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CONCEITOS CENTRAIS

1) Conflitos nucleares
Erikson propõe o desenvolvimento psicossocial como uma sucessão de fases
onde o indivíduo busca incessantemente relacionar experiências, tentando sua própria
unidade e continuidade prescrita pelo plano básico, em cada uma dessas fases existe um
nível de desenvolvimento orgânico e de ego, e um padrão específico de exigências
sociais. Existe um tema desenvolvimentista em cada uma delas que se constitui como
um desafio à progressão do indivíduo.
A universalidade do tema não desfigura, entretanto, o seu caráter restrito, devido
à relatividade cultural. Cada cultura, cada povo, define a sua situação particular,
determinando as prerrogativas para sua solução.
Erikson descreve, no decorrer do processo evolutivo, oito desafios identificados
como conflitos nucleares, porque cada um, além de típico de um nível de
desenvolvimento, exibe dois polos, um negativo e um positivo, de solução.
Da resolução eficaz de cada um deles, resulta um grau maior de continuidade e
unidade.
Dito de outra forma, toda vez que o ego consegue uma integração de seus
elementos positivos, o indivíduo caminha para um grau maior de desenvolvimento,
saúde e satisfação. A integração de elementos negativos dificulta, ou às vezes impede o
sentido de unidade, deixando como saldo algum tipo de desgosto pessoal. Cada conflito,
então, perpetua-se no indivíduo deixando sua marca positiva ou negativa, passível,
entretanto, de autocorreção ao longo do tempo.
Veremos cada um deles quando tratarmos do processo do desenvolvimento.

2) Modalidade social
Partindo do modelo freudiano, Erikson vê a libido como:
Aquela energia sexual com que são dotadas na infância, zonas que não são as genitais
e que realçam com prazeres específicos certas funções vitais como a ingestão de
alimentos, à regulação dos intestinos e o movimento dos membros. Só depois de ter
resolvido com êxito uma cita sequência desses usos pré-genitais da libido, a
sexualidade da criança se transforma gradualmente em uma transitória genialidade
infantil, que de imediato se torna mais ou menos "latente", transformada e desviada,
pois a maquinaria genital é ainda imatura, e os primeiros objetos do desejo sexual
imaturo estão proibidos para sempre pelos tabus universais do incesto (ERIKSON,
1976)
Neste sentido, o desenvolvimento sexual infantil culmina na sexualidade genital
que, necessariamente, não elimina resíduos dos desejos pré-genitais, cabendo a cada
cultura qualificar que espécie de atos sexuais não genitais considera razoáveis,
A libido, assim, antes de se centralizar na região genital antes de se tornar
propriamente sexual, concentra-se em diferentes zonas corporais, proporcionando-lhes
uma satisfação especial.
Erikson introduz, a partir dessas ideias, os conceitos de modo e modalidade
social e espacial, estabelecendo uma relação sistemática entre zonas do corpo, modos e
modalidades.
De maneira um pouco tímida, diríamos que as regiões do corpo onde a libido se
investe fornecem o modelo anatômico, constituem-se as zonas modais. A forma como
cada uma funciona constitui o aspecto modal do problema. A variedade de condutas
utilizadas pelo ego para se relacionar com o mundo ou ainda a forma peculiar do ego de
processar a experiência, resultante dos padrões educativos de seu grupo, constituem a
modalidade social básica.
No primeiro estádio de Erikson que, em muitos aspectos, coincide com o de
Freud, a energia da libido encontra-se na zona oral. Erikson insiste que a vivência da
criança neste momento, entretanto, transcende a gratificação oral.

A pré-genitalidade não existe somente para a genitalidade. De fato, a essência


mesma da pré-genitalidade parece ser a absorção de interesses libidinais nos encontros
iniciais do organismo em maturação com um estilo particular de cuidado infantil e na
transformação de suas formas inatas de aproximação nas modalidades sociais da
cultura. CERIKSON, 1976).

Neste sentido, o organismo em desenvolvimento, submetido aos métodos


educativos de sua cultura, de acordo com os valores tradicionais, apreende suas
oportunidades enquanto membro de uma sociedade. Os modos orgânicos da pré-
genitalidade constituem a ponte entre o organismo e o meio, portanto, o modelo de
aproximação com o outro e com o mundo no contexto limitado de sua sociedade. Em
outras palavras, com seu modo de aproximação física o indivíduo apreende a
modalidade “básica de vida em sua sociedade.
O primeiro modo de aproximação é o incorporativo e a primeira modalidade, o
receber e aceitar o que é dado.
Ao nascer a criança incorpora pela boca o alimento que lhe é dado e aos poucos
vai também incorporando o que entra em seu campo visual e tátil. Isto pode-se dar de
uma forma adequada, traduzida por uma regulação mútua entre o bebê e o seu provedor,
ou de uma outra forma, que pode vir a ser o modelo presente nas perturbações das
relações interpessoais.
No sistema educacional infantil dos Sioux, Erikson encontrou um tipo de
amamentação que bem ilustra suas proposições teóricas. Não nos estenderemos e vamos
procurar falar o mínimo essencial. Ao bebê Sioux não era oferecido o colostro (primeira
secreção que sai do seio). Vigorava a ideia de que não valia a pena a criança submeter-
se a um esforço grande inicial e obter, em troca, somente um líquido aquoso. Isto
representava, anda mais, uma acolhida inadequada. “Como poderia (o bebê) confiar em
um mundo que assim o acolhia? ” (Erikson, 1976). O seio só era oferecido à criança
quando o leite fluía normalmente e sempre que acriança começasse a chorar. O
desmame era natural, na medida em que a criança ia fazendo uso de outros alimentos.
Em alguns casos, as crianças recorriam ao seio materno mesmo contando com três,
quatro anos de idade.
Na vida social Sioux, a generosidade era uma tônica e facilmente adultos e
crianças doavam os próprios objetos a outros, quando e onde quisessem. A generosidade
da mãe com relação ao leite repetia-se na atitude generosa com relação aos próprios
pertences.

...ao obter o que é dado, e ao aprender a conseguir que alguém faça para ele o que
desejava ter feito, o bebê desenvolve também o fundamento de ego necessário para
chegar a ser um doador” (ERIKSON, 1976).

