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#metodologia
queempodera
2023
© Todos os direitos autorais desta obra são reservados e protegidos à Editora Sanar Ltda. pela Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de
1998. É proibida a duplicação ou reprodução deste volume ou qualquer parte deste livro, no todo ou em parte, sob quaisquer formas
ou por quaisquer meios (eletrônico, gravação, fotocópia ou outros), essas proibições aplicam-se também à editoração da obra, bem
como às suas características gráficas, sem permissão expressa da Editora.
FICHA CATALOGRÁFICA
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Tuxped Serviços Editoriais (São Paulo-SP)
Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário Pedro Anizio Gomes – CRB-8 8846
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Apostila Bases da Medicina – Residência Médica: Clínica Médica V - Reumatologia / Coordenador: Thiago
Aragão Leite; Autora: Aline Kühl Torricelli. – 1. ed. – Salvador, BA : Editora Sanar, 2023.
366 p.; figs.
E-book: 11.5 Mb; PDF.
Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-5462-366-1.
1. Clínica Médica. 2. Medicina. 3. Residência. 4. Reumatologia. I. Título. II. Assunto. III. Coordenador. IV. Autora.
CDD 611.7
CDU 611.74
Possui graduação pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (2012). Clínica Médica pela Unicamp.
Reumatologia pela Faculdade de Medicina USP (HC-FMUSP). Médica preceptora do Departamento de Reu-
matologia HC-FMUSP (2018-2019).
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COMO GARANTIR UMA APRENDIZAGEM
EFICAZ E UMA RETENÇÃO DURADOURA?
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1. MAPAS MENTAIS
u Como fazer: A partir do Título e da sua lista de palavras, comece a criar o seu Mapa:
a) Enquanto estuda um assunto, comece a escrever uma lista de palavras importantes que
você não pode deixar de entender e reter na sua memória. Enquanto faz isso, pense em
como essas palavras se conectam entre si.
b) Coloque o título no centro da folha. A partir dele, puxe linhas que conectem as informações
associadas ao título, que serão algumas das palavras da sua lista.
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Como garantir uma aprendizagem eficaz e uma retenção duradoura?
d) Utilize formas geométricas para distinguir as palavras do seu mapa por categorias, por
exemplo, use retângulos para todas as palavras que se encaixam na categoria Causas, use
eclipses para as palavras que você encaixa em Efeitos.
e) Use cores diferentes para deixar o seu mapa mental ainda mais claro e conectado. Defina
as cores que você irá utilizar para cada categoria ou cada tipo de conexão.
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Essa tarefa pode até demorar um pouco mais no começo, mas, com um pouco
de prática, você não vai gastar mais do que 10 minutos para garantir um enten-
dimento aprofundado e uma aprendizagem mais eficaz e duradoura.
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Como garantir uma aprendizagem eficaz e uma retenção duradoura?
2. FLUXOGRAMAS
u Quando fazer: Os Fluxogramas são ideais para consolidar processos e passo a passos! Por
exemplo, você pode começar o seu Fluxograma com uma suspeita diagnóstica, para depois
passar pela classificação e chegar até o tratamento.
u Como fazer: A partir do seu objetivo, defina o título e os assuntos que irão entrar no seu
Fluxograma:
a) Depois de ter estudado um assunto mais amplo, pense no quadro completo que você
precisa entender e saber. A partir disso, crie a lista de palavras, conceitos e frases mais
importantes que você precisa incluir para atingir o seu objetivo.
b) Coloque o Título no centro da folha. A partir do título, puxe linhas que conectem as infor-
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mações associadas ao título, que serão algumas das palavras ou frases da sua lista.
e) Utilize formas geométricas para distinguir as palavras do seu mapa por categorias, por
exemplo, use retângulos para todas as palavras que se encaixam na categoria Causas, use
eclipses para as palavras que você encaixa em Efeitos.
f) Use cores diferentes para deixar o seu mapa mental ainda mais claro e conectado. Defina
as cores que você irá utilizar para cada categoria ou cada tipo de conexão.
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Como garantir uma aprendizagem eficaz e uma retenção duradoura?
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No final, você terá um grande Fluxograma que não só vai garantir o seu entendi-
mento, mas facilitará a revisão dos assuntos mais amplos e ajudará o seu cérebro
a aprender, reter e saber usar as informações estudadas.
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Como garantir uma aprendizagem eficaz e uma retenção duradoura?
3. RESUMOS
u Quando fazer: Sempre que estudar! Resumos de fechamento são essenciais para a apren-
dizagem.
u Como fazer: Para executar essa estratégia você irá precisar só de alguns minutos, mas tam-
bém de concentração e reflexão.
b) Marque ou grife as palavras chave no texto ou as anote no seu caderno caso você esteja
assistindo uma videoaula.
c) Assim que terminar de estudar informações novas, olhe para as suas palavras chave e
reflita sobre 2 perguntas:
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• O que acabei de aprender sobre o assunto?
• Como isso se conecta ou se relaciona com o que eu já sabia?
d) Começa a escrever breves respostas, de no máximo 10 linhas para cada uma dessas per-
guntas.
e) Garanta que o seu texto seja sucinto, sem repetições e descrições desnecessárias, mas
que responda bem às perguntas acima.
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CONHEÇA A APOSTILA
Importância/prevalência
do capítulo: Frequência do
conteúdo em questões de
provas de residência.
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o que realmente cai na prova.
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Conheça a apostila
Número do capítulo.
Subcapítulos em destaque.
Indicação da especialidade
ou área do capítulo.
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Sumário nas aberturas dos módulos,
com