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1) Conflitos nucleares
Erikson propõe o desenvolvimento psicossocial como uma sucessão de fases
onde o indivíduo busca incessantemente relacionar experiências, tentando sua própria
unidade e continuidade prescrita pelo plano básico, em cada uma dessas fases existe um
nível de desenvolvimento orgânico e de ego, e um padrão específico de exigências
sociais. Existe um tema desenvolvimentista em cada uma delas que se constitui como
um desafio à progressão do indivíduo.
A universalidade do tema não desfigura, entretanto, o seu caráter restrito, devido
à relatividade cultural. Cada cultura, cada povo, define a sua situação particular,
determinando as prerrogativas para sua solução.
Erikson descreve, no decorrer do processo evolutivo, oito desafios identificados
como conflitos nucleares, porque cada um, além de típico de um nível de
desenvolvimento, exibe dois polos, um negativo e um positivo, de solução.
Da resolução eficaz de cada um deles, resulta um grau maior de continuidade e
unidade.
Dito de outra forma, toda vez que o ego consegue uma integração de seus
elementos positivos, o indivíduo caminha para um grau maior de desenvolvimento,
saúde e satisfação. A integração de elementos negativos dificulta, ou às vezes impede o
sentido de unidade, deixando como saldo algum tipo de desgosto pessoal. Cada conflito,
então, perpetua-se no indivíduo deixando sua marca positiva ou negativa, passível,
entretanto, de autocorreção ao longo do tempo.
Veremos cada um deles quando tratarmos do processo do desenvolvimento.
2) Modalidade social
Partindo do modelo freudiano, Erikson vê a libido como:
Aquela energia sexual com que são dotadas na infância, zonas que não são as genitais
e que realçam com prazeres específicos certas funções vitais como a ingestão de
alimentos, à regulação dos intestinos e o movimento dos membros. Só depois de ter
resolvido com êxito uma cita sequência desses usos pré-genitais da libido, a
sexualidade da criança se transforma gradualmente em uma transitória genialidade
infantil, que de imediato se torna mais ou menos "latente", transformada e desviada,
pois a maquinaria genital é ainda imatura, e os primeiros objetos do desejo sexual
imaturo estão proibidos para sempre pelos tabus universais do incesto (ERIKSON,
1976)
Neste sentido, o desenvolvimento sexual infantil culmina na sexualidade genital
que, necessariamente, não elimina resíduos dos desejos pré-genitais, cabendo a cada
cultura qualificar que espécie de atos sexuais não genitais considera razoáveis,
A libido, assim, antes de se centralizar na região genital antes de se tornar
propriamente sexual, concentra-se em diferentes zonas corporais, proporcionando-lhes
uma satisfação especial.
Erikson introduz, a partir dessas ideias, os conceitos de modo e modalidade
social e espacial, estabelecendo uma relação sistemática entre zonas do corpo, modos e
modalidades.
De maneira um pouco tímida, diríamos que as regiões do corpo onde a libido se
investe fornecem o modelo anatômico, constituem-se as zonas modais. A forma como
cada uma funciona constitui o aspecto modal do problema. A variedade de condutas
utilizadas pelo ego para se relacionar com o mundo ou ainda a forma peculiar do ego de
processar a experiência, resultante dos padrões educativos de seu grupo, constituem a
modalidade social básica.
No primeiro estádio de Erikson que, em muitos aspectos, coincide com o de
Freud, a energia da libido encontra-se na zona oral. Erikson insiste que a vivência da
criança neste momento, entretanto, transcende a gratificação oral.
...ao obter o que é dado, e ao aprender a conseguir que alguém faça para ele o que
desejava ter feito, o bebê desenvolve também o fundamento de ego necessário para
chegar a ser um doador” (ERIKSON, 1976).
PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO
1) Fatores que determinam o desenvolvimento.
Erikson entende e interpreta o desenvolvimento, suas crises, suas regressões
desvios como uma interação de três processos - biológico, social e individual que
mutuamente se influenciam. À cada momento, ainda que um desses processos se
sobressaia, entram como coautores da situação todos os outros. O ser humano tem um
corpo, um conjunto de órgãos hierarquizados em aparelhos e sistemas. Tem igualmente
um ego sistematizador da própria experiência. Faz sempre parte de um grupo, sem o
qual não sobrevive. Só pode ser entendido, então, a partir de sua totalidade
O todo só pode ser entendido a partir dele mesmo. Ele resulta de uma interação
particular de partes e não de sua mera adição.
Esta é a frase que salta à minha frente quando penso nos fatores determinantes
do desenvolvimento numa perspectiva “eriksoniana”.