Uma outra modalidade social - o tomar - tem lugar, na segunda metade do


primeiro ano, quando os dentes aparecem e a criança, também mais desenvolvida, é
capaz de focalizar objetos, localizar sons, pegar intencionalmente o que entra em seu
espaço, manifestando uma aproximação mais direta e ativa no meio. O modo zonal
associado à forma como o meio lida com ele relaciona-se com os ideais éticos da
sociedade. Não se trata, entretanto, de uma pura relação de causa e efeito... “Persistem
porque se tornaram parte essencial de um sentimento de identidade do indivíduo que ele
deve preservar como núcleo da sanidade mental e da eficiência. ” (ERIKSON, 1976).
No segundo estádio, quando a energia da libido se encontra investida na região
uretral-anal, Erikson, acreditando na importância das funções de eliminação e do
treinamento do controle esfincteriano, coloca os esfíncteres anal-uretral como o modelo
anatômico para os modos retentivo e eliminatório.
Ann, uma garota de quatro anos, costumava prender seu intestino e só esvaziá-lo
na cama, à noite ou de manhãzinha. A análise que pôde fazer desse caso levou-o a
concluir que
O comportamento dessa criança. Mesmo quando não é anal em um sentido
zonal, tem a característica de um problema esfincteriano. Quase se poderia dizer que a
menina, toda ela, atua como um esfíncter múltiplo em sua expressão facial, assim como
em sua comunicação emocional trancasse a maior parte do tempo para abrir-se rara e
esporadicamente. (ERIKSON, 1976)
Os esfíncteres constituem, assim, o modelo de condutas de deter-se e deixar-se
ir, de reter e soltar, de guardar e jogar fora. No caso de Ann, houve uma fixação nesta
etapa “... a proporção e a sequência dos impulsos incipientes haviam sido perturbadas...
deteve no tema da retenção e da eliminação anais como um disco de vitrola com uma
arranhadura”. (ERIKSON, 1976).
As modalidades sociais desenvolvidas a partir daí giram em torno do agarrar e
soltar e têm, evidentemente, grandes implicações para a vida relacional das
comunidades.
No terceiro estádio a energia da libido concentra-se zona genital o nível de
desenvolvimento-da Criança, neste momento, “faculta-lhe intrometer-se no mundo. Ela
se introduz no espaço, porque caminha bem, penetra no desconhecido, porque sua
linguagem e desenvolvimento mental lhe capacitam isso. Ela investe em direção a um
objetivo, porque tem condições para tal. Tudo nela sugere prazer em atacar e conquistar.
“Seu aprendizado é agora intrusivo: leva-a a abstrair-se de si mesma como centro, para
interessá-la em novos fatos e atividades," (ERIKSON, 1976). Entre outras coisas, ela
constata as diferenças anatômicas entre os sexos que, por si mesmas, tornam-se modelos
para os modos intrusivo e inclusivo que caracterizam a grande variedade de condutas
que, relacionadas aos padrões culturais, são clinicamente interpretadas como fálicas.
Ainda que as modalidades básicas desse estádio possam enquadrar-se dentro de
um conceito mais amplo de “ganhar”, de “obter algum lucro ou benefício”, elas se
vinculam aos modos específicos de cada um dos sexos. Enquanto no menino ele se
traduz por fálico-intrusivo, na menina, por fálico-inclusivo.
3) Modalidade espacial
Erikson introduz esse conceito como uma extensão do anterior. Utilizando-se de
alguns brinquedos (toquinhos, bonecos, carrinhos, animais). Solicitou que crianças,
individualmente, construíssem uma cena emocionante de um filme imaginário.
Objetivava verificar a existência de alguma relação entre os modos orgânicos e as
modalidades espaciais, ou seja, queria saber se a organização do espaço variava entre os
dois sexos e como variava,
Encontrou diferenças verdadeiramente significativas no uso do espaço.
Geralmente os meninos construíam estruturas edifícios, torres, ruas. Utilizava-se de
carros, índios, policiais. As meninas raramente construíam torres, preferindo formar
interiores estáticos com algum boneco tocando piano e algum animal entrando
repentinamente. Nos meninos houve uma predominância das modalidades “alto e
baixo” enquanto nas meninas, do “aberto e fechado".
Pelos estudos que fez, Erikson esquivou-se de afirmativas que unicamente
levavam em consideração as variáveis sociais. Isto quer dizer que ele não se sentia à
vontade para interpretar as diferenças entre grupos masculinos e femininos
simplesmente como expressão espacial de variáveis de conotações sociais. O próprio
plano básico do corpo determina, em si, experiências diversas, o que sugere uma ligação
entre os próprios modos gênitas e diferentes modalidades de organização espacial.
A diferenciação sexual proporciona à diferença decisiva no plano básico do
corpo humano que por sua vez, codetermina a experiência biológica e as funções
sociais.
Conjuntamente, portanto, o espaço estruturado e os temas retratados sugerem aquela
interpretação do biológico, do cultural e do psicológico. (ERIKSON, 1976).
4) Identidade
É embaraçoso para mim tentar conceituar identidade. Corro um risco enorme de
encontrar palavras aparentemente significativas que nada mais fariam além de transmitir
uma ideia errônea ou por demais limitada. Paradoxalmente este é um termo amplo,
geral, específico e preciso.
A identidade não se revela e m um fato da vida do indivíduo, mas em todos eles,
sendo única em seu conjunto. A definição, anda que precise a ideia, tende a limitá-la.
Ao leitor permanece a necessidade de uma perspicácia enorme, para se prender ou se
desligar das palavras, sempre oportunamente, se quiser chegar a um entendimento.
Estou mesmo acreditando que a espera de um insight seja o melhor caminho que não se
precipite um conceito, mas espere que ele emerja no meio de leituras e reflexões.
À maneira de Erikson, vou-me tornar descritiva, esperando que o leitor possa ir
reunindo suas peças até que tenha formado seu jogo, até que possa, de alguma forma,
decodificar as mensagens que trazem no seu centro a ideia de identidade, sem se arvorar
de defini-la. Quando menos, quero iniciar o leitor numa busca de seu entendimento
porque, diferentemente de Erikson, não disponho de muito espaço para isso, já que este
não é o propósito do meu trabalho. Erikson fala de identidade norte-americana, alemã,
judia, coletiva... Fala de identidade sexual, psicossocial... de privação e perda de
identidade, levando-nos a entendê-la, sem qualquer urgência de definição.
Identidade pessoal significa:
Unidade da personalidade no tempo, sentimento e pensamento de imutabilidade
é comunidade da pessoa, suas ideias, propósitos e recordações inalienáveis.
(CABRAL, 1971).
Existência contínua de um indivíduo determinado apesar de mudanças em suas
funções e estruturas. E sentido subjetivo dessa existência contínua. (WARREN, 68)
Identidade do ego, em seu aspecto subjetivo, é à consciência do fato de que
há uma integridade e continuidade dos métodos sintetizadores do ego e de que esses
métodos são efetivos para salvaguardar a integridade e continuidade do próprio
significado para os demais. (SCHOMBAR, 1986)
Senso de si mesmo; reconhecimento de que se é uma pessoa única, com um
passado, presente e futuro peculiares, dentro de um contexto social; mesmidade... são
algumas tentativas de se aproximar do conceito mais amplo de identidade.
Erikson, em seus escritos, ora deixou passar a ideia de identidade como um
sentido de singularidade pessoal, ora de uma luta íntima e inconsciente cada um na
busca de uma integração das próprias experiências. Uma ideia manteve-se firme em
todas as suas colocações, a de movimento e renovação, configurando-a como uma
estrutura sempre em evolução, gradativamente estabelecida pelos processos de Síntese e
resíntese do ego, dentro de uma realidade social.
A identidade
é uma configuração que procede à integração gradual dos dados
constitucionais, necessidades libidinais idiossincráticas, capacidades favorecidas,
identificações significativas, defesas efetivas, sublimações bem sucedidas e papéis
coerentes Um sentimento ótimo de identidade, por outro lado, é meramente
experimentado como uma sensação de bem-estar psicossocial, Os seus mais óbvios
concomitantes são o sentimento de “estar em casa" em nosso próprio corpo, um
sentimento de "saber para onde se vai“ e uma certeza íntima de reconhecimento
antecipado por parte daqueles que contam (ERIKSON, 1972).
Erikson sugere que a saúde mental equivale a um forte sentido de identidade.
Identidade e identificação, ainda que confundidas muitas vezes, são distintas.
O ego, enquanto agência organizadora, lida com as diversas identificações,
selecionando aquelas significativas, testando a realidade, integrando imagens resultantes
das crises no decorrer da evolução. Ele lida, em todas as fases da vida, com um eu
sempre modificado e em modificação, buscando alguma forma de síntese. Isto culmina,
é claro, se traduzido em um processo normal, em um sentimento de identidade bem
estabelecido, onde a pessoa se reconhece como única, unificada, não obstante estar em
constante modificação. Reconhece-se como membro de uma sociedade solidarizando-se
com os ideais do seu grupo, nos casos adversos, encontram-se aqueles que não
conseguem, em diferentes graus, uma integração da própria experiência. Variam desde
os talvez chamados neuróticos leves, geralmente insatisfeitos e sempre em busca de
uma “mosca azul”, parafraseando Omar Khayyam, ou atrás de um ideal sempre
colocado “além”, portanto inatingível até aqueles com uma desorganização maior. Neste
pólo concentram-se os que não conseguem qualquer síntese ou elaboram uma
suficientemente frágil, que imediatamente se desfaz, diante de qualquer ameaça. Trata-
se dos indivíduos usualmente denominados autistas e psicóticos.
Quem trabalhou alguma vez com crianças autistas jamais esquecerá o horror de
observa: com que desespero elas lutam para apreender o significado de se dizer EU e
TU e como é impossível para elas consegui-lo, pois, a linguagem pressupõe a
experiência de um EU coerente. (ERIKSON, 1972)
Esse sentimento de identidade, à semelhança do mecanismo cardíaco, ao tornar-
se consciente, revela-se perturbado, o que pode acontecer diante de uma brusca
mudança cultural, com uma consequente quebra da hierarquia de valores e expectativas,
levando o indivíduo a se perguntar. Quem sou eu? Consciente ela também se toma nos
momentos em que o Indivíduo se encontra prestes a adquiri-la ou a perder a que foi
estabelecida.
ERIKSON (1976) faz duas citações que ilustram o que considera dimensões de
identidade uma delas é um fragmento de uma carta de William James à sua esposa. A
outra, uma parte de um discurso proferido por Freud em Viena, em 1926, e que revela
uma identidade pessoal e social.

