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Agravo de Instrumento n. 5192618.31.2018.8.09.

0000

Comarca de Goiânia

Agravante : Norton Teixeira Monteiro e outro

Agravados : Beatriz Teixeira Monteiro e outros

Relator : Desembargador Carlos Alberto França

VOTO

Conforme relatado, trata-se de recurso de Agravo de Instrumento interposto por


Norton Teixeira Monteiro e Cristina Teixeira Monteiro visando atacar a decisão proferida pela
Juíza de Direito da 6ª Vara de Família e Sucessões da Comarca de Goiânia, Drª Vânia Jorge da
Silva, em ação de inventário dos bens deixados por Nilson Vieira Monteiro, ajuizada por Beatriz
Teixeira Monteiro.

A parte da decisão impugnada que interessa restou assim redigida (processo


digital de origem n. 0171752.52.2015.8.09.0175, evento n. 78):

“(…)

Superada esta questão, passo à análise dos pedidos formulados nos autos, a fim
de possibilitar o normal prosseguimento do feito.

[...]

Pretende o Inventariante, também, o levantamento de alvará judicial para quitação


de despesas do espólio com o pagamento de condomínios, IPVA e IPTU, bem
como para quitação de dívida existente com a Sra Eliana Teixeira Aguiar,
contadora do de cujus, no valor total de R$ 15.888,74.

Em análise aos autos, tem-se que estes pedidos não merecem deferimento.

Conforme verifica-se, o Inventariante sempre morou no apartamento objeto do


espólio sem que houvesse nos autos a comprovação de pagamento de aluguéis
aos demais herdeiros, bem como sempre esteve na posse do veículo e das salas
comerciais noticiados nas primeiras declarações, sem que houvesse, até o
momento, prestação de contas em relação a aluguéis pagos ou recebidos pelo
Inventariante. Assim, a fim de evitar enriquecimento ilícito e prejuízo aos demais
herdeiros, deverá o Inventariante arcar com as despesas relativas ao condomínio
e IPTU referente ao período em que ocupou o apartamento e as salas comerciais
e o IPVA referente ao veículo que está sob sua posse.

Quanto à dívida com a Sra Eliana Teixeira Aguiar, não há nos autos provas de
sua existência, posto que juntado somente um contrato de prestação de serviços,
o que não comprova os valores e meses em que o de cujus não efetuou o
pagamento dos referidos honorários. Assim, diante do não reconhecimento da

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dívida pelos demais herdeiros, indefiro o pedido de levantamento de alvará para
quitação do referido débito.

Pretende o Inventariante, ainda, o levantamento de alvará no valor de R$


150.000,00 para pagamento de honorários advocatícios ao seu procurador.

Razão não assiste ao Inventariante.

Em ação de Inventário, os honorários advocatícios deverão ser custeados pelo


herdeiro que contratou o procurador, após a homologação da partilha e a
finalização da ação, com a entrega da prestação jurisdicional.

Não há que se falar em levantamento de alvará para pagamento de honorários de


advogado antes de homologada a partilha, posto que, ainda não concluídos os
serviços contratados com o nobre causídico.

A alegação do Inventariante de que este Juízo já determinou o levantamento de


alvará para quitação de honorários de procurador judicial dos demais herdeiros,
não merece prosperar.

Conforme verifica-se na decisão proferida no evento 03, movimentação 75, foi


deferida a expedição de alvará à meeira e aos herdeiros Maurício e Cláudia, para
quitação de despesas para subsistência, mediante comprovação da necessidade
e não exclusivamente para pagamento de honorários advocatícios, valores estes
que serão devidamente abatidos de suas quotas partes, conforme determinado.

Assim, por não restar comprovado nos autos a necessidade do levantamento do


valor noticiado no evento 37 e diante da impossibilidade de pagamento de
honorários advocatícios antes de ultimada a partilha, indefiro o pedido formulado
no evento 37.

[…].”

