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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI

MECÂNICA E GRAVITAÇÃO

GUARULHOS – SP
SUMÁRIO

1 Movimentos unidimensionais .................................................................................. 4

1.1 Classificação dos movimentos unidimensionais ............................................... 10

1.2 Determinação de x(t) a partir de v(t) e de v(t) a partir de a(t) ............................ 10

1.3 Aceleração constante ....................................................................................... 12

2 Equações Diferenciais .......................................................................................... 15

2.1 Teoria das Equações Diferenciais Lineares ...................................................... 16

2.2 Equação Homogênea ....................................................................................... 17

3 Equações Não-Lineares ........................................................................................ 18

3.1 Estudo de equação lineares de uma variável ................................................... 20

3.2 Existência e unicidade de soluções .................................................................. 21

3.3 Método da Bissecção ........................................................................................ 22

3.4 O método de Newton ........................................................................................ 24

4 Cinemática e Dinâmica das Rotações .................................................................. 28

4.1 A primeira lei de Newton - a lei da inércia ......................................................... 29

4.1.1 Força Resultante ............................................................................................. 30

4.2 A Segunda lei de Newton ................................................................................. 32

4.3 A terceira Lei de Newton ................................................................................... 33

5 Cinemática vetorial................................................................................................ 34

5.1 Projeção do movimento num eixo ..................................................................... 34

5.2 Aceleração da gravidade .................................................................................. 35

5.3 Vetores ............................................................................................................. 40

5.4 Propriedades dos vetores ................................................................................. 41

5.5 Velocidade e aceleração vetoriais .................................................................... 45


5.6 Lançamento de projéteis ................................................................................... 49

5.7 Velocidade e aceleração relativas .................................................................... 52

5.8 Movimentos dependentes ................................................................................. 54

5.9 Produto escalar ................................................................................................. 59

6 Forças centrais...................................................................................................... 62

7 Movimento Circular ............................................................................................... 63

7.1 Movimento circular uniforme (MCU) ................................................................. 65

7.2 Velocidade escalar no MCU ............................................................................. 67

7.3 Força centrípeta no MCU e no MCUV .............................................................. 68

7.4 Movimento circular uniformemente variado (MCUV) ........................................ 70

7.5 Resumo sobre MCUV ....................................................................................... 71

7.6 Exemplos de movimento circular ...................................................................... 71

8 Movimento uniforme .............................................................................................. 75

8.1 Fórmulas do movimento uniforme..................................................................... 76

8.2 Referenciais e classificação do movimento ...................................................... 76

8.3 Velocidade média ............................................................................................. 78

8.4 Unidades de medida da velocidade .................................................................. 78

8.5 Gráficos do movimento uniforme ...................................................................... 80

9 Movimento uniformemente variado ....................................................................... 84

9.1 Equação de Torricelli ........................................................................................ 89

10 Lançamento de Projéteis ...................................................................................... 91

10.1 A queda livre dos corpos: ............................................................................... 92

10.2 O lançamento oblíquo: .................................................................................... 92

11 HISTÓRIA DA ASTRONOMIA .............................................................................. 94

11.1 A Astronomia através dos tempos .................................................................. 94


12 A Astronomia Pré-Histórica ................................................................................... 94

12.1 A Astronomia na Mesopotâmia ....................................................................... 95

12.2 A Astronomia Chinesa .................................................................................... 96

12.3 A Astronomia entre os Egípcios ...................................................................... 97

12.4 A Astronomia Grega ....................................................................................... 97

12.5 Os Astrônomos da Grécia Antiga ................................................................... 98

12.6 A Astronomia na Idade Média ....................................................................... 103

12.7 A Nova Astronomia ....................................................................................... 107

12.8 A Astronomia Moderna ................................................................................. 108

13 Gravitação Universal ........................................................................................... 109

13.1 Fórmula da Gravitação Universal ................................................................. 109

13.2 Gravitação Universal e a Terceira Lei de Kepler .......................................... 111

13.3 Constante de gravitação universal ................................................................ 112

14 Leis de Kepler ..................................................................................................... 114

14.1 Leis de Kepler e a Gravitação Universal ....................................................... 117

15 Bibliografia Básica............................................................................................... 118


1 MOVIMENTOS UNIDIMENSIONAIS1

Dentre os vários movimentos que iremos estudar, o movimento unidimensional é


o mais simples, já que todas as grandezas vetoriais que descrevem o movimento são
paralelas. Como o movimento ocorre em apenas uma dimensão, é necessária apenas
uma coordenada para especificar a posição de um corpo em cada instante de tempo.
Consideremos um corpo que no instante t1 encontra-se na posição x1. Após um
intervalo de tempo ∆t = t2 – t1, o corpo estará na posição x2 no instante de tempo t2.
Definimos o deslocamento como sendo ∆x = x2 – x1 e a velocidade média do corpo
neste intervalo de tempo como:

O sentido do deslocamento do corpo é dado pelo sinal do próprio deslocamento


ou da velocidade média (são proporcionais). Geometricamente, a velocidade média
entre os pontos x2 e x1 corresponde à inclinação da reta que passa por estes pontos,
conforme mostra a Fig. 2.1.

Fonte: ifsc.usp.br

1 Texto extraído de: fotonica.ifsc.usp.br


4
Quanto menor for o intervalo de tempo considerado, isto é, quanto mais
próximos estiverem os pontos x1 e x2, mais fielmente representará a velocidade
real do corpo naquele intervalo de tempo. Logo, a velocidade instantânea (real) é
definida como:

que nada mais é do que a derivada da posição com relação ao tempo.


Geometricamente, se tivermos um gráfico de posição contratempo, a velocidade
instantânea corresponde à inclinação da reta tangente à curva num determinado
instante de tempo, como ilustra a Fig. 2.2.

Fonte: ifsc.usp.br

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Quando a velocidade instantânea é constante num determinado intervalo de
tempo, dizemos que o movimento é uniforme e que v (t) = . Por outro lado,
quando a velocidade não é constante no tempo, o movimento é chamado de
acelerado. Neste caso, a variação da velocidade com o tempo é caracterizada por
uma grandeza denominada aceleração. Se a velocidade do corpo no instante t 1 é v1
e no instante t2 é v2, a aceleração média é definida como:

e no gráfico de velocidade contratempo ela corresponde à inclinação da reta que


passa pelos pontos v1 e v2. Quando consideramos o limite em que ∆t tende a zero,
surge a ideia de aceleração instantânea, grandeza esta que caracteriza localmente a
variação da velocidade do corpo. Logo:

Geometricamente, a aceleração é a inclinação da reta tangente à curva no


gráfico de velocidade, como mostra a Fig. 2.3.

Fonte: ifsc.usp.br
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O movimento do corpo pode ser classificado de acordo com a maneira em que
a aceleração se comporta no tempo. Quando a aceleração é constante, o movimento
é chamado de uniformemente acelerado e se constitui numa classe importante de
situações que analisaremos. Antes de prosseguirmos, vamos mostrar alguns
exemplos dos conceitos que acabamos de ver.
Exemplo 1: Seja um corpo deslocando-se de tal forma que sua posição é dada
por x(t) = 4t2 , com t dado em s e x em cm. Na Fig. 2.4(a) vemos o gráfico desta função.
A velocidade do corpo em cada instante de tempo pode ser encontrada tomando-se a
derivada de x(t) e assim,

Fonte: ifsc.usp.br

que é a equação da linha reta mostrada na Fig. 2.4(b). Se quisermos calcular a


aceleração como função do tempo, devemos tomar a derivada de v(t) que é
obviamente uma constante.

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A velocidade média do corpo entre os instantes t = 1s e t = 3s pode ser calculada
através da expressão:

Este mesmo resultado poderia ser obtido da seguinte forma:

ou seja: “A velocidade média é a média das velocidades nos instantes considerados”.


Este é um resultado que só vale para um movimento cuja aceleração é constante.
Exemplo 2: O movimento de um corpo é descrito por x(t) = 3t2 + 4t + 1, sendo
esta função mostrada na Fig. 2.5. A posição inicial do corpo é x0 = 1 cm e pelo gráfico
vemos que nos instantes iniciais do movimento, o deslocamento se dá no sentido
positivo do eixo x, até atingir um ponto máximo a partir do qual o movimento se inverte,
ocorrendo a partir daí no sentido negativo do eixo x.
Queremos responder à seguinte pergunta: quanto tempo o corpo leva para
voltar à posição inicial? Para isto fazemos x(t) = 1, isto é,

de onde tiramos que o corpo está na posição x = 1 nos instantes t = 0 (posição inicial)
é t = 4/3 s, que corresponde ao tempo necessário para a partícula voltar à posição
inicial.

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Fonte: ifsc.usp.br

A velocidade é dada por v(t) = dx/dt = -6t + 4 (cm/s), que está mostrada na Fig.
2.6. Notamos que: v > 0 para t < 2/3 s, v = 0 para t = 2/3 s e v < 0 para t > 2/3 s. O
gráfico da velocidade do corpo corresponde à uma reta com coeficiente angular
negativo. O tempo t = 2/3 s define o ponto de retorno. A aceleração é dada por:

e é no sentido oposto ao da velocidade na fase inicial (t < 2/3 s).

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Fonte: ifsc.usp.br

1.1 Classificação dos movimentos unidimensionais

O movimento unidimensional é classificado de acordo com as variações da


posição, velocidade e aceleração com o decorrer do tempo. Assim, temos os
seguintes tipos de movimentos:
Progressivo: x(t) aumenta com o tempo;
Retrógrado: x(t) diminui com o tempo;
Acelerado: v(t) e a (t) tem o mesmo sentido;
Retardado: v(t) e a(t) tem sentidos opostos.

No exemplo anterior (Exemplo 2), a classificação do movimento é: t < 2/3s →


movimento progressivo e retardado e t > 2/3x → movimento retrógrado e acelerado.

1.2 Determinação de x(t) a partir de v(t) e de v(t) a partir de a(t)

Como vimos anteriormente, o conhecimento de x(t) permite o cálculo de v(t)


através de uma derivação e também a(t) através de outra derivação. O problema
inverso consiste na determinação de x(t) a partir de v(t) ou a(t). Para isto, temos que

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realizar uma integração, pois estamos procurando a função cuja derivada é conhecida.
Assim,

Conhecendo-se a velocidade do corpo, determinamos sua posição como


função do tempo através de uma integração simples. Lembre-se que o que estamos
fazendo nada mais é do que dividir o intervalo de tempo total em pequenos intervalos
dt nos quais a velocidade é considerada constante. O produto vdt fornece a pequena
distância percorrida (ou deslocamento sofrido) em dt e a soma deles, que é a operação
de integração, fornece o deslocamento total do corpo. Num gráfico de v(t) contra t, o
deslocamento do corpo é a área sob a curva, como mostrado na Fig. 2.7. Note que
área negativa indica deslocamento no sentido negativo do eixo x.

Fonte: ifsc.usp.br

Exemplo 1: A velocidade de um corpo é dada por: v(t) = 3t + 4 e sabemos que para t


= 0 ele localiza-se em x0 = 1. Vamos calcular x(t). Assim,

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Exemplo 2: Dado a(t) = 3t, calcular v(t) e x(t)

Vemos que para conhecer v(t) precisamos saber a velocidade inicial. Para achar x(t)
fazemos:

Deste exemplo podemos concluir que para a determinação de v(t) a partir de a(t)
é necessário o conhecimento do valor inicial v0 da velocidade. A determinação precisa
de x(t) a partir de v(t) implica no conhecimento da posição x0 inicial. x0 e v0 são
denominados de condições iniciais do movimento.

1.3 Aceleração constante

Este caso envolve um número grande de problemas e, assim, devemos trata-lo


em particular. Sendo a aceleração constante, podemos calcular a velocidade como:

e o deslocamento através de outra integração:

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Podemos eliminar o tempo da primeira equação: v = v0 + at e substituí-lo na
segunda:

Logo: que é conhecida como equação de Torricelli, válida


apenas quando a aceleração é constante.
Um caso especial do movimento uniformemente acelerado ocorre para a = 9.81
m/s2 = g, que corresponde ao movimento vertical de corpos sujeitos ao campo
gravitacional da Terra, próximos à superfície. Neste caso, é comum tratar o
deslocamento como altura (h) e adotar o sentido positivo de h como sendo oposto ao
de g.
Exemplo: Uma bola é lançada para cima, com velocidade inicial v0 como mostra
a Fig. 2.8. Assim, usando a equação de Torricelli temos:

Para um determinado h, existem duas soluções para v. A positiva representa o


corpo em ascensão e a negativa o corpo está na descendente. Vemos também que o
ponto de retorno (v = 0) ocorre para uma altura máxima mostrada na
Fig. 2.9. Por outro lado, a dependência temporal é dada por

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Fonte: ifsc.usp.br

Ao atingir o ponto máximo da trajetória,


como obtido anteriormente, para a obtenção do tempo total da trajetória fazemos
que nos dá duas soluções: ti = 0 (início do
movimento) que é o dobro do tempo gasto para que a bola atinja
hmax.

Fonte: ifsc.usp.br

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2 EQUAÇÕES DIFERENCIAIS2

Uma equação da forma

onde x é a incógnita e função de uma variável, chama-se equação diferencial


ordinária.
Aplica-se tais equações às leis gerais da Física, Biologia, Economia. Também
inúmeras questões da própria Matemática são formuladas por equações diferenciais
ordinárias, como por exemplo, questões de Topologia, Geometria Diferencial e
Cálculo Variacional.
O estudo das equações diferenciais ordinárias iniciou-se com os métodos do
Cálculo Diferencial e Integral, desenvolvidos por Newton e Leibniz no final do século
XVII. Esses métodos conduziram à consolidação das Equações Diferenciais como um
novo ramo da Matemática, que se transformou em disciplina independente no início
do século XVIII.
No fim do século XVIII a Teoria das Equações Diferenciais se transformou
numa das disciplinas matemáticas mais importantes e o método mais efetivo para a
pesquisa científica. As contribuições de Euler, Lagrange, Laplace e outros expandiram
de maneira notável o conhecimento dentro dos cálculos das Variações, Mecânica
Celeste, Teoria das Oscilações, Elasticidade, Dinâmica dos Fluídos, etc.
No século XIX passou-se a considerar como questão prévia em cada problema
a existência e unicidade de soluções satisfazendo dados iniciais. Este é conhecido
como o Problema de Cauchy.
Em 1881, Poincaré publica um trabalho em que são lançadas as bases da
Teoria Qualitativa das Equações Diferenciais. Esse trabalho dá a base para o estudo
da Estabilidade das soluções de um sistema de EDO.

2 Texto extraído de: mat.ufpb.br


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2.1 Teoria das Equações Diferenciais Lineares

Uma equação diferencial linear de ordem n é uma equação da forma

Podemos admitir, por simplicidade, que as funções P0, · · · , Pn e G sejam funções


reais e contínuas num intervalo I : α < x < β, e que P 0 não tenha nenhum zero neste
intervalo. Então podemos reescrever a equação (1.1) do seguinte modo
Se definimos um operador L na forma:

Se definimos um operador L na forma:

então L é dito um operador linear de ordem n e a equação (1.2) é dada na seguinte


maneira

Consideremos a equação diferencial linear (1.3) com as condições iniciais

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Teorema 1 Se as funções p1, p2, . . . , pn e g forem contínuas no intervalo aberto I,
então existe somente uma solução y = φ(x) da equação diferencial (1.2) que obedece
às condições iniciais (1.4). Esta solução existe sobre todo o intervalo I.

