. Ademais, embora a utilização de
informações de banco de dados de acesso restrito da Administração Pública possa, em tese, configurar a
conduta vedada no art. 73, I, da Lei nº 9.504/97, não há, nestes autos, provas que demonstrem a natureza do
banco de dados da Secretaria Estadual de Educação de Sergipe - se de acesso livre ou restrito - o que impede a
condenação dos recorridos. 6. Recurso ordinário não provido. (Recurso Ordinário nº 481883, Acórdão de
01/09/2011, Relator(a) Min. FÁTIMA NANCY ANDRIGHI, Publicação: DJE – Diário* da Justiça Eletrônico, Tomo
195, Data 11/10/2011, Página 42)
Quando a limpeza, manutenção, é destinada para atender a fins eleitorais ou privados, estaremos
diante de conduta vedada eleitoral.
“Alegação de que a obra foi feita com finalidade social e em decorrência de programa municipal.
Afirmação repelida pela Corte Regional e que não poderia ser infirmada sem o revolvimento do
quadro fático. Recurso não conhecido. Conduta vedada. Art. 73, I e II, da Lei no 9.504/97.
Asfaltamento de área para realização de comício. Representação julgada após a eleição.
Possibilidade de cassação de diploma – § 5o do art. 73 da mesma lei.” (Tribunal Superior Eleitoral -
Ac. no 19.417, de 23.8.2001, rel. Min. Fernando Neves.)
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5.2. Penalidade
O descumprimento do disposto no inciso II, do artigo 73, da Lei nº 9.504/97 acarretará a suspensão
imediata da conduta vedada, quando for o caso, e sujeitará os responsáveis a multa no valor de
cinco a cem mil UFIRs. O candidato beneficiado, agente público ou não, ficará sujeito à cassação do
registro ou do diploma, avaliando-se a proporcionalidade.
Além disso, as condutas enumeradas no artigo 73, da Lei nº 9.504/97 são consideradas como ato de
improbidade administrativa, sujeito a ressarcimento integral do dano, se houver, perda da função
pública, suspensão dos direitos políticos de três a cinco anos, pagamento de multa civil de até cem
vezes o valor da remuneração percebida pelo agente e proibição de contratar com o Poder Público
ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por
intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de três anos.
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Art. 73. São proibidas aos agentes públicos, servidores ou não, as seguintes condutas
tendentes a afetar a igualdade de oportunidades entre candidatos nos pleitos eleitorais:
A cessão de servidor público ou empregado é ato mediante o qual a entidade cedente defere ao
funcionário afastamento temporário para prestar serviços na entidade cessionária. Nessas
condições, o funcionário continuará em exercício, se bem que em entidade e local diversos daquele
em que se acha lotado. A cessão, que não pode ser de iniciativa do cedido, depende de solicitação
da entidade cessionária e de anuência de autoridade cedente, em razão de interesse do serviço, não
implicando interrupção das atividades, mas, tão só, em exercício regular, embora em lugar diverso
daquele em que o agente se encontra lotado28.
O funcionário cedido “carrega às contas o próprio Estatuto”, mas a contraprestação pelo trabalho
prestado pode correr por conta da entidade cedente (cessão sem prejuízo de seus vencimentos),
quer por conta da entidade cessionária (cessão com prejuízo dos seus vencimentos), quer por conta
ainda da entidade cedente com complementação de estipêndio pela entidade cessionária, a fim de
evitar desníveis com o pessoal de seu quadro funcional29.
Além disso, o servidor público não poderá ser usado por seu superior hierárquico em funções
político-partidárias. Na cessão, o servidor público trabalha transferido para outro local. No uso, essa
cessão não é formalizada, pois geralmente o servidor público atende as solicitações da chefia do
próprio local de trabalho, usando computador, telefone, linha de internet, estrutura física, ou até
mesmo presta seus serviços em local diverso para o qual deveria estar oficialmente lotado.
É vedado ceder servidor público, em horário de expediente, para campanhas (art. 73, III, da Lei
9.504/97). 15. Extrai-se da moldura fática do acórdão que Rubens Carlos Giro participou de reunião,
como representante partidário, na Promotoria de Justiça, durante sua jornada de trabalho, sendo
incontroverso o ilícito [...] (Ac de 23.8.2016 no REspe nº 30010, rel. Min. Herman Benjamin.)
27 REPRESENTAÇÃO nº 185940, Decisão nº 19 de 07/05/2015, Relator(a) RUDIVAL GAMA DO NASCIMENTO, Publicação: DJE - Diário
de Justiça Eletrônico, Data 11/05/2015
28 José Cretella Júnior. Dicionário de Direito Administrativo. Cessão de Funcionário. Editora Forense.
29 José Cretella Júnior. Dicionário de Direito Administrativo. Cessão de Funcionário. Editora Forense.
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“Recurso ordinário. Cabimento. Direito de prova. Cerceamento. Não ocorrência. Conduta vedada.
Propaganda eleitoral. Assembleia Legislativa. Participação. Servidor público. Campanha eleitoral.
Ausência. Prova. 4. Do conjunto probatório dos autos não há como se concluir pela prática das
condutas descritas nos incisos I e III da Lei nº 9.504/97. 5.” NE: Trecho do relatório do acórdão: “ o
representante alegou que ‘o ora representado fez uso de seu gabinete de Deputado Estadual na
Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, e de funcionários públicos nele lotados, durante o
horário de expediente normal, para desenvolvimento de atividades típicas de campanha eleitoral,
relacionadas à propaganda eleitoral em benefício de sua candidatura à reeleição’.” (Tribunal Superior
Eleitoral - Ac. de 7.5.2009 no RO nº 1.478, rel. Min. Marcelo Ribeiro.)
“Medida cautelar. Agravo regimental provido por maioria. Ausência dos pressupostos ensejadores do
deferimento da ação.” NE: Alegações de que se tratava de servidor comissionado, que não se
amoldaria à vedação do art. 73, III, da Lei das Eleições. Mantida a decisão do órgão regional,
porquanto a utilização de tais servidores, ainda que de forma esporádica, é fundamento suficiente
para a cassação do registro ou do diploma dos candidatos. (Tribunal Superior Eleitoral - Ac. no 1.636,
de 14.4.2005, rel. Min. Peçanha Martins.)
Art. 73, inciso III, da Lei das Eleições. A referida proibição alcança somente os servidores do Poder
Executivo e não os do Legislativo (cf. o AgR-REspe nº 137472/RS, rel. Min. Gilmar Mendes, julgado
em 1º.3.2016)
“A vedação contida no art. 73, III, da Lei nº 9.504/97 é direcionada aos servidores do Poder Executivo,
não se estendendo aos servidores dos demais poderes, em especial do Poder Legislativo, por se tratar
de norma restritiva de direitos, a qual demanda, portanto, interpretação estrita. Nas condutas
vedadas previstas nos arts. 73 a 78 da Lei das Eleições imperam os princípios da tipicidade e da
legalidade estrita, devendo a conduta corresponder exatamente ao tipo previsto na lei [...]” (Ac. de
23.8.2016 no AgR-REspe nº 119653, rel. Min. Luciana Lóssio; no mesmo sentido o Ac de 26.11.2015
no REspe nº 62630, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura.)
Acontece que em relação aos servidores e empregados do Poder Legislativo, de rigor, a regra
deveria ser também a eles estendida. Surgiria aí, porém, a situação peculiar em que o assessor de
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determinado parlamentar ficaria proibido de pedir votos para ele, ainda que o fizesse sem prejuízo
de suas funções normais. Talvez por essa razão é que os servidores do Poder Legislativo não tenham
sido incluídos no dispositivo. Mas, evidentemente que a regra os abrange, especialmente quando
se trata de servidores técnicos, tal como os escriturários, motoristas, recepcionistas e técnicos.
Seja servidor ou empregado do Poder Executivo ou Legislativo, estes não podem ser cedidos para
trabalhar para fins de campanha eleitoral de candidato, partido político ou coligação, durante o
horário de expediente. O servidor ou empregado possui um contrato de trabalho com o Poder
Público. Um vínculo. Ele tem uma jornada de trabalho prevista em lei. Seria ofensivo a moral o erário
público pagar as despesas de funcionário que trabalha para atender interesses políticos individuais.
Esse é o fundamento do artigo 73, inciso III, da Lei de Eleições.
A interpretação gramatical do art. 73, inciso III, da Lei Federal nº 9.504/97, permite inferir ser vedada
a utilização de serviços de servidor público ou de empregado da administração direta ou indireta
federal, estadual ou municipal, do Poder Executivo, para comitês de campanha eleitoral de candidato,
partido ou coligação, apenas durante o período de expediente normal dos referidos servidores e/ou
empregados públicos, sendo possível referido uso quando o servidor e/ou empregado estiver
licenciado. (RECURSO ELEITORAL nº 33939, Acórdão nº 132 de 29/07/2014, Relator(a) SÉRGIO LUIZ
TEIXEIRA GAMA, Revisor(a) RACHEL DURÃO CORREIA LIMA, Publicação: DJE - Diário Eletrônico da
Justiça Eleitoral do ES, Data 18/08/2014, Página 5-6)
32 REPRESENTAÇÃO LEI 9.504 nº 329595, Acórdão nº 4531 de 04/08/2011, Relator(a) NILSONI DE FREITAS CUSTÓDIO, Publicação: DJE
- Diário de Justiça Eletrônico do TRE-DF, Tomo 157, Data 18/08/2011, Página 2
33 CONSULTA nº 1096, Resolução nº 21854 de 01/07/2004, Relator(a) Min. LUIZ CARLOS LOPES MADEIRA, Publicação: DJ - Diário de
Justiça, Volume I, Data 06/08/2004, Página 162 RJTSE - Revista de Jurisprudência do TSE, Volume 15, Tomo 3, Página 388
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documentos, dos quais tenha acesso em função do cargo público que exerce, sem o devido processo
formal administrativo.
“Conduta vedada. Tipicidade. Período de configuração. - Para a incidência dos incisos II e III do art.
73 da Lei nº 9.504/97, não se faz necessário que as condutas tenham ocorrido durante o período de
três meses antecedentes ao pleito, uma vez que tal restrição temporal só está expressamente prevista
nos ilícitos a que se referem os incisos V e VI da citada disposição legal. [...]” (Ac. de 6.9.2011 no AgR-
REspe nº 35546, rel. Min. Arnaldo Versiani.)
Convidar servidores sem usar os materiais da Administração e fora do local e ambiente de trabalho,
físico ou virtual, é possível. Intimá-los ou constrangê-los a participar é conduta vedada, pois mesmo
os servidores comissionados, não estão a serviço do candidato, mas a serviço da população, a
serviço do ente público que os emprega.
Do conjunto probatório dos autos, não há como se concluir pela prática das condutas descritas nos
incisos I e III do artigo 73 da Lei n° 9.504/97. 3. Recurso ordinário desprovido." NE: Conduta
34 Ac. de 16.10.2014 no RO nº 3776, rel. Min. Maria Thereza Rocha de Assis Moura.
35 Ac. de 3.6.2014 no AgR-REspe nº 151188, rel. Min. Luciana Lóssio.)
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6.13. Penalidade
A prática da conduta descrita no inciso III resulta na suspensão imediata da conduta vedada,
impedindo que se dê continuidade a cessão ou uso do servidor público para fins eleitorais.
E sujeitará os responsáveis a multa no valor de cinco a cem mil UFIRs e cassação do registro ou do
diploma (§4º e 5º, art. 73, da Lei nº 9.504/97).
O §7º, da mesma norma, ainda considera que a conduta de ceder ou usar servidores públicos para
fins eleitorais é “ato de improbidade administrativa”.
36 Tribunal Superior Eleitoral - Ac. de 15.12.2005 no REspe no 25.220, rel. Min. Humberto Gomes de Barros, red. designado Min. Cesar
Asfor Rocha
37 Tribunal Superior Eleitoral - Ac. no 4.246, de 24.5.2005, rel. Min. Luiz Carlos Madeira
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Art. 73. São proibidas aos agentes públicos, servidores ou não, as seguintes condutas
tendentes a afetar a igualdade de oportunidades entre candidatos nos pleitos eleitorais:
A conduta vedada pelo artigo 73, inciso IV, da Lei no 9.504/97, possui dois núcleos distintos de
incidência: distribuição gratuita de bens públicos e distribuição gratuita de serviços de caráter
social39.
Enquanto no artigo 73, II, a vedação é em relação a cessão ou uso de materiais ou serviços custeados
pela Administração Pública, e isso é cedido ou usado pelos próprios agentes públicos, na vedação
do inciso IV, a conduta é entregar, distribuir, gratuitamente, bens ou serviços custeados ou
subvencionados pela Administração. No inciso II há cessão de papel, tinta, móveis, computadores,
telefone, impressoras, canetas, tudo isso direcionado a própria atividade de campanha. Usa-se os
materiais e serviços do Executivo ou do Legislativo para atender as demandas administrativas ou de
campanha. No inciso IV essa cessão é direcionada ao povo. São os populares que vão receber os
bens e serviços da Administração, como meio de captação de votos. No inciso II usa-se o papel e a
impressora para imprimir panfletos para o candidato. No inciso IV, o papel e a impressora, por
exemplo, seriam entregues a populares como brindes, cortesias, presentes, materiais de
construção, transvestidos em verdadeira compra de votos.
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distribuição desses bens e serviços ao candidato, nenhuma ilegalidade haverá. Mas a vinculação
expressa, ou mesmo velada, essa é proibida e acarreta as sanções previstas nos parágrafos do artigo
7340.
“A Lei das Eleições veda ‘fazer ou permitir uso promocional em favor de candidato, partido político
ou coligação, de distribuição gratuita de bens e serviços de caráter social custeados ou
subvencionados pelo poder público’ (art. 73, IV). Não se exige a interrupção de programas nem se
inibe a sua instituição. O que se interdita é a utilização em favor de candidato, partido político ou
coligação.” (Tribunal Superior Eleitoral -Ac. no 21.320, de 9.11.2004, rel. Min. Luiz Carlos Madeira.)
O que não pode é o serviço de caráter social ser utilizado em benefício de candidatura, de forma a
promovê-la, às custas do Poder Público. Independente de existir programa de assistência social no
Município, esse tipo de serviço público não pode ser associado, em hipótese alguma, a qualquer ato
de campanha eleitoral, muito menos a candidatura de Prefeito, que postule renovar seu mandato41.
É vedado apenas “o uso promocional em favor do candidato, partido ou coligação” e isso não implica
em suspensão ou cancelamento dos programas e ações governamentais, nem impede o Chefe do
Poder Executivo de continuar exercendo as atribuições que lhe são impostas pelas Leis Orgânicas
dos Municípios, em simetria a Constituição Federal42.
Consoante entende o Tribunal Superior Eleitoral, a incidência do artigo 73, IV, da Lei nº 9.504/97
pressupõe três requisitos cumulativos quanto a essa conduta: a) deve contemplar bens e serviços
de cunho assistencialista, diretamente à população; b) há de ser gratuita, sem contrapartidas; c)
deve ser acompanhada de caráter promocional em benefício de candidatos ou legendas. Ausente a
entrega graciosa de bens ou serviços de natureza assistencialista, de forma direta à população, é
incabível a condenação. Não existe a conduta vedada prevista no inciso IV do artigo 73 quando o
Estado doa um bem – como uma ambulância ou um carro de bombeiros – a um Município, para ser
utilizado pela coletividade43. Do mesmo modo, o convênio no qual a Assembleia Legislativa do
Estado doa viaturas ao Governo do Estado, para uso pelas Secretarias de Estado da Justiça e da
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Cidadania e da Segurança Pública e da Defesa Social, não se amolda ao conceito de entrega de bens
ou de serviços de cunho assistencialista a eleitores44.
“Eleições 2002. Recurso especial recebido como recurso ordinário. Preliminares de intempestividade
e preclusão afastadas. Conduta vedada aos agentes públicos. Uso de programas sociais, em proveito
de candidato, na propaganda eleitoral. Recurso provido para cassar o diploma de governador.
Aplicação de multa. Das decisões dos tribunais regionais cabe recurso ordinário para o Tribunal
Superior, quando versarem sobre expedição de diplomas nas eleições federais e estaduais (CE, art.
276, II, a). É vedado aos agentes públicos fazer ou permitir o uso promocional de programas sociais
custeados pelo poder público.” NE: “O que se vê do processo é uma série de iniciativas do primeiro
recorrido, por meio de decretos e de mensagens legislativas, inclusive estabelecendo regime de
urgência, à produção legislativa de benefícios sociais. Vejam, V. Exas., que, perdendo o recorrido as
eleições no primeiro turno, alguns atos foram praticados durante o processo do segundo turno. Foram
estímulos à agricultura, vales-alimentação para policiais, incentivos fiscais, redução do ICMS para
44 Recurso Ordinário nº 060137593, Acórdão, Relator(a) Min. Luis Felipe Salomão, Publicação:
DJE - Diário de Justiça Eletrônico, Tomo
90, Data 11/05/2020
45 Recurso Especial Eleitoral nº 34994, Acórdão de 20/05/2014, Relator(a) Min. LUCIANA CHRISTINA GUIMARÃES LÓSSIO, Publicação:
DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 116, Data 25/06/2014, Página 62-63
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combustíveis, remissão de débitos dos mutuários de contratos de aquisição da casa própria, que estão
suficientemente documentados nos autos. Não se questiona a legalidade desses atos, diante do
processo legislativo do estado. Não se trata de interromper o programa social, que pode,
perfeitamente, continuar o seu curso. O que é vedado é valer-se dele para fins eleitorais, em proveito
de candidato ou partido, como inquestionavelmente está posto na propaganda eleitoral do
recorrido.” (Tribunal Superior Eleitoral -Ac. no 21.320, de 3.8.2004, rel. Min. Humberto Gomes de
Barros, red. designado Min. Luiz Carlos Madeira.)
Enquanto o inciso IV, do artigo 73, prescreve uma vedação de caráter permanente, que pode ser
praticada em qualquer momento e desde que haja o uso promocional, a vedação do §10, do artigo
73, aplica-se apenas no ano das eleições e independe do uso com finalidade promocional.
No ano em que são realizadas eleições municipais é proibida a criação de programas de caráter
social ou o início na execução de programa já criado antes. No ano das eleições, somente são
admitidos os programas sociais autorizados em lei e já em execução orçamentária no exercício
anterior.
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“A irresignação sobre a qualificação jurídica dada ao fato de que a gratuidade do ingresso para a
final do campeonato municipal de futebol não configura distribuição de bens e serviços de caráter
social, custeados pelo poder público, somente foi arguida em sede de recurso especial eleitoral,
olvidando os recorrentes em suscitá-la nos embargos de declaração, opostos às fls. 816-824. Da
análise probatória, correto o acórdão regional ao entender configurado o aproveitamento eleitoral
da conduta, concluindo pela sua subsunção ao art. 73, IV, da Lei no 9.504/97.” (Tribunal Superior
Eleitoral - Ac. de 19.6.2007 no REspe no 28.158, rel. Min. José Delgado.)
A sanção, promulgação, publicação de lei, ou decreto regulamentador não tem condição de ser um
elemento violador da conduta do artigo 73, IV, ou até mesmo do artigo 73, §10. Entretanto, pode
ser que o projeto de lei ou o ato regulamentador sejam utilizados como promoção pessoal, o que é
vedado pela Constituição Federal (art. 37, §1º, Constituição Federal).
“A sanção, promulgação e publicação, bem como a regulamentação de lei, não configuram, por si só, uso
indevido de materiais e serviços custeados pelo poder público.” (Tribunal Superior Eleitoral - Ac. de 31.10.2006
no AgRgAg no 6.831, rel. Min. Caputo Bastos.)
“Não há como se extrair do acórdão regional que o envio do projeto de lei à Câmara Municipal tenha sido
divulgado, visando a beneficiar a candidatura do recorrido. É vedado o uso promocional do encaminhamento
de projeto de lei para a aprovação do Poder Legislativo.” (Tribunal Superior Eleitoral -Ac. no 24.961, de
16.12.2004, rel. Min. Peçanha Martins.)
47 Tribunal Superior Eleitoral - Ac. de 15.9.2009 no AgR-REspe nº 35.316, rel. Min. Arnaldo Versiani
48 Tribunal Superior Eleitoral - Ac. de 29.6.2006 no REspe no 25.890, rel. Min. José Delgado
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Recurso. Ação de impugnação de mandato eletivo. Promoção de solenidade para entrega simbólica
de loteamentos, decorrente de programa municipal de regularização fundiária. Alegado abuso do
poder econômico, corrupção e fraude. Acervo probatório que não confirma a ocorrência de ilicitude.
Fragilidade das provas para evidenciar a prática, pelos recorridos, de participação ativa em qualquer
irregularidade. Provimento negado. (RECURSO EM AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO
nº 142006, Acórdão de 23/04/2007, Relator(a) DRA. KATIA ELENISE OLIVEIRA DA SILVA, Publicação:
DJE - Diário de Justiça Estadual, Tomo 72, Data 26/04/2007, Página 76)
“Conduta vedada (art. 73, IV, da Lei no 9.504/97). Não caracterizada. Para a configuração do inc. IV
do art. 73 da Lei no 9.504/97, a conduta deve corresponder ao tipo definido previamente. O elemento
é fazer ou permitir uso promocional de distribuição gratuita de bens e serviços para o candidato, quer
dizer, é necessário que se utilize o programa social – bens ou serviços – para dele fazer promoção.
Participação de prefeito e vice-prefeito em implementação de programa de distribuição de alimentos
intitulado “Pão e leite na minha casa.” (Tribunal Superior Eleitoral - Ac. no 25.130, de 18.8.2005, rel.
Min. Luiz Carlos Madeira.)
Para configuração da conduta vedada prevista no art. 73, inciso IV, da Lei nº 9.504/1997, exige-se o
uso promocional de efetiva distribuição de bens e serviços custeados pelo poder público, não sendo
suficiente a mera divulgação de futura implementação de programa social mediante a promessa de
distribuição de lotes de terra aos eleitores, não cabendo ao intérprete supor que o legislador dissera
menos do que queria. 2. A conduta poderia configurar, em tese, abuso do poder político, mas os
recorrentes não infirmaram o ponto da decisão regional referente à ausência de sentença
condenatória por abuso de poder político, o que impede a apreciação pelo TSE em recurso especial
eleitoral [...]. (Ac de 8.9.2015 no AgR-REspe nº 85738, rel. Min. Gilmar Mendes.)
“Representação. Candidato a prefeito. Art. 73, IV, da Lei n o 9.504/97. Programa habitacional. Doação de lotes.
Decisão regional. Condenação. Alegação. Julgamento ultra petita. Não-configuração. Um candidato em
campanha normalmente é instado a se manifestar sobre determinado programa que implementou ou pretende
implementar, sendo assim permitido que se manifeste sobre ele, não podendo daí concluir-se o indevido uso
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promocional a que se refere o art. 73, IV, da Lei n o 9.504/97. Com relação às condutas vedadas, é imprescindível
que estejam provados todos os elementos descritos na hipótese de incidência do ilícito eleitoral para a
imputação das severas sanções de cassação de registro ou de diploma. Para a configuração da infração ao art.
73, IV, da Lei no 9.504/97 faz-se necessária a efetiva distribuição de bens e serviços de caráter social.” (Tribunal
Superior Eleitoral - Ac. no 5.817, de 16.8.2005, rel. Min. Caputo Bastos.)
A mera participação do chefe do Poder Executivo Municipal em campanha de utilidade pública não
configura a conduta vedada a que se refere o art. 73, IV, da Lei no 9.504/97. Há, in casu, ausência de
subsunção do fato à norma legal. Precedente: Acórdão no 24.963. 2. A intervenção da Justiça Eleitoral
há de se fazer com o devido cuidado no que concerne ao tema das condutas vedadas, a fim de não se
impor, sem prudencial critério, severas restrições ao administrador público no exercício de suas
funções.” NE: A fixação de faixa, distante dos postos de saúde onde ocorria a vacinação, veiculando
texto de natureza eleitoral e com referência à campanha, desde que não custeada pelos cofres
públicos, não constitui conduta vedada, posto que qualquer outro candidato poderia ter lançado mão
de tal propaganda, não se caracterizando o uso promocional da campanha de vacinação. (Tribunal
Superior Eleitoral -Ac. no 24.989, de 31.5.2005, rel. Min. Caputo Bastos.)
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O que se proíbe é a promoção pessoal do agente público. Não se deve no comunicado dirigido à
população enaltecer os trabalhos executados, mas simplesmente “comunicar”, “informar”, para
diminuir eventuais transtornos.
No acórdão abaixo o Tribunal Superior Eleitoral relevou o fato, mas é digno de se alertar que em
documentos de tal fim, apenas comunicar a população local, desnecessário é que o agente político,
prefeito ou até vereador, assine tais documentos ou ostentem seus nomes. Comunicados da espécie
são feitos por instâncias inferiores de gestão. Aparecer nome de prefeito e vereador é elemento
que dá a oportunidade de questionar se em outras obras ou outros comunicados o procedimento
adotado foi o mesmo.
“Conduta vedada. Art. 73, IV, da Lei no 9.504/97. Não-enquadramento no tipo. Para a incidência do
inciso IV do art. 73 da Lei das Eleições, supõe-se que o ato praticado se subsuma na hipótese de
‘distribuição gratuita de bens e serviços de caráter social custeados ou subvencionados pelo poder
público’. As hipóteses de condutas vedadas são de legalidade estrita.” NE: Remessa por vereadores,
candidatos a prefeito e vereador, de ofício a moradores de determinando conjunto habitacional,
comunicando a realização de pavimentação asfáltica no prazo de 15 dias, sem referência as eleições,
candidaturas ou pedidos de voto. (Tribunal Superior Eleitoral -Ac. no 24.864, de 14.12.2004, rel. Min.
Luiz Carlos Madeira.)
Porém, mesmo atendendo a esse critério (lei e em execução no ano anterior), pode ser que os
gestores públicos usem essa distribuição para favorecer promocionalmente o candidato, partido
político ou coligação. Lembramos que o §10, do artigo 73, veda a simples distribuição de bens,
valores e benefícios. Já o inciso IV, do mesmo artigo, estabelece como um dos seus elementos o
“uso promocional” dessa distribuição, que foi o caso do acórdão abaixo.
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Quanto à remissão de débitos do IPTU, “Verifico, porém, pela prova dos autos, tratar-se de um
programa implantado pela Prefeitura, em cumprimento a promessa de campanha, havendo lei a
amparar a remissão. Além disso, não encontrei nenhuma evidência da utilização deste programa em
benefício do recorrido nas eleições de 2002.” (Tribunal Superior Eleitoral - Ac. no 642, de 19.8.2003,
rel. Min. Fernando Neves.)
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básicas, pedindo à população cadastrada para comparecer em dia e local avisado, porque embora
ele não esteja presente na entrega, dá a ideia de que ele é o mandatário da entrega.
“Art. 73, IV, da Lei no 9.504/97. Serviço de cunho social custeado pela Prefeitura Municipal, posto à
disposição dos cidadãos. Ampla divulgação. Ocorrência da prática vedada, a despeito de seu caráter
meramente potencial. Responsabilidade dos candidatos, pela distribuição dos impressos, defluente
da prova do cabal conhecimento dos fatos. Art. 22, XV, da LC no 64/90. A adoção do rito desse artigo
não impede o TRE de aplicar a cassação do diploma, prevista no art. 73, § 5o, da Lei no 9.504/97, bem
como não causa prejuízo à defesa. Art. 14, § 9o, da CF/88. Não implica nova hipótese de
inelegibilidade prever-se a pena de cassação do diploma no referido art. 73, § 5o, da Lei no 9.504/97.
A mera disposição, aos cidadãos, de serviço de cunho social custeado pela Prefeitura Municipal, por
meio de ampla divulgação promovida em prol de candidatos a cargos eletivos, importa na violação
do art. 73, IV, da Lei das Eleições.” (Tribunal Superior Eleitoral - Ac. no 20.353, de 17.6.2003, rel. Min.
Barros Monteiro.)
“Investigação judicial. Abuso de poder político. Hipótese em que não se verificou o uso promocional
de serviços de caráter social em benefício de candidato, porque apreendido, no local de instalação
das obras, o material de propaganda.” NE: “O uso promocional de bens ou serviços, tendentes a
afetar a igualdade entre candidatos, na propaganda eleitoral, conduz à aplicação da penalidade
prevista no art. 73 da Lei no 9.504/97. A mesma conduta pode ensejar, também, a imposição de
sanção prevista na Lei de Inelegibilidade, na medida em que venha a distorcer a manifestação
popular, influindo no resultado do pleito. Daí a possibilidade da deflagração das duas representações
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pelos mesmos fatos, sem que isso implique inépcia de qualquer delas.” O fato: requerimento de
deputado estadual ao secretário do Meio Ambiente e Recursos Hídricos do estado visando a execução
de obras consistentes na perfuração de poços artesianos para fornecimento de água potável em
alguns bairros do município. Na data da instalação dos poços, foi apreendido carro de som
juntamente com uma fita cassete contendo propaganda, cuja veiculação não ficou provada, situando
a questão, portanto, no campo dos atos preparatórios. (Tribunal Superior Eleitoral - Ac. no 16.238, de
23.5.2000, rel. Min. Garcia Vieira.)
7.6. Penalidade
O descumprimento do disposto no inciso II, do artigo 73, da Lei nº 9.504/97 acarretará a suspensão
imediata da conduta vedada, quando for o caso, e sujeitará os responsáveis a multa no valor de
cinco a cem mil UFIRs. O candidato beneficiado, agente público ou não, ficará sujeito à cassação do
registro ou do diploma, avaliando-se a proporcionalidade.
Além disso, as condutas enumeradas no artigo 73, da Lei nº 9.504/97 são consideradas como ato de
improbidade administrativa, sujeito a ressarcimento integral do dano, se houver, perda da função
pública, suspensão dos direitos políticos de três a cinco anos, pagamento de multa civil de até cem
vezes o valor da remuneração percebida pelo agente e proibição de contratar com o Poder Público
ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por
intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de três anos.
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Art. 73...
§ 10. No ano em que se realizar eleição, fica proibida a distribuição gratuita de bens,
valores ou benefícios por parte da Administração Pública, exceto nos casos de calamidade
pública, de estado de emergência ou de programas sociais autorizados em lei e já em
execução orçamentária no exercício anterior, casos em que o Ministério Público poderá
promover o acompanhamento de sua execução financeira e administrativa. (Incluído pela
Lei nº 11.300, de 2006)
O §10 é norma de caráter temporário, aplicável apenas no ano de realização das eleições, de 1º de
janeiro a 31 de dezembro.
Esta norma foi introduzida no artigo 73, da Lei nº 9.504/97 pela Lei nº 11.300/06. Em princípio, esta
alteração somente aplicar-se-ia para as eleições de 2010, segundo inteligência do artigo 16, da
Constituição Federal:
Art. 16. A lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua publicação,
não se aplicando à eleição que ocorra até 1 (um) ano da data de sua vigência.
Porém, por decisão do Tribunal Superior Eleitoral, as alterações introduzidas no artigo 73, da Lei nº
9.504/97, já valeriam para as eleições de 2006.
Pela vedação do §10, do artigo 73, no ano em que for realizada eleição, o agente público não poderá,
na circunscrição do pleito, usar a Administração Pública para realizar a distribuição gratuita de bens,
valores ou benefícios.
Esses bens, valores ou benefícios, podem ser distribuídos aos munícipes, de forma genérica, para
toda a população, sem diferenciação, ou através dos programas sociais, atendendo a uma parte da
população. A distribuição de agasalhos, alimentos, cestas básicas, uniformes e material escolar,
auxílios de renda, vale-alimentação, vale-transporte, a realização de encontros e reuniões com
servidores públicos, pais e mães de alunos, com a distribuição gratuita de alimentos, café, chá, a
realização de festas comemorativas também com a distribuição gratuita de alimentos pelo Poder
Público as entidades promotoras, a concessão de isenções tributárias, programas de recuperação
fiscal da dívida ativa do Município são exemplos de ações governamentais vedadas no ano de
realização das eleições.
49Recurso Especial Eleitoral nº 36045, Acórdão, Relator(a) Min. Marco Aurélio, Publicação: DJE - Diário de Justiça Eletrônico, Tomo
108, Data 11/06/2014, Página 21-22
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“Mesmo que a distribuição de bens não tenha caráter eleitoreiro, incide o § 10 do art. 73 da Lei das
Eleições, visto que ficou provada a distribuição gratuita de bens sem que se pudesse enquadrar tal
entrega de benesses na exceção prevista no dispositivo legal.” (Tribunal Superior Eleitoral - Ac. de
29.4.2010 no AgR-REspe nº 35.590, rel. Min. Arnaldo Versiani.)
A distribuição vedada pelo artigo 73, § 10, da Lei nº 9.504/97 independe de se revestir de caráter
promocional de candidatura. O legislador estabeleceu presunção objetiva de quebra da paridade
entre os candidatos, fundamentalmente porque é regra da experiência comum que a retribuição do
favor recebido – seja por meio de bem, valor ou benefício – é concretizada pelo voto destinado a
quem proporcionou a benesse ou para outrem por ele indicado50.
8.2. Exceções
Essa vedação comporta três exceções previstas no mesmo dispositivo legal: “casos de calamidade
pública”, “estado de emergência”, e os “programas sociais autorizados em lei e já em execução
orçamentária no exercício anterior”.
Estado de emergência é toda aquela que põe em perigo ou causa danos à segurança, à saúde ou à
incolumidade de pessoas ou bens de uma coletividade, exigindo rápidas providências do Poder
Público para debelar ou minorar suas consequências lesivas. São casos de emergência o
rompimento do conduto de água que abastece a cidade, a queda de uma ponte essencial para o
transporte coletivo, a ocorrência de um surto epidêmico, a quebra de máquinas ou equipamentos
que paralise ou retarde o serviço público, e tantos outros eventos ou acidentes que provocam
transtornos a vida da comunidade e exigem prontas providências da Administração.
50 TRE/RS. Recurso Eleitoral n 060063946, ACÓRDÃO de 29/09/2021, Relator(aqwe) DES. FEDERAL LUÍS ALBERTO D`AZEVEDO
AURVALLE, Publicação: PJE - Processo Judicial Eletrônico-PJE
51 Hely Lopes Meirelles. Direito Administrativo Brasileiro. Malheiros Editores.
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orçamentária anual dos recursos destinados a esses programas não tem o condão de legitimar sua
criação52.
Significa a decisão, pelo Estado, de transferir renda a pessoas e grupos tidos como de tal forma
desprivilegiados, que seus esforços privados jamais seriam capazes de reduzir a distância social que
os separa dos setores mais favorecidos. O Poder Público intervém para igualar minimamente, a
partir do princípio de que condições sociais de desigualdade são deletérias para toda a sociedade53.
Fora dessas exceções, é proibida a distribuição de bens, valores ou benefícios, seja de forma
genérica ou apenas atendendo a uma parte da população, através dos programas sociais.
“Quanto à aventada violação ao art. 73, IV, da Lei nº 9.504/97, reconsidero a decisão monocrática
apenas para conhecer do recurso especial no ponto. Na espécie, o Regional verificou a "exata
subsunção" (fl. 303) do fato à norma. Isso significa que, na ótica do e. TRE/PI, houve o uso
promocional do programa social de distribuição gratuita de carteiras de motoristas em favor do
Governador, candidato à reeleição. 4. Desde o pleito de 2006, o comando do art. 73, § 10, da Lei nº
9.504/97, introduzido pela Lei nº 11.300/2006, proíbe a distribuição gratuita de bens, valores ou
benefícios por parte da administração pública, no ano em que se realizar eleição. Uma das exceções
é o caso de programas sociais autorizados em lei e já em execução orçamentária no exercício anterior.
Na hipótese dos autos, o programa social, embora autorizado em lei, não estava em execução
orçamentária desde ano anterior (2005). A suspensão de sua execução deveria ser imediata, a partir
da introdução do mencionado § 10 da Lei nº 9.504/97, o que não ocorreu na espécie.” (Tribunal
Superior Eleitoral - Ac. de 15.10.2009 no ARESPE nº 28.433, rel. Min. Felix Fischer.)
52 TSE - Agravo Regimental em Agravo de Instrumento nº 116967, Acórdão de 30/06/2011, Relator(a) Min. FÁTIMA NANCY ANDRIGHI,
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legislador foi literal ao mencionar a necessidade de lei. Por essa razão, não será admitido programa
criado por decreto.
O Tribunal Superior Eleitoral também não admite que a previsão legal seja apenas na legislação
orçamentária, pois entende que os programas sociais precisam ser criados e regulamentados por
lei e não apenas ter uma simples dotação orçamentária, uma sequência numérica, prevista na Lei
Orçamentária anual. Se exige mais do que isso: uma lei própria que institua o programa social e
apresente as regras específicas com seus objetivos e beneficiários.
AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. AIJE. ART. 73, § 10, DA LEI Nº 9.504/97. PROGRAMA
SOCIAL. CESTAS BÁSICAS. AUTORIZAÇÃO EM LEI E EXECUÇÃO ORÇAMENTÁRIA NO EXERCÍCIO
ANTERIOR. AUMENTO DO BENEFÍCIO. CONDUTA VEDADA NÃO CONFIGURADA. 1. A continuação de
programa social instituído e executado no ano anterior ao eleitoral não constitui conduta vedada, de
acordo com a ressalva prevista no art. 73, § 10 da Lei nº 9.504/97. 2. Consta do v. acórdão recorrido
que o "Programa de Reforço Alimentar à Família Carente" foi instituído e implementado no Município
de Santa Cecília/SC em 2007, por meio da Lei Municipal nº 1.446, de 15 de março de 2007, de acordo
com previsão em lei orçamentária de 2006. Em 19 de dezembro de 2007, a Lei Municipal nº 1.487
ampliou o referido programa social, aumentando o número de cestas básicas distribuídas de 500
(quinhentas) para 761 (setecentas e sessenta e uma). 3. No caso, a distribuição de cestas básicas em
2008 representou apenas a continuidade de política pública que já vinha sendo executada pelo
município desde 2007. Além disso, o incremento do benefício (de 500 para 761 cestas básicas) não foi
abusivo, razão pela qual não houve ofensa à norma do art. 73, § 10 da Lei nº 9.504/97. 4. Agravo
regimental desprovido. (Tribunal Superior Eleitoral - Agravo Regimental em Recurso Especial Eleitoral
nº 997906551, Acórdão de 01/03/2011, Relator(a) Min. ALDIR GUIMARÃES PASSARINHO JUNIOR,
Publicação: DJE - Diário da Justiça Eletrônico, Data 19/04/2011, Página 53-54)
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A União exerceu a competência para legislar sobre Direito Urbanístico, prevista no artigo 24, inciso
I, da Constituição Federal. A Lei nº 13.465/17 é a lei que regulamenta a regularização fundiária
urbana, dispensando lei estadual ou municipal dispondo sobre o mesmo assunto, já que a lei federal
é detalhista e se aprofundou bastante na regulamentação do processo de aprovação e registro. A
lei municipal somente será exigida nas hipóteses previstas na própria Lei nº 13.465/17: alienação
onerosa das áreas públicas ocupadas55.
