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Profª Ivana Maria Saes Busato

BIOÉTICA
AULA 6
Aluno: ADRIANO DUARTE DE MELO
Email: adrianosnow@gmail.com
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Aluno: ADRIANO DUARTE DE MELO

CONVERSA INICIAL

Ética, bioética e deontologia

A ética, a bioética e a deontologia podem formar profissionais


comprometidos com a sociedade (Hellmann; Verdi, 2014, p. 537). Como lembram
Dantas e Sousa (2008, p. 515), “a bioética é uma ponte para um futuro mais
solidário e sadio, a ser construído com mudanças comportamentais advindas da
reflexão e análise de crenças e valores pessoais ou institucionais”.
Nesta aula, propomos mostrar as diferenças e aproximações entre a ética,
bioética e deontologia na formação de profissionais comprometidos com a defesa
dos direitos humanos, do meio ambiente, das condições profissionais e da
sociedade.

TEMA 1 – ÉTICA E MORAL

A moral é um conjunto de normas que regulam o comportamento do


homem em sociedade, e elas são adquiridas pela educação, pela tradição e pelo
cotidiano. Por isso a formação moral do indivíduo tem seu auge nas vivências
familiares, sociais e escolares, na infância e na juventude (Morano, 2003).
A análise da moral responde à pergunta “o que devo fazer?”, e é diferente
dos valores que respondem à pergunta “o que é importante?”. Algo importante,
que tem valor para um indivíduo ou sociedade, pode ser impedido de ser feito se
estiver contra as normas que regulam o comportamento do homem em sociedade.
Trata-se da moralidade, palavra do latim que significa “realizar a melhor escolha
dentre as possíveis”, considerando todas as circunstâncias nas quais existam
conflitos entre valores diferentes.
O valor tem caráter objetivo e pode ser positivo ou negativo. Buscamos as
qualidades reais das pessoas, coisas, ações, instituições e sistemas, que nos
permitem analisar o mundo e modificá-lo para vivermos nele plenamente (Finkler;
Caetano; Ramos, 2013).
Já a ética, de maneira simplificada, vem do grego ethos, que indica o
caráter (qualidades pessoais para a conduta e a atitude), conduzindo-nos à
pergunta “por que devo agir assim?”. Para isso, ela se fundamenta em três pré-
requisitos: percepção dos conflitos (consciência); autonomia (condição de se
posicionar entre a emoção e a razão); e a coerência.

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O debate da ética do cuidado e da empatia deve ser incorporado na


formação dos profissionais de saúde no Brasil (Mayernyik; Oliveira, 2016),
considerando que esse ofício exige o desenvolvimento de capacidades para uma
assistência humanizada, de alta qualidade e resolutividade (Finkler; Caetano;
Ramos, 2013), sendo possível responder ao questionamento “por que devo agir
assim?”, buscando maximizar os benefícios da assistência e minimizar os danos.

TEMA 2 – DEONTOLOGIA E BIOÉTICA

A palavra deontologia vem do grego déon, déontos, e significa “dever”, e


logos, que se traduz por “discurso” ou “tratado”. Sendo assim, a deontologia seria
o tratado do dever ou o conjunto de deveres, princípios e normas adotadas por
determinado grupo profissional.
A palavra grega ethika (ethos) vem do caráter das pessoas e da moralidade
das suas ações; e a ética profissional é a moralidade das ações de uma
determinada profissão para a sociedade. Disso decorre a possibilidade da
ocorrência de conflitos em toda situação profissional no plano individual, coletivo,
de instituições ou entes jurídicos.
A deontologia, como disciplina, ensina as normas que regem a profissão.
Contudo, Dantas e Sousa (2008) destacam que essas normas devem formar a
criticidade nos profissionais de saúde, incluindo concepções de mundo e
sociedade que embasem seus princípios, regras e critérios.
Isso faz sentido quando sabemos que um dilema ético permeia a cultura, a
filosofia e os valores de uma sociedade. Portanto, as normas e regras profissionais
vêm da pluralidade de seus diferentes contextos culturais. Na graduação
acadêmica, as relações intersubjetivas da vivência escolar também contribuem na
formação ética do aluno; Hellmann e Verdi (2014) indicam que a ética, a
deontologia e a bioética podem formar profissionais capazes de refletir
criticamente sobre sua prática.
A corrente puramente ligada à ética deontológica defende que as normas
e regras devem ser discutidas e aprovadas pelo grupo ou categoria atingida,
incluindo as legislações formuladas pelo Estado (Abreu, 2018). Essas normas e
regras são compiladas nos códigos de ética, demonstrando uma ética prescritiva,
descritiva e formal.
Para contribuir na formação de profissionais de saúde, é importante
aproximar e diferenciar os conceitos de ética, bioética e deontologia. Podemos