Irresignados, Norton Teixeira Monteiro e Cristina Teixeira Monteiro, interpõem


o presente recurso de agravo de instrumento, requerendo a antecipação dos efeitos da tutela
recursal, para que seja liberado o dinheiro para pagamento de honorários advocatícios, em
virtude da presença de seus requisitos autorizadores e, ao final, o provimento da insurgência,
reformando-se a decisão atacada para que o espólio arque com as despesas relativas ao
condomínio e IPTU do período em que o inventariante ocupou um dos apartamentos do espólio e
duas salas comerciais, assim como o IPVA do veículo que está sob seus cuidados; para que seja
liberado dinheiro do espólio para pagamento da dívida em face de Eliana Teixeira Aguiar,
contadora que prestou serviços para o autor do espólio e não recebeu seus honorários e, por fim,
para que seja deferida liberação de R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil reais), como
adiantamento da legítima, para pagamento de honorários ao advogado do inventariante e da
herdeira Cristina.

Pois bem.

Antes de adentrar ao mérito do recurso propriamente dito, hei por bem, fazer um
breve esboço de pontos específicos do processo de origem (processo digital n.
0171752.52.2015.8.09.0175).

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Do compulso dos autos, tem-se que a decisão agravada foi proferida nos autos
da ação de inventário dos bens deixados por Nilson Vieira Monteiro, falecido em 09.05.2015
(processo digital n. 0171752.52.2015.8.09.0175), requerida por Beatriz Teixeira Lima, aqui
agravada.

No evento n. 03, aquivo n. 000028, dos autos de origem a requerente, aqui


agravada, Beatriz Teixeira Monteiro foi destituída do cargo de inventariante e nomeado em seu
lugar o herdeiro Norton Teixeira Monteiro, aqui agravante.

Nas primeiras declarações (processo digital n. 0171752.52.2015.8.09.0175,


evento n. 03, aquivo n. 000033), o inventariante/agravante informa que o de cujus encontrava-se
separado de fato há mais de 15 (quinze) anos de Beatriz Teixeira Monteiro, quando do seu
falecimento.

Diz que o autor da herança deixou quatro filhos: Norton Teixeira Monteiro,
Maurício Teixeira Monteiro, Cristina Teixeira Monteiro e Cláudia Teixeira Monteiro.

Relaciona os bens e débitos deixados pelo de cujus, compostos por:

“1 - Apartamento n° 1.201, do Edifício Art I Siron Franco, sito a Rua Rui Brasil
Cavalcante n2 496, Setor Oeste, medindo 142,62 m2 [...], adquirido
exclusivamente pelo autor do espólio (após a sua separação de fato) em
28/03/2011, pelo valor de R$ 335.000,00 (trezentos e trinta e cinco mil reais)
mediante antecipação pelo Banco Santander, empréstimo, de valores salariais
que estão sendo recebidos parceladamente (doc. em anexo demonstrativo de
pagamento). Atualmente, o bem apresenta o valor de mercado estimado em R$
530.000,00 (quinhentos e trinta mil reais);

2 — Duas salas comerciais adquiridas em 2004 exclusivamente pelo autor do


espólio (após a sua separação de fato) no Edifício Juris Center (Edf. Jeferson de
Roure), localizadas na Rua 10, n2 93, salas 403 e 404, c, --m 29,87 rn2 e 39,61
m2 respectivamente (docs. em anexo — certidões de registro), com valor de
mercado aproximado de R$ 165.000,00 (cento e sessenta e cinco mil reais);

3 — Um veículo VW Santana ano/modelo 2004/2005 (doc. em anexo —


certificado de registro e licenciamento de veículo), em bom estado de
conservação, avaliado conforme tabela FIPE em R$ 17.200,00 (dezessete mil e
duzentos reais);

4 - Saldo de conta poupança n. 807.077-7 na CAIXA ECONÔMICA FEDERAL,


ag. Tribunal de Justiça (2535) no valor de R$ 562.933,12 (quinhentos e sessenta
e dois mil novecentos e trinta e três reais e doze centavos) verificados em
09/05/2015(doc. em anexo — extrato);

5 - Saldo de conta corrente n. 100.742-7 na CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, ag.