O caráter; de um homem é discernível na atitude mental ou moral, em que,


quando chegou o momento de revelar-se lhe, ele se sentiu mais profunda e intensamente
ativo e vivo.
Em tais momentos, existe uma voz íntima que nos fala e diz: Isto é o que realmente eu
sou. (William James).
O que me vincula ao judaísmo (tenho vergonha de confessá-lo) não é a fé nem o
orgulho nacional pois sempre fui um ateu e fui criado sem qualquer religião, embora
no respeito pelos chamados “padrões éticos de civilização humana” Sempre que senti
uma inclinação para o entusiasmo nacional lutei por suprimi-lo como nocivo e errado,
alarmado pelos exemplos acauteladores dos povos entre os quais nós, os judeus,
vivemos. Mas muitas outras coisas permaneceram à tona para tomar irresistível a
atração do judaísmo e dos judeus — muitas forças emocionais obscuras tanto mais
poderosas quanto menos podiam ser expressas em palavras, assim como uma nítida
consciência de identidade íntima, a segura intimidade de uma construção mental
comum E, para além de tudo isso, havia uma percepção de que era exclusivamente à
minha natureza judaica que eu teria característica que se me tornaram indispensáveis
no difícil curso de minha vida. Porque era judeu encontre-me livre de muitos
preconceitos que restringiam em outros o uso do intelecto; e como judeu estava
preparado para aderir à oposição e dispensar qualquer acordo com a maioria
compacta (Freud).

Essas passagens ilustram os aspectos pessoais de originalidade individual e de


comunhão com o grupo de referência, evidenciando tratar-se de “um processo
localizado no âmago do indivíduo e, entretanto, também no núcleo central da cultura
coletiva, um processo que estabelece de fato, a identidade dessas duas identidades”.
(ERIKSON, 1976) SCHOMBAR (1968) cita o caso de um paciente atendido por ela que
acredito ser esclarecedor. Este revela a busca incessante do indivíduo de sua própria
identidade.
O paciente, um homem, havia abraçado a profissão de seu pai e compartilhado
com ele dessa resolução durante muitos anos, ele não se lembrava de nenhuma pressão
manifesta nesta direção, mas era significativo o fato de que precisamente antes de
entrar para a universidade havia tido uma ansiedade aguda, havia buscado a ajuda de
seu pai (permissão para ser liberado da "promessa" não formulada), mas não a tendo
recebido começou a estudar e logo a exercer a profissão sempre inseguro e dependente
do pai.
Depois de algum tempo de análise, pensou incialmente em mudar de profissão,
depois começou a nutrir-se de satisfações intrínsecas em certos aspectos de seu trabalho,
finalmente especializou-se nesses aspectos e montou sua própria oficina. Cada
mudança, cada triunfo dos impulsos de realização própria sobre as manobras de auto
conservação, ia acompanhada de severa ansiedade, sob ameaça de morte iminente. Sua
identidade mesma parecia ameaçada pelo surgimento de uma identidade nova.
Ainda que tenha escrito muita coisa sobre identidade não quero parar por aqui,
sem abordá-la de uma outra forma, mais pessoal, utilizando-me de outra terminologia.
Tomo como referência o texto de ALVARENGA (1974), ex-professor do Departamento
de Psicologia-UFMG, onde ele relata suas reflexões a partir de sua atividade clínica e
enquanto professor. Ele encontrou elementos comuns nas dificuldades emocionais
reveladas por essas pessoas. Chamou de MAPA, o conjunto de “crenças, valores e
concepções que um indivíduo tem acerca de si mesmo e do mundo à sua volta”.
Contrastou esse MAPA, geralmente impessoal, pré-fabricado e reflexo de várias
instituições sociais como família, igreja, escola etc., e o TERRITÓRIO individual de
cada uma dessas pessoas. Este, cheio de particularidades, quase sempre não se
constituía uma reprodução do MAPA, contendo mesmo “relevos e traçados"
incompatíveis com a estrutura original. Detectou uma constante luta do indivíduo na
tentativa de adequar seu TERRITÓRIO ao MAPA, de tirar os seus “nos, depressões e
montanhas”, para que assim os dois planos se encaixassem. “É uma negação, muitas
vezes, de experiências altamente significativas em suas vidas, porque simplesmente elas
não estão de acordo com o MAPA. ”
É aqui que entro com o conceito de identidade onde essa tentativa, quase sempre
inconsciente, de encaixar os dois planos, às custas da negação de experiências pessoais
significativas, representa um polo algo distante do que considero que Erikson chama de
identidade forte e sadia A identidade sadia, neste sentido, é aquela que, num movimento
constante, analisa MAPA e TERRITÓRIO, numa tentativa de melhor adequação à
realidade espaço-temporal e pessoal.
Bem, a identidade é isso aí, é tudo isso. Para Erikson a sua formação inicia-se
quase com a formação da própria vida, porque ela tem origem no contato inicial da
criança com o mundo, no “primeiro encontro verdadeiro da mãe e do bebê como duas
pessoas que podem tocar-se e reconhecer-se mutuamente e só termina quando se dissipa
o poder de afirmação mútua do homem” (ERIKSON, 1976).

PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO
1) Fatores que determinam o desenvolvimento.
Erikson entende e interpreta o desenvolvimento, suas crises, suas regressões
desvios como uma interação de três processos - biológico, social e individual que
mutuamente se influenciam. À cada momento, ainda que um desses processos se
sobressaia, entram como coautores da situação todos os outros. O ser humano tem um
corpo, um conjunto de órgãos hierarquizados em aparelhos e sistemas. Tem igualmente
um ego sistematizador da própria experiência. Faz sempre parte de um grupo, sem o
qual não sobrevive. Só pode ser entendido, então, a partir de sua totalidade
O todo só pode ser entendido a partir dele mesmo. Ele resulta de uma interação
particular de partes e não de sua mera adição.
Esta é a frase que salta à minha frente quando penso nos fatores determinantes
do desenvolvimento numa perspectiva “eriksoniana”.
Erikson não desvaloriza os esforços da Biologia para entender o corpo, seu
funcionamento, sua estrutura, através da análise minuciosa de suas partes, tampouco os
estudos observacionais experimentais ou mesmo reflexivos da Psicologia. E não aliena
os estudos de grupos desenvolvidos pelas Ciências Sociais. Tão somente considera, do
ponto de vista clínico, um estudo em separado, como uma desfiguração de uma
totalidade intrincada, rica em si mesma pelo complexo de ações e reações.
O ser humano, enquanto uma unidade, revela-se como uma central de energia
canalizada concomitantemente para a soma, a mente e o grupo.
“A tensão somática, a ansiedade individual e o pânico grupal constituem-se
formas sob as quais a ansiedade humana se apresenta aos diferentes métodos de
investigação. ” (ERIKSON, 1976)
O organismo que evolui diferencia-se, complexifica, numa sequência previsível,
segundo leis irreversíveis, determinadas pelo plano básico, reguladas pelo princípio
epigenético. O nascimento marca o início de um processo social, de um conjunto de
permutas, de relações interindividuais, que gradualmente se ampliam e se modificam
segundo os valores e normas das diferentes culturas e têm como meta transformar
crianças dependentes em adultos independentes.
ERIKSON (1976) faz uso da frase “ Relatividade na existência humana” para
expressar essa condição das diferentes interferências culturais e acrescenta, à dimensão
social, as regulações mútuas entre os bebês e suas respectivas mães.
Na dimensão individual, Erikson enquadra as idiossincrasias ou as disposições
individuais, reações pessoais, maneira peculiar de cada um ver, sentir e reagir.
O processo individual ou processo do ego representa o “princípio organizacional
pelo qual o indivíduo se mantém como uma personalidade coerente, com uniformidade
e continuidade em sua experiência pessoal e em sua realidade para com os outros”,
(ERIKSON, 1972).
Partindo desse referencial tricótomo, Erikson estuda a evolução e a crise, a saúde
e a doença, reconhecendo sempre que “o corpo está exposto à dor e à tensão; o ego, à
ansiedade; e, como membro de uma sociedade, é susceptível ao pânico que emana do
seu grupo”. (ERIKSON, 1976).
O caso do menino Sam se faz pertinente aqui.
Aos três anos de idade, Sam teve a sua primeira crise diagnosticada como
epiléptica, A essa seguiram-se mais quatro. Todas elas se ligavam a algum tipo de
perda. A primeira ocorreu cinco dias após a morte da avó. A segunda quando Sam
encontrou, no pátio de sua casa, uma toupeira morta. A terceira quando, acidentalmente,
esmagou uma borboleta com a mão. A quarta e a quinta quando houve o afastamento do
seu primeiro e segundo médicos.
Erikson teve seu primeiro contato com essa criança quando esta contava cinco
anos de idade. De seu histórico foram isolados itens importantes relativos aos três
processos anteriormente citados.
No nível orgânico, Sam apresentava uma fragilidade que o tornava susceptível
ao ataque. Esta condição não era, em si mesma, suficiente para o seu surgimento, uma
vez que eletroencefalogramas análogos são encontrados em muitos indivíduos que
nunca apresentam qualquer tipo de ataque. Neste sentido, esta não se constituía a
condição causal, ainda que sempre presente neste tipo de reação.
No nível individual, algumas variáveis foram igualmente importantes. Estando
com três anos à época da primeira crise e “tendo sido, até então, uma criança agressiva e
voluntariosa, “encontrava-se em franco desenvolvimento locomotor, verbal etc., que faz
com que qualquer criança dessa idade “atire-se” no mundo fazendo perguntas,
explorando locais, invadindo espaços, já que o andar e o falar já se constituem meios,
recursos, para o alcance de objetivos variados. “Nesta etapa, qualquer criança tem
propensão a mostrar maior intolerância à restrição no que diz respeito a se movimentar
livremente e a fazer perguntas insistentes." (ERIKSON, 1970). Falamos anteriormente
da intrusividade dos meninos nesta faixa etária e ERIKSON (1976) fala da tendência
nesta época da aplicação generalizada dos princípios de Talião, olho por olho, dente por
dente.
O nível social entra para completar o círculo.
Sam era uma criança judia que havia vivido, até então, em um meio que, de certa
forma, valorizava a agressividade, e que se mudou para uma cidade pequena, com o
princípio cristão do “bom mesmo”, pouco antes de manifestar sua primeira convulsão.
Ele, menino facilmente irritável e agressivo, viu-se obrigado a se controlar e era, por
vezes, reprimido em suas tentativas agressivas. Isso o tornava incontrolavelmente
colérico, talvez por sua “intolerância constitucional”. (ERIKSON, 1976).
Ainda nesta época, sua avó paterna chegou para uma primeira visita e, como era
cardíaca, não possa ser importunada. E agora, mais uma vez, e mais diretamente, Sam
tinha que se controlar.
A primeira crise ocorreu cinco dias após a morte de sua avó e com uma
semelhança impressionante com o ataque que ela teve imediatamente antes de morrer.
Ela começou a passar mal justo em um dia em que Sam permaneceu só com ela, durante
todo o dia e, tendo subido em uma cadeira, caiu no chão. Sua mãe, ao chegar, encontrou
a sogra caída, com um ataque cardíaco que a levou à morte poucos meses depois
Morte (perda) fixou-se como um estímulo psíquico.
O caso foi mais profundamente analisado por Erikson. Os Itens de cada processo
foram inter-relacionados e estudados em suas interferências mútuas. Interessa-nos fixar
a presença dos três processos, de qualquer forma, cada um deles deve ser pensado
segundo o significado que dá e recebe dos demais Itens, por exemplo, colocados como
constitucionais, podem ser locados em aspectos psíquicos de organização do ego frente
a experiências ambientais e assim por diante,
“Não há ansiedade sem tensão somática, mas também devemos aprender que
não há ansiedade individual que não reflita uma preocupação latente comum do grupo
imediato e ao grupo maior. ” (ERIKSON, 1976).
2) Estádios do desenvolvimento.
Partindo do modelo freudiano de desenvolvimento psicossexual, Erikson
elaborou os estádios psicossociais que, em suas primeiras fases, coincidem com as
idades cronológicas propostas por Freud e representam, igualmente, momentos
diferentes de investimento da energia da libido em diferentes partes do corpo. A esses
conhecimentos acrescentou seus achados antropológicos, os conhecimentos adquiridos
com as observações de crianças normais, vindo a delinear o desenvolvimento como um
processo que ocorre ao longo da vida, durante todo o ciclo vital, do nascimento à morte.
Ainda que acreditando serem as experiências iniciais da vida de extrema
importância, a ponto de plasmarem e direcionarem a conduta posterior, coloca o
indivíduo, a partir da adolescência, como um ser também em movimento, em
desenvolvimento, nunca estático ou acabado, confrontando-se com tarefas nunca antes
experimentadas e aproveitando-se, entre outras coisas, das vivências anteriores, para
enfrentá-las, dominá-las e superá-las.
Para Erikson, cada etapa do processo evolutivo é marcada por um tema central
que se vincula naturalmente às condições biológicas, evolutivas do ego e exigências
sociais específicas, colocando para o indivíduo um dilema com duas forças opostas que,
pressionando sua conciliação, levam o ego a uma integração.
Cada vez que o indivíduo resolve de maneira satisfatória essa polaridade, ele dá
um passo em direção à maturidade, ou em direção ao delineamento de uma identidade
de ego forte e sadia, possibilitando-o mais e mais elaborar vivências e situações
anteriores, reintegrando-as no contínuo de sua evolução.
Neste sentido, o processo evolutivo é auto terapêutico e eventuais regressões, ao
contrário de negativas, constituem-se fenômenos evolutivos, porque permitem a
reconstituição e integração de experiências.
Ocorre-me aqui um paralelo com o que se dá no nível orgânico, onde a criança
que já caminha volta muitas vezes a engatinhar e, com isto, treina e fortifica as próprias
habilidades motoras.
No ciclo evolutivo, Erikson identifica oito etapas ou estádios coloca-os e as
polaridades criadas como universais. Particulariza as formas de resolução que se
vinculam às diferenças culturais.