2.2 Equação Homogênea

Considere a equação homogênea

é também uma solução da equação (1.5), com c1, · · · , cn constantes arbitrárias.


Fazemos a seguinte questão: Toda solução de (1.5) pode ser escrita na forma (1.6)?
Isto é verdade se independente das condições iniciais (1.4) for possível escolher
constantes c1, · · · , cn de modo que (1.6) obedeça tais condições, ou seja, devemos
ter

As equações (1.7) podem ser resolvidas univocamente nas constantes c 1, · · · , cn se


o determinante dos coeficientes for não nulo. Desse modo, uma condição necessária
e suficiente para a existência de solução para as equações (1.7), com valores
arbitrários y0, y1, · · · , yn−1 é a de que o Wronskiano

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não seja nulo em x = x0. Uma vez que x0 pode ser qualquer ponto do intervalo I, é
necessário e suficiente que W (y1, · · ·, yn) não seja nulo em todo ponto do intervalo.
Pode-se mostrar que se y1(x), y2(x), · · ·, yn(x) forem soluções da equação diferencial
(1.5), então W(y1, · · · , yn) ou é nulo para todo x no intervalo I, ou nunca se anula
nesse intervalo.
Teorema 2 Se as funções p1, · · · , pn forem contínuas no intervalo I, e se as funções
forem soluções da equação (1.5) e se
para pelo menos um ponto de I, então qualquer solução da equação (1.5) pode ser
expressa como combinação linear das soluções
Um conjunto de soluções da equação (1.5) cujo
wronskiano não é nulo é um conjunto fundamental de soluções.

3 EQUAÇÕES NÃO-LINEARES3

A resolução de equações não lineares surge naturalmente em diversas


aplicações. Vamos começar com um exemplo simples. Considere que temos um
canhão que dispara seus projéteis a uma velocidade inicial v0. O objetivo é definir o
ângulo θ de disparo para atingir um alvo que está a distância d do canhão.
Nesse caso precisamos calibrar θ de forma a garantir que o projétil caia
exatamente à distância dada. Dois fatores devem ser considerados. Logo após o
disparo o projétil irá subir um pouco até a ação da gravidade inverter sua velocidade
vertical ele começar a cair. O tempo total de voo é o tempo de subida mais o tempo
de queda. Vamos considerar que apenas a força da gravidade age sobre o projétil,
desconsiderando o efeito do atrito com o ar. Nesse caso temos que a aceleração
vertical é constante igual −g, ou seja temos:

3 Texto extraído de: ime.unicamp.br


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O tempo total até o impacto será T > 0 é obtido resolvendo y(t) = 0, t > 0, que é dado
por

Já a distância horizontal percorrida é dada por

De novo estamos desprezando o atrito com o ar.


O objetivo final é encontrar θ tal que x(T) = d. Ou seja queremos resolver a equação

em função de θ.
Em outras palavras, se definirmos

Desejamos encontrar θ tal que a equação não-linear

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seja válida.
Apesar de essa equação admitir solução usando-se identidades trigonométricas,
vamos encará-la como uma equação que não admite solução fechada. Nesse caso
precisamos de um método que nos permita resolver equações gerais, além daquelas
que conseguimos resolver manualmente usando manipulações algébricas. Esse é o
objetivo das próximas aulas.

3.1 Estudo de equação lineares de uma variável

Como vimos anteriormente podemos ter interesse de resolver uma equação do


tipo

em que Um x que obedece à equação acima será chamado de um zero


ou raiz de f.
Vamos ver a seguir que isso pode ser resolvido por alguns métodos iterativos
que irão encontrar soluções aproximadas dessa equação com precisão cada vez mais
alta.
Inicialmente note que há algumas questões fundamentais que devem ser
tratadas. Primeiro é preciso se perguntar se a equação tem solução. Se tal solução
existir, ela é única? Vamos apresentar abaixo algumas condições matemáticas para
isso. A situação mais confortável ocorre quando há solução e ela é única. Nesse caso
não há dúvidas de qual o papel do método numérico: encontrar essa única raiz.
Quando há mais de um zero a situação já não é tão clara. Será que todas as raízes
têm sentido Físico? O método teria que encontrar todas as possíveis soluções? Isso
é possível? Se o método for capaz de encontrar apenas uma solução, será que é
possível escolher, ou guiar o algoritmo, para uma das raízes em particular? Quanto
tempo o método demora para encontrar uma boa aproximação da, ou de uma,
solução?

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3.2 Existência e unicidade de soluções

Um resultado de cálculo fundamental para tratar da existência de soluções de


uma equação não linear é o teorema de Bolzano.
Teorema de Bolzano Seja uma função contínua em um
intervalo então existe
Ou seja, se uma função contínua troca de sinal em um intervalo, então ela possui
pelo menos um zero (nesse intervalo).

(-2.2,2.2,-5.215660458552187,7.215660458552187)

Note que essa condição é apenas uma condição necessária para a existência
de zero. É claro que uma função pode ter o mesmo sinal nos extremos de um

21
intervalo e mesmo assim ter zeros dentro dele. Considere o caso acima no intervalo
[−2, 1.5].
Já para garantir a unicidade é preciso exigir mais da função f . Uma hipótese razoável
é que ela seja constantemente crescente ou decrescente dentro do intervalo. Para
isso basta exigir que a derivada da função não troque de sinal.
Teorema Seja diferenciável em um intervalo
e a derivada de f tem sinal constante (a, b), então existe um único
Aqui note que temos que considerar os valores da derivada em todo o intervalo e não
apenas nos extremos. Exercício. Estude os zeros da função acima, encontre
intervalos que contém os três zeros apresentados de forma única usando os teoremas
apresentados.

3.3 Método da Bissecção

O teorema de Bolzano serve de ponto de partida para um primeiro método


iterativo para resolução de equações não-lineares conhecido como bissecção. A ideia
dele é simples. Imagine que f é contínua e temos na mão um intervalo [a, b] como no
teorema. Isso quer dizer que temos certeza que existe uma raiz nesse intervalo. Uma
aproximação razoável para essa raiz usando apenas essa informação é o ponto médio
do intervalo. Aparentemente isso é tudo o que se pode fazer com essa informação.
Porém podemos também calcular a função nesse ponto médio
e há três possibilidades:

Nesse caso demos sorte, de fato o ponto médio é uma raiz que foi
encontrada.
2. Sinal de f(m) é o mesmo sinal de f(a). Nesse caso podemos concluir, usando o
teorema de Bolsano, que há uma raiz no intervalo [m, b]. Note que esse intervalo é
bem menor que o original, tendo metade do seu comprimento.
3. Sinal de f(m) é o mesmo sinal de f(b). Nesse caso podemos concluir, usando o
teorema de Bolsano, que há uma raiz no intervalo [a, m]. Note que esse intervalo é
bem menor que o original, tendo metade do seu comprimento

22
Ou seja, ao avaliarmos f(x) conseguimos no mínimo melhorar a aproximação
obtida, obtendo a cada passo um intervalo cada vez menor, dividindo o seu tamanho
por 2. Note que o ponto médio do intervalo está à distância máxima de (b – a)/2 de
uma raiz real do problema, já que existe raiz no intervalo. Dessa forma é natural parar
o método quando a largura do intervalo for pequena o suficiente para aceitar o ponto
médio como uma boa aproximação da raiz.
Isso sugere o seguinte método:

Uma característica interessante do método da bissecção é que ele pede usa


apenas os valores da função em alguns pontos para decidir o que fazer. Além disso o
seu comportamento é bem previsível. O comprimento do intervalo é dividido por 2 a
cada iteração. Assim podemos prever quantas iterações serão necessárias para
terminar o método como função do comprimento inicial e da precisão, epsilon,
desejada. Isso fica como exercício.

23
Como foi possível ver acima essa convergência ainda é um pouco lenta.
Vamos estudar as seguir um outro método com comportamento, em geral, bem mais
rápido.

3.4 O método de Newton

O método da bissecção tem algumas vantagens interessantes. Em primeiro lugar


sua convergência é garantida, já que a cada passo a distância a uma raiz é divida por
dois, indo, naturalmente, para zero. Uma segunda vantagem interessante é a
possibilidade de estimar a priori o número de iterações necessárias para se obter a
precisão desejada. Por fim, ele pode ser implementado somente usando informação
sobre o cômputo da função.
Vamos agora estudar um outro método que usa mais informação, além dos
simples valores funcionais. Se f for diferenciável podemos aproveitar informação sobre
a sua derivada para obter um algoritmo extremamente rápido em vários casos. A ideia
fundamental é lembrar que se f é diferenciável, então sabemos aproximar a função
localmente por uma função linear, usando uma expansão de Taylor de primeira ordem.

Agora imagine que o ponto já conhecido, xk , está próximo da raiz, de modo que
a aproximação de Taylor apresentada acima é muito boa para prever o
comportamento de f de xk até a raiz. Podemos então pensar em substituir f por essa
aproximação linear, achar a raiz da aproximação e tomá-la como nova estimativa da
raiz original. Ou seja, queremos encontrar xk+1 tal que

É fácil ver que a nova estimativa é dada por

24
Veja o gráfico abaixo para ter uma ideia do que está ocorrendo. Nela o ponto
xk = −1/2 e a aproximação linear da curva azul é a reta verde. O ponto x k+1 é então
ponto em que a aproximação linear cruza o eixo x.

O método de Newton tem normalmente convergência extremamente rápida se


o ponto inicial é uma boa aproximação da solução desejada. Um primeiro exemplo
disso que vamos explorar é pensar no método de Newton sendo usado para calcular
a raiz quadrada de um número. O problema de calcular a raiz de um número a > 0
dado pode ser visto como o problema de resolver a equação

25
Nesse caso é muito fácil calcular a derivada e a iteração

pode ser escrita como

Vamos implementar o método e tentar calcular √ 10 partindo de x0 = 1.

Note que a convergência ocorre de forma extremamente rápida. Na iteração 2,


o número já foi calculado com 1 casa correta, na próxima iteração o número de casa
corretas já duplicou passando para 2, depois para 4, depois para 8 casas e por fim 15.
Ou seja, o número de casas corretas dobrou aproximadamente por iteração.
Para entender porque isso ocorre vamos lembrar o que nos diz o teorema de Taylor
se f for n + 1 vezes diferenciável.
Teorema de Taylor. Seja diferenciável n + 1 vezes em um intervalo que
contenha os valores x e y. Então existe ξ no intervalo aberto que une x e y tal que

De posse desse resultado podemos provar que:


Teorema (da Convergência Quadrática de Newton). Seja uma função
duas vezes continuamente diferenciável. Se x0 inicia perto de uma raiz x ∗ onde a
derivada de f é não nula, então o método de Newton está bem definido e gera uma
sequência convergindo para x ∗ . Além disso, existe M > 0 tal que

Prova. Usando o teorema de Taylor com x = xk e y = x ∗ temos

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em que ξk está no intervalo que une xk e x∗. Por outro lado podemos deduzir alguns
limitantes interessantes se fizermos hipóteses sobre a distância de xk até x∗.

Concluímos então que nesse caso a sequência converge a x∗ e todas as


propriedades obtidas continuam valendo. Portando se podemos concluir
que:
1. Toda a sequência se mantem a essa distância máxima de x∗.
2. Em toda a sequência a derivada f ′ (xk ) tem módulo maior ou igual a | f ′ (x∗)|/2,
portando é sempre não nula e o método está bem definido.
3. Por fim, chamando de M teremos

O fato da distância à solução, uma vez que cai abaixo de 1, diminuir elevando
o valor anterior ao quadrado explica o comportamento observado no exemplo, com o
número de casas decimais corretas duplicando a cada iteração.
27
Um fato importante é que o teorema acima só garante a convergência quando
o ponto inicial x0 estiver perto de uma raiz com derivada não nula. Caso contrário não
há garantias para a convergência, em particular se o ponto inicial estiver longe das
raízes. De fato, a convergência pode falhar.
Colocar um exemplo de divergência baseado em uma função sigmoide.
Existem algumas alternativas para se obter um método que convirja a partir de
qualquer ponto inicial (globalização do método):

• Começar com outro método com convergência garantida.


• Fazer algum tipo de busca no passo de Newton para forçar a
diminuir, encurtando o passo se necessário (busca linear)
• Região de confiança.

Outro problema que também pode ocorrer é encontrar um ponto de derivada nula
(ou de derivada muito pequena). Esse tipo de situação pode também ser resolvido
com estratégias parecidas com as estratégias descritas acima.

• Usar a derivada no ponto anterior.


• Usar uma iteração de outro algoritmo.

4 CINEMÁTICA E DINÂMICA DAS ROTAÇÕES4

No estudo do movimento, a cinemática, propõe-se descrevê-lo sem se preocupar


com as suas causas. Quando nos preocupamos com as causas do movimento,
estamos entrando em uma área da mecânica conhecida como dinâmica.
Da dinâmica, temos três leis em que todo o estudo do movimento pode ser
resumido. Essas leis são conhecidas como as leis de Newton:

Primeira lei de Newton - a lei da inércia


Segunda lei de Newton - o princípio fundamental da dinâmica
Terceira lei de Newton - a lei da ação e reação

4 Texto extraído de: https://educacao.uol.com.br/disciplinas/fisica/dinamica-as-leis-de-newton.htm


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A primeira lei de Newton descreve o que ocorre com os corpos que estão em
equilíbrio. A segunda lei explica o que ocorre quando não há o equilíbrio, e a terceira
lei mostra como é o comportamento das forças quando temos dois corpos interagindo
entre si.
Para o entendimento dessas leis, é necessário conhecer alguns conceitos
físicos muito importantes, como força e equilíbrio.
Observe a sua situação nesse exato momento: provavelmente você está
sentado em uma cadeira lendo esse texto. Nesse momento existem forças agindo
sobre você: elas vêm da cadeira, do chão e de algum outro objeto em que esteja
encostado. Observe que, mesmo com a existência dessas forças, você continua
parado. Isso ocorre porque elas estão se cancelando. Podemos dizer, portanto, que
você se encontra em equilíbrio.
O repouso não é a única situação de equilíbrio possível. Imagine-se de pé em
um ônibus em movimento: se ele acelerar, frear ou fizer uma curva, você pode acabar
se desequilibrando e caindo. Mas existe um caso que, mesmo com o ônibus em
movimento, não haverá perigo nenhum de você cair. Isso acontecerá caso o ônibus
execute um movimento retilíneo e uniforme (em outras palavras, quando ele se
movimenta em linha reta e com velocidade constante). Nessa situação, podemos dizer
que o ônibus está em equilíbrio.
Os dois casos exemplificados anteriormente ilustram situações de corpos em
equilíbrio. O primeiro mostra o equilíbrio dos corpos em repouso, que é conhecido
como equilíbrio estático. O segundo mostra o equilíbrio dos corpos em movimento,
que é conhecido como equilíbrio dinâmico. Nos dois casos temos algo em comum que
define a situação de equilíbrio, e esse algo em comum é o fato de que todas as forças
que estão atuando estarem se anulando.
O equilíbrio ocorre em toda a situação em que as forças atuantes em
determinado corpo se cancelam.