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dizer que a ética é um espaço de reflexão sobre a moralidade, que considera o


padrão ideal do que seria bom para o indivíduo e para a sociedade; a deontologia
é o estudo do conjunto de normas morais compiladas no código de ética
profissional, que os membros de determinada categoria profissional devem seguir
(Hellmann; Verdi, 2014); e a bioética seria a ética aplicada, o alinhamento entre
a ética e a deontologia, essenciais na formação profissional.
Dantas e Sousa (2008) destacam as palavras de Paulo Freire: “somos
seres condicionados, mas não determinados”, ou seja, a necessidade da ética se
instaura no domínio da decisão, avaliação, liberdade e ruptura, impondo a
responsabilidade pela defesa e prática da ética universal do ser humano.
A bioética possibilita o estudo sistemático das dimensões morais, utilizando
uma variedade de preceitos e metodologias oriundas do contexto interdisciplinar,
pensadas com base na sociedade, na cultura e nos valores morais da civilização
contemporânea (Hellmann; Verdi, 2014).
Conforme Pyrrho et al. (2009), “ao detectar as semelhanças e divergências
entre a deontologia e a bioética, é possível delimitar quais vantagens e
desvantagens cada referencial possui e otimizar a contribuição que podem
oferecer, gerando assim instrumentos mais adequados na atividade profissional”
(p. 1.912).
A bioética e seu enfoque transdisciplinar, respeitando o pluralismo moral,
não contrapõem a deontologia como “disciplina autônoma, [mas] contribui na
análise e mediação dos conflitos gerados na aplicação das mais diversas áreas
de conhecimento relacionadas às ciências biomédicas e da saúde” (Pyrrho et al.,
2009, p. 1.912). A aproximação da deontologia e da bioética na formação
profissional traz um “dever de agir” que vai além das normas e regras prescritas.

TEMA 3 – CÓDIGOS DE ÉTICA

Os códigos de ética têm caráter legalista, formal e prescritivo, como uma


lei positiva, composta de normas e regras que devem ser seguidas, dispondo de
penalidades no caso de seu descumprimento. Eles apresentam um conjunto de
normas de conduta com função reguladora da “ética” aplicada a determinado
grupo social, seja profissional ou organizacional.

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3.1 Código de ética profissional

Os primeiros códigos foram elaborados por comissões para esse fim, com
a criação de conselhos federais, associações representativas e demais entidades,
organizando conferências e se aproximando da realidade dos profissionais da
área. Todas as categorias profissionais regulamentadas no Brasil devem produzir
e publicar seu código de ética.
Os códigos profissionais traduzem a moralidade corporativista como um
aval da corporação, buscando integrar a formação técnica com a formação ética.
Hellmann e Verdi (2014, p. 537) lembram que as discussões deontológicas não
devem se voltar exclusivamente ao campo profissional; devem ter um olhar mais
abrangente, agindo como instrumento de reflexões críticas à prática social da
profissão para a sociedade.
Os códigos de ética profissionais são construídos para contemplar três
domínios essenciais na formação ética e técnica do exercício profissional:
psicomotor, cognitivo e afetivo. O primeiro apresenta as habilidades, a
percepção e predisposição na execução da atividade profissional; o segundo
exibe o conhecimento, a compreensão e sua aplicação no exercício da profissão;
e o terceiro traduz as atitudes que a ética efetivamente apresenta enquanto
normas e regras.