O §10, do artigo 73, da Lei de Eleições, no entanto, proíbe a distribuição gratuita de bens, valores
ou benefícios por parte da Administração Pública. A entrega de títulos de legitimação fundiária,
legitimação de posse, concessão de direito real de uso, constituem meios de distribuição gratuita
de bens, valores ou benefícios. Tal distribuição somente será possível nas exceções previstas no
mesmo §10 (calamidade pública; estado de emergência; programas sociais autorizados em lei e já
em execução orçamentária no exercício anterior).
Calamidade pública ou estado de emergência podem justificar a entrega de lotes para famílias
desabrigadas em condições de chuvas, enchentes, deslizamentos de terras.
Já na execução de programas sociais, como dissemos acima, a Lei nº 13.465/17 dispensou lei
municipal, exceto se for alienação onerosa de bem público. Porém, em respeito ao citado §10, do
artigo 73, da Lei nº 9.504/97 o programa social precisa estar em execução no exercício anterior.
55Art. 98. Fica facultado aos Estados, aos Municípios e ao Distrito Federal utilizar a prerrogativa de venda direta aos ocupantes de
suas áreas públicas objeto da Reurb-E, dispensados os procedimentos exigidos pela Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993, e desde
que os imóveis se encontrem ocupados até 22 de dezembro de 2016, devendo regulamentar o processo em legislação própria nos
moldes do disposto no art. 84 desta Lei.
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Outra circunstância que precisa de atenção do gestor público é o excesso na entrega desses títulos.
Se já foram entregues no exercício anterior, precisa apurar o ritmo dessa entrega. A entrega de 100
títulos em 2022, de 90 títulos em 2023, não autoriza que em 2024 sejam entregues 1.000 títulos.
Certamente os tribunais eleitorais irão interpretar essa ação de governo como medida para
captação de eleitores, com possibilidade, inclusive, de influenciar significativamente no pleito
eleitoral. Como já afirmado, a conduta vedada do §10 da Lei de Eleições dispensa prova do uso
promocional. É suficiente a distribuição para tipificar a conduta.
O acórdão concluiu pela prática das condutas vedadas previstas no art. 73, IV e § 10, da Lei nº
9.504/1997, ao verificar que houve a efetiva entrega gratuita dos títulos de direito real de uso durante
o ano eleitoral e que, embora o programa de regularização fundiária estivesse autorizado em lei, não
houve comprovação de dotação orçamentária específica relativa ao programa nos exercícios
anteriores. A modificação dessas conclusões - para entender que o programa de regularização
fundiária se enquadra na exceção "de programas sociais autorizados em lei e já em execução
orçamentária no exercício anterior" - exigiria o reexame do conjunto fático-probatório, o que é
vedado nesta instância especial (Súmula nº 24/TSE). 13. Deve ser mantido o valor da sanção
pecuniária imposta com fundamento no art. 73, IV, na medida em que foi arbitrado em consonância
com os limites previstos no art. 73, § 4º, da Lei nº 9.504/1997 e sua fixação foi devidamente
fundamentada pelo Tribunal de origem. Precedentes. ABUSO DO PODER POLÍTICO 14. De acordo com
o TRE-RJ, ficou caracterizado o abuso do poder político no caso, em síntese, por cinco fundamentos:
(i) as entregas dos títulos de direito real de uso ocorreram pela primeira vez no ano eleitoral sem
comprovação de que se estava seguindo regularmente cronograma ou programação iniciada em
exercícios anteriores; (ii) houve uso promocional irregular do programa de regularização fundiária em
favor da candidatura dos recorrentes durante as eleições, com a realização de eventos de entrega
dos títulos, inclusive com a participação dos candidatos; (iii) houve concentração desproporcional da
entrega dos títulos a pouco mais de um mês do pleito (dos 300 títulos entregues, 221 foram entregues
no mês anterior ao pleito); (iv) configurada a grande repercussão do programa social que, além de
ter beneficiado 300 famílias no ano eleitoral, teria, segundo anunciado pelos candidatos, o potencial
de favorecer 5 mil eleitores; e (v) tratou-se de uma eleição muito disputada, vencida pela diferença
de 5 votos. (Agravo de Instrumento nº 28353, Acórdão, Relator(a) Min. Luís Roberto Barroso,
Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 102, Data 31/05/2019, Página 41/42)
O TRE/MG entendeu configurado o abuso do poder político, com gravidade suficiente para afetar a
normalidade e a legitimidade do pleito, por considerar que houve manipulação do cronograma de
entrega com finalidade eleitoreira, uma vez que não havia justificativa para a imissão na posse dos
beneficiários dos lotes a cerca de duas semanas do pleito quando as obras de infraestrutura não
estavam concluídas. A modificação dessas conclusões exigiria o reexame do conjunto fático-
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probatório, o que é vedado nesta instância especial (Súmula nº 24/TSE). 12. A inelegibilidade constitui
sanção de natureza personalíssima, de modo que não se aplica ao mero beneficiário dos atos
abusivos, mas apenas a quem tenha contribuído, direta ou indiretamente, para a prática de referidos
atos. No caso, os candidatos recorrentes foram condenados apenas na qualidade de beneficiários da
conduta configuradora de abuso de poder. Não ficou comprovada sua contribuição, direta ou
indireta, para a prática dos atos abusivos, de modo que não há como aplicar-lhes a sanção de
inelegibilidade. [...]” (Ac. de 30.5.2019 no REspe nº 42270, rel. Min. Luís Roberto Barroso.)
Conquanto seja dever do administrador público obedecer aos ditames da Lei nº 6.766/79 e do
Estatuto da Cidade, não há se falar em regularização fundiária quando inexistente autorização
legislativa específica para esse fim. Trata-se, na verdade, de artifício de que lança mão o agente
político, em ano eleitoral, com a indisfarçável finalidade de obtenção de votos. 4 - A distribuição
gratuita de bens imóveis em ano eleitoral, fora dos casos que a lei excepciona, configura conduta
vedada, nos termos do § 10 do art. 73 da Lei nº 9.504/97. 5 - Caracteriza o ilícito do art. 41-A
(captação ilícita de sufrágio) a doação de bens imóveis a eleitores com o intuito de obtenção de votos,
ainda que não haja pedido expresso. 6 - A prática de conduta ilícita (simulação) alheia ao interesse
público com a finalidade de obter vantagem na disputa eleitoral revela abuso de poder político e de
autoridade. (INVESTIGAÇÃO JUDICIAL nº 40990, Acórdão nº 13945 de 22/08/2013, Relator(a) ABEL
CARDOSO MORAIS, Publicação: DJ - Diário de justiça, Volume 1, Tomo 165, Data 27/08/2013, Página
2/3)
1. Resta configurada a prática da conduta vedada a que alude o art. 73, § 10, da Lei n. 9.504/97
quando está comprovado nos autos a distribuição de títulos dominiais de posse, decorrente de
Programa Social que iniciou sua execução apenas no ano da eleição, impondo-se aos recorrentes a
sanção de multa prevista no §4º do referido dispositivo. (RECURSO ELEITORAL nº 55984, Acórdão nº
417 de 25/07/2018, Relator(a) ANTÔNIO OSWALDO SCARPA, Publicação: DJE - Diário da Justiça
Eletrônico, Data 01/08/2018)
5. Evidente intuito eleitoral da distribuição dos benefícios. Não obstante a possibilidade de existência
de legislação anterior, durante toda a gestão do então candidato à reeleição não foram adotadas
quaisquer medidas para a regularização da situação fundiária dos eleitores de Itaguaí. Ao contrário,
toda a movimentação ocorreu somente no ano eleitoral, como se pode observar dos procedimentos
administrativos de legitimação de posse juntados aos autos. (RECURSO ELEITORAL nº 131, Acórdão
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de 07/02/2018, Relator(a) LUIZ ANTONIO SOARES, Publicação: DJERJ - Diário da Justiça Eletrônico do
TRE-RJ, Tomo 036, Data 22/02/2018, Página 33/37)
Sentença que reconheceu alegado cometimento de abuso de poder político e de conduta vedada, em
razão da distribuição de títulos de legitimação de posse em áreas a moradores de baixa renda em
período vedado. 2. DAS CONDUTAS VEDADAS. Art. 73, IV, e § 10, e art. 74, da Lei nº 9.504/97.
Incontroversa a distribuição de termos de legitimação de posse pelo então prefeito, e candidato à
reeleição, aos munícipes de Itaguaí no ano eleitoral. Sob a ótica do § 10 do art. 73, é proibida a
distribuição de benefícios pela Administração Pública em ano eleitoral, motivo pelo qual o argumento
de inexistência de conduta vedada por ter cessado a entrega dos títulos de posse nos três meses antes
do pleito mostra-se despicienda. Ausência nos autos de notícia acerca de calamidade pública ou
estado de emergência no município. Somente a comprovação de existência de programas sociais
autorizados em lei e já em execução orçamentária no exercício anterior seria apta afastar o ilícito. 4.
Ausência de comprovação de existência de lei e decreto municipais hábeis a amparar a conduta, bem
como do cumprimento das formalidades previstas nos referidos atos normativos. Diante do material
apresentado, não se mostra viável exercer um juízo de certeza quanto à legislação vigente no
momento da distribuição de benefícios, tampouco quanto aos procedimentos formais necessários à
sua concretização. Ônus que competia aos recorrentes. 5. Evidente intuito eleitoral da distribuição
dos benefícios. Não obstante a possibilidade de existência de legislação anterior, durante toda a
gestão do então candidato à reeleição não foram adotadas quaisquer medidas para a regularização
da situação fundiária dos eleitores de Itaguaí. Ao contrário, toda a movimentação ocorreu somente
no ano eleitoral, como se pode observar dos procedimentos administrativos de legitimação de posse
juntados aos autos. 6. Numerosos os títulos distribuídos em ano eleitoral. Em notícia publicada na
página oficial da Prefeitura de Itaguaí, em 22/06/2016 consta a informação de que a entrega de
termos de legitimação de posse teria beneficiado cerca de 800 pessoas, garantindo a estabilidade no
exercício do direito à moradia, anteriormente exercida de maneira irregular. 7. A concessão de
legitimação de posse caracteriza-se como um benefício, uma vez que os ocupantes dos imóveis
deixam de exercer a posse de forma ilegal e passam a fazê-la de forma legítima. 8. Utilização das
benesses conferidas à população local para uso promocional em favor de sua candidatura à reeleição,
restando incontroverso que os fatos foram objeto de ampla divulgação, por meio de publicação de
notícias sobre o tema na página oficial da administração pública municipal na internet. Comprovada
a prática do ilícito previsto no art. 74 da Lei das Eleições. Patente a violação da previsão contida no
art. 37, 1º, da CFRB. 9. Caracterizada a distribuição do benefício aos ocupantes dos imóveis pela
administração municipal em ano eleitoral pelo então Prefeito, candidato à reeleição, bem como da
ampla divulgação com nítido caráter de promoção pessoal, configuradas estão as condutas vedadas
no art. 73, IV e § 10, e no art. 74, todos da Lei n º 9.504/1997. 10. A configuração das condutas
vedadas prescritas no art. 73 da Lei n° 9.504/97 ocorre com a mera prática de atos que se subsumem
às hipóteses ali elencadas. Desnecessária a comprovação da potencialidade da conduta em
influenciar o pleito eleitoral. (RECURSO ELEITORAL nº 131, Acórdão de 07/02/2018, Relator(a) LUIZ
ANTONIO SOARES, Publicação: DJERJ - Diário da Justiça Eletrônico do TRE-RJ, Tomo 036, Data
22/02/2018, Página 33/37)
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Anúncio feito pelo prefeito candidato à reeleição durante evento. Atendimento a apelos de
moradores. Realização de reunião no sábado seguinte, fora do expediente da prefeitura, em bar do
bairro Morada do Sol. Programa municipal de regularização fundiária local. Comparecimento do
assessor jurídico municipal no dia designado, acompanhado de auxiliar administrativo da prefeitura.
Distribuição de termos de doação de imóvel aos beneficiários do programa, quinze dias antes da data
das eleições. Conduta vedada. Dos autos, é possível extrair que, na data, horário e local indicados
pelo recorrente, por meio de servidores da Prefeitura, houve a efetiva entrega dos documentos que
possibilita aos seus destinatários a aquisição da propriedade do bem imóvel objeto do programa.
Redução da multa para o seu mínimo legal. Abuso de poder político. Quanto à prática do abuso de
poder político, no caso dos autos, não restou configurada, devendo a conduta ser sancionada apenas
com a multa prevista no art. 73, §4º, da Lei nº 9.504/1997. (RECURSO ELEITORAL nº 16866, Acórdão
de 20/04/2017, Relator(a) VIRGÍLIO DE ALMEIDA BARRETO, Relator(a) designado(a) CARLOS
ROBERTO DE CARVALHO, Publicação: DJEMG - Diário de Justiça Eletrônico-TREMG, Data 08/05/2017)
Conquanto a maioria dos títulos de doação dos imóveis tenha sido entregue aos beneficiários
somente depois de encerrado o pleito, as ações que compreenderam o processamento da distribuição
dos lotes, como a autorização das doações e o cadastramento dos interessados, foram realizadas ao
longo de todo o ano de 2016, circunstância que revela o enquadramento típico do ilícito nos termos
do art. 73, § 10, da Lei nº 9.504/97, pela quebra da isonomia entre os candidatos. (Agravo de
Instrumento nº 50363, Acórdão, Relator(a) Min. Carlos Horbach, Publicação: DJE - Diário de Justiça
Eletrônico, Tomo 147, Data 04/08/2022)
56 RECURSO ELEITORAL nº 21572, Acórdão nº 947/2017 de 18/09/2017, Relator(a) CARLOS HIPÓLITO ESCHER, Publicação: DJ - Diário
de justiça, Tomo 173, Data 25/09/2017, Página 22/28
57 Recurso Eleitoral nº 28404, Acórdão nº 27374 de 19/06/2019, Relator(a) RICARDO GOMES DE ALMEIDA, Publicação: DEJE - Diário
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No ano eleitoral, é possível a distribuição gratuita de bens, valores ou benefícios, desde que no bojo
de programas sociais autorizados em lei e já em execução orçamentária no exercício anterior. 7. As
condutas do art. 73 da Lei nº 9.504/97 se configuram com a mera prática dos atos, os quais, por
presunção legal, são tendentes a afetar a isonomia entre os candidatos, sendo desnecessário
comprovar a potencialidade lesiva. 8. In casu, para concluir se foram perpetradas as condutas
vedadas, é imprescindível verificar a ocorrência, ou não, de efetiva doação dos lotes no período
vedado. 9. A norma local apenas autorizou a distribuição dos lotes, mas a tradição não foi formalizada
de imediato, pois, para tanto, necessário cumprir diversos requisitos, não havendo notícia de que
houve efetiva distribuição gratuita de bens durante o ano eleitoral. 10. Não é possível avaliar a
gravidade das condutas tendo por esteio a mera presunção de que determinado pronunciamento
incutiu ‘no íntimo de cada eleitor’ a certeza de que receberia um dos imóveis. 11. Recursos especiais
parcialmente conhecidos e, nessa extensão, providos.” (Ac. de 5.8.2014 no REspe nº 1429, rel. Min.
Laurita Vaz.)
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Na espécie, a distribuição de tablets aos alunos da rede pública de ensino do Município de Vitória do
Xingu/PA, por meio do denominado programa ‘escola digital’, não configurou a conduta vedada do
art. 73, § 10, da Lei 9.504/97 pelos seguintes motivos: a) não se tratou de programa assistencialista,
mas de implemento de política pública educacional que já vinha sendo executada desde o ano
anterior ao pleito. Precedentes. b) os gastos com a manutenção dos serviços públicos não se
enquadram na vedação do art. 73, § 10, da Lei 9.504/97. Precedentes. c) como os tablets foram
distribuídos em regime de comodato e somente poderiam ser utilizados pelos alunos durante o
horário de aula, sendo logo depois restituídos à escola, também fica afastada a tipificação da conduta
vedada, pois não houve qualquer benefício econômico direto aos estudantes. Precedentes. d) a
adoção de critérios técnicos previamente estabelecidos, além da exigência de contrapartidas a serem
observadas pelos pais e alunos, também descaracterizam a conduta vedada em exame, pois não se
configurou o elemento normativo segundo o qual ‘a distribuição de bens, valores ou benefícios’ deve
ocorrer de forma ‘gratuita’. Precedentes. (...)" (Ac. de 4.8.2015 no REspe nº 55547, rel. Min. João
Otávio de Noronha.)
A princípio, esses programas não são ilegais, desde que aprovados por lei municipal, respeitando a
Lei de Responsabilidade Fiscal, e concedidos e executados no ano pretérito ao da realização da
eleição. O problema surge quando esses programas são instituídos ou aplicados no ano da eleição.
O Tribunal Superior Eleitoral, em resposta a uma consulta, decidiu que a validade ou não de
lançamento de Programa de Recuperação Fiscal (REFIS) em face do disposto no artigo 73, § 10, da
Lei nº 9.504/97 deve ser apreciada com base no quadro fático-jurídico extraído do caso concreto.
O contribuinte que deixa de pagar os tributos municipais dentro do prazo legal, sabe que estará
sujeito ao futuro pagamento desses tributos com multa, juros, correção monetária e, caso exista
processo judicial de execução fiscal, responderá pelas custas processuais e honorários advocatícios.
Se a Administração Pública cria um programa governamental que dá descontos ou elimina a multa,
os juros ou outros valores, é certo que está concedendo a esses contribuintes benefícios. O
pagamento do crédito principal, isto é, do tributo, já é uma obrigação do contribuinte. É uma
interpretação equivocada afirmar que não haverá distribuição gratuita de benefícios com a
eliminação parcial ou total da multa e dos juros porque o contribuinte está pagando o tributo.
Já decidiu o Tribunal Superior Eleitoral que os órgãos públicos que pretendam instituir Programas
de Recuperação Fiscal de tributos inadimplidos, deverão fazê-lo no ano anterior ao de realização da
eleição, sob pena de ficar caracterizada a conduta proibida no artigo 73, §10, da Lei nº 9.504/97.
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DÍVIDA ATIVA DO MUNICÍPIO - BENEFÍCIOS FISCAIS - ANO DAS ELEIÇÕES. A norma do § 10 do artigo
73 da Lei nº 9.504/1997 é obstáculo a ter-se, no ano das eleições, o implemento de benefício fiscal
referente à dívida ativa do Município bem como o encaminhamento à Câmara de Vereadores de
projeto de lei, no aludido período, objetivando a previsão normativa voltada a favorecer
inadimplentes. (Tribunal Superior Eleitoral - Consulta nº 153169, Acórdão de 20/09/2011, Relator(a)
Min. MARCO AURÉLIO MENDES DE FARIAS MELLO, Publicação: DJE - Diário da Justiça Eletrônico,
Tomo 207, Data 28/10/2011, Página 81)
Porém, existem alguns julgados indicando que a conduta proibida pelo artigo 73, §10, da Lei nº
9.504/97, de distribuição gratuita de bens, valores ou benefícios por parte da Administração Pública,
não estará configurada quando o benefício se restringir a concessão de descontos sobre os juros e
multas incidentes sobre os tributos. Assim decidiu o Tribunal Regional Eleitoral do Paraná:
Não houve distribuição gratuita de benefícios, visto que o programa fiscal concedeu desconto aos
beneficiários referente apenas a juros e multas. (0000056-19.2016.6.16.0131 RESPE nº 5619
BARRACÃO - PR Acórdão DE 14/05/2020 Relator(a): Min. Og Fernandes DJE , data 19/08/2020
RECORRIDO JORGE LUIZ SANTIN RECORRENTE MARCO AURÉLIO ZANDONÁ RECORRIDO MINISTÉRIO
PÚBLICO ELEITORAL).
Reafirmando essa interpretação, o Tribunal Regional Eleitoral do Mato Grosso considerou que a
conduta vedada somente estaria configurada quando os benefícios concedidos pela Administração
Pública fossem além dos juros e multa para incluir descontos também sobre o próprio tributo:
A divergência nos julgados está na concessão dos descontos sobre a multa e os juros, que como
previu o Tribunal Superior Eleitoral, a caracterização da conduta vedada e condenação dos
responsáveis vai depender da análise de cada caso, conforme a prova apresentada e,
principalmente, a interpretação que o Ministério Público e o Judiciário local derem a respeito.
Um outro artifício muito comum empregado por gestores públicos municipais é prever em lei
municipal aprovada no ano anterior ao da realização do pleito que o Programa de Recuperação
Fiscal (REFIS) poderá ser prorrogado por ato administrativo mesmo durante o ano eleitoral. O
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Tribunal Regional Eleitoral do Mato Grosso tem o entendimento firmado que isso é conduta vedada
e em um caso específico determinou a proibição de novas prorrogações:
No caso concreto, verifica-se que a prorrogação da concessão do benefício fiscal vem sendo reeditada
através de decreto do Chefe do Poder Executivo, o que no ano das eleições gerais, pode, em tese,
afetar a igualdade de oportunidade no pleito eleitoral vindouro. Com essas breves considerações, por
ora, DEFIRO em parte a liminar vindicada, apenas para que a parte requerida se abstenha de nova
prorrogação do prazo para a obtenção dos benefícios ficais instituídos pela Lei 10.433/2016, até que
se ultime as Eleições Gerais deste ano. (REPRESENTAÇÃO (11541) Nº 0600232-21.2018.6.11.0000
Assunto: [Conduta Vedada a Agente Público] Relator: RICARDO GOMES DE ALMEIDA)
“Recurso especial eleitoral. Ação de investigação judicial eleitoral. Abuso do poder político. Conduta
vedada. Art. 73, § 10, da lei 9.504/97. Uso indevido dos meios de comunicação social. 1. Ficou
configurada a prática da conduta vedada prevista no art. 73, § 10, da Lei 9.504/97 e de abuso do
poder político, pois a sanção da Lei Municipal n° 2.617/2012, de iniciativa do então prefeito, em ano
eleitoral, concedendo a isenção de ITBI a 272 famílias, sem estimativa orçamentária específica, foi
suficiente, por si só, para gerar benefício aos moradores, independentemente do registro das
escrituras na matrícula dos imóveis.[...]” (Ac de 9.8.2018 no REspe 82203, rel. Min. Herman Benjamin,
red. designado Min. Admar Gonzaga)
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À luz da moldura fática delineada na origem, houve a distribuição gratuita de bens no ano eleitoral,
por meio de programa social autorizado em lei, porém sem execução orçamentária no ano anterior,
a contrariar o disposto no art. 73, § 10, da Lei nº 9.504/1994, ressaltada, ademais, a gravidade dos
fatos para configuração da conduta abusiva. 3. Consignado pela Corte Regional que "no ano anterior
ao da eleição de 2012, a Prefeitura de Massaranduba somente tinha autorização legal para custear
o transporte de macadame, não podendo utilizar receita do orçamento para adquirir esse material
com o intuito de distribuí-lo gratuitamente a produtores rurais para fins de incentivo". Consignada,
também, a inobservância dos requisitos instituídos em lei para concessão do benefício. 4. Não se
trata, portanto, de mera ampliação de programa social já em execução no anterior ao pleito de 2012,
mas da entrega de novo benefício, cuja autorização legislativa sobreveio apenas em dezembro de
2011, a obstar a sua execução ao longo deste mesmo exercício financeiro. (Ac. de 24.5.2018 no AgR-
REspe nº 3611, rel. Min. Rosa Weber.)
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obter o voto, o que não restou evidenciado na espécie. [...]” (Ac. de 25.6.2014 no AgR-REspe nº 53283,
rel. Min. Luciana Lóssio.)
Em resposta a uma consulta, o Tribunal Superior Eleitoral reafirmou que no ano de realização do
pleito eleitoral a distribuição de alimentos perecíveis somente será possível no caso de calamidade
pública, estado de necessidade ou programa social previsto em lei e em execução no exercício
anterior.
“Consulta. Ministério público eleitoral. Art. 73, § 10, da Lei nº 9.504/1997. Alimentos perecíveis
apreendidos em razão de infração legal. Perdimento. 1. É possível, em ano de eleição, a realização de
doação de pescados ou de produtos perecíveis quando justificada nas situações de calamidade
pública ou estado de emergência ou, ainda, se destinada a programas sociais com autorização
específica em lei e com execução orçamentária já no ano anterior ao pleito. No caso dos programas
sociais, deve haver correlação entre o seu objeto e a coleta de alimentos perecíveis apreendidos em
razão de infração legal. 2. Consulta respondida afirmativamente”. (Ac. de 2.6.2015 no Cta nº 5639,
rel. Min. Gilmar Mendes.)
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“Doação de bens - Ano eleitoral. A teor do disposto no artigo 73, § 10, da Lei n° 9.504/1997, é proibida
a doação de bens no ano em que se realizarem as eleições.” NE: “Então, não há como considerar
legítima a possibilidade de o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis, integrante da Administração Pública, proceder a doações de bens. O argumento
referente à origem e à natureza perecível não é suficiente a excepcionar-se a regra proibitiva, fora de
previsão dela constante.” (Tribunal Superior Eleitoral - Res. nº 23.291, de 1.7.2010, rel. Min. Marco
Aurélio).
Recurso. Representação. Eleição suplementar. Comunicado dirigido aos pais de alunos de escola
municipal, anunciando a dois dias do pleito, com suspensão das atividades regulares do
estabelecimento de ensino, uso de sua própria estrutura física e fornecimento de bebida e alimentos
a realização de festa junina, bem como a distribuição gratuita de uniformes escolares. Condutas
vedadas a agente público. Improcedência. Comprovada, pela análise da documentação carreada aos
autos, a utilização ilícita, pro todos os representados, da máquina pública, com referência expressa
ao nome do recorrido prefeito em exercício - notório apoiador das candidaturas de dois outros
representados, bem como da coligação por eles integrada. Configurada infringência ao disposto no
artigo 73, inciso IV e § 10, da Lei 9.504/97. Irregularidade que, contudo, não enseja, por si só, a
incidência da penalidade de cassação dos diplomas dos candidatos eleitos, estatuída no § 5º do
supracitado artigo, devendo ser aplicada somente a sanção pecuniária prevista no § 4º do mesmo
dispositivo, tendo em vista o princípio da proporcionalidade. (Tribunal Superior Eleitoral - Agravo de
Instrumento nº 424162, Decisão Monocrática de 22/03/2011, Relator(a) Min. ARNALDO VERSIANI
LEITE SOARES, Publicação: DJE - Diário da Justiça Eletrônico, Data 28/3/2011, Página 37-39)
Na espécie, a procedência, desde a origem, da ação de investigação judicial eleitoral, com arrimo nos
arts. 73, § 10, da Lei n. 9.504/97 (conduta vedada) e 22 da LC no 64/90 (abuso de poder), decorreu
da distribuição gratuita de cestas básicas na celebração do aniversário da cidade (coincidente com a
Sexta-feira Santa), prática que se repetiu na comemoração do Dia do Trabalhador, ocasião em que
também houve distribuição de ferramentas agrícolas (enxadas e foices) e sorteio de brindes
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(eletrodomésticos e cédula de dinheiro). A instância ordinária assentou, no exame da prova, que: (i)
o custeio na aquisição dos bens foi eminentemente público; (ii) a entrega se deu a título gratuito; (iii)
não se tratou de programa social em execução orçamentária prévia; (iv) as edições festivas em
questão assumiram viés eleitoral; (v) o então prefeito teve participação direta e efetiva; e (vi) os fatos
apurados assumiram notas de gravidade no contexto do pleito. (Ac de 19.3.2019, no REspe 57611,
rel. Min.Tarcísio Vieira de Carvalho)
O Tribunal Superior Eleitoral considera essa ação governamental como eleitoreira, quando criada e
executada em ano de eleição, fora das exceções previstas em lei. O artigo 73, § 10, da Lei nº 9.504/97
prescreve a distribuição gratuita de bens, valores e benefícios no ano das eleições, excepcionando-
se apenas os casos de calamidade pública, de estado de emergência ou de programas sociais
autorizados em lei e já em execução orçamentária no exercício anterior60:
Somente não haverá ofensa ao artigo 73, § 10, da Lei nº 9.504/97, nas ressalvas previstas nesta
norma: a) casos de calamidade pública; b) casos de estado de emergência; c) programas sociais
autorizados em lei e já em execução orçamentária no exercício anterior61. Se uma dessas situações
se fizer presente, as obras de terraplanagem serão admitidas, até mesmo porque podem ser
necessárias em casos de grandes deslizamentos de terra (calamidade pública) ou como uma forma
de incentivar a população na ocupação do solo (programa social).
1. O TRE/SP aplicou multa e declarou a inelegibilidade do então prefeito de Campo Limpo Paulista/SP
e candidato à reeleição, por conduta vedada a agentes públicos (art. 73, § 10, da Lei nº 9.504/1997)
e abuso do poder político, em decorrência do encaminhamento e da aprovação de lei complementar,
em junho do ano eleitoral, editada para reduzir a tarifa de ônibus do município, de R$ 4,70 para R$
60 RECURSO ESPECIAL ELEITORAL nº 2057, Acórdão, Relator(a) Min. Edson Fachin, Publicação:
DJE - Diário de Justiça Eletrônico, Tomo
168, Data 13/09/2021
61 Ac de 16.10.2014 no REspe nº 36579, rel. Min. Luciana Lóssio, red. designado Min. Dias Toffoli e no mesmo sentido o Ac de
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8.26. Penalidade
Acarretará a suspensão imediata da conduta vedada, quando for o caso, e sujeitará os responsáveis
a multa no valor de cinco a cem mil UFIRs.
Ficará, outrossim, o candidato beneficiado, agente público ou não, sujeito à cassação do registro ou
do diploma.
Não houve previsão para esta conduta de caracterização como “ato de improbidade
administrativa”, pois o §7º, do artigo 73 refere-se apenas às condutas do caput (incisos I ao VIII).
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PROGRAMAS SOCIAIS
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9. Programas sociais
Em homenagem ao Princípio da Igualdade, os candidatos a mandato eletivo devem ser tratados com
isonomia de condições no pleito eleitoral, e como garantia ao cumprimento do Princípio da
Impessoalidade, as ações governamentais e investimentos públicos não podem estar associados a
figura do candidato.
Por isso, o artigo 73, §11, da Lei nº 9.504/97, veda que no ano das eleições os programas sociais
mencionados nos comentários do item anterior sejam executados por entidades vinculadas ao
candidato ou por esse mantida:
§ 11. Nos anos eleitorais, os programas sociais de que trata o § 10 não poderão ser
executados por entidade nominalmente vinculada a candidato ou por esse
mantida. (Incluído pela Lei nº 12.034, de 2009)
Da mesma forma que nos itens anteriores, o §5º, do artigo 73, da Lei nº 9.504/97 não incluiu essa
vedação dentre aqueles que resultam na cassação do registro ou do diploma, motivo pelo qual a
sua prática resultará apenas na aplicação de multa e suspensão imediata da conduta vedada,
conforme §4º, do citado artigo 73.
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Art. 73. São proibidas aos agentes públicos, servidores ou não, as seguintes condutas
tendentes a afetar a igualdade de oportunidades entre candidatos nos pleitos eleitorais:
V - nomear, contratar ou de qualquer forma admitir, demitir sem justa causa, suprimir ou
readaptar vantagens ou por outros meios dificultar ou impedir o exercício funcional e,
ainda, ex officio, remover, transferir ou exonerar servidor público, na circunscrição do
pleito, nos três meses que o antecedem e até a posse dos eleitos, sob pena de nulidade de
pleno direito, ressalvados:
a) a nomeação ou exoneração de cargos em comissão e designação ou dispensa de funções
de confiança;
b) a nomeação para cargos do Poder Judiciário, do Ministério Público, dos Tribunais ou
Conselhos de Contas e dos órgãos da Presidência da República;
c) a nomeação dos aprovados em concursos públicos homologados até o início daquele
prazo;
d) a nomeação ou contratação necessária à instalação ou ao funcionamento inadiável de
serviços públicos essenciais, com prévia e expressa autorização do Chefe do Poder
Executivo;
e) a transferência ou remoção ex officio de militares, policiais civis e de agentes
penitenciários;
Veja que o inciso V refere-se a servidores públicos. Será ele aplicável, portanto, aos servidores e
empregados da Administração Pública direta e das autarquias, qualquer que seja a natureza do
vínculo com elas mantido. Não, porém, aos empregados das empresas públicas e sociedades de
economia mista. Seu vínculo com seu pessoal é regido pela legislação trabalhista comum, e em
relação a eles não incidem as proibições de admissão, demissão sem justa causa, ou remoção. Se o
legislador tivesse pretendido fazer alcançar por essas proibições também as empresas públicas e
sociedades de economia mista, teria feito no mínimo referência expressa a Administração Pública
direta e indireta, o que não fez. Antes pelo contrário. Referiu-se a “exercício funcional” e remoção,
transferência ou exoneração de “servidor público”, expressões compatíveis com os funcionários e
empregados da Administração direta e das autarquias, mas não com os empregados das empresas
públicas e sociedades de economia mista63.
62 Recurso Especial Eleitoral nº 56079, Acórdão, Relator(a) Min. Sergio Silveira Banhos, Publicação: DJE - Diário de Justiça Eletrônico,
Data 29/10/2019, Página 11
63 Pedro Roberto Decomain. Eleições – Comentários à Lei nº 9.504/97. Editora Dialética
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As disposições contidas no artigo 73, V, Lei nº 9.504/97 somente são aplicáveis à circunscrição do
pleito. A interpretação realizada pelo Tribunal Superior Eleitoral autoriza a exoneração de servidor
público municipal no período em que ocorrem as eleições estaduais e a federal, desde que não
coincida com as municipais64.
Entretanto, o Tribunal Superior Eleitoral vem decidindo que poderá configurar abuso do poder
político o excesso de contratações realizado antes dos três meses e até a posse dos eleitos,
promovido pelos agentes públicos com o propósito de fugir da proibição legal durante o período de
vedação.
A Corte Regional reconheceu a prática de abuso do poder político, ressaltando que a contratação de
servidores e a antecipação de contratos em ano eleitoral visou angariar a confiança dos contratados
e respectivos familiares, assim como evitar a prática de conduta vedada durante o prazo legalmente
estimado. (Agravo de Instrumento nº 18912, Acórdão, Relator(a) Min. Tarcisio Vieira De Carvalho
Neto, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Data 21/10/2019)
Mesmo que as contratações tenham ocorrido antes do prazo de três meses que antecede o pleito, a
que se refere o art. 73, V, da Lei das Eleições, tal alegação não exclui a possibilidade de exame da
ilicitude para fins de configuração do abuso do poder político, especialmente porque se registrou que
não havia prova de que as contratações ocorreram por motivo relevante ou urgente, conforme
consignado no acórdão recorrido. (Recurso Especial Eleitoral nº 152210, Acórdão, Relator(a) Min.
Henrique Neves Da Silva, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 230, Data 04/12/2015,
Página 145)
O inciso V, do artigo 73, da Lei nº 9.504/97 proíbe a nomeação, contratação ou admissão de servidor
público nos três meses que antecedem o pleito, respeitadas as exceções ali previstas, tal como
nomeação de comissionados e aprovados em concurso público homologado três meses antes.
64 REsp 684.774/PB, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 21/10/2010, DJe 29/11/2010
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Mesmo que as contratações tenham ocorrido antes do prazo de três meses que antecede o pleito,
a que se refere o artigo 73, V, da Lei de Eleições, tal alegação não exclui a possibilidade de exame
da ilicitude para fins de configuração do abuso do poder político, quando ficar demonstrado que
não havia relevância ou urgência nas contratações65.
Segundo o Tribunal Superior Eleitoral, teologicamente, a conduta vedada do artigo 73, inciso V, da
Lei de Eleições busca evitar que o agente público abuse da posição de administrador para auferir
benefícios na campanha, utilizando os cargos ou empregos públicos, sob sua gestão, como moeda
de troca eleitoral. Sendo assim, é indiferente que se trate de contratação originária ou de
renovação, pois a "promessa de permanência" no cargo pode ser mais apelativa que a promessa de
contratação.
A jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral não faz distinção entre a contratação originária e a
renovação dos contratos temporários. O legislador excepcionou a regra apenas para os casos em
que a contratação seja necessária à instalação ou ao funcionamento inadiável de serviços públicos
essenciais, com prévia e expressa autorização do chefe do Poder Executivo (art. 73, inciso V, alínea
"d", da Lei nº 9.504/97). Nesse sentido, não está contida na ressalva legal a contratação de
temporários para o trabalho em obras que já se estendem há anos, ainda que venham a se destinar,
posteriormente, a serviço essencial66.
10.5. Demissão
A demissão dos servidores públicos efetivos somente poderá ocorrer: a) por solicitação do próprio
servidor (exoneração); b) por decisão judicial transitada em julgado; c) por processo administrativo
onde lhe seja garantida a ampla defesa (Constituição Federal, artigo 41, §1º). Em qualquer uma
dessas hipóteses a demissão será por justa causa e, portanto, admissível de ser realizada. Quando
65AgR-AI nº 82-18/RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, DJe de 11.10.2018
66Recurso Especial Eleitoral nº 38704, Acórdão, Relator(a) Min. Edson Fachin, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo
183, Data 20/09/2019, Página 55/56
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Nos três meses anteriores a realização das eleições, na circunscrição do pleito, é vedada a demissão
de servidores públicos, conforme o artigo 73, V, da Lei nº 9.504/97, respeitadas as ressalvadas
previstas pela norma.
67 Agravo de Instrumento nº 54937, Acórdão, Relator(a) Min. Admar Gonzaga, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo
68, Data 09/04/2018, Página 32
68 (Agravo de Instrumento nº 61467, Acórdão, Relator(a) Min. Luiz Fux, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 168, Data
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A ressalva da alínea “d”, do inciso V do artigo 73 da Lei 9.504/97, no período vedado, estabelece apenas a
possibilidade de nomeação ou de contratação necessária à instalação ou ao funcionamento inadiável de
serviços públicos essenciais, não fazendo referência à autorização de demissão sem justa causa de servidores
contratados de forma temporária, o que faz concluir que a demissão não será possível71. A demissão de
servidores temporários após a realização do pleito e em período que antecede a posse dos eleitos
caracteriza a conduta vedada descrita no inciso V do artigo 73 da Lei nº 9.504/97.
Dificultar ou impedir o exercício profissional consiste em impor obstáculos ao servidor público para
o exercício das funções do seu cargo, retirando-lhe funções importantes ou repassando atribuições
mais penosas, ou, ainda, restringir o material de trabalho, tal como restrição total ao acesso à
internet, retirada de computadores e impressoras, equipamentos de ar-condicionado, mobília,
limitação ao material de escritório.
10.12. Férias
É caracterizador da conduta vedada de “suprimir ou readaptar vantagens ou por outros meios
dificultar ou impedir o exercício funcional” cancelar as férias de servidor público, sem que haja
motivo de interesse público para isso, pois as férias constituem direito do servidor público, previstas
70 Agravo de Instrumento nº 26849, Acórdão, Relator(a) Min. Henrique Neves Da Silva, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico,
Tomo 203, Data 26/10/2016, Página 49
71 Recurso Especial Eleitoral nº 65256, Acórdão, Relator(a) Min. Admar Gonzaga, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo
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a todos os trabalhadores na Constituição Federal, e por ser regra de proteção a saúde física e mental
do trabalhador.