4.1 A primeira lei de Newton - a lei da inércia

Na natureza, todos os corpos apresentam certa resistência a alterações no seu


estado de equilíbrio, seja ele estático ou dinâmico. Imagine que você tenha que chutar

29
duas bolas no chão: uma de vôlei e uma de boliche. É claro que a bola de vôlei será
chutada com mais facilidade que a de boliche, que apresenta uma maior resistência
para sair do lugar, maior tendência em se manter em equilíbrio, ou ainda, apresenta
uma maior inércia. Define-se inércia como uma resistência natural dos corpos a
alterações no estado de equilíbrio.
A primeira lei de Newton trata dos corpos em equilíbrio e pode ser enunciada da
seguinte forma:
Quando as forças atuantes em um corpo se anulam, ele permanecerá em
repouso ou em movimento retilíneo uniforme
Um objeto que repousa sobre sua mesa, por exemplo, está em equilíbrio
estático, e tende a ficar e permanecer nessa situação indefinidamente. No caso dos
corpos em movimento, podemos imaginar um carro em movimento que freia
bruscamente. Os passageiros serão lançados para frente porque tendem a continuar
em movimento.

4.1.1 Força Resultante

No nosso cotidiano, é impossível encontrar um corpo sobre o qual não existam


forças atuando - só o fato de vivermos na Terra já nos submete à força da gravidade.
Muitas vezes essas forças se anulam, o que resulta em equilíbrio. Em outros casos, a
resultante das forças que atuam sobre um corpo é diferente de zero. Quando isso
ocorre, o resultado dessas forças é definido como força resultante.
A determinação de uma força resultante não é algo simples, já que se trata de
uma grandeza vetorial. Isso quer dizer que uma força é definida por uma intensidade,
uma direção e um sentido. Como a força se trata de uma grandeza vetorial, não
podemos determinar a força resultante utilizando a álgebra com que estamos
acostumados. É preciso conhecer um processo matemático chamado de soma
vetorial.
A seguir, estão ilustrados os casos mais conhecidos para a determinação da
força resultante de duas forças aplicadas em um corpo.

Caso 1 - Forças com mesma direção e sentido

30
Caso 2 - Forças perpendiculares

Caso 3 - Forças com mesma direção e sentidos opostos

Caso 4 - Caso Geral - Com base na lei dos Cossenos

31
4.2 A Segunda lei de Newton

Quando diversas forças atuam em um corpo e elas não se anulam, é porque


existe uma força resultante. E como se comporta um corpo que está sob a ação de
uma força resultante? A resposta foi dada por Newton na sua segunda lei do
movimento. Ele nos ensinou que, nessas situações, o corpo irá sofrer uma aceleração.
Força resultante e aceleração são duas grandezas físicas intimamente ligadas.
A segunda lei de Newton também nos mostra como força e aceleração se
relacionam: essas duas grandezas são diretamente proporcionais. Isso quer dizer
que, se aumentarmos a força, a aceleração irá aumentar na mesma proporção. A
relação de proporção entre força e aceleração é mostrada a seguir.

Onde é o símbolo de proporção. Para que possamos trocar a proporção por uma
igualdade, precisamos inserir na equação acima uma constante de proporcionalidade.
Essa constante é a massa do corpo em que é aplicada a força resultante. Por isso, a
segunda lei de Newton é representada matematicamente pela fórmula.

A segunda lei de Newton também nos ensina que força resultante e aceleração
serão vetores sempre com a mesma direção e sentido.

32
Fonte: educacao.uol.com.br

Unidades de força e massa no Sistema Internacional.


Força - newton (N).
Massa - quilograma (kg).

4.3 A terceira Lei de Newton

A terceira lei de Newton nos mostra como é a troca de forças quando dois corpos
interagem entre si, seja essa interação por contato ou por campo. Segundo a terceira
lei, se um corpo faz uma força em outro, imediatamente ele receberá desse outro
corpo uma força de igual intensidade, igual direção e sentido oposto à força aplicada,
como é mostrado na figura a seguir.

Fonte: guiadoestudante.abril.com.br

33
5 CINEMÁTICA VETORIAL5

Quando um objeto se desloca no espaço sem seguir uma trajetória determinada,


a sua posição já não pode ser definida com uma única variável como nos exemplos
estudados no capítulo anterior. No século XVII, o matemático Gottfried
Leibniz escreveu que seria desejável criar uma área da matemática que descrevesse
a posição diretamente, assim como na álgebra usam-se variáveis para representar
valores numéricos. Na mesma época, Isaac Newton enunciou a lei do paralelogramo
para somar forças. No entanto, o conceito de vetor usado hoje em dia, que permite
concretizar o sonho de Leibnitz, só foi inventado muitos anos depois, no século XIX.

5.1 Projeção do movimento num eixo

Quando a trajetória de um ponto num objeto em movimento não é conhecida


previamente, para determinar a posição do ponto em cada instante de tempo t serão
necessárias duas variáveis, se o ponto estiver confinado a mover-se numa superfície,
ou três variáveis, no caso geral.
Uma forma conveniente de indicar a posição é usando coordenadas cartesianas
(x , y , z ). Os valores dessas coordenadas deverão ser funções contínuas do
tempo, x(t), y(t) e z(t). O movimento do ponto no espaço pode então ser dividido em
três movimentos retilíneos: os movimentos das projeções do ponto em cada um dos
eixos cartesianos. Em cada um desses 3 movimentos podem ser aplicadas as
equações cinemáticas estudadas no capítulo anterior. As velocidades instantâneas
desses 3 movimentos são as derivadas das funções x(t), y(t) e z(t), em ordem ao
tempo:

Observe-se que se uma ou duas dessas velocidades forem nulas num instante,
isso não implica que a velocidade v seja nula, pois a terceira velocidade pode ter valor

5 Texto extraído de: fe.up.pt


34
diferente de zero.
As acelerações instantâneas associadas a esses 3 movimentos são as
derivadas das respetivas velocidades, em ordem ao tempo:

Já não é preciso dizer que são acelerações tangenciais, porque em cada um


desses três movimentos não pode existir componente perpendicular da aceleração,
por serem movimentos ao longo duma reta. O tempo pode ser eliminado entre as
equações 2.1 e as respetivas equações 2.2, obtendo-se as equações que relacionam
as acelerações com as velocidades e as posições:

Quando o movimento do ponto está restringido a um plano, os eixos x e y podem


ser escolhidos nesse plano, facilitando o estudo, porque as equações
para vz e az deixam de ser necessárias. E se o movimento do ponto estiver restringido
a uma reta, essa reta pode ser usada como eixo dos x, sendo apenas necessárias as
equações que relacionam x, vx, ax e t .
Em geral, as 9 equações diferenciais 2.1, 2.2 e 2.3 poderão ter de ser resolvidas
em simultâneo, porque o movimento da projeção num dos eixos pode depender dos
movimentos das outras duas projeções. Nos casos em que não exista essa
dependência, as equações para o movimento da projeção em cada eixo podem ser
resolvidas independentemente.

5.2 Aceleração da gravidade

No seu livro de 1638, "Diálogos Acerca de Duas Novas Ciências", Galileu Galilei
explicou, pela primeira vez, que o movimento de um projétil no ar pode ser
decomposto na sobreposição de dois movimentos: o movimento da projeção do
projétil num eixo horizontal e o movimento da sua projeção num eixo vertical. A

35
figura 1.10 é igual à figura 108 no livro de Galileu e representa um objeto que foi
lançado numa plataforma horizontal, abandonando a plataforma no ponto b.

Fonte: ifsc.usp.br

Galileu também descobriu que, quando a resistência do ar pode ser


desprezada, por exemplo, se o projétil tem forma compacta e a sua trajetória não é
muito comprida, o movimento da projeção horizontal é retilíneo e uniforme. Ou seja,
em intervalos de tempo iguais, os deslocamentos horizontais do objeto
são etc, todos com o mesmo comprimento. Na direção vertical, as
distâncias que o objeto cai durante esses intervalos de tempo aumentam
quadraticamente; isto é, durante o primeiro intervalo de tempo a distância descida
é durante o segundo intervalo já tem descido uma distância total que é quatro
vezes maior que e durante o terceiro intervalo a distância total descida é nove
vezes maior do que
A componente vertical da velocidade aumenta, mas como os deslocamentos
verticais nos intervalos de tempo iguais, estão na proporção 1, 3, 5
e 7, então a componente vertical da aceleração (aumento da componente vertical da
velocidade) é constante. Galileu também observou que essa aceleração é igual para
todos os objetos, independentemente do seu tamanho ou da sua massa, e é a
aceleração da gravidade, representada pela letra g.
O valor da aceleração da gravidade é ligeiramente diferente em diferentes
locais na superfície da Terra, mas é aproximadamente igual a 9.8 m/s2. A resistência
do ar produz outra aceleração que contraria o movimento, mas quando essa
36
resistência for desprezável, admite-se que o valor da aceleração é constante e igual
ag.
Se o eixo dos y for definido na vertical e apontando para cima, então as
componentes da aceleração são ay = −g = − 9.8 m/s2 e ax = 0. O movimento da
projeção horizontal é uniforme e o movimento da projeção horizontal é uniformemente
acelerado. Usando as equações dos movimentos uniforme e uniformemente
acelerados estudadas no capítulo anterior, obtêm-se as seguintes equações:

Onde são as projeções horizontal e vertical da velocidade inicial vi.


Por exemplo, se um projétil for lançado com uma velocidade inicial vi, inclinada um
ângulo θ por cima da horizontal, então
Do ponto de vista da trajetória parabólica do objeto, a aceleração
tangencial at produzida pela gravidade pode ser positiva, negativa ou nula, já que
pode fazer aumentar ou diminuir a velocidade do objeto, e pode ter um valor menor
que g se a trajetória não for vertical, mas existirá também outra aceleração, a
aceleração normal ou centrípeta; a soma das componentes verticais dessas duas
acelerações deverá ser sempre igual a g e a soma das componentes horizontais igual
a zero.

Exemplo 2.1
Atira-se uma pedra desde uma ponte que está 5 m acima de um rio, com velocidade de
15 m/s e dirigida 36.9° para cima da horizontal. Determine a velocidade que terá a
pedra quando entrar na superfície do rio e a altura máxima da sua trajetória, medida
desde a superfície do rio (admita que a resistência do ar pode ser desprezada).

37
Resolução. A componente horizontal da velocidade inicial é 15 c o s 3 6.9◦=12.0 m/s
e a componente vertical é 15 sen 3 6.9º=9.0 m/s. é conveniente escolher o eixo
dos x na horizontal, seguindo a direção da projeção horizontal da velocidade, e o eixo
dos y na vertical e apontando para cima. A origem pode ser escolhida no ponto onde
a pedra foi lançada, mas neste caso vamos escolhê-la diretamente por baixo desse
ponto e sobre a superfície do rio. Nesse sistema de coordenadas, a posição inicial
é x=0 e y=5 (unidades SI), as componentes da velocidade são vx=12, vy=9 e as
componentes da aceleração são ax=0 , ay=−9.8 .

Os dois movimentos ao longo dos dois eixos podem ser analisados


independentemente. Como o movimento ao longo do eixo dos y é uniformemente
acelerado, podem usar-se as equações 2.4, 2.5, 2.6 e 2.7. No entanto, mostraremos
como resolver o problema usando o método de separação de variáveis, que é mais
geral.
O valor constante de ay pode substituir-se na segunda equação 2.2 e na segunda
equação 2.3, obtendo-se duas equações diferenciais ordinárias de primeira ordem:

Para obter a velocidade da pedra quando entra na água, é necessário resolver a


segunda equação, que pode ser feito separando as variáveis y e vy aos dois lados da
equação

A seguir, integra-se o lado esquerdo da equação, desde a altura inicial y=5, até à
altura final y=0 e o lado direito integra-se desde a velocidade inicial vy=9 até o seu
valor final, vf , ainda desconhecido

38
Calculam-se estes dois integrais (no máxima usa
se integrate (9.8, y, 5, 0) e integrate (vy, vy, 9, vf)) e o resultado é

(a segunda solução, corresponde à velocidade que a pedra teria se


tivesse sido lançada para cima desde o rio, passando pela ponte com componente
vertical da velocidade igual a 9 m/s e para cima).

Assim sendo, a componente vertical da velocidade quando a pedra entra no rio


é vf=−13.38 m/s. Como o movimento na horizontal é uniforme, a componente
horizontal da velocidade é sempre igual ao seu valor inicial 12.0 m/s e a velocidade
com que a pedra entra no rio é

No ponto da trajetória onde a altura é máxima, a componente vertical da velocidade é


nula, porque a pedra para de subir e começa a descer. Os mesmos dois integrais já
calculados podem ser calculados novamente, mas mudando o ponto final do integral
do ponto onde a pedra entra no rio, para o ponto onde está na sua altura máxima, com
valor de y ainda desconhecido, mas com componente vertical da velocidade vy nula

onde ym é a altura máxima. Resolvem-se esses integrais e obtém-se assim o valor da


altura máxima

39
5.3 Vetores

Uma grandeza que tem sempre o mesmo valor, quando é medida por diferentes
observadores em diferentes referenciais, chama-se escalar. Algumas das grandezas
usadas no capítulo anterior são escalares; por exemplo, o deslocamento ∆s e o
intervalo de tempo ∆t.
Alguns exemplos de grandezas físicas que não são escalares são as
componentes da posição, velocidade e aceleração ao longo de um eixo. Alterando a
direção, o sentido ou a origem desse eixo, os valores dessas grandezas também se
alteram.
É útil escrever as equações da física de forma a que sejam iguais em qualquer
referencial e os vetores permitem atingir esse objetivo. Um exemplo típico de vetor é o
vetor deslocamento, que é um segmento de reta orientado entre dois pontos P1 e
P2 no espaço, em que o primeiro ponto é considerado a origem do segmento e o outro
ponto o fim.
Por exemplo, na figura 2.2 está representado o vector com origem num ponto
P1 e fim num ponto P2; a seta indica qual é o ponto final e por cima da letra usada para
representar o vetor coloca-se também uma seta, para que fique claro que se trata
de um vetor e não de uma variável algébrica comum.

