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Impressões sobre imagens de relatórios anuais e a

responsabilidade social: o caso da Navigator


(2011-2020)

Ana Carolina Reis, nº2018072590


Inês Gil Rodrigues, nº2018071221
Jorge Lopes, nº2008067251

Mestrado Controlo de Gestão


Relato Financeiro e Sustentabilidade
27 novembro 2021

Ressumo

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O relatório anual absorve toda a informação financeira e não financeira da
empresa, entre as quais estão os modos de comunicação visual.

O objetivo deste estudo é analisar e compreender o uso de imagens e cores nas


capas dos relatórios anuais da Navigator, no período de 2011 a 2020. A adoção de
imagens e cores nas capas dos relatórios e contas da Navigator tem um racional
estratégico que não é divulgado. Por essa mesma razão, esta investigação debruça-se
exaustivamente na análise dos temas expostos nas capas dos relatórios anuais. É um
estudo qualitativo, suportado por diversos estudos publicados em revistas científicas,
relacionados com este mesmo tema e suportado pelas teorias/textos de Goffman e
Barthes. O Customer Service Manager Pedro Ferrão da Navigator auxiliou na análise
dos temas das capas dos relatórios anuais da Navigator, sendo uma ajuda crucial para o
estudo.

Os resultados desta pesquisa mostram que as capas projetam uma


responsabilidade social relativamente a temas sobre: sustentabilidade, pessoas, materiais
utilizados e atividades da empresa. Pormenorizando, este estudo pretende compreender
como a gestão de impressões sobre a responsabilidade social foi utilizada nos relatórios
e contas da Navigator.

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Índice
1.Introdução.......................................................................................................................6

2. O relatório anual e o uso de imagens.............................................................................6

2.1 Responsabilidade Social..........................................................................................6

2.2 Gestão de impressões.............................................................................................. 7

2.2 Abordagens teóricas (Goffman e Barthes).............................................................. 7

3. Metodologia...................................................................................................................8

4. Analise das capas dos relatórios anuais da Navigator (2011-2020)..............................9

5. Conclusões...................................................................................................................17

6. Referências Bibliográficas...........................................................................................18

7. Analise do artigo: “A longitudinal study of Aboriginal images in annual reports:


evidence from an arts council”........................................................................................19

7.1 Problema................................................................................................................19

7.2 Objetivo................................................................................................................. 19

7.3 Síntese....................................................................................................................20

7.4 Metodologia...........................................................................................................22

7.5 Conclusão.............................................................................................................. 23

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Índice de quadros, tabelas e/ou figuras

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Lista de abreviaturas, acrónimos e siglas

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1.Introdução

O relatório anual apresenta as principais informações de uma empresa durante


um ano e é a capa o primeiro ingrediente desta receita. Como tal, este estudo foca-se na
análise qualitativa das imagens, cores e frases apresentadas nas capas dos relatórios.
Apesar deste tema ainda estar muito verde, tendo muito que amadurecer, esta
investigação dá asas à imaginação e tenciona aprofundá-lo.

O poder comunicativo das imagens e cores é fortemente notório nesta


investigação. Assim sendo, este estudo tem por objetivo analisar como e porque
determinadas imagens e cores foram utilizadas nas capas dos relatórios de anuais da
Navigator? Nomeadamente analisar as capas tendo por base o conceito de
responsabilidade social, o conceito de gestão de impressões e as teorias/ textos de
Barthes e Goffman.

2. O relatório anual e o uso de imagens

A capa do relatório anual é o primeiro elemento do relatório a ser visto e, por


essa mesma razão, as empresas não as criam aleatoriamente. A capa é elaborada com o
propósito de captar a atenção do leitor e é carregada de mensagens conotativas. Isto é,
os elementos que constituem a capa (imagens, frases e logotipo) possuem um elevado
grau de expressividade, despertando interesse nos leitores.

As imagens são o principal meio de comunicação nos relatórios anuais das


empresas e pretendem transmitir o grau de envolvimento da empresa em práticas de
responsabilidade social. Davison (2007), Bernardi, Bean e Weippert, (2005) seguem a
mesma linha de raciocínio e afirmam que “as imagens são meios de comunicação e
accountability em relatórios anuais” e “as imagens são usadas estrategicamente em
relatórios anuais para divulgar a responsabilidade social”, respetivamente.