Erikson não desvaloriza os esforços da Biologia para entender o corpo, seu
funcionamento, sua estrutura, através da análise minuciosa de suas partes, tampouco os
estudos observacionais experimentais ou mesmo reflexivos da Psicologia. E não aliena
os estudos de grupos desenvolvidos pelas Ciências Sociais. Tão somente considera, do
ponto de vista clínico, um estudo em separado, como uma desfiguração de uma
totalidade intrincada, rica em si mesma pelo complexo de ações e reações.
O ser humano, enquanto uma unidade, revela-se como uma central de energia
canalizada concomitantemente para a soma, a mente e o grupo.
“A tensão somática, a ansiedade individual e o pânico grupal constituem-se
formas sob as quais a ansiedade humana se apresenta aos diferentes métodos de
investigação. ” (ERIKSON, 1976)
O organismo que evolui diferencia-se, complexifica, numa sequência previsível,
segundo leis irreversíveis, determinadas pelo plano básico, reguladas pelo princípio
epigenético. O nascimento marca o início de um processo social, de um conjunto de
permutas, de relações interindividuais, que gradualmente se ampliam e se modificam
segundo os valores e normas das diferentes culturas e têm como meta transformar
crianças dependentes em adultos independentes.
ERIKSON (1976) faz uso da frase “ Relatividade na existência humana” para
expressar essa condição das diferentes interferências culturais e acrescenta, à dimensão
social, as regulações mútuas entre os bebês e suas respectivas mães.
Na dimensão individual, Erikson enquadra as idiossincrasias ou as disposições
individuais, reações pessoais, maneira peculiar de cada um ver, sentir e reagir.
O processo individual ou processo do ego representa o “princípio organizacional
pelo qual o indivíduo se mantém como uma personalidade coerente, com uniformidade
e continuidade em sua experiência pessoal e em sua realidade para com os outros”,
(ERIKSON, 1972).
Partindo desse referencial tricótomo, Erikson estuda a evolução e a crise, a saúde
e a doença, reconhecendo sempre que “o corpo está exposto à dor e à tensão; o ego, à
ansiedade; e, como membro de uma sociedade, é susceptível ao pânico que emana do
seu grupo”. (ERIKSON, 1976).
O caso do menino Sam se faz pertinente aqui.
Aos três anos de idade, Sam teve a sua primeira crise diagnosticada como
epiléptica, A essa seguiram-se mais quatro. Todas elas se ligavam a algum tipo de
perda. A primeira ocorreu cinco dias após a morte da avó. A segunda quando Sam
encontrou, no pátio de sua casa, uma toupeira morta. A terceira quando, acidentalmente,
esmagou uma borboleta com a mão. A quarta e a quinta quando houve o afastamento do
seu primeiro e segundo médicos.
Erikson teve seu primeiro contato com essa criança quando esta contava cinco
anos de idade. De seu histórico foram isolados itens importantes relativos aos três
processos anteriormente citados.
No nível orgânico, Sam apresentava uma fragilidade que o tornava susceptível
ao ataque. Esta condição não era, em si mesma, suficiente para o seu surgimento, uma
vez que eletroencefalogramas análogos são encontrados em muitos indivíduos que
nunca apresentam qualquer tipo de ataque. Neste sentido, esta não se constituía a
condição causal, ainda que sempre presente neste tipo de reação.
No nível individual, algumas variáveis foram igualmente importantes. Estando
com três anos à época da primeira crise e “tendo sido, até então, uma criança agressiva e
voluntariosa, “encontrava-se em franco desenvolvimento locomotor, verbal etc., que faz
com que qualquer criança dessa idade “atire-se” no mundo fazendo perguntas,
explorando locais, invadindo espaços, já que o andar e o falar já se constituem meios,
recursos, para o alcance de objetivos variados. “Nesta etapa, qualquer criança tem
propensão a mostrar maior intolerância à restrição no que diz respeito a se movimentar
livremente e a fazer perguntas insistentes." (ERIKSON, 1970). Falamos anteriormente
da intrusividade dos meninos nesta faixa etária e ERIKSON (1976) fala da tendência
nesta época da aplicação generalizada dos princípios de Talião, olho por olho, dente por
dente.
O nível social entra para completar o círculo.
Sam era uma criança judia que havia vivido, até então, em um meio que, de certa
forma, valorizava a agressividade, e que se mudou para uma cidade pequena, com o
princípio cristão do “bom mesmo”, pouco antes de manifestar sua primeira convulsão.
Ele, menino facilmente irritável e agressivo, viu-se obrigado a se controlar e era, por
vezes, reprimido em suas tentativas agressivas. Isso o tornava incontrolavelmente
colérico, talvez por sua “intolerância constitucional”. (ERIKSON, 1976).