“[...] Representação. Conduta vedada. Art. 73, V, da Lei nº 9.504/97. 1. A dificuldade imposta ao
exercício funcional de uma servidora consubstanciado em suspensão de ordem de férias, sem
qualquer interesse da administração, configura a conduta vedada do art. 73, V, da Lei nº 9.504/97,
ensejando a imposição de multa. 2. A atual jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral, quanto ao
tema das condutas vedadas do art. 73 da Lei das Eleições, afigura-se mais recomendável a adoção do
princípio da proporcionalidade e, apenas naqueles casos mais graves, em que se cogita da cassação
do registro ou do diploma, é cabível o exame do requisito da potencialidade, de modo a se impor
essas severas penalidades. [...].” (Ac. de 17.11.2009 no AgR-AI nº 11.207, rel. Min. Arnaldo Versiani.)
In casu, o ora agravante foi condenado ao pagamento da multa mínima prevista no § 5º, art. 73 da
Lei das Eleições - dobrada apenas em razão da reincidência -, por ter, como Prefeito e candidato à
reeleição, concedido em 22.8.2016 gratificação de 40% à Servidora que já recebia gratificação na
ordem de 15%. A conduta se amolda ao ilícito previsto no art. 73, V da Lei 9.504/97, uma vez que a
Servidora, que ganhava uma gratificação de 15%, passou a receber a partir de 22.8.2016 - dentro do
período vedado -, gratificação de 40%. Ainda que se alegue que o acréscimo decorreu em virtude de
a Servidora ter sido nomeada para um cargo de chefia, não se justificou o motivo de a nomeação ter
ocorrido em 30.3.2016 e o benefício incrementado 4 meses depois. (Recurso Especial Eleitoral nº
16448, Acórdão, Relator(a) Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Publicação: DJE - Diário de justiça
eletrônico, Tomo 245, Data 19/12/2017, Página 78)
A Corte de origem, soberana na análise de fatos e provas, concluiu que a supressão das gratificações
especiais previstas em lei municipal, cujo pagamento era direcionado a servidores integrantes de
comissões, ocorreu em contrariedade ao parecer jurídico da Procuradoria da municipalidade e logo
após ultimado o pleito, conclusão insuscetível de reexame em sede extraordinária, a teor do verbete
sumular 24 do TSE. Caracterização da conduta vedada de que trata o art. 73, V, a, da Lei 9.504/97.
(Recurso Especial Eleitoral nº 32372, Acórdão, Relator(a) Min. Admar Gonzaga, Publicação: DJE -
Diário de justiça eletrônico, Tomo 65, Data 04/04/2019, Página 64/65)
o Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais, soberano na análise das provas, assentou que a
concessão de aumento e criação de gratificações e outros benefícios aos servidores públicos
municipais caracterizou a prática de conduta vedada prevista no art. 73, VIII, da Lei nº 9.504/97, com
caráter eleitoreiro e apta a causar o desequilíbrio de oportunidades entre os candidatos a cargos
eletivos. (Agravo de Instrumento nº 44856, Acórdão, Relator(a) Min. Luiz Fux, Publicação: DJE - Diário
de justiça eletrônico, Data 17/06/2016, Página 49-50)
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10.15. Remoção
A remoção e transferência, citados pelo inciso V, do artigo 73, devem ser interpretados de acordo
com a denominação e conceito atribuídos pela Lei nº 8.112/90, o Estatuto dos Servidores Públicos
Civis da União.
Alguns Municípios denominam como “transferência” o que aqui mencionamos como remoção.
A remoção é o simples deslocamento físico do servidor, sem qualquer mudança de cargo. Esse mero
deslocamento pode implicar alteração da sede do trabalho do servidor, de uma cidade para outra
ou, dentro da mesma cidade, de um prédio para outro eventualmente distante.
A remoção é vedada pelo artigo 73, V, da Lei de Eleições, nos três meses anteriores a realização da
eleição, na circunscrição do pleito.
Durante o período de vedação eleitoral (três meses antes do pleito), a remoção somente poderá
ocorrer a pedido do servidor. A remoção de ofício é ilegal e por ser um procedimento onde os
gestores públicos usam para constranger ou prejudicar seus desafetos políticos, há diversos julgados
condenando essa prática.
“[...] Servidor público. Dispensa. Art. 73, V, da Lei no 9.504/97. [...] A remoção ou transferência de
servidor público, levada a cabo na circunscrição do pleito, nos três meses que o antecedem e até a
diplomação dos eleitos, configura afronta ao art. 73, V, da Lei no 9.504/97. [...]” (Ac. de 2.5.2006 no
RMS no 410, rel. Min. José Delgado.)
É nula a remoção do servidor público ocorrida no período eleitoral, nos três meses que o antecedem
e até a posse dos eleitos, quando incontroverso o propósito de retaliação política, em afronta ao art.
73, V, da Lei federal nº 9.504/97. (RECURSO ELEITORAL nº 736, Acórdão nº 5944 de 19/12/2008,
Relator(a) ANDRÉ LUIZ MAIA TOBIAS GRANJA, Publicação: DOE - Diário Oficial do Estado, Data
8/1/2009, Página 52)
O Tribunal a quo, ao analisar os fatos e as provas constantes dos autos, concluiu, por unanimidade,
que ficou configurada a conduta vedada pelo art. 73, V, da Lei nº 9.504/1997, consistente na
remoção, de ofício, de três servidores públicos no período que compreende os três meses
antecedentes às eleições de 2016. (Recurso Especial Eleitoral nº 33258, Acórdão, Relator(a) Min. Og
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Fernandes, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 123, Data 01/07/2019, Página
176/177)
A situação delineada nos autos, a toda evidência, atrai a responsabilidade do recorrente, na forma
do art. 73, V, da Lei 9.504/97, haja vista a existência de remoção injustificada de servidor no período
vedado, em consonância com a jurisprudência dos Tribunais Pátrios. A conduta vedada foi praticada
e deve ser reprimida, pois, as hipóteses previstas no art. 73 da Lei das Eleições têm natureza objetiva,
ou seja, verificada a presença dos requisitos necessários à sua caracterização, a norma proibitiva
reconhece-se violada, cabendo ao julgador aplicar as sanções previstas nos §§ 4º e 5º do referido
artigo de forma proporcional. Dessa maneira, a aplicação da multa é medida a ser mantida.
(RECURSO ELEITORAL nº 26683, Acórdão nº 26683 de 29/08/2017, Relator(a) KAMILE MOREIRA
CASTRO, Publicação: DJE - Diário de Justiça Eletrônico, Tomo 164, Data 01/09/2017, Página 18)
No entanto, a remoção pode ocorrer de ofício, para atender necessidade de interesse público, com
fundamento na alínea “d”, do inciso V, do artigo 73, ou a pedido do servidor, analisando-se os
motivos do pedido e a conveniência da Administração, com fundamento no caput do artigo 73, da
Lei nº 9.504/97.
10.18. Movimentação
A Lei nº 9.504/97 foi elaborada levando em conta as expressões empregadas pela Lei nº 8.112/90,
que dispõe sobre o regime jurídico dos servidores públicos civis da União, das autarquias e das
73RECURSO ELEITORAL nº 1395, Acórdão nº 364 de 12/05/2005, Relator(a) ROSANA NOYA ALVES WEIBEL KAUFMANN, Publicação:
DPJ-BA - Diário do Poder Judiciário da Bahia, Data 03/06/2005, Página 45
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fundações públicas federais. O que alguns conhecem como “movimentação”, nada mais é do que a
“remoção” prevista na Lei nº 9.504/97, artigo 73, inciso V.
O Tribunal Superior Eleitoral, quando instado a se manifestar sobre a “movimentação”, decidiu que
este instituto se submete a regra do inciso V, artigo 73, da Lei nº 9.504/97.
Movimentação de servidores nos períodos pré e pós-eleitoral. Matéria que se encontra disciplinada
na Lei no 9.504/97, art. 73, inciso V, alíneas “a” e “e”. (Tribunal Superior Eleitoral - Res. no 20.005, de
30.10.97, rel. Min. Nilson Naves.)
É a extinção de um ato administrativo ou de seus efeitos por outro ato administrativo, efetuada por
razões de conveniência e oportunidade, respeitando-se os efeitos precedentes. A revogação pode
ser explícita ou implícita (expressa ou tácita, respectivamente). É explicita quando a autoridade
simplesmente declara revogado o ato anterior. É implícita quando, ao dispor sobre certa situação,
emite um ato incompatível com o anterior. Em um e outro caso a revogação pode ser total ou
parcial, conforme a amplitude que afeta a situação precedente74. A revogação funda-se no poder
discricionário de que dispõe a Administração para rever sua atividade interna e encaminhá-la
adequadamente a realização de seus fins específicos75.
Decidiu o Tribunal Superior Eleitoral que a invalidação imediata do ato de remoção de servidor
público que não produziu efeitos jurídicos afasta a ofensa à vedação de conduta vedada aos agentes
públicos76.
Entretanto, o Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão, em outra oportunidade, disse que incide na
vedação prevista no artigo 73, V, da Lei nº 9.504/97, o agente público que, antes de empossados os
eleitos, remove de ofício servidora municipal. A alegação de que teria revogado o ato vedado no dia
imediatamente posterior a sua expedição não o exime da sanção pecuniária, uma vez que o ato de
remoção ingressou no universo jurídico com afronta a dispositivo de lei77. No mesmo sentido, o
Tribunal Regional Eleitoral do Sergipe decidiu que “a revogação posterior do ato não impede a
configuração da conduta vedada nem exime os agentes da sanção devida”78.
74 Celso Antonio Bandeira de Mello. Curso de Direito Administrativo. 32ª edição. São Paulo: Malheiros, 2017, pág. 461.
75 Hely Lopes Meirelles. Direito Administrativo Brasileiro. 24ª edição. São Paulo: Malheiros, 1990, pag. 184.
76 REPRESENTAÇÃO nº 178797, Acórdão nº 247/2011 de 17/05/2011, Relator(a) ROWILSON TEIXEIRA, Publicação: DJE/TRE-RO - Diário
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No que se refere à alegada justa causa para as transferências dos servidores, que teriam ocorrido por
necessidade do serviço, o Tribunal Regional Eleitoral sergipano assentou que "a regra do art. 73, V,
'e', foi frontalmente violada, eis que a conduta representada foi claramente tendente a afetar a
igualdade de oportunidades entre candidatos nos pleitos eleitorais (caput do art. 73 da Lei n.
9.504/1997), executadas dentro do interstício temporal em que estavam impedidos de proceder às
referidas remoções e por não recaírem os servidores contextualizados nas exceções da alínea 'e' do
mencionado dispositivo" (fl. 171v). (Recurso Especial Eleitoral nº 56079, Acórdão, Relator(a) Min.
Sergio Silveira Banhos, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Data 29/10/2019, Página 11)
Entendemos que a hipótese de exceção prevista na alínea "d", do inciso V, do artigo 73, também
pode ser invocada na remoção de servidores públicos, quando houver necessidade de instalação ou
funcionamento inadiável de serviços públicos essenciais, com prévia e expressa autorização do
Chefe do Poder Executivo.
10.21. Transferência
Já a “transferência”, conforme conceito da Lei nº 8.112/90, seria a passagem do servidor estável de
cargo efetivo para outro de igual denominação, pertencente a quadro de pessoal diverso, de órgão
ou instituição do mesmo Poder. É uma forma de provimento derivado, de acesso a cargo público
sem a realização de concurso público. Por essa razão, o Supremo Tribunal Federal declarou
inconstitucional o artigo que normatizava a “transferência” dos servidores públicos da União (art.
23, Lei nº 8.112/90), aduzindo que a investidura em cargos públicos somente poderia ocorrer
mediante concurso público79.
De qualquer forma, tanto a remoção, como a transferência, é vedada na circunscrição do pleito nos
três meses que o antecedem e até a posse dos eleitos.
10.22. Redistribuição
Por fim, a redistribuição é o deslocamento de cargo de provimento efetivo, ocupado ou vago no
âmbito do quadro geral de pessoal, para outro órgão ou entidade do mesmo Poder. A redistribuição
ocorrerá ex officio para ajustamento de lotação e da força de trabalho às necessidades dos serviços,
inclusive nos casos de reorganização, extinção ou criação de órgão ou entidade (art. 37, Lei nº
8.112/90). Com a abertura de uma nova escola ou de um novo posto de saúde, por exemplo, a
Administração poderá de ofício redistribuir professores, secretários, médicos e enfermeiros. Tal
redistribuição não é prevista no inciso V, do artigo 73, e, portanto, não é considerada como conduta
vedada, podendo ser realizada durante todo o calendário eleitoral80.
79 Supremo Tribunal Federal - Mandado de Segurança nº 22148; Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 231
80 Tribunal Superior Eleitoral - Ac. no 405, de 26.11.2002, rel. Min. Peçanha Martins
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10.23. Exceções
A regra do inciso V, do artigo 73, comporta as seguintes exceções:
b) a nomeação para cargos do Poder Judiciário, do Ministério Público, dos Tribunais ou Conselhos
de Contas e dos órgãos da Presidência da República;
c) a nomeação dos aprovados em concursos públicos homologados até o início daquele prazo;
Não poderão ser interpretadas de modo extensivo, incluindo outras situações não previstas pelo
legislador, já decidiu o Tribunal Superior Eleitoral:
“Período eleitoral - nomeações e contratações - exceções - alcance do preceito legal. As exceções hão
de ser interpretadas de forma estrita. Vinga a regra da proibição de nomeações, não estando
compreendida na ressalva legal a Defensoria Pública - artigo 73 da Lei nº 9.504/1997.” (TSE - Ac. de
20.5.2010 na Cta nº 69851, rel. Min. Hamilton Carvalhido, red. designado Min. Marco Aurélio.)
O artigo 73, V, da Lei nº 9.504/97 estabelece, nos três meses que antecedem a eleição até a posse
dos eleitos, a proibição de nomeação ou exoneração de servidor público, bem como a readaptação
de suas vantagens, entre outras hipóteses, mas expressamente ressalva, na respectiva alínea “a”,
ser possível a nomeação ou exoneração de cargos em comissão e designação ou dispensa de funções
de confiança.
O fato de o servidor nomeado para cargo em comissão ter sido exonerado e, logo em seguida,
nomeado para cargo em comissão com concessão de maior vantagem pecuniária não permite, por
si só, afastar a ressalva do artigo 73, V, “a”, da Lei nº 9.504/97, porquanto tal dispositivo legal não
veda eventual melhoria na condição do servidor81.
A contratação temporária, prevista no artigo 37, IX, da Constituição Federal, possui regime próprio
que difere do provimento de cargos efetivos e de empregos públicos mediante concurso e não se
confunde, ainda, com a nomeação ou exoneração de cargos em comissão ressalvadas no artigo 73,
V, da Lei no 9.504/97, não estando inserida, portanto, na alínea “a” desse dispositivo82.
81 Recurso Especial Eleitoral nº 299446, Acórdão, Relator(a) Min. Arnaldo Versiani, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico,
Tomo 233, Data 05/12/2012, Página 24
82 TSE - Ac. no 21.167, de 21.8.2003, rel. Min. Fernando Neves.
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10.23.2 Nomeação para cargos do Poder Judiciário, do Ministério Público, dos Tribunais ou
Conselhos de Contas e dos órgãos da Presidência da República
É permitida a nomeação para cargos do Poder Judiciário, do Ministério Público, dos Tribunais ou
Conselhos de Contas e dos órgãos da Presidência da República.
Não há vedação legal para realização de concurso público em período eleitoral. A restrição
imposta pela legislação se refere à nomeação dos eventuais aprovados, que somente será
permitida no ano eleitoral se o concurso correspondente tiver sido homologado até 03 (três)
meses antes do pleito (Lei 9.504/97, art. 73, V, c). (Recurso Eleitoral nº 51853, Acórdão de
Relator(a) Des. Ricardo Felipe Rodrigues Macieira, Publicação: DJ - Diário de justiça, Tomo
39, Data 01/03/2018, Página 14/5)
As disposições contidas no artigo 73, V, Lei no 9.504/97 somente são aplicáveis à circunscrição do
pleito. Essa norma não proíbe a realização de concurso público, mas, sim, a ocorrência de
nomeações, contratações e outras movimentações funcionais desde os três meses que antecedem
as eleições até a posse dos eleitos, sob pena de nulidade de pleno direito.
A restrição imposta pela Lei no 9.504/97 refere-se à nomeação de servidor, ato da administração de
investidura do cidadão no cargo público, não se levando em conta a posse, ato subsequente à
nomeação e que diz respeito à aceitação expressa pelo nomeado das atribuições, deveres e
responsabilidades inerentes ao cargo. A data limite para a posse de novos servidores da
Administração Pública ocorrerá no prazo de trinta dias contados da publicação do ato de
provimento, nos termos do artigo 13, § 1o, Lei no 8.112/90 (Estatuto dos Servidores Civis da União),
desde que o concurso tenha sido homologado até três meses antes do pleito conforme ressalva da
alínea “c”, do inciso V, do artigo 73, da Lei de Eleições83.
83
Consulta nº 1065, Resolução de Relator(a) Min. Fernando Neves, Publicação: DJ - Diário de justiça, Volume
1, Data 12/07/2004, Página 02
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A lei admite a nomeação em concursos públicos e a consequente posse dos aprovados, dentro do
prazo vedado por lei, considerando-se a ressalva apontada (concurso homologado três meses antes
do pleito). Caso isso não ocorra, a nomeação e consequente posse dos aprovados somente poderá
acontecer após a posse dos eleitos.
Pode acontecer que a nomeação dos aprovados ocorra muito próxima ao início do período vedado
pela legislação eleitoral, e a posse poderá perfeitamente ocorrer durante esse período. Consoante
exceções enumeradas no inciso V, artigo 73, as proibições da Lei no 9.504/97 não atingem: as
nomeações ou exonerações de cargos em comissão e designação ou dispensa de funções de
confiança; as nomeações para cargos do Poder Judiciário, do Ministério Público, dos tribunais ou
conselhos de contas e dos órgãos da Presidência da República; as nomeações ou contratações
necessárias à instalação ou ao funcionamento inadiável de serviços públicos essenciais, com prévia
e expressa autorização do chefe do Poder Executivo e as transferências ou remoções ex officio de
militares, de policiais civis e de agentes penitenciários.
Para nomear aprovados em concurso público no período vedado, crítico, que compreende três
meses antes das eleições até a posse dos eleitos, deverá o concurso público ser homologado três
meses antes das eleições.
Nesse sentido já decidiu o Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais por diversas vezes:
Fica demonstrado que o concurso foi homologado antes dos três meses da eleição. Exceção
a regra prevista na alínea c do mesmo dispositivo: é permitida a nomeação dos aprovados
em concursos públicos homologados até o início daquele prazo, ou seja, 3 meses antes do
pleito. (Recurso Eleitoral nº 98796, Acórdão, Relator(a) Des. Ricardo Matos de Oliveira,
Publicação: DJEMG - Diário de Justiça Eletrônico-TREMG, Data 19/10/2017)
São dois requisitos para que a hipótese de exceção seja admitida: a) instalação ou funcionamento
“inadiável” e b) “serviços públicos essenciais”.
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Já decidiu o Tribunal Superior Eleitoral que é preciso que os servidores públicos exerçam funções
essenciais. Não é suficiente que estejam lotados na saúde
A teor do entendimento desta Corte, conceitua-se como serviço público essencial, para os fins do art.
73, V, d, da Lei 9.504/97, aquele de natureza emergencial, umbilicalmente ligado à sobrevivência, à
saúde ou à segurança da população. Interpretação em sentido diverso esvaziaria o comando legal e
permitiria o uso da máquina pública em benefício de candidaturas. 4. No caso, apesar de as
contratações estarem ligadas à Secretaria Municipal de Saúde, não se verifica o caráter essencial
quanto aos cargos de auxiliar de serviços gerais e de agente de vigilância ambiental (prevenção e
controle de fatores de risco ambiental). 5. A simples circunstância de os cargos estarem lotados na
Secretaria Municipal de Saúde não lhes confere, ipso facto, a inescusável premência a que alude o
referido dispositivo, sendo forçoso reconhecer a ilicitude das contratações na espécie. (Recurso
Especial Eleitoral nº 101261, Acórdão, Relator(a) Min. Jorge Mussi, Publicação: DJE - Diário de justiça
eletrônico, Tomo 097, Data 24/05/2019, Página 70-71)
“Conduta vedada a agente público em campanha eleitoral. Art. 73, inciso V, alínea d, da Lei no
9.504/97. 1. Contratação temporária, pela administração pública, de professores e demais
profissionais da área da educação, motoristas, faxineiros e merendeiras, no período vedado pela Lei
Eleitoral. 2. No caso da alínea d do inciso V da Lei no 9.504/97, só escapa da ilicitude a contratação
de pessoal necessária ao funcionamento inadiável de serviços públicos essenciais. 3. Em sentido
amplo, todo serviço público é essencial ao interesse da coletividade. Já em sentido estrito, essencial é
o serviço público emergencial, assim entendido aquele umbilicalmente vinculado à ‘sobrevivência,
saúde ou segurança da população’. 4. A ressalva da alínea d do inciso V do art. 73 da Lei no 9.504/97
só pode ser coerentemente entendida a partir de uma visão estrita da essencialidade do serviço
público. Do contrário, restaria inócua a finalidade da Lei Eleitoral ao vedar certas condutas aos
agentes públicos, tendentes a afetar a igualdade de competição no pleito. Daqui resulta não ser a
educação um serviço público essencial. Sua eventual descontinuidade, em dado momento, embora
acarrete evidentes prejuízos à sociedade, é de ser oportunamente recomposta. Isso por inexistência
de dano irreparável à ‘sobrevivência, saúde ou segurança da população’. 5. Modo de ver as coisas
que não faz tábula rasa dos deveres constitucionalmente impostos ao estado quanto ao desempenho
da atividade educacional como um direito de todos. Não cabe, a pretexto do cumprimento da
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A Administração Pública para esse tipo de contratação deve proferir autorização expressa do Chefe
do Poder Executivo, pois assim exige o inciso V, alínea “d”, do artigo 73, da Lei nº 9.504/97.
“Agravo de instrumento. Agravo regimental. Contratação de pessoal. Art. 73, V, da Lei no 9.504/97.
Surto de dengue. Serviço essencial e inadiável. Convênio. Assinatura e aditamento. Anterioridade.
Pleito. Chefe do Poder Executivo. Autorização. Alínea d. Não-ocorrência. 1. A autorização referida na
alínea d do inciso V do art. 73 da Lei no 9.504/97 deve ser específica para a contratação pretendida e
devidamente justificada. 2. O fato de se tratar de contratação de pessoal para prestar serviços
essenciais e inadiáveis não afasta a necessidade de que, no período a que se refere o inciso V do art.
73 da Lei no 9.504/97, haja expressa autorização por parte do chefe do Executivo. Agravo a que se
nega provimento.” NE: “Na verdade, entendo que a referida autorização deve ser dada no período de
que trata o mencionado inciso V do art. 73, que é de três meses antes do pleito até a posse dos
eleitos.” (Tribunal Superior Eleitoral - Ac. no 4.248, de 20.5.2003, rel. Min. Fernando Neves.)
10.24. Penalidade
Acarretará a suspensão imediata da conduta vedada, quando for o caso, e sujeitará os responsáveis
a multa no valor de cinco a cem mil UFIRs.
Ficará, outrossim, o candidato beneficiado, agente público ou não, sujeito à cassação do registro ou
do diploma.
Além disso, a prática da conduta vedada pelo inciso V, do artigo 73, da Lei nº 9.504/97 poderá
configurar ato de improbidade administrativa, embora de difícil enquadramento nas hipóteses
previstas na respectiva legislação.
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O assunto é regulamentado pelo inciso VI, “a”, do artigo 73, da Lei nº 9.504/97:
Art. 73...
VI - nos três meses que antecedem o pleito:
a) realizar transferência voluntária de recursos da União aos Estados e Municípios, e dos
Estados aos Municípios, sob pena de nulidade de pleno direito, ressalvados os recursos
destinados a cumprir obrigação formal preexistente para execução de obra ou serviço em
andamento e com cronograma prefixado, e os destinados a atender situações de
emergência e de calamidade pública;
Para que essa conduta seja evitada, o artigo proíbe as transferências voluntárias de recursos da
União para os Estados e Municípios, e dos Estados para os Municípios, nos três meses que
antecedem a data das eleições. Caso haja segundo turno, a vedação estende-se até a realização da
eleição.
É vedada à União e aos estados, nos três meses que antecedem o pleito, a transferência voluntária
de verbas, ainda que decorrentes de convênio ou outra obrigação preexistente, desde que não se
destinem à execução de obras ou serviços já iniciados.
84Tribunal Superior Eleitoral - Ac. no 16.040, de 11.11.99, rel. Min. Costa Porto.)
85AGRAVO REGIMENTAL EM RECLAMAÇÃO nº 266, Acórdão nº 266 de 09/12/2004, Relator(a) Min. CARLOS MÁRIO DA SILVA
VELLOSO, Publicação: DJ - Diário de Justiça, Volume 1, Data 04/03/2005, Página 115 RJTSE - Revista de Jurisprudência do TSE, Volume
16, Tomo 1, Página 21
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O legislador proíbe a transferência voluntária de recursos, mas prevê exceções a essa proibição: a)
acordo ou convênio para execução de obra ou serviço em andamento e com cronograma prefixado;
b) situações de emergência e calamidade pública.
O Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais entendeu que a mera existência de convênio firmado
entre o Estado e o Município com cronograma prefixado de execução de obras seria suficiente para
afastar a caracterização da conduta vedada, entendimento que contraria a jurisprudência do
Tribunal Superior Eleitoral.
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A literalidade do artigo 73, VI, “a”, da Lei nº 9.504/97 indica que é necessária a existência de obras
em andamento, e não apenas de cronograma de execução das obras, para que se configure exceção
à conduta ilícita87.
A comprovação do início físico de uma obra ou serviço público pode se dar mediante apresentação
dos instrumentos de controle e fiscalização dos contratos administrativos previstos na Lei nº.
8.666/93 especialmente no tocante à sua execução tais como cronograma físico-financeiro com
indicação da data de início da obra/serviço, atestes da fiscalização, registros no Diário de Obras,
registros fotográficos datados da época88.
“Ação de investigação judicial eleitoral. Realização de obra no período eleitoral. Abuso do poder
político e de autoridade (art. 73, VI, a, da Lei no 9.504/97). Não-comprovação. Reexame.
Impossibilidade. – A vedação do art. 73, VI, a, da Lei no 9.504/97 compreende a transferência
voluntária e efetiva dos recursos nos três meses que antecedem o pleito, ressalvado o cumprimento
de obrigação formal preexistente para execução de obra ou serviço em andamento e com
cronograma prefixado, e, ainda, os casos de atendimento de situações de emergência e de
calamidade pública.” (Tribunal Superior Eleitoral - Ac. de 15.2.2007 no AgRgREspe no 25.980, rel. Min.
Gerardo Grossi.)
O art. 73, VI, a, da Lei nº 9.504/97 veda a transferência voluntária de recursos nos três meses que
antecedem as eleições, exceto para as obras e serviços que estejam em andamento e com
cronograma prefixado. No caso, não há prova de que os respectivos objetos não estavam
efetivamente em execução na data de sua assinatura. (Recurso Contra Expedição de Diploma nº 698,
Acórdão de 25/06/2009, Relator(a) Min. FELIX FISCHER, Publicação: DJE - Diário da Justiça Eletrônico,
Volume -, Tomo 152/2009, Data 12/08/2009, Página 28/30 RJTSE - Revista de jurisprudência do TSE,
Volume 20, Tomo 4, Data 25/06/2009, Página 21)
87 Agravo de Instrumento nº 62448, Acórdão, Relator(a) Min. Luís Roberto Barroso, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico,
Tomo 216, Data 08/11/2019, Página 103-104
88 Representação n 705, ACÓRDÃO n 27315 de 02/06/2015, Relator(aqwe) RUY DIAS DE SOUZA FILHO, Publicação: DJE - Diário da
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É vedada à União e aos Estados, nos três meses que antecedem o pleito, a transferência voluntária
de verbas, ainda que decorrentes de convênio ou outra obrigação preexistente, desde que não se
destinem à execução de obras ou serviços já iniciados91.
“Art. 73, VI, a, da Lei no 9.504/97. Convênio celebrado com o governo do estado para a pavimentação
de ruas e construção de casas populares. Transferência voluntária de recursos no período vedado,
destinados à execução de obra fisicamente iniciada nos três meses que antecedem o pleito. Res.-TSE
no 21.878, de 2004. À União e aos estados é vedada a transferência voluntária de recursos até que
ocorram as eleições municipais, ainda que resultantes de convênio ou outra obrigação preexistente,
quando não se destinem à execução de obras ou serviços já iniciados fisicamente.” (Tribunal Superior
Eleitoral - Ac. no 25.324, de 7.2.2006, rel. Min. Gilmar Mendes.)
“Consulta. Eleições 2004. Impossibilidade de transferência de recursos entre entes federados para
execução de obra ou serviço que não esteja em andamento nos três meses que antecedem o pleito.
Incidência da vedação do art. 73, VI, a, da Lei no 9.504/97. Decisão referendada pela Corte.” (Tribunal
Superior Eleitoral - Res. no 21.878, de 12.8.2004, rel. Min. Carlos Velloso.)
O estado de emergência se caracteriza pela iminência de danos à saúde e aos serviços públicos. Já
o estado de calamidade pública é decretado quando essas situações se instalam. Cabe ao prefeito
avaliar a situação e decretar emergência ou calamidade, casos em que há possibilidade de obtenção
de recursos federais e estaduais facilitada92.
Na hipótese da alínea “a”, para caracterizar a emergência ou calamidade pública não será necessária
prévia manifestação da Justiça Eleitoral, como ocorre nas alíneas “b” e “c”.
“Consulta. Matéria eleitoral. Parte legítima.” NE: Consulta: “A questão que ora se submete a este
Tribunal é a possibilidade de se liberar recursos para os municípios que não mais se encontram em
situação de emergência ou estado de calamidade, mas que necessitam de apoio para atender os
efeitos, os danos decorrentes dos eventos adversos que deram causa ou à situação de emergência ou
ao estado de calamidade.” “respondo negativamente à consulta para assentar que, por força do
disposto no art. 73, VI, a, da Lei no 9.504/97, é vedado à União e aos estados, até as eleições
municipais, a transferência voluntária de recursos aos municípios – ainda que constitua objeto de
convênio ou de qualquer outra obrigação preexistente ao período – quando não se destinem à
execução já fisicamente iniciada de obras ou serviços, ressalvadas unicamente as hipóteses em que
se faça necessária para atender a situação de emergência ou de calamidade pública.” (Tribunal
Superior Eleitoral - Res. no 21.908, de 31.8.2004, rel. Min. Peçanha Martins.)
“Repasse de recursos em período pré-eleitoral. Conduta vedada. Ressalvas. Lei no 9.504/97, art. 73,
VI, a. 1. A Lei no 9.504/97, art. 73, VI, a, permite o repasse de recursos da União aos estados e
municípios, no período pré-eleitoral, desde que destinados a cumprir obrigação formal preexistente
para execução de obra ou serviço em andamento e com cronograma prefixado, ou para atender
91 Tribunal Superior Eleitoral - Res. no 22.284, de 29.6.2006, rel. Min. Caputo Bastos
92 Fonte: Agência Senado
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Ao contrário das alíneas “b” e “c”, do inciso VI, do artigo 73, da Lei nº 9.504/97, os quais preveem,
respectivamente, que seja “reconhecida pela Justiça Eleitoral” e “a critério da Justiça Eleitoral”.
Essas expressões não se fazem presentes na alínea “a”, razão pela qual não cabe à Justiça Eleitoral
fazer manifestação prévia daquilo que não é previsto em lei federal. A Justiça Eleitoral somente vai
se manifestar caso alguém proponha uma ação judicial acusado da prática de conduta vedada. A
anuência administrativa da Justiça Eleitoral só é obtida para publicidade institucional no caso de
“grave e urgente necessidade pública” ou para fazer pronunciamento em cadeia de rádio e televisão
de matéria urgente, relevante e característica das funções de governo
“Petição. Programa Caminho da Escola. Período eleitoral. Autorização para realização de operação
de crédito. Conduta vedada ao agente público. Art. 73, VI, "a", da Lei nº 9.504/97. Ato administrativo
do poder executivo. Inexistência de previsão legal. Incompetência da Justiça Eleitoral. Não-
conhecimento. 2. A Justiça Eleitoral não é competente para, com base no art. 73, VI, "a", da Lei nº
9.504/97 - dispositivo invocado pela União - autorizar a realização de operação de crédito com vista
a financiar a aquisição de veículos destinados ao transporte escolar, tendo em vista a ausência de
atribuição de tal competência no comando legal. Situação diversa verifica-se nas alíneas "b" e "c" do
cogitado art. 73, VI, as quais expressamente fazem alusão à competência da Justiça Eleitoral em
matéria de propaganda institucional e pronunciamento em cadeia de rádio e televisão,
respectivamente. Entendimento contrário implica admitir a competência da Justiça Eleitoral para
exercer, sem previsão normativa expressa, o controle prévio de legalidade sobre ato administrativo
do Poder Executivo, o que representa violação ao princípio da independência e harmonia entre os
Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário. 3. Pedido de autorização não conhecido.” (Tribunal
Superior Eleitoral - Res. nº 22.931, de 10.9.2008, rel. Min. Felix Fischer.)
11.7. Penalidade
A jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral consagrou o entendimento de que o § 5º do artigo
73 da Lei nº 9.504/97 não configura hipótese de inelegibilidade. Razão pela qual não há que se falar
em sua inconstitucionalidade94.
93 REPRESENTAÇÃO n 661146, ACÓRDÃO n 661146 de 25/10/2010, Relator(aqwe) JOÃO LUÍS NOGUEIRA MATIAS, Publicação: DJE -
Diário de Justiça Eletrônico, Tomo 199, Data 03/11/2010, Página 10
94 AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO nº 6537, Acórdão de 30/06/2009, Relator(a) Min. JOAQUIM BENEDITO
BARBOSA GOMES, Publicação: DJE - Diário da Justiça Eletrônico, Tomo 166, Data 01/09/2009, Página 45/46
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As vedações do inciso VI do caput, alíneas b e c, aplicam-se apenas aos agentes públicos das esferas
administrativas cujos cargos estejam em disputa na eleição. O descumprimento do disposto no
artigo 73, da Lei nº 9.504/97 acarretará a suspensão imediata da conduta vedada, quando for o
caso, e sujeitará os responsáveis a multa no valor de cinco a cem mil UFIR. As multas serão
duplicadas a cada reincidência. A conduta poderá caracterizar, ainda, atos de improbidade
administrativa.
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12. Publicidade institucional dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos
públicos
Nos três meses anteriores à realização das eleições é proibido autorizar e realizar “publicidade
institucional”, exceto: a) a publicidade legal ou obrigatória; b) a propaganda de produtos e serviços
com concorrência no mercado; c) em caso de grave e urgente necessidade, com autorização do Juiz
Eleitoral. Poderíamos incluir mais uma hipótese, vista com certa divergência na jurisprudência dos
tribunais: publicidade de caráter meramente informativo.
Essa conduta vedada está prevista no inciso VI, alínea “b”, do artigo 73, da Lei nº 9.504/97:
Art. 73...
VI - nos três meses que antecedem o pleito:
b) com exceção da propaganda de produtos e serviços que tenham concorrência no
mercado, autorizar publicidade institucional dos atos, programas, obras, serviços e
campanhas dos órgãos públicos federais, estaduais ou municipais, ou das respectivas
entidades da administração indireta, salvo em caso de grave e urgente necessidade
pública, assim reconhecida pela Justiça Eleitoral;
A propaganda eleitoral propriamente dita, que só pode ser efetuada no período de três meses que
antecedem as eleições, tem o objetivo certo e definido de conquistar votos para os candidatos a
cargos eletivos indicados pelos partidos políticos e coligações partidárias. Por sua vez, a propaganda
partidária tem o objetivo impessoal de divulgar o programa dos partidos políticos, suas propostas,
seus eventos, suas atividades congressuais e seus posicionamentos político-comunitários. Não pode
ser veiculada no período reservado às campanhas eleitorais e está expressamente proibida de
transformar em propaganda eleitoral as suas veiculações no horário do rádio e da televisão.
A publicidade institucional é aquela feita pelo Poder Público, com verba pública, devidamente
destinada para este fim, para prestação de conta de suas atividades perante a população, tendo
como objetivo precípuo divulgar as realizações da Administração e orientar os cidadãos sobre
assuntos de seu interesse.
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Publicidade institucional é aquela que divulga ato, programa, obra, serviço e campanhas do governo
ou órgão público, autorizada por agente público e paga pelos cofres públicos. A divulgação de nomes
e números de candidatos não se confunde com propaganda institucional, ainda mais quando não
envolve recursos públicos, já decidiu o Tribunal Superior Eleitoral97.
A ratio essendi da conduta vedada prevista no art. 73, VI, b, da Lei das Eleições consiste em evitar a
utilização oblíqua de propagandas ou publicidades subvencionadas pelo Poder Público, que,
verdadeiramente, objetivam divulgar informações favoráveis a players determinados, de sorte a
vulnerar a igualdade de chances e a macula a higidez da competição eleitoral. (Agravo de Instrumento
nº 95281, Acórdão, Relator(a) Min. Luiz Fux, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Data
04/09/2015, Página 310/311)
Essa vedação atinge apenas os agentes públicos cujos cargos estejam em disputa (art. 73, §3º, Lei
nº 9.504/97).
O que se veda é que a publicação “tenha conotação de propaganda eleitoral”, a qual, portanto, há
de aferir-se segundo critérios objetivos e não conforme a intenção oculta de quem a promova99.
12.4. Autorização
Segundo estabelece o artigo 73, VI, “b”, nos três meses anteriores ao pleito, é proibido “autorizar”
publicidade institucional dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos
federais, estaduais ou municipais, ou das respectivas entidades da administração indireta.
97 (Tribunal Superior Eleitoral - Ac. de 1º.10.2014 no REspe nº 49805, rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura.
98 Tribunal Superior Eleitoral - Ac. de 31.5.2007 no REspe no 25.745, rel. Min. Carlos Ayres Britto.
99 Tribunal Superior Eleitoral - REspe no 19.752/MG, rel. Min. Sepúlveda Pertence).” (Ac. de 16.11.2006 no REspe no 26.875, rel. Min.
Gerardo Grossi; no mesmo sentido o Ac. de 16.11.2006 no REspe no 26.905, rel. Min. Gerardo Grossi.