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Tribunal de Justiça (2535) no valor de R$ 33.816,95 (trinta e três mil reais
oitocentos e dezesseis reais e noventa e cinco centavos) sendo o último
demonstrativo de movimentações datado de 08/05/2015 (doc. cm anexo —
extrato);

6 - Saldo de diferenças salariais a serem pagas parceladamente pelo Tribunal de


Justiça do Estado de Goiás (referência — valores pagos em 05/2015):

6.1 120 (cento e vinte) parcelas no valor unitário de R$ 2.207,95 (dois mil
duzentos e sete reais noventa e cinco centavos) (doc. em anexo — demonstrativo
de pagamento) totalizando R$ 268.158,00 (duzentos e sessenta e oito mil cento e
cinquenta e oito reais) (DECISÃO ADM n. 200804671197),

6.2 — 35 (trinta e cinco) parcelas no valor unitário de R$ 14.568,67 (quatorze mil


quinhentos e sessenta e oito reais e sessenta e sete reais e sessenta e sete
centavos) (doc. em anexo — demonstrativo de pagamento) totalizando R$
509.903,15 (quinhentos e nove mil novecentos e três reais e quarenta e cinco
centavos) (DECISÃO PROC. 2900335)

6.3 — 04 (quatro) parcelas no valor unitário de R$6.091,00 (seis mil e noventa e


um reais) (doc. em anexo — demonstrativo de pagamento) totalizando R$
24.364,00 (vinte e quatro mil trezentos e sessenta e quatro reais) (DECISÃO
PROC. N2 3478343),

6.4 - 04 parcelas no valor unitário de R$ 208,24 (duzentos e oito reais e vinte e


quatro centavos) (doc. em anexo —demonstrativo de pagamento) totalizando R$
832,96 (oitocentos e trinta e dois reais e noventa e seis centavos) (DECISÃO
JUDICIAL PROC N. 3421554),

6.5 — 07 (sete) parcelas no valor unitário de R$90,09 (noventa reais e nove


centavos) (doc. em anexo — demonstrativo de pagamento) totalizando R$630,63
(seiscentos e trinta reais e sessenta e três centavos) (DECISÃO JUDICIAL PROC
N. 3421554);

7 - Valor de R$ 15.000,00 (quinze mil reais) a ser pago com as devidas correções
por MAURÍCIO TEIXEIRA MONTEIRO ao espólio, pois em 10/07/14 esse
contraiu um empréstimo junto ao autor de herança (cheque n° 900637 da CAIXA,
Ag. 2535), que deveria ter sido pago em 24 (vinte e quatro) parcelas de R$
807,00 (oitocentos e sete reais) (doc. em anexo — contrato de mútuo), contudo
como isso não ocorreu, nos termos cláusula 5ª, §22 do instrumento firmado entre
as partes, ocorreu a rescisão do contrato e o vencimento antecipado da dívida, a
qual deverá ser atualizada no momento oportuno.

“Em relação aos débitos, é de conhecimento do inventariante, no presente


momento, os que seguem abaixo:

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1 - Nove prestações de R$ 7.949,67 (sete mil novecentos e quarenta e nove reais
e sessenta e sete centavos) das sessenta previstas no contrato de empréstimo da
importância de R$ 302.145,60 (trezentos e dois mil 2 cento e quarenta e cinco
reais e sessenta centavos) obtido junto ao Banco Santander S/A em
24/02/2011(doc. em anexo — primeira folha do contrato de mútuo) para aquisição
do imóvel descrito no item 1 do tópico 1.111 da presente (apartamento no Edifício
Art 1Siron Franco), cujas parcelas eram quitadas com um débito diretamente no
vencimento do autor da herança (doc. em anexo — demonstrativo de
pagamento), totalizando R$ 71.547,03 (setenta um mil quinhentos e quarenta e
sete reais e três centavos), vale destacar que o contrato de mútuo em sua
integralidade ainda não foi fornecido pela instituição financeira ao inventariante
mas, assim que disponível, será juntado aos autos;

2 — Remuneração dos funcionários que cuidavam do autor da herança quando


esse encontrava-se enfermo (MARIO JOSÉ DA SILVA, VICENLE BICUDO e
BERENICE MADALENA), bem como recolhimentos de INSS e incidência de
multa por devolução de cheque no valor de R$ 7.851,89 (sete mil oitocentos e
cinquenta e um reais e oitenta e nove centavos) utilizado para pagamento do
acerto trabalhista de MARIO JOSE DA SILVA, totalizando R$ 23.000,00 (vinte e
três mil reais);

3 — Renovação do seguro do veículo VW Santana ocorrida em 06/2015, sendo


utilizada a importância de R$ 1.900,00 (mil e novecentos reais) do valor do
espólio a ser partilhado, vale aventar que o comprovante do ato ainda não
encontra-se disponível, sendo que posteriormente será juntado a este caderno
processual.

