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I- IDENTIFICAÇÃO

Nome: Elias Custódio Lopes e Sousa


Idade: 5 anos
Data de nascimento: sexo: masculino
Relator: Débora Tamires Soares da Silva
Solicitantes: Raysla Fabrícia da Silva Lopes (mãe)
Assunto: Relatório Comportamental referente às intervenções em Análise do Comportamento
Aplicada (ABA – Applied Behavior Analysis).

II- DESCRIÇÃO DA DEMANDA


Elias Custódio Lopes e Sousa encontra-se, atualmente, em acompanhamento psicoterapêutico sob a
abordagem da Análise do Comportamento Aplicada. Em entrevista de anamnese, realizada em
27/11/2022, fora relatado pelos genitores que a criança apresentava frequência reduzida de contato
visual e comprometimento no comportamento de ouvinte para atender a comandos, embora
compreendesse comandos tais como “Vamos passear”, “Não mexe aí” e “Espera”. Além disso,
destacaram que Elias realizava poucos mandos (pedidos), geralmente, usando o método da alavanca
quando queria acessar algum item, o comportamento de apontar se fazia ausente.
A família também relatou que Elias não apresentava vocalizações com função comunicativa, não
costumava emitir uma variedade de respostas, com fins de solicitação, nomeação, não atendia
quando chamado pelo nome e ainda com contato visual fugaz. Quanto a socialização, destacou-se a
ausência de busca por interação social de modo espontâneo, tendência expressiva ao comportamento
de brincar sozinho.

Elias possui laudo médico para o diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (CID11: 6A02).
Elias apresentava em contexto escolar a emissão de comportamentos de heteroagressão, apontando
déficits nas habilidades comunicativas e socioemocionais de tolerância à frustração, evidenciados em
momentos em que não é compreendida(o) por seu ouvinte, mediante a ausência ou retirada de item
ou atividade de interesse.

III – PROCEDIMENTO

Foram realizadas 10 sessões de avaliação com a criança, na clínica XXX e 2 visitas escolares em
reunião com a psicóloga e professora regente responsável pela turma da criança, objetivando
conhecer o contexto familiar, o repertório da criança a partir da percepção da mãe e do pai, as
principais dificuldades, bem como o histórico de desenvolvimento. As sessões ocorreram de modo
semanal e com duração de 50 minutos cada. O processo de avaliação foi realizado com base: 1. nos
protocolos Verbal Behavior Milestones Assessment and Placement Program (VB- MAPP) e Socially
Savvy (para avaliação das principais habilidades sociais), 2. na observação da criança em contexto
terapêutico, através do uso de recursos lúdicos, como massinha, carrinhos, livros, brinquedos
musicais, encaixe, ação e reação, etc.

IV - ANÁLISE

Durante os atendimentos clínicos, Elias não demonstra receio em entrar na sala, explora o ambiente e
os itens dispostos, e demonstra certo repertório no brincar independente, ora dando funcionalidade
aos brinquedos (ex: Lego) e ora, sem a funcionalidade original (ex: girando as peças, ao invés de
reuni-las em um conjunto lógico).

Elias demonstrou um considerável tempo de concentração e atenção em atividades de seu interesse,


como Puxa batatinha, permanecendo sentada e engajado por pelo menos 5 minutos. Todavia, deixou
algumas atividades inacabadas (ex: quebra-cabeça. Sr. Cabeça de Batata), migrando para um
próximo brinquedo a ser explorado. Atualmente, Elias possui significativa frequência nas habilidades
de brincar social (com outros) e troca de turno, demonstrando por sua vez, a habilidade de atenção
compartilhada, sobretudo de iniciação da atenção realizando pequenos comentários espontâneos
sobre o recurso manipulado ou atividade realizada. Apresenta comportamento colaborativo como
guardar os brinquedos, por exemplo.

Durante os atendimentos, Elias apresenta estereotipias motoras de forma menos frequente quando em
comparação ao início das intervenções e mais isoladas, como flapping e pulo, em situações de
euforia. Além disso, a criança desenvolveu maior interesse e aumento da frequência de contatos
visuais, inclusive sustentado quando exposto a situações de conversação, apresentação de uma
instrução e brincar compartilhado.

Na quarta sessão, a criança buscou a terapeuta e fez mandos para acessar informações. XXX retirava
o giz de cera da caixa e ficava com ele suspenso até que a terapeuta nomeasse a cor, e ainda,
solicitando ajuda gestual para calçar os sapatos (puxando a terapeuta pelo braço). Além disso, nesta

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sessão, XXX também apontou para os animais desenhados na caixa de giz de cera e esperava que a
terapeuta dissesse o nome do animal. Quanto às Atividades de Vida Diária (AVD), como ir ao
banheiro, XXX não demonstrou conhecer tal rotina. Destaca-se que a criança, embora tenha buscado
a interação para pedir informação e ajuda da terapeuta, não apresentou respostas que revelassem uma
motivação social elevada, incluindo ainda, fuga, esquiva e uma baixa frequência no contato visual.
Abaixo são detalhadas as habilidades avaliadas, e o repertório de XXX nas respectivas áreas dos
protocolos VB-MAPP e Socially Savvy.