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Para a conduta vedada prevista na alínea “b” do inciso VI do artigo 73 da Lei nº 9.504/97, há que ser
comprovado o prévio conhecimento do beneficiário. Não é dado ao julgador aplicar a penalidade
por presunção, já que do beneficiário não se exige, obviamente, a prova do fato negativo100.
O dispositivo legal deve ser interpretado de forma extensiva. Não é vedada apenas a “autorização”
da publicidade institucional. O que é vedado é a própria veiculação da publicidade. Esta é que pode
conter propaganda eleitoral velada, principalmente após a admissão da reeleição, para um mandato
consecutivo, dos Chefes dos Poderes Executivos da União, Estados, Distrito Federal e Municípios. O
que se veda é a veiculação de propaganda institucional dessas entidades, e não apenas a autorização
da sua veiculação101.
Para que se configure a conduta vedada no artigo 73, VI, b, da Lei Federal nº 9.504/97, basta a
veiculação da propaganda institucional nos três meses anteriores ao pleito, independentemente da
respectiva autorização ter sido concedida, ou não, nesse período102.
Essa é a posição que atualmente prevalece no Tribunal Superior Eleitoral, isto é, a presunção legal
de autorização da propaganda. Basta a veiculação da propaganda institucional nos três meses
anteriores ao pleito para a caracterização da conduta prevista no artigo 73, VI, “b”, da Lei nº
9.504/97, independentemente do momento em que é autorizada103.
A conduta vedada do artigo 73, VI, “b”, da Lei nº 9.504/97, de proibição de publicidade institucional
nos três meses que antecedem a eleição, possui natureza objetiva e configura-se
independentemente do momento em que é autorizada a publicidade, bastando a sua manutenção
no período vedado. O fato de a publicidade ser veiculada na página oficial do Governo no facebook,
rede social de cadastro e acesso gratuito, não afasta a ilicitude da conduta104.
Por isso que a divulgação no sítio eletrônico da Prefeitura, nos três meses antes do pleito, de notícia
relacionada a programa habitacional a cargo do Poder Executivo local, e ainda com a foto do
prefeito, configura a conduta vedada descrita no artigo 73, VI, “b”, da Lei nº 9.504/97. A lei eleitoral
proíbe a veiculação, no período de três meses que antecedem o pleito, de toda e qualquer
publicidade institucional, excetuando-se apenas a propaganda de produtos e serviços que tenham
concorrência no mercado e os casos de grave e urgente necessidade pública reconhecida pela
100 (Tribunal Superior Eleitoral - Ac. de 1º.10.2014 no REspe nº 49805, rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura.
101 Pedro Roberto Decomain. Eleições – Comentários à Lei nº 9.504/97. Editora Dialética.
102 RECURSO ELEITORAL n 26521, ACÓRDÃO n 07 de 17/12/2012, Relator(aqwe) MARCUS FELIPE BOTELHO PEREIRA, Revisor(a)
MARCELO ABELHA RODRIGUES, Publicação: DJE - Diário Eletrônico da Justiça Eleitoral do ES, Data 14/01/2012
103 Tribunal Superior Eleitoral - Ac. de 1º.12.2009 no AgR-REspe nº 35.517, rel. Min. Marcelo Ribeiro
104 Tribunal Superior Eleitoral Agravo Regimental em Recurso Especial Eleitoral nº 142269, Acórdão de 26/02/2015, Relator(a) Min.
JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 55, Data 20/03/2015, Página 60/61
105 Tribunal Superior Eleitoral Representação nº 81770, Acórdão de 01/10/2014, Relator(a) Min. ANTONIO HERMAN DE
VASCONCELLOS E BENJAMIN, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 200, Data 23/10/2014, Página 16-17
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Justiça Eleitoral. O agente público não pode se eximir da responsabilidade pela publicidade
institucional veiculada em período vedado106.
As condutas elencadas nos incisos do artigo 73 da Lei das Eleições são, por presunção legal,
tendentes a afetar a igualdade de oportunidades entre os candidatos nos pleitos eleitorais107.
“Investigação judicial. Abuso de poder. Uso indevido dos meios de comunicação social. Condutas
vedadas. 1. A infração ao art. 73, VI, b, da Lei nº 9.504/97 aperfeiçoa-se com a veiculação da
publicidade institucional, não sendo exigível que haja prova de expressa autorização da divulgação
no período vedado, sob pena de tornar inócua a restrição imposta na norma atinente à conduta de
impacto significativo na campanha eleitoral. 2. Os agentes públicos devem zelar pelo conteúdo a ser
divulgado em sítio institucional, ainda que tenham proibido a veiculação de publicidade por meio de
ofícios a outros responsáveis, e tomar todas as providências para que não haja descumprimento da
proibição legal.” (Tribunal Superior Eleitoral - Ac. de 29.4.2010 no AgR-REspe nº 35.590, rel. Min.
Arnaldo Versiani.)
“Recursos especiais. Representação. Propaganda institucional veiculada em período vedado. Art. 73,
VI, b, da Lei no 9.504/97. 1. O art. 73, VI, b, da Lei no 9.504/97 veda a veiculação de propaganda
institucional nos três meses anteriores ao pleito, mesmo que tenha sido autorizada antes deste
período. Precedentes da Corte. 2. Para a imposição da multa do art. 73, § 8o, da Lei no 9.504/97, é
imperioso que o candidato tenha sido efetivamente beneficiado pela propaganda ilegal. 3. Primeiro
recurso especial não conhecido. Segundo recurso especial conhecido e provido.” (Tribunal Superior
Eleitoral - Ac. no 21.106, de 8.5.2003, rel. Min. Fernando Neves.)
106 Tribunal Superior Eleitoral Agravo Regimental em Recurso Especial Eleitoral nº 50033, Acórdão de 04/09/2014, Relator(a) Min.
JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 178, Data 23/9/2014, Página 42/43
107 Tribunal Superior Eleitoral Agravo Regimental em Recurso Especial Eleitoral nº 35095, Acórdão de 11/03/2010, Relator(a) Min.
FERNANDO GONÇALVES, Publicação: DJE - Diário da Justiça Eletrônico, Data 14/04/2010, Página 52/53.
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da Lei nº 9.504/97.” (Tribunal Superior Eleitoral - Ac. de 1º.12.2009 no AgR-REspe nº 35.517, rel. Min.
Marcelo Ribeiro.)
A publicidade institucional precisa estar coadunada com a regra do artigo 37, §1º, da Constituição
Federal e somente pode ser produzida para divulgar “atos, programas, obras, serviços e campanhas
dos órgãos públicos e ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, sem nomes,
símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos”.
“Representação por abuso de poder. Propaganda institucional. Arts. 73, VI, b, e 74 da Lei no 9.504/97.
Art. 37, § 1o, da CF. I – O que o art. 73, VI, b, da Lei no 9.504/97, veda é a autorização de propaganda
institucional nos três meses que antecedem o pleito. O dispositivo não retroage para alcançar atos
praticados antes destes três meses. II – A violação ao art. 37, § 1o, c.c. o art. 74 da Lei no 9.504/97,
pela quebra do princípio da impessoalidade, possui contornos administrativos. Deve ser apurada em
procedimento próprio, previsto na Lei no 8.429/92. Verificada a ocorrência da quebra deste princípio
administrativo, é que se poderá apurar seus reflexos na disputa eleitoral. III – O art. 74 se aplica
somente aos atos de promoção pessoal na publicidade oficial praticados em campanha eleitoral.”
(Tribunal Superior Eleitoral - Ac. no 2.768, de 10.4.2001, rel. Min. Nelson Jobim.)
Mesmo a publicidade institucional sendo autorizada e realizada antes do período vedado, ela deverá
ser compatível com o “princípio da impessoalidade” e deverá se limitar a divulgar as ações
governamentais, sem vincular isso a imagem dos agentes públicos e especialmente dos
governantes.
Ademais, como veremos adiante, as despesas com publicidade também impõem restrições de
ordem financeira no primeiro semestre do ano da eleição, conforme o artigo 73, VII, da Lei nº
9.504/97.
108 Tribunal Superior Eleitoral Ac. de 24.10.2006 no REspe no 25997, rel. Min. José Delgado.
109 Recurso Ordinário nº 138069, Acórdão, Relator(a) Min. Admar Gonzaga, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 107,
Data 01/06/2018, Página 71-72
110 Tribunal Superior Eleitoral - Ac. de 7.11.2006 no AgRgREspe no 25.748, rel. Min. Caputo Bastos.
111 Tribunal Superior Eleitoral - Ac. no 25.086, de 3.11.2005, rel. Min. Gilmar Mendes
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Assim é com a publicação de leis, decretos, portarias, decisões, editais de licitação, extratos de
contratos, balanços contábeis e todos os demais atos da Administração que demandam
transparência e amplo conhecimento da população. Os atos que constituem a “publicidade legal”
não estão sujeitos aos impedimentos da Lei de Eleições.
Considera-se publicidade institucional aquela que divulga ato, programa, obra, serviço e campanhas
do governo ou órgão público, autorizada por agente público e paga pelos cofres públicos. Exclui-se
do cálculo da média-limite a “publicidade legal”, por tratar-se de imposição legal e necessária para
atribuir eficácia aos atos do Administrador112.
A única categoria de publicidade de órgãos de governo que se compatibiliza com a regra insculpida
no inciso VII do artigo 73 da Lei nº 9.504/97, sem importar em violação à conduta proibitiva nela
disciplinada, é a "publicidade legal".
A "publicidade legal", de fato, não pode ser contabilizada, para fins de apurar a média de gastos
com publicidade dos órgãos públicos nos três anos que antecedem a eleição, uma vez que os gastos
dela decorrentes são de cunho obrigatório, já que se submetem ao princípio da publicidade dos atos
da Administração Pública, de status constitucional (art. 37, da Constituição da República).
“Representação. Prefeito. Candidato à reeleição. Propaganda institucional. Conduta vedada. Art. 73,
VI, b, da Lei no 9.504/97. Não-configuração. 1. No campo das condutas vedadas, não há qualquer
impedimento a que o Tribunal, à vista do fato, de sua gravidade e de sua repercussão no processo
eleitoral, aja com prudência, cautela e equilíbrio. 2. A intervenção dos tribunais eleitorais há de se
fazer com o devido cuidado para que não haja alteração da própria vontade popular. 3. Em hipóteses
como a presente – em que não houve sequer prova de que o recorrente tenha autorizado a
propaganda institucional no período vedado, mas, ao contrário, que determinou a sua suspensão a
partir de 1o de julho, vale dizer, antes do início do limite temporal a que se refere a Lei Eleitoral –, não
112 RECURSO ELEITORAL n 8595, ACÓRDÃO n 319/2018 de 16/08/2018, Relator(aqwe) ZACARIAS NEVES COÊLHO, Publicação: DJ -
Diário de justiça, Tomo 157, Data 23/08/2018, Página 9-13
113 RECURSO ELEITORAL n 70948, ACÓRDÃO de 21/08/2017, Relator(aqwe) CARLOS ROBERTO DE CARVALHO, Publicação: DJEMG -
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há que se falar na caracterização da conduta vedada prevista no art. 73, VI, b, da Lei no 9.504/97.”
(Tribunal Superior Eleitoral - Ac. no 5.220, de 25.11.2004, rel. Min. Caputo Bastos.)
Nesse sentido, compete ao gestor público, em ação de planejamento, dosar as publicidades "de
outros gêneros" com a "publicidade de utilidade pública", para que o limite de gastos no primeiro
semestre do ano de eleição não extrapole seis vezes a média mensal dos três últimos anos
anteriores ao pleito.
Em se tratando da previsão contida no inciso VII do artigo 73 da Lei nº 9.504/97, não há que se falar
da possibilidade de desconto dos gastos com "publicidade de utilidade pública" para fins de
apuração da média dos gastos com órgãos públicos no primeiro semestre do ano de eleição,
hipótese somente compatível com os gastos com "publicidade legal"114.
114 RECURSO ELEITORAL n 70948, ACÓRDÃO de 21/08/2017, Relator(aqwe) CARLOS ROBERTO DE CARVALHO, Publicação: DJEMG -
Diário de Justiça Eletrônico-TREMG, Data 05/09/2017
115 Tribunal Superior Eleitoral Recurso Especial Eleitoral nº 504871, Acórdão de 26/11/2013, Relator(a) Min. JOSÉ ANTÔNIO DIAS
TOFFOLI, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 40, Data 26/02/2014, Página 38
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Por sua vez, é firme a jurisprudência no sentido de que "nos três meses que antecedem o pleito,
impõe-se a total vedação à publicidade institucional, independentemente de haver em seu conteúdo
caráter informativo, educativo ou de orientação social (art. 37, § 1º, da CF/88), ressalvadas as
exceções previstas em lei (AgR-REspe nº 1440-90/PR, rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em
24/2/2015)" (TSE - Agravo Regimental em Recurso Especial Eleitoral nº 60.845/SC - São José, Rel. Min.
Gilmar Ferreira Mendes, julgado em 28/11/2016 e publicado no DJE de 3/2/2017, Vol. 25, Tomo 25,
p. 120).
Para a configuração da conduta vedada prevista no art. 73, VI, b, da Lei nº 9.504/97, não se faz
necessário que a mensagem divulgada contenha menção expressa ao agente público ou à eleição,
bastando que tenha sido veiculada nos três meses anteriores ao pleito e sem o albergue das exceções
previstas no dispositivo. (Recurso Ordinário nº 506723, Acórdão, Relator(a) Min. Maria Thereza de
Assis Moura, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Data 09/12/2015)
116 Tribunal Superior Eleitoral - Ac. de 5.9.2013 no AgR-REspe nº 52179, rel. Min. Luciana Lóssio.
117 Ac. no 25299, de 6.12.2005, rel. Min. Gilmar Mendes.
118 (Tribunal Superior Eleitoral Ac. de 7.10.2010 no Rp nº 234314, rel. Min. Joelson Dias.
119 Tribunal Superior Eleitoral Agravo Regimental em Recurso Especial Eleitoral nº 144090, Acórdão de 24/02/2015, Relator(a) Min.
JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 55, Data 20/03/2015, Página 54
120 (Tribunal Superior Eleitoral Ac. de 1o.8.2006 no AgRgREspe no 25.786, rel. Min. Caputo Bastos.
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não foram custeados pelo erário, constitui propaganda de natureza eleitoral, não havendo que se
falar na publicidade institucional a que se refere o artigo 73, VI, “b”, da Lei no 9.504/97121.
O mesmo pode ser dito em relação a publicidade institucional que favorece candidato a deputado
estadual ou federal.
É vedado a agentes públicos, nos três meses que antecedem a eleição, realizar propaganda
institucional de atos, programas, obras, serviços e campanhas, excetuadas grave e urgente
necessidade e produtos e serviços com concorrência no mercado (art. 73, VI, b, da Lei 9.504/97). 2.
Essa regra, embora em princípio inaplicável a esferas administrativas cujos cargos não estejam sob
disputa (art. 73, § 3º), não tem natureza absoluta e não autoriza publicidade em benefício de
candidato de circunscrição diversa, em completa afronta ao art. 37, § 1º, da CF/88 e de modo a afetar
a paridade de armas entre postulantes a cargo eletivo.’ (REspe nº 1563-88, Relator Min. Herman
Benjamin, DJE de 17.10.2016). (Ac de 6.3.2018 no Recurso Ordinário nº 222952, rel. Min. Rosa
Weber.)
Hipótese em que o Tribunal de origem, respaldando-se nas provas angariadas durante a instrução
processual, concluiu que, para além da conduta vedada de que trata o art. 73, inciso VI, alínea b, da
Lei nº 9.504/97, também ficou comprovado o abuso do poder de autoridade, por afronta ao art. 37,
§ 1º, da Constituição Federal, levado a efeito pelos agravantes por meio da veiculação não apenas na
conta de Facebook, como também no sítio oficial da Prefeitura de publicidade institucional contendo
clara promoção pessoal em prol de suas candidaturas, com gravidade suficiente para desequilibrar a
disputa eleitoral e, por conseguinte, ensejar a condenação com base no art. 74 da Lei das Eleições c.c.
o art. 22, caput e inciso XIV, da Lei Complementar nº 64/90. Incidência das Súmulas 279 do STF e 7
do STJ. (Agravo Regimental em Recurso Especial Eleitoral nº 24258, Acórdão de 17/12/2014,
Relator(a) Min. MARIA THEREZA ROCHA DE ASSIS MOURA, Publicação: DJE - Diário de justiça
eletrônico, Tomo 24, Data 04/02/2015, Página 116/117)
Mas já decidiu o Tribunal Superior Eleitoral que se não há conotação eleitoreira na publicidade
institucional, não haverá promoção pessoal e abuso de autoridade.
No caso dos autos, a revista e os outdoors custeados pelo prefeito reeleito visando sua autopromoção
e a propaganda institucional veiculada no sítio da Prefeitura não configuram abuso do poder
econômico, notadamente porque não contêm referências ao pleito de 2012 ou aos candidatos
121 Tribunal Superior Eleitoral - Ac. no 25.049, de 12.5.2005, rel. Min. Caputo Bastos
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apoiados pelo chefe do Poder Executivo, não se verificando qualquer proveito eleitoral. [...]” (Ac. de
5.8.2014 no REspe nº 42512, rel. Min. Otávio de Noronha.)
“Representação. Conduta vedada. Publicidade institucional. [...] 2. Esta Corte já afirmou que não se
faz necessário, para a configuração da conduta vedada prevista no art. 73, VI, b, da Lei nº 9.504/97,
que a mensagem divulgada possua caráter eleitoreiro, bastando que tenha sido veiculada nos três
meses anteriores ao pleito, excetuando-se tão somente a propaganda de produtos e serviços que
tenham concorrência no mercado e a grave e urgente necessidade pública, assim reconhecida pela
Justiça Eleitoral. [...]” Neves; no mesmo sentido o Ac. de 4.8.2011 no AgR-AI nº 71990, rel. Min.
Marcelo Ribeiro.)
“Alegada violação do art. 73, VI, b, da Lei no 9.504/97. Distribuição de cartilhas educativas, sobre
alimentação e obesidade, pelo governo federal. Aposição de símbolos de programa governamental e
do próprio governo. Ausência de prova da distribuição no período vedado pela lei.” (Tribunal Superior
Eleitoral - Ac. de 15.8.2006 no AgRgRp no 967, rel. Min. Marcelo Ribeiro.)
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simples recolhimento das cópias eventualmente existentes.” (Tribunal Superior Eleitoral - Ac. de
8.8.2006 no AgRgRp no 947, rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito.)
“Propaganda eleitoral. Não se confunde com a propaganda institucional, regendo-se por normas
distintas. A infringência do disposto no art. 37, § 1o, da Constituição atrai a incidência do que se
contém no art. 74 da Lei no 9.504/97.” NE: Governador, candidato à reeleição, fez propaganda
eleitoral através de folhetos contendo fotos de obras e realizações de seu governo. Continha slogan
do governo e de programas oficiais. O TRE aplicou a multa prevista nos §§ 4o e 6o do art. 73 da Lei no
9.504. Provimento do recurso para julgar improcedente a representação, vez que não se tratou de
propaganda institucional. (Tribunal Superior Eleitoral - Ac. no 15.495, de 29.2.2000, rel. Min. Eduardo
Ribeiro.)
O material impresso que não contém identificação pessoal, direta ou indireta, do candidato ou do
governo que representa, com elogios e artifícios técnicos de convencimento do eleitor, como se
fosse um consumidor de votos, não será considerado como violação ao conceito de publicidade
institucional122.
“Ação de investigação judicial eleitoral. Propaganda institucional. Abuso do poder político. Não-
caracterização.” NE: Alegações de que governador, candidato à reeleição, teria praticado abuso do
poder político consistente em propaganda institucional que divulgou a realização de seminário pela
universidade federal do Acre e pela Embrapa, material que continha slogan do governo. “não há como
se caracterizar a prática do ilícito previsto no art. 73, VI, b, da Lei no 9.504/97, pois as provas, apenas
demonstram que o evento não foi custeado com verba pública. Não há também nenhum indício de
que o Governo do Acre tenha concordado com a inclusão de seu slogan no material de divulgação.
Na inexistência de tais provas, não há como se afigurar a ilicitude.” (Tribunal Superior Eleitoral - Ac.
no 727, de 8.11.2005, rel. Min. Gilmar Mendes.)
“Recurso ordinário. Investigação judicial eleitoral. Art. 22 da Lei Complementar no 64/90. Realização,
em período vedado, de propaganda institucional, com violação do art. 37, § 1o, da Constituição da
República. Apuração de abuso do poder político. Possibilidade. Prova. Exemplar de jornal em que foi
publicada a propaganda. Mera notícia. Não-caracterização. 2. Recurso ordinário a que se deu
provimento” (Tribunal Superior Eleitoral - Ac. no 661, de 6.3.2003, rel. Min. Fernando Neves.)
122 Tribunal Superior Eleitoral - Ac. no 21.307, de 19.2.2004, rel. Min. Fernando Neves.)
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“Propaganda eleitoral extemporânea em jornal (Lei no 9.504/97, art. 36, § 3o). Distribuição de
informativo acerca da atuação da administração municipal. 1. Hipótese de nítida propaganda
institucional, veiculada antes do trimestre anterior à eleição (Lei no 9.504/97, art. 73, § 4o). 2. Recurso
especial conhecido e provido para tornar insubsistente a multa aplicada.” (Tribunal Superior Eleitoral
- Ac. no 2.421, de 14.2.2002, rel. Min. Sepúlveda Pertence.)
Elogios, mesmo que indiretos, aos trabalhos realizados pela equipe, Prefeitura, Governo, não tem
lugar em uma administração impessoal.
É violação ao artigo 37, §1º, da Constituição Federal, divulgar ações de governo em campanha
publicitária, de modo intenso, como se fosse uma empresa particular anunciando um produto,
fugindo da intenção teleológica da publicidade, que é levar ao conhecimento da população as ações
governamentais, sem que isso seja usado para conquistar a opinião da população sobre os méritos
da gestão.
“Ação fundada em infração ao art. 73 da Lei no 9.504/97. Termo final para ajuizamento. Aplicação de
multa. Decretação de inelegibilidade. Cassação de diploma. Publicidade institucional indevida.
Influência no pleito. Reeleição. Abuso do poder econômico. Reconhecimento da prática de
publicidade institucional indevida em benefício de candidato à reeleição. Publicidade intensa,
reiterada e persistente de obras públicas realizadas. Configuração de benefício ao candidato.”
(Tribunal Superior Eleitoral - Ac. de 20.6.2006 no REspe no 25.935, rel. Min. José Delgado.)
“Publicidade institucional. Período de três meses que antecedem o pleito. Se do acórdão proferido
consta a feitura de publicidade institucional nos três meses que antecedem o pleito, sem se verificar
a exceção contemplada na alínea b do inciso VI do art. 73 da Lei no 9.504/97, mostra-se harmônico
com a ordem jurídica acórdão a implicar a glosa, robustecendo-o a notícia de veiculação do nome do
dirigente, em verdadeira promoção pessoal.” (Tribunal Superior Eleitoral - Ac. de 4.4.2006 no Ag no
6.197, rel. Min. Marco Aurélio.)
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Se valendo disso, alguns jornais celebram contratos com o Poder Público para publicação dos atos
oficiais. São remunerados com dinheiro público e, não raramente, o Poder Público é o principal
cliente e mantenedor do jornal impresso. Por diversas vezes o Ministério Público Eleitoral tenta,
levantando provas, demonstrar que as publicações afáveis ao candidato do governo eram realizadas
como contraprestação pelo vultuoso contrato que possui com a Administração.
Abuso do poder político e de autoridade (arts. 74 da Lei no 9.504/97 e 37, § 1o, da Constituição
Federal). Para a configuração do abuso, é irrelevante o fato de a propaganda ter ou não sido
veiculada nos três meses antecedentes ao pleito.” NE: Pelo conjunto fático-probatório dos autos o
TRE se convenceu de ter havido repasse de recursos públicos como pagamento à matéria veiculada
pelo jornal, com infração ao princípio da impessoalidade, caracterizando-se a propaganda
institucional abusiva. (Tribunal Superior Eleitoral - Ac. no 25.101, de 9.8.2005, rel. Min. Luiz Carlos
Madeira.)
“Representação. Prefeito. Candidato à reeleição. Conduta vedada. Art. 73, II e VI, b, da Lei no
9.504/97. Uso de papel timbrado da Prefeitura. Publicidade institucional no período vedado. 4. Para
restar demonstrada a responsabilidade do agente público pelo cometimento do ilícito eleitoral
instituído pelo art. 73, inciso VI, alínea b, da Lei no 9.504/97, é indispensável a comprovação de que o
suposto autor da infração tenha autorizado a veiculação de publicidade institucional nos três meses
que antecedem o pleito. 5. Conforme entendimento contido no Acórdão no 5.565, por se tratar de fato
constitutivo do ilícito eleitoral, cabe ao autor da representação o ônus da prova do indigitado ato de
autorização. 6. Hipótese em que não ficou configurada a potencialidade da conduta vedada para
interferir no resultado das eleições.” (Tribunal Superior Eleitoral - Ac. no 25.073, de 28.6.2005, rel.
Min. Humberto Gomes de Barros.)
“Representação. Condutas vedadas – incisos I e VI, b, do art. 73 da Lei no 9.504/97. Hipóteses não
caracterizadas.” NE: Não se caracteriza propaganda institucional a reunião promovida por prefeito,
candidato a reeleição, no período vedado, com uso de computador da Prefeitura, onde o titular
convidou e reuniu vários eleitores para prestar contas de sua administração e fazer comparações com
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a gestão anterior, comandada por sua atual adversária na disputa eleitoral. (Tribunal Superior
Eleitoral - Ac. no 5.272, de 12.5.2005, rel. Min. Humberto Gomes de Barros, red. designado Min. Luiz
Carlos Madeira.)
O que pode acontecer é a realização de propaganda eleitoral, que dependendo da época em que é
realizada ou da forma como foi custeada por particulares, poderá ser classificada como “abuso do
poder econômico” ou “crime eleitoral”.
“Conduta vedada. Art. 73, VI, b, da Lei no 9.504/97. Propaganda institucional. Carnaval fora de época.
Apoio do governo estadual. Contratação de conjuntos musicais. Abadás. Nome e número de
governadora, candidata à reeleição e de outros candidatos. Não-caracterização de propaganda
institucional. Vestimentas dos brincantes. Fabricação e venda pelos blocos carnavalescos aos
participantes. Multa. Coligação. Impossibilidade. 1. Propaganda institucional é aquela que divulga
ato, programa, obra, serviço e campanhas do governo ou órgão público, autorizada por agente
público e paga pelos cofres públicos. 2. A divulgação de nomes e números de candidatos não se
confunde com propaganda institucional, ainda mais quando não envolve recursos públicos. 2.
Somente a agente público pode ser aplicada a multa por infração à letra b do inciso VI do art. 73 da
Lei no 9.504/97.” (Tribunal Superior Eleitoral - Ac. no 20.972, de 5.11.2002, rel. Min. Fernando Neves.)
“Representação. Conduta vedada (art. 73, IV e VI, b, da Lei no 9.504/97). Não configurada. Cassação
do registro. Impossibilidade. Propaganda divulgada no horário eleitoral gratuito não se confunde com
propaganda institucional. Esta supõe o dispêndio de recursos públicos, autorizados por agentes (art.
73, § 1o, da Lei no 9.504/97). As condutas vedadas julgam-se objetivamente. Vale dizer, comprovada
a prática do ato, incide a penalidade. As normas são rígidas. Pouco importa se o ato tem
potencialidade para afetar o resultado do pleito. Em outras palavras, as chamadas condutas vedadas
presumem comprometida a igualdade na competição, pela só comprovação da prática do ato. Exige-
se, em consequência, a prévia descrição do tipo. A conduta deve corresponder ao tipo definido
previamente. A falta de correspondência entre o ato e a hipótese descrita em lei poderá configurar
uso indevido do poder de autoridade, que é vedado; não ‘conduta vedada’, nos termos da Lei das
Eleições.” (Tribunal Superior Eleitoral - Ac. no 24.795, de 26.10.2004, rel. Min. Luiz Carlos Madeira.)
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“Propaganda institucional. Uso indevido. A propaganda institucional tem o sentido de dar à opinião pública
notícias sobre os atos, programas, obras e serviço da administração, sempre com caráter educativo, informativo
ou orientação social. Hipótese em que a mesma foi desvirtuada pela utilização truncada da imagem do
candidato da oposição.” (Tribunal Superior Eleitoral - Ac. no 15.749, de 4.3.99, rel. Min. Costa Porto.)
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“II – Publicidade institucional de município, supostamente ofensiva ao art. 37, § 1o, CF c.c. art. 74, Lei
no 9.504/97: irrelevante, em tese, a utilização da logomarca da administração – que caracterizaria o
abuso – datar do início da primeira gestão do prefeito candidato à reeleição, quando haja prosseguido
no período eleitoral em que a disputava. III – Recurso especial: questão de fato: afirmada, porém,
pela decisão recorrida que a questionada logomarca não fora utilizada no período eleitoral da disputa
da reeleição, não é o recurso especial a via adequada para o reexame da questão de fato. IV –
Promoção pessoal do governante em publicidade institucional da administração (CF, art. 37, § 1 o):
possibilidade de apuração na investigação judicial ou representação por conduta vedada, à vista do
art. 74 da Lei no 9.504/97, que, embora sustentada com razoabilidade, discrepa da jurisprudência
dominante do TSE – que, sem prejuízo de eventual revisão, não é de reverter em casos residuais de
eleição passada. V – Publicidade institucional em período vedado (Lei no 9.504/97, 73, VI, b):
inexistência na hipótese de simples exposição em logradouro público de ambulância recém-adquirida
pelo município: mecanismo habitual de comunicação, assimilável às inaugurações de obras, que a lei
não veda no período eleitoral, cingindo-se a proibir a participação de candidatos (Lei no 9.504/97, art.
77).” NE: Utilização de símbolo com imagens alusivas ao candidato e ao partido paralelamente ao
símbolo oficial do município; quanto à alegação de impossibilidade de aplicação da Lei no 9.504/97 a
fatos ocorridos antes de sua vigência, entendeu o min. relator que “mutatis mutandis, seria de aplicar
à hipótese o que é pacífico na doutrina, como na jurisprudência, no sentido da incidência da lei penal
mais rigorosa a delitos permanentes ou continuados, cuja comissão, antes iniciada, se estendeu além
de sua entrada em vigor.”; quanto à competência da Justiça Eleitoral, o Tribunal assentou que a
jurisprudência é no sentido de que “ fora do período eleitoral, a infringência ao art. 37, § 1o, da
Constituição, tem caráter administrativo e há de ser apurada, na conformidade da Lei de Improbidade
Administrativa (Lei no 8.429/92), em processo da competência da Justiça Ordinária. ”; por fim, quanto
à exposição da ambulância, ficou decidido que “ É dizer: as inaugurações, em si mesmas, não são
vedadas, o que implica dizer que, para a Lei Eleitoral, não constituem publicidade institucional. Ora,
não há como diferençar a inauguração de obra – que traz consigo a divulgação da sua conclusão pelo
governo – com a exposição pública da ambulância adquirida, como antes se haviam exposto o trator
ou os ônibus.” (Tribunal Superior Eleitoral - Ac. no 19.279, de 6.11.2001, rel. Min. Sepúlveda Pertence.)
Como explica João Fernando Lopes de Carvalho, no livro “Eleições, o que mudou”, a divulgação
positiva em página de relacionado pessoal do candidato exercente de cargo público, para cuja
veiculação não contribuem recursos públicos, não incide na ilicitude.
A proibição apresentada na letra "b" do inciso sob comento procura coibir a propaganda
institucional nos três meses que antecedem ao pleito por considerar que esse ato pode, de alguma
forma, influenciar na vontade do eleitor. Vale dizer que publicidade institucional é aquela oficial,
paga com recursos públicos, que visem de alguma forma dar conhecimento dos atos, obras,
123Recurso Eleitoral nº 060059954, Acórdão, Relator(a) Des. Marcos Lincoln dos Santos, Publicação: DJEMG - Diário de Justiça
Eletrônico-TREMG, Data 21/06/2021
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programas, serviços e campanhas dos órgãos públicos. É oportuno destacar que exaltar as
qualidades do gestor, descrever seu histórico, ou mesmo divulgar seus atos e projetos em página
pessoal de rede social, não transforma as postagens em propaganda institucional, por total ausência
dos requisitos caracterizadores. O Tribunal Superior Eleitoral já decidiu que "é lícito aos cidadãos,
inclusive os servidores públicos, utilizarem-se das redes sociais tanto para criticar quanto para
elogiar as realizações da Administração Pública, sem que tal conduta caracterize, necessariamente,
publicidade institucional"124.
Segundo o Tribunal Superior Eleitoral, a referência a projetos e feitos da Prefeitura, ainda que
conjugados com a imagem do agente público, em perfil pessoal do Facebook e Instagram, estão
albergados sob o manto da livre manifestação do pensamento e expressão assegurados no artigo
5º, incisos IV, IX e no artigo 220, ambos da Constituição Federal e no artigo 57-D da Lei nº 9.504/97,
salvo descumprimentos de outras normas125.
124 Recurso Eleitoral nº 060030973, Acórdão de Relator(a) Des. ROBERTO VIANA DINIZ DE FREITAS_1, Publicação: DJE - Diário de
Justiça Eletrônico, Tomo 199, Data 20/09/2021, Página 48/67
125 RECURSO ELEITORAL nº 060028334, Acórdão de Relator(a) Des. KAMILE MOREIRA CASTRO, Publicação: DJE - Diário de Justiça
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A postagem realizada pelo candidato não se trata de publicidade institucional, já que não há
provas de que a mensagem foi postada na página institucional da Prefeitura de Coluna/MG na
internet. As informações on line foram suspensas em razão do período eleitoral, conforme
noticiado à fl. 14 dos autos. 2. Não há que se cogitar de realização de publicidade institucional
realizada a partir do perfil pessoal do recorrido no Facebook (0000278-78.2016.6.13.0257 RE nº
27878 - COLUNA - MG Acórdão de 08/08/2018 Relator(a) Des. João Batista Ribeiro
Publicação:DJEMG - Diário de Justiça Eletrônico-TREMG, Tomo 155, Data 24/08/2018).
Entretanto, pode ser que, principalmente em Municípios pequenos, o gestor público utilize suas
redes sociais pessoais para a divulgação das ações governamentais, de forma reiterada, regular e
persistente, tornando suas páginas de facebook, instagram, twitter veículos de divulgação de
publicidade institucional. Não há ilegalidade alguma nisso, mas o regime que as redes sociais
particulares serão submetidas é o de Direito Público, devendo respeitar a regra que veda a
promoção pessoal e a publicidade no período eleitoral126.
Uma coisa é alguém do povo promover as ações governamentais da cidade, outra coisa é o próprio
agente público, autor das ações governamentais, se promover em cima do que é feito com dinheiro
público. É uma reflexão que se começa a fazer que vai além da questão eleitoral, para dar efetivo
cumprimento a proibição constitucional do agente público se promover com as realizações do
governo. Proibir promoção pessoal em rede social pública e admitir promoção pessoal em rede
social privada, é negar a lógica da norma constitucional. Não existiria a divulgação das ações
governamentais nas redes sociais privadas se não houvesse o dinheiro público fazendo as obras. Na
rede social privada ocorre uma promoção pessoal privada sobre ações de governo, possíveis porque
usam dinheiro público, que de algum modo tem o agente público dono da rede privada como
responsável pelo processo administrativo que deu origem a obra pública ou ação de governo e que
através disso tenta se promover ou promover alguém. Há um julgado sobre isso, que é do Superior
Tribunal de Justiça - STJ:
126 Igor Pereira Pinheiro. Condutas vedadas aos agentes públicos em ano eleitoral. São Paulo: Editora Mizuno.
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Mas não é só. No livro de Igor Pereira Pinheiro, "condutas vedadas aos agentes públicos em ano
eleitoral" (eleições 2022), 4ª edição, ele menciona que a posição do Superior Tribunal de Justiça é
correta. Bom, Igor Pereira Pinheiro é Mestre e Doutor e é Promotor de Justiça do Ceará,
circunstância importante para entender o posicionamento que o Ministério Público vem
defendendo. Explica o autor o seguinte:
Em primeiro lugar, cumpre salientar que a Constituição Federal de 1988 prescreveu como
proibida a promoção pessoal dos agentes públicos no que diz respeito a divulgação das ações
do ente público ao qual estão vinculados, pouco importando se a ela (divulgação), se deu na
via oficial ou na via privada. Em segundo lugar, não se ignora que um dos principais deveres
do gestor é o de prestar contas e dar publicidade aos seus atos, o que deve ocorrer pelos
canais institucionais, pois para isso que eles foram concebidos: exercer a comunicação dos
atos praticados no âmbito da Administração Pública. Contudo, se o gestor (pré-candidato)
opta por usar suas ferramentas privadas para esse fim de forma constante, não há qualquer
ilegalidade de per si, mas o regime à que estará submetido será o de Direito Público (e não
mais o exclusivamente privado), submetendo-se destarte aos limites constitucionais (artigo
37, §1º) e legais (artigo 73, VI, "b", combinado com o artigo 74, ambos da Lei nº 9.504/97).
Tal é reforçada principalmente quando utilizado o mesmo material do canal oficial, ou
quando ocorre aproveitamento dos servidores para a produção de conteúdo análogo ao que
venha a ser divulgado na via institucional.
É uma linha mais restritiva de interpretação. O adversário, se tiver conhecimento desse julgado, vai
usar para tentar alguma coisa e tumultuar o clima político. Mas ainda é uma interpretação. Não
posso dizer que seja uma tese firmada com repercussão geral. Pode-se indagar qual o propósito de
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um agente público querer divulgar o que ele faz de bom para a população. Eu vejo isso como
promoção pessoal. Se o site da prefeitura publica notícias sobre a inauguração de uma escola, sem
nomes e imagens de agentes públicos, não poderia o site particular divulgar a inauguração da escola
vinculando a uma ação governamental, com referências ao agente público. O rigor do dispositivo
constitucional que assegura o princípio da impessoalidade vincula a publicidade ao caráter
educativo, informativo ou de orientação social e é incompatível com a menção de nomes, símbolos
ou imagens, aí incluídos slogans, que caracterizem promoção pessoal ou de servidores públicos.
Quando se vincula uma ação de governo a imagem ou nome de um agente público, não interessa
se o custeio da publicidade é público ou privado, será sempre promoção pessoal. O §1º, do artigo
37, da Constituição Federal estabelece que a publicidade dos atos, programas, obras, serviços e
campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social,
dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de
autoridades ou servidores públicos. A norma não diz que a divulgação deva ser pública ou particular,
o que a norma estabelece é que a publicidade das ações governamentais não poderá estar vinculada
a nomes, símbolos ou imagens.
Essa interpretação produz duas consequências: a) as redes sociais particulares não podem fazer
promoção pessoal com as ações de governo independentemente do período; b) se as redes sociais
particulares são usadas reiteradamente para divulgação das ações governamentais, não poderão
fazer a publicidade institucional nos três meses anteriores ao pleito, porque ficam equiparadas a
redes públicas.