No evento 03, movimentação 75, foi proferida decisão reconhecendo o direito à


meação da Sra. Beatriz Teixeira Monteiro, com relação aos bens adquiridos até a data da
separação de fato do de cujus, ou seja, maio de 2000. Foi determinada, ainda, a retificação das
primeiras declarações apresentadas para incluir o apartamento localizado no Ed. Joaçaba e a
renda do aluguel das salas comerciais. E, por último, foi determinada a expedição de alvará
judicial no valor de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais) em favor da Sra. Beatriz e os herdeiros
Maurício e Cláudia para pagamento de honorários advocatícios contratados e para a própria
subsistência, devendo tal quantia ser abatida de suas quotas partes, bem como de alvará judicial
no valor de R$ 20.528,97 (vinte mil, quinhentos e vinte e oito reais e noventa e sete centavos), em
favor do Inventariante para pagamento de honorários advocatícios e pagamento de dívidas
trabalhistas do espólio.

No evento 03, movimentação 103, dos autos de origem foi determinado que as
parcelas referentes às diferenças salariais pagas pelo Tribunal de Justiça do Estado de Goiás

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fossem pagas diretamente aos respectivos titulares. Indeferido o pedido de partilha da quantia
depositada em conta judicial.

A meeira e os herdeiros Maurício e Cláudia, aqui agravados, se manifestaram no


evento 03, movimentação 121, informando acerca da existência de uma ação de prestação de
contas que tramita na 1º Vara de Família e Sucessões desta Comarca, referente ao período em
que o Inventariante exerceu a curatela do de cujus. Renunciaram ao direito em relação aos
móveis existentes no apartamento do Ed Art. I Siron Franco, bem como aos móveis que
compõem as duas salas comerciais localizadas no Ed Juries Center, salas 403 e 404.

No evento n. 34, o inventariante/agravante informou sobre a existência de dívidas


do espólio referentes ao condomínio, IPVA e IPTU no valor de R$ 12.608,74 (doze mil seiscentos
e oito reais e setenta e quatro centavos), bem como uma dívida com a contadora Eliana Teixeira
Aguiar, por serviços prestados ao de cujus no período de dezembro de 2011 a maio de 2015, o
que totaliza R$ 3.280,00 (três mil, duzentos e oitenta reais).

No evento n. 37, o inventariante requereu, a título de levantamento de legítima, a


expedição de alvará judicial no valor de R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil reais) para
pagamento de honorários advocatícios de seu procurador, ao argumento de que no contrato
entabulado entre o procurador e o inventariante e sua irmã Cristina, aqui agravantes, ficou
acordado que, decorridos dois anos e meio de trabalho, caso os herdeiros contratantes não
recebessem seu quinhão do espólio, pagariam ao procurador a quantia de R$ 150.000,00 (cento
e cinquenta mil reais).

A magistrada condutora do feito prolatou a decisão agravada (processo digital de


origem n. 0171752.52.2015.8.09.0175, evento n. 78), decorrendo daí a presente insurgência.

Quanto ao primeiro ponto da insurgência liberação de dinheiro do espólio para


pagamento dos débitos relativos ao condomínio e IPTU do período em que o inventariante
ocupou um dos apartamentos do espólio e duas salas comerciais, assim como o IPVA do veículo
VW Santana ano/modelo 2004/2005, entendo que merece corrigenda a decisão recorrida.

Convém registrar que as dívidas referentes ao IPTU, condomínio e IPVA dos


bens pertencentes ao espólio possuem natureza de obrigação propter rem, ou seja, decorrem da
propriedade, portanto a responsabilidade pelo seu pagamento é do espólio até o momento da
partilha, de modo que os coproprietários são devedores solidários.

Desta feita, independentemente de eventual ocupação do bem, o pagamento de


tais despesas deve ser feito pelo espólio, e não pelo inventariante, que apenas o representa.