2.5) Quinto estádio


Nome: Adolescência
Conflito: Indenidade versus difusão de papéis
Idade: 12 a 18 anos
Uma verdadeira revolução processa-se neste período.
A maturação fisiológica como fonte de novas forças do id, junto a um superego
bombardeado por ditames mais universais, impele o indivíduo a uma redefinição da
própria identidade Pressiona-o a reavaliar-se, a redefinir um “quem sou eu no mundo”,
integrando o passado com suas identificações e conflitos, e o futuro com suas
perspectivas e antecipações.
Define-se por concluído quando o indivíduo subordinou as suas identificações
de infância à uma nova identificação, realizada com a absorção da sociabilidade e a
aprendizagem competitiva com (e entre) os companheiros de sua idade. Essas
identificações forçam o indivíduo jovem a opções e decisões que, com um imediatismo
crescente, levam a compromissos “para toda à vida" (ERIKSON, 1972).
Os progressos tecnológicos, com exigências de maior especialização, têm
ampliado este período, oferecendo maiores riscos de alienação, de confusão da própria
identidade.
Em sociedades primitivas, os rituais de iniciação introduzem os jovens mais
cedo, assim que amadurecem sexualmente, na vida adulta, com todos os seus direitos e
deveres.
A maior dificuldade de acesso ao trabalho especializado, predominante na
sociedade atual, faz com que os adolescentes busquem um espaço próprio, unindo-se
àqueles que se encontram nas mesmas condições. Os pais como elementos de
identificação perdem o seu valor. Os amigos ocupam o seu lugar. O grupo de
companheiros adquire um imensurável valor, possibilitando um questionamento da
própria identidade em um contexto social. Exercendo entre eles diferentes papéis,
espelhando-se, submetendo-se ou não em situações alternadas, o adolescente se vê, logo
se define. Mas os companheiros nem sempre são suficientes e ele busca nos heróis uma
parte de si mesmo. Identifica-se com eles, projeta neles as próprias imagens egóicas
pouco delineadas, procurando-se. Estes variam do cientista ao escritor. Do artista ao
bandido. A sua escolha fica, assim, direcionada pelas oportunidades
oferecidas/encontradas em seu meio.
O indivíduo elege outro, escolhe outro, apaixona-se, testa- se, espelha-se no
outro, busca-se no outro e, encontrando-se, desinteressa-se por esse outro. Erikson
chama atenção para os riscos de um comprometimento neste período em que a busca de
si mesmo é a parte essencial. O definir-se pode trazer implícito um “nada a ver” com o
outro.
A sociedade, dentro desse contexto, deve abrir espaço para o indivíduo se testar,
testar o seu papel, os seus valores, já que uma autodefinição prematura impede o
desenvolvimento integral, mutilando a própria identidade. Erikson fala da necessidade
de uma moratória social, como um tempo necessário para o indivíduo definiu-se,
integrando-se gradativamente no mundo adulto. Um fracasso nessa moratória tem
relação direta com um fracasso pessoal, com consequentes sentimentos de inferioridade,
já que, ainda incapaz, despreparado, se vê comprometido com a sociedade de adultos.
A tentativa de autodefinição traz junto a possibilidade de não definição. De
acordo com Erikson, o fracasso na definição da identidade leva a uma difusão da mesma
O “quem sou eu? ” Perdura. Solicitações externas e internas não se integram. Ora o
movimento do indivíduo dirige-se para um lado, ora para o outro, sem que ele encontre
uma direção integradora. Ele não sabe o que é ou o que quer. A sua síntese não se
realiza.
Muitas vezes a autodifusão é tão incômoda que o indivíduo se submete
inteiramente a um grupo, repetindo seus gestos, valores, roupas, linguagem, com uma
perda aparentemente total da identidade. Não ter identidade é pior que ter a identidade
de um grupo ou qualquer outra identidade, mesmo que negativa.
O importante é que, ao final deste período, o indivíduo tenha definido a sua
identidade e que a autodifusão, ou seja, a possibilidade de se identificar com diferentes
modelos o tenha ajudado na definição do seu próprio modelo.
Somente de posse de uma identidade, um indivíduo poderá entrar em contato
íntimo com outro sem se perder, sem se confundir com ele.
Falamos anteriormente de a necessidade do indivíduo trazer uma integração de
seu passado e futuro. Erikson especifica bem os aspectos dessa integração e fala de um
processo de recapitulação de estádios anteriores e antecipação de estádios futuros, a
partir desse momento. Assim, na adolescência, O indivíduo revive cada um dos estádios
vividos na infância, com um nível diferente de elaboração. O conflito confiança versus
desconfiança é vivido sob a forma de perspectiva temporal versus confusão temporal. O
adolescente depara-se com necessidade de reestruturar o seu tempo, considerando o seu
passado como parte dele, pré-requisito para ter-se tornado o que é. Igualmente
importante é a visualização de seu futuro em função das metas que se propõe alcançar.
Passado e futuro integram-se, assim, em seu presente, impondo-lhe uma redefinição A
definição de uma perspectiva temporal constitui elemento essencial para uma identidade
eu-temporal. Integrar experiências pode ser difícil, levando o indivíduo a alguns
momentos de confusão temporal.
Creio que todo adolescente se depara com momentos, ao menos passageiros,
em que entra em choque com o próprio tempo, essa nova espécie de desconfiança
resulta, rápida e gradualmente, em perspectivas que permitem e exigem um
investimento intenso e até mesmo fanático no futuro ou uma breve conjectura sobre
uma série de futuros possíveis (ERIKSON, 1976).
Erikson fala que a tentativa que o adolescente faz de estruturar o seu tempo
estruturando-se nele, confiando ou não nas próprias possibilidades dentro dele,
assemelha-se à experiência da criança, em seu primeiro estádio de desenvolvimento
onde enfrenta a crise de confiança versus desconfiança de se adaptar à estruturação
temporal até certo ponto imposta por seu ambiente, através dos diferentes ciclos
alimentares conseguindo um sentido de confiança (ou não) no reaparecimento daqueles
capazes de satisfazer suas necessidades.
O adolescente que está assim tentando dar ao seu tempo uma perspectiva, uma
continuidade, está, de uma certa forma, revivendo uma tentativa já feita inicialmente em
seu processo de desenvolvimento.
O adolescente que estrutura o seu tempo, ou ainda que adquire uma perspectiva
temporal, sente uma continuidade em seu processo desenvolvimental, ligando passado,
presente com antecipação de futuro e chegando a uma auto certeza de que atingirá as
metas que se propõe. Dizendo de outra forma, auto observando-se, avaliando as próprias
derrotas e conquistas, o “e adquire, com maior frequência, uma auto certeza com relação
à obtenção do que quer. Num extremo oposto encontra-se aquele que, sentindo-se
observado é envergonhado diante dos “erros cometidos”, inibe-se. Auto certeza versus
inibição constituem os polos opostos desse conflito enfrentado pelo adolescente e
encontram suas raízes na crise do segundo estádio de desenvolvimento, ou seja, de
autonomia versus vergonha e dúvida. Aquele indivíduo que se experimentou como
autônomo, mais provavelmente sentir-se-á seguro diante do futuro. A inibição, de
alguma forma, relaciona-se ao pólo oposto da autônoma, porque revive a vergonha e
dúvida em relação à própria capacidade.
A iniciativa versus culpa vivida na terceira “idade do homem” é revivida na
adolescência sob a forma de experimentação de papel versus fixação de papel. O
adolescente, mais do que a criança, já que física e mentalmente mais desenvolvido,
sente premente a necessidade de definir que tipo de pessoa quer ser e que lugar quer
ocupar no contexto social. O permitir-se experimentar diferentes papéis, leva-o a
encontrar aquele que mais se adapta ao seu jeito de ser uma definição prematura, seja
ela por pressões ou necessidades ambientais, ou por uma embaraçosa situação de não
saber se movimentar entre as numerosas possibilidades de escolha, pode levar a uma
fixação de papel que lembra o efeito bloqueador da culpa sobre a iniciativa.
O sentido de competência na realização de tarefas — produtividade — ou o seu
oposto, o sentido de inadequação e inferioridade, relacionam-se diretamente com o
conflito de aprendizagem versus paralisia operacional vivido pelo adolescente. A
escolha de um trabalho ou a realização de uma vocação dependem do sentimento
desenvolvido de se ser capaz de realizar bem algumas coisas. Uma incapacidade de
escolha ou, ainda, uma paralisia operacional encontra suas bases no sentimento de
inferioridade presente na quarta idade do homem. O sentido de inferioridade leva o
indivíduo a sentir-se incapaz de fazer escolhas profissionais, de realizar alguma coisa
adaptada às exigências tecnológicas de seu ambiente. Uma vez feita a escolha, esta
interferirá diretamente na delimitação da própria identidade e, ainda mais, na posição
que essa identidade passará a ocupar no âmbito social o que, por sua vez, possibilitará
uma redefinição das fronteiras individuais. Tentar experimentar diferentes opções torna-
se, assim, fundamental já que se escolhe algo em função do que se é, mas o escolhido
interfere diretamente nele, redefinindo-o.
Além dessa espécie de recapitulação de estádios anteriores, ocorrida na época da
adolescência, Erikson propõe que, neste período, o indivíduo antecipa, com um nível
próprio de elaboração, conflitos posteriores da sua vida.
Falaremos desses conflitos e da recapitulação que o adolescente faz deles, logo
após tratarmos brevemente da adolescência nos Kibbutz.
Nos Kibbutz a identidade é mais grupal do que pessoal. A vida é em função do
grupo e é ele quem define a identidade de seus membros. O adolescente não se sente só,
não permanece sozinho é não tem outros modelos que possa vir a imitar, difundindo- se
com eles. Não existe uma luta por uma identidade de natureza pessoal.
Até quando isso é bom...? o que dever ser definido como melhor...? a questão da
adaptação desses adolescentes em outros meios são questões pertinentes merecedoras de
reflexão.