Fonte: def.fe.up.pt

40
5.4 Propriedades dos vetores

A distância entre o ponto inicial e final de um vetor deslocamento chama-


se módulo, ou norma. Se um vetor é representado por então neste livro o módulo
desse vetor representa-se por a (a mesma letra mas sem seta). Como a distância
entre dois pontos é um escalar, o módulo de um vetor é uma grandeza escalar. Um
vetor é caraterizado pelo seu módulo, pela sua direção, que é a orientação da reta
que passa pelos dois pontos, e pelo seu sentido, que indica qual o ponto inicial e qual
o ponto final nessa reta.
Dois vetores são iguais se, e só se, a suas direções, sentidos e módulos são
iguais. Por exemplo, na figura 2.2 o vetor entre os pontos P1 e P2 e o vetor entre os
pontos P3 e P4 consideram-se iguais e, por isso, foram identificados com a mesma
letra, A distância entre P3 e P4 é igual à distância entre P1 e P2 e as retas que
passam por esses dois pares de pontos são paralelas. O vetor entre os pontos
P5 e P6, não é igual a por ter módulo e direção diferentes. Este tipo de vetores
chama-se vetores livres porque não interessam os pontos específicos onde estejam
colocados, sempre que esses pontos definam corretamente o módulo, direção e
sentido do vetor.
Na figura 2.3, partindo do ponto P o vetor produz um deslocamento até o
ponto Q; a seguir, o vetor provocará um deslocamento até o ponto R; assim
sendo, o deslocamento combinado de é equivalente ao deslocamento desde
P até R, representado na figura pelo vetor Diz-se que é igual à soma dos
vetores

41
Fonte: def.fe.up.pt

Ou seja, a adição de dois vetores consiste em deslocar um deles de forma a


fazer coincidir o seu ponto inicial com o ponto final do primeiro, obtendo-se como
resultado o vetor que vai desde o ponto inicial do primeiro vetor até o ponto final do
segundo.
A equação implica que e a figura 2.3 mostra que o
vetor vai desde o ponto final de até o ponto final de quando os pontos
iniciais de coincidem. Como tal, para subtrair dois vetores deslocam-se para
um ponto inicial comum e o resultado da subtração é o vetor que vai desde o ponto
final do segundo vetor, até o ponto final do primeiro vetor.
A adição de vetores é comutativa: deslocar o vetor a continuação do
vetor produz o mesmo resultado do que deslocar o vetor a continuação do
vetor (figura 2.4). A soma dos vetores é a diagonal do paralelogramo em
que dois dos lados são iguais a e os outros dois lados são iguais a A soma
de vários vetores também verifica a propriedade associativa.

42
Fonte: def.fe.up.pt

Considere-se um sistema de coordenadas cartesianas, como na figura 2.6.


Cada ponto P tem 3 coordenadas cartesianas (x, y, z) e está no vértice de um
paralelepípedo com arestas x, y e z, fases paralelas aos três planos xy , xz e yz e o
vértice oposto a P encontra-se na origem O do referencial.

Fonte: def.fe.up.pt

43
Existem duas formas diferentes de definir os sentidos positivos dos três
eixos x, y e z. A forma habitual consiste em seguir a regra da mão direita: fecha-se
o punho direito, esticam-se os dedos maior, indicador e polegar, de forma a formarem
ângulos retos entre si; o indicador apontará no sentido do eixo do x, o dedo maior no
sentido do eixo do y e o polegar no sentido do eixo do z. Um referencial cartesiano
pode ser definido indicando o ponto que define a origem e 3 versores perpendiculares,
que definem as direções e sentidos dos 3 eixos.
Qualquer vetor pode ser obtido somando 3 deslocamentos ao longo dos 3 eixos; por
exemplo,

em que (ax , ay , az ) e (bx , by , bz ) são as componentes cartesianas dos vetores.


Usando as propriedades da soma vetorial e do produto de escalar por vetor, a soma
dos dois vetores pode ser obtida somando as respetivas componentes:

Ou seja, a soma de dois vetores é outro vetor com componentes iguais à soma das
componentes dos vetores originais. Observe que a direção, o sentido e o módulo de
um vetor são independentes do sistema de eixos usado e da escolha da origem
O; no entanto, as suas componentes (ax, ay , az ) são diferentes em diferentes
sistemas de eixos. Se dois vetores são iguais, as suas componentes, no mesmo
sistema de eixos, também devem ser iguais.
O vetor posição de um ponto P, com coordenadas (x , y , z ), é o vetor que vai
desde a origem O até o ponto P e pode ser obtido somando 3 deslocamentos ao longo
dos 3 eixos (ver figura 2.6):

Observe-se que as componentes desse vetor posição são iguais as coordenadas


cartesianas do ponto P, (x, y, z). O vetor posição do ponto P depende da origem do
44
sistema; ou seja, em dois sistemas com origens diferentes os vetores posição do ponto
P são diferentes. Em dois sistemas diferentes, mas com a mesma origem, o vetor
posição de P é o mesmo, mas as suas componentes são diferentes nos dois sistemas.

5.5 Velocidade e aceleração vetoriais

A trajetória de um ponto em movimento pode ser definida em cada


instante t através do vetor posição do ponto,

Cada uma das três componentes, x(t) , y(t) e z(t) , é uma função do tempo. Num
intervalo de tempo ∆t=t2−t1 o deslocamento do ponto (ver figura 2.7) é igual a

em que são os vetores posição nos instantes t1 e t2 .

Fonte: def.fe.up.pt

45
O vetor obtido dividindo o deslocamento é o vetor velocidade média,
com a mesma direção e sentido do deslocamento Define-se o vetor
velocidade em cada instante, igual ao deslocamento dividido por no limite em
que se aproxima de zero,

Como as componentes cartesianas do deslocamento vetorial


então o vetor velocidade é igual a

As equações obtidas aplicando a equação 1.8 às três componentes do vetor posição


combinam-se numa única equação vetorial:

O aumento do vetor velocidade, durante o intervalo de tempo

e as suas componentes são as derivadas das componentes da velocidade:

As equações obtidas aplicando a equação 1.22 às três componentes do vetor


velocidade combinam-se também numa única equação vetorial:

46
As equações 2.15 e 2.18 são as mesmas 6 equações 2.1 e 2.2, combinadas em duas
equações vetoriais, usando o facto que a igualdade de dois vetores implica a
igualdade das suas componentes.

As restantes 3 equações 2.3 também podem ser combinadas numa equação vetorial:
ondeo ponto "· " representa o produto escalar, que será introduzido no fim
do capítulo. No entanto, para resolver equações diferenciais usando o método de
separação de variáveis usado no capítulo anterior, é mais útil usar as 3
equações 2.3 por separado.

A rapidez |v| referida no capítulo anterior é o módulo do vetor Quando o movimento


pode ser em qualquer direção do espaço, chamaremos simplesmente velocidade ao
vetor e "valor da velocidade" a |v| ; de forma análoga, o vetor chamar-se-á
simplesmente aceleração e será o valor da aceleração.

Resolução. As componentes da velocidade podem ser representadas por uma lista


no Maxima:

47
As funções diff e integrate aceitam também uma lista com expressões, derivando (ou
integrando) cada um dos elementos da lista. Assim sendo, a aceleração (derivada da
velocidade em ordem ao tempo) é,

As componentes do vetor obtêm-se a partir da equação 2.16.

usou-se o comando assume para indicar que t é positiva; se não tivesse sido usado,
Máxima teria perguntado o sinal de t , já que o resultado do integral depende desse
sinal.
O vetor posição, a velocidade e a aceleração aos 15 segundos são,

Para obter os vetores no limite do tempo infinito, usa-se a função limit e o


símbolo inf que representa infinito:

48
Ou seja, a partícula atinge velocidade constante afastando-se até infinito.
Para traçar o gráfico da trajetória, usa-se a opção parametric da função plot2d. As
componentes x e y do vetor posição devem ser dadas por separado, porque a
função plot2d não admite que sejam dadas numa lista. O primeiro elemento da
lista r (componente x ) identifica-se usando a sintaxe r [1] e o segundo elemento
(componente y ) com r[2]

O intervalo de tempo desde 0 até 60 foi indicado usando a notação [t, 0, 60]. O
resultado mostra-se na figura 2.7.

Fonte: def.fe.up.pt

5.6 Lançamento de projéteis

O movimento de projéteis sob a ação da gravidade, estudado na secção

49
pode também ser analisado de forma vetorial. Escolhendo o eixo dos y na direção
vertical, com sentido positivo para cima, tal como na secção
o vetor aceleração será:

onde a aceleração da gravidade g é, aproximadamente 9.8 m/s2.

Se um projétil for lançado com velocidade inicial a aceleração da gravidade


alterará essa velocidade, na direção vertical, mas a componente horizontal de
permanecerá constante. O resultado será um vetor velocidade que se
encontra no mesmo plano vertical em que está a velocidade inicial
Conclui-se assim que a trajetória do projétil será sempre plana, no plano vertical
definido por

A única exceção a essa regra é quando não tiver componente horizontal; nesse
caso, são paralelos, não definem nenhum plano e a trajetória é uma reta
vertical.

Resolução: Usando o sistema de eixos definido no enunciado do problema, o vetor


aceleração é A expressão do vetor velocidade em função
de t instante obtém-se a partir da equação 2.19 e calculando a primitiva,
50
Fonte: def.fe.up.pt

Onde foi arbitrado ti=0 no instante em que a bala é disparada.

Substituindo essa expressão e a posição inicial na equação 2.16, obtém-se a


expressão do vetor posição em qualquer instante

A altura máxima será atingida no instante em que a velocidade seja na horizontal, ou


seja, quando a componente vz da velocidade for nula

51
nesse instante, a componente z do vetor posição determina a altura máxima:

Para calcular o instante em que a bala bate no chão, calcula-se o tempo t em que a
componente z da posição é igual a zero,

e nesse instante a posição da bala é,

5.7 Velocidade e aceleração relativas

A figura 2.9 mostra os vetores posição de dois pontos P e Q, no mesmo


instante t . O vetor desde o ponto Q até o ponto P, é a posição do ponto P,
relativa a Q. Esses três vetores posição estão relacionados pela seguinte equação:

52
Fonte: def.fe.up.pt

Os vetores velocidade dos dois pontos são as derivadas dos seus vetores posição,
em ordem ao tempo

E a derivada do vetor posição relativa, em ordem ao tempo, é a velocidade de P


relativa a Q:

Como tal, derivando os dois lados da equação 2.21, em ordem ao tempo, obtém se a
relação entre as 3 velocidades:

Isto é, a velocidade do ponto P é igual à sua velocidade relativa a outro ponto Q, mais
a velocidade desse ponto Q. E a velocidade do ponto P, relativa a outro ponto Q, é
igual à velocidade de P menos a velocidade de Q.
53
A relação entre as velocidades pode ser derivada novamente, em ordem ao tempo,
obtendo-se uma relação semelhante para a aceleração relativa:

Assim, por exemplo, se viajarmos num comboio que se desloca com velocidade
e observarmos um objeto com velocidade dentro do comboio, a velocidade
desse objeto em relação à Terra será igual a Mas como a Terra se
desloca em relação ao Sol, a velocidade do objeto em relação ao Sol seria
em que é a velocidade da Terra relativa ao Sol. Em relação à
Galáxia teríamos de somar também a velocidade do Sol na galáxia e assim
sucessivamente.
O princípio de adição de acelerações relativas é aproveitado para treinar os
candidatos a astronautas. Se o astronauta, a bordo de um avião, tropeça e cai para o
chão, a sua aceleração durante a queda, em relação à Terra, é o vetor
que aponta para o centro da Terra e com valor igual à aceleração da gravidade. Se o
avião também estiver em queda livre, a sua aceleração em relação à Terra será o
mesmo vetor (figura 2.10). A aceleração do astronauta em relação ao avião é igual
à diferença entre essas duas acelerações em relação à Terra, que é zero. Ou seja,
em relação ao avião, o astronauta não acelera em nenhuma direção, mas flutua no
meio do avião durante os segundos que o piloto conseguir manter o avião em queda
livre.

5.8 Movimentos dependentes

Em alguns sistemas em que aparentemente são necessárias várias variáveis


para descrever o movimento das diferentes componentes do sistema, o número de
graus de liberdade pode ser menor devido à existência de restrições no movimento.
A figura 2.11 mostra um exemplo; enquanto o cilindro desce, o carrinho desloca-se
sobre a mesa.

54
Fonte: def.fe.up.pt

O movimento do carrinho pode ser descrito pela variação da distância


horizontal x até o eixo da roldana fixa. O movimento do cilindro é igual ao movimento
da roldana móvel e, como tal, pode ser descrito pela expressão para a distância
vertical y entre os centros das roldanas, em função do tempo.
Mas enquanto o fio permanecer esticado e sem se quebrar, existirá uma
relação entre as velocidades e as acelerações do carrinho e do cilindro. Para encontrar
essa relação, escreve-se a o comprimento do fio, L, em função das distâncias x e y:

em que r1 e r2 são os raios das duas roldanas. O fio toca um quarto do perímetro da
roldana fixa e metade do perímetro da roldana móvel Tendo em
conta que L, d, r1 e r2 são constantes, e derivando a equação anterior em ordem ao
tempo, obtém-se,

55
Ou seja, o valor da velocidade do carrinho será sempre o dobro do valor da velocidade
do cilindro. O sinal negativo na equação acima indica que se o cilindro desce o
carrinho desloca-se para a direita e vice-versa.
Derivando novamente essa última equação em ordem ao tempo, conclui-se que a
aceleração tangencial do carrinho é também o dobro da aceleração tangencial do
cilindro:

Essas relações entre as posições, velocidades e acelerações implicam que o


sistema tem apenas um grau de liberdade. Uma vez conhecidas as expressões para
a posição, velocidade e aceleração de um dos objetos, as expressões da posição,
velocidade e aceleração do outro objeto serão obtidas multiplicando (ou dividindo) por
2.
Um segundo exemplo, com dois graus de liberdade, é o sistema de três
roldanas e três cilindros na figura 2.12. As alturas dos três cilindros são determinadas
pelos valores das 3 distâncias yA , yB e yC ; como existe um único fio em movimento,
existe apenas uma restrição (comprimento do fio constante), que permitirá expressar
uma das três distâncias em função das outras duas.

Fonte: def.fe.up.pt
56
O comprimento do fio é,

em que a constante é a soma de metade dos perímetros das roldanas, que não é
importante conhecer, já que vai desaparecer quando a equação for derivada e só
altera as posições num valor constante.
A derivada da equação anterior em ordem ao tempo é,

Neste caso existem vários possíveis movimentos; por exemplo, se o cilindro A estiver
a subir e o cilindro C estiver a descer com a mesma velocidade, o cilindro B
permanecerá estático; ou um dos cilindros poderá estar a descer e os outros dois a
subir. O que sim não é possível é que os 3 cilindros estejam simultaneamente a descer
ou a subir.
A derivada da equação 2.30 conduz à relação entre as acelerações,

Exemplo 2.4
No sistema da figura, calcule o valor da velocidade com que sobe o cilindro, quando
o anel A for puxado para baixo com velocidade de valor 2 m/s.

57
Fonte: def.fe.up.pt

Resolução: Neste caso há 4 sistemas em movimento, as três roldanas móveis e o


anel A (o movimento do cilindro é igual ao da roldana móvel da qual está pendurado)
e 3 fios inextensíveis; portanto, este sistema tem apenas um grau de liberdade. Com
o valor da velocidade de A dada no enunciado será possível calcular as velocidades
de todas as roldanas móveis.
Sendo y1 a distância desde o teto até o anel e y2, y3 e y4 as distâncias desde o teto
até cada uma das roldanas móveis, os comprimentos dos 3 fios são:

Derivando essas três equações, obtém-se:

58
e substituindo, encontra-se a relação entre vy1 e vy4 ,

isto é, o valor da velocidade com que desce o anel é 8 vezes o da velocidade com que
o cilindro sobe. Assim sendo, o cilindro sobe com velocidade de valor 0.25 m/s.