Notadamente, quanto ao IPTU dispõe o artigo 131 do Código Tributário Nacional:

“Art. 131. São pessoalmente responsáveis:

I - o adquirente ou remitente, pelos tributos relativos aos bens adquiridos ou


remidos;

II - o sucessor a qualquer título e o cônjuge meeiro, pelos tributos devidos pelo de


cujus até a data da partilha ou adjudicação, limitada esta responsabilidade ao
montante do quinhão do legado ou da meação;

III - o espólio, pelos tributos devidos pelo de cujus até a data da abertura da

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sucessão.”

O IPTU constitui obrigação propter rem, possuindo como fato gerador "a
propriedade, o domínio útil ou a posse de bem imóvel por natureza ou por acessão física", na
forma do art. 32 do CTN.

O contribuinte, por consequência, é o proprietário do imóvel, nos termos do artigo


34 do CTN que assim dispõe:

“Art. 34. Contribuinte do imposto é o proprietário do imóvel, o titular do seu


domínio útil, o seu possuidor a qualquer título.”

Sobre o a obrigação propter rem, vejamos a jurisprudência deste Sodalício:

“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE COBRANÇA. TAXAS CONDOMINIAIS.


ILEGITIMIDADE PASSIVA. NÃO OCORRÊNCIA. OBRIGAÇÃO PROPTER REM.
RESPONSABILIDADE PELO PAGAMENTO PROPRIETÁRIO DO IMÓVEL.
CONTRATO DE COMPRA E VENDA. AUSÊNCIA DE REGISTRO. SENTENÇA
MANTIDA. 1. Por se tratar de obrigação propter rem, o pagamento da taxa
condominial vincula o proprietário que consta no registro imobiliário. 2. Não
havendo ocorrido à averbação da compra e venda no registro do imóvel e nem
prova da ciência do condomínio sobre a transferência da titularidade do bem, os
valores das taxas condominiais devem ser atribuídos ao proprietário constante do
registro. 3. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO.” (TJGO, Apelação (CPC)
0214991-90.2015.8.09.0051, Rel. FERNANDO DE CASTRO MESQUITA, 3ª
Câmara Cível, julgado em 02/02/2018, DJe de 02/02/2018).

“EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NA APELAÇÃO CÍVEL. OBRIGAÇÃO


PROPTER REM. ILEGITIMIDADE PASSIVA DA EMBARGADA. INEXISTÊNCIA
DE OMISSÃO, OBSCURIDADE OU CONTRADIÇÃO. I - A obrigação dos
pagamentos condominiais tem natureza propter rem, ou seja, persegue a coisa a
teor do artigo 1.345 do Código Civil. II - [...].EMBARGOS DECLARATÓRIOS
REJEITADOS.” (TJGO, APELAÇÃO CÍVEL 112486-55.2014.8.09.0051, Rel.
DES. NORIVAL DE CASTRO SANTOMÉ, 6A CÂMARA CÍVEL, julgado em
28/11/2017, DJe 2402 de 07/12/2017).

“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE COBRANÇA. TAXAS CONDOMINIAIS.


OBRIGAÇÃO PROPTER REM. LEGITIMIDADE AD CAUSAM.
RESPONSABILIDADE DO PROPRIETÁRIO PELO ADIMPLEMENTO. ÔNUS DA
PROVA. 1. As obrigações pelo pagamento das taxas condominiais possuem
natureza propter rem, ou seja, perseguem a coisa. Desse modo, o proprietário de
imóvel em condomínio responde pelas cotas condominiais em atraso. 2- 4. [...].
APELAÇÃO CÍVEL CONHECIDA, PORÉM DESPROVIDA. SENTENÇA
MANTIDA.” (TJGO, Apelação (CPC) 5327303-84.2016.8.09.0051, Rel. JEOVÁ

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SARDINHA DE MORAES, 6ª Câmara Cível, julgado em 01/11/2017, DJe de
01/11/2017).