2.6) Sexto estádio


Nome: Adulto jovem
Conflito: Intimidade versus isolamento
Idade: 20 a 30 anos
Erikson toma o termo intimidade em um sentido bem amplo, podendo o adulto
jovem encontrá-la no trabalho, no casamento, no relacionamento social e sexual, no
amor. Impõe como condição necessária, a identidade. “Só quando a formação da
identidade está em pleno desenvolvimento é que a verdadeira intimidade — que é o
contraponto assim como uma fusão de identidade — é possível. ” (ERIKSON, 1976).
Só o indivíduo inteiro “pode se soltar sem se perder”, pode se auto abandonar é
sucessivamente se encontrar mais firmemente inteiro e auto delineado donde a
intimidade só é possível na medida da própria capacidade de independência. Em outras
palavras, ser capaz de intercâmbios responsáveis no amor, trabalho, lazer... é o critério
mais seguro para se julgar uma personalidade madura, realizada. E isto só é possível na
exata proposição em que se preencheu a condição anterior de estabelecimento da
identidade.
Auto abandonar-se significa envolver-se sem nada querer provas, quer
superioridade, capacidade, masculinidade... feminilidade... poder.... Engajar-se
profundamente com o outro traduz-se em ser no outro e com o outro, o que exige
nomear as próprias emoções com seus verdadeiros nomes, no misto de motivos que
envolve os relacionamentos humanos. Exige redefinição e reavaliação próprias no
contínuo do aproximar-se do “Este sou eu”.
A intimidade é, assim, uma resposta à identidade e esta é fortemente ampliada
por aquela.
Uma identidade mal definida teme abandonar-se por receio de perder-se, e
realmente se perde, por não conhecer os próprios limites. Restringem-se, assim, cada
vez mais, as oportunidades de sua expansão, e advém daí a sensação desolamento.
Inicialmente uma sensação, posteriormente um e distanciamento proposital de pessoas
que, de uma forma ou de outra, ameaçam a identidade fragilmente delineada.
O outro polo da intimidade é, assim, o isolamento. E quando a intimidade é
buscada com a finalidade de vencê-lo, o preço pago é bem alto, porque leva a um
isolamento ou vazio ainda maior.
Na intimidade há uma fusão. É um dar-se e encontrar-se a um só tempo, quando,
temporariamente, se ultrapassa a barreira entre identidades.
Fazendo aqui uso dos termos MAPA e TERRITÓRIO, um relacionamento
íntimo traduz-se, para mim, por uma relação TERRITÓRIO-TERRITÓRIO.
Um fragmento de um caso que acompanhei acredito ser ilustrativo.
C, 27 anos, curso superior, morena escura, sexo feminino, vinha tendo
frequentes crises de ansiedade, agravadas diante da iminência de seu casamento.
Namoro e noivado longos, totalizando cerca de onze anos, eram marcados por
frequentes rompimentos por parte dela, seguidos de busca de novos parceiros,
insatisfações, volta ao namoro antigo. Dentre os inúmeros dados significativos dessa
situação, evidenciou-se um: O profundo sentimento de inferioridade de C., não
integrado em sua identidade e projetado em seus parceiros. Percebê-los como interiores
faziam-na desinteressar-se por eles, procurando sempre um outro que desse a ela, e até
quando desse, o sentido de valor que lhe faltava. Só a redefinição de sua identidade
permitiu a ela elaborar, de maneira satisfatória, esse sentimento, sofrido e estrangulador
que, no entanto, lhe pertencia. Era só seu. E durante todos esses anos colocado no outro
ou nos outros.
Na intimidade sexual, Erikson coloca o orgasmo como a condição fisiológica
mínima necessária, ainda que não suficiente. Concomitante deve existir uma experiência
prazerosa geral, “uma sensação de plenitude e prazer” (LOWE, 1972).
Medir a intimidade sexual assim definida torna-se bastante difícil, já que é só
realizável na intimidade, envolvendo uma série de subjetividades tais como “satisfação
psicológica”.
As pessoas neuróticas, no íntimo, preferem incorporar ou reter, eliminar ou
entrosar a desfrutar da mutualidade dos padrões genitais. Muitas outras preferiram ser
dependentes ou ter alguém sob sua dependência, destruir ou ser destruídas, a amar
maduramente, o que muitas vezes ocorre mesmo quando o indivíduo não é
manifestadamente neurótico em qualquer sentido classificável, diagnosticável e
curável. (ERIKSON, 1972)
Sexo e amor, obrigatoriamente, não caminham juntos embora também difícil
uma conceituação precisa de cada um deles. De qualquer forma, o sexo é colocado
como mais inconsciente e biológico e o amor como mais consciente seletivo ainda que,
em algum grau, também fatores inconscientes o determinem.
Medir intimidade no amor é igualmente difícil e diz-se que ela existe se inexiste
qualquer intenção de provas, de se firmar que se é bom, inteligente ou poderoso.
No trabalho a intimidade manifesta-se pelo predomínio da cooperação sobre a
competição.
Dentro do existencialismo, o termo “encontro” parece, para mim, e O mesmo
sentido do conceito de intimidade de Erikson. Nele, o “encontro” significa uma forma
especial de relação onde prevalece uma verdadeira comunicação, onde o exterior de
cada um constitui um retrato fiel do próprio interior. “É através de encontro que o outro
não é mais impessoal, um 'ele ou ela”. Mas se Sema para o meu 'eu” um “você! Sensível
e próximo. ” (BUBER 1958). O que é de básica importância aqui, entretanto, é que não
obstante a necessidade de uma verdadeira fusão de personalidades para que haja o
“encontro” cada uma delas deve preservar a sua individualidade ou ainda deve continuar
possuindo à própria identidade, Só um verdadeiro encontro ou ainda uma verdadeira
intimidade leva a verdadeiros amigos, companheiros e amantes. E ainda mais, é através
dele que se tona possível um crescimento pessoal, uma redefinição e ampliação da
própria identidade. Com a intimidade, cada vez mais a identidade redefine-se fortalece-
se tornando-se apta a enfrentar a crise típica da próxima etapa da vida, ou seja, da idade
adulta
A intimidades nos Kibbutz seria possível?
Até quando o viver somente em grupo e a “quase” proibição de se ficar só
impede um verdadeiro “Este sou eu”, é uma questão por demais complexa quando se
faz uma análise "de ora” Ficam conjecturas.