2.1 Responsabilidade Social

A responsabilidade social é uma ferramenta cada vez mais importante a nível


empresarial que está relacionada com a preocupação por parte das empresas com o
carater social e ambiental nas suas atividades estratégicas.

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As atitudes que uma empresa adota acabam por influenciar a sua imagem de
uma forma positiva ou negativa, por isso, uma atitude que envolva medidas e práticas
para diminuir o impacto das suas atividades na sociedade e no meio ambiente gera valor
no negócio, aumenta a vantagem competitiva e a conexão e motivação dos seus
funcionários com a própria organização. Apesar destas práticas terem aumentado,
existem preocupações como o facto de estas serem adotadas com o intuito de
influenciar/ agradar os stakeholders e não com a verdadeira razão de preocupação social
e ambiental. Assim sendo, como a responsabilidade social anda de mãos dadas com a
gestão de impressão de imagens, esta não é feita corretamente uma vez que o conceito
de responsabilidade por vezes não é utilizado adequadamente.

Quando uma empresa está envolvida em práticas de divulgação de


responsabilidade social com o intuito simbólico, essas divulgações não irão contribuir
para alargar o conhecimento das partes interessadas sobre as atividades da empresa
(Michelon et al., 2015). Ou seja, se estão apenas envolvidas porque transmite uma
melhor imagem, estas "mensagens" não irão enriquecer de nenhuma forma os
colaboradores envolvidos. Posto isto, o conceito de responsabilidade social deve ser
considerado nas empresas como algo benéfico para a mesma.

2.2 Gestão de impressões

A gestão de impressões abordadas nesta investigação está relacionada com a


gestão de imagens, ou seja, como é que as empresas gerem todos os aspetos visuais
transmitidos ao público. Há técnicas distintas de gestão de impressões como por
exemplo a manipulação visual através da utilização de cores, imagens, estilo e tamanho
de letra para evidenciar determinada informação. No contexto organizacional a gestão
de impressões é usada para minimizar a contradição entre o eu privado e o público, ou
entre a identidade e a imagem, com a intenção de moldar a identidade desejada (Tata e
Prassad, 2015). Por vezes, quando a empresa se apresenta em ameaça utilizam-se
mecanismos de adoção de impressões falsas para apresentar uma responsabilidade
social superior à que praticam.

2.2 Abordagens teóricas (Goffman e Barthes)

A pesquisa foi toda ela debruçada em teorias, nomeadamente as de Barthes e


Goffman. Barthes (1990) propunha um modelo para analisar imagens visuais da marca
Panzani identificando 3 tipos de mensagem, a mensagem linguística (verbal) que tem
como objetivo ajudar na compreensão de imagens que por si só podem ser difíceis de

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entender, a mensagem conotada (simbólica) que é a representação da realidade em
sentido figurado e a mensagem denotada (icónica), que é a representação pura das
imagens. No seu livro apresenta um quadro sobre como analisar fotografias fazendo
distinção desta com o que a mesma realmente se refere sendo necessário compreensão e
reflexão sobre a mesma.

Para Goffman a representação é “toda atividade de um indivíduo que se passa


num período caracterizado por sua presença contínua diante de um grupo particular de
observadores e que tem sobre esta alguma influência”.

3. Metodologia

Este estudo analisa as capas dos Relatórios anuais da Navigator ao longo de 10


anos (2011-2020). Pretende relacionar a responsabilidade social da empresa com as
imagens, cores e frases presentes nas capas dos Relatórios anuais. Assim sendo, a
investigação dividiu-se em 3 etapas. Na primeira etapa, reuniu-se as capas da Navigator
desde 2011, enquadrando-as em dois grupos. O primeiro grupo de capas engloba as
capas de 2011 a 2014 (inclusive) e o segundo grupo é constituído pelas restantes. Esta
distinção foi feita, pois até 2014 a empresa era denominada Grupo Portucel Soporcel e a
partir de 2015 passou a ser designada por The Navigator Company. E como uma
mudança, surgem outras. De seguida, já na segunda etapa, começou-se por analisar as
imagens e cores presentes nas capas do primeiro grupo, tendo sempre por base os temas
subjacentes à responsabilidade social. Por um lado, fez-se a interligação da palete de
cores com a responsabilidade social da organização e, por outro lado, a correlação das
imagens com situações marcantes da empresa. Por fim, analisou-se o segundo grupo de
capas, segundo as mesmas perspetivas.