5.9 Produto escalar

O produto escalar entre dois vetores indicado por meio de um ponto entre
os vetores, define-se como o produto entre os módulos dos dois vetores e o
cosseno do ângulo θ entre eles:

A figura 2.13 mostra dois vetores e o ângulo θ entre eles. A projeção do vetor
na direção paralela ao vetor é igual a e a projeção do vetor
na direção paralela ao vetor Assim sendo, o produto escalar
entre os dois vetores é igual ao produto do módulo de um dos vetores pela projeção
do outro vetor na direção do primeiro.

Fonte: def.fe.up.pt

59
Este produto denomina-se escalar porque os módulos dos dois vetores e o
ângulo entre as direções são grandezas escalares, que não dependem do referencial
usado para os medir; consequentemente, o produto é também um escalar,
independente do sistema de eixos usado.
Duas retas que se cruzam num ponto definem dois ângulos θ e (18 0◦−θ). No caso de
vetores, não existe ambiguidade na definição do ângulo, porque deslocando os
vetores para um vértice comum, mede-se o ângulo na região por onde passa o vetor
(ver figura 2.14).
O produto escalar entre dois vetores com módulos a e b está sempre no
intervalo [−ab, ab ]. Se o ângulo entre os vetores é agudo, co sθ>0, o produto é
positivo. Se o ângulo é obtuso, co sθ<0 , o produto é negativo e se os vetores são
perpendiculares, co sθ=0 , o produto é nulo (figura 2.14). O valor mínimo do
produto, −ab , obtém-se quando os vetores têm a mesma direção, mas com sentidos
opostos. O valor máximo, ab , obtém-se quando os vetores têm a mesma direção e o
mesmo sentido.

Fonte: def.fe.up.pt

Como o módulo dos versores é igual a 1, o produto entre dois versores é


sempre igual ao cosseno do ângulo entre eles. Assim sendo, o ângulo entre duas
direções no espaço pode ser determinado calculando o arco cosseno do produto
escalar entre dois versores nessas direções

Em função das componentes cartesianas dos vetores, o produto escalar é,


60
Usando a propriedade distributiva do produto escalar e o facto de que o produto
escalar entre dois dos versores cartesianos diferentes é zero, por serem
perpendiculares, e o produto de um desses versores consigo próprio é 1, obtém-se
uma expressão útil para calcular o produto escalar em função das componentes
cartesianas,

As componentes dos dois vetores são diferentes em diferentes referenciais,


mas o produto (axbx + ayby + azbz) deve dar o mesmo resultado em qualquer
referencial, já que é um escalar.
Usando as duas expressões 2.32 e 2.35 para calcular o produto escalar de um
vetor consigo próprio, obtém-se:

Conclui-se que o módulo de um vetor com componentes (ax , ay , az) é dado


pela expressão,

61
6 FORÇAS CENTRAIS6

Quando o momento da força aplicada num corpo em movimento curvilíneo é


nulo, temos que

que implica que:

isto é, , o momento angular, é um vector constante. Para que o momento da força


seja nulo basta que esta seja também nula ou, caso exista, que seja paralela ao vector
(em direção ao centro da trajetória).
A uma força cuja direção passe sempre pelo centro da trajetória chamamos força
central. Podemos então enunciar o seguinte princípio:

Um corpo sob ação de uma força central tem momento angular constante ou
conserva-se o momento angular de um corpo sob ação de forças centrais

Este princípio tem uma aplicação muito geral, uma vez que muitas das forças
na Natureza são centrais. Os planetas do nosso sistema solar orbitam em torno do
Sol sob o efeito da atração gravítica, que tem sempre a direção do vector que une os
dois corpos. O centro da trajetória é o Sol, um dos corpos. Cada planeta tem, portanto,
momento angular constante. Aliás, as órbitas de (quase) todos os planetas estão
assentes no mesmo plano. Tal deve-se à conservação do momento angular do
sistema, que começou por ser uma única nuvem de gás girando sobre si própria. Outro
exemplo é o do electrão do átomo de hidrogénio, que gira em torno do núcleo com
momento angular constante.
Se considerarmos agora a área varrida pelo vector enquanto o corpo percorre o
arco d , é igual a metade do paralelogramo formado por e rd

6 Texto extraído de: e-escola.tecnico.ulisboa.pt


62
Mas também sabemos que (considerando a massa do corpo constante e unitária)

Se notarmos que a área varrida por unidade de tempo

e compararmos as duas últimas equações chegamos à conclusão de que a área varrida


por unidade de tempo é constante . A esta conclusão chamamos a Segunda Lei de Kepler.

7 MOVIMENTO CIRCULAR7

Movimento circular é o movimento de rotação de um corpo em torno de um eixo


ao longo de uma trajetória circular de raio constante. Esse movimento pode
ser uniforme, caso a velocidade de rotação seja constante, ou variado, caso sua
velocidade sofra variações ao longo do tempo.
O movimento circular ocorre quando uma força de módulo constante é aplicada
em uma direção perpendicular à velocidade de um móvel, de forma que o módulo
dessa velocidade mantenha-se constante, alterando somente sua direção e seu
sentido. A força aplicada nesse caso é denominada força centrípeta.
Para que seja melhor entendido, o movimento circular é dividido em duas
partes: a parte angular e a parte espacial. Enquanto o móvel desloca-se no espaço, o
ângulo formado em relação ao seu eixo de rotação também varia. Por isso, ao

7 Texto extraído: brasilescola.uol.com.br


63
tratarmos do movimento circular, falamos de conceitos como deslocamento angular
e velocidade angular.
Observe a figura abaixo:

Fonte: brasilescola.uol.com.br

A figura acima mostra a trajetória de um móvel que executa um movimento


circular uniforme, ou seja, com velocidade tangencial (v) constante. Caso sua
velocidade apresente aceleração ou desaceleração constante, o movimento
executado por esse corpo é circular uniformemente variado.

64
Fonte: brasilescola.uol.com.br

7.1 Movimento circular uniforme (MCU)

No movimento circular uniforme (MCU), a velocidade tangencial com a qual o


móvel desloca-se permanece constante e pode ser escrita como a divisão entre
o deslocamento (ΔS) e o intervalo de tempo do movimento (Δt):

O deslocamento (ΔS) sofrido pelo móvel é dado


pelo comprimento da circunferência de raio R e é calculado por meio da expressão:

65
Além disso, chamamos de período (T) o tempo necessário para que o móvel
complete uma volta em torno de seu eixo de rotação. Podemos, assim, reescrever a
equação da velocidade para o MCU da seguinte forma:

Chamamos de velocidade angular (ω) a variação do ângulo θ formado entre


o raio e seus eixos horizontal e vertical. Observe a figura abaixo:

Fonte: brasilescola.uol.com.br

A velocidade angular média pode ser calculada, portanto, por meio do


deslocamento angular de uma volta completa (2π em radianos) divido

66
pelo período (T) dessa volta. Além disso, devemos lembrar que período (T)
e frequência (f) de rotação são grandezas inversas. Há, portanto, mais de uma forma
de calcularmos a velocidade angular de um movimento circular:

De acordo com o Sistema Internacional de Unidades (SI), a unidade utilizada


para calcularmos a velocidade angular é o radianos por segundo (rad/s). Lembre-se:
• 1 radiano é o ângulo cujo arco (ΔS) tem comprimento igual ao raio (R)
da sua circunferência.
• Uma volta completa em torno de uma circunferência equivale a 360º
ou 2π radianos.
Caso saibamos a frequência de rotação de um móvel e queiramos determinar
seu período, ou vice-versa, podemos usar a identidade apresentada abaixo:

A unidade de frequência no SI é o hertz (Hz), que é equivalente à unidade s-


1 (unidade que mede a quantidade de oscilações ou rotações
completadas a cada segundo). Outra unidade comumente usada para frequência é
o rpm (rotações por minuto). Para convertermos essas unidades basta lembrarmos
que 1 Hz = 60 rpm.

7.2 Velocidade escalar no MCU

É possível relacionar velocidade escalar (ou tangencial) e velocidade angular


de um móvel que executa um MCU por meio da seguinte fórmula:

67
A fórmula acima permite relacionar a velocidade escalar à velocidade angular
de um móvel que executa um MCU.
Confira abaixo um quadro-resumo que pode nos ajudar a entender o MCU:

7.3 Força centrípeta no MCU e no MCUV

Força centrípeta é toda força central (que aponta para o centro) que age em
direção perpendicular à velocidade de um móvel, mudando, assim, sua direção e seu
sentido sem alterar o módulo de sua velocidade. A força centrípeta pode ser calculada
por meio da expressão abaixo:

É importante lembrar que, mesmo que um corpo mova-se


em movimento circular uniforme (MCU), seu movimento será acelerado. Nesse caso,
a aceleração que o corpo sofre é centrípeta e aponta sempre para o centro de sua
trajetória, na direção de seu raio.
A aceleração centrípeta pode ser calculada por meio da fórmula abaixo:

68
Quando o corpo em movimento circular
apresenta alguma outra aceleração constante além da centrípeta, dizemos que seu
movimento é circular e uniformemente variado (MCUV), como no caso da figura
abaixo:

Fonte: brasilescola.uol.com.br

Nessa figura, podemos ver que o móvel apresenta


uma aceleração centrípeta (perpendicular à velocidade) e
uma aceleração tangencial (paralela à velocidade). Logo, o móvel está acelerando
sua rotação.
69
Nesse caso, é possível calcularmos a aceleração resultante por meio
do Teorema de Pitágoras, uma vez que
as acelerações centrípeta e tangencial são perpendiculares entre si:

7.4 Movimento circular uniformemente variado (MCUV)

O MCUV é um movimento circular que ocorre quando a velocidade angular do


móvel varia de forma constante com o tempo. Isso significa que a rotação ocorre na
presença de uma aceleração angular.
As equações utilizadas para descrever o MCUV são similares àquelas
utilizadas no movimento uniformemente variado (MUV). Para determinarmos, por
exemplo, a velocidade angular final após uma aceleração ou desaceleração angular,
utilizamos a fórmula abaixo:

A aceleração angular, por sua vez, pode ser calculada por meio da seguinte
fórmula:

O deslocamento angular do móvel é a medida da variação do ângulo θ, em


radianos, para uma dada velocidade angular inicial (ω0) e para uma
determinada aceleração angular (α). O deslocamento angular pode ser calculado por
meio da equação abaixo:

70
7.5 Resumo sobre MCUV

Confira abaixo um quadro-resumo com a síntese das ideias relacionadas


ao movimento circular uniformemente variado:

Fórmulas do Movimento Circular


Confira um resumo das principais fórmulas utilizadas para o estudo do MCU e
do MCUV:

7.6 Exemplos de movimento circular

→ MCU
Uma roda gigante com 10 m de diâmetro gira a uma frequência de 15 rpm.
Determine:
a) a frequência dessa roda gigante em Hz.
b) o período de oscilação dessa roda gigante.

71
c) sua velocidade angular.
d) a velocidade escalar das extremidades da roda gigante.
e) o espaço percorrido por uma pessoa sentada na extremidade da roda
gigante durante uma volta completa.

Resolução
a) Para determinarmos a frequência dessa roda gigante em Hz, basta
lembrarmos que 1 minuto tem 60 segundos. Com isso, dividimos sua
frequência de 15 rpm por 60 s, resultando 0,25 Hz.

b) O período da oscilação é dado pelo inverso da frequência da roda gigante.


Nesse caso, teremos 1 dividido por 0,25, resultando em 4 segundos.

c) Podemos calcular a velocidade angular da roda gigante usando uma das


equações abaixo:

Usando a primeira opção, teremos o seguinte cálculo:

72
d) A velocidade escalar da roda gigante depende da distância do ponto em
que se deseja calcular a velocidade até o eixo de rotação desse corpo. De
acordo com o enunciado do exercício, o diâmetro dessa roda gigante é de
10 m, e a medida de seu raio é de 5 m:

e) Podemos calcular o espaço percorrido por um ponto que se encontra na


extremidade da roda gigante durante uma volta completa. Para isso, basta
multiplicarmos a velocidade da roda gigante pelo período:

→ MCUV
Um ponto material move-se em MCUV com velocidade angular inicial de 0,5
rad/s e, então, passa a acelerar a 0,5 rad/s² durante 1,0 s. Sendo o raio de sua
trajetória igual a 5,0 m, determine:
a) a velocidade angular desse ponto material ao final do tempo de 1,0 s.
b) o deslocamento angular sofrido por esse ponto material durante o tempo de
1,0 s.
c) o deslocamento escalar sofrido pelo ponto material.
Resolução
a) A velocidade angular final do móvel pode ser calculada por meio da fórmula
abaixo:
73
Considerando os dados fornecidos pelo enunciado do exercício, teremos a
seguinte resolução:

b) Para determinarmos o deslocamento angular sofrido por esse móvel,


usaremos a equação

Usando as informações do exercício, faremos o seguinte cálculo:

c) Por fim, para calcularmos a distância percorrida pelos pontos extremos da


roda gigante, basta usarmos a equação abaixo:

Multiplicando o deslocamento angular de 0,75 rad pelo raio da roda gigante de


5m, teremos um deslocamento escalar de 3,75 m, equivalente a uma volta completa.

74
Fonte: brasilescola.uol.com.br

8 MOVIMENTO UNIFORME8

O movimento uniforme ocorre quando um móvel desloca-se em linha reta e


com velocidade constante. No movimento uniforme, o móvel
percorre espaços iguais em intervalos de tempo iguais.
Imagine a seguinte situação: um veículo que se move em movimento uniforme,
com velocidade de 20 km/h, terá se deslocado de sua posição inicial em 10 km, em
um intervalo de tempo de 0,5 h (30 minutos). Em 1h, esse mesmo veículo terá se
distanciado de sua posição inicial em 20 km.
Todos os movimentos uniformes devem ocorrer em linha reta, já que nesse
tipo de movimento não há aceleração. Entenda: para que um móvel sofra uma

8 Texto extraído de: brasilescola.uol.com.br


75
alteração em sua direção de deslocamento, é necessário que uma força atue sobre
ele, imprimindo-lhe uma aceleração e fazendo com que o móvel ganhe uma nova
componente de velocidade.

8.1 Fórmulas do movimento uniforme

Confira algumas fórmulas utilizadas para descrever o movimento uniforme e


entenda o significado de cada uma de suas variáveis:

S — posição final do móvel


S0 — posição inicial do móvel
v — velocidade do móvel
t — intervalo de tempo

v — velocidade média
ΔS — deslocamento
Δt — intervalo de tempo

8.2 Referenciais e classificação do movimento

Para definirmos corretamente o movimento de um corpo, é necessário escolher


um referencial. Na Física, entendemos que referencial é a posição em que o
observador se encontra. A figura abaixo mostra alguns veículos que se movem em
diferentes sentidos ao longo da direção horizontal.
O referencial adotado na figura (marcado pelo ponto 0) é onde o observador se
encontra. Segundo esse referencial, os carros, à esquerda, encontram-se
em posições negativas, enquanto os carros, à direita, encontram-se
em posições positivas.