Ecoico: Refere-se à habilidade de repetir sons, incluindo palavras e frases. No que tange ao ecoico,
Elias demonstra repertório para repetir sons vocálicos e palavras simples com independência.

Mando: Refere-se à habilidade de realizar solicitações, tais como pedir um item de interesse, retirar
uma demanda indesejada e solicitar uma informação. No que se refere ao mando, Elias apresenta um
atraso significativo, visto que, para esta área, é esperado que a criança realize pedidos diversos de, no
mínimo, 20 itens diferentes, que solicite que outras pessoas realizem ações e emita, no mínimo, 5
orações diferentes, utilizando duas palavras. A criança emite poucos mandos, que geralmente são
restritos aos itens reforçadores.

Quanto ao brincar independente e social, Elias apresenta operação motivacional ligeiramente


diferente das crianças com desenvolvimento típico, pelo fato de alterar algumas funções de
brinquedos. No entanto, mantém o interesse e engajamento por tempo médio de 5 minutos, o que é
um potencial para aprendizagem.

Tato: Refere-se à habilidade de descrever o ambiente, o que envolve nomear objetos, emoções,
sensações, ações e eventos. Elias possui repertório adequado de nomeação. Nesta idade, é esperado
que a criança seja capaz de nomear, no mínimo, 60 itens, o que inclui também objetos não
reforçadores e ações de outras pessoas.

Intraverbal: Refere-se à habilidade de completar lacunas, tais como frases, músicas ou responder
perguntas, por exemplo. Para esta idade, espera-se que a criança consiga fornecer o próprio nome
quando solicitado, e complete diferentes lacunas musicais e expressões. Nessa área, durante o
processo de avaliação, XXX não demonstrou nenhuma resposta.

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Ouvinte: Refere-se à habilidade de direcionar-se a um falante, olhar e atender quando chamado pelo
nome, seguir instruções, incluindo a execução de ações motoras simples quando solicitadas (sem
dicas imitativas), como bater palmas, dar tchau e mandar beijo. XXX direcionou o olhar quando
alguns sons foram emitidos na mesma direção a que ela estava olhando, bem como a sons emitidos
com maior distância, realizando contato visual e seguindo algumas instruções pontuais, tais como
“pegue o macaco” (XXX pegou o macaco nesse momento). No entanto, demonstrou pouca reação
nas diversas vezes em que foi chamado pelo nome ou que um falante estava realizando algum tipo de
solicitação, o que reitera a hipótese de baixa motivação social, sendo, portanto, uma área que
também se encontra em atraso.

Habilidades de pareamento e percepção visual (VP-MTS): Refere-se à capacidade de a criança


combinar itens iguais, discriminando aquilo que é diferente, além de atentar para objetos e realizar
rastreio visual. No que se refere à essa área, XXX fez discretos rastreios visuais de estímulos em
movimento, considerando que apresenta alta frequência de fuga e esquiva. Agarrou pequenos objetos
com movimento de pinça e demonstrou certa habilidade de coordenação olho-mão. Por sua vez, não
demonstrou habilidades para parear itens idênticos (ex: quebra-cabeça), embora realize rastreio ao
longo da brincadeira. Há atraso na habilidade de pareamento e percepção visual.

Brincar independente: Essa habilidade refere-se à capacidade de a criança permanecer em uma


brincadeira sem que seja incentivada constantemente por terceiros. Nesse aspecto, XXX não
apresentou atrasos significativos, sendo capaz de manipular brinquedos por mais de um minuto,
interessando-se alternadamente pelas massinhas, brinquedos de encaixe, livro musical e tinta. Em
casa, a mãe relatou que a criança gosta de enfileirar e empilhar brinquedos.

Interação social e brincar social: Está relacionado à motivação e ao repertório da criança em


brincar e interagir com o outro. Nessa área, Elias apresentou atraso, visto que é esperado que ela
consiga iniciar interações, responder a solicitações de colegas, e permanecer engajada em
brincadeiras sociais, mesmo sem o incentivo de adultos. Fora observado durante os atendimentos que
Elias, possui dificuldades em iniciar interações de forma espontânea, assim como em mantê-las na
ausência da mediação de adultos.