O agente público, sujeito à penalidade prevista no art. 73, § 4o, da Lei no 9.504/97, é a pessoa física
que age em nome do ente público, e não a entidade em que exerce as funções (Ac. no 1.785, rel. Min.
Eduardo Ribeiro).” (Tribunal Superior Eleitoral - Ac. no 17.197, de 20.2.2001, rel. Min. Fernando
Neves.)
12.34. Potencialidade
A potencialidade não é critério para a condenação pela prática de conduta vedada. A influência que
a publicidade pode causar no convencimento dos eleitores não interessa para que ocorra o fato
típico. O que será levado em consideração pelo julgador é a gravidade do fato, se será caso de multa
ou cassação do registro.
“Conduta vedada. Prefeito. Publicidade institucional. Período proibido. Art. 73, inciso VI, alínea b, da
Lei no 9.504/97. Desnecessidade. Verificação. Potencialidade. Desequilíbrio. Pleito. 2. Não é preciso
aferir se a publicidade institucional teria potencial para afetar a igualdade de oportunidades entre
candidatos nos pleitos eleitorais, na medida em que as condutas descritas pelo legislador no art. 73
127 Tribunal Superior Eleitoral - Ac. no 19.222, de 23.8.2001, rel. Min. Sepúlveda Pertence.
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da Lei das Eleições necessariamente tendem a refletir na isonomia entre os candidatos.” (Tribunal
Superior Eleitoral - Ac. no 21.536, de 15.6.2004, rel. Min. Fernando Neves.)
Propaganda de produtos vendidos ou serviços prestados pela Administração Pública indireta, e que
tenham concorrência no mercado. A publicidade dos produtos do Banco do Brasil e da Caixa
Econômica Federal são permitidas, pois os seus serviços possuem concorrência no mercado.
Serviços monopolizados, tal como o refino de petróleo, estão proibidos de fazer propaganda no
período de três meses anteriores ao pleito;
Caso de grave e urgente necessidade pública, reconhecida pela Justiça Eleitoral. Nos pleitos
municipais, será de competência do Juiz Eleitoral decidir, mediante petição apresentada pelo
representante legal do Município, se é necessária a realização da propaganda eventualmente
pleiteada pelo governo municipal. Isso poderá ocorrer, especialmente, em casos de calamidade
pública provocada por tempestades ou acidentes geológicos, químicos, industriais, ou em
campanhas emergenciais de vacinação ou outra emergência na saúde, vigilância sanitária ou
vigilância epidemiológica.
“Art. 73, VI, b, da Lei nº 9.504/97. Publicidade institucional. Desprovimento. 1. Segundo dispõe o art.
73, VI, b, da Lei das Eleições, é vedada a veiculação de publicidade institucional nos três meses que
antecedem o pleito, salvo em se tratando da propaganda de produtos e serviços que tenham
concorrência no mercado, bem como em caso de grave e urgente necessidade pública, assim
reconhecida pela Justiça Eleitoral.” (Tribunal Superior Eleitoral - Ac. de 20.5.2010 no AgR-AI nº 10804,
rel. Min. Marcelo Ribeiro.)
“A regra, constante da alínea b do inciso VI do art. 73 da Lei no 9.504/ 97, é não se ter publicidade
institucional no período de três meses que antecedem às eleições, surgindo a exceção quando
direcionada a fazer frente a ‘grave e urgente necessidade pública, assim reconhecida pela Justiça
Eleitoral.’” (Tribunal Superior Eleitoral - Res. no 22.260, de 28.6.2006, rel. Min. Marco Aurélio; no
mesmo sentido a resolução no 22.285, de 29.6.2006 do mesmo relator.)
Além disso, conforme o artigo 4º, da Lei nº 14.356/22, não se sujeita às disposições dos incisos VI e
VII do artigo 73 da Lei nº 9.504/97, a publicidade institucional de atos e campanhas dos órgãos
públicos federais, estaduais ou municipais e de suas respectivas entidades da administração indireta
destinados exclusivamente ao enfrentamento da pandemia causada pelo coronavírus SARS-CoV-2 e
à orientação da população quanto a serviços públicos relacionados ao combate da pandemia,
resguardada a possibilidade de apuração de eventual conduta abusiva, nos termos da Lei nº
9.504/97.
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O ilícito do artigo 73, VI, “b”, da Lei 9.504/97 é de natureza objetiva e independe da finalidade
eleitoral do ato para configuração, bastando a mera prática para atrair as sanções legais.
Algumas legislações exigem que as obras públicas possuam uma placa próxima ao passeio público
informando do que se trata a obra, o seu valor e o prazo para conclusão. As informações técnicas
sobre o engenheiro responsável, a empresa responsável e qual fonte de recursos custeia a obra são
indispensáveis. Alguns convênios celebrados entre os entes federativos também exigem esse tipo
de providência, como medida de garantir a transparência nas ações governamentais. Todavia, como
medida de cautela, alguns governos cobrem totalmente as placas no período vedado,
especialmente quando usam cores da administração, ou cobrem as partes que identificam a
diretamente a administração, ou seja, a parte que menciona o Governo do Estado ou do Município,
com ou sem o brasão. A regra é que nada nessas placas poderá identificar a administração nos três
meses anteriores ao pleito: cores, nomes, brasão.
Já decidiu o Tribunal Regional Eleitoral do Espírito Santo que a afixação de placas anunciativas de
obras antes do período vedado, enquanto publicidade institucional, desde que não realizada de
maneira intensa, reiterada e persistente, e sem a prova de que tenham sido afixadas nos três meses
anteriores ao pleito, não caracteriza prática de abuso de poder político131. Porém, se semanas ou
meses antes do início do período vedado a cidade é coberta com placas de obras públicas, com
cores, nomes e símbolos governamentais, isso poderá ser interpretado como abuso do poder
político, embora a prova seja de difícil produção.
128 Tribunal Superior Eleitoral - Ac. de 15.4.2010 no ED-ED-AgR-AI nº 10.783, rel. Min. Marcelo Ribeiro
129 Recurso Especial Eleitoral nº 164177, Acórdão, Relator(a) Min. Henrique Neves Da Silva, Publicação: DJE - Diário de justiça
eletrônico, Data 13/05/2016, Página 74
130 Recurso Especial Eleitoral nº 59297, Acórdão, Relator(a) Min. Luciana Lóssio, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo
WILLIAM COUTO GONÇALVES, Revisor(a) DAIR JOSÉ BREGUNCE DE OLIVEIRA, Publicação: DJE - Diário Eletrônico da Justiça Eleitoral
do ES, Data 25/01/2010, Página 2/3
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O Tribunal Superior Eleitoral tem entendido que configura propaganda institucional vedada a
manutenção de placas de obras públicas colocadas anteriormente ao período previsto no artigo 73,
VI, b, da Lei de Eleições, quando delas constar expressões que possam identificar autoridades,
servidores ou administrações cujos cargos estejam em disputa na campanha eleitoral132. Não
constando essas informações, as placas podem ser mantidas.
A jurisprudência do TSE tem assentado que, "no trimestre anterior ao pleito, é vedada, em obras
públicas, a manutenção de placas que possuam expressões ou símbolos identificadores da
administração de candidato a cargo eletivo" (Agravo Regimental em Agravo de Instrumento nº 9877,
Acórdão de 01/12/2009). 2. A conduta prevista no art. 73, VI, b, da Lei nº 9.504/97 fica caracterizada
independentemente do momento em que a publicidade institucional foi autorizada, desde que a
veiculação tenha ocorrido dentro dos três meses que antecedem a eleição. (Representação n 2210,
ACÓRDÃO n 576/2016 de 14/12/2016, Relator(aqwe) JOSÉ DANTAS DE SANTANA, Publicação: PSESS
- Sessão Plenária, Volume 15:20, Data 14/12/2016)
A existência de placa com slogans do Governo em uma obra de reforma no interior do Estado, durante
os três meses anteriores ao pleito, viola o disposto no art. 73, VI, "b", da Lei nº 9.504/97.
(Representação n 300829, ACÓRDÃO n 300829 de 30/07/2012, Relator(aqwe) SANDRO HELANO
SOARES SANTIAGO, Publicação: DJE - Diário da Justiça Eletrônico, Tomo 154, Data 01/08/2012,
Página 13-14)
É permitida a manutenção das placas de obras públicas de conteúdo técnico informativo, desde que
nela não seja possível identificar a administração do concorrente ao cargo eletivo. Configuração da
publicidade institucional vedada por meio de placas indicativas de atos do governo municipal que
estavam por findar, contendo o slogan da atual gestão em referência direta a atual administração
concorrente ao pleito. (Recurso Eleitoral n 2312, ACÓRDÃO n 26730 de 30/07/2018, Relator(aqwe)
RICARDO GOMES DE ALMEIDA, Publicação: DEJE - Diário de Justiça Eletrônico, Tomo 2700, Data
06/08/2018, Página 3-4)
“Prática de propaganda institucional nos três meses que antecedem ao pleito. Vedação. Art. 73, VI,
b, da Lei nº 9.504/97. Retorno dos autos ao TRE para aferição da responsabilidade da Agravante e da
potencialidade lesiva da conduta ilegal. I - No trimestre anterior ao pleito, é vedada, em obras
públicas, a manutenção de placas que possuam expressões ou símbolos identificadores da
administração de concorrente a cargo eletivo. II - Caracterizada a publicidade institucional em
período vedado, os autos devem retornar ao Tribunal Regional para que aquele órgão, soberano na
apreciação da prova, verifique, como entender de direito, a potencialidade de a conduta ter
interferido no resultado do pleito e, ainda, se os candidatos à reeleição autorizaram, ou não, a
veiculação dos engenhos em época proibida.” (Tribunal Superior Eleitoral - Ac. de 14.4.2009 no
ARESPE nº 26.448, rel. Min. Ricardo Lewandowski.)
132RECURSO ELEITORAL n 43315, ACÓRDÃO n 16197 de 10/12/2012, Relator(aqwe) NELSON LOUREIRO DOS SANTOS, Publicação: DJ
- Diário de justiça, Tomo 254, Data 13/12/2012, Página 03
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A jurisprudência deste Tribunal tem assentado que, no trimestre anterior ao pleito, é vedada, em
obras públicas, a manutenção de placas que possuam expressões ou símbolos identificadores da
administração de candidato a cargo eletivo. (Representação n 108276, DECISÃO n 507/2014 de
23/10/2014, Relator(aqwe) EDIVALDO DOS SANTOS, Publicação: DJE - Diário de Justiça Eletrônico,
Tomo 198/2014, Data 29/10/2014, Página 08/10)
“Propaganda institucional. Obra pública. Solenidade de descerramento de placa inaugural com nome
do chefe do Executivo local. Ausência de violação ao art. 73, VI, b, da Lei no 9.504/97. Proibições
contidas na Lei Eleitoral devem ser entendidas no contexto de uma reserva legal proporcional, sob
pena de violação a outros princípios constitucionais.” (Tribunal Superior Eleitoral - Ac. no 4.592, de
3.11.2005, rel. Min. Gilmar Mendes.)
“Art. 73, VI, b, da Lei no 9.504/97. Autorização e veiculação de propaganda institucional. Basta a
veiculação de propaganda institucional nos três meses anteriores ao pleito para que se configure a
conduta vedada no art. 73, VI, b, da Lei no 9.504/97, independentemente de a autorização ter sido
concedida ou não nesse período.” NE: As placas divulgadoras de obra pública permaneceram afixadas
nos três meses anteriores às eleições. “O que importa é se a propaganda institucional ocorreu ou não
no período vedado, independentemente do fato de ela ter sido realizada em caráter meramente
educativo ou se feita com intenção eleitoral”. (Tribunal Superior Eleitoral - Ac. no 4.365, de
16.12.2003, rel. Min. Ellen Gracie.)
“A permanência das placas em obras públicas, colocadas antes do período vedado por lei, somente é
admissível desde que não constem expressões que possam identificar autoridades, servidores ou
administrações cujos dirigentes estejam em campanha eleitoral (precedente: Recurso na
Representação no 57/98).” (Tribunal Superior Eleitoral - Ac. no 19.323, de 24.5.2001, rel. Min.
Fernando Neves; no mesmo sentido do item 1 da ementa os acórdãos nos 19.326, de 16.8.2001, rel.
Min. Sepúlveda Pertence, e 24.722, de 9.11.2004, rel. Min. Caputo Bastos.)
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Esta Corte já decidiu, em caso similar, que a presença de termos como "mais uma obra do governo"
em placas é o bastante para caracterizar a publicidade institucional vedada (AI 85–42/PR, Rel. Min.
Admar Gonzaga, DJE de 2/2/2018). 4. A teor da moldura fática do aresto a quo, as quatro placas de
obras públicas na sede da Central de Abastecimento do Paraná S.A. (CEASA/PR), nos três meses que
antecederam o pleito, continham não apenas dados técnicos como também as expressões "mais uma
obra"; "Paraná Governo do Estado", a bandeira do Estado e o respectivo brasão, o que configura
conduta vedada e, por conseguinte, autoriza impor multa. (Recurso Especial Eleitoral nº 060229748,
Acórdão, Relator(a) Min. Jorge Mussi, Publicação: DJE - Diário de Justiça Eletrônico, Tomo 181, Data
18/09/2019)
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Art. 73...
VI - nos três meses que antecedem o pleito:
c) fazer pronunciamento em cadeia de rádio e televisão, fora do horário eleitoral gratuito,
salvo quando, a critério da Justiça Eleitoral, tratar-se de matéria urgente, relevante e
característica das funções de governo;
Essa vedação atinge apenas os agentes públicos cujos cargos estejam em disputa, nos termos do
§3º, do artigo 73, Lei nº 9.504/97.
De acordo com o artigo 45, inciso III, da Lei nº 9.504/97 é vedado às emissoras de rádio veicular
propaganda política fora do horário eleitoral gratuito após o encerramento do prazo para as
convenções133.
O núcleo dessa norma é fazer pronunciamento em cadeia de rádio e televisão, fora do horário
eleitoral gratuito. Entrevistas ou pronunciamentos concedidos a apenas um canal de rádio ou de
televisão não configuram pronunciamento em cadeia de rádio e televisão, que é uma transmissão
conjunta geralmente destinada a alguma informação de natureza emergencial.
Essa transmissão em cadeia de rádio e televisão pode ocorrer em função de norma federal, como
acontece com os Chefes dos Três Poderes (Presidente da República, Presidentes da Câmara e do
Senado, Presidente do Supremo Tribunal Federal).
Mas essa cadeia de rádio e televisão também pode ocorrer voluntariamente e informalmente. Pode
acontecer de uma entrevista, ao vivo, diante do interesse da imprensa, ser transmitida em diversos
canais de rádio e televisão, conjunta e simultaneamente. A hipótese é difícil de acontecer, mas se
houver será caracterizada como conduta vedada.
133 Representação nº 06006016820206160044, Acórdão de Relator(a) Des. Thiago Paiva Dos Santos, Publicação: DJ - Diário de justiça,
Tomo DJE, Data 11/06/2021
134 Recurso Eleitoral nº 127, Acórdão, Relator(a) Des. Alice de Souza Birchal, Publicação: DJEMG - Diário de Justiça Eletrônico-TREMG,
Data 01/07/2014
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Consoante o art. 73, II e VI, c, da Lei 9.504/97, é vedado aos agentes públicos usar materiais ou
serviços custeados pelos Governos ou Casas Legislativas que excedam as prerrogativas contidas nos
respectivos regimentos e, ainda, fazer pronunciamento em cadeia de rádio e televisão fora do horário
eleitoral gratuito e sem que reconhecida pela Justiça Eleitoral a excepcionalidade da situação. 3. No
caso dos autos, os discursos foram transmitidos por uma única emissora, não havendo falar em
cadeia de rádio e televisão, além de inexistir prova de que a TV Cidade prestava serviços ou era
remunerada pela Câmara Municipal de Tupã à época dos fatos para veicular as sessões legislativas,
circunstância que não pode ser presumida. 4. Ademais, o art. 73, § 3º, da Lei 9.504/97 dispõe que a
restrição contida na alínea c do inciso VI alcança somente os agentes públicos das esferas
administrativas cujos cargos estejam em disputa na eleição. Ressalva-se, porém, conforme cada caso,
a possibilidade de enquadramento da conduta em outros dispositivos da legislação eleitoral. [...]” (Ac.
de 11.9.2014 no REspe nº 1527171, rel. Min. João Otávio de Noronha.)
“O abuso do poder político requer demonstração de sua prática ter influído no pleito. Não caracteriza
uso indevido dos meios de comunicação entrevista concedida a uma emissora radiofônica que cobriu
o evento.” NE: Alegação de abuso do poder político pela participação em inauguração de obra pública
consistente em solenidade de transferência do endereço de prestação de serviço já em funcionamento
(Lei no 9.504/97, art. 77) e alegação uso indevido dos meios de comunicação mediante
pronunciamento em cadeia de rádio (Lei no 9.504/97, art. 73, VI, c). (Tribunal Superior Eleitoral - Ac.
de 15.8.2006 no RO no 754, rel. Min. José Delgado.)
“Propaganda institucional. Alegação de violação ao art. 73, VI, c, da Lei no 9.504/97. Não
configurada.” NE: Condenação por propaganda antecipada de prefeito que realizou pronunciamento
em rádio, com destaque para as suas obras e para a atuação funcional, fazendo menção à
responsabilidade do eleitor no dia da eleição, bem como exaltando a sua preparação para continuar
a administrar o município. (Tribunal Superior Eleitoral - Ac. no 19.283, de 8.5.2001, rel. Min. Costa
Porto.)
Isso significa que diante de uma situação de urgência, relevância ou função típica de governo, a
Justiça Eleitoral precisa ser previamente consultada, para que esta autorize o pronunciamento nos
termos e condições por ela fixados.
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14.4. Penalidade
Aplica-se apenas aos agentes públicos das esferas administrativas cujos cargos estejam em disputa
na eleição. O descumprimento do disposto neste artigo acarretará a suspensão imediata da conduta
vedada, quando for o caso, e sujeitará os responsáveis a multa no valor de cinco a cem mil UFIR. As
multas serão duplicadas a cada reincidência.
A pena de cassação de registro de candidato, por conduta vedada em face de propaganda indevida,
pode deixar de ser aplicada quando o Tribunal reconhecer que a falta cometida, pela sua pouca
gravidade, não proporcione a sanção máxima, sendo suficiente, para coibi-la, a multa aplicada135.
135RECURSO INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL nº 11046, Acórdão de Relator(a) Des. DANILO FONTENELE SAMPAIO CUNHA,
Publicação: DJ - Diário de justiça, Volume 204, Data 26/10/2007, Página 241/24
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Nos três meses que antecedem o pleito, por força do que estabelece o artigo 73, VI, “b”, da Lei nº
9.504/97, não poderá ser realizada publicidade institucional dos atos, programas, obras, serviços e
campanhas dos órgãos públicos federais, estaduais ou municipais, ou das respectivas entidades da
administração indireta, salvo em caso de grave e urgente necessidade pública, assim reconhecida
pela Justiça Eleitoral.
Nos três meses anteriores a data marcada para as eleições, não será realizada publicidade
institucional.
Acontece que a norma do inciso VII, do artigo 73, traz regra que complementa o conteúdo do inciso
VI, alínea “b”, ao estabelecer os limites de empenhos com publicidade institucional no primeiro
semestre do ano de realização das eleições.
Há duas regras, que se completam e precisam ser analisados em conjunto: a) proíbe-se a publicidade
institucional três meses antes do pleito; b) a publicidade institucional realizada no primeiro
semestre do ano da eleição deve respeitar limites de despesas empenhadas.
O inciso VII apresente componentes relevantes para sua adequada interpretação: a) proibição de
empenhar no primeiro semestre do ano de eleição; b) despesas com publicidade institucional; c)
que excedam seis vezes a média mensal dos valores empenhados e não cancelados nos três últimos
anos que antecedem o pleito.
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cálculo, multiplicando por seis para que, então, obtenha o valor total que poderá ser empenhado
no primeiro semestre do ano de eleição.
Conclusão: No ano de 2024, no exemplo, os empenhos de 1º de janeiro até 30 de junho não poderão
superar o valor total de R$ 60.000,00.
A redação anterior do art. 73, inciso VII, da Lei das Eleições estabelecia como conduta vedada
"realizar, no primeiro semestre do ano de eleição, despesas com publicidade dos órgãos
públicos federais, estaduais ou municipais, ou das respectivas entidades da administração
indireta, que excedam a média dos gastos no primeiro semestre dos três últimos anos que
antecedem o pleito. Com alteração promovida pela Lei nº 14.356, de 31 de maio de 2022, o
dispositivo passou a ter a seguinte redação "empenhar, no primeiro semestre do ano de
eleição, despesas com publicidade dos órgãos públicos federais, estaduais ou municipais, ou
das respectivas entidades da administração indireta, que excedam a 6 (seis) vezes a média
mensal dos valores empenhados e não cancelados nos 3 (três) últimos anos que antecedem
o pleito." Assim, a Lei nº 14.356, de 31 de maio de 2022, ao alterar uma hipótese de
configuração de conduta vedada não é uma alteração legislativa em tema meramente
procedimental, mas verdadeira norma que altera e influi diretamente no processo eleitoral,
posto que veicula conduta vedada aos agentes públicos que afeta "a igualdade de
oportunidades entre candidatos nos pleitos eleitorais". Assim, a nova regra para cálculo da
média de gastos com publicidade institucional prevista na Lei nº 14.356/2022 não poderá ser
aplicada às Eleições 2022.
O empenho, segundo a Lei nº 4.320/64, é o ato emanado de autoridade competente que cria para
o Estado obrigação de pagamento pendente ou não de implemento de condição. Segundo Hely
Lopes Meirelles, a conceituação legal labora em erro, pois a obrigação de pagamento precede o
empenho e resulta da lei ou do contrato gerador da despesa.
O empenho, que se formaliza na denominada “nota de empenho”, não constitui obrigação nem
compromisso de pagamento, pois é obrigação financeira de caráter contábil, visando à reserva do
136
CONSULTA nº 060011796, Acórdão de Relator(a) Des. DAVID SOMBRA PEIXOTO, Publicação: DJE - Diário de Justiça Eletrônico,
Tomo 145, Data 26/07/2022, Página 128-32
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Somente as despesas com publicidade institucional empenhadas é que podem ser consideradas nos
cálculos e, por evidente, excluindo os empenhos cancelados.
15.2. Histórico
O inciso VII, do artigo 73, da Lei nº 9.504/97 sofreu três modificações desde que o texto original
entrou em vigor. Inicialmente, era proibido “realizar, em ano de eleição, antes dos três meses que
antecedem o pleito, despesas com publicidade dos órgãos públicos federais, estaduais ou
municipais, ou das respectivas entidades da administração indireta, que excedam a média dos
gastos nos três últimos anos que antecedem o pleito ou do último ano imediatamente anterior à
eleição”.
Pela Lei nº 13.165/15 o texto original foi alterado para constar que seria proibido “realizar, no
primeiro semestre do ano de eleição, despesas com publicidade dos órgãos públicos federais,
estaduais ou municipais, ou das respectivas entidades da administração indireta, que excedam a
média dos gastos no primeiro semestre dos três últimos anos que antecedem o pleito”.
Acontece que em razão da pandemia provocada pela COVID 19, o Congresso Nacional promulgou a
Emenda Constitucional nº 107/20, criando regra temporária referente os gastos com publicidade e,
desse modo, afastando a aplicação do inciso VII, da Lei nº 9.504/97, para as eleições 2020. Dispôs o
inciso VII, §3º, do artigo 1º, da Emenda Constitucional nº 107/2020, que “os gastos liquidados com
publicidade institucional realizada até 15 de agosto de 2020 não poderão exceder a média dos
gastos dos 2 (dois) primeiros quadrimestres dos 3 (três) últimos anos que antecedem ao pleito, salvo
em caso de grave e urgente necessidade pública, assim reconhecida pela Justiça Eleitoral”.
Por fim, a Lei nº 14.356/22 volta a alterar a redação do inciso VII, do artigo 73, da Lei nº 9.504/97,
para proibir “empenhar, no primeiro semestre do ano de eleição, despesas com publicidade dos
órgãos públicos federais, estaduais ou municipais, ou das respectivas entidades da administração
indireta, que excedam a 6 (seis) vezes a média mensal dos valores empenhados e não cancelados
nos 3 (três) últimos anos que antecedem o pleito”.
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ADI 7178 – Ação Direta de Inconstitucionalidade – Supremo Tribunal Federal – STF - Decisão: O
Tribunal, por maioria, concedeu parcialmente a medida cautelar pleiteada para, conferindo
interpretação conforme a Constituição à Lei 14.356/2022, estabelecer que, por força do princípio da
anterioridade eleitoral (art. 16 da CF), a mesma não produz efeitos antes do pleito eleitoral de outubro
de 2022, nos termos do voto do Ministro Alexandre de Moraes, Redator para o acórdão, vencidos os
Ministros Dias Toffoli (Relator), Luiz Fux (Presidente), Nunes Marques e André Mendonça, que
indeferiam a cautelar.
a) segundo a jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral, “[o] ‘telos’ subjacente à conduta vedada
encartada no artigo 73, VII, da Lei das Eleições é interditar práticas tendentes a afetar a igualdade
de oportunidades entre os candidatos” (Ac. de 21/2/17 no AgR-REspe nº 23.144, Rel. Min. Luiz Fux)
e o verbo “realizar” empregado no dispositivo em comento corresponde ao momento da liquidação
da despesa, a qual consiste na “verificação do direito adquirido pelo credor tendo por base os títulos
e documentos comprobatórios do respectivo crédito”;
b) na redação original da Lei nº 9.504/97, o parâmetro da despesa com publicidade era a “média
dos gastos nos três últimos anos que antecedem o pleito ou do último ano imediatamente anterior
à eleição”, mas, em ano eleitoral, só é permitida a veiculação de publicidade institucional no
primeiro semestre, de modo que parecia haver uma distorção, porquanto a média anual seria o
limite para a aplicação de recursos em um único semestre;
c) a Lei nº 13.165/15 modificou o parâmetro de despesa, ao passar a prever “a média dos gastos no
primeiro semestre dos três últimos anos que antecedem o pleito” e, de forma coerente, passou a
adotar como critério a média semestral como parâmetro para a aferição de um limite de gastos
semestral;
d) a Lei nº 14.356/22 originou-se do Projeto de Lei nº 4.059, de 2021, tendo sua motivação
relacionada com precedente legislativo recente, qual seja, a Emenda Constitucional nº 107/20, que,
promulgada em 2 de julho de 2020, dispôs a respeito da aplicação do mesmo artigo 73, VII, da Lei
nº 9.504/97, estabelecendo que
“os gastos liquidados com publicidade institucional realizada até 15 de agosto de 2020 não
poderão exceder a média dos gastos dos 2 (dois) primeiros quadrimestres dos 3 (três)
últimos anos que antecedem ao pleito, salvo em caso de grave e urgente necessidade
pública, assim reconhecida pela Justiça Eleitoral”;
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e) em relação ao texto do inciso VII da Lei nº 9.504/97 então vigente, a legislação alterou dois
pontos: (i) o parâmetro do limite de gastos e (ii) a fase da despesa considerada de “liquidação” para
“empenho”;
g) isso porque o texto anterior, ao considerar a média do primeiro semestre dos três últimos anos,
permitia ao gestor “inflar” artificialmente o limite, concentrando as despesas com publicidade dos
anos anteriores no primeiro semestre;
h) o multiplicador de seis vezes não deve causar estranhamento, porque a média adotada passou a
ser mensal, de modo que, multiplicada por seis, gera um parâmetro semestral, ponto que foi
esclarecido pela Relatora, Deputada Celina Leão;
i) também se modificou a fase da despesa considerada (de “liquidação” para “empenho”), sendo
que o empenho consiste no “ato emanado de autoridade competente que cria para o Estado
obrigação de pagamento pendente ou não de implemento de condição”;
k) a nova lei prevê expressamente como parâmetro os “valores empenhados e não cancelados”, de
modo a mitigar a possibilidade de manipulação burocrática do limite, buscando-se evitar a mudança
casuística do comportamento do administrador no ano eleitoral em relação aos anos que o
antecedem;
l) se tal comportamento não se altera, não há que se falar em desequilíbrio, e a mera mudança do
critério de aferição do limite de gasto na propaganda não implicaria, a priori, inconstitucionalidade
material;
m) eventuais práticas abusivas continuariam sendo examinadas pela Justiça Eleitoral, como tantas
outras modalidades de abuso, conforme os contornos dos casos concretos;
Segundo decidiu o Supremo Tribunal Federal, a ampliação dos limites para gasto com publicidade
institucional pode impactar significativamente nas condições de disputa eleitoral, pois implica
controle menos rigoroso de condutas que a legislação eleitoral vigente até a edição da lei
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impugnada tratou como fatores de risco para a regularidade dos processos eleitorais. Pela nova
redação do art. 73, VII, da Lei das Eleições, a conduta vedada no primeiro semestre de ano eleitoral
passa a ser o empenho, e não a realização, de despesa pública com publicidade, até o limite agora
apurado pela média dos valores empenhados e não cancelados nos três anos anteriores,
multiplicado por 6 (seis) vezes, atualizados monetariamente pelo INPC. E ficam excluídos desses
limites a publicidade com determinadas ações governamentais, descritas no art. 4º da Lei
14.356/2022 como “atos e campanhas dos órgãos públicos federais, estaduais ou municipais e de
suas respectivas entidades da administração indireta destinados exclusivamente ao enfrentamento
da pandemia causada pelo coronavírus SARS-CoV-2”, bem como a “orientação da população quanto
a serviços públicos relacionados ao combate da pandemia”.
A expansão do gasto público com publicidade institucional às vésperas do pleito eleitoral poderá
configurar desvio de finalidade no exercício de poder político, com reais possibilidades de influência
no pleito eleitoral e perigoso ferimento a liberdade do voto (CF, art. 60, IV, b); ao pluralismo político
(CF, art. 1º, V e parágrafo único), ao princípio da igualdade (CF, art. 5º, caput) e a moralidade pública
(CF, art. 37, caput).
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a distribuição de publicidade institucional efetuada nos meses permitidos em ano eleitoral deve ser
feita no interesse e conveniência da Administração Pública137. Mesmo nos meses permitidos deverá
presar pela proporcionalidade e razoabilidade nas despesas.
15.8. Penalidade
Assim como as demais condutas vedadas previstas no artigo 73, da Lei nº 9.504/97, a violação a
regra de limite de empenhos para despesas com publicidade no primeiro semestre no ano de eleição
resultará na aplicação de multa, cassação do registro ou diploma e ato de improbidade
administrativa (art. 73, §5º, §6º, §7º, Lei nº 9.504/97).
137Tribunal Superior Eleitoral - AGRAVO DE INSTRUMENTO nº 2506, Acórdão nº 2506 de 12/12/2000, Relator(a) Min. FERNANDO
NEVES DA SILVA, Publicação: DJ - Diário de Justiça, Volume 1, Data 27/04/2001, Página 234 RJTSE - Revista de Jurisprudência do TSE,
Volume 12, Tomo 4, Página 133
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Art. 73. São proibidas aos agentes públicos, servidores ou não, as seguintes condutas
tendentes a afetar a igualdade de oportunidades entre candidatos nos pleitos eleitorais:
VIII - fazer, na circunscrição do pleito, revisão geral da remuneração dos servidores públicos
que exceda a recomposição da perda de seu poder aquisitivo ao longo do ano da eleição,
a partir do início do prazo estabelecido no art. 7º desta Lei e até a posse dos eleitos.
Pela norma acima, é proibido conceder revisão geral de remuneração que supere a inflação
acumulada para o período. A simples recomposição salarial decorrente da inflação e nos limites
dela, não é vedada. A proibição atinge apenas o aumento real de salário, que exceda os percentuais
de inflação. Além disso, essa conduta vedada somente é aplicada nos 180 dias antes da realização
das eleições e até a posse dos eleitos. Para as eleições municipais de 2024, a serem realizadas no
dia 6 de outubro, os 180 dias anteriores indicam que a partir de 9 de abril de 2024 o aumento real
de salário é vedado aos servidores públicos. O aumento real somente será possível se for em data
anterior a 9 de abril de 2024.
16.1. Vencimentos
É espécie de remuneração e corresponde à soma do vencimento e das vantagens pecuniárias,
constituindo a retribuição pecuniária devida ao servidor pelo exercício do cargo público. O
vencimento corresponde ao padrão do cargo público fixado em lei, enquanto vencimentos são
representados pelo padrão do cargo (vencimento) acrescido dos demais componentes do sistema
remuneratório do servidor público da Administração direta, autárquica e fundacional138.
138
Hely Lopes Meirelles. Direito Administrativo Brasileiro. 24ª edição. São Paulo: Malheiros, 1990, pag. 425.
139
Recurso Ordinário nº 763425, Acórdão, Relator(a) Min. João Otávio De Noronha, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico,
Tomo 92, Data 17/05/2019, Página 16-17)
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Pelo inciso X, do artigo 37, da Constituição Federal, alterado pela Emenda Constitucional nº 19, a
remuneração dos servidores públicos e o subsídio de que trata o § 4º do art. 39 somente poderão
ser fixados ou alterados por lei específica, observada a iniciativa privativa em cada caso, assegurada
revisão geral anual, sempre na mesma data e sem distinção de índices.
Segundo Maria Sylvia Zanella Di Pietro, as inovações introduzidas pela Emenda Constitucional nº 19
no inciso X foram: a) a expressa referência à necessidade de lei específica para a fixação ou alteração
da remuneração e dos subsídios; b) previsão de revisão anual como direito do servidor.
Pelo artigo 39, § 1º, inciso I, da Constituição Federal, a fixação dos padrões de vencimento e dos
demais componentes do sistema remuneratório observará a natureza, o grau de responsabilidade
e a complexidade dos cargos componentes de cada carreira.
E pelo artigo 169, §1º, também da Constituição Federal, a concessão de qualquer vantagem ou
aumento de remuneração, a criação de cargos, empregos e funções ou alteração de estrutura de
carreiras, bem como a admissão ou contratação de pessoal, a qualquer título, pelos órgãos e
entidades da administração direta ou indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas pelo poder
público, só poderão ser feitas se houver prévia dotação orçamentária suficiente para atender às
projeções de despesa de pessoal e aos acréscimos dela decorrentes.
A revisão geral da remuneração dos servidores públicos e o subsídio serão fixados ou alterados por
lei, mas essa revisão geral precisará atender também o que estabelece outros artigos da própria
Constituição, levando em consideração as caraterísticas de cada cargo e a dotação orçamentária.
Por isso que existem diversos julgados que impedem ao Poder Judiciário impor aos demais entes
públicos a obrigação de promover a revisão geral anual. Ela é um direito do servidor previsto
constitucionalmente, mas que precisa ser interpretado em consonância com outras normas que não
aceitam a concessão de qualquer vantagem ou aumento de remuneração, se não houver prévia
dotação orçamentária.
Tendo em conta que sobredito dispositivo se refere a índice e a anualidade, deduz-se que a revisão
geral anual é para repor a inflação dos doze meses anteriores, recuperando o poder de compra de
salários e subsídios. Assim, revisão ou reajuste nada têm a ver com aumento real, ou seja, aumento
acima da inflação.
Explica Maria Sylvia Zanella Di Pietro que a revisão anual, presume-se que tenha por objetivo
atualizar as remunerações de modo a acompanhar a evolução do poder aquisitivo da moeda. Se
assim não fosse, não haveria razão para tornar obrigatória a sua concessão anual, no mesmo índice
e na mesma data para todos.
Acontece que o artigo 73, VIII, da Lei nº 9.504/97 veda aos agentes públicos “fazer, na circunscrição
do pleito, revisão geral da remuneração dos servidores públicos que exceda a recomposição da perda
de seu poder aquisitivo ao longo do ano da eleição, a partir do início do prazo estabelecido no artigo
7º da Lei nº 9.504/97 e até a posse dos eleitos.
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O Tribunal Superior Eleitoral, interpretando o inciso VIII, do artigo 73, da Lei nº 9.504/97 considera
que a vedação legal apanha o período de 180 (cento e oitenta dias) que antecede as eleições até
posse dos eleitos. O prazo do artigo 7º, §1º, da Lei nº 9.504/97, ao qual faz alusão o inciso VIII, do
artigo 73, é o prazo de 180 dias140.
Logo, a revisão geral da remuneração dos servidores públicos será sempre possível no ano de
eleição, cumprindo o artigo 37, inciso X, da Constituição Federal. Porém, essa revisão geral não
poderá superar o índice inflacionário no ano de eleição. Deverá apenas recompor as perdas
inflacionárias. Caso a revisão geral extrapole a inflação acumulada no período, não será uma simples
recomposição das perdas inflacionárias, mas verdadeiro aumento real de remuneração, o que é
vedado nos 180 dias que antecedem o pleito e até a posse dos eleitos.
Esse prazo de 180 dias somente se aplica para aumento real de salário, a mera recomposição não
sofre essa limitação temporal141.
Desse modo, aumento real de salário somente até o 180º dia anterior a data da eleição, enquanto
a recomposição inflacionária realiza-se anualmente, na data estabelecida na legislação e já comum
nos anos anteriores, podendo ocorrer até às vésperas das eleições.
Acontece que o legislador disse que a recomposição é a perda do poder aquisitivo da remuneração
do funcionalismo público ao “longo do ano da eleição”. Pode-se daí concluir que essa revisão geral
mencionada na Lei nº 9.504/97 não é a mesma que figura na Constituição Federal, no artigo 37,
inciso X. A revisão geral da Lei de Eleições não se refere à anualidade de doze meses, mas, sim, à
perda aquisitiva ao longo do ano da eleição.
A recomposição inflacionária pode ser concedida em dois períodos distintos no ano eleitoral:
A recomposição realizada antes dos 180 dias da eleição, somente pode captar a inflação a partir de
1º de janeiro do ano da eleição e, não, a variação inflacionária dos 12 meses anteriores. Caso a
Administração Pública decida conceder um percentual de aumento superior ao valor apurado no
“ano da eleição”, incluindo o período de doze meses anteriores, o ato administrativo não será ilegal,
140Tribunal Superior Eleitoral - Res. no 22.252, de 20.6.2006, rel. Min. Gerardo Grossi.
141(CONSULTA n 30506, ACÓRDÃO de 11/05/2010, Relator(aqwe) PAULO OCTAVIO BAPTISTA PEREIRA, Publicação: DJESP - Diário da
Justiça Eletrônico do TRE-SP, Data 20/05/2010, Página 21)
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mas deverá ser qualificado como aumento real de salário, que é permitido, desde que realizado 180
dias antes do pleito. A recomposição deve respeitar a inflação. O reajuste real de salário é acima da
inflação e este será admitido, desde que o ato administrativo ocorra 180 dias antes da eleição.
A recomposição realizada dentro do período de 180 dias antes da eleição, portanto, somente pode
captar a inflação a partir de 1º de janeiro do “ano da eleição”, sendo neste período vedado aumento
real de salário ou recomposição da variação inflacionária dos 12 meses anteriores.