“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE E INDENIZAÇÃO


POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. REQUISITOS NECESSÁRIOS À
CONCESSÃO DA PROTEÇÃO POSSESSÓRIA. NÃO COMPROVAÇÃO DE
ESBULHO. UNIÃO ESTÁVEL RECONHECIDA INCIDENTALMENTE.
OBRIGAÇÃO PROPTER REM. RESPONSABILIDADE DO POSSUIDOR.
DANOS MORAIS. INEXISTÊNCIA. 1- 4.[…]. 5. As despesas de água, energia,
gás, IPTU e condomínios são obrigações de natureza propter rem, ou seja,
embora o proprietário seja sujeito delas apenas por ser o titular do domínio, a
indenização postulada assemelhasse a uma ação de regresso. Apelação
conhecida e parcialmente provida. Sentença reformada em parte. (TJGO,
APELAÇÃO CÍVEL 80121-68.2014.8.09.0011, Rel. DES. ITAMAR DE LIMA, 3A
CÂMARA CIVEL, julgado em 04/10/2016, DJe 2131 de 14/10/2016).

Outrossim, insta consignar que há notícia nos autos de que o inventariante era
curador do de cujus e que residia com ele no apartamento 1.201 do Edifício Art I Siron Franco, no
Setor Oeste, Goiânia, antes do seu falecimento e que, após o óbito (09.05.2015), continuou
residindo no imóvel a fim de zelar do patrimônio. Por outro lado, não consta dos autos qualquer
pedido dos demais herdeiros para desocupação do referido imóvel.

Demais disso, o inventariante/agravante vem requerendo nos autos de origem a


liberação de dinheiro para adimplir os débitos dos referidos imóveis desde 2016, todavia, somente
na decisão recorrida a matéria foi enfrentada e o pleito indeferido.

Ressalte-se que o inventariante/agravante desocupou o imóvel em 11.01.2018.

Em relação às salas comerciais, o inventariante informa nos autos que sempre


estiveram ocupadas por acervo de documentos de terceiros que foram representados pelo autor
do espólio e livros, visto que o de cujus exercia a advocacia, e, pelo compulso dos autos, não
verifico provas de que o inventariante/1º agravante usufruía das referidas salas em proveito
próprio.

Extrai-se ainda dos autos que a sala comercial de n. 403, situada na Rua 10, n.
93, Setor Oeste, Goiânia, encontra-se locada desde 05.02.2016, conforme contrato jungido no
evento n. 01, arquivo 28.12, contrato de locação da sala, sendo de responsabilidade do locatário
as despesas relativas aos encargos de impostos (IPTU), taxas e tributos que sobre ela incida
(cláusula 5ª), a partir da locação.

No evento n. 01, arquivo 28.13contratodelocacaodasala4, foi entabulado novo


contrato de aluguel tendo como objeto a mesma sala 403 acima referida, com vigência a partir de
02.02.2018.

Deste modo, deverá o espólio arcar com o pagamento das despesas relativas ao
condomínio, IPTU, IPVA e demais taxas relativas aos bens que lhe pertencem, exceto em relação
à sala n. 403, situada na Rua 10, n. 93, Setor Oeste, Goiânia, desde a sua locação (05.02.2016),
conforme contrato jungido no evento n. 01, arquivo 28.12contratodelocacaodasal, sendo do
locatário as despesas relativas aos encargos de impostos (IPTU), taxas e tributos que sobre ela
incidam (cláusula 5ª), a partir da locação.

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Sobre a possibilidade de deferimento de expedição de alvará para pagamento
das despesas do espólio, eis a jurisprudência deste Tribunal de Justiça:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO SECUNDUM EVENTUM LITIS. AÇÃO


DE INVENTÁRIO. PEDIDO DE EXPEDIÇÃO DE ALVARÁ PARA RESTITUIÇÃO
DE VALOR PAGO REFERENTE A IPTU EM NOME DO ESPÓLIO.
POSSIBILIDADE. AUSÊNCIA DE COMPROVANTE DE PAGAMENTO.
DEMONSTRATIVO DE DÉBITO ATUALIZADO. LIBERAÇÃO NO VALOR
APRESENTADO. I - […]. II- Encontra-se o processo de inventário em curso, pode
o juiz autorizar o pagamento das dívidas vencidas e exigíveis do espólio
devidamente comprovadas. III-IV - [...]. AGRAVO DE INSTRUMENTO
CONHECIDO E DESPROVIDO.” (TJGO, Agravo de Instrumento ( CPC )
5318992-63.2016.8.09.0000, Rel. MARIA DAS GRAÇAS CARNEIRO REQUI, 1ª
Câmara Cível, julgado em 15/12/2017, DJe de 15/12/2017).