3.2 Código de ética e conduta

O código de ética (ou código de ética e conduta) é um instrumento que


impõe os princípios, a visão e a missão de uma empresa, orientando as ações de
seus colaboradores e explicitando a postura social da empresa em face dos
diferentes públicos com os quais interage.
Barroso (2000) ressalta que não existe legislação específica para as
empresas adotarem um código de ética, porém, diante da concorrência, da
importância da transparência e do combate à corrupção, essa estratégia tornou-
se necessidade imperiosa. O autor também destaca que um código de ética
proporciona uma oportunidade única de os indivíduos, organizados politicamente,
se autorregularem, impondo um padrão de conduta que garanta a plena liberdade
de agir de todos, mas com respeito ao próximo e dentro de um padrão mínimo de
conduta moral.

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Faria (2018) aponta a importância de as organizações estabelecerem o


código de conduta e ética, seja pela conscientização do trabalhador, seja para
estabelecer suas obrigações expressas em relação aos demais stakeholders
(clientes, fornecedores, alta gerência, entre outros).
O código de ética e conduta pode prevenir a corrupção, estabelecer as
melhores condutas entre os stakeholders e expressar a imagem da empresa
perante a sociedade pelos seus valores, sua missão e visão. Ele deve refletir na
atitude das pessoas a que se dirige e ter respaldo na alta administração, na
educação, no treinamento e no desenvolvimento dos empregados (Martins, 2003).

TEMA 4 – PESQUISAS EM HUMANOS

As pesquisas em seres humanos no Brasil influenciaram o


desenvolvimento da bioética latino-americana, participando da luta e da conquista
do Sistema Único de Saúde (SUS). A Constituição de 1988 traz o respeito irrestrito
à dignidade da pessoa humana e promoção do bem de todos, sem nenhum tipo
de preconceito ou discriminação, coadunando-se com os documentos
internacionais sobre ética, direitos humanos e desenvolvimento.
Trata-se de pesquisas que, individual ou coletivamente, envolvam o ser
humano, de forma direta ou indireta, em sua totalidade ou em partes, incluindo o
manejo de informações ou materiais. Essas pesquisas estão sob a
responsabilidade do SUS, que é comissão permanente do Conselho Nacional de
Saúde (CNS), como veremos a seguir.

4.1 Regulamentação brasileira

As pesquisas com seres humanos no Brasil são coordenadas pela


Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), instância colegiada, de
natureza consultiva, deliberativa, normativa, educativa, independente, vinculada
ao CNS.
As Leis n. 8.080/1990 e 8.142/1990 foram as primeiras a regulamentar
pesquisas com seres humanos, criando o Sistema CEP/Conep, que institui a
coordenação do sistema pelo Conep e cria normas e registros dos comitês de
ética em pesquisa estabelecidas nas organizações assistenciais e educacionais.
A Resolução n. 196/1996 foi atualizada pela Resolução n. 466/2012 para
incluir deliberações posteriores a 1996, refletindo as grandes descobertas

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científicas e tecnológicas dos séculos XX e XXI, em especial a Declaração de


Helsinque, adotada em 1964, e suas versões posteriores (1975, 1983, 1989, 1996
e 2000), que alteraram o uso de placebo, pesquisas com uso de tecnologia, entre
outras questões. A resolução também incorporou as diretrizes e os princípios da
Declaração Universal sobre o Genoma Humano e os Direitos Humanos (1997),
da Declaração Internacional sobre os Dados Genéticos Humanos (2003), e da
Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos (2004).
A Resolução n. 510/2016 descreve as normas aplicáveis a pesquisas em
ciências humanas e sociais cujos procedimentos metodológicos envolvam dados
diretamente obtidos com os participantes, informações identificáveis ou que
tragam riscos maiores que os existentes na vida cotidiana.
O Quadro 1 apresenta as demais resoluções normativas para pesquisas
com seres humanos.

Quadro 1 – Resoluções de pesquisas com seres humanos

Resolução Objetivo

CNS n. 240/1997 Define o termo usuários para efeito de participação dos


comitês de ética em pesquisa das instituições.

CNS n. 251/1997 Aprova as normas de pesquisa que envolvem seres


humanos para a temática de pesquisa com novos fármacos,
medicamentos, vacinas e testes diagnósticos.