Vai aí um exemplo: na recomposição salarial em maio de ano eleitoral, o índice só agrega a inflação
de janeiro a maio de tal exercício e, não, a oscilação do custo de vida de maio do ano anterior a maio
do ano corrente (12 meses). Os meses do ano anterior ao da eleição serão objeto de recomposição
salarial futura, no ano seguinte, após a posse dos eleitos.
À luz do exposto, em cada ano eleitoral, é permitida, até o 180° dia anterior a data da eleição, revisão
geral para todo o funcionalismo público, com base em índice de reajuste superior ao da inflação.
Após esse prazo, é permitida revisão geral para todo o funcionalismo público, com base em índice
oficial e limitada ao período compreendido entre 1º de janeiro do ano eleitoral e a data da efetiva
concessão.
A posição defendida pelo Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais é que embora o legislador
tenha mencionado que a recomposição da perda do seu poder aquisitivo ocorra ao longo do ano da
eleição, na verdade quis se referir apenas ao período anterior à data prevista para a recomposição
inflacionária e não a inflação supostamente prevista para o ano da eleição.
O Tribunal de Contas do Estado de São Paulo vem decidindo pela possibilidade de ser incluído o
período inflacionário do ano anterior ao da eleição:
O Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso, entretanto, adota a tese que a recomposição é da
perda inflacionária no ano da eleição:
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(...) é vedado aos agentes públicos o disposto no inciso VIII, do artigo 73 da Lei 9.504/97, ou
seja, a concessão de revisão geral e anual da remuneração de servidores públicos em ano
eleitoral, sendo que desde 8 de abril até a posse dos eleitos, somente é lícita a revisão que se
restrinja à recomposição do poder aquisitivo ao longo do ano eletivo, correspondendo à
perda do poder aquisitivo a partir de 1º de janeiro até a data da concessão.
Sobre o tema, ensina a Ministra Cármen Lúcia Antunes Rocha: a norma modificada e inserida no
artigo 37, X, in fine, fortaleceu-se com a Emenda Constitucional nº 19/98, porque se estabeleceu,
ao lado do dever estatal de processar a revisão de determinada forma (genericamente, na mesma
data e com idêntico índice), o direito funcional de ter aquela revisão anualmente.
Acerca da matéria, registre-se precedente do Supremo Tribunal Federal que, ao julgar a ADI n.
2.061/DF14, da relatoria do Ministro Ilmar Galvão, reconheceu a mora legislativa do Presidente da
República por não encaminhar projeto de lei para a revisão geral da remuneração dos servidores da
União. Diante disso, levando em consideração a finalidade do instituto de manter o poder aquisitivo
da moeda em face da inflação, a recomposição baseada em período inflacionário superior a um ano
configura direito subjetivo do agente público destinatário da norma, consubstanciando verdadeiro
poder-dever do Estado restabelecer o valor da remuneração e dos subsídios em razão das perdas
inflacionárias. Ademais, o percentual de correção deve abarcar todo o período inflacionário em que
não se promoveu a atualização da remuneração. Em resumo, a retroatividade da recomposição,
entendida nos termos aqui tratados, mostra-se possível na hipótese de a unidade política não haver
respeitado a periodicidade anual prevista para a revisão geral da remuneração, devendo ser
concedida com base no período equivalente ao intervalo de tempo em que os agentes públicos
permaneceram sem a atualização da sua remuneração142.
Entretanto, há divergências sobre o assunto. Um dos maiores notáveis sobre Direito Eleitoral, o
Procurador da República Dr. Luiz Carlos dos Santos Gonçalves considera que em matéria eleitoral a
interpretação deve ser restritiva e, portanto, a norma contida no artigo 73, inciso VIII, da Lei nº
9.504/97 deve ser aplicada na sua literalidade. O legislador disse que a recomposição é a perda de
seu poder aquisitivo ao longo do ano da eleição. Disse, “ao longo do ano da eleição”. Qualquer
recomposição realizada no ano de 2024 deverá considerar unicamente a inflação acumulada nos
meses anteriores dentro do ano de 2024. Eventual remanescente de recomposição da remuneração
dos servidores referentes aos meses de 2023, ou até mesmo anos anteriores, somente poderá ser
feito a partir de 2025. Segundo o Dr. Luiz Carlos essa regra, adotada em julgados do Tribunal
Superior Eleitoral, tem o seu sentido de ser na garantia do equilíbrio do pleito eleitoral, citando
como exemplo, uma dada categoria de servidores que acumule perda inflacionária de vários anos,
em razão das recomposições feitas ano a ano terem sido apenas parciais. Imagine se o gestor público
decide no ano de eleição, em que ele concorre a uma reeleição, conceder a recomposição de todos
os anos, agradando os servidores e suas famílias, além do comércio local impulsionado por uma
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Há decisões divergentes no Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro, ora decidindo que a
recomposição deve abranger os doze meses anteriores, ora decidindo que essa recomposição é
apenas no ano da eleição. Vejamos:
No presente caso, a conduta vedada não restou caracterizada, visto que a revisão da remuneração
limitou-se à recomposição da perda do poder aquisitivo dos servidores municipais nos últimos 12
meses, em consonância com o disposto na legislação municipal e no art. 37, X, da CRFB. (RECURSO
ELEITORAL n 59665, ACÓRDÃO de 07/02/2018, Relator(aqwe) CRISTINA SERRA FEIJÓ, Publicação:
DJERJ - Diário da Justiça Eletrônico do TRE-RJ, Tomo 034, Data 20/02/2018, Página 11/12)
Vedada a modificação na remuneração dos servidores públicos, ficando essa restrita à recomposição
da perda de seu poder aquisitivo ocorrida ao longo do ano da eleição, ou seja, unicamente àquela
ocorrida ao longo de 2008. (CONSULTA n 314, ACÓRDÃO n 34.460 de 05/06/2008, Relator(aqwe)
JACQUELINE LIMA MONTENEGRO, Publicação: DOERJ - Diário Oficial do Estado do Rio de Janeiro,
Volume III, Tomo II, Data 24/06/2008, Página 03)
E o Tribunal Regional Eleitoral do Paraná também indica que essa revisão geral deverá recompor a
inflação apenas do ano da eleição:
CONSULTA. REVISÃO GERAL DA REMUNERAÇÃO DOS SERVIDORES PÚBLICOS. TERMO A FINAL. À vista
das eleições municipais de 2000, a revisão geral dos servidores públicos que exceda a recomposição
da perda de seu poder aquisitivo tem termo final no dia 04 de abril deste ano. Após essa data, tal
recomposição fica limitada ao índice inflacionário deste ano de 2000. (CONSULTA n 041, ACÓRDÃO n
23688 de 29/05/2000, Relator(aqwe) DR. CESAR ANTONIO DA CUNHA, Publicação: dj -, Data
12/06/2000, Página 0)
O Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo, em resposta a uma consulta, mencionou que a
recomposição da perda inflacionária abrange o ano da eleição e que “em ano eleitoral, se a revisão
geral da remuneração exceder a reposição da perda inflacionária, poderá ser iniciada, desde que
respeitado o prazo supramencionado, ou seja, de 180 dias”143.
Segundo recente pronunciamento do Supremo Tribunal Federal, a vedação prevista no artigo 73,
inciso VIII expressamente prescreve ‘revisão geral da remuneração dos servidores públicos que
exceda a recomposição da perda de seu poder aquisitivo ao longo do ano da eleição’, a ‘revisão
geral’ prescrita na referida lei faz alusão à Constituição Federal, em seu inciso X, artigo 37. Assim,
denota-se que em determinado período eleitoral, a revisão geral constitucionalmente prevista
encontra limite de sua aplicabilidade, em vista da observância do índice inflacionário, diante do
artigo 73, inciso VIII, da Lei nº 9.504/97. Decorre do artigo a fixação de um período vedado, em que
se proíbe a revisão geral que exceda a perda inflacionária verificada ao longo do ano da eleição. Isso
se dá a fim de evitar que o chefe do Poder Executivo utilize a máquina estatal para a elaboração da
143
Consulta nº 12917, Acórdão, Relator(a) Des. Luiz Guilherme da Costa Wagner Junior, Publicação: DJESP - Diário da
Justiça Eletrônico do TRE-SP, Data 12/07/2016
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lei específica prevista no inciso X, artigo 37, da Constituição Federal - como forma de angariar votos,
prejudicando a igualdade entre os candidatos. Vejamos trecho do acórdão de relatoria do Ministro
André Mendonça sobre a revalorização/reajuste dos servidores da Assembleia Legislativa do Estado
de São Paulo no período vedado em percentual acima da inflação apurada no “ano da eleição”:
16.4. Recomposição
Na circunscrição do pleito, é proibida a concessão de aumento real de vencimento aos servidores
públicos, que excedam a recomposição do seu poder aquisitivo decorrente da inflação ao longo do
ano da eleição. A recomposição consiste na correção monetária salarial, de acordo com os índices
de inflação, sem resultar em lucro, isto é, aumento real de salário acima da inflação. A recomposição
limita-se a restaurar o poder de compra do salário, corroído pelos custos suportados pela constante
inflação. A sua vigência tem início 180 dias antes do pleito e se estende até a posse dos eleitos 144.
As instâncias ordinárias entenderam presente o abuso do poder político em face da edição de lei, de
iniciativa do então prefeito, por meio da qual houve recomposição de remuneração que em muito
excedeu as perdas inflacionárias e beneficiou 147 servidores, conclusão fática irreversível em recurso
especial. Manutenção do abuso do poder político. (Recurso Especial Eleitoral nº 32372, Acórdão,
Relator(a) Min. Admar Gonzaga, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 65, Data
04/04/2019, Página 64/65)
O que o dispositivo proíbe, portanto, é a concessão geral de aumentos reais de remuneração dos
servidores públicos. Reajustes meramente inflacionários, para reposição da perda do poder
aquisitivo ao longo do ano da eleição, estes são admitidos. Aliás, não apenas os reajustamentos
meramente inflacionários para cobrir as perdas havidas durante o próprio ano da eleição, mas
144 Tribunal Superior Eleitoral - Res. no 22.252, de 20.6.2006, rel. Min. Gerardo Grossi
171
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também aquelas havidas em anos anteriores, são autorizados, contanto que realizadas 180 dias
antes da data marcada para as eleições. O que não se permite é aumento real de salários. Conceder
aumentos além da inflação pretérita, havida até o momento da concessão, ao pretexto de que
seriam destinados a cobrir expectativas de inflação futura, até a posse dos novos eleitos, também
não se admite.
“Consoante dispõe o art. 73, inciso VIII, da Lei no 9.504/97, é lícita a revisão da remuneração
considerada a perda do poder aquisitivo da moeda no ano das eleições.” (Tribunal Superior Eleitoral
- Res. no 22.317, de 1o.8.2006, rel. Min. Marco Aurélio.)
“Consulta. Servidores. Vencimentos. Recomposição. Limites. Conhecimento”. NE: “o art. 73, VIII, Lei
no 9.504/97, impõe limites claros à vedação nele expressa: a revisão remuneratória só transpõe a
seara da licitude, se exceder ‘a recomposição da perda de seu poder aquisitivo ao longo do ano da
eleição’, a partir da escolha dos candidatos até a posse dos eleitos”. (Tribunal Superior Eleitoral - Res.
no 21.811, de 8.6.2004, rel. Min. Humberto Gomes de Barros.)
O Tribunal Regional Eleitoral do Amazonas também exclui a recomposição pela perda inflacionária
das condutas vedadas no ano eleitoral:
A revisão geral da renumeração para caracterizar a conduta vedada prevista no art. 73, VIII da Lei nº
9.504/07, tem que ser aquela que excede à mera reposição salarial, que configura uma vantagem
aos servidores capaz de gerar um desequilíbrio no pleito eleitoral. (RECURSO ELEITORAL nº
06005535320206160192, Acórdão de Relator(a) Des. Rogério De Assis, Publicação: DJ - Diário de
justiça, Tomo DJE, Data 13/05/2021)
“Revisão geral de remuneração de servidores públicos. Circunscrição do pleito. Art. 73, inciso VIII, da
Lei no 9.504/97. Perda do poder aquisitivo. Recomposição. Projeto de lei. Encaminhamento.
Aprovação. 1. O ato de revisão geral de remuneração dos servidores públicos, a que se refere o art.
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73, inciso VIII, da Lei no 9.504/97, tem natureza legislativa, em face da exigência contida no texto
constitucional. 2. O encaminhamento de projeto de lei de revisão geral de remuneração de servidores
públicos que exceda à mera recomposição da perda do poder aquisitivo sofre expressa limitação do
art. 73, inciso VIII, da Lei no 9.504/97, na circunscrição do pleito, não podendo ocorrer a partir do dia
9 de abril de 2002 até a posse dos eleitos, conforme dispõe a Res.-TSE no 20.890, de 9.10.2001. 3. A
aprovação do projeto de lei que tiver sido encaminhado antes do período vedado pela Lei Eleitoral
não se encontra obstada, desde que se restrinja à mera recomposição do poder aquisitivo no ano
eleitoral. 4. A revisão geral de remuneração deve ser entendida como sendo o aumento concedido
em razão do poder aquisitivo da moeda e que não tem por objetivo corrigir situações de injustiça ou
de necessidade de revalorização profissional de carreiras específicas.” (Tribunal Superior Eleitoral -
Res. no 21.296, de 12.11.2002, rel. Min. Fernando Neves.)
“Consulta. Eleição 2004. Revisão geral da remuneração servidor público. Possibilidade desde que não
exceda a recomposição da perda do poder aquisitivo (inciso VIII do art. 73 da Lei no 9.504/97)”. NE:
Consulta sobre a possibilidade de recomposição das perdas remuneratórias relativas aos últimos dois
anos anteriores ao ano da eleição e sobre a possibilidade de recomposição salarial retroativa à data-
base mesmo quando já ultrapassado o prazo limite previsto na legislação eleitoral. (Tribunal Superior
Eleitoral - Res. no 21.812, de 8.6.2004, rel. Min. Luiz Carlos Madeira.)
Independentemente do tipo de revisão, se geral ou setorial, há outras normas a observar, sob pena
de inconstitucionalidade e ilegalidade da medida. O artigo 169, §1º, da Constituição Federal
determina que a concessão de qualquer vantagem ou aumento de remuneração, a criação de
cargos, empregos e funções ou alteração de estrutura de carreiras, bem como a admissão ou
contratação de pessoal, a qualquer título, só poderão ser feitas se houver prévia dotação
orçamentária e autorização específica na lei de diretrizes orçamentárias.
Não há vedação para revisão setorial, desde que: a) prevista em lei específica; b) aprovada até o dia
4 de julho; c) não atingido o limite de 95% dos percentuais máximos que os Poderes ou Órgãos
podem despender em gastos com pessoal, considerados ainda os limites específicos previstos na
LRF para cada ente federado; d) presente dotação orçamentária; e) existente autorização por via da
Lei de Diretrizes Orçamentárias145.
No Recurso Especial 396.679, o então Ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa
ressaltou a diferença entre a revisão geral do vencimento dos servidores públicos do reajuste
145
Limites e possibilidades da revisão da remuneração de servidores em ano eleitoral. Revista do Tribunal de Contas do Estado de
Minas Gerais.
173
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realizado para uma determinada categoria: A situação dos presentes autos é diversa. Trata-se de
extensão de abono concedido por decreto para algumas categorias de servidores públicos
estaduais (de vencimentos mais reduzidos), a qual o acórdão recorrido enquadrou como revisão
geral, porque discriminatória em relação às categorias excluídas (defensores públicos,
procuradores do estado e delegados de polícia). Ora, a concessão de abono a algumas categorias
não pode gerar a conclusão de que se trata de revisão geral, não se podendo invocar como
precedente o decidido no RMS 22.307. Na mesma linha de raciocínio, o acórdão recorrido, ao
entender como revisão geral o abono concedido pelos Decretos 16.717/1991 e 16.950/1991 e
pela posterior Lei estadual 2.005/1992, violou a norma contida no então vigente art. 37, X (antes
da redação que lhe foi dada pela Emenda Constitucional 19/1998), porquanto aplicou
impropriamente o texto constitucional à hipótese dos autos. Não há que se falar em revisão geral
quando o abono em questão aproveitou apenas a algumas carreiras. Lembro que a norma que
instituiu o mencionado abono não se aplicava aos servidores do Judiciário (que receberam não
um aumento percentual, mas um abono provisório, em valor fixo, a ser pago em duas parcelas).
Procedimento similar foi adotado em relação aos professores da rede estadual de ensino de nível
médio (§2º, do artigo 1º) e aos servidores das fundações públicas estaduais. Por outro lado, a
norma ataca excluía expressamente do seu campo de incidência os cargos em comissão e funções
gratificadas do Poder Executivo. Como se vê, não cuidava de norma concessiva de reajuste geral,
mas visivelmente de norma destinada a corrigir distorções. Outra seria a situação se a
abrangência dos mencionados decretos tivesse sido mais ampla, pois o preceito constitucional
pertinente obrigava o estado a não criar discriminações quando promovesse reajustes dos
vencimentos em geral. Essa não é a situação dos autos.”
O artigo 73, VIII, da Lei no 9.504/97 veda ao agente público fazer, na circunscrição do pleito, revisão
geral da remuneração (lato sensu) dos servidores públicos que exceda a recomposição da perda de
seu poder aquisitivo ao longo do ano da eleição, a partir do início do prazo estabelecido no artigo
7º do mesmo diploma legal até a posse dos eleitos.
A interpretação estritamente literal do aludido artigo, de modo a entender que revisão geral apta a
caracterizar ilícito eleitoral é somente aquela que engloba todos os servidores da circunscrição do
pleito, não é a que melhor se coaduna com a finalidade precípua da norma de regência, que é a de
proteger a normalidade e a legitimidade do prélio eleitoral da influência do poder político. Assim,
revela-se defeso ao agente público conceder reajuste remuneratório que exceda a recomposição
da perda do poder aquisitivo, no período vedado, a servidores que representem quantia significativa
dos quadros geridos146.
O art. 73, VIII da Lei das Eleições versa sobre a proibição de conduta a agente público que, na
circunscrição do pleito, realize revisão geral da remuneração dos servidores públicos que exceda a
recomposição da perda de seu poder aquisitivo ao longo do ano da eleição, vindo a influenciar no
livre convencimento do eleitorado. 2. Conforme Consulta nº 18309, da Relatoria do Desembargador
Antônio Abelardo Benevides: "(...) a revisão geral de remuneração dos servidores públicos, versada
146
Recurso Ordinário nº 763425, Acórdão, Relator(a) Min. João Otávio De Noronha, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico,
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no inciso VIII do art. 73 da Lei das Eleições, esta pode ocorrer durante o prazo de 180 (cento e oitenta)
dias anteriores ao pleito, desde que se limite, tão somente, a recompor a perda do poder aquisitivo
ao longo do ano da eleição, sob pena de configuração de conduta vedada a agente público. -
Unânime. (TRE/CE - CONSULTA nº 18309, 26/05/2014, Publicação: DJE - Diário de Justiça Eletrônico,
Tomo 97, Data 30/5/2014, Página 17)" 3. Na espécie, constata-se reajuste setorial para algumas
categorias de servidores, restando não demonstrado o caráter de revisão geral necessário para
configuração da conduta vedada pela legislação eleitoral. 4. Ademais, é incabível aplicação de
hermenêutica extensiva às condutas que não estão estritamente apontadas na legislação eleitoral,
isto porque deve-se preservar a vontade da maioria na escolha do candidato e evitar cassações
aferidas por critérios meramente subjetivos. 5. Manutenção in totum da decisão a quo. 6. Recurso
conhecido, porém, improvido. (RECURSO ELEITORAL n 20390, ACÓRDÃO n 20390 de 05/09/2017,
Relator(aqwe) ROBERTO VIANA DINIZ DE FREITAS, Publicação: DJE - Diário de Justiça Eletrônico, Tomo
169, Data 11/09/2017, Página 09)
As Leis Complementares Municipais nº (s) 33, 34 e 35, além de ter por objeto a reestruturação de
carreira de determinadas categorias de servidores do município, não definem qualquer índice que
tente recompor de maneira geral perdas próprias do processo inflacionário, fato que, a meu ver,
afasta a incidência a da vedação contida no inciso VIII, do art. 73, da Lei nº 9.504/97. Precedentes.
"2. Nas condutas vedadas previstas nos arts. 73 a 78 da Lei das Eleições imperam os princípios da
tipicidade e da legalidade estrita, devendo a conduta corresponder exatamente ao tipo previsto na
lei." (Respe nº 626-30/DF, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, DJE 4.2.2016). (REPRESENTACAO
n 39272, ACÓRDÃO n 72 de 25/04/2018, Relator(aqwe) ADRIANO ATHAYDE COUTINHO, Publicação:
DJE - Diário Eletrônico da Justiça Eleitoral do ES, Data 21/05/2018, Página 11-12)
Na espécie, constata-se reajuste setorial para algumas categorias de servidores, restando não
demonstrado o caráter de revisão geral necessário para configuração da conduta vedada pela
legislação eleitoral. (Recurso Eleitoral nº 20390, Acórdão de Relator(a) Des. ROBERTO VIANA DINIZ
DE FREITAS_1, Publicação: DJE - Diário de Justiça Eletrônico, Tomo 169, Data 11/09/2017, Página 09)
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O inc. VIII do art. 73 da Lei n. 9.504/97 proíbe "fazer, na circunscrição do pleito, revisão geral da
remuneração dos servidores públicos que exceda a recomposição da perda de seu poder aquisitivo ao
longo do ano da eleição, a partir do início do prazo estabelecido no art. 7º desta Lei e até a posse dos
eleitos". 2. A reestruturação da carreira de servidores não se confunde com revisão geral de
remuneração conforme respondido na Consulta 772, de 2.4.2002, que originou a Resolução TSE n.
21.054/2002. 3. A revisão geral prevista no inc. X do art. 39 da Constituição Federal busca recompor
as perdas salariais decorrentes do acúmulo inflacionário, é aplicada a todos os servidores civis e
militares, sem distinção de índices. 4. Projeto de Lei que estabelece o plano de cargos e vencimentos
dos servidores públicos do município, estruturando as carreiras em classes e referências,
estabelecendo regras para movimentação com progressão tanto horizontal, quanto vertical, fixando
como objetivo, além da eficiência e a eficácia, a valorização e a profissionalização do servidor, com
formação e capacitação permanente, não pode ser confundido com revisão geral de remuneração.
(RECURSO ELEITORAL nº 75071, Acórdão nº 13564 de 03/12/2012, Relator(a) LEONARDO BUISSA
FREITAS, Publicação: DJ - Diário de justiça, Volume 255, Tomo 1, Data 11/12/2012, Página 3)
Na circunscrição do pleito municipal, nos cento e oitenta dias anteriores às eleições até a posse dos
eleitos, é vedado aos agentes públicos municipais fazer revisão geral da remuneração dos respectivos
servidores públicos, salvo para recompor a perda de seu poder aquisitivo ao longo do ano da eleição
(precedentes TRESC: Res. n. 7.190, de 5.6.2000 e Res. n. 7.193, de 12.6.2000). (CONSULTA ELEITORAL
nº 2182, Resolução de Relator(a) Des. ALEXANDRE D'IVANENKO, Publicação: DJ - Diário de Justiça,
Data 22/06/2004, Página 142)
É cabível ao agente público fazer, na circunscrição do pleito, revisão geral da remuneração dos
servidores públicos desde que não exceda a recomposição da perda de seu poder aquisitivo ao longo
do ano da eleição. (Consulta nº 84, Resolução de Relator(a) Des. OSNY CLARO DE OLIVEIRA JUNIOR,
Publicação: DJ - Diário de justiça, Volume 98, Data 30/05/2006, Página A-45)
147 Pedro Roberto Decomain. Eleições – Comentários à Lei nº 9.504/97. Editora Dialética.
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Porém, se o projeto de lei for encaminhando antes do período vedado e for aprovado no período
vedado, somente poderá entrar em vigor no exercício financeiro seguinte e a sanção ao projeto de
lei poderá ser considerada como uma conduta vedada, com os efeitos postergados, mas que
provoca um desequilíbrio eleitoral na mesma proporção. A melhor recomendação é que o projeto
de lei somente seja apreciado pela legislatura seguinte ou seja arquivado.
Além disso, o simples envio do projeto de lei ao Legislativo Municipal propondo o reajuste do
funcionalismo público pode ser qualificado como abuso do poder político, ao usar de um projeto de
lei com motivação eleitoreira.
A aprovação de projeto de revisão geral da remuneração de servidores públicos até o dia 9 de abril
do ano da eleição, desde que não exceda a recomposição da perda do poder aquisitivo, não
caracteriza a conduta vedada prevista no inciso VIII do art. 73 da Lei das Eleições. Nesse sentido: Cta
nº 782, rel. Min. Fernando Neves da Silva, DJe de 7.2.2003. (Agravo Regimental em Recurso Especial
Eleitoral nº 46179, Acórdão de 16/06/2014, Relator(a) Min. HENRIQUE NEVES DA SILVA, Publicação:
DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 145, Data 07/08/2014, Página 164)
A reestruturação não é vedada pelo inciso VIII, do artigo 73, mas estará proibida nos três meses que
antecedem o pleito, por força do que dispõe o inciso V, do artigo 73, que impede as readaptações
de servidores públicos.
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16.11. Penalidade
O §5º, do artigo 73, da Lei nº 9.504/97, com a redação dada pela Lei nº 12.034/09, incluiu essa
vedação dentre aquelas que resultam na cassação do registro ou do diploma, multa e suspensão
imediata da conduta vedada, conforme §4º, do citado artigo 73.
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17. Despesas com pessoal nos 180 dias anteriores ao final do mandato
A revisão de remuneração de servidores públicos se sujeita a um amplo tratamento normativo
constitucional e infraconstitucional.
Segundo a Constituição da República, a remuneração dos servidores públicos somente poderá ser
fixada ou alterada por lei específica, “assegurada revisão geral anual, sempre na mesma data e sem
distinção de índices” (art. 37, X, Constituição Federal).
Trata-se aqui, propriamente, de uma das espécies de revisão de remuneração, intitulada revisão
geral. Essa modalidade tem por finalidade atualizar o valor da remuneração de todos os servidores
públicos, independentemente de suas áreas de atuação.
O objetivo central é recompor o valor real da remuneração, tendo em vista a perda do seu poder
aquisitivo frente à inflação, admitindo-se aplicação de percentuais de ajuste superiores aos índices
inflacionários.
Segundo o artigo 21, caput, inciso II, da Lei de Responsabilidade Fiscal, nos 180 (cento e oitenta)
dias que precedem o final da gestão do Prefeito e do Presidente da Câmara, é proibido aumentar
despesa de pessoal no âmbito de cada um dos Poderes representados por esses mandatários.
Assim, entre 5 de julho e 31 de dezembro do último ano do mandato, não se pode elevar o gasto de
pessoal, proibição que alcança, por simetria, as entidades descentralizadas cujos titulares são
nomeados pelo Chefe do Poder Executivo:
II - o ato de que resulte aumento da despesa com pessoal nos 180 (cento e oitenta) dias
anteriores ao final do mandato do titular de Poder ou órgão referido no art. 20;
Conforme o artigo 21, caput, inciso III, da Lei de Responsabilidade Fiscal, é nulo o ato administrativo
que resultar em aumento de despesa com pessoal com parcelas a serem implementadas em
períodos posteriores ao final do mandado do Chefe do Poder Executivo ou do Poder Legislativo:
III - o ato de que resulte aumento da despesa com pessoal que preveja parcelas a serem
implementadas em períodos posteriores ao final do mandato do titular de Poder ou órgão
referido no art. 20;
Nos termos do artigo 21, caput, inciso IV, da Lei de Responsabilidade Fiscal, é nulo o ato
administrativo de aprovação, edição ou sanção de norma legal contendo plano de alteração,
reajuste e reestruturação de carreiras do setor público, ou a edição de ato, por esses agentes, para
nomeação de aprovados em concurso público, quando: a) resultar em aumento da despesa com
pessoal nos 180 (cento e oitenta) dias anteriores ao final do mandato do titular do Poder Executivo;
b) resultar em aumento da despesa com pessoal que preveja parcelas a serem implementadas em
períodos posteriores ao final do mandato do titular do Poder Executivo.
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a) resultar em aumento da despesa com pessoal nos 180 (cento e oitenta) dias anteriores
ao final do mandato do titular do Poder Executivo; ou
I - devem ser aplicadas inclusive durante o período de recondução ou reeleição para o cargo
de titular do Poder ou órgão autônomo; e
II - aplicam-se somente aos titulares ocupantes de cargo eletivo dos Poderes referidos no
art. 20.
Este artigo deve ser analisado em conjunto com as disposições do inciso VIII, do artigo 73, da Lei nº
9.504/97. No ano de realização das eleições é proibido o reajuste real de vencimentos dos agentes
públicos, sendo admitida apenas a recomposição da perda salarial decorrente dos índices
inflacionários. Mas, a partir de 4 de julho e até o final do ano, também ficam vedados os aumentos
de despesas com pessoal, pois conforme o artigo 21, da Lei de Responsabilidade Fiscal, nos 180 dias
anteriores ao final do mandato é proibido o aumento de despesas com pessoal, sem abrir exceções.
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APELAÇÃO Servidor público do Município de Ribeirão Pires Revisão geral anual prevista no art. 37,
inciso X, da Constituição Federal Possibilidade Inteligência da Lei Municipal 5.547/11 Inexistência de
violação ao art. 73, da Lei 9.504/97 e art. 21, da Lei Complementar 101/00 Sentença mantida
Recursos desprovidos. (TJSP; Apelação / Reexame Necessário 1000076-54.2017.8.26.0505; Relator
(a): Renato Delbianco; Órgão Julgador: 2ª Câmara de Direito Público; Foro de Ribeirão Pires - 1ª Vara;
Data do Julgamento: 20/10/2017; Data de Registro: 20/10/2017)
SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL. RIBEIRÃO PIRES. Revisão geral anual de vencimentos. Art. 37, X, da
CF. Lei específica editada. Lei Municipal nº 5.547/11. Possibilidade. Litispendência e conexão
afastada. Ajuizamento de ação coletiva que não exclui o direito do servidor de intentar
individualmente ação judicial. Revisão anual que não viola as disposições contidas no art. 73, da Lei
Federal nº 9.504/97 e art. 21, da Lei Complementar nº 101/00. Recomposição do valor da
remuneração dos servidores, diante da desvalorização da moeda, situação que não se confunde com
aumento de despesa de pessoal. Precedentes desta Corte. Sentença de procedência mantida. Recurso
de apelação não provido. (TJSP; Apelação Cível 1000085-16.2017.8.26.0505; Relator (a): Paulo
Galizia; Órgão Julgador: 10ª Câmara de Direito Público; Foro de Ribeirão Pires - 2ª Vara; Data do
Julgamento: 05/03/2018; Data de Registro: 07/03/2018)
Mas também já decidiu o Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais que as normas
constitucionais precisam ser aplicadas em consonância com a Lei de Responsabilidade Fiscal, que
regulamenta a gestão financeira na Constituição Federal e a “revisão geral” não seria possível nos
180 dias anteriores ao final do mandato:
EMENTA: REVISÃO GERAL ANUAL. ART. 37, X, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. LEI MUNICIPAL Nº
25/2004. SANÇÃO EM 29.12.2004. LEI COMPLEMENTAR Nº 101/2000. RESPONSABILIDADE FISCAL.
NORMA NACIONAL. MANDATO DO PREFEITO COMPREENDIDO ENTRE 2001/2004. PRAZO INFERIOR
AO PERÍODO DE 180 DIAS ANTERIORES AO TÉRMINO DO MANDATO DO CHEFE DO EXECUTIVO
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Nos casos de necessidade de contratação temporária de pessoal, conforme previsto no inciso IX, do
artigo 37, da Constituição Federal, os atos administrativos que as instituírem, contudo, deverão
revelar a fonte de financiamento, baseada no corte de outras despesas com pessoal, tal como o
pagamento de horas-extras, cargos em comissão e funções de confiança, sem aumentar a totalidade
da despesa com pessoal148.
17.3. Aposentadoria
O inciso V, do artigo 73, da Lei nº 9.504/97 não veda a concessão de aposentadoria no período de
três meses antecedem o pleito eleitoral até a posse dos eleitos150.
17.4. Subsídios
A matéria relativa ao momento de fixação dos subsídios dos Prefeitos, Secretários e Vereadores no
ano de realização de eleições municipais é controvertida na jurisprudência.
148 Lei de Responsabilidade Fiscal comentada artigo por artigo, Flavio C. de Toledo Jr. e Sérgio Ciquera Rossi.
149 RMS 31.312/AM, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 22/11/2011, DJe 01/12/2011
150 Superior Tribunal de Justiça - REsp 730459/AL
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O artigo 39, inciso X, da Constituição Federal estabelece que a remuneração dos servidores públicos
e o subsídio de que trata o § 4º do artigo 39 somente poderão ser fixados ou alterados por lei
específica, observada a iniciativa privativa em cada caso, assegurada revisão geral anual, sempre na
mesma data e sem distinção de índices.
Por outro lado, o artigo 29, inciso VI, também da Constituição Federal, estabelece que o subsídio
dos Vereadores será fixado pelas respectivas Câmaras Municipais em cada legislatura para a
subsequente.
O que nos interessa aqui é saber o momento da fixação dos subsídios no ano de realização de
eleições municipais.
Alguns julgados do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo e do Superior Tribunal de Justiça
consideram que este momento deve ser antes dos cento e oitenta dias anteriores ao término do
mandato, respeitando o disposto no artigo 21, da Lei de Responsabilidade Fiscal, segundo o qual é
nulo de pleno direito o ato de que resulte aumento da despesa com pessoal expedido nos cento e
oitenta dias anteriores ao final do mandato do titular do respectivo Poder:
TJSP - APELAÇÃO CÍVEL Ação civil pública Sentença que acolheu o pedido do Ministério Público e
anulou as leis municipais n. 2645/04, 2646/04 e 2647/04, que estipulavam aumento dos subsídios
dos vereadores, presidente da Câmara Municipal, Prefeito e vice-Prefeito Municipal Afastadas
preliminares de ilegitimidade ativa do Ministério Público e cerceamento de defesa Inteligência do
art. 129, III da Constituição Federal - Leis municipais em desacordo com a lei orgânica do Município
de Promissão e que contrariam a Lei de Responsabilidade Fiscal, pois gerou aumento de despesa com
pessoal a menos 180 dias antes das eleições municipais A irregularidade do processo legislativo é
inerente ao pedido e deve ser conhecido por se tratar de matéria de ordem pública - Sentença mantida
Recurso desprovido. (Relator(a): Eduardo Gouvêa; Comarca: Promissão; Órgão julgador: 7ª Câmara
de Direito Público; Data do julgamento: 30/01/2012; Data de registro: 03/02/2012; Outros números:
8532425800)
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a LC n. 101/00 é expressa ao vedar a mera expedição, nos 180 dias anteriores ao final do mandato
do titular do respectivo Poder, de ato que resulte o aumento de despesa com pessoal. 4. Nesse
sentido, pouco importa se o resultado do ato somente virá na próxima gestão e, por isso mesmo, não
procede o argumento de que o novo subsídio "só foi implantado no mandato subsequente, não no
período vedado pela lei". Em verdade, entender o contrário resultaria em deixar à míngua de eficácia
o art. 21, parágrafo único, da Lei de Responsabilidade Fiscal, pois se deixaria de evitar os riscos e de
corrigir os desvios capazes de afetar o equilíbrio das contas públicas na próxima gestão. 5. E mais:
tampouco interessa se o ato importa em aumento de verba paga a título de subsídio de agente
político, já que a lei de responsabilidade fiscal não distingue a espécie de alteração no erário público,
basta que, com a edição do ato normativo, haja exasperação do gasto público com o pessoal ativo e
inativo do ente público. Em outros termos, a Lei de Responsabilidade Fiscal, em respeito ao artigo
163, incisos I, II, III e IV, e ao artigo 169 da Constituição Federal, visando uma gestão fiscal
responsável, endereça-se indistintamente a todos os titulares de órgão ou poder, agentes políticos ou
servidores públicos, conforme se infere do artigo 1º, §1 e 2º da lei referida. 6. Recurso parcialmente
conhecido e, nesta parte, não provido. (REsp 1170241/MS, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL
MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 02/12/2010, DJe 14/12/2010)
AÇÃO CIVIL PÚBLICA. Lei Municipal que concede aumento salarial para os agentes políticos. Não ficou
demonstrado tivessem os apontados vereadores praticado ato de improbidade a justificar a
imposição das penalidades previstas no art. 12 da Lei n° 8.429/92. Para tanto, não basta séria
probabilidade, ou quase certeza. Necessária a certeza na prática do ato para a imposição da sanção.
A sentença declarou nula a Lei Municipal n° 2.126/00, com base na Lei de Responsabilidade Fiscal
(L.C. n° 101/00), artigo 21, parágrafo único, e a Lei Orgânica Municipal, artigo 30, inciso XXI, alínea
"c", que expressamente previam o prazo mínimo de cento e oitenta dias, contados do final do
mandato, para a fixação de subsídios. Negado provimento aos recursos. (Relator(a): Oliveira
Santos; Comarca: Mirandópolis; Órgão julgador: 6ª Câmara de Direito Público; Data do julgamento:
15/09/2008; Data de registro: 26/09/2008; Outros números: 6469685600)
Em outras oportunidades já decidiu o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo que a regra do
artigo 21, da Lei de Responsabilidade Fiscal, não se aplica a revisão geral que busca apenas recompor
as perdas pelos índices inflacionários, ao longo do ano da eleição.
AÇÃO POPULAR. Município de Pardinho. Subsídios do Prefeito e Vereadores. Leis que os majoraram.
Observância da anterioridade exigida pelo artigo 29, VI, da Constituição Federal. Novos valores que
não caracterizam excesso. Respeito ao princípio da moralidade. Lesividade não caracterizada.
Sentença que, não obstante isso, julgou procedente a ação para declarar nulas as duas leis municipais
em discussão, com base no artigo 21, parágrafo único, da Lei Complementar n" 101/2000. Dispositivo
que não se aplica aos Prefeitos e Vereadores. Subsídios cuja fixação é disciplinada pela própria
Constituição Federal. Recurso oficial não conhecido e recursos voluntários improvidos para julgar
improcedente a ação. (Relator(a): Antonio Carlos Villen; Comarca: Botucatu; Órgão julgador: 10ª
Câmara de Direito Público; Data do julgamento: 26/01/2010; Data de registro: 05/02/2010; Outros
números: 7306915900)
"A sanção prevista pelo parágrafo único do artigo 21 da LC n* 101/2000 deve ser afastada e/n face
da previsão constitucional que toma dever privativo do legislativo iniciar o procedimento legislativo
para fixar a remuneração dos seus componentes e do chefe do executivo para a legislatura seguinte.
Por igual, o sancionamento de tal projeto de lei não poderá sofrer qualquer restrição. "A fixação dos
subsídios dos vereadores, prefeito e vice-prefeito somente obedecem aos limites impostos pela
Constituição Federal, Constituição Estadual e Lei Orgânica do Município. Não estão atrelados a
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percentuais de reajustes reais e nem a igual reajustamento para os demais servidores públicos".
(Relator(a): Laerte Sampaio; Órgão julgador: 3ª Câmara de Direito Público; Data de registro:
16/08/2001; Outros números: 2112265300)
A fixação dos subsídios também não poderá ser posterior a realização das eleições municipais:
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Art. 75. Nos três meses que antecederem as eleições, na realização de inaugurações é
vedada a contratação de shows artísticos pagos com recursos públicos.
Parágrafo único. Nos casos de descumprimento do disposto neste artigo, sem prejuízo da
suspensão imediata da conduta, o candidato beneficiado, agente público ou não, ficará
sujeito à cassação do registro ou do diploma.
A legislação de regência visa evitar o abuso do poder político e preservar a igualdade dos candidatos
e a normalidade do processo eleitoral151.
151
RECLAMACAO n 1219, ACÓRDÃO n 1219 de 03/10/2006, Relator(aqwe) EULER DE ALMEIDA SILVA JÚNIOR, Publicação: SESSAO -
Publicado em Sessão, Data 03/10/2006
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COMPARECIMENTO EM INAUGURAÇÕES
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Art. 77. É proibido a qualquer candidato comparecer, nos 3 (três) meses que precedem o
pleito, a inaugurações de obras públicas. (Redação dada pela Lei nº 12.034, de 2009)
Parágrafo único. A inobservância do disposto neste artigo sujeita o infrator à cassação do
registro ou do diploma.
Por isso, nos três meses anteriores a realização das eleições, nenhum candidato poderá comparecer
em inaugurações de obras públicas.
O artigo 77 da Lei no 9.504/97 não é inconstitucional, porque não cria hipótese de inelegibilidade156.
Segundo a Ministra Carmen Lúcia, o Tribunal Superior Eleitoral já decidiu que o prefeito pode
exercer as atividades inerentes ao cargo paralelamente às atividades de sua campanha eleitoral e
tem afastado a aplicação do artigo 77 da Lei n° 9.504/97, quando não há comprovação de que o
prefeito candidato valeu-se da solenidade para promover sua campanha eleitoral157.
152 Tribunal Superior Eleitoral - Acórdão n°24.108, Rei. Min. Caputo Bastos, 2.10.2004
153 Recurso Especial Eleitoral nº 29411, Acórdão, Relator(a) Min. Edson Fachin, Publicação: DJE - Diário de Justiça Eletrônico, Tomo
25, Data 05/02/2020, Página 15-16
154 Recurso Especial Eleitoral nº 29409, Acórdão, Relator(a) Min. Edson Fachin, Publicação: DJE - Diário de Justiça Eletrônico, Data
05/04/2019
155 Tribunal Superior Eleitoral - Acórdão n°24.122, Rei. Mm. Caputo Bastos, 30.9.2004
156 Tribunal Superior Eleitoral - Ac. no 5.766, de 6.9.2005, rel. Min. Humberto Gomes de Barros.
157 Ac. de 16.3.2010 no AgR-REspe nº 34.853, rel. Min. Cármen Lúcia.)
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Impor interpretação estritamente formal ao ilícito em debate enveredaria por violação ao princípio
da proporcionalidade sob a ótica da vedação da proteção deficiente. A qualificação formal de
candidato seria exigível apenas a partir de momento muito próximo ao pleito, possibilitando que
notórios candidatos participem de inaugurações de obras públicas muitos dias antes das eleições e
decotando pela metade o espectro de proteção da norma158.
“Recurso especial. Eleição 2004. Inauguração de obra pública ocorrida antes do ingresso do pedido
de registro de candidatura na Justiça Eleitoral. Art. 77 da Lei das Eleições. Recurso provido. Na linha
do julgado por esta Corte no REspe no 22.059/GO, rel. Min. Carlos Velloso, sessão de 9.9.2004, ‘A
norma do parágrafo único do art. 77 da Lei no 9.504/97 refere-se, expressamente, a candidato,
condição que só se adquire com a solicitação do registro de candidatura’.” (Tribunal Superior Eleitoral
- Ac. no 24.911, de 16.11.2004, rel. Min. Peçanha Martins.)
158Recurso Especial Eleitoral nº 29409, Acórdão, Relator(a) Min. Edson Fachin, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Data
05/04/2019
159
Recurso Eleitoral nº 060005026, Acórdão de Relator(a) Des. Lavínia Helena Macedo Coelho, Publicação: DJ - Diário
de justiça, Data 30/04/2021
196
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Os pedidos de registro de candidato devem ser entregues até às 19h do dia 15 de agosto do ano
eleitoral. Para candidatos a presidente e a vice-presidente da República, as solicitações serão feitas
no Tribunal Superior Eleitoral, para senador, deputado federal, governador e vice-governador,
deputado distrital e deputado estadual, nos Tribunais Regionais Eleitorais, e, para vereador, prefeito
e vice-prefeito, nos juízos eleitorais.
“Eleições 2016. Agravo regimental. Agravo. Recurso especial. Ação de investigação judicial eleitoral.
Vereador. Conduta vedada. Comparecimento à inauguração de obra pública. Art. 77 da Lei no
9.504/97. Conclusão regional: participação sem destaque. Ausência de desequilíbrio do pleito.
160
Tribunal Superior Eleitoral – Ac nº 19.404
161Neves; no mesmo sentido o Ac. de 14.6.2012 no AgR-RO nº 890235, rel. Min. Arnaldo Versiani, o Ac. de 7.6.2011 no REspe nº
646984, rel. Min. Nancy Andrighi e o Ac. de 15.9.2009 no AgR-AI nº 11173, rel. Min. Marcelo Ribeiro.
197
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O Tribunal Regional Eleitoral de Rondônia não considerou ilegal a mera presença do candidato em
inauguração de obras pública:
“Representação. Conduta vedada. Inauguração de obra pública. Art. 77 da Lei nº 9.504/97. 1. A mera
presença do candidato na inauguração de obra pública, como qualquer pessoa do povo, sem
destaque e sem fazer uso da palavra ou dela ser destinatário, não configura o ilícito previsto no art.
77 da Lei nº 9.504/97. 2. Entendimento do acórdão regional em consonância com a interpretação do
TSE sobre o art. 77 da Lei nº 9.504/97, conforme precedentes [...]” (Ac. de 5.11.2013 no AgR-AI nº
178190, rel. Min. Henrique Neves; no mesmo sentido o Ac. de 14.6.2012 no AgR-RO nº 890235, rel.
Min. Arnaldo Versiani, o Ac. de 7.6.2011 no REspe nº 646984, rel. Min. Nancy Andrighi e o Ac. de
15.9.2009 no AgR-AI nº 11173, rel. Min. Marcelo Ribeiro.)
A mera presença do candidato na inauguração de obra pública, como qualquer pessoa do povo, sem
destaque e sem fazer uso da palavra ou dela ser destinatário, não configura o ilícito previsto no art.
77 da Lei nº 9.504/97. (RECURSO ELEITORAL nº 060035213, Acórdão de Relator(a) Des. ROGÉRIO
ROBERTO GONÇALVES DE ABREU, Publicação: TRE/Paraíba - DJE - Diário de Justiça Eletrônico, Tomo
91, Data 26/05/2021, Página 52)
É incontroverso que o agravante José Bento Leite do Nascimento compareceu a inauguração de obra
pública no Município de Soledade/PB faltando menos de quinze dias para o pleito, em violação ao
198
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art. 77 da Lei 9.504/97. 2. Todavia, deve ser aplicado no caso dos autos o princípio da
proporcionalidade, notadamente diante da ausência de participação ativa do agravante no referido
evento, não tendo havido, assim, quebra da igualdade entre os candidatos. 3. Agravo regimental
provido para dar provimento ao recurso especial eleitoral, julgando-se improcedentes os pedidos.
(Recurso Especial Eleitoral nº 47371, Acórdão, Relator(a) Min. Laurita Vaz, Publicação: DJE - Diário de
justiça eletrônico, Tomo 202, Data 27/10/2014, Página 57)
Este Tribunal Superior já firmou entendimento no sentido de que, quanto às condutas vedadas do art.
73 da Lei nº 9.504/97, a sanção de cassação somente deve ser imposta em casos mais graves,
cabendo ser aplicado o princípio da proporcionalidade da sanção em relação à conduta. 2. Com base
nos princípios da simetria e da razoabilidade, também deve ser levado em consideração o princípio
da proporcionalidade na imposição da sanção pela prática da infração ao art. 77 da Lei das Eleições.
3. Afigura-se desproporcional a imposição de sanção de cassação a candidato à reeleição ao cargo
de deputado estadual que comparece em uma única inauguração, em determinado município, na
qual não houve a presença de quantidade significativa de eleitores e onde a participação do
candidato também não foi expressiva. Agravo regimental não provido. (Recurso Ordinário nº 890235,
Acórdão, Relator(a) Min. Arnaldo Versiani, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 160,
Data 21/08/2012, Página 38)
É justamente esta a posição do Tribunal Superior Eleitoral. O legislador, no artigo 77, da Lei nº
9.504/97, proíbe o comparecimento em inaugurações de obras públicas. Ocorre que, muitos
eventos municipais, mesmo não se tratando de inauguração de obra pública, podem estar voltados
para a promoção de candidaturas. Assinaturas de convênios, sorteios de casas populares, desfiles
cívico-militares, festas, tudo vai depender da análise do contexto, ou seja, da postura que o
candidato e a Administração Pública assumem no evento, mesmo não sendo uma inauguração. Se
há identificação do candidato, enaltecendo os seus valores e realizações, discursando ou sendo
citado e elogiado pelo orador do evento, certamente a matéria será objeto de discussão na Justiça
Eleitoral.
199
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A ratio do art. 77 da Lei no 9.504/97 é impedir o uso da máquina em favor de candidatura e reprimir
o abuso do poder político em detrimento da moralidade do pleito. 2. Não vislumbro na realização de
um sorteio de casas populares, no qual constava a presença do governador do estado, por tratar-se
de obra estadual, circunstância capaz de conferir prestígio aos candidatos a cargos de prefeito e de
vice-prefeito do município onde realizado o sorteio, por não se revestir de potencialidade capaz de
influir no resultado das eleições. 3. Além do mais, inconcebível a equiparação entre um evento que
visa a um determinado sorteio e um que trate especificamente de inauguração, para que se impinja
a inelegibilidade decorrente da conduta substanciada no art. 77 da Lei da Eleições. 4. Recurso
provido.” (Tribunal Superior Eleitoral - Ac. no 24.108, de 2.10.2004, rel. Min. Caputo Bastos.)
162 TSE - Agravo Regimental em Recurso Especial Eleitoral nº 34853, Acórdão de 16/03/2010, Relator(a) Min. CÁRMEN LÚCIA
ANTUNES ROCHA, Publicação: DJE - Diário da Justiça Eletrônico, Data 10/05/2010, Página 18
163 Tribunal Superior Eleitoral - Ac. no 24.790, de 2.12.2004, rel. Min. Gilmar Mendes
164 Tribunal Superior Eleitoral - Ac. de 16.12.2009 no RO nº 2.233, rel. Min. Fernando Gonçalves.
165 Tribunal Superior Eleitoral - Ac. no 5.084, de 30.9.2004, rel. Min. Caputo Bastos
166 Recurso Especial Eleitoral nº 646984, Acórdão de 07/06/2011, Relator(a) Min. FÁTIMA NANCY ANDRIGHI, Publicação: DJE - Diário
200
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167 Recurso Especial Eleitoral nº 25093, Acórdão, Relator(a) Min. Gilmar Mendes, Publicação: DJ - Diário de justiça, Data 05/05/2006,
Página 151
168 Tribunal Superior Eleitoral - Ac. no 5.324, de 30.6.2005, rel. Min. Gilmar Mendes
201
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Tarcisio Vieira De Carvalho Neto, Publicação: DJE - Diário de Justiça Eletrônico, Tomo 216, Data
08/11/2017, Página 29/30)
“Inauguração de obra pública. Art. 77 da Lei no 9.504/97. Hipótese em que o TRE concluiu não se
tratar de obra pública a ensejar a aplicação do art. 77 da Lei no 9.504/97.” NE: Participação de
prefeito, candidato à reeleição, em inauguração de pavilhão cultural do Sebrae. (Tribunal Superior
Eleitoral - Ac. no 5.324, de 30.6.2005, rel. Min. Gilmar Mendes.)
O artigo 77 da Lei das Eleições veda o comparecimento de candidatos à inauguração de obra pública
stricto sensu, assim considerada aquela que integra o domínio público. Incidência dos princípios da
tipicidade e da legalidade estrita, devendo a conduta corresponder exatamente ao tipo previamente
definido na norma169.
169 Recurso Especial Eleitoral nº 18212, Acórdão, Relator(a) Min. Tarcisio Vieira De Carvalho Neto, Publicação: DJE - Diário de justiça
eletrônico, Tomo 216, Data 08/11/2017, Página 29/30
170 Recurso Ordinário nº 198403, Acórdão, Relator(a) Min. Luciana Lóssio, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Data
12/09/2016, Página 33
202
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O candidato a cargo do Poder Executivo que visita obra já inaugurada não ofende a proibição contida
no artigo 77, da Lei nº 9.504/97174.
171 Agravo de Instrumento nº 7759, Acórdão, Relator(a) Min. João Otávio De Noronha, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico,
Data 05/11/2015
172 Tribunal Superior Eleitoral – Ac nº 24.122
173 Tribunal Superior Eleitoral – Ac nº 24.122
174 Tribunal Superior Eleitoral - Ac. no 56, de 12.8.98, rel. Min. Fernando Neves
175 Recurso Especial Eleitoral nº 40474, Acórdão, Relator(a) Min. Jorge Mussi, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 82,
Data 03/05/2019, Página 64 - Recurso Especial Eleitoral nº 40474, Acórdão, Relator(a) Min. Jorge Mussi, Publicação: DJE - Diário de
Justiça Eletrônico, Tomo 82, Data 03/05/2019, Página 64
176 Tribunal Superior Eleitoral - Ac. no 5.291, de 10.2.2005, rel. Min. Caputo Bastos
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“Campanha eleitoral. Obras públicas. A Lei n o 9.504/97 veda, mediante o disposto no art. 77 nela contido, a
participação de candidatos a cargos do Poder Executivo.” NE: Participação de vice-prefeito, candidato a
prefeito, em inauguração de ginásio de esportes”. (Tribunal Superior Eleitoral - Ac. no 24.877, de 8.3.2005, rel.
Min. Gilmar Mendes, red. designado Min. Marco Aurélio.)
Entretanto, quando comparece como mero espectador, não estará caracteriza a conduta vedada,
decidiu o Tribunal Superior Eleitoral:
19.6. Penalidade
É proibido a qualquer candidato comparecer, nos 3 (três) meses que precedem o pleito, a
inaugurações de obras públicas. O infrator está sujeito à cassação do registro ou do diploma (art.
77, parágrafo único, Lei nº 9.504/97).
204
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ABUSO DE AUTORIDADE
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Art. 74. Configura abuso de autoridade, para os fins do disposto no art. 22 da Lei
Complementar nº 64, de 18 de maio de 1990, a infringência do disposto no § 1º do art. 37
da Constituição Federal, ficando o responsável, se candidato, sujeito ao cancelamento do
registro ou do diploma. (Redação dada pela Lei nº 12.034, de 2009)
Este dispositivo acima teve como objetivo regulamentar o §1º, do artigo 37, da Constituição Federal:
Art. 37....
§ 1º - A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos
deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo
constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades
ou servidores públicos.
Segundo o Tribunal Superior Eleitoral, foi somente a partir da vigência da Lei nº 9.504/97 que as
transgressões previstas no §1º, do artigo 37, da Constituição Federal passaram a configurar abuso
de autoridade, a ser apurado e punido pela Justiça Eleitoral179.
O abuso do poder de autoridade pode ser configurado, inclusive, a partir de fatos ocorridos em
momento anterior ao registro de candidatura ou ao início da campanha eleitoral. É entendimento
do Tribunal Superior Eleitoral que o abuso de autoridade previsto no artigo 74 da Lei nº 9.504/97,
exige a demonstração objetiva da violação ao artigo 37, § 1º, da Constituição, consubstanciada em
ofensa ao princípio da impessoalidade pela menção na publicidade institucional de nomes, símbolos
ou imagens que caracterizem promoção pessoal ou de servidores públicos180.
É certo que ao administrador cabe prestar contas e levar informações à população, mas deve fazê-
lo com observância aos princípios que norteiam a Administração Pública e sempre de modo
impessoal.
A Administração Pública não deve conter a marca pessoal do administrador. Ela não pode ficar
vinculada pela atuação do agente público. Quando uma atividade administrativa é efetivada, a
Administração que a desempenha o faz a título impessoal.
Perfilhando esse entendimento, sustenta Jose Afonso da Silva que o princípio ou regra da
impessoalidade da Administração Pública significa que os atos e provimentos administrativos são
imputáveis não ao funcionário que os pratica, mas ao órgão ou entidade administrativa em nome
do qual age o funcionário. Este é um mero agente da Administração Pública, de sorte que não é ele
o autor institucional do ato. Ele é apenas o órgão que formalmente manifesta a vontade estatal.
179 RECURSO ESPECIAL ELEITORAL nº 15297, Acórdão nº 15297 de 01/10/1998, Relator(a) Min. WALTER RAMOS DA COSTA PORTO,
Publicação: DJ - Diário de Justiça, Data 06/11/1998, Página 85 RJTSE - Revista de Jurisprudência do TSE, Volume 11, Tomo 1, Página
235
180 Ação de Investigação Judicial Eleitoral nº 5032, Acórdão de 30/09/2014, Relator(a) Min. JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, Publicação:
DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 204, Data 29/10/2014, Página 243
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O §1º, do artigo 37, da Constituição Federal prescreve que a publicidade dos atos, programas, obras,
serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de
orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem
promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos.
Os Poderes Públicos devem utilizar, na publicidade oficial, os símbolos oficiais de modo impessoal,
o nome do ente e/ou órgão público (Governo Federal ou Estadual ou Municipal, Prefeitura ou
Câmara Municipal, Ministério ou Secretaria de Educação, de Saúde, do Trabalho, etc.) na veiculação
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de suas atividades, tudo de forma absolutamente impessoal. Deve-se repudiar de forma veemente
a propaganda que destaque a figura do administrador. A campanha, a obra, ou ato a ser divulgado
é da administração, do ente público e não da pessoa.
A propaganda é paga com recursos públicos e o administrador que recusa eficácia ao dispositivo
constitucional comete improbidade administrativa e está sujeito às penas correspondentes.
A veiculação de dois outdoors com propaganda institucional divulgando obras públicas municipais,
contendo fotografias em que aparecem diversas pessoas, sem destaque à figura do Prefeito, não
caracteriza a conduta vedada prevista no artigo 73, I, da Lei nº 9.504/97, porquanto não demonstra
o propósito de beneficiar candidato às eleições. De igual modo, a divulgação de dois painéis não
configura, por si só, abuso de autoridade, visto que ausentes outras circunstâncias a indicar a
gravidade da conduta, não estando evidenciado, portanto, o requisito da potencialidade exigido
para a configuração da infração181.
A utilização de recursos públicos, mascarados de publicidade institucional, mas que na verdade nada
mais são do que propaganda objetivando a promoção pessoal de Prefeitos, Vice-Prefeitos e
Vereadores, é muito comum e pode ocorrer através dos seguintes instrumentos, sem prejuízo de
outros similares:
181
Agravo Regimental em Recurso Ordinário nº 535839, Acórdão de 18/09/2012, Relator(a) Min. ARNALDO VERSIANI LEITE SOARES,
Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 196, Data 09/10/2012, Página 19
209
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d) Distribuição de convites, folders, cartazes, panfletos, contendo o nome e foto do Prefeito, Vice-
Prefeito ou Vereador. Já se pronunciou o Tribunal de Justiça de São Paulo a respeito:
Ação Civil Pública – Improbidade Administrativa – Veiculação de mensagem oficial dirigida ao público,
em jornal, pelo Presidente de Câmara Municipal de Ituverava, estampando sua foto pessoal – norma
constitucional sobre a vedação da promoção pessoal nos atos públicos e as consequências de sua
violação, sobretudo pela atividade de ambos, vereador e jornalista – Ação julgada procedente. TJSP -
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É o uso indevido de cargo ou função pública, com a finalidade de obter votos para determinado
candidato, partido político ou coligação. Para a caracterização do abuso do poder político, é
essencial demonstrar a participação, por ação ou omissão, de ocupante de cargo ou função na
Administração Pública direta, indireta ou fundacional184.
A prática de ações de governo, utilizadas no propósito de captação de eleitores, com potencial para
influenciar no resultado do pleito, caracterizam o abuso do poder político, mesmo quando não
estiverem previstas dentro das condutas vedadas pelo artigo 73, da Lei nº 9.504/97.
Como explica Alexandre Luís Mendonça Rollo, no livro “Eleições, o que mudou”, é o uso da máquina
administrativa, onde o agente público se vale indevidamente do poder que detém perante a
Administração Pública em geral, para, com desvio de finalidade, ferir o princípio da neutralidade
estatal, em seu próprio benefício, ou em benefício de alguma candidatura por ele apoiada. As
condutas vedadas pelos artigos 73 e seguintes da Lei nº 9.504/97 são espécies do gênero abuso do
poder político. Desse modo, mesmo que a conduta praticada pelo agente público não se amolde
aos termos do artigo 73 e seguintes (que, por se tratar de normas restritivas de direito não
182 Tribunal Superior Eleitoral - Recurso Contra Expedição de Diploma nº 661, Acórdão de 21/09/2010, Relator(a) Min. ALDIR
GUIMARÃES PASSARINHO JUNIOR, Publicação: DJE - Diário da Justiça Eletrônico, Tomo 033, Data 16/02/2011, Página 49
183 Recurso Ordinário nº 265041, Acórdão, Relator(a) Min. Gilmar Mendes, Publicação: DJE - Diário de Justiça Eletrônico, Tomo 88,
Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 233, Data 11/12/2014, Página 25/26
186 RECURSO ORDINÁRIO ELEITORAL nº 060010891, Acórdão, Relator(a) Min. Tarcisio Vieira De Carvalho Neto, Publicação: DJE -
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comportam interpretação extensiva), pode-se ter a prática do abuso do poder político que é gênero
(e, portanto, possui maior abrangência), em relação as espécies de abuso tipificadas nas condutas
vedadas aos agentes públicos em campanhas eleitorais.
21.1.1. Período
A condenação pela prática do abuso do poder político não está condicionada à limitação temporal
das condutas vedadas descritas no artigo 73 da Lei nº 9.504/97188.
O abuso do poder político pode ocorrer mesmo antes do registro de candidatura, competindo a
Justiça Eleitoral verificar evidente conotação eleitoral na conduta189.
Recurso Especial. Abuso do poder político e de autoridade (arts. 74 da Lei nº 9.504/97 e 37, § 1º, da
Constituição Federal). A ação de investigação judicial eleitoral, por abuso do poder político, não sofre
a limitação temporal da conduta vedada. Para a configuração do abuso, é irrelevante o fato de a
propaganda ter ou não sido veiculada nos três meses antecedentes ao pleito. Recurso Especial a que
se nega provimento. (Tribunal Superior Eleitoral - Acórdãos nº 25.101, de 9.8.2005, Rel. Min. LUIZ
CARLOS MADEIRA. No mesmo sentido, o Acórdão nº 404, de 5.11.2002, Rel. Min. SÁLVIO DE
FIGUEIREDO).
A comprovação da prática das condutas vedadas pelos incisos I, II, III, IV e VI do artigo 73 da Lei nº
9.504/97 dá ensejo à cassação do registro ou do diploma, mesmo após a realização das eleições191.
Com a alteração realizada no inciso XVI, do artigo 22, da Lei Complementar nº 64/90, para a
configuração do ato abusivo, não será considerada a potencialidade de o fato alterar o resultado da
188 Tribunal Superior Eleitoral - AGRAVO REGIMENTAL EM MANDADO DE SEGURANÇA nº 3706, Acórdão de 06/03/2008, Relator(a)
Min. ANTONIO CEZAR PELUSO, Publicação: DJ - Diário de justiça, Data 28/3/2008, Página 18
189 Recurso Especial Eleitoral nº 68254, Acórdão de 16/12/2014, Relator(a) Min. GILMAR FERREIRA MENDES, Publicação: DJE - Diário
Publicação: DJ - Diário de Justiça, Volume 1, Data 26/04/2002, Página 185 RJTSE - Revista de Jurisprudência do TSE, Volume 13, Tomo
2, Página 278
191 RECURSO ESPECIAL ELEITORAL nº 21316, Acórdão nº 21316 de 30/10/2003, Relator(a) Min. FERNANDO NEVES DA SILVA,
Publicação: DJ - Diário de Justiça, Volume 1, Data 06/02/2004, Página 144 RJTSE - Revista de Jurisprudência do TSE, Volume 15, Tomo
1, Página 244
192
Recurso Eleitoral nº 67715, Acórdão de Relator(a) Des. ULISSES RABANEDA DOS SANTOS, Publicação: DEJE - Diário
de Justiça Eletrônico, Tomo 2388, Data 11/04/2017, Página 2-3
216
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eleição, mas apenas a gravidade das circunstâncias que o caracterizam193. Não obstante a aptidão
da potencialidade lesiva para alterar o resultado da eleição não mais ser tida por elementar à
configuração da prática abusiva, tal circunstância prossegue sendo ponderável pelo órgão julgador
apenas para ressaltar o desvalor da conduta194.
A condenação resulta na cassação do registro ou do diploma e pode até mesmo tornar inelegível
àqueles que ainda não são candidatos (art. 1º, inciso I, “d” e art. 22, inciso XIV, ambos da Lei
Complementar nº 64/90). Porém, para a declaração de inelegibilidade, é necessário que tenha
ocorrido o trânsito em julgado do processo ou haja decisão de órgão colegiado.
Utilizar de recursos públicos para a construção de barragens, transporte gratuito de eleitores no dia
das eleições, concessão de gratificações aos servidores às vésperas do período de vedação legal,
excesso de nomeações e exonerações antes do início do período de proibição legal, são alguns dos
exemplos que, mesmo não proibidos por lei, já foram apontados pelos Ministros do Tribunal
Superior Eleitoral como exemplos de abuso do poder político.
193
RECURSO ESPECIAL ELEITORAL nº 060089607, Acórdão, Relator(a) Min. Benedito Gonçalves, Publicação: DJE -
Diário de Justiça Eletrônico, Tomo 78, Data 28/04/2023
194
RECURSO ORDINÁRIO ELEITORAL nº 060880963, Acórdão, Relator(a) Min. Raul Araujo Filho, Publicação: DJE -
Diário de Justiça Eletrônico, Tomo 97, Data 19/05/2023
195 Tribunal Superior Eleitoral - Recurso Especial Eleitoral nº 557, Acórdão de 16/08/2011, Relator(a) Min. ARNALDO VERSIANI LEITE
SOARES, Publicação: DJE - Diário da Justiça Eletrônico, Data 09/09/2011, Página 30/31
196 Tribunal Superior Eleitoral - Recurso Especial Eleitoral nº 36790, Decisão Monocrática de 22/03/2010, Relator(a) Min. CÁRMEN
LÚCIA ANTUNES ROCHA, Publicação: DJE - Diário da Justiça Eletrônico, Data 12/04/2010, Página 23/24
197 Recurso Especial Eleitoral nº 68254, Acórdão de 16/12/2014, Relator(a) Min. GILMAR FERREIRA MENDES, Publicação: DJE - Diário
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propaganda eleitoral (art. 37, §4º, Lei nº 9.504/97) e as agremiações religiosas não podem realizar
doações eleitorais (art. 24, VIII, Lei nº 9.504/97). É por isso que as agremiações religiosas não podem
se valer da estrutura de sias igrejas para proselitismo político, sob pena de caracterização de abuso
do poder econômico ou uso indevido dos meios de comunicação social198.
Embora não exista no ordenamento jurídico a figura autônoma do "abuso do poder religioso", tal
constatação não impede o combate, com base no artigo 22, inciso XIV, da Lei Complementar nº
64/90, a eventuais excessos advindos da atuação abusiva de organizações religiosas, prática que
não implica a subtração da liberdade de participação política e de manifestação do pensamento de
líderes religiosos199.
198 Luiz Carlos dos Santos Gonçalves. Direito Eleitoral. São Paulo: Editora Atlas.
199 RECURSO ORDINÁRIO ELEITORAL nº 224193, Acórdão, Relator(a) Min. Mauro Campbell Marques, Publicação: DJE - Diário de
Justiça Eletrônico, Tomo 105, Data 10/06/2021
200 Recurso Ordinário nº 537003, Acórdão, Relator(a) Min. Rosa Weber, Publicação: DJE - Diário de Justiça Eletrônico, Data
27/09/2018
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vedados pela legislação. Todo ordenamento jurídico deve ser interpretado de forma sistemática. A
garantia de liberdade religiosa e a laicidade do Estado não afastam, por si sós, os demais princípios
de igual estatura e relevo constitucional, que tratam da normalidade e da legitimidade das eleições
contra a influência do poder econômico ou contra o abuso do exercício de função, cargo ou emprego
na administração direta ou indireta, assim como os que impõem a igualdade do voto e de chances
entre os candidatos. Em princípio, o discurso religioso proferido durante ato religioso está protegido
pela garantia de liberdade de culto celebrado por padres, sacerdotes, clérigos, pastores, ministros
religiosos, presbíteros, epíscopos, abades, vigários, reverendos, bispos, pontífices ou qualquer outra
pessoa que represente religião. Tal proteção, contudo, não atinge situações em que o culto religioso
é transformado em ato ostensivo ou indireto de propaganda eleitoral, com pedido de voto em favor
dos candidatos. Nos termos do artigo 24, VIII, da Lei nº 9.504/97, os candidatos e os partidos
políticos não podem receber, direta ou indiretamente, doação em dinheiro ou estimável em
dinheiro, inclusive por meio de publicidade de qualquer espécie proveniente de entidades
religiosas. A proibição legal de as entidades religiosas contribuírem financeiramente para a
divulgação direta ou indireta de campanha eleitoral é reforçada, para os pleitos futuros, pelo
entendimento majoritário do Supremo Tribunal Federal no sentido de as pessoas jurídicas não
poderem contribuir para as campanhas eleitorais. A propaganda eleitoral não pode ser realizada em
bens de uso comum, assim considerados aqueles a que a população em geral tem acesso, tais como
os templos, os ginásios, os estádios, ainda que de propriedade privada201.
Configura abuso do poder econômico a utilização de recursos patrimoniais em excesso, sejam eles
públicos ou privados, sob poder ou gestão do candidato, em seu benefício eleitoral. O ilícito eleitoral
de abuso do poder é cláusula geral e apresenta conceito jurídico indeterminado, que deve ser
aferido diante da objetividade das balizas normativas, como a gravidade da conduta a demonstrar
sua relevância jurídica, diante da desproporcionalidade da utilização do poder econômico frente às
características das eleições, e o desequilíbrio na disputa eleitoral ou evidente prejuízo potencial à
normalidade e à legitimidade do pleito202.
A coação de eleitores a fim de que votem em candidato à reeleição, sob pena de serem excluídos
sumariamente de programa social, bem como a contratação de cabos eleitorais para obrigar
eleitores a retirar a propaganda de adversário e realizar propaganda do candidato impugnado
201 Recurso Ordinário nº 265308, Acórdão, Relator(a) Min. Henrique Neves Da Silva, Publicação: DJE - Diário de Justiça Eletrônico,
Data 05/04/2017, Página 20/21
202 Recurso Especial Eleitoral nº 49451, Acórdão, Relator(a) Min. Og Fernandes, Relator(a) designado(a) Min. Luis Felipe Salomão,
Publicação: DJE - Diário de Justiça Eletrônico, Tomo 27, Data 07/02/2020, Página 57/58
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configuram abuso do poder econômico, apto a viciar a vontade do eleitorado. A coação pode possuir
caráter econômico quando incute ao eleitor que, na hipótese de ele não votar no candidato, perderá
uma vantagem, o que evidencia nítido conceito patrimonial203.
Prefeito e vice-prefeito podem ser condenados pela captação ilícita de sufrágio e abuso do poder
econômico no fornecimento de vales-combustível quando a prova estiver consubstanciada na
distribuição de larga quantidade de combustíveis a motociclistas sem que se demonstre a existência
de atos de campanha (carreata) que justificassem a concessão da benesse. A utilização indevida, de
recursos para apoio de candidato constitui grave ofensa à legislação eleitoral, pois gera a indevida
quebra do princípio da igualdade de chances entre os candidatos, atingindo a normalidade e
legitimidade das eleições205.
203 Recurso Especial Eleitoral nº 36737, Acórdão, Relator(a) Min. Marcelo Ribeiro, Relator(a) designado(a) Min. Arnaldo Versiani,
Publicação: DJE - Diário de Justiça Eletrônico, Data 03/08/2010, Página 263/264
204 Ac de 1.8.2017 no AgR-RO nº 98090, rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, no mesmo sentido o Ac de 22.10.2015 na AC nº 104630,
rel. Min. Henrique Neves e o Ac de 22.10.2015 no REspe nº 51896, rel. Min. Henrique Neves
205 Ac de 1.9.2016 no REspe nº 76440, rel. Min. Henrique Neves.
206 Ac. de 9.5.2019 no REspe nº 50120, rel. Min. Admar Gonzaga, red. designado Min. Luís Roberto Barroso.
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É verdade que as restrições da legislação eleitoral são mais severas quando se trata das emissoras
de rádio e de televisão, pois estas são concessões públicas. Quanto aos jornais, livros, revistas,
boletins e folhetos, estes usufruem de espaço de liberdade maximizado, pois não dependem de
concessão ou permissão do Poder Público, nem tem o condão de invadir espaços privados,
dependendo, normalmente, de um ato de aquisição ou aceitação dos destinatários. Porém, mesmo
na imprensa escrita, não é possível valer-se da liberdade jornalística para transformar o meio de
comunicação em mero panfleto ou meio auxiliar de propaganda para determinado candidato. Isso
pode acontecer, por exemplo, quando em determinado ano eleitoral certo jornal realiza diversas
publicações afáveis, elogiosas e admiradoras de um candidato ou quando, em sentido oposto,
apresenta candidatos adversários de forma ridícula, desrespeitosa, humilhante, degradante,
expondo um claro e evidente desequilíbrio na oportunidade e tratamento dos candidatos. Entende
Luiz Carlos dos Santos Gonçalves que o local apropriado para que meios de imprensa indiquem suas
preferências partidárias é o editorial, devendo-se, de resto, preservar a imparcialidade207.
Segundo Igor Pereira Pinheiro, no livro “Condutas Vedadas aos Agentes Públicos em ano eleitoral”,
outra questão que merece análise detida é a exposição de policiais (sejam delegados, inspetores ou
militares) que, em certos casos, possuem acordo com o veículo de comunicação para que sejam
filmadas e divulgadas as ações policiais que exerce, inclusive atuando como apresentador ou
comentarista.
207 Luiz Carlos dos Santos Gonçalves. Direito Eleitoral. São Paulo: Editora Atlas.
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22. Uso de cores, símbolos, frases ou imagens associadas ou semelhantes às empregadas por
órgão de governo
Um dos temas que desperta atenção peculiar da doutrina e jurisprudência eleitoral é o uso de cores,
símbolos, frases ou imagens associadas ou semelhantes às empregadas pela Administração Pública
nos edifícios institucionais (escolas, postos de saúde, creches, paço municipal), em veículos,
uniformes e até mesmo em material gráfico e publicidade. Isso pode acontecer de duas formas: a)
quando o “candidato” adota na campanha eleitoral as mesmas cores, símbolos, frases ou imagens
usadas pelo Poder Público; b) quando o “agente público” altera as cores, símbolos, frases ou
imagens adotadas pelo Poder Público pelas cores, símbolos, frases ou imagens usadas pelo seu
partido ou pela campanha eleitoral, especialmente quando se concorre à reeleição ou quando o
agente público apoia um candidato “sucessor”.
Se isso ocorrer, poderá estar caracterizado crime eleitoral, abuso de autoridade ou infração às
condutas vedadas dos incisos I, II ou VI, “b”, do artigo 73, da Lei nº 9.504/97, como veremos adiante.
22.1. Crime
Os candidatos, partidos políticos ou coligações estão proibidos de usar na propaganda eleitoral
símbolos, frases ou imagens, associadas ou semelhantes às utilizadas por órgãos públicos.
(...) inviável dar à extensão da utilização de cor como símbolo de campanha, para fins do art. 40 da
Lei das Eleições, eis que às normas penais é vedado atribuir-se interpretação extensiva, em razão do
princípio da legalidade; (...) A conduta de utilizar no slogan de campanha cores idênticas às da gestão
municipal subsume-se ao tipo penal previsto no art. 40 da Lei nº 9.504/97, não configurando abuso
de autoridade como faz crer a coligação recorrente; (RECURSO ELEITORAL n 28321, ACÓRDÃO n 105
de 13/02/2017, Relator(aqwe) FÁBIO ALEXSANDRO COSTA BASTOS, Publicação: DJE - Diário da Justiça
Eletrônico, Data 20/02/2017 )
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O uso sistemático da mesma cor utilizada nos prédios públicos, veículos oficiais, uniformes escolares
e uniformes dos servidores, incorpora-se ao patrimônio público, daí então poderem, em tese, ser
caracterizados como símbolos, devendo-se analisar a campanha como um todo, pois a lei penal
interpreta-se restritivamente e não previu a cor como elemento da norma. Segundo o próprio
Tribunal Superior Eleitoral, o uso sistemático da mesma cor, em tese, não é crime, mas sim o “abuso
de autoridade”, previsto no artigo 74, da Lei nº 9.504/97 e §1º, do artigo 37, da Constituição
Federal208.
A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter
caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos
ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos. É
exatamente o que prevê o artigo 37, §1º, da Constituição Federal. Considera-se indevida publicidade
institucional, com promoção pessoal o que caracteriza o abuso de autoridade, tal como determina
o artigo 74, da Lei nº 9.504/97.
“Propaganda institucional. Imóveis públicos. Uso de cores. Identificação dos administradores. Abuso
de autoridade. Art. 74 da Lei no 9.504/97. Art. 37, § 1o, da Constituição da República. Fatos não
registrados na decisão recorrida. Abuso não reconhecido. Recurso não conhecido. 1. O uso sistemático
208Tribunal Superior Eleitoral - RECURSO ESPECIAL ELEITORAL nº 26380, Acórdão de 15/05/2008, Relator(a) Min. MARCELO
HENRIQUES RIBEIRO DE OLIVEIRA, Publicação: DJ - Diário da Justiça, Data 05/06/2008, Página 30 RJTSE - Revista de jurisprudência do
TSE, Volume 19, Tomo 2, Página 83
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“Recurso especial. Ação penal. Símbolos, frases ou imagens associadas à administração direta. Uso
em propaganda eleitoral. Art. 40 da Lei no 9.504/97. Programa de prestação de contas à comunidade.
Uso do brasão da Prefeitura. 1. Para configurar o tipo penal do art. 40 da Lei no 9.504/97, é
imprescindível que o ato praticado seja tipicamente de propaganda eleitoral. 2. A utilização de atos
de governo, nos quais seria lícito o uso de símbolos da Prefeitura, com finalidade eleitoral, pode, em
tese, configurar abuso do poder político, a ser apurado em processo específico. 3. Recurso conhecido
e provido.” (Tribunal Superior Eleitoral - Ac. no 21.290, de 19.8.2003, rel. Min. Fernando Neves.)
“Investigação judicial. Prefeito candidato à reeleição. Uso de caracteres pessoais em bens públicos.
Cores. Iniciais do nome. Slogans de campanha. Princípio da impessoalidade. Art. 37, § 1o, da
Constituição da República. Desobediência. Abuso do poder político. Art. 74 da Lei no 9.504/97. Fatos
ocorridos no período de campanha eleitoral. Competência da Justiça Eleitoral. Sentença proferida e
reformada pelo Tribunal Regional antes do pleito. Competência da Justiça Eleitoral assentada por
decisão do TSE. Nova decisão da Corte Regional confirmando a sentença. Cassação do registro.
Possibilidade. Art. 22, inciso XIV, da Lei Complementar no 64/90.” (Tribunal Superior Eleitoral - Ac. no
4.271, de 29.5.2003, rel. Min. Fernando Neves.)
O Tribunal Superior Eleitoral do Piauí do mesmo modo já decidiu que o uso sistemático de cores
ligadas ao partido político pode vir a configurar quebra da impessoalidade, ferindo o princípio da
igualdade que rege o pleito eleitoral209.
O ente público que utiliza as cores branco e verde em todos os prédios públicos fica visualmente
identificado por essas cores. Elas aderem ao seu patrimônio, enquanto as utilize. Não significa que
qualquer do povo também não possa usar as mesmas cores em sua residência. Poderá fazê-lo, em
perspectiva diferente, vedado o uso do brasão oficial. Mas quando é o candidato, partido político
ou coligação que passa a utilizar as mesmas cores utilizadas nos prédios públicos acaba ocorrendo
uma identificação única entre candidato e Poder Público. As mesmas cores, e às vezes, os mesmos
símbolos, remetem o eleitor a programas sociais que o beneficiam (ensino, saúde, habitação),
circunstância que pode caracterizar a desigualdade de oportunidades no pleito. Há um desequilíbrio
entre os candidatos.
Se o agente público praticar promoção pessoal, sendo também candidato a cargo público com
mandato eletivo, estará sujeito ao cancelamento do registro ou do diploma, conforme o artigo 74,
in fine, da Lei de Eleições (Lei nº 9.504/97).
Propaganda institucional - Imóveis públicos - Uso de cores - Identificação dos administradores - Abuso
de autoridade - Art. 74 da Lei nº 9.504/97 - Art. 37, § 1º, da Constituição da República. Fatos não
registrados na decisão recorrida - Abuso não reconhecido. Recurso não conhecido. 1. O uso
sistemático de cores pode caracterizar símbolo ou imagem para fins do § 1º do art. 37 da Constituição
da República. 2. O emprego em obras ou imóveis públicos de qualquer meio que possa identificar a
209Representação nº 272688, Acórdão nº 272688 de 04/03/2013, Relator(a) JOSÉ RIBAMAR OLIVEIRA, Publicação: DJE - Diário da
Justiça Eletrônico, Tomo 44, Data 12/03/2013, Página 5
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autoridade por eles responsável pode vir a constituir propaganda institucional. (RECURSO ESPECIAL
ELEITORAL nº 19492, Acórdão nº 19492 de 13/12/2001, Relator(a) Min. FERNANDO NEVES DA SILVA,
Publicação: DJ - Diário de Justiça, Volume 1, Data 22/3/2002, Página 157 RJTSE - Revista de
Jurisprudência do TSE, Volume 13, Tomo 2, Página 233)
Segundo a Corte de origem, a pintura de calçadas e de meios-fios das ruas da cidade nas cores do
partido, com recursos públicos e em pleno período eleitoral, configurou a conduta descrita inciso I do
art. 73 da Lei 9.504/97, por ter havido a utilização de bens públicos em favor dos candidatos a prefeito
e vice-prefeito.2. A decisão recorrida está alinhada com a jurisprudência desta Corte, no sentido de
que ‘a pintura de postes de sinalização de trânsito, dias antes do pleito de 2012, por determinação
do presidente da empresa municipal da área de transportes, na cor rosa, a mesma utilizada na
campanha eleitoral da candidata à reeleição para o cargo de prefeito, caracterizou a conduta vedada
aos agentes públicos em campanha eleitoral (art. 73, I, da Lei nº 9.504/97)’(Ac de AgR-REspe 953-04,
rel. Min. João Otávio Noronha, DJe de 25.2.2015). [...]" (Ac. de 31.8.2017 no AgR-AI nº 53553, rel.
Min. Admar Gonzaga.)
Desse modo, a utilização de cores, símbolos, frases, imagens, pode representar uma violação à
conduta vedada dirigida aos agentes públicos que proíbe “ceder ou usar” bens públicos móveis ou
imóveis em benefício de candidato, partido político ou coligação.
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O uso, na campanha eleitoral, de cor idêntica à utilizada em todas as fachadas dos prédios públicos,
quando o impugnado ocupava o cargo de prefeito municipal, deixa claro o desejo da associação
pretendida na propaganda. A interpretação aqui deve se guiar pelos elementos históricos (a
administração da prefeitura), a sistematização - observar-se a campanha como um todo. Ver-se-á
que a cor, colocada nesse contexto, varia de significado, ferindo o que dispõe o Art. 40 da Lei 9.504/97
(Tribunal Superior Eleitoral - RESPE 21432, Relator Ministro Peçanha Martins, DJ 25/6/2004, p. 176).
Investigação judicial - Prefeito candidato à reeleição - Uso de caracteres pessoais em bens públicos -
Cores - Iniciais do nome - Slogans de campanha - Princípio da impessoalidade - Art. 37, § 1º, da
Constituição da República - Desobediência - Abuso do poder político - Art. 74 da Lei nº 9.504/97. Fatos
ocorridos no período de campanha eleitoral - Competência da Justiça Eleitoral. Fatos incontroversos
- Testemunhas - Desnecessidade - Cerceamento de defesa - Não-ocorrência. Sentença proferida e
reformada pelo Tribunal Regional antes do pleito - Competência da Justiça Eleitoral assentada por
decisão do TSE - Nova decisão da Corte Regional confirmando a sentença - Cassação do registro -
Possibilidade - Art. 22, inciso XIV, da Lei Complementar nº 64/90. (Tribunal Superior Eleitoral -
AGRAVO DE INSTRUMENTO nº 4271, Acórdão nº 4271 de 29/05/2003, Relator(a) Min. FERNANDO
NEVES DA SILVA, Publicação: DJ - Diário de Justiça, Data 20/06/2003, Página 178)
“O uso de símbolo de governo em campanha eleitoral pode configurar crime previsto no art. 40 da
Lei nº 9.504/97”. (Tribunal Superior Eleitoral - AGRAVO DE INSTRUMENTO nº 4371, Acórdão nº 4371
210
Tribunal Superior Eleitoral - CONSULTA nº 1271, Resolução nº 22268 de 29/06/2006, Relator(a) Min. CARLOS EDUARDO CAPUTO
BASTOS, Publicação: DJ - Diário de Justiça, Volume I, Data 08/08/2006, Página 117
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A imagem do carteiro não está incluída entre os ‘...símbolos (de) órgãos do governo, empresa pública
ou sociedade de economia mista’, de que cogita o art. 40 da Lei nº 9.504/97. Agravo improvido.
(AGRAVO REGIMENTAL EM REPRESENTAÇÃO nº 464, Acórdão nº 464 de 19/09/2002, Relator(a) Min.
JOSÉ GERARDO GROSSI, Publicação: PSESS - Publicado em Sessão, Data 19/09/2002 RJTSE - Revista
de Jurisprudência do TSE, Volume 14, Tomo 1, Página 196)
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Porém, as despesas empenhadas e não pagas até 31 de dezembro são classificadas como “restos a
pagar”, podendo ser realizadas e quitadas em qualquer tempo, enquanto não se verificar a
prescrição quinquenal em favor da Fazenda Pública.
Os restos a pagar constituem dívida flutuante e devem ser registrados em conta própria, por
exercício e por credor, com distinção entre as despesas processadas e as não-processadas, as quais
podemos entender como despesas liquidadas e despesas não liquidadas, respectivamente.
A Lei de Responsabilidade Fiscal veda em seu artigo 42, ao titular do Poder ou órgão, nos últimos
dois quadrimestres do seu mandato, contrair obrigação de despesa que não possa ser cumprida
integralmente dentro dele ou que tenha parcelas a serem pagas no exercício seguinte sem que haja
suficiente disponibilidade de caixa para esse efeito:
Art. 42. É vedado ao titular de Poder ou órgão referido no art. 20, nos últimos dois
quadrimestres do seu mandato, contrair obrigação de despesa que não possa ser cumprida
integralmente dentro dele, ou que tenha parcelas a serem pagas no exercício seguinte sem
que haja suficiente disponibilidade de caixa para este efeito.
Este dispositivo legal alcança apenas as despesas empenhadas e liquidadas, dentro do período
compreendido nos dois últimos quadrimestres do mandato, ou seja, nos oito últimos meses do
mandato do Chefe do Poder Executivo ou Legislativo211.
Ele estabelece dois comandos. O primeiro proíbe, nos dois últimos quadrimestres do mandato,
contrair obrigação de despesa “que não possa ser cumprida integralmente dentro do próprio
exercício financeiro”. E o segundo proíbe, nos dois últimos quadrimestres do mandato, contrair
obrigação de despesa “que tenha parcelas a serem pagas no exercício seguinte sem que haja
suficiente disponibilidade de caixa”.
211Lei de Responsabilidade Fiscal comentada artigo por artigo, Flavio C. de Toledo Jr. e Sérgio Ciquera Rossi; Manual Básico A Lei de
Responsabilidade Fiscal TCESP
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Se a Administração Pública celebrar contrato em 2024, assumindo uma despesa, que seja liquidada
inteiramente no exercício de 2024, esta despesa deverá ser paga integralmente no ano de 2024, ou
deverá a Administração Pública reservar verba descompromissada para o próximo mandatário
político pagá-la após assumir o cargo212. Mas, se a despesa, embora empenhada, somente será
liquidada no exercício seguinte, isto é, 2025, então pode livremente ser contratada, sem a
preocupação de se atender o artigo 42, da Lei de Responsabilidade Fiscal.
Com efeito, as despesas empenhadas nos oito últimos meses de mandato, no exercício de 2024,
mas não liquidadas, isto é, ainda não executadas pelo contratado, ficam de fora da regra do artigo
42. Isto porque, o futuro mandatário, utilizando-se de seu poder discricionário, pode revogar
contratos de fornecimento parcelado, notadamente os de materiais e serviços. Frente ao princípio
orçamentário da anualidade, as receitas arrecadadas no exercício são carreadas para as despesas
assumidas nesse mesmo período. Tal princípio não considera que despesa futuramente realizada se
ampare em receita atual213.
Embora o artigo 42 aplique-se apenas em relação as despesas empenhadas e liquidadas, existem
aquelas despesas que mesmo não liquidadas nos últimos oito meses do exercício de 2024, estão em
processo de execução e dificilmente poderão ser legalmente interrompidas pelo mandatário
posterior, como é o caso das obras públicas. Nestes casos, a Administração Pública também precisa
realizar o seu pagamento integral no exercício financeiro de 2024 ou reservar caixa suficiente, ainda
no mesmo exercício de 2024, para satisfação da obrigação, mesmo que o pagamento ocorra no
exercício seguinte.
O parágrafo único do artigo 42 da Lei de Responsabilidade Fiscal estabelece a forma para calcular a
real disponibilidade de caixa. Devem ser somadas as receitas futuras previstas e deduzidos os
encargos e despesas compromissadas a pagar. Não basta, portanto, possuir em determinado
momento, dentro dos oito últimos meses da gestão, recursos financeiros em caixa ou bancos.
Imperioso elaborar previsão do fluxo financeiro até o final do exercício, que deverá confrontar os
recursos financeiros com os compromissos já assumidos. A eventual diferença positiva é que
autorizará o gestor a contrair nova obrigação de despesa.
A Administração Pública deve confrontar receitas esperadas e despesas a pagar e se, ainda assim,
projetar-se uma diferença financeira positiva, absolutamente descompromissada de fundos
especiais ou qualquer outro tipo de vinculação orçamentária, aí sim, um novo gasto poderá ser
ordenado214.
Neste cálculo, deverão ser consideradas, em face de sua previsibilidade, as despesas com o
fornecimento de produtos ou prestação de serviços de caráter continuado, que mesmo não
empenhadas no período compreendido entre maio e dezembro de 2024, são liquidadas dentro
212 Lei de Responsabilidade Fiscal comentada artigo por artigo, Flavio C. de Toledo Jr. e Sérgio Ciquera Rossi; Manual Básico A Lei de
Responsabilidade Fiscal TCESP; Lei de Responsabilidade Fiscal – Cinco temas de interesse municipal, Ivan Barbosa Rigolin.
213 Lei de Responsabilidade Fiscal comentada artigo por artigo, Flavio C. de Toledo Jr. e Sérgio Ciquera Rossi.
214 Lei de Responsabilidade Fiscal comentada artigo por artigo, Flavio C. de Toledo Jr. e Sérgio Ciquera Rossi.
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desse período, tornando exigível o seu pagamento em 2024 ou suporte de caixa suficiente para fazê-
lo. Se assim não fosse, estaria sancionada afronta à responsabilidade fiscal, validando-se empenhos
sem cobertura financeira e, disso decorrente, o déficit orçamentário e o aumento da dívida
pública215.
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EMPENHO
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Tem-se argumentado que tal regra foi abolida por preceito mais recente, o artigo 42 da Lei de
Responsabilidade Fiscal, vez que este restringe a execução orçamentária dos dois últimos
quadrimestres do mandato, o que alcança o último mês da gestão.
Art. 59 - O empenho da despesa não poderá exceder o limite dos créditos concedidos.
(Redação dada pela Lei nº 6.397, de 1976)
§ 2º Fica, também, vedado aos Municípios, no mesmo período, assumir, por qualquer
forma, compromissos financeiros para execução depois do término do mandato do
Prefeito. (Incluído pela Lei nº 6.397, de 1976)
216 Manual: os cuidados com o último ano de mandato. Revista do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo.
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A operação de crédito por antecipação da receita orçamentária, proibida no último ano de mandato
do presidente, governador ou prefeito municipal, destina-se a atender insuficiência de caixa durante
o exercício financeiro e deve cumprir, entre outras exigências, as seguintes: a) autorização em lei
para a contratação; b) liquidação até o dia dez de dezembro de cada ano; c) previsão na receita
orçamentária.
De acordo com Lei de Crimes Fiscais, que introduziu no Código Penal o artigo 359-A218, tal conduta
constitui crime sujeito à reclusão de um a dois anos.
Segundo o Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, de curto prazo, tais empréstimos, de índole
extraorçamentária, são para cobrir insuficiências de caixa, ou seja, falta de dinheiro para despesas
realizadas, vindo isso denotar má planificação financeira. Quanto às operações normais de crédito,
de caráter orçamentário, a Resolução nº 43, de 2000, alterada pela Resolução nº 3, de 2002, do
Senado Federal, impede-as 120 dias antes do término do mandato executivo.
Art. 38. A operação de crédito por antecipação de receita destina-se a atender insuficiência
de caixa durante o exercício financeiro e cumprirá as exigências mencionadas no art. 32 e
mais as seguintes:
I - realizar-se-á somente a partir do décimo dia do início do exercício;
II - deverá ser liquidada, com juros e outros encargos incidentes, até o dia dez de dezembro
de cada ano;
III - não será autorizada se forem cobrados outros encargos que não a taxa de juros da
operação, obrigatoriamente prefixada ou indexada à taxa básica financeira, ou à que vier
a esta substituir;
IV - estará proibida:
a) enquanto existir operação anterior da mesma natureza não integralmente resgatada;
b) no último ano de mandato do Presidente, Governador ou Prefeito Municipal.
217 Lei de Responsabilidade Fiscal comentada artigo por artigo, Flavio C. de Toledo Jr. e Sérgio Ciquera Rossi.
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§ 1o As operações de que trata este artigo não serão computadas para efeito do que dispõe
o inciso III do art. 167 da Constituição, desde que liquidadas no prazo definido no inciso II
do caput.
§ 2o As operações de crédito por antecipação de receita realizadas por Estados ou
Municípios serão efetuadas mediante abertura de crédito junto à instituição financeira
vencedora em processo competitivo eletrônico promovido pelo Banco Central do Brasil.
§ 3o O Banco Central do Brasil manterá sistema de acompanhamento e controle do saldo
do crédito aberto e, no caso de inobservância dos limites, aplicará as sanções cabíveis à
instituição credora.
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Art. 73...
§ 4º O descumprimento do disposto neste artigo acarretará a suspensão imediata da
conduta vedada, quando for o caso, e sujeitará os responsáveis a multa no valor de cinco
a cem mil UFIR.
§ 5o Nos casos de descumprimento do disposto nos incisos do caput e no § 10, sem prejuízo
do disposto no § 4o, o candidato beneficiado, agente público ou não, ficará sujeito à
cassação do registro ou do diploma.
§ 6º As multas de que trata este artigo serão duplicadas a cada reincidência.
A suspensão imediata da conduta, por decisão liminar do Juiz Eleitoral, é possível quando presente
a verossimilhança do direito alegado pelo Representante e o perigo na demora do provimento
judicial.
Além disso, pela redação dada pela Lei nº 12.034/09, o candidato, agente público ou não, que
praticar qualquer uma das condutas vedadas pelo artigo 73, da Lei nº 9.504/97, ficará sujeito à
cassação do registro ou do diploma. Até as eleições de 2008, apenas algumas condutas recebiam
esta pena.
O disposto no artigo 73, § 5º, da Lei nº 9.504/97 não determina que o infrator perca,
automaticamente, o registro ou o diploma. Na aplicação desse dispositivo, reserva-se ao
magistrado, o juízo da proporcionalidade. Nessa medida, é assente no Tribunal Superior Eleitoral
que a pena de cassação de registro ou de diploma, em decorrência da prática de conduta vedada,
219 Tribunal Superior Eleitoral - Ac. de 22.10.2009 no AgR-AI nº 11488, rel. Min. Arnaldo Versiani.
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pode deixar de ser aplicada quando o Tribunal, analisando o contexto da prática ilícita, verificar que
a lesividade é de ínfima extensão220.
Conforme estabelece o artigo 78, da Lei nº 9.504/97, a aplicação das sanções de multa e cassação
do registro ou do diploma, não impedem a aplicação de sanções de cunho administrativo, civil e
penal, que também podem incidir em relação ao ilícito praticado.
A atual jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral não exige o nexo de causalidade entre o abuso
praticado e o resultado do pleito, somente a demonstração da provável influência do ilícito no
resultado eleitoral223. Os efeitos decorrentes do cometimento da conduta vedada são automáticos,
ante o caráter objetivo do ilícito, o qual prescinde da análise de pormenores circunstanciais que
eventualmente possam estar atrelados à prática, tais como potencialidade lesiva e finalidade
eleitoral224. Descabe levar em conta a potencialidade lesiva do ilícito de interferir no resultado de
pleito para a configuração da conduta vedada225.
220 Tribunal Superior Eleitoral - Ac. de 11.12.2007 no AgRgREspe nº 26.060, rel. Min. Cezar Peluso.
221 Tribunal Superior Eleitoral - Ac. de 21.10.2010 na Rp nº 295986, rel. Min. Henrique Neves da Silva.)
222 Representação nº 295986, Acórdão de 21/10/2010, Relator(a) Min. HENRIQUE NEVES DA SILVA, Publicação: DJE - Diário da Justiça
Data 22/09/2020
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Caso fosse exigida a potencialidade para configuração de qualquer conduta vedada descrita na
norma, poderiam ocorrer situações em que, diante de um fato de somenos importância, não se
poderia sequer aplicar multa, de modo a punir o ilícito226.
Segundo o Tribunal Regional Eleitoral de Goiás, Para a configuração das condutas vedadas é
desnecessária a aferição da potencialidade lesiva para desequilibrar o pleito ou a obtenção de
vantagens pelo beneficiário, basta tão somente a consumação do ato, pois a norma ostenta caráter
objetivo, admitindo apenas juízo de ponderação quanto à gravidade228.
Decidiu o Tribunal Regional Eleitoral de Sergipe que para a configuração do ilícito independe da
potencialidade lesiva para desequilibrar o pleito ou alterar o seu resultado, bem como dispensa
demonstração concreta do dano às eleições229.
226 Agravo Regimental em Agravo de Instrumento nº 12165, Acórdão de 19/08/2010, Relator(a) Min. ARNALDO VERSIANI LEITE
SOARES, Publicação: DJE - Diário da Justiça Eletrônico, Data 01/10/2010, Página 32-33
227 RESPE nº 24.795, de 26.10.2004, rel. Min. Luiz Carlos Madeira; vide, também, entre outros: RESPE nº 27.737, de 04.12.2007, rel.
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configuração do ato abusivo, não será considerada a potencialidade de o fato alterar o resultado da
eleição, mas apenas a gravidade das circunstâncias que o caracterizam:
XVI – para a configuração do ato abusivo, não será considerada a potencialidade de o fato
alterar o resultado da eleição, mas apenas a gravidade das circunstâncias que o
caracterizam.
Art. 78. A aplicação das sanções cominadas no art. 73, §§ 4º e 5º, dar-se-á sem prejuízo de
outras de caráter constitucional, administrativo ou disciplinar fixadas pelas demais leis
vigentes.
232 AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL ELEITORAL nº 25770, Acórdão de 06/03/2007, Relator(a) Min. ANTONIO CEZAR
PELUSO, Publicação: DJ - Diário de justiça, Data 21/03/2007, Página 159
233 AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ORDINÁRIO nº 718, Acórdão nº 718 de 24/05/2005, Relator(a) Min. LUIZ CARLOS LOPES
MADEIRA, Publicação: DJ - Diário de Justiça, Volume 1, Data 17/06/2005, Página 161 RJTSE - Revista de Jurisprudência do TSE, Volume
16, Tomo 2, Página 188
234 Agravo de Instrumento nº 5197, Acórdão, Relator(a) Min. Tarcisio Vieira De Carvalho Neto, Publicação: DJE - Diário de justiça
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"Não obstante, cuidam os presentes autos de tipificação por condutas vedadas aos agentes públicos
em campanhas eleitorais, praticadas pelos Embargantes, uma vez na qualidade de então Presidente
e Secretário da Câmara Municipal de Colíder. À evidência, trata-se de condutas e penalidades
absolutamente distintas, a se ver pelas sanções legais impostas e, em especial, pelos sujeitos passivos
das mesmas. Enquanto o art. 43 invoca propaganda irregular na imprensa escrita acima dos limites
de página legalmente previstos, sujeitando além dos responsáveis pela veiculação, 'qualquer'
candidato a cargo eletivo; a norma legal inserta no art. 73 da Lei n3 9.504, elenca as condutas
vedadas a 'agentes públicos' em campanha eleitoral, obviamente, com sanções de maior gravidade,
considerando as situações privilegiadas em que os mesmos se encontram (...). Ademais, mister
consignar o disposto no art. 78 da referida Lei: 'A aplicação das sanções cominadas no art. 73, §§ 4o
e 5o, dar-se-á sem prejuízo de outras de caráter constitucionais administrativo ou disciplinar fixadas
pelas demais leis vigentes'. (TSE - RECURSO ESPECIAL ELEITORAL nº 19626, Acórdão nº 19626 de
11/04/2002, Relator(a) Min. LUIZ CARLOS LOPES MADEIRA, Publicação: DJ - Diário de Justiça, Volume
1, Data 28/06/2002, Página 249)
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Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer
ação ou omissão dolosa, que enseje, efetiva e comprovadamente, perda patrimonial,
desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades
referidas no art. 1º desta Lei, e notadamente:
II - permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica privada utilize bens, rendas,
verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º
desta lei, sem a observância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à
espécie;
III - doar à pessoa física ou jurídica bem como ao ente despersonalizado, ainda que de fins
educativos ou assistências, bens, rendas, verbas ou valores do patrimônio de qualquer das
entidades mencionadas no art. 1º desta lei, sem observância das formalidades legais e
regulamentares aplicáveis à espécie;
Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da
administração pública a ação ou omissão dolosa que viole os deveres de honestidade, de
imparcialidade e de legalidade, caracterizada por uma das seguintes condutas:
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A prática desses atos administrativos, conforme o caso, sujeita os infratores às sanções previstas no
artigo 12, da Lei nº 8.429/92, de modo isolado ou coletivo (ressarcimento integral do dano, perda
da função pública, suspensão dos direitos políticos, multa civil, proibição de contratar ou receber
benefícios, incentivos fiscais ou creditícios):
I - na hipótese do art. 9º desta Lei, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao
patrimônio, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos até 14 (catorze) anos,
pagamento de multa civil equivalente ao valor do acréscimo patrimonial e proibição de
contratar com o poder público ou de receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios,
direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio
majoritário, pelo prazo não superior a 14 (catorze) anos;
II - na hipótese do art. 10 desta Lei, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao
patrimônio, se concorrer esta circunstância, perda da função pública, suspensão dos
direitos políticos até 12 (doze) anos, pagamento de multa civil equivalente ao valor do
dano e proibição de contratar com o poder público ou de receber benefícios ou incentivos
fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica
da qual seja sócio majoritário, pelo prazo não superior a 12 (doze) anos;
III - na hipótese do art. 11 desta Lei, pagamento de multa civil de até 24 (vinte e quatro)
vezes o valor da remuneração percebida pelo agente e proibição de contratar com o poder
público ou de receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou
indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário,
pelo prazo não superior a 4 (quatro) anos;
Nesse caso, a competência para processar e julgar o ato tido como ilegal não será da Justiça Eleitoral,
mas da Justiça comum (Justiça federal no caso de autoridade da administração federal). As
penalidades também não são de ordem eleitoral ao candidato, mas de ordem cível-administrativa
ao gestor que venha a ser imputado pelo ato de improbidade236.
RECURSO ESPECIAL. REPRESENTACAO. CONDUTA VEDADA. LEI N. 9.504/97, ART. 73, I, PARAGRAFO
7. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. LEI N. 8.429/92. INCOMPETENCIA DA JUSTICA ELEITORAL.
SUPRESSAO DE INSTANCIA. NAO OCORRENCIA. 1. A lei n. 9.504/97, art. 73, I, parágrafo 7º, sujeitas
as condutas ali vedadas ao agente público as cominações da Lei n. 8.429/92, por ato de improbidade
236(Tribunal Superior Eleitoral - RECURSO ESPECIAL ELEITORAL nº 15840, Acórdão nº 15840 de 17/06/1999, Relator(a) Min. EDSON
CARVALHO VIDIGAL, Publicação: DJ - Diário de Justiça, Data 10/09/1999, Página 66 RJTSE - Revista de Jurisprudência do TSE, Volume
11, Tomo 4, Página 242)
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administrativa. 2. Todavia, não é possível a aplicação dessas sanções pela justiça eleitoral, quanto
menos através do rito sumario da representação. 3. A designação de juízes auxiliares, que exercem
a mesma competência do tribunal eleitoral, trata-se de uma faculdade conferida pela lei n. 9.504/97,
art. 96, II, parágrafo 3. 4. Recurso especial parcialmente provido. (TSE - RECURSO ESPECIAL ELEITORAL
nº 15840, Acórdão nº 15840 de 17/06/1999, Relator(a) Min. EDSON CARVALHO VIDIGAL, Publicação:
DJ - Diário de Justiça, Data 10/09/1999, Página 66 RJTSE - Revista de Jurisprudência do TSE, Volume
11, Tomo 4, Página 242)
AÇÃO CIVIL PÚBLICA Improbidade administrativa Remoção de servidor público em período eleitoral
Ato que viola o disposto no art. 73, inciso V, da Lei n° 9.504/97, que veda a remoção de servidores
públicos no período compreendido entre os três meses que antecedem as eleições e a posse do
candidato eleito improbidade administrativa caracterizada, face o disposto no art. 11, inciso I, da Lei
n° 8 429/92 Sentença que aplicou pena de suspensão dos direitos políticos, por três anos Penalidade
gravíssima, que, no caso concreto, se mostra excessiva. Recurso do réu parcialmente provido, apenas
para excluir a penalidade de suspensão dos direitos políticos, aplicando-se a pena de multa Recurso
da Municipalidade prejudicado (TJSP – Apelação com Revisão nº 9175140-56.2004.8.26.0000)
Improbidade administrativa - Art. 11,1, da Lei 8.429/92 - Distribuição de cestas básicas às vésperas
das eleições em que o prefeito concorria à reeleição e terminou vitorioso. Fato considerado legal pelo
T.K.K., circunstância, entretanto, que não afasta a responsabilidade civil por atos de improbidade
administrativa, nos exatos termos do disposto no § 7", do art. 73, da Lei Federal 9.504/97, que
disciplina as eleições. Pessoas carentes que pediam cestas básicas ao Fundo Social de Solidariedade
do Município, presidido pela esposa do prefeito, ocasião em que tinham de indicar, no requerimento,
o número do título de eleitor. Requerimentos formulados, muitos deles, no início do ano, em fevereiro,
março c abril, quando as cestas foram entregues, em kombi da prefeitura, na antevéspera das
eleições. Desvio de finalidade evidente. Imoralidade e ilegalidade verificadas. A Administração tem
de buscar a satisfação do interesse geral, e não do pessoal, do administrador. Ação procedente.
Recursos desprovidos, com observação. (TJSP – Apelação n APEL. N°: 994.08.098333-8)
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REPRESENTAÇÃO ELEITORAL
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27. Representação
Para discutir judicialmente a prática de conduta vedada, cabe “Representação”. Está prevista no
artigo 73, da Lei nº 9.504/97:
Art. 73...
§ 12. A representação contra a não observância do disposto neste artigo observará
o rito do art. 22 da Lei Complementar no 64, de 18 de maio de 1990, e poderá ser
ajuizada até a data da diplomação. (Incluído pela Lei nº 12.034, de 2009)
§ 13. O prazo de recurso contra decisões proferidas com base neste artigo será de
3 (três) dias, a contar da data da publicação do julgamento no Diário Oficial.
(Incluído pela Lei nº 12.034, de 2009)
27.1. Conceito
Representação eleitoral é a denúncia formal apresentada perante a Justiça Eleitoral em decorrência
da prática de conduta vedada ao agente público, conforme normas da Lei nº 9.504/97. Tem natureza
jurídica de ação judicial. A representação resultará na suspensão imediata da conduta vedada, multa
no valor de cinco a cem mil UFIRs, além de cassação do registro ou do diploma.
A representação deverá ser proposta contra o candidato, partido ou coligação beneficiados com a
conduta vedada, além do agente público, mesmo que não seja candidato. A jurisprudência do
Tribunal Superior Eleitoral tem entendido que o agente público que concorreu para o
comportamento ilício deve compor a lide, na qualidade de litisconsorte passivo necessário.
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A partir da Lei nº 12.034/09, que introduziu os §§13 e 14, no artigo 73, da Lei nº 9.504/97, ficou
literalmente estabelecido que a representação contra a prática das condutas vedadas pelo artigo 73
seriam processadas e julgadas de acordo com o rito processual do artigo 22, da Lei Complementar
nº 64/90.
De acordo com o disposto no artigo 22 da Lei Complementar n° 64/90, qualquer partido político,
coligação, candidato ou o Ministério Público Eleitoral poderá representar à Justiça Eleitoral,
diretamente ao Corregedor Regional, relatando fatos e indicando provas, indícios e circunstâncias e
pedir a abertura de investigação judicial para apurar o uso indevido, desvio ou abuso do poder
econômico ou do poder de autoridade ou a utilização indevida de veículos ou meios de comunicação
social, em benefício de candidato ou de Partido Político.
No caso das eleições municipais, objeto do presente trabalho, o Juiz Eleitoral deverá receber a
representação e adotar o procedimento determinado pelo artigo 22 da Lei Complementar nº 64/90.
Senão vejamos:
Art. 22. Qualquer partido político, coligação, candidato ou Ministério Público Eleitoral poderá
representar à Justiça Eleitoral, diretamente ao Corregedor-Geral ou Regional, relatando fatos e
indicando provas, indícios e circunstâncias e pedir abertura de investigação judicial para apurar uso
indevido, desvio ou abuso do poder econômico ou do poder de autoridade, ou utilização indevida de
veículos ou meios de comunicação social, em benefício de candidato ou de partido político,
obedecido o seguinte rito:
III - o interessado, quando for atendido ou ocorrer demora, poderá levar o fato ao conhecimento do
Tribunal Superior Eleitoral, a fim de que sejam tomadas as providências necessárias;
IV - feita a notificação, a Secretaria do Tribunal juntará aos autos cópia autêntica do ofício
endereçado ao representado, bem como a prova da entrega ou da sua recusa em aceitá-la ou dar
recibo;
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V - findo o prazo da notificação, com ou sem defesa, abrir-se-á prazo de 5 (cinco) dias para inquirição,
em uma só assentada, de testemunhas arroladas pelo representante e pelo representado, até o
máximo de 6 (seis) para cada um, as quais comparecerão independentemente de intimação;
VI - nos 3 (três) dias subseqüentes, o Corregedor procederá a todas as diligências que determinar, ex
officio ou a requerimento das partes;
VII - no prazo da alínea anterior, o Corregedor poderá ouvir terceiros, referidos pelas partes, ou
testemunhas, como conhecedores dos fatos e circunstâncias que possam influir na decisão do feito;
VIII - quando qualquer documento necessário à formação da prova se achar em poder de terceiro,
inclusive estabelecimento de crédito, oficial ou privado, o Corregedor poderá, ainda, no mesmo
prazo, ordenar o respectivo depósito ou requisitar cópias;
IX - se o terceiro, sem justa causa, não exibir o documento, ou não comparecer a juízo, o Juiz poderá
expedir contra ele mandado de prisão e instaurar processo por crime de desobediência;
XI - terminado o prazo para alegações, os autos serão conclusos ao Corregedor, no dia imediato, para
apresentação de relatório conclusivo sobre o que houver sido apurado;
XII - o relatório do Corregedor, que será assentado em 3 (três) dias, e os autos da representação serão
encaminhados ao Tribunal competente, no dia imediato, com pedido de inclusão incontinenti do
feito em pauta, para julgamento na primeira sessão subseqüente;
XIII - no Tribunal, o Procurador-Geral ou Regional Eleitoral terá vista dos autos por 48 (quarenta e
oito) horas, para se pronunciar sobre as imputações e conclusões do Relatório;
XIV – julgada procedente a representação, ainda que após a proclamação dos eleitos, o Tribunal
declarará a inelegibilidade do representado e de quantos hajam contribuído para a prática do ato,
cominando-lhes sanção de inelegibilidade para as eleições a se realizarem nos 8 (oito) anos
subsequentes à eleição em que se verificou, além da cassação do registro ou diploma do candidato
diretamente beneficiado pela interferência do poder econômico ou pelo desvio ou abuso do poder
de autoridade ou dos meios de comunicação, determinando a remessa dos autos ao Ministério
Público Eleitoral, para instauração de processo disciplinar, se for o caso, e de ação penal, ordenando
quaisquer outras providências que a espécie comportar; (Redação dada pela Lei Complementar nº
135, de 2010)
XV – (revogado)
XVI – para a configuração do ato abusivo, não será considerada a potencialidade de o fato alterar o
resultado da eleição, mas apenas a gravidade das circunstâncias que o caracterizam. (Incluído pela
Lei Complementar nº 135, de 2010)
Parágrafo único. O recurso contra a diplomação, interposto pelo representante, não impede a
atuação do Ministério Público no mesmo sentido.
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Recebida a Representação, nas eleições municipais o Juiz Eleitoral poderá determinar a notificação
do Representado, a suspensão liminar do ato que deu causa a Representação ou indeferir a inicial.
Recebida a Notificação, o prazo para apresentação de Defesa é de 05 (cinco) dias, podendo juntar
documentos e arrolar testemunhas.
O prazo de recurso contra decisões proferidas com base no artigo 73, da Lei nº 9.504/97, será de 3
(três) dias, a contar da data da publicação do julgamento no Diário Oficial.
DESPACHO - 1. A presente representação corre sob o rito do art. 22, da Lei Complementar nº 64, de
1990, por força do §12, do art. 73, da Lei 9.504/97. 2. As partes não requereram a produção de
provas. 3. Considero, porém, necessário esclarecer ponto controvertido entre as defesas. A primeira
representada diz não haver prova de que o discurso por ela proferido foi transmitido pela TV
Assembléia, ao passo que a Mesa da Assembléia afirma que transmitiu "ao vivo" todas as solenidades
de entrega da medalha "Farroupilha" realizadas no ano de 2010. 4. Assim, na forma do inc. VI, do
art. 22 da LC 64/90, combinado com o art. 26 e §§, determino a extração de ofício, que será por mim
assinado, à Mesa da Assembléia de Deputados do Rio Grande do Sul, determinando a remessa de
mídia contendo o inteiro teor do programa que veiculou a referida entrega de medalha. 5. Ratifique-
se a autuação, nos termos requeridos à fl. 49. 6. A certificação requerida à fl. 49, já consta do processo
(fl.45) Brasília, 2 de agosto de 2010. Ministro Henrique Neves da Silva Relator (Tribunal Superior
Eleitoral - Representação nº 192054, Decisão Monocrática de 02/08/2010, Relator(a) Min. HENRIQUE
NEVES DA SILVA, Publicação: DJE - Diário da Justiça Eletrônico, Data 05/08/2010, Página 59)
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cujos requisitos serão examinados sob a ótica do art. 73 da Lei nº 9.504/97. Agravo regimental que
se julga prejudicado. (Agravo Regimental em Agravo de Instrumento nº 299023, Acórdão de
25/10/2014, Relator(a) Min. HENRIQUE NEVES DA SILVA, Publicação: PSESS - Publicado em Sessão,
Data 25/10/2014)
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28.2. Conceito
Trata-se de uma ação judicial processada perante a Justiça Eleitoral com a finalidade de proteger a
probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada a vida pregressa do
candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou
o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta (art. 14, §9º,
Constituição Federal). É a única ação eleitoral que pode produzir como sanção direta a
“inelegibilidade” para as eleições a se realizarem nos 8 (oito) anos subsequentes à eleição em que
se verificou (art. 22, XIV, Lei Complementar nº 64/90).
O polo passivo da ação deve ser composto por todos os que contribuíram para a prática do ato
abusivo e não apenas o candidato beneficiado. No caso de Chefe do Poder Executivo, o candidato a
vice também deve compor a lide, como litisconsorte passivo necessário.
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