“AGRAVO DE INSTRUMENTO. ALVARÁ AUTORIZANDO PAGAMENTO DE


DÍVIDAS DO ESPOLIO. DECISÃO MANTIDA. 1 - Encontra-se o processo de
inventário em curso, pode o juiz autorizar o pagamento das dívidas vencidas e
exigíveis do espólio devidamente comprovadas. (...). Agravo de instrumento
conhecido e improvido.” (TJGO, 4ª CC, Des. Floriano Gomes, 26180-9/180 - AI,
DJ 13800 de 17/06/2002).

Quanto ao segundo ponto da insurgência, relativa a expedição de alvará para


pagamento da suposta dívida a Srª Eliana Teixeira Aguiar, pela prestação de serviços contábeis,
não merece reforma o ato atacado.

De fato, não há nos autos qualquer prova do inadimplemento e da prestação do


serviço. Tem-se apenas o contrato entabulado entre o de cujus e a Sra. Eliana Teixeira Aguiar, o
que revela-se insuficiente a fim de garantir o pagamento do suposto débito.

Assim, não apresentado o mínimo de prova a fim de comprovar o débito alegado,


o indeferimento do pleito de levantamento de alvará para quitar o suposto débito é medida que se
impõe.

Ressalto que o deslinde dado a este ponto na ação de inventário não impede a
suposta credora de pleitear em ação própria ou como incidente do inventário o recebimento do
valor que entende ter direito.

No que se refere ao terceiro e último ponto apresentado pelos agravantes,


levantamento de alvará no valor de R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil reais) para pagamento
dos serviços de advocacia que lhes foram prestados nos autos, a título de adiantamento da
legítima, vejo que merece reforma a decisão recorrida.

Os agravantes fundamentam seu pedido na cláusula 2ª do contrato de prestação


de serviços advocatícios, entabulado em 11.05.2015, jungidos aos autos de origem no evento n.
37, doc. 22.1contratodehonorarios.pdf que prevê:

“Cláusula Segunda – VALOR E FORMA DE PAGAMENTO

Os CONTRATANTES pagarão ao CONTRATADO, a título de honorários


advocatícios, o valor pertinente a 10% (dez por cento) da parte que lhes caiba no

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espólio objeto da partilha levando-se em consideração para incidência do
percentual o valor de mercado dos bens e diritos no momento da realização do
pagamento.

Transcorridos dois anos e meio contados da assinatura deste contrato caso a


parte dos CONTRATANTES ainda não tenha sido disponibilizada pelo espólio,
este se obrigam a pagar ao CONTRATADO a importância de R$ 150.000,00
(cento e cinquenta mil reais).

Desse modo, quando os CONTRATANTES receberem a parte que lhes cabe no


espólio, passando a ser exigível o valor correspondente a 10% (dez por cento) do
mesmo por parte do CONTRATADO, será descontado do montante devido ao
mesmo o que já foi pago anteriormente pelos CONTRATANTES durante a
vigência dessa avença.

Argumentam que, “ante a impossibilidade de arcarem com a quantia referida, a


fim de evitar a mora e sanções contratuais, requerem a liberação do valor como adiantamento da
legítima.”

Outrossim, asseveram que a magistrada condutora do feito em momento anterior


proferiu decisão autorizando a antiga inventariante levantar alvará da quantia de R$ 200.000,00
(duzentos mil reais) para pagamento de despesas de honorários advocatícios e subsistência e
que o indeferimento nesta situação idêntica indica parcialidade por parte da magistrada condutora
do feito.

Compulsando os autos, vê-se que a magistrada de 1º grau deferiu a expedição de


alvará judicial no valor de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais) em favor da Sra. Beatriz e os
herdeiros Maurício e Cláudia para pagamento de honorários advocatícios contratados e para a
própria subsistência, com a observação de que tal quantia deve ser abatida de suas quotas
partes (evento n. 03, arquivo n. 000075).