76
Fonte: brasilescola.uol.com.br

É importante perceber que a escolha de outro referencial implicaria a mudança


das posições iniciais de cada veículo e também a classificação dos seus movimentos.
A figura abaixo mostra o que o referencial escolhido percebe: para ele, o carro laranja
e o carro prata, à esquerda, afastam-se, enquanto o carro prata, à direita, aproxima-
se dele.

Fonte: brasilescola.uol.com.br

Dizemos que, quando um móvel aproxima-se do seu referencial, seu


77
movimento é regressivo. Caso o móvel afaste-se do seu referencial, seu movimento
é progressivo. Além disso, atribuímos ao movimento progressivo o sinal positivo para
a velocidade. Para o movimento regressivo, utilizamos o sinal negativo, indicando
que a distância entre o móvel e seu referencial diminui com o tempo.

8.3 Velocidade média

A velocidade média de um móvel é dada pela razão do deslocamento (ΔS) no intervalo


de tempo em que o movimento ocorreu. O deslocamento (ΔS), por sua vez, é dado
pela diferença entre as posições final e inicial do móvel.

v — velocidade média
ΔS — deslocamento
Δt — intervalo de tempo

Na fórmula da velocidade média, chamamos ΔS de deslocamento. O


deslocamento de um móvel pode ser facilmente calculado se soubermos de onde ele
saiu (S0 — posição inicial) e onde ele chegou (Sf — posição final) ao término do
movimento, que é delimitado por um intervalo de tempo (Δt), calculado pela diferença
de tempo entre os instantes final e inicial (Δt = tf – t0). Confira essa fórmula, de forma
mais detalhada, a seguir:

8.4 Unidades de medida da velocidade

A unidade de medida da velocidade, de acordo com o Sistema Internacinal (SI),


é o metro por segundo (m/s). Porém, existem outras unidades comuns, como
o quilômetro por hora (km/h). É fácil convertermos metros por segundo em
quilômetros por hora. Para fazê-lo, basta multiplicarmos ou dividirmos o módulo da

78
velocidade pelo fator 3,6, como mostra a figura a seguir:

Fonte: brasilescola.uol.com.br

Exemplos:
72 km/h / 3,6 = 20 m/s
108 km/h /3,6 = 30 m/s

Fonte: brasilescola.uol.com.br

79
8.5 Gráficos do movimento uniforme

Podemos relacionar a posição de um móvel em função do tempo usando os


gráficos. Para o movimento uniforme, os gráficos de posição em função do tempo
formam retas com inclinação para cima ou para baixo, relacionadas ao
movimento progressivo e regressivo, respectivamente. Confira um exemplo de gráfico
da posição em função do tempo para o movimento uniforme progressivo:

Fonte: brasilescola.uol.com.br

Na figura abaixo, temos um gráfico que representa a posição em função do


tempo para um móvel que executa um movimento uniforme e regressivo (ou
retrógrado).

80
Fonte: brasilescola.uol.com.br

Os gráficos de posição em função do tempo podem ser usados para determinar


a velocidade do movimento. Para isso, basta percebermos que a velocidade do móvel
é dada por sua tangente, ou seja, a razão entre o cateto oposto (ΔS) e o cateto
adjacente à reta (Δt).
Os gráficos de velocidade em função do tempo para o movimento uniforme, por
sua vez, são retas paralelas ao eixo horizontal, de módulo negativo ou positivo, de
acordo com a sua classificação (progressivo ou regressivo). Por meio do gráfico de
velocidade, é possível calcular o deslocamento do móvel, para isso, basta
determinarmos o módulo da área abaixo da reta:

81
Fonte: brasilescola.uol.com.br

No gráfico anterior, a área pintada de azul é numericamente igual à área de


um retângulo. Essa área pode ser calculada pela fórmula a seguir:

A — área
b — aresta da base
h — altura

Exercícios sobre movimento uniforme

1) Um móvel parte da posição inicial S0 = - 15 m e, após 12 segundos,


encontra-se na posição SF = 45 m.
a) Determine a velocidade média desse móvel.
b) Determine a função horária da posição do móvel.
c) Calcule a posição do móvel para os instantes t = 0 s, t = 1 s, t = 2 s, t = 3 s e
t = 4 s. Em seguida, construa o gráfico de posição em função do tempo para esse
movimento.
d) Classifique o movimento descrito por esse móvel.

Resolução

a) Para calcularmos a velocidade média desse movimento, usaremos a


fórmula de velocidade média:

Inserindo os dados fornecidos pelo enunciado do exercício, faremos o seguinte


cálculo:

82
O resultado indica que o móvel desloca-se 5 metros a cada segundo.
b) Para determinar a função horária desse movimento, basta identificarmos a
sua posição inicial e velocidade. Em seguida, substituímos esses valores na função
horária da posição:

Substituindo os dados do exercício, teremos a seguinte função horária da posição:

c) Vamos calcular a posição do móvel, para cada um dos instantes de tempo


citados, usando a sua função horária da posição:

O gráfico desse movimento é mostrado a seguir:

83
Fonte: brasilescola.uol.com.br

d) analisando o gráfico, é possível perceber que o móvel aproxima-se do


referencial entre os instantes t = 0 s e t = 3 s, a partir de 3 s, o móvel passa a se
afastar. portanto, o movimento é retrógrado entre 0 e 3 s e progressivo de 3 s adiante.

9 MOVIMENTO UNIFORMEMENTE VARIADO9

Movimento uniformemente variado (MUV) trata-se de um movimento no qual a


mudança de velocidade, chamada de aceleração, ocorre a uma taxa constante. O
movimento uniformemente variado é um caso particular
do movimento variado. Neste, a velocidade apenas varia, enquanto naquele
a velocidade varia de maneira constante, isto é, sua magnitude sofre acréscimos ou
reduções iguais, a cada segundo.
Quando algum móvel desenvolve um movimento uniformemente variado, a sua
velocidade aumentará ou diminuirá de forma constante, a cada segundo. Quando
essa velocidade aumenta, dizemos que o seu movimento é acelerado; quando
diminui, dizemos que seu movimento é retardado.
O movimento uniformemente variado pode ser descrito por meio

9 Texto extraído de: https://brasilescola.uol.com.br/fisica/movimento-uniformemente-variado.htm


84
de funções horárias, similares àquelas usadas para o movimento uniforme, sendo
mais gerais. Além disso, para resolver alguns exercícios relacionados a esse tipo de
movimento, é necessário compreender o significado por trás dos gráficos
de posição e velocidade. Por isso, vamos estudar as diferentes funções horárias do
MUV bem como as suas respectivas representações gráficas.
Primeiramente, trataremos da função horária da velocidade, que também pode
ser escrita no formato da fórmula usada para o cálculo da aceleração média, confira:

vF e v0 - velocidades final e inicial (m/s)


a - aceleração (m/s)
t - intervalo de tempo (s)

A fórmula mostra que a velocidade de um móvel varia de forma linear com a


sua aceleração, ou seja, supondo que um corpo tenha uma aceleração de 3 m/s², a
sua velocidade aumentará em 3 m/s, a cada segundo.
Se prestarmos atenção ao formato da função horária da posição, veremos que
ela se trata de uma função de primeiro grau do tipo y = a + bx, conhecida
como equação da reta. No caso da função horária da velocidade, o coeficiente a,
chamado de coeficiente linear, é a velocidade inicial do móvel, enquanto o coeficiente
b, conhecido como coeficiente angular, é a aceleração desse móvel.
Na figura seguinte trazemos um gráfico de velocidade em função do tempo v(t),
confira:

85
Fonte: brasilescola.uol.com.br

No gráfico, vemos duas retas, uma vermelha e uma azul, que representam o
movimento de dois móveis. Estes partem do repouso (v0 = 0) e passam a acelerar de
forma constante. Um segundo após sua partida, o móvel em azul está com uma
velocidade de 4 m/s, enquanto o móvel vermelho está a 2 m/s. Analisando a inclinação
das retas, é fácil perceber que a aceleração do móvel azul é maior que a do móvel em
vermelho.
É possível perceber, com base na leitura do gráfico, que a velocidade do móvel
em azul aumenta 4 m/s, a cada segundo que se passa, enquanto a velocidade do
móvel B aumenta em apenas 2m/s, para o mesmo intervalo de tempo. Desse modo,
podemos escrever as funções horárias dos movimentos representados pelas retas
azul e vermelha, confira:

A seguir, mostramos como deve ser o formato do gráfico de


um movimento uniformemente variado acelerado e retardado em vermelho e em
azul, respectivamente. Para ambos, adotaremos uma velocidade inicial não nula:

86
Fonte: brasilescola.uol.com.br

Perceba que o movimento retardado, representado pela reta azul, inverte o seu
sentido no instante t = 8 s, uma vez que sua velocidade passa a assumir valores
negativos.
Além de obtermos a aceleração do móvel, com base nos gráficos de
velocidade, também é possível que se calcule a distância percorrida pelo móvel. Para
isso, devemos calcular qual é a área do gráfico abaixo da reta. Essa área pode ser
facilmente encontrada considerando-se a área de um trapézio e pode ser obtida
diretamente pela fórmula seguinte, especialmente útil para quando não se conhece a
aceleração do móvel:

Além da função horária da velocidade, o MUV utiliza funções horárias da


posição. Estas são funções de segundo grau, uma vez que o deslocamento de um
móvel em MUV é proporcional ao intervalo de tempo elevado ao quadrado. Confira
agora as equações da posição e do deslocamento para o MUV:

87
SF - posição final
S0 - posição inicial
v0 - velocidade inicial
ΔS - deslocamento

Tais equações assemelham-se às funções de segundo grau do tipo ax² + bx +


c = 0. Nessas funções horárias de posição e
deslocamento, o coeficiente a equivale à a/2 (aceleração dividido por dois), que
multiplica o termo t², enquanto a velocidade inicial (v0) representa o coeficiente b.
Com base nisso, vamos mostrar como são os gráficos de movimento
uniformemente variado para os casos acelerado, em vermelho, e retardado, em azul,
partindo de uma velocidade inicial não nula:

Fonte: brasilescola.uol.com.br

Analisando esse gráfico, é possível perceber que, para o movimento acelerado,


em vermelho, a concavidade da parábola é voltada para cima, uma vez que sua
aceleração é positiva, enquanto para o movimento retardado, em azul, a concavidade
da parábola é voltada para baixo, em razão de sua aceleração apresentar sentido
contrário à sua velocidade inicial.
As funções horárias que foram utilizadas para formar os gráficos,
representadas pelas curvas vermelha e azul respectivamente, bem como os seus
valores de posição, velocidade inicial e aceleração são mostrados a seguir:

88
9.1 Equação de Torricelli

A equação de Torricelli é bastante útil quando precisamos resolver algum


problema relacionado ao movimento uniformemente variado e não sabemos em qual
intervalo de tempo ele ocorreu. Essa equação pode ser facilmente obtida com base
nas funções horárias da posição e da velocidade.
Confira como é a fórmula da equação de Torricelli:

89
Fonte: brasilescola.uol.com.br

A queda livre é um exemplo de movimento uniformemente variado

Exercícios resolvidos
1- Um móvel tem a sua função horária de deslocamento dada por S = 5 + t². Assinale
a alternativa que indica a velocidade inicial e a aceleração desse móvel,
respectivamente:
a) 5 m/s e 1 m/s²
b) 0 m/s e 2 m/s²
c) 1 m/s e 5 m/s²
d) 5 m/s e 2 m/s²
e) 3 m/s e 5 m/s²
Gabarito: Letra B
Resolução:
Sabemos que as funções horárias de deslocamento seguem o formato ax² + bx +c =
0, mas também sabemos que o coeficiente b equivale à velocidade inicial do móvel e
que o coeficiente a equivale à metade de sua aceleração. Desse modo, temos
que: v0 = 0 e a = 2 m/s².

2- Em um gráfico de posição em função do tempo, observa-se que a curva descreve

90
uma parábola com a sua concavidade voltada para baixo. Em relação a esse gráfico,
assinale a alternativa correta:
a) Trata-se de um movimento acelerado.
b) Trata-se do gráfico de um movimento retrógrado.
c) Trata-se do gráfico de um movimento retardado.
d) Trata-se de um gráfico de aceleração variável.
e) Trata-se de um gráfico de velocidade crescente.
Gabarito: Letra C
Resolução:
Quando o gráfico de posição em função do tempo tem o formato de uma
parábola, sabemos que esse movimento apresenta aceleração constante. O que nos
diz se o movimento representado pelo gráfico é retardado ou acelerado é a
concavidade da parábola, que, nesse caso, é voltada para baixo. Portanto, o gráfico
em questão representa um movimento retardado.

10 LANÇAMENTO DE PROJÉTEIS10

Para entender sobre lançamentos de projéteis, precisa-se de alguns


conhecimentos básicos sobre vetores, movimentos uniformes e movimentos
uniformemente variados, porém antes, vale a pena entender um pouco sobre uma
área da mecânica denominada cinemática.
A mecânica é a ciência que estuda os movimentos de diferentes corpos nas
suas maneiras mais diversas. Essa ciência pode ser dividida em várias áreas entre
elas: Dinâmica, cinemática, estática e etc. sendo a cinemática.
A cinemática é a área da física que estuda os movimentos sem levar em
consideração a sua causa. Dentro da cinemática existem alguns tópicos
como movimentos uniformes, movimentos uniformemente variados, movimentos
circulares, lançamento de projéteis e etc.
Dentre os lançamentos de projeteis são divididos geralmente dois tipos:
O lançamento oblíquo e a queda livre.

10 Texto extraído de: coladaweb.com


91
10.1 A queda livre dos corpos:

A queda livre dos corpos consiste em lançar ou abandonar projéteis de um


morro ou qualquer desnível que contenha uma altura em relação a
um referencial (geralmente o solo). Um esquema ilustrativo pode ser representado
abaixo:

Fonte: sites.google.com

Como o projétil sofrerá a ação da gravidade, logo ele será:

1- Acelerado se estiver caindo no mesmo sentido da aceleração da gravidade.


2- Desacelerado se ele estiver indo contra a aceleração da gravidade.
Observe que é preciso que você defina um sentido para a aceleração da
gravidade.
As equações que representam esse movimento são as mesmas equações que
representam osmovimentos uniformemente variados fazendo apenas a substituição
da aceleração pela aceleração da gravidade.