Ainda nesta época, sua avó paterna chegou para uma primeira visita e, como era
cardíaca, não possa ser importunada. E agora, mais uma vez, e mais diretamente, Sam
tinha que se controlar.
A primeira crise ocorreu cinco dias após a morte de sua avó e com uma
semelhança impressionante com o ataque que ela teve imediatamente antes de morrer.
Ela começou a passar mal justo em um dia em que Sam permaneceu só com ela, durante
todo o dia e, tendo subido em uma cadeira, caiu no chão. Sua mãe, ao chegar, encontrou
a sogra caída, com um ataque cardíaco que a levou à morte poucos meses depois
Morte (perda) fixou-se como um estímulo psíquico.
O caso foi mais profundamente analisado por Erikson. Os Itens de cada processo
foram inter-relacionados e estudados em suas interferências mútuas. Interessa-nos fixar
a presença dos três processos, de qualquer forma, cada um deles deve ser pensado
segundo o significado que dá e recebe dos demais Itens, por exemplo, colocados como
constitucionais, podem ser locados em aspectos psíquicos de organização do ego frente
a experiências ambientais e assim por diante,
“Não há ansiedade sem tensão somática, mas também devemos aprender que
não há ansiedade individual que não reflita uma preocupação latente comum do grupo
imediato e ao grupo maior. ” (ERIKSON, 1976).
2) Estádios do desenvolvimento.
Partindo do modelo freudiano de desenvolvimento psicossexual, Erikson
elaborou os estádios psicossociais que, em suas primeiras fases, coincidem com as
idades cronológicas propostas por Freud e representam, igualmente, momentos
diferentes de investimento da energia da libido em diferentes partes do corpo. A esses
conhecimentos acrescentou seus achados antropológicos, os conhecimentos adquiridos
com as observações de crianças normais, vindo a delinear o desenvolvimento como um
processo que ocorre ao longo da vida, durante todo o ciclo vital, do nascimento à morte.
Ainda que acreditando serem as experiências iniciais da vida de extrema
importância, a ponto de plasmarem e direcionarem a conduta posterior, coloca o
indivíduo, a partir da adolescência, como um ser também em movimento, em
desenvolvimento, nunca estático ou acabado, confrontando-se com tarefas nunca antes
experimentadas e aproveitando-se, entre outras coisas, das vivências anteriores, para
enfrentá-las, dominá-las e superá-las.
Para Erikson, cada etapa do processo evolutivo é marcada por um tema central
que se vincula naturalmente às condições biológicas, evolutivas do ego e exigências
sociais específicas, colocando para o indivíduo um dilema com duas forças opostas que,
pressionando sua conciliação, levam o ego a uma integração.
Cada vez que o indivíduo resolve de maneira satisfatória essa polaridade, ele dá
um passo em direção à maturidade, ou em direção ao delineamento de uma identidade
de ego forte e sadia, possibilitando-o mais e mais elaborar vivências e situações
anteriores, reintegrando-as no contínuo de sua evolução.
Neste sentido, o processo evolutivo é auto terapêutico e eventuais regressões, ao
contrário de negativas, constituem-se fenômenos evolutivos, porque permitem a
reconstituição e integração de experiências.
Ocorre-me aqui um paralelo com o que se dá no nível orgânico, onde a criança
que já caminha volta muitas vezes a engatinhar e, com isto, treina e fortifica as próprias
habilidades motoras.
No ciclo evolutivo, Erikson identifica oito etapas ou estádios coloca-os e as
polaridades criadas como universais. Particulariza as formas de resolução que se
vinculam às diferenças culturais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Todas as minhas tentativas de acesso a uma maior bibliografia de Erikson foram
fracassadas, aqui e no exterior, no tempo que me foi possível.
Mas identifico-me muito com o seu pensamento, que me parece claro,
transparente, confirmado em seus relatos de experiências, no meu trabalho clínico e no
meu quotidiano.
A questão da modalidade espacial, para mim, entretanto, permanece como
dúvida.
A questão de gênero, mais flexível nos tempos atuais, tem determinado
prerrogativas mais amplas e muitas vezes coincidentes em diferentes áreas, o que me faz
pensar numa submissão do orgânico ao social.
SHAW, G Bernard (1856 - 1950) Nasceu em Dubln Dramaturgo, crítico e ensaísta wlandês, recebeu o prêmio Nobel de Literatura em 1925 Para ele o palco
era uma oportunidade para apoiar a reforma social.
JAMES, Wilham (1842 - 1910). Estudou Anatomia e Fisiologia e, posteriormente, Psicologia e Filosofia. Escreveu Principies of Psychology em
1890 dando grandes contribuições para o estudo das emoções e cos 104 instintos.