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4. Analise das capas dos relatórios anuais da Navigator (2011-2020)

A evolução da estratégica subjacente às capas dos relatórios anuais é notável de


capa para capa. A transição do Grupo Portucel Soporcel, em 2015, para a atual The
Navigator Company é visível nas capas dos relatórios em analise, através da completa
mudança de “estratégia”. Esta assumiu o nome da marca de papel premium com maior
reconhecimento no mercado, com o objetivo de unir ainda mais o grupo e reforçar o
reconhecimento internacional. A partir deste ano (2015) todas as capas dos relatórios e
contas têm o logotipo/símbolo da marca, tendo inclusivamente desenvolvido uma fonte
de letra exclusiva.

De 2011 a 2020 as capas estiveram em constante mudança. Eis a figura 1 que


mostra a capa do relatório anual do Grupo Portucel Soporcel.

Figura 1 – Capa do Relatório e Contas de 2011

Fonte: The Navigator Company - Demonstrações Financeiras (2012)

Nesta capa a utilização da cor cinzenta que é uma cor neutra, representa
harmonia na comunicação. A Portucel utilizou a cor cinzenta como fundo, pois é uma
cor que funciona bem como tal e é utilizada muitas vezes para transmitir poder e
controlo. Não só a cor de fundo é neutra, como também todas as cores utilizadas nesta
capa. A imagem utilizada pela Portucel (o mundo) transmiti a ideia de crescimento, de
globalização

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Figura 2 – Capa do Relatório e Contas de 2012

Fonte: The Navigator Company - Demonstrações Financeiras (2013)

Na capa de 2012 a cor verde é predominante e remete para a forte base florestal
do Grupo, onde assenta toda a sua atividade, para além do tema da sustentabilidade,
trazendo sensações de equilíbrio, harmonia. Esta cor é utilizada para transmitir
estabilidade e tranquilidade aos clientes. Relativamente á imagem, esta transmite a
presença nos mais diversos mercados mundiais e os diferentes caminhos percorridos
para atingir o resultado do ano. As redes de contacto entre todos os stakeholders, apesar
de complexas, levam a empresa a um só destino e a um só propósito.
Figura 3 – Capa do Relatório e Contas de 2013

Fonte: The Navigator Company - Demonstrações Financeiras (2014)


A capa 2013 ficou à quem das expectativas. Apenas, se evidencia a cor azul-
claro esverdeado no relatório que traz a sensação de sucesso, conquista e produtividade.

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Assim, esta cor utilizada, simultaneamente, com a imagem do mundo transparece o
reconhecimento a nível internacional da maraca.
Figura 4 – Capa do Relatório e Contas de 2014

Fonte: The Navigator Company - Demonstrações Financeiras (2015)

Relativamente à capa de 2014, o Grupo Portucel utiliza a cor branca, como cor
de fundo do relatório, uma cor neutra, vista como uma cor pura e que evidência a
luminosidade e tranquilidade. As letras em amarelo significam otimismo para os seus
produtos combinada com segurança, riqueza e virada para a sustentabilidade ambiental.
Figura 5 – Capa do Relatório e Contas de 2015

Fonte: The Navigator Company - Demonstrações Financeiras (2016)


Em 2015 o Grupo Portucel Soporcel passou a ser a The Navigator Company.
Esta assumiu o nome da marca de papel premium com maior reconhecimento no
mercado, com o objetivo de unir ainda mais o grupo e reforçar o reconhecimento
internacional. A partir deste ano todas as capas dos relatórios e contas têm o logotipo da