2.7) Sétimo estádio


Nome: Adulto
Conflito: Generatividade versus estagnação
Idade: 30 a 60 anos.
Um indivíduo com uma identidade bem delineada e capaz de intimidade está
apto a tornar-se generativo, ou seja: está preparado para “transar” de maneira efetiva
com seus descendentes, sejam eles filhos, alunos, clientes, subordinados...
Generatividade define-se como um interesse e capacidade de orientação e cuidado com
eles. Traduz-se pela capacidade de dar uma contribuição efetiva à sociedade, seja
orientando e cuidando dos próprios filhos, de outras pessoas, liderando grupos
diretamente ou mesmo indiretamente, pela influência que exerce sobre eles.
“O homem maduro precisa sentir que é um ser necessário e a maturidade é
dirigida, pela natureza, a cuidar daqueles que ainda deverão atingi-la. ” (ERIKSON,
1976)
Generatividade tem um sentido amplo e ter filhos, somente, alunos ou clientes
não garante a sua realização. O que a evidencia é, antes, a postura diante deles,
orientando-os, ocupando-se de seu bem-estar e felicidade. Ela pode manifestar-se
também elas obras criativas de cada um. Alguns escrevem livros que, de uma forma ou
de outra, podem interferir no bem-estar de outros; podem inventar ou formular ideias
novas ou novos processos de realização de tarefas, em benefício da maioria... e assim
por diante. Todas essas atitudes têm como denominador comum uma responsabilidade
social e, portanto, vão além de 1 cuidar de outros; implícita, encontra-se a ideia de
cuidar com responsabilidade, com conhecimento da influência que, direta ou
indiretamente, se exerce sobre os outros.
Uma atitude generativa, que pressupõe intimidade e identidade, contribui
sobremaneira para ambas as partes, é circular e dialética.
O polo oposto da generatividade é a estagnação, traduzida por excessiva
preocupação consigo próprio, não sobrando energia, disponibilidade ou tempo para a
orientação de outras pessoas e resulta num atuar mecânico, imposto por um “tem que”,
externo, vazio de conteúdo pessoal.
A estagnação que impede o cuidar de outros com responsabilidade,
possibilitando-lhes o crescimento, bloqueia o próprio crescimento pessoal, já que
inviabiliza as trocas, importantes ao redelincamento sadio da própria identidade.
A um dado momento, pelas próprias contingências da vida, tornamo-nos “pais”
de nossos filhos, alunos, clientes... passamos de subordinado a diretor, de assistido, a
assistente... Se não tivermos bem delineada a nossa própria identidade e não formos
capazes de intimidade, é bem provável que as situações tornem-se inconsistentes,
porque a suposta orientação ao outro, para a sua melhor produção e atuação, nada mais
é do que uma forma camuflada de egoísmo pessoal que assegura o próprio poder e bem-
estar.
Aqui também farei referência a um caso que acompanhei.
Y, 30 anos, cabeleireira, casada, uma filha de 14 anos, grau secundário
incompleto, boa situação econômico-financeira.
À época da primeira entrevista que tive com ela, mãe e filha só se comunicavam
por intermédio do pai. A situação cada vez mais insustentável, culminou com a procura
de uma ajuda profissional pela mãe, que alegava não aguentar mais a “crise de
adolescência” da filha.
Mãe jovem, bem cuidada, um estilo “hippie” requintado, na realidade aparentava
ser bem mais nova, o que a deixava muito feliz.
Numa análise um pouco mais profunda, além da aparência, da vestimenta
semelhante à da filha, a mãe “era” a filha identificava-se com ela, talvez mesmo
confundia-se com ela Como se não bastasse, a isto aliava-se o seu inconformismo,
inconsciente, de não ter tido, quando ela própria tinha 14 anos, todo o “luxo” e
“mordomias” que sua filha, com 14 anos, podia desfrutar. Com esta idade, a mãe
trabalhava em casa de família de onde saiu para se casar.
Não podendo estender-me muito, quero deixar claro que as coisas só começaram
a mudar quando o amor e o ódio que a mãe sentia pela filha se esclareceram e
integraram, e a identidade pessoal começou a emergir do amontoado de fantasmas e
fantasias que se misturavam numa verdadeira confusão no “quem sou eu”.
Importante também se torna a salientar que a generatividade é algo bastante
dinâmico e as funções generativas se alteram a cada tempo. A generatividade que se
manifesta no cuidado com os filhos, cessa sua oportunidade de expressão quando estes
se vão. A do professor, quando este se aposenta. Resta a postura generativa, atenta às
oportunidades para sua expressão.
Em termos de MAPA e TERRITÓRIO, penso que só aqueles que exploram bem
o próprio TERRITÓRIO, não se deixando levar pela submissão ao MAPA, conseguem
ser generativos, já que possuidores de uma identidade própria e capazes de intimidade.

