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PRÁTICAS PEDAGÓGICAS ANTIRRACISTAS: UMA SENSIBILIZAÇÃO

NECESSÁRIA

Em um mundo cada vez mais diversificado, a educação possui o poder de moldar


mentes, influenciar atitudes e criar futuros líderes conscientes. Contudo, para que isso
aconteça, é fundamental que as práticas pedagógicas reflitam um compromisso com a
justiça, a igualdade, a equidade e a inclusão. É neste contexto que as práticas
pedagógicas antirracistas se tornam indispensáveis.
O racismo, lamentavelmente, permanece profundamente arraigado em muitas
sociedades. É um processo político e histórico (ALMEIDA, 2021, p. 52-57), que se
manifesta não apenas em atos explícitos de discriminação, mas também em sutilezas,
preconceitos inconscientes e em sistemas que perpetuam desigualdades. As escolas,
sendo reflexos da sociedade, não estão isentas disso. Assim, é imprescindível que
educadores e instituições de ensino adotem práticas pedagógicas antirracistas para
combater ativamente o racismo e promover a igualdade e a equidade entre aqueles
diretamente afetados por tais práticas.
Mas, afinal, o que significa ter uma prática pedagógica antirracista? Em essência,
trata-se de reconhecer e desafiar o racismo em todas as suas manifestações no ambiente
educacional. Isso inicia com a autoconsciência. Educadores devem refletir sobre suas
práticas, preconceitos e crenças, percebendo como podem influenciar suas interações
com os alunos. Eles devem estar prontos para ouvir, aprender e, quando necessário,
desaprender.
Além da autoconsciência, é fundamental que o currículo seja revisado e
reformulado para abranger diversas perspectivas e vozes (GOMES, 2020, p. 235).
Durante muito tempo, a educação foi orientada por uma narrativa eurocêntrica que
marginalizou as contribuições das populações negras e indígenas. Uma prática
pedagógica antirracista busca corrigir essa lacuna, assegurando que os estudantes
tenham acesso a uma variedade de histórias, culturas e vivências. Isso não apenas
potencializa o processo de aprendizado, mas também combate estereótipos e
preconceitos anteriormente incutidos.
Adicionalmente ao currículo, a forma como o ensino é conduzido também é
fundamental. Isso implica criar um ambiente de sala de aula onde todos se sintam
reconhecidos, ouvidos e valorizados. Significa estabelecer expectativas elevadas para
todos os estudantes, independentemente de sua raça ou origem. E envolve utilizar
diversos métodos e práticas de ensino que reconheçam e valorizem diferentes estilos de
aprendizado e experiências culturais.
Entretanto, talvez o mais crucial seja que uma prática pedagógica antirracista
encoraje espaços para diálogos francos sobre raça e racismo. Isso pode ser
desconfortável. Pode ser desafiador. Mas é absolutamente vital. Os estudantes devem ter
a oportunidade de questionar, compartilhar suas vivências e aprender mutuamente. E os
educadores devem estar capacitados para mediar essas discussões com sensibilidade,
empatia e abertura.
A conscientização sobre a relevância das práticas pedagógicas antirracistas
transcende ser apenas uma "boa ação". Trata-se de um imperativo moral e ético. Sempre
que um estudante negro, indígena, quilombola ou cigano se sentir marginalizado, invisível
ou menos capaz por causa de sua raça, é uma falha do sistema educacional. E sempre
que um estudante com características eurocêntricas concluir sua formação sem um
entendimento profundo e matizado das questões de raça e racismo, é uma oportunidade
desperdiçada.
Em resumo, as práticas pedagógicas antirracistas são fundamentais para
estabelecer ambientes de aprendizado justos, inclusivos e equitativos. Elas reconhecem a
realidade do racismo e se dedicam a enfrentá-lo em todas as suas manifestações. No
cerne, buscam formar uma geração de estudantes que não apenas compreendam a
relevância da equidade racial, mas que também estejam preparados e inspirados para
tornar essa visão uma realidade. Em um mundo que anseia por justiça e entendimento,
abraçar práticas pedagógicas antirracistas é um passo essencial em direção à equidade.

Secretaria Executiva de Desenvolvimento da Educação;


Superintendência de Políticas Educacionais de Formação de Professores e Inovação Pedagógica;
Superintendência de Políticas Educacionais Indígena;
Gerência de Educação Escolar Quilombola;
Gerência de Políticas Educacionais dos Anos Finais do Ensino Fundamental;
Gerência de Políticas Educacionais de Ensino Médio;
Gerência de Políticas Educacionais de Direitos Humanos e Cidadania;
Gerência de Ações Culturais
REFERÊNCIA

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