Assim, considerando que a tramitação da ação de inventário já perdura mais de


03 (três) anos, ou seja, prazo superior ao previsto no contrato de honorários advocatícios
entabulado entre os agravantes e seu advogado, 2 (dois) anos e 6 (seis) meses, sem efetivada a
partilha dos bens e que o quinhão de cada herdeiro é superior ao valor pleiteado como
adiantamento da legítima, qual seja, R$ 75.000,00 (setenta e cinco mil reais) para cada um dos
contratantes/agravantes, de forma excepcional, deve ser deferido o levantamento da quantia
pleiteada para a finalidade específica de pagamento dos honorários advocatícios previsto no
contrato jungido no evento n. 37, doc. 22.1contratodehonorarios.pdf.

Ademais, a norma processual civil prevê, inclusive, até mesmo o mecanismo para
evitar decisões conflitantes. Assim, tendo em vista que a magistrada condutora do feito proferiu
decisão deferindo o levantamento de alvará para pagamento da mesma verba quando postulado
pelos demais herdeiros e pela inventariante anterior, em situação idêntica, deve ser reformada a
decisão recorrida neste ponto, a fim de garantir o tratamento isonômico entre os herdeiros.

Ante ao exposto, conheço do agravo de instrumento e dou-lhe parcial


provimento para reformar a decisão agravada e deferir o levantamento do valor necessário para
adimplir os débitos de bens pertencentes ao espólio, relativos a IPTU e taxa de condomínio do
apartamento 1.201, do Edifício Art I Siron Franco, no Setor Oeste, Goiânia, e das salas
comerciais situadas no Edifício Juris Center, localizadas na Rua 10, n. 93, Setor Oeste, nesta
Capital, salas 403 e 404, com exceção da sala 403, durante o período de locação acima
mencionado. Autorizo também o levantamento de valores para pagamento dos débitos oriundos

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do IPVA do veículo VW Santana ano/modelo 2004/2005. Reformo ainda o capítulo da decisão
recorrida que indeferiu o pedido de expedição de alvará no valor de R$ 150.000,00 (cento e
cinquenta mil reais) para pagamento de honorários advocatícios do profissional da advocacia
contratados pelos herdeiros agravantes, devendo referido valor ser liberado a título de
adiantamento da legítima dos recorrentes (herdeiros Norton Teixeira Monteiro e Cristina
Teixeira Monteiro) na proporção de 50% (cinquenta por cento) para cada, expedindo-se os
alvarás necessários em nome do inventariante/1º recorrente, que deverá prestar contas nos autos
do inventário, no prazo de 15 (quinze) dias, após o recebimento do alvará, comprovando o
pagamento das dívidas.

Comunique-se ao Juízo de 1º grau, para conhecimento e cumprimento do


decidido por este Tribunal de Justiça.

Écomo voto.

Goiânia, 19 de junho de 2018.

Des. CARLOS ALBERTO FRANÇA

RELATOR

/C60

Agravo de Instrumento n. 5192618.31.2018.8.09.0000

Comarca de Goiânia

Agravante : Norton Teixeira Monteiro e outro

Agravados : Beatriz Teixeira Monteiro e outros

Relator : Desembargador Carlos Alberto França

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos de Agravo de Instrumento nº


5192618.31.2018.8.09.0000, da Comarca de Goiânia, figurando como agravantes Norton
Teixeira Monteiro e outro e como agravados Beatriz Teixeira Monteiro e outros.

ACORDAM os integrantes da Terceira Turma Julgadora da Segunda Câmara


Cível do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, por unanimidade de votos, em conhecer

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do agravo de instrumento e dar-lhe parcial provimento, nos termos do voto do Relator, proferido
na assentada do julgamento e que a este se incorpora.

Votaram, além do Relator, o Desembargador Amaral Wilson de Oliveira e o


Doutor José Carlos de Oliveira, Juiz de Direito Substituto em 2º Grau, atuando em substituição
ao Desembargador Ney Teles de Paula.

Presidiu o julgamento o Desembargador Carlos Alberto França.

Esteve presente à sessão a Doutora Dilene Carneiro Freire, representando a


Procuradoria-Geral de Justiça.

Goiânia, 19 de junho de 2018.

Des. CARLOS ALBERTO FRANÇA

RELATOR

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