CNS n. 301/2000 Manifestação contrária às alterações propostas à


Declaração de Helsinque de 2000, referente ao uso de
placebo diante da existência de métodos diagnósticos e
terapêuticos comprovados.

CNS n. 304/2000 Aprova normas para pesquisas que envolvem seres


humanos na área de povos indígenas.

CNS n. 292/2002 Regulamenta a cooperação estrangeira.

CNS n. 340/2004 Aprova as diretrizes para análise ética e tramitação dos


projetos de pesquisa da área temática especial de genética
humana.
CNS n. 346/2005 Regulamenta a tramitação de projetos de pesquisa
multicêntricos no sistema de comitês de ética e do Conep.
CNS n. 370/2007 Regulamenta o registro, credenciamento ou renovação de
comitês de ética em pesquisa.
CNS n. 441/2011 Aprova as diretrizes para análise ética de projetos que
envolvam armazenamento de material biológico humano ou
uso de material armazenado em pesquisas anteriores.

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CNS n. 446/2011 Atualiza o regimento interno do Sistema


CEP/Conep/CNS/MS, criado pela Resolução CNS
n. 196/1996.
CNS n. 506/2016 Aprova o processo de acreditação de comitês de ética em
pesquisa (CEP) que compõem o Sistema CEP/Conep.
CNS n. 563/2017 Regulamenta o direito do participante de pesquisa ao acesso
pós-estudo a protocolos de pesquisa clínica destinados a
pacientes diagnosticados com doenças ultrarraras.
CNS n. 580/2018 Regulamenta o disposto no item xiii.4 da Resolução CNS
n. 466/2012, a qual estabelece que as especificidades éticas
das pesquisas de interesse estratégico para o SUS serão
contempladas em resolução específica.

Fonte: Busato, 2020, com base em Conep, [S.d.].

A Norma Operacional n. 001/2013 dispõe sobre a organização e o


funcionamento do Sistema CEP/Conep e sobre os procedimentos para submeter,
avaliar e acompanhar a pesquisa com seres humanos no Brasil.

4.2 Princípios e normativas para pesquisas com seres humanos no Brasil

O primeiro princípio das pesquisas com seres humanos é o respeito à


dignidade humana. Para isso, é obrigatório que toda pesquisa seja feita com o
consentimento livre e esclarecido dos participantes, indivíduos ou grupos
que, por si e/ou por seus representantes legais, manifestem anuência à
participação. Esse consentimento é estabelecido pelo Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE), elaborado em linguagem acessível, descrevendo o
objetivo da pesquisa, seus riscos e benefícios (Brasil, 2012).
Se os sujeitos forem crianças, adolescentes, pessoas com transtorno,
doença mental ou sem capacidade de decisão, deverá haver justificativa clara de
sua escolha e pais ou responsáveis devem se manifestar pelo TCLE. Nesses
casos, é necessário o Termo de Assentimento, elaborado em linguagem acessível
para os menores ou para os legalmente incapazes, por meio do qual explicitam
sua anuência em participar da pesquisa, sem prejuízo do consentimento de
seus responsáveis legais.
Esses pontos contemplam o princípio da autonomia da bioética
principialista. Os princípios da beneficência e não maleficência são exigidos na
descrição pormenorizada da metodologia e nos objetivos da pesquisa, além dos
riscos e benefícios que a pesquisa pode trazer. A Resolução n. 466/2012 define
benefício da pesquisa como “proveito direto ou indireto, imediato ou posterior,
auferido pelo participante e/ou sua comunidade em decorrência de sua

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participação na pesquisa”, enquanto o risco da pesquisa é a “possibilidade de


danos à dimensão física, psíquica, moral, intelectual, social, cultural ou espiritual
do ser humano, em qualquer pesquisa e dela decorrente” (Brasil, 2012).
Toda pesquisa tem potencial de provocar riscos e benefícios. Cabe aos
pesquisadores o equilíbrio entre eles, buscando maximizar os benefícios e
minimizar ao máximo os riscos. O respeito e o cuidado com a vulnerabilidade de
pessoas ou grupo de pessoas devem ser bem estabelecidos na elaboração do
protocolo de pesquisa, para não reduzir nem impedir a capacidade de
autodeterminação, tampouco insinuar qualquer comportamento tendencioso,
sobretudo no que se refere ao TCLE.
A Conep, além de regular e coordenar o Sistema CEP/Conep, também
analisa pesquisas em áreas temáticas especiais, como:

