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PROVA 1

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PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA
_ Questões de Múltipla Escolha -
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INSTRUÇÃO: As questões de 01 a 11 devem ser resolvidas com base no
texto abaixo. Leia-o, pois, com bastante atenção.

CASO DE CANÁRIO
Carlos Drummond de Andrade
Casara-se havia duas semanas. E por isso, em casa dos sogros, a família
resolveu que ele é que daria cabo do canário:
- Você compreende. Nenhum de nós teria coragem de sacrificar o
pobrezinho, que nos deu tanta alegria. Todos somos muito ligados a ele, seria
uma barbaridade. Você é diferente, ainda não teve tempo de afeiçoar-se ao
bichinho. Vai ver que nem reparou nele, durante o noivado.
- Mas eu também tenho coração, ora essa. Como é que vou matar um
pássaro só porque o conheço há menos tempo do que vocês?
- Porque não tem cura, o médico já disse. Pensa que não tentamos tudo? É
para ele não sofrer mais e não aumentar o nosso sofrimento. Seja bom; vá.
O sogro, a sogra apelaram no mesmo tom. Os olhos claros de sua mulher
pediram-lhe com doçura:
- Vai, meu bem.
Com repugnância pela obra de misericórdia que ia praticar, ele aproximou-
se da gaiola. O canário nem sequer abriu o olho. Jazia a um canto, arrepiado,
morto-vivo. É, esse está mesmo na última lona, e dói ver a lenta agonia de um ser
tão gracioso, que viveu para cantar.
- Primeiro me tragam um vidro de éter, e algodão. Assim ele não sentirá o
horror da coisa.
Embebeu de éter a bolinha de algodão, tirou o canário para fora com
infinita delicadeza, aconchegou-o na palma da mão esquerda e, olhando para
outro lado, aplicou-lhe a bolinha no bico. Sempre sem olhar para a vítima, deu-lhe
uma torcidinha rápida e leve, com dois dedos, no pescoço.
E saiu para a rua, pequenino por dentro, angustiado, achando a condição
humana um horror. As pessoas da casa não quiseram aproximar-se do cadáver.
Coube à cozinheira recolher a gaiola, para que sua vista não despertasse
saudade e remorso em ninguém. Não havendo jardim para sepultar o corpo,
depositou-o na lata do lixo.
Chegou a hora de jantar, mas quem é que tinha fome naquela casa
enlutada? O sacrificador, esse, ficara rodando por aí, e seu desejo seria não
voltar para casa nem para dentro de si mesmo.
No dia seguinte, pela manhã, a cozinheira foi ajeitar a lata de lixo para o
caminhão, e recebeu uma bicada voraz no dedo.
- Ui!
Não é que o canário tinha ressuscitado, perdão, reluzia vivinho da silva,
com uma fome danada?
- Ele estava precisando mesmo era de éter – concluiu o estrangulador, que
se sentiu ressuscitar, por sua vez.
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QUESTÃO No 01
“Porque não tem cura, ... “
A frase acima gera um impasse nos sogros e na noiva. A alternativa que
melhor sintetiza esse impasse é:
a) “Com repugnância pela obra de misericórdia que ia praticar, ele aproximou-se
da gaiola.”
b) “Nenhum de nós teria coragem de sacrificar o pobrezinho, que nos deu tanta
alegria.”
c) “Chegou a hora de jantar, mas quem é que tinha fome naquela casa
enlutada?”
d) “Não havendo jardim para sepultar o corpo, depositou-o na lata do lixo.”
e) “O canário nem sequer abriu o olho. Jazia a um canto, arrepiado, morto-vivo.”

QUESTÃO No 02
A família trata o canário como se este fosse uma pessoa. A alternativa em
que essa idéia está AUSENTE é:

a) “... quem é que tinha fome naquela casa enlutada?”


b) “Porque não tem cura, o médico já disse.”
c) “... a família resolveu que ele é que daria cabo do canário.”
d) “As pessoas da casa não quiseram aproximar-se do cadáver.”
e) “Não havendo jardim para sepultar o corpo, ...”

QUESTÃO No 03
A justificativa que a família utiliza para atribuir ao rapaz a responsabilidade
do “crime” é
a) a quase ausência de vínculos afetivos entre o rapaz e o canário.
b) a impossibilidade de se encontrar cura para a doença do canário.
c) a falta de coragem de todos os familiares, inclusive da cozinheira.
d) o fato de o rapaz possuir um coração mais duro.
e) a maior experiência do rapaz em lidar com esse tipo de caso.

QUESTÃO No 04
A utilização expressiva da gíria é uma das características do Autor. No
texto, a expressão estar na última lona significa
a) procurar auxílio.
b) viver grande angústia.
c) levar vida miserável.
d) estar à beira da morte.
e) preocupar-se com a saúde.

QUESTÃO No 05
A expressão do texto que melhor evidencia o sentimento cristão do rapaz
é:
a) “condição humana”.
b) “lenta agonia”.
c) “infinita delicadeza”.
d) “horror da coisa”.
e) “obra de misericórdia”.

QUESTÃO No 06
“... para que sua vista não despertasse saudade e remorso...”. A alternativa
em que o verbo despertar equivale, quanto ao sentido, ao da frase acima é:
a) Essa foto me desperta boas lembranças.
b) Seu antigo ódio novamente despertou.
c) Venha despertar-me por volta das 7 horas.
d) Tais filmes me despertaram a consciência.
e) Emociono-me com a primavera que desperta.

QUESTÃO No 07
A alternativa em que há ERRO quanto à análise mórfica do vocábulo é:
a) pobrezinho – desinência nominal
b) enlutada – prefixo
c) sentirá – radical
d) saiu – vogal temática
e) despertasse – desinência modo-temporal

QUESTÃO No 08

Em “Coube à cozinheira recolher a gaiola, para que sua vista não


despertasse saudade e remorso em ninguém”, a oração sublinhada mantém com
a anterior uma relação de
a) conseqüência.
b) finalidade.
c) proporção.
d) condição.
e) explicação.

QUESTÃO No 09
“Jazia a um canto, arrepiado, morto-vivo”.
A função sintática exercida pelos termos sublinhados é, respectivamente,

a) adjunto adnominal / adjunto adverbial / predicativo.


b) objeto direto / predicativo / adjunto adverbial.
c) adjunto adverbial / predicativo / predicativo.
d) objeto indireto / predicativo / adjunto adverbial.
e) predicativo / adjunto adverbial / adjunto adverbial.

QUESTÃO No 10

Das alternativas abaixo, a que apresenta concordância verbal CORRETA


é:
a) Devem haver duas soluções para salvar o canário.
b) Existia ainda duas soluções para salvar o canário.
c) Não haviam mais esperanças de salvar o canário.
d) Há de haver meios para salvar o canário.
e) Não pode existir meios capazes de salvar o canário.

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