2.8) Oitavo estádio


Nome: Maturidade
Conflito: Integridade versus desgosto/desesperança
Idade: a partir de 60 anos
No final do ciclo vital, época em que o físico não mais corresponde aos padrões
sociais ideais, já que sempre avaliado segundo normas aplicáveis a indivíduos bem mais
novos, o indivíduo enfrenta uma série de dificuldades. Não obstante isso Erikson afirma
a existência, em muitos casos, de uma velhice | sadia e saudável, onde predomina a
integridade. Não só os acontecimentos no momento em que a velhice ocorre são
responsáveis por essa integridade, mas também, e sobretudo, aqueles da vida passada do
indivíduo. Aquele que bem definiu sua identidade, que na intimidade reencontrou-se e
responsabilizou-se por outras pessoas e pelas próprias criações, numa genuína
generatividade, pronto está para enfrentar o que há de positivo e negativo no final do
próprio ciclo vital. Nestas circunstâncias, há a aceitação da própria vida, da forma como
ela correu.
Longe de ser uma postura fatalista é, antes, uma postura de não lamentação. Os fatos
ocorridos foram experimentados, vividos, deixando o saldo positivo do conhecimento.
Integridade é aceitação de seu ciclo vital único e das pessoas que se tornaram
significativas e indispensáveis à sua vida, não permitindo, por isso, substituição.
Significa, assim, um novo e diferente amor pelos próprios pais, liberto do desejo de que
eles poderiam ter silo diferentes, e uma aceitação do fato de que cada um é responsável
por sua própria vida. (ERIKSON, 1976).
O passado é reavaliado dentro de um contexto de vida que só faz sentido e só
pode existir englobando todos os seus aspectos, senão constituiria o passado de uma
outra pessoa, um outro ciclo vital.
A realidade de um futuro menor do que o passado implica, por si só, uma
reavaliação do presente: Desta forma, o presente, na velhice saudável, inclui elementos
impossíveis em outras épocas da vida porque, além de tudo, inclui a morte como
ocorrência iminente.
Enquanto para a criança a morte não existe, pelo menos como realidade, para os
adolescentes, ainda que ela exista para os outros, não constitui uma realidade para si
próprio, para os adultos ela começa a constituir-se uma realidade concreta, e para os
velhos, sua iminência pressiona sua existência como constitutiva da própria vida, muitos
contemporâneos “se vão” marcando a inevitabilidade dela em cada um de nós.
Na integridade da velhice o indivíduo estende os limites de sua própria
existência ... “pois ele sabe que uma vida individual é a consciência acidental de um
único ciclo vital com um único segmento da história; e que para ele toda a integridade
humana dá e mantém e coincide com aquele estilo de integridade compartilhada”.
(ERIKSON, 1976).
Sabedoria é o termo que, posteriormente. Erikson associou a integridade.
No lado oposto da sabedoria, da integridade, encontra-se a desesperança, o
desgosto. Pressionado pelos estereótipos culturais e, muitas vezes, imerso numa vida
“não vivida”, o indivíduo parte para as lamentações, para a desesperança. Inconformado
com a própria vida, com a realidade da morte e impossibilitado de refazer tudo em um
espaço de tempo visivelmente curto, o indivíduo desespera-se.
A falta ou a perda dessa integração acumulada do ego é simbolizada no temor
da morte; o uno e único ciclo de vida não é acerto como o limite extremo da vida A
desesperança exprime o sentimento de que o tempo já é outro, demasiado curto para a
tentativa de começar outra vida é para experimentar rotas alternativas para a
integridade. O descontentamento de si mesmo oculta a desesperança, ainda que quase
sempre na forma de “mil pequenos desgostos" que vão além de um pequeno remorso:
“mille petits clegôuts de soi, dont le total ne fait pas un remords, mais un gêne obscure
Rostand " (ERIKSON, 1976).
O indivíduo neste período, com toda uma vida passada e | com poucas
perspectivas de futuro, deve dar sentido à própria existência, para ser mais feliz.
O adolescente antecipa os conflitos do adulto jovem, do adulto e do velho. Essa
antecipação juntamente com a recapitulação que faz do seu passado compõem os seus
projetos de vida.
O conflito de intimidade versus isolamento do adulto Jovem. O adolescente
antecipa sob a forma de polarização sexual versus confusão bissexual.
A intimidade sexual iminente exige uma prévia definição da identidade sexual.
Definir-se como homem ou como mulher e a confiança na própria masculinidade ou
feminilidade requerem uma reavaliação de si mesmo dentro do próprio contexto social.
O ideal de masculinidade e feminilidade variam de uma cultura para outra e, em
muitos aspectos, homem e mulher assemelham-se. O adolescente na tentativa, muitas
vezes ansiosa, de auto definir-se, pode confundir-se numa relação sexual precoce para a
qual não se encontra preparado. Algumas vezes, receoso, retarda qualquer contato mais
íntimo, perturbando igualmente o seu processo de definição.
A antecipação da generatividade versus estagnação é vivida sob a forma de
liderança e sectarismo versus confusão de autoridade. Convivendo num mundo social
cada vez mais amplo, assumindo diferentes papéis em situações diversas, o adolescente
exercita-se para situações futuras de direção e comando. Vivencia o liderar e o seguir
nas diferentes circunstâncias que, devido sua diversidade, podem levar à confusão de
autoridade.
A integridade versus desesperança da última fase da vida, é antecipada pela
busca de uma ideologia própria devida, uma redefinição dos valores carregados desde a
infância, centro de uma maior unidade pessoal. O seu fracasso, traduzido pela confusão
de valores, compromete a integridade necessária à sua evolução pessoal. A essa
antecipação, Erikson dá o nome comprometimento ideológico versus confusão de
valores.
Contrastando o envelhecimento numa sociedade industrializada com a que
poderá ocorrer nos Kibbutz, e equiparando os Kibbutz a sociedades primitivas, penso na
maior dificuldade de integridade dos tempos atuais, onde a pessoa mais idosa perde o
seu lugar e, socialmente, a sua importância.
Num local onde o idoso, com sua bagagem de experiência, é buscado para
orientação, menor é a probabilidade de ele vir a sentir-se desgostoso, porque continua a
sentir-se importante dentro do contexto social.
Dois quadros finalizam nossa exposição da teoria de Erikson (ver p. 142, 143).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Todas as minhas tentativas de acesso a uma maior bibliografia de Erikson foram
fracassadas, aqui e no exterior, no tempo que me foi possível.
Mas identifico-me muito com o seu pensamento, que me parece claro,
transparente, confirmado em seus relatos de experiências, no meu trabalho clínico e no
meu quotidiano.
A questão da modalidade espacial, para mim, entretanto, permanece como
dúvida.
A questão de gênero, mais flexível nos tempos atuais, tem determinado
prerrogativas mais amplas e muitas vezes coincidentes em diferentes áreas, o que me faz
pensar numa submissão do orgânico ao social.
SHAW, G Bernard (1856 - 1950) Nasceu em Dubln Dramaturgo, crítico e ensaísta wlandês, recebeu o prêmio Nobel de Literatura em 1925 Para ele o palco
era uma oportunidade para apoiar a reforma social.
JAMES, Wilham (1842 - 1910). Estudou Anatomia e Fisiologia e, posteriormente, Psicologia e Filosofia. Escreveu Principies of Psychology em
1890 dando grandes contribuições para o estudo das emoções e cos 104 instintos.

CARVALHO, Vânia Brina Corrêa Lima de. Desenvolvimento Humano e Psicologia:


generalidades, conceitos e teorias. Belo Horizonte UFMG, 1996.

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