10.2 O lançamento oblíquo:

O lançamento oblíquo consiste em lançamento geralmente de um projétil em


que este faz um ângulo qualquer em relação a um referencial (geralmente o solo). Um
esquema ilustrativo pode ser representado abaixo:

92
Fonte: sites.google.com

Nesse lançamento alguns cuidados devem ser tomados:


1- Deve-se tomar bastante atenção na decomposição do vetor velocidade
2- O lançamento obliquo obedece ao princípio da decomposição do
movimento

O princípio da decomposição do movimento diz:


Todo movimento complexo pode ser decomposto em vários movimentos mais
simples sempre que possível.
Assim o lançamento oblíquo por estar sobre dois eixos e sob a ação
da aceleração da gravidade pode ser decomposto em dois movimentos mais simples.
• Eixo y: O movimento presente no eixo y será o de queda livre
• Eixo x: O movimento presente no eixo x será o movimento uniforme
A conclusão que se pode tirar é de que a análise separadamente dos
movimentos de cada eixo corresponde a análise do lançamento oblíquo de forma
integral.
Existem também alguns movimentos classificados como lançamento vertical,
mas esse é apenas uma generalização do movimento de queda livre.

93
11 HISTÓRIA DA ASTRONOMIA11

11.1 A Astronomia através dos tempos

A Astronomia é a mais antiga das ciências. Descobertas arqueológicas têm


fornecido evidências de observações astronômicas entre os povos pré-históricos.
Desde a antiguidade, o céu vem sendo usado como mapa, calendário e relógio. Os
registros astronômicos mais antigos datam de aproximadamente 3.000 a.C. e se
devem aos chineses, babilônios, assírios e egípcios. Naquela época, os astros eram
estudados com objetivos práticos, como medir a passagem do tempo (calendários),
para prever a melhor época para o plantio e a colheita, ou com objetivos mais
relacionados à astrologia, como fazer previsões do futuro, já que acreditavam que os
deuses do céu tinham o poder da colheita, da chuva e mesmo da vida.

12 A ASTRONOMIA PRÉ-HISTÓRICA

Estudando os sítios megalíticos, tais como os de Callanish, na Escócia, o círculo de


Stonehenge, na Inglaterra, que data de 2.500 a 1.700 a.C., e os alinhamentos de
Carnac, na Bretanha, os astrônomos e arqueólogos, chegaram à conclusão de que os
alinhamentos e círculos serviam como marcos indicadores de referências e
importantes pontos do horizonte, como por exemplo as posições extremas do nascer
e o caso do Sol e da Lua, no decorrer do ano. Esses monumentos megalíticos são
autênticos observatórios destinados à previsão de eclipses na Idade da Pedra.

Fonte: docplayer.com.br

11 Texto extraído: ciencias.seed.pr.gov.br


94
Em Stonehenge, cada pedra pesa em média 26 ton. e a avenida principal que
parte do centro do monumento aponta para o local em que o Sol nasce no dia mais
longo do verão. Nessa estrutura, algumas pedras estão alinhadas com o nascer e o
pôr do Sol no início do verão e do inverno. Os maias, na América Central, também
tinham conhecimentos de calendário e de fenômenos celestes, e os polinésios
aprenderam a navegar por meio de observações celestes.

Fonte: docplayer.com.br

12.1 A Astronomia na Mesopotâmia

Os sumerianos foram os primeiros a desenvolver a astronomia. Parece justo


reconhecê-los como fundadores da astronomia, apesar de terem sido também os
criadores da astrologia. Realmente, a princípio, observavam os astros por motivos
místicos, porém com o tempo, deixaram as suas pretensões místicas para se limitarem
a observar pela simples observação. Assim fazendo, passaram de astrólogos a
astrônomos.
Tal mudança na análise dos fenômenos celestes ocorreu no primeiro milênio
antes de Cristo. Surgem assim, as primeiras aplicações de métodos matemáticos para
exprimir as variações observadas nos movimentos da Lua e dos planetas. A
introdução da matemática na astronomia foi o avanço fundamental na história da
ciência na Mesopotâmia.

95
Fonte: docplayer.com.br

12.2 A Astronomia Chinesa

A astronomia na China, como na Mesopotâmia, foi essencialmente religiosa e


astrológica. Há dificuldade de reconstituir todo o conhecimento astronômico chinês,
pois no ano 213 a.C. todos os livros foram queimados por decreto imperial. O que
existe de mais antigo em matéria de astronomia remonta ao século IX a.C. Os
chineses previam os eclipses, pois conheciam sua periodicidade. Usavam um
calendário de 365 dias. Deixaram registros de anotações precisas de cometas,
meteoros e meteoritos desde 700 a.C. Mais tarde, também observaram as estrelas
que agora chamamos de novas.

Fonte: docplayer.com.br

96
12.3 A Astronomia entre os Egípcios

É importante registrar o papel desempenhado pelo Egito na difusão das ideias e


conhecimento mesopotâmicos. Foi por intermédio dos egípcios que os astrólogos e
os astrônomos babilônicos chegaram ao Ocidente. A astronomia egípcia, contudo, era
bastante rudimentar, pois a economia egípcia era essencialmente agrícola e regida
pelas enchentes do Nilo. Por esse motivo o ritmo de sua vida estava relacionado
apenas com o Sol. As descrições do céu eram quase nulas e o zodíaco que conheciam
era uma importação do criado pelos babilônicos.

Fonte: docplayer.com.br

12.4 A Astronomia Grega

O ápice da ciência antiga se deu na Grécia, de 600 a.C. a 400 d.C., a níveis só
ultrapassados no século XVI. Do esforço dos gregos em conhecer a natureza do
cosmos, e com o conhecimento herdado dos povos mais antigos, surgiram os
primeiros conceitos de Esfera Celeste, uma esfera de material cristalino, incrustada
de estrelas, tendo a Terra no centro. Desconhecedores da rotação da Terra, os gregos
imaginaram que a esfera celeste girava em torno de um eixo passando pela Terra.
Observaram que todas as estrelas giram em torno de um ponto fixo no céu e
consideraram esse ponto como uma das extremidades do eixo de rotação da esfera
celeste.

97
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12.5 Os Astrônomos da Grécia Antiga

Tales de Mileto (624-546 a.C.) introduziu na Grécia os fundamentos da


geometria e da astronomia, trazidos do Egito. Conta-se que em uma das viagens ao
Egito, Tales impressionou o Faraó, medindo a altura das pirâmides pela observação
do comprimento das sombras, no momento em que a sombra de um bastão vertical é
igual à sua altura. Foi o primeiro astrônomo a explicar o eclipse do sol, ao verificar que
a Lua é iluminada por este astro. O que parece mostrar e provar que as suas ideias
eram, não somente conhecidas, mas também largamente compartilhadas e
discutidas. Tales aprendeu no Egito a teoria dos eclipses do Sol e da Lua, ou, pelo
menos, que esses fenômenos se repetem dentro de um ciclo tal que sua previsão se
torna possível. Previu assim em 585 a.C. um eclipse solar que até hoje é discutido
entre historiadores se foi um fato verídico ou algo inventado para engrandecer ainda
mais as suas obras.

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98
Pitágoras de Samos (572-497 a.C.) acreditava na esfericidade da Terra, da Lua
e de outros corpos celestes. Achava que os planetas, o Sol, e a Lua eram
transportados por esferas separadas da que carregava as estrelas. Foi o primeiro a
chamar o céu de cosmos.

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Aristóteles de Estagira (384-322 a.C.) explicou que as fases da Lua dependem


de quanto da parte da face da Lua iluminada pelo Sol está voltada para a Terra.
Explicou, também, os eclipses; argumentou a favor da esfericidade da Terra, já que a
sombra da Terra na Lua durante um eclipse lunar é sempre arredondada. Afirmava
que o Universo é esférico e finito. Aperfeiçoou a teoria das esferas concêntricas de
Eudoxus de Cnidus (408-355 a.C.), propondo em seu livro De Caelo, que "o Universo
é finito e esférico, ou não terá centro e não pode se mover."

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99
Heraclides de Pontus (388-315 a.C.) propôs que a Terra girava diariamente
sobre seu próprio eixo, que Vênus e Mercúrio orbitavam o Sol, e a existência de
epiciclos.

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Aristarco de Samos (310-230 a.C.) foi o primeiro a propor que a Terra se movia
em volta do Sol, antecipando Copérnico em quase 2.000 anos. Entre outras coisas,
desenvolveu um método para determinar as distâncias relativas do Sol e da Lua à
Terra e mediu os tamanhos relativos da Terra, do Sol e da Lua.

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100
Eratóstenes de Cirere (276-194 a.C.), bibliotecário e diretor da Biblioteca
Alexandrina de 240 a.C. a 194 a.C., foi o primeiro a medir a circunferência da Terra.
Ele notou que, na cidade egípcia de Siena (atualmente chamada de Asuan), no
primeiro dia do verão, ao meiodia, a luz solar atingia o fundo de um grande poço, ou
seja, o Sol estava incidindo perpendicularmente à Terra em Siena. Já em Alexandria,
situada ao norte de Siena, isso não ocorria; medindo o tamanho da sombra de um
bastão na vertical, Eratóstenes observou que em Alexandria, no mesmo dia e hora, o
Sol estava aproximadamente sete graus mais ao sul. A distância entre Alexandria e
Siena era conhecida como de 5.000 estádios. Um estádio era uma unidade de
distância usada na Grécia antiga. Como 7 graus corresponde a 1/50 de um círculo
(360 graus), Alexandria deveria estar a 1/50 da circunferência da Terra ao norte de
Siena e a circunferência da Terra deveria ser 50×5.000 estádios. Infelizmente, não é
possível se ter certeza do valor do estádio usado por Eratóstenes, já que os gregos
usavam diferentes tipos de estádios. Se ele utilizou um estádio equivalente a 1/6 km,
o valor está a 1% do valor correto de 40.000 km.

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101
Hiparco de Nicéia (160-125 a.C.), considerado o maior astrônomo da era pré-
cristã, construiu um observatório na ilha de Rodes, onde fez observações durante o
período de 160 a 127 a.C. Como resultado, ele compilou um catálogo com a posição
no céu e a magnitude de 850 estrelas. A magnitude, que especificava o brilho da
estrela, era dividida em seis categorias, de 1 a 6, sendo 1 a mais brilhante, e 6 a mais
fraca visível a olho nu. Hiparco deduziu corretamente a direção dos pólos celestes, e
até mesmo a precessão, que é a variação da direção do eixo de rotação da Terra
devido à influência gravitacional da Lua e do Sol, que leva 26.000 anos para completar
um ciclo.
Para deduzir a precessão, ele comparou as posições de várias estrelas com
aquelas catalogadas por Timocharis e Aristyllus 150 anos antes (cerca de 300 a.C.).
Estes eram membros da Escola Alexandrina do século III a.C. e foram os primeiros a
medir as distâncias das estrelas de pontos fixos no céu (coordenadas eclípticas).
Foram, também, dos primeiros a trabalhar na Biblioteca de Alexandria, que se
chamava Museu, fundada pelo rei do Egito, Ptolémée Sôter Ier, em 305 a.C. Hiparco
também deduziu o valor correto de 8/3 para a razão entre o tamanho da sombra da
Terra e o tamanho da Lua e também que a Lua estava a 59 vezes o raio da Terra de
distância; o valor correto é 60. Ele determinou a duração do ano com uma margem de
erro de 6 minutos.

Fonte: docplayer.com.br

Ptolomeu (85-165 d.C.), Claudius Ptolemaeus foi o último astrônomo


importante da antiguidade. Ele compilou uma série de treze volumes sobre

102
astronomia, conhecida como o Almagesto, que é a maior fonte de conhecimento sobre
a astronomia na Grécia. A contribuição mais importante de Ptolomeu foi uma
representação geométrica do sistema solar, geocêntrica, com círculos e epiciclos, que
permitia predizer o movimento dos planetas com considerável precisão e que foi
usado até o Renascimento, no século XVI.

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12.6 A Astronomia na Idade Média

Em 1252, Afonso X, o Sábio, Rei de Castela (Espanha), que em 1256 foi


proclamado rei e no ano seguinte imperador do Sacro Império Romano, convocou 50
astrônomos para revisar as tabelas astronômicas calculadas por Ptolomeu, que
incluíam as posições dos planetas no sistema geocêntrico, publicado por Claudio
Ptolomeu em 150 d.C., no Almagesto. Os resultados foram publicados como as
Tabelas Alfonsinas. Os dados e comentários que se foram anexando ao Almagesto
formaram as fontes essenciais para o primeiro livro-texto de astronomia do Ocidente,
o Tratado da esfera de Johannes de Sacrobosco.
John Holywood (1200-1256) Sua obra foi várias vezes reeditada, ampliada e
comentada. Foi o principal texto de instrução acadêmica até o tempo de Galileu. John
Holywood era um monge inglês que também atendia pelo nome latinizado de Joanes
de Sacrobosco. Professor de Astronomia na Universidade de Paris, Sacrobosco foi o
autor do livro astronômico com o maior número de edições até hoje, o "Tractatus de
Sphaera Mundi", publicado pela primeira vez em 1473. O "Sphaera" era um manual
103
de astronomia e geografia muito utilizado pelos portugueses durante a era das
grandes explorações e não deixa dúvidas aos historiadores modernos, de que a
esfericidade da Terra fosse um fato bem reconhecido na época.

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Nicolau Cusano (1401-1464), matemático e astrônomo. É interessante


ressaltar que suas idéias sobre o universo infinito e sobre a investigação quantitativa
da natureza brotaram de reflexões teológicas e religiosas. Nicolau Copérnico (1473-
1543) apresenta o sistema heliocêntrico. A base deste novo pensamento veio, em
parte, das escolas bizantinas. Manteve durante toda a vida a idéia da perfeição do
movimento circular, sem supor a existência de outra forma de movimento.

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104
Tycho Brahe (1546-1601) descobriu erros nas Tabelas Alfonsinas. Em 11 de
novembro de 1572, Tycho notou uma nova estrela na constelação de Cassiopéia. A
estrela era tão brilhante que podia ser vista à luz do dia, e durou 18 meses. Era o que
hoje chamamos de super nova. Publicou suas observações no De Nova et Nullius Aevi
Memoria Prius Visa Stella, em Copenhague em 1573. Com seus assistentes, Tycho
conseguiu reduzir a imprecisão das medidas, de 10 minutos de arco deste o tempo de
Ptolomeu, para um minuto de arco. Foi o primeiro astrônomo a calibrar e checar a
precisão de seus instrumentos periodicamente, e corrigir as observações por refração
atmosférica. Também foi o primeiro a instituir observações diárias, e não somente
quando os astros estavam em configurações especiais, descobrindo assim anomalias
nas órbitas até então desconhecidas.

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Johannes Kepler (1571-1630) descobriu as três leis que regem o movimento


planetário. As duas primeiras foram resultados de árdua computação trigonométrica,
na qual usou as observações de Marte, realizadas por Tycho Brahe. Em 1619 Kepler
publicou Harmonices Mundi, em que as distâncias heliocêntricas dos planetas e seus
períodos estão relacionados pela Terceira Lei, que diz que o quadrado do período é
proporcional ao cubo da distância média do planeta ao Sol. Esta lei foi descoberta por
Kepler em 15 de maio de 1618. Em 17 de outubro de 1604 Kepler observou a nova
estrela (supernova) na constelação de Ophiucus, junto a Saturno, Júpiter e Marte, que
estavam próximos, em conjunção. Kepler também estudou as leis que governam a
passagem da luz por lentes e sistemas de lentes, inclusive a magnificação e a redução
da imagem, e como duas lentes convexas podem tornar objetos maiores e distintos,

105
embora invertidos, que é o princípio do telescópio astronômico. Em relação a Kepler,
devem ser mencionados também seu telescópio astronômico e suas Tábuas
Rodolfinas.