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marca, tendo inclusivamente desenvolvido uma fonte de letra exclusiva só pode ser
usada pela Navigator. (fonte: Customer Service Manager Pedro Ferrão). Relativamente
à capa de 2015, esta apresenta uns tons “terra” representando a natureza com essa cor. A
cor castanha simboliza o comprometimento e seriedade e estimula a concentração e
organização com dinamismo representado pela cor laranja. A cor preta está relacionada
com a força e o poder da marca, tal como o a esfera do seu símbolo consegue mostrar a
sua internacionalização. Todas as capas com as paletes de cores da renovação do nome
para The Navigator Company (o cinza, laranja, preto) querem dar uma ideia de
exclusividade, premium, de excelência
Figura 6 – Capa do Relatório e Contas de 2016

Fonte: The Navigator Company - Demonstrações Financeiras (2017)

Na capa de 2016 é utilizada uma paleta de cores sóbrias com tonalidades


usualmente utilizadas para transmitir uma imagem além de profissional premium pela
utilização quer das cores dourado ou prateado.

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Figura 7 – Capa do Relatório e Contas de 2017

Fonte: The Navigator Company - Demonstrações Financeiras (2018)

Esta capa apresenta no fundo a sombra de árvores com tonalidades castanhas,


que está associado a natureza e ao mesmo tempo à matéria-prima utilizada para a
produção do produto da Navigator (papel).
Figura 8– Capa do Relatório e Contas de 2018

Fonte: The Navigator Company - Demonstrações Financeiras (2019)

Na capa de 2018, a Navigator, decidiu utilizar apenas o seu símbolo de marca,


não tentando transmitir nenhuma mensagem adicional. Reforça, apenas, a sua imagem
internacionalmente através do seu logotipo.

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Figura 9 – Capa do Relatório e Contas de 2019

Fonte: The Navigator Company - Demonstrações Financeiras (2020)

No ano de 2019 é evidente que a Navigator mudo a sua estratégia, utilizando


pela primeira vez uma frase chamativa na capa. Não só a frase, como também a imagem
salta logo à vista. O eucalipto globulus é a principal matéria-prima do Grupo. Para além
de ser a matéria-prima responsável pela diferenciadora qualidade dos seus produtos,
tornando-os mais competitiva em todos os mercados por força da sua qualidade,
representa o orgulho da marca nos seus princípios, na sua origem de base florestal, o
compromisso com a sustentabilidade e com a neutralidade carbónica. A frase por baixo
da imagem “A melhor fibra para o melhor papel” transmite a ideia de qualidade do
papel, isto é, a fibra do eucalipto globulus faz do papel produzido pela Navigator um
produto de reconhecida excelência. É de realçar que a própria capa parece a capa de um
álbum de fotografias, transmitindo a ideia de estima, pois colocamos em molduras as
imagens das pessoas ou dos objetos que valorizamos e gostamos.

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Figura 10 – Capa do Relatório e Contas de 2020

Fonte: The Navigator Company - Demonstrações Financeiras (2021)

A capa 2020 é a mais complexa e é notável a evolução desde 2011. A capa


transmite a ideia de que a Navigator é uma empresa/marca única, pois realça logo a
imagem de uma impressão digital. Com sabemos não existe nenhuma impressão digital
no mundo que seja igual, logo aí eles tentam transmitir a ideia de empresa única e
original. A impressão digital não aparece sozinha, esta aparece num formato que
identifica a marca: uma folha de eucalipto. O eucalipto globulus é a principal matéria-
prima do Grupo. Para além de ser a matéria-prima responsável pela diferenciadora
qualidade dos seus produtos, tornando-os mais competitiva em todos os mercados por
força da sua qualidade, representa o orgulho da marca nos seus princípios, na sua
origem de base florestal. Transmitindo a ideia de que o produto produzido é firme, forte
e de qualidade, pois o eucalipto contém fibra. Assim, a imagem transmite a ideia
principal da marca: a natureza, sendo que a cor utilizada para esta imagem também
transmite essa mesma ideia. A frase colocada no canto superior direito (A fibra das
pessoas) transmite uma preocupação de sustentabilidade - ambiental, económica e
social. “Fibras” e “Pessoas”, tendo como base a dupla associação de leituras referente à
palavra “fibra”: por um lado, apresenta uma clara alusão à matéria estruturante do papel
e das próprias árvores, por outro, convida a uma leitura relacionada com as qualidades
de caráter e resiliência das pessoas.
A Navigator com esta capa consegue transparecer o valor sustentável, deixando
às futuras gerações um planeta melhor, através de produtos e soluções sustentáveis
naturais, recicláveis e biodegradáveis, que contribuem para a fixação de carbono, para a