• Genética humana;
• Reprodução humana;
• Farmácia, medicamentos, vacinas e testes diagnósticos novos (fases I, II e
III) ou não registrados no país (ainda que na fase IV), ou quando a pesquisa
demandar seu uso com modalidades, indicações, doses ou vias de
administração diferentes das estabelecidas, incluindo seu emprego em
combinações;
• Novos equipamentos, insumos e dispositivos para a saúde, ou não
registrados no país;
• Novos procedimentos ainda não consagrados na literatura;
• Populações indígenas;
• Projetos que envolvam aspectos de biossegurança;
• Pesquisas coordenadas do exterior ou com participação estrangeira, e
pesquisas que envolvam remessa de material biológico para o exterior;
• Projetos que, a critério do CEP, devidamente justificados, sejam julgados
merecedores de análise pela Conep.

A Resolução n. 510/2016 aponta as pesquisas que não serão registradas


nem avaliadas pelo Sistema CEP/Conep, como:

• Pesquisa de opinião pública com participantes não identificados;


• Pesquisa que use informações de domínio público;
• Pesquisa censitária;

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• Pesquisa com bancos de dados cujas informações são agregadas, sem


possibilidade de identificação individual;
• Pesquisa feita exclusivamente com textos científicos para revisar a
literatura científica;
• Pesquisa que objetiva o aprofundamento teórico de situações que
emergem espontânea e contingencialmente na prática profissional, desde
que não revelem dados que identifiquem o sujeito;
• Atividade feita com o intuito exclusivamente de educação, ensino ou
treinamento sem finalidade de pesquisa científica, de alunos de graduação,
de curso técnico ou de profissionais em especialização, exceto os trabalhos
de conclusão de curso (TCCs), monografias e similares, devendo-se,
nesses casos, apresentar o protocolo de pesquisa ao Sistema CEP/Conep.

4.3 Plataforma Brasil

A Plataforma Brasil é a ferramenta de gestão do Sistema CEP/Conep de


base nacional e unificada de registro, análise, monitoramento e controle de
pesquisas com seres humanos no Brasil, sendo obrigatória a tramitação de
protocolos de pesquisa em território nacional, mesmo em casos de colaboração
internacional. A Plataforma traz transparência pública, porque permite à
sociedade acompanhar as pesquisas aprovadas e em andamento.
Cada pesquisador deve ter um cadastro na Plataforma1, que exige
documento oficial com foto e currículo lattes, além de dados sobre sua formação
e dados pessoais. Após o cadastro, o pesquisador tem acesso ao sistema por
meio de login e senha para cadastrar o protocolo de pesquisa.
A tramitação de protocolo de pesquisa em Comitê de Ética (CEP) se dá
dentro da Plataforma Brasil, e sua deliberação ética acontece depois de análise
do colegiado em reunião. Veja a seguir as categorias estabelecidas:

Quadro 2 – Categorias do status dos protocolos de pesquisa

Aprovado Protocolo encontra-se totalmente adequado para execução.

Com Há necessidade de correção, hipótese em que serão solicitadas


pendência alterações ou complementações do protocolo de pesquisa. Por mais

1
A Plataforma está disponível em: <www.saude.gov.br/plataformabrasil>. Acesso em: 28 out.
2020.
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simples que seja a exigência feita, o protocolo continua em


“pendência” enquanto não estiver completamente atendido.

Não aprovado Decisão considera que os óbices éticos do protocolo são de tal
gravidade que não podem ser superados pela tramitação em
“pendência”.
Arquivado Pesquisador descumpriu o prazo para enviar as respostas às
pendências apontadas ou para recorrer.

