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A família na reinserção social

PADRE HAROLDO J. RAHM, SJ 04/03/2015 PARA ENTENDER...

A participação da família no momento da reinserção


social é de suma importância. Não só de familiares, mas
de amigos também. Entenda-se por amigos aquelas
pessoas que apoiam o indivíduo antes e durante o
tratamento. Mesmo quando o dependente químico ainda
está na ativa (fazendo uso de substâncias químicas), são
essas pessoas – familiares, cônjuges e amigos – que
influenciam positivamente.

A partir do momento em que elas procuram ajuda já


começam a trabalhar os limites e as mudanças de
comportamento, o que vai colaborar, e muito, na
segurança para o retorno do indivíduo à sua casa.

Uma mudança muito importante no processo da


Reinserção é a abstinência química da família. Por
exemplo, é inacreditável o número de famílias que
recebem o indivíduo de volta para casa com churrascos
banhados a cerveja.

Essa atitude de abstinência familiar vai alicerçar a


mudança no estilo de vida do dependente químico.
É essencial também a ajuda de um grupo de apoio que
vai preparar a família com um novo repertório de
respostas (recheadas de disciplinas e limites). Uma
família organizada e empenhada no tratamento ajuda
muito mais que uma desorganizada. Trata-se de um
contato de mútua ajuda entre a equipe de tratamento, a
família e o indivíduo.Para iniciar a organização em casa,
o ideal nesse momento seria que cada membro da
família tivesse o seu papel definido: que o pai seja pai,
que a mãe seja a mãe, que os irmãos sejam irmãos, que
os avós sejam avós.

Outro ponto a ser observado é a codependência. Para


muitas famílias, o dependente químico é o alimentador
patológico desta codependência. Por isso, muitas vezes,
a equipe de tratamento funciona como um “calcanhar de
Aquiles”, lembrando constantemente a família do
problema instalado e a importância das mudanças de
postura. A família tem que cuidar para que o indivíduo
não se torne o “bode expiatório” da situação. Às vezes
até já existia uma crise implícita instalada na família
anterior ao problema da adição química. As pessoas não
as percebem e tendem a culpar o dependente químico,
pois a própria doença é uma crise explícita.

Por fim, vale pensar que o papel da família é muito mais


comportamental do que biológico, por isso, cuidado com
as mudanças físicas, elas são fáceis, mas as emocionais
não. Após o tratamento o indivíduo chegará em casa
forte e saudável, mas cheio de dúvidas e incertezas.

ATENÇÃO:

E quando não existe família ou amigos?

Existem Instituições de encaminhamento que podem


substituir a família cosanguínea.
E quando não existe uma família completamente
funcional (alguns da família não aceitam a dependência
química )?

Sempre tem alguma pessoa que quer apoiar o indivíduo


em recuperação. Mesmo dentro da mesma família a mãe
pode apoiar e o pai não. O dependente químico deve se
relacionar com aquele que o fortaleça e, sobretudo, ele
deve cuidar para não julgar ninguém, nem aqueles que
não o apoiam, pois este tipo de julgamento pode ser
alicerce para uma recaída.

Felizmente todo o tipo de resposta que precisamos está


à nossa disposição dentro de nós, embora muitas vezes
pareça vir de fora, tal como por intermédio de outras
pessoas. Só precisamos reconhecer este fato, assim
adquirimos mais liberdade e sobriedade.

Também devemos ser sinceros sobre como realmente


nos sentimos para sermos realmente alguém na vida.
Deus só pode mudar o modo como sentimos se nos
aproximarmos Dele exatamente como realmente somos.

Sou sincero comigo mesmo sobre o modo como


realmente me sinto por dentro?

“Deus, ajuda-me a adquirir novos hábitos da consciência


de mim e de Ti, em substituição aos hábitos antigos que
quase destruíram a minha vida.”

Padre Haroldo J. Rahm, sj, é Presidente emérito do


Instituto Padre Haroldo e do Amor Exigente

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