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produção de oxigénio, para a proteção da biodiversidade, para a formação de solo e para
o combate às alterações climáticas.

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5. Conclusões

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6. Referências Bibliográficas

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7. Analise do artigo: “A longitudinal study of Aboriginal images in annual reports:
evidence from an arts council”

7.1 Problema

Embora os povos indígenas geralmente constituam uma pequena minoria de uma


nação população, imagens de motivos culturais indígenas e artefactos são únicos e
atuam como representações simbólicas poderosas que conferem vantagem à sua
identidade (Cardamone e Rentschler, 2008; Fisher e McDonald, 2016). Os conselhos de
artes são criados pelos governos para gerir assuntos culturais e indígenas, mas também
atraem o escrutínio público e críticas das partes interessadas, devido à sua dependência
de financiamento governamental e Suporte público. Consequentemente, ganhar e
manter a legitimidade torna-se crítica para sua reputação e sobrevivência (Suchman,
1995; Samkin e Schneider, 2010). As representações visuais e textuais feitas pelas
organizações são narrativas críticas para a identidade organizacional e responsabilidade
(Leary e Kowalski, 1990; Davison, 2010; Cooper e Slack, 2015). Este estudo aborda
essa lacuna na literatura e avalia como a Austrália Council for the Arts (ACA), o
financiamento do governo federal australiano para as artes e órgão consultivo, geriu a
divulgação de imagens de Aborígenes nos seus relatórios. Procurou-se elucidar como os
aborígenes povos e suas artes foram expressas ao longo do tempo, usando imagens (por
exemplo, tradicional, etnográfica versus contemporânea, artística). Em segundo lugar,
avalia-se como os desenvolvimentos sócio-político-económicos podem ter moldado
padrões de divulgação de imagens. Por fim, pretende-se analisar como o uso de imagens
aborígenes está associado às tentativas da ACA de ganhar e gerir legitimidade
organizacional.

7.2 Objetivo

O objetivo do artigo está sobre a forma de questões. Este aborta as seguintes


questões de pesquisa:
- Qual é o padrão (extensão e natureza) da representação das artes e artistas
aborígenes nos Relatórios Anuais da ACA desde o seu começo?
- Como os desenvolvimentos sócio-político-económicos estão relacionados ao
padrão de uso de imagens aborígenes nos relatórios anuais?

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- Como a ACA usou imagens aborígenes para ganhar e manter a sua
legitimidade organizacional?

Ao responder a essas perguntas, este artigo avalia em que medida os relatórios


anuais são um meio cultural, com relevância em disseminar, refletir, moldar e
potencialmente estereotipar a identidade de Artes e artistas aborígenes (Warren, 2005).
7.3 Síntese