Rotina de sala de aula e Habilidades de Grupo: Geralmente permanece sozinho(a) em sala de


aula, andando e observando os demais colegas, e eventualmente seguindo o comportamento dos
demais. Brinca pouco em paralelo, e ainda não inicia interações, nem permanece em brincadeiras

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colaborativas. Apresenta comportamento hiperativo de andar pelo ambiente com frequência maior
que a dos demais colegas, apresentando dificuldade em realizar tarefas mais difíceis que interferem
na aquisição de habilidades importantes. Há ainda, dificuldade em esperar, permanecer sentada(o) ou
concluir atividade que envolva atenção.

Imitação: Quanto à esta área, a criança demonstra habilidade em seu repertório, realizando a
imitação de movimentos amplos, com e sem objetos. Ao solicitar a reprodução de um movimento
corporal, Elias repete a ação de forma independente. Além disso, quando solicitado a imitação de
movimentos simples e/ou complexos com objetos, a criança realiza. Assim a terapeuta apresentou a
brincadeira com um boneco que corria e pulava, e então, a terapeuta dizia: “faz igual”, e logo em
seguida, Elias repetia a ação com o boneco (imitação motora grossa), para que a terapeuta repetisse o
movimento era dado o modelo vocal para a emissão de mando.

Comportamentos disruptivos e negativos: Durante os atendimentos, a criança apresentou de forma


pontual a emissão de comportamentos considerado disruptivos/interferentes. Os principais
comportamentos negativos de Elias são fuga e esquiva de demandas, que dificultam a aprendizagem.
Além disso, a criança possui baixa freqüência de contatos visuais, mesmo quando realiza mandos
(pedidos), atentando-se pouco para o rosto de outras pessoas.

Diante do exposto, é possível concluir que XXX possui comportamentos característicos do nível 1 (0
a 1 ano e 6 meses) dos Marcos do Desenvolvimento do Vb-Mapp.

GRÁFICOS VB-MAPP DE XXX (Data: 00/00/0000):


1. Marcos de Desenvolvimento:

2. Análise de Barreiras:

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Quanto à avaliação de habilidades sociais constantes no protocolo Socially Savvy, foram observados:

Brincar Social: A criança demonstra ainda baixo comportamento de brincar social, apresentando-se em
brincadeiras independentes na maior parte do tempo das sessões.

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Autorregulação: XXX não demonstrou a habilidade de levantar a mão para falar, e aquelas relacionadas à: 1.
autoidentificação de quando está frustrada(o); 2. pedido de pausa ou item para acalmar-se; 3. demonstração de
consciência sobre o próprio espaço e do espaço do outro (incluindo habilidade de tomada de perspectiva); e 4.
defender-se (ex: “pare”, sem exibir um comportamento desafiador).

Social/Emocional: xxx demonstrou emoções negativas e comportamentos desafiadores diante de alternância


de demandas.

Linguagem Social: Não apresentou as habilidades, tais como: iniciar saudações e despedidas culturais, fazer
perguntas sociais (ex: nomes da família, idade etc), usar frases polidas (ex: com licença, desculpe, por
favor...).

Linguagem Social Não Verbal: Não apresentou habilidades, tais como: identificar ações básicas sem
palavras (ex: charadas, adivinhas etc).

GRÁFICOS DE SOCIALLY SAVVY de XXX (Data: 00/00/0000):

V - CONCLUSÃO

A partir do que fora avaliado, é possível identificar um comprometimento na comunicação verbal e


não verbal (gestos) de XXX, além de interação social prejudicada (baixa frequência de contato
visual, de iniciar interação com pares ou responder a estes), o que junto a outras habilidades
avaliadas, conferem um padrão global de atraso no desenvolvimento.

Considerando ainda as dificuldades de vocalização de XXX, bem como a expectativa da família de


que a criança possua fala e interação social, deve ser considerada a inclusão de Comunicação

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Alternativa no repertório da criança. Cabe ainda, a avaliação acurada por fonoaudiólogo, para
verificação de possível comprometimento motor da fala, bem como das intervenções necessárias,
fomentando assim, o atendimento multiprofissional.

Ademais, é importante que a intervenção baseada em ABA continue sendo aplicada, de forma
abrangente e intensiva, a fim de maximizar os ganhos no desenvolvimento da criança, bem como
reduzir déficits e barreiras comportamentais.

VI - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Sundberg, M. L.(2008). The verbal behavior milestones assessment and placement


program: The VB-MAPP. Concord, CA: AVB Press.

American Psychiatric Association. (2014). DSM-5: Manual diagnóstico e estatístico de


transtornos mentais. Artmed Editora.

CASTRO-SOUZA, Rodrigo Monteiro de. Adaptação brasileira do M-CHAT (Modified Checklist for
Autism in Toddlers). 2011

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Teresina-PI, 13 de novembro de 2023.

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Débora Tamires Soares da Silva
Psicóloga Clínica – CRP 05079

Recebido em: ____/____/____

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Pai

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