Suspenso Pesquisa aprovada, já em andamento, que deve ser interrompida


por motivo de segurança, especialmente quanto aos participantes.
Retirado O Sistema CEP/Conep acata a solicitação do pesquisador
responsável mediante justificativa para retirar o protocolo, antes de
sua avaliação ética. Nesse caso, o protocolo é considerado
encerrado.

Fonte: Brasil, 2012.

TEMA 5 – PESQUISAS COM ANIMAIS

Pimenta e Silva (2001) destacam que o Código de Nüremberg, de 1946,


além de definir o respeito às pessoas e a obrigatoriedade do consentimento,
declara que as pesquisas clínicas devem se subordinar ao resultado de uma
experiência feita previamente em animais antes de serem testados em humanos.
Diante dessas preocupações, e com o respeito aos animais, os autores
Russel e Burch, em 1959, no livro The principles of humane experimental
technique, definiram os princípios humanitários da experimentação animal,
também conhecidos como 3R (replacement, reduction, refinement), que
embasaram todas as legislações de pesquisa com animais.

5.1 Declaração Universal dos Direitos dos Animais

Em 1978, na Bélgica, foi definida a Declaração Universal dos Diretos dos


Animais, considerando que todo animal tem direitos, e o respeito dos homens
pelos animais se liga ao respeito dos homens pelo seu semelhante.
O art. 1º diz que todos os animais nascem iguais diante da vida, e têm o
mesmo direito à existência. O art. 3º também é importante para a experimentação
animal, pois indica que nenhum será submetido a maus-tratos e atos cruéis, e,
quando a morte é necessária, deve ser instantânea, sem dor nem angústia.
No entanto, o art. 8º aponta as deliberações específicas para a
experimentação animal, e condena sua utilização se implicar sofrimento físico,

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pois é incompatível com os direitos deles, seja em experiência médica, científica,


comercial ou qualquer outra. Também indica a necessidade de viabilizar técnicas
substitutivas para alcançar os resultados esperados.

Saiba mais

Leia a declaração na íntegra em:


<http://www.urca.br/ceua/arquivos/Os%20direitos%20dos%20animais%20UNES
CO.pdf>. Acesso em: 28 out. 2020.

5.2 Regulamentação brasileira

A Constituição de 1988, ao definir as normas constitucionais para o meio


ambiente, no capítulo VI, art. 225, parágrafo primeiro, determina que não podemos
submeter os animais à crueldade.
Em 1993 nascia o Colégio Brasileiro de Experimentação Animal (Cobea),
com o objetivo de defender o bem-estar animal e seu uso racional, capacitar
profissionais e lutar por uma legislação específica. Foi o Cobea que alavancou e
regulamentou os direitos dos animais no caso de uso em experimentação. Em
2008, na Assembleia Geral do Cobea em São Paulo, o instituto mudou de nome
para Sociedade Brasileira da Ciência em Animais de Laboratório (SBCAL),
mantendo sua sigla como SBCAL/Cobea. O órgão vem contribuindo para a
evolução da ciência de animais de laboratório2.
A Lei n. 11.794/2008 regulamentou o inciso VII do parágrafo primeiro do
art. 225 da Constituição, ao determinar que não podemos submeter animais à
crueldade, contando com a contribuição expressiva da SBCAL/Cobea.
Essa lei restringe a utilização de animais em atividades educacionais para
estabelecimentos de ensino superior e de educação profissional técnica de nível
médio da área biomédica. Além de criar o Conselho Nacional de Controle de
Experimentação Animal (Concea), que, além de diversas outras
responsabilidades, tem a competência de formular e zelar pelo cumprimento das
normas relativas à utilização humanitária de animais com finalidade de ensino e
pesquisa científica (art. 5º, I).
A lei também determina a obrigatoriedade da representação no Concea, da
SBCAL/Cobea; de dois representantes das sociedades protetoras de animais

2
Para conhecer melhor a instituição, acesse o site: <https://www.sbcal.org.br>. Acesso em: 28
out. 2020.

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legalmente estabelecidas no país; do Conselho de Reitores das Universidades do