O artigo em estudo divide-se em duas partes complementares, sendo que a


primeira parte aborda conceitos teóricos e a segunda um estudo empírico. Os autores
esclarecem determinados conceitos, tais como: teoria da legitimidade, teoria da gestão
de impressão e uso de imagens em relatórios anuais.
A teoria da legitimidade é explicada neste artigo e postula que as organizações
buscam maneiras de serem vistas para operar dentro das expectativas e normas dos
grupos de partes interessadas e da sociedade (Tilt, 1994). A legitimidade é importante
pois confere direitos organizacionais, privilégios sociais e acesso a recursos (Hearit,
1995; Suchman, 1995). Suchman (1995) postula três tipos de legitimidade
organizacional: legitimidade pragmática, legitimidade moral e legitimidade cognitiva. A
legitimidade pragmática envolve motivações egoístas que visam impressionar o pessoal
imediato da organização partes interessadas para ganhos pragmáticos. Já a legitimidade
moral consiste na aceitação das atividades institucionais como 'a coisa certa a fazer',
alinhada com valores morais. Por fim, a legitimidade cognitiva refere-se à compreensão
por parte da empresa e dos interessados das atividades da organização. Suchman (1995)
classifica ainda a legitimidade organizacional com base na estratégia. Samkin e
Schneider (2010) elaboram que as estratégias de legitimação podem ser reativas ou
proativo onde “estratégias reativas são implementadas quando as partes interessadas
estão insatisfeitas com algum aspeto do desempenho da entidade relatora, enquanto
estratégias proativas são usadas para evitar uma lacuna de legitimidade, ao contrário de
estreitando a lacuna” (Lindblom,1994, p. 264).
A teoria da gestão de impressão é descrita como “consciente ou
inconscientemente as empresas tentam controlar imagens reiais ou imaginárias em
interações sociais” (Samkin e Schneider, 2010, p. 264). Leary e Kowalski (1990)
identificam um modelo de gestão de impressão. Este modelo diz que a gestão de
impressão é originada por lacunas existentes na legitimidade organizacional e procura
escolher as melhores ferramentas/ técnicas para resolver essas falhas. Quanto mais
diversidade de ferramentas/técnicas a empresa tiver à sua mercê, mais facilmente esta

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molda a sua impressão. Samkin e Schneider (2010, p. 246) identificam que tais técnicas
podem ser assertivas ou defensivas. As técnicas assertivas são utlizadas para estabelecer
uma identidade e desenvolver características de reputação (Ogden e Clarke, 2005).
Estas podem envolver autopromoção que envolve convencer outras pessoas destacando
pontos positivos; incentivo - onde táticas de aperfeiçoamento são destinadas a obter
aprovação de um público-alvo; e exemplificação - que compreende agir como um
exemplo de conduta virtuosa ou de princípios. As técnicas defensivas são técnicas de
gestão de impressão que ajudam a manter a identidade da empresa ou reparar a
reputação da mesma.
O uso de imagens em relatórios anuais é o tema central deste artigo. As imagens
são omnipresentes, emotivas e têm um lugar especial na cognição e memória (Graves et
al., 1996; Davison, 2014). Dentro dos relatórios anuais, gráficos, desenhos e fotografias
são formas de imagens comuns. Um leitor pode interpretar ou ver as imagens em pelo
menos três maneiras: representacional (comunicação de uma pretendida mensagem
corporativa); ideológico (valores e significados sociais embutidos); e constitutivo
(significados múltiplos, contraditórios, inconstantes e ambíguos) (Preston et al., 1996;
Breitbarth et al., 2010). Os estudos sobre o uso de fotografias em relatórios anuais
concluíram que não só melhoraram a aparência estética, mas também serviram
propósitos retóricos (Graves et al., 1996; Preston et al., 1996; Davison, 2008). Os usos
retóricos de imagens em relatórios de responsabilidade social foram encontrados para
minimizar potenciais danos à reputação relacionados a más notícias ou para melhorar a
reputação (Ihlen, 2011; Ramo, 2011). Breitbarth et al. (2010) encontrou que as imagens
criam um significado sobre o desempenho económico, social e institucional, mas podem
existir preconceitos onde selecionados aspetos da identidade corporativa e o
desempenho são destacados, enquanto outros são banalizados ou ausentes. O tamanho
da imagem pode ser crítico (Knobloch et al., 2003): quanto maior for, mais forte a
atração. Além disso, as imagens em relatórios anuais podem ou não ser acompanhadas
por texto. Estudos passados revelam que o texto acompanhado por uma fotografia é
suscetível de ser lido e lembrado por aqueles que o visionaram (Zillmann et al., 2001;
Knobloch et al., 2003). Um estudo experimental de reportagens de revistas de Zillmann
et al. (1999) sugere que aquele em que o texto equilibrado é acompanhado por
fotografias tendenciosas, as perceções dos leitores são influenciadas pelas fotografias
(Hrasky, 2012). Enfases podem ser alcançadas localizando-as em posições de destaque,
como nas capas dos relatórios anuais (Davison e Skerratt, 2007; Davison, 2011).
Finalmente, as imagens nos relatórios anuais podem reforçar mitos e estereótipos

