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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MATO VERDE/MG

AO JUÍZO DA VARA ÚNICA DA COMARCA DE MATO VERDE/MG

Autos nº: 0619000.00.0000.00.1.2345


Natureza: Execução Penal
Reeducanda: Maria José Antunes
Parecer do Ministério Público

Trata-se de guia de execução relativa à reeducanda Maria José Antunes, atualmente no


regime semiaberto.

A defesa, na petição de seq. 185.1, requereu a concessão do livramento condicional da


reeducanda, sob o argumento de que a mesma já atingiu os requisitos objetivos necessários
para concessão do benefício.

Vieram os autos ao Ministério Público.

É o relatório.

O livramento condicional consiste na antecipação provisória, representando, dessa


forma, a última etapa do sistema progressivo de cumprimento de pena, momento em que o
reeducando deixa de se sujeitar ao regime do estabelecimento prisional.

Conforme dispõe o artigo 83 do Código Penal, a concessão de tal benefício pressupõe o


adimplemento de requisitos, tanto de ordem objetiva, quanto de ordem subjetiva:

i) Requisitos objetivos: referente ao lapso temporal, nos termos dos incisos


I, II ou V; e
ii) Requisitos subjetivos: referente ao comportamento satisfatório durante a
Execução, consoante inciso III, alíneas “a”, “c” e “d”.

No caso destes autos, o atestado de pena indicou o alcance dos requisitos objetivos para
o livramento condicional. Passa-se pois, à análise do requisito subjetivo.

O Superior Tribunal de Justiça, em julgamento recente, por meio da sistemática dos


recursos repetitivos (Tema 1.161), firmou a seguinte tese de que, a valoração do requisito
subjetivo para concessão do livramento condicional, deve considerar todo o histórico
prisional, não se limitando ao período de 12 meses referido na alínea “b” do inciso III do art.
83 do CP.
No caso sob apreciação, verifica-se que houve o reconhecimento de falta grave
cometida pela reeducanda há pouco mais de um ano, referente a um crime de furto. Além
disso, não há nos autos elementos que comprovem o bom comportamento da reeducanda
durante a execução da pena. Fatos que evidenciam o não atendimento ao requisito subjetivo
obrigatório, exigido pela alínea “a” do inciso III do art. 83 do CP.

O Superior Tribunal de Justiça já sedimentou entendimento acerca da matéria, fixando a


seguinte tese:

13) A falta disciplinar grave impede a concessão do livramento condicional, por


evidenciar a ausência do requisito subjetivo relativo ao comportamento
satisfatório durante o resgate da pena, nos termos do art. 83, III, do Código Penal –
CP. (Jurisprudência em Teses do STJ, Edição n.º 146).

Nessa mesma linha, segue a interpretação do Eg. Tribunal de Justiça de Minas Gerais:

(...) Prática de novo crime durante a execução por reeducando que ostenta
reiteração em infrações disciplinares, demonstrando indisciplina e
irresponsabilidade, conduz à imperiosidade do indeferimento do livramento
condicional (Desa. Paula Cunha E Silva) AGRAVO EM EXECUÇÃO PENAL Nº
1.0433.17.018097-3/001 – COMARCA DE MONTES CLAROS – AGRAVANTE(S):
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS – A GRAVADO(A)(S):
JONAS GABRIEL SOARES RODRIGUES (TJMG - Agravo de Execução Penal
1.0433.17.018097-3/001, Relator(a): Des.(a) Haroldo André Toscano de Oliveira (JD
Convocado) , Câmara Justiça 4.0 – Especiali, julgamento em 09/10/2023, publicação
da súmula em 09/10/2023).

(...) Exige-se, como requisito subjetivo para a concessão do livramento condicional,


que o reeducando tenha demonstrado bom comportamento durante a execução da pena.
(...) 4 Deve-se proceder a uma análise mais ampla, durante todo o período de
cumprimento da pena, em verificação da aptidão do reeducando para o retorno
saudável ao convívio social. – 5. Aplica-se o Tema 1.161, editado pelo Superior
Tribunal de Justiça, na sistemática de recursos repetitivos (precedente vinculante). – 6.
Havendo o registro de infração disciplinar recente e com elevada gravidade, é
cabível o indeferimento do livramento condicional, por ausência de atendimento
ao requisito subjetivo. AGRAVO EM EXECUÇÃO PENAL Nº 1.0145.19.440027-
4/001 – COMARCA DE JUIZ DE FORA – AGRAVANTE(S): ADALBERTO JOSE
DA
SILVA – AGRAVADO(A)(S): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS
GERAIS (TJMG - Agravo de Execução Penal 1.0145.19.440027-4/001, Relator(a):
Des.(a) Richardson Xavier Brant (JD Convocado) , Câmara Justiça 4.0 – Especial,
julgamento em 30/10/2023, publicação da súmula em 30/10/2023)

Desse modo, considerando que não há nos autos elementos que comprovem de forma
satisfatória o atendimento ao requisito subjetivo disposto no art. 83, inciso III, alínea “a” do
Código Penal, o Ministério Público manifesta-se pelo indeferimento do pedido formulado.

Mato Verde/MG, 12 de novembro de 2023.


Clarice Ferreira Barbosa Hanna Rocha dos Anjos
Promotora de Justiça Promotora de Justiça

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