Brasil (Crub); da Academia Brasileira de Ciências (ABC); da Sociedade Brasileira
para o Progresso da Ciência (SBPC); da Federação das Sociedades de Biologia
Experimental (FeSBE); da Federação Nacional da Indústria Farmacêutica
(Fenafar); e demais membros que representam as áreas do governo federal por
meio dos ministérios e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq).
O art. 8º da lei cria as Comissões de Ética na Utilização de Animais (Ceuas),
que devem ser integradas por veterinários e biólogos, docentes e pesquisadores
na área específica, além de um representante de sociedades protetoras de
animais legalmente estabelecidas no país. Com essa necessidade de
regulamentação, o Decreto n. 6.899/2009 estabelece o Cadastro das Instituições
de Uso Científico de Animais (Ciuca) (Brasil, 2009).

Saiba mais

A Resolução Concea n. 1/2010 dispõe sobre a instalação e o


funcionamento das Ceuas. Para conhecer as normativas referentes a elas,
consulte o endereço:
<http://antigo.mctic.gov.br/mctic/opencms/institucional/concea/index.html>.
Acesso em: 28 out. 2020.

O Guia brasileiro de produção, manutenção ou utilização de animais em


atividades de ensino ou pesquisa científica (Brasil, 2016) regulamenta as
pesquisas com uso de animais em linhas gerais, ressaltando que, no
planejamento do estudo, o pesquisador deve avaliar se há alternativas ao uso de
animais, prever a extensão da dor e do distresse, e buscar formas de evitá-los ou
minimizá-los.
O guia também determina que o protocolo de pesquisa seja planejado para
durar o menor tempo possível, que conheça a espécie a ser utilizada, o
comportamento normal dela e seus sinais de dor ou distresse. Outro ponto
importante é o monitoramento constante dos animais durante os estudos, o uso
de tratamento paliativo para a dor, como cuidados pré e pós-operatórios, leitos
confortáveis, temperatura e umidade ambiente nas faixas de conforto para a
espécie, barulho mínimo etc., incluindo anestesia ou analgesia. Em caso de
eutanásia, deve-se causar uma morte humanitária, sem demora, para qualquer

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animal que pareça estar sofrendo dor ou distresse imprevisto e que não possa ser
prontamente aliviado (Brasil, 2016).

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REFERÊNCIAS

ABREU, C. B. (Org). Bioética e gestão em saúde. Curitiba: InterSaberes, 2018.

BARROSO, L. F. A importância de um código de ética. Revista da Emerj, Rio de


Janeiro, v. 3, n. 9, p. 158-173, 2000.

BRASIL. Resolução n. 196, de 10 de outubro de 1996. Diário Oficial da União,


Brasília, DF, 11 out. 1996. Disponível em:
<https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/cns/1996/res0196_10_10_1996.html
>. Acesso em: 28 out. 2020.

_____. Lei Federal n. 11.794, de 8 de outubro de 2008. Diário Oficial da União,


Brasília, DF, 9 out. 2008. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11794.htm>.
Acesso em: 28 out. 2020.

_____. Decreto n. 6.899, de 15 de julho de 2009. Diário Oficial da União, Brasília,


DF, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-
2010/2009/Decreto/D6899.htm>. Acesso em: 28 out. 2020.

_____. Resolução n. 466, de 12 de dezembro de 2012. Diário Oficial da União,


Brasília, DF, 13 dez. 2012. Disponível em:
<https://conselho.saude.gov.br/resolucoes/2012/Reso466.pdf>. Acesso em: 28
out. 2020.

_____. Resolução n. 510, de 7 de abril de 2016. Diário Oficial da União, Brasília,


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<https://conselho.saude.gov.br/resolucoes/2016/Reso510.pdf>. Acesso em: 18
de abr. 2020.

_____. Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. Guia


brasileiro de produção, manutenção ou utilização de animais em atividades
de ensino ou pesquisa científica. Fascículo 1: introdução geral. Brasília, DF:
Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, 2016.

_____. Concea. Brasília, DF: Concea, 2017. Disponível em:


<http://antigo.mctic.gov.br/mctic/opencms/institucional/concea/index.html>.
Acesso em: 28 out. 2020.

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CONEP – Comissão Nacional de ética em Pesquisa. Normativas. Brasília, DF:


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