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culturais. David (2001) observa que “constitui uma representação simplificada demais
do assunto através da omissão de história relevante, complexidade e ideias opostas” (p.
199), levando a conceitos empobrecidos que distorcem o significado. Kuasirikun (2011)
descobriu que os relatórios anuais de empresas tailandesas tendem a retratar mulheres
em funções subsidiárias em comparação com os homens, reforçando os estereótipos de
género, apesar das evidências de que nas organizações tailandesas as mulheres assumem
papéis de liderança.

7.4 Metodologia

Este estudo analisa o conteúdo dos Relatórios Anuais de uma organização de


caso único, a ACA, ao longo de 43 anos (1973–2015). Seguindo Warren (2005),
reconhece “imagens como próprios dados” (p. 4). Assume uma mentalidade de
descolonização e pós-colonial (Jani, 2001). Os Relatórios anuais contam histórias que às
vezes estão escondidas e inesperadas, ao invés de objetivas e evidentes (Martin, 2013,
2015) como uma imagem pode exercer simultaneamente papéis representacionais,
ideológicos e constitutivos (Preston et al., 1996). Envolvem abordagens interpretativas
quer quantitativa quer subjetiva (Potter e Rentschler, 1996), onde a extensão e padrão de
imagens aborígenes é justaposto contra textuais e outras divulgações não financeiras,
eventos sócio-político-económicos, bem como financiamento alocações para a ACA e o
Conselho de Artes Aborígenes.
Para procederam à análise dos conteúdos dos Relatórios da ACA, os autores,
primeiramente, contaram o número total de imagens constados nos Relatórios Anuais e
distinguiram imagens que retratam povos aborígenes e as suas artes de não-aborígenes.
Contaram o número de capas AR que tinham uma imagem e a proporção com imagens
aborígenes. Numa segunda etapa, os autores avaliaram qualitativamente a forma das
imagens aborígenes na arte aborígene (Fisher, 2012). Distinguiram imagens aborígenes
como artístico ou corporativo, e então dentro de expressões artísticas, etnográfica ou
contemporânea, levando a três classificações:
- Artístico-Etnográfico: reflete artefactos tradicionais, culturais, pessoas e
práticas, impregnadas de misticismo e que se espera que façam parte de uma norma da
comunidade.
- Artístico-Contemporâneo: expressa povos e práticas aborígenes em áreas
urbanas ou configurações internacionais, geralmente em ambientes fechados. As
imagens promovem um senso artístico inovação, combinando materiais e tecnologias

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modernas - por exemplo, tinta acrílica, dança contemporânea - e vitrine artística
individual empreendimento.
- Corporativo: indivíduos aborígenes em ambientes formais, ocupando cargos ou
recebendo prémios. As imagens refletem liderança ou atributos profissionais.
Analisaram, então, o para-texto que acompanha as imagens para compreender a
mensagem. Para-texto, um termo cunhado por Genette (1987), compreende “todos
aqueles que mais visíveis, mas igualmente invisíveis, elementos narrativos e visuais do
texto que dão sinais, mas que o leitor assume como certo: seu formato físico, nomes,
autoria, títulos, epígrafes, prefácios (introdução / declaração do presidente) e
intertítulos” (Davison, 2011, p. 119). Assim, examinaram as palavras em imagens,
expressões de pessoas, cenários e localizações de imagens, garantindo a codificação
consistência (Guthrie et al., 2004).
Por fim, os autores debruçaram-se numa análise longitudinal que envolve a
justaposição da extensão e natureza das imagens dos aborígenes contra
desenvolvimentos sócio-político-económicos críticos ao longo de 43 anos.