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Galileu Galilei (1564-1642). Em maio de 1609 ouviu falar de um instrumento de


olhar à distância que o holandês Hans Lipperhey havia construído, e mesmo sem
nunca ter visto o aparelho, construiu sua primeira luneta em junho, com um aumento
de 3 vezes. Galileu se deu conta da necessidade de fixar a luneta, ou telescópio como
se chamaria mais tarde, para permitir que sua posição fosse registrada com exatidão.
Até dezembro ele construiu vários outros, o mais potente com 30X, e faz uma série
de observações da Lua, descobrindo que esta tem montanhas. De 7 a 15 de janeiro
de 1610 descobre os quatro satélites maiores de Júpiter e sua revolução livre em torno
do planeta. Descobriu também as principais estrelas dos aglomerados das Plêiades e
das Híades e a primeira indicação dos anéis de Saturno e as manchas solares.
Por suas afirmações, Galileu foi julgado e condenado por heresia em 1633.
Sentenciado ao cárcere, Galileu, aos setenta anos, renega suas conclusões de que a
Terra não é o centro do Universo e imóvel. Apenas em 1822 foram retiradas do Índice
de livros proibidos as obras de Copérnico, Kepler e Galileu, e em 1980, o Papa João
Paulo II ordenou um reexame do processo contra Galileu, o que eliminou os últimos
vestígios de resistência, por parte da igreja Católica, à revolução Copernicana. Não
se deve esquecer que foram os grandes observadores e teóricos dessa época, como
Hevelius, Huygens e Halley, que ajudaram a erguer a nova astronomia.

106
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12.7 A Nova Astronomia

Sir Isaac Newton (1643-1727). Sua obra monumental fixa as bases da mecânica
teórica. Da combinação de suas teorias com sua lei de gravitação, surge a
confirmação das leis de Kepler e, num só golpe, o estabelecimento, em bases
científicas, da mecânica terrestre e celeste. No domínio da óptica, Newton inventou o
telescópio refletor, discutiu o fenômeno da interferência, desenvolvendo as ideias
básicas dos principais ramos da física teórica, nos dois primeiros volumes do Principia,
com suas leis gerais, mas também com aplicações a colisões, o pêndulo, projéteis,
fricção do ar, hidrostática e propagação de ondas. Somente depois, no terceiro
volume, Newton aplicou suas leis ao movimento dos corpos celestes.

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107
O Principia é reconhecido como o livro científico mais importante escrito. Os
trabalhos astronômicos de Newton são apenas comparáveis aos de Gauss, que
contribuiu para a astronomia com a teoria da determinação de órbitas, com trabalhos
importantes de mecânica celeste, de geodésica avançada e a criação do método dos
mínimos quadrados. Nunca outro matemático abriu novos campos de investigação
com tanta perícia, na resolução de certos problemas fundamentais, como Gauss.
São dessa época os notáveis trabalhos de mecânica celeste desenvolvidos por
Euler, Lagrange e Laplace, e os dos grandes observadores como F.W. Herschel,
J.F.W. Herschel, Bessel, F.G.W. Struve e O.W. Struve. Vale a pena lembrar uma data
histórica para a astronomia - a da primeira medida de paralaxe trigonométrica de uma
estrela e, consequentemente, da determinação de sua distância, por Bessel (61
Cygni) e F.G.W. Struve (Vega), em 1838. Este notável feito da técnica de medida
astronômica é basicamente o ponto de partida para o progresso das pesquisas do
espaço cósmico.

12.8 A Astronomia Moderna

A espectroscopia estelar, a construção dos grandes telescópios, a substituição


do olho humano pelas fotografias, e os objetivos de sistematização e classificação,
fizeram a astronomia evoluir mais nestes últimos cinquenta anos do que nos cinco
milênios de toda sua história. A partir deste momento, a história da astronomia, em
consequência do desenvolvimento tecnológico da segunda metade do século XX,
sofre uma tal mudança nos seus métodos, que a astronomia deixa o seu aspecto de
ciência de observação para se tornar, também, uma nova ciência experimental, onde
aparecem inúmeros ramos. As principais divisões da astronomia são a astrometria,
que trata da determinação da posição e do movimento dos corpos celestes; a
mecânica celeste, que estuda o movimento dos corpos celestes e a determinação de
suas órbitas; a astrofísica, que estuda as propriedades físicas dos corpos celestes; a
astronomia estelar, que se ocupa da composição e dimensões dos sistemas estelares;
a cosmogonia, que trata da origem do universo, e a cosmologia, que estuda a estrutura
do universo como um todo. A pesquisa espacial deu não só à cartografia, mas a todos
os estudos das ciências na Terra e, em especial, aos levantamentos dos recursos
naturais do planeta, um novo dimensionamento.

108
13 GRAVITAÇÃO UNIVERSAL

A Lei da Gravitação Universal estabelece que, se dois corpos possuem massa,


eles sofrem a ação de uma força atrativa proporcional ao produto de suas massas e
inversamente proporcional a sua distância.
Todos os corpos do universo atraem-se mutuamente com uma força
proporcional ao produto de suas massas e inversamente proporcional ao quadrado de
sua distância;
A Lei da Gravitação Universal é definida em termos da Constante de Gravitação
Universal, cujo módulo é igual a 6,67408.10-11 N.kg²/m²;
A Lei da Gravitação Universal foi descoberta e desenvolvida pelo físico inglês
Isaac Newton e foi capaz de prever os raios das órbitas de diversos astros, bem como
explicar teoricamente a lei empírica descoberta por Johannes Kepler que relaciona o
período orbital ao raio da órbita de dois corpos que se atraem gravitacionalmente.
A Lei da Gravitação Universal é utilizada para calcular o módulo da atração
gravitacional existente entre dois corpos dotados de massa. A força gravitacional é
sempre atrativa e age na direção de uma linha imaginária que liga dois corpos. Além
disso, em respeito à Terceira Lei de Newton, conhecida como Lei da Ação e Reação,
a força de atração é igual para os dois corpos interagentes, independente de suas
massas. De acordo com Isaac Newton:

“Dois corpos atraem-se por uma força que é diretamente proporcional ao


produto de suas massas e inversamente proporcional ao quadrado da
distância que os separa. ”

Por meio da proposição da Lei da Gravitação Universal, foi possível predizer


o raio das órbitas planetárias, o período de asteroides, eventos astronômicos
como eclipses, determinação da massa e raio de planetas e estrelas etc.

13.1 Fórmula da Gravitação Universal

A principal fórmula utilizada na gravitação universal estabelece que o módulo


da força gravitacional entre duas massas é proporcional ao produto de suas massas
e inversamente proporcional ao quadrado da distância entre elas. Aexp ressão
109
utilizada para o calculo da força gravitacional é esta:

Legenda:
|F| – módulo da força de atração gravitacional (N – Newton)
G – constante de gravitação universal (6,67408.10-11 N.kg²/m²)
M – massa gravitacional ativa (kg – quilogramas)
m – massa gravitacional passiva (kg – quilogramas)
d² – distância entre as massas ao quadrado (m²)

Chamamos de peso a força de atração gravitacional que uma massa exerce


sobre outra. Além disso, são denominadas de massa gravitacional ativa e passiva a
massa que produz um campo gravitacional ao seu redor e a massa que é atraída por
tal campo gravitacional, respectivamente.
A força peso, ou simplesmente o peso de um corpo sujeito a uma gravidade de
módulo g, é dada por:

Legenda:
P – módulo da força peso (N – Newton)
m – massa gravitacional passiva (kg – quilogramas)
g – módulo da gravidade local (m/s² – metro por segundo ao quadrado)

Comparando as duas equações acima, podemos perceber que a gravidade de


um corpo pode ser calculada pela fórmula a seguir:

A fórmula acima mostra que a gravidade de um planeta, estrela ou qualquer


que seja o corpo depende de sua massa(M), da constante de gravitação universal (G)
110
e do inverso do quadrado da distância em que nos encontramos até o centro desse
corpo (d), que, no caso de corpos esféricos, é o seu próprio raio.
A Terra, por exemplo, possui massa de 5,972.1024 kg e raio médio
de 6371 km (6,371.106 m), logo, podemos calcular o valor médio da gravidade na sua
superfície:

13.2 Gravitação Universal e a Terceira Lei de Kepler

Um dos indicadores de sucesso da Lei da Gravitação Universal foi a sua


capacidade de reproduzir a famosa relação matemática descoberta empiricamente
por Johannes Kepler, conhecida como Lei Harmônica:

Para tanto, basta recordar que a força de atração gravitacional aponta sempre
na direção que liga os dois corpos, tratando-se, portanto, de um tipo de força central,
assim como a força centrípeta, que atua nos corpos em movimento circular. Assim:

111
Legenda:

v – velocidade de translação do corpo (m/s – metros por segundo)


ω – velocidade angular (rad/s – radianos por segundo)
T – período de translação (s – segundos)

A fórmula indica que a razão do quadrado do período de translação de um


corpo em torno de sua massa gravitacional ativa (por exemplo, a translação da Terra
em torno do Sol) pelo cubo do raio médio da órbita (distância média entre a Terra e
Sol, por exemplo) tem módulo constante, que depende da constante de gravitação
universal (G) e da massa gravitacional ativa M (a massa do Sol, por exemplo).

13.3 Constante de gravitação universal

A constante de gravitação universal é uma constante de proporcionalidade de


módulo igual a 6,67408.10-11 N.kg²/m², presente na Lei da Gravitação Universal e
usada para igualar a razão do produto da massa de dois corpos pelo quadrado de sua
distância com o módulo da força de atração entre eles. A constante de gravitação
universal é dada, em unidades do Sistema Internacional de Unidades, em N.m²/kg².
A constante da gravitação universal foi determinada entre 1797 e 1798 pelo
experimento da balança de torção, realizado pelo físico e químico
britânico Henry Cavendish. O experimento tinha como objetivo inicial a determinação
112
da densidade da Terra, mas na época também pôde determinar a constante da
gravitação universal com menos de 1% de erro em relação ao valor conhecido
atualmente.

Exercícios sobre Gravitação Universal


Questão 1
A lua é um satélite natural que orbita o planeta Terra pela ação da grande força
gravitacional exercida pela gravidade terrestre. Sendo a massa da Terra igual
a 5,972.1024 kg, a massa da lua 7,36.1022 kg e a distância média entre a Terra e a
Lua igual a 384.400 km (3,84.108 m), determine:
Dados: G = 6,67408.10-11 N.m²/kg²
a) a força gravitacional que a Terra exerce sobre a Lua
b) a força gravitacional que a Lua exerce sobre a Terra
c) o módulo da aceleração adquirida pela Lua e pela Terra
Resolução
a) Para calcular a atração gravitacional que a Terra exerce sobre a Lua,
usaremos a Lei da Gravitação Universal:

b) De acordo com a Terceira Lei de Newton, a Lei da Ação e Reação, se a Terra


exerce uma força de ação sobre a Lua, esta deve exercer uma força atrativa sobre a
Terra de mesmo módulo e direção, porém, no sentido oposto, logo, a força que a Lua
faz sobre a Terra também é de 20.1019 N.
c) Se nos lembrarmos da Segunda Lei de Newton, que nos diz que o módulo
da força resultante sobre um corpo é igual ao produto de sua massa pela sua
aceleração, podemos calcular a aceleração adquirida pela Lua e pela Terra
facilmente. Observe:

113
Os valores de aceleração calculados acima mostram que, apesar de as forças
de atração serem iguais para a Terra e para a Lua, a aceleração adquirida por cada
uma é diferente. Além disso, fazendo a razão entre os dois valores, vemos que a
aceleração que a Lua sofre é cerca de 81 vezes maior que a sofrida pela Terra.

Peso é uma força exclusivamente atrativa que surge entre dois corpos com massa.
Fonte: brasilescola.uol.com.br

14 LEIS DE KEPLER12

As Leis de Kepler são três leis, propostas no século XVII, pelo astrônomo e
matemático alemão Johannes Kepler (1571-1630), na obra Astronomia Nova (1609).
Elas descrevem os movimentos dos planetas, seguindo modelos
heliocêntricos, ou seja, o Sol no centro do sistema solar.

12 Texto extraído: todamateria.com.br


114
Primeira Lei de Kepler
A 1ª Lei descreve as órbitas dos planetas. Kepler propôs que os planetas giram em
torno do Sol, em uma órbita elíptica, com o Sol em um dos focos.
Nesta Lei, Kepler corrige o modelo proposto por Copérnico que descrevia como
circular o movimento orbital dos planetas.

Fonte: todamateria.com.br

Segunda Lei de Kepler

A 2ª lei de Kepler assegura que o segmento (raio vetor) que une o sol a um
planeta varre áreas iguais em intervalos de tempo iguais.
Uma consequência deste fato é que a velocidade do planeta ao longo da sua
trajetória orbital é diferente.
Sendo maior quando o planeta se encontra mais próximo do seu periélio (menor
distância entre o planeta e o Sol) e menor quando o planeta se encontra próximo do
seu afélio (maior distância do planeta ao Sol).

Fonte: todamateria.com.br

115
Terceira Lei de Kepler
A 3ª lei de Kepler indica que o quadrado do período de revolução de cada
planeta é proporcional ao cubo do raio médio de sua órbita.
Por isso, quanto mais distante o planeta estiver do sol, mais tempo levará para
completar a translação.
Matematicamente, a terceira Lei de Kepler é descrita da seguinte maneira:

Onde:
T: corresponde ao tempo de translação do planeta
r: o raio médio da órbita do planeta
K: valor constante, ou seja, apresenta o mesmo valor para todos os corpos que
orbitam ao redor do Sol. A constante K depende do valor da massa do Sol.
Portanto, a razão entre os quadrados dos períodos de translação dos planetas
e os cubos dos respectivos raios médios das órbitas será sempre constante, conforme
apresentado na tabela abaixo:

116
14.1 Leis de Kepler e a Gravitação Universal

As Leis de Kepler descrevem o movimento dos planetas, sem se preocupar


com as suas causas.
Isaac Newton ao estudar essas Leis, identificou que a velocidade dos planetas
ao longo da trajetória é variável em valor e direção.
Para explicar essa variação, ele identificou que existiam forças atuando nos
planetas e no Sol.
Deduziu que essas forças de atração dependem da massa dos corpos
envolvidos e das suas distâncias.
Chamada de Lei de Gravitação Universal, sua expressão matemática é:

Sendo,
F: força gravitacional
G: constante de gravitação universal
M: massa do Sol
m: massa do planeta

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15 BIBLIOGRAFIA BÁSICA

Mechanics, K. R. Symon, (Addison-Wesley, Massachussetts, 1971).

Classical Dynamics of particles and systems, Marion Thornton, (4th edition, Saunders
College Publishing, 1995).

Mechanics, L. D. Landau and E. M. Lifshitz, (Pergammon, NY, 1976)

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