7.5 Conclusão

Este estudo abordou três questões de pesquisa. Para a primeira pergunta, “O que
é o padrão em termos de extensão e natureza da representação das artes aborígenes e
artistas nos Relatórios Anuais da ACA desde o seu início? “, descobriu-se que ao longo
do tempo as imagens artísticas etnográficas tradicionais diminuíram, enquanto as
artísticas contemporâneas e, em menor grau, as representações corporativas aumentaram
significativamente. Além disso, apesar as lutas políticas, culturais e emocionais dos
povos aborígenes de Austrália implicando em um lado negro, as imagens adotadas pela
ACA foram geralmente positivas e edificante. O uso de imagens mostrando artefactos,
artes e artistas aborígenes tradicionais no interior do país dão lugar a imagens
profissionais e corporativas, sugerindo uma estratégia alinhada com a administração da
ACA como um provedor de recursos para as artes aborígenes e um agente de mudança,
pressionando por modernismo e inovação. Essas observações estão de acordo com
Merkl-Davies e Brennan (2007) que identificou que os Relatórios Anuais podem
divulgar informações forma discricionária, e com Neu et al. (1998) e Ogden e Clarke
(2005) que afirmam que os mesmos podem servir a propósitos de legitimação
específicos e diferentes para públicos diferentes em momentos diferentes. As
conclusões para a segunda pergunta, “Como são os desenvolvimentos sócio-político-
econômicos relacionados ao padrão de uso de imagens aborígenes?” revelam mudanças
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nos padrões de imagens que sugerem simbolicamente a empresa pró-ativa e instituição
responsável. A evolução do aborígene de formas etnográficas a formas mais
corporativas e contemporâneas são um reflexo da resposta à mudança de ênfase na
economia e racionalismo nas artes. Outro padrão crítico de divulgação são os picos de
Imagens aborígenes coincidindo com debates na sociedade mais ampla sobre o pós-
colonial direitos raciais, fundiários e humanos. Frequentemente, a organização adotou
imagens culturalmente diplomáticas para a gestão de impressão, apresentando os povos
originais e não aborígenes como felizes e positivos; por exemplo, Artistas aborígenes
apresentados como líderes e profissionais de sucesso. Os relatórios anuais não são
documentos formais inertes, mas dinâmicos e socialmente sensíveis (Tinker e Niemark,
1988; Warren, 2005). Para a terceira pergunta, “Como a ACA usou imagens aborígenes
para ganhar e manter sua legitimidade organizacional? “, encontrou-se a organização a
usar imagens aborígenes retoricamente e simbolicamente, muitas vezes assumindo uma
postura assertiva em relação às táticas de legitimidade. As imagens sugerem
exemplificação como estratégia comum onde as expectativas da sociedade da como uma
arte nacional líder alinhado com imagens de artes e artistas aborígenes tendo sucesso
apesar de marginalização social, reconhecimento formal negado e pedido de desculpas
pelos delitos do passado. Em relação aos resultados de legitimidade organizacional,
limitamos evidências diretas ligando resultados pragmáticos e cognitivos. O aumento do
reconhecimento do papel desempenhado pela ACA e as contribuições do setor das artes
para os interesses nacionais do governo nos média e relatórios formais, aumentos
subsequentes nos ganhos gerais de legitimidade da bandeira de financiamento
(Gardiner-Garden, 2009; Fisher, 2012). Mais especificamente, embora o apoio
financeiro não tenha sido uniforme, uma análise longitudinal ao longo de várias
décadas, realizada neste estudo foi capaz de revelar o crescimento do apoio na
apreciação das contribuições do setor das artes (Throsby, 2001).
Este estudo traz consigo limitações para o futuro. As advertências usuais da
pesquisa baseada em casos se aplicam a este estudo. Primeiro, usando dados de uma
agência, embora estudando uma população, limita a generalização. Em segundo lugar, a
análise da extensão das divulgações visuais contou com dados subjetivos de
julgamentos. Terceiro, foram tratamos os dados sobre a representação aborígene como
um bloco sem separar suas funções - por exemplo, ópera versus dança - deixando
posterior desagregação para pesquisas futuras. Pesquisas futuras podem avaliar ainda
mais como diferentes divulgações particularmente onde grandes legados de dinheiro e

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obras de arte estão envolvidos. Pesquisas futuras precisam diluir preconceitos por meio
de entrevistas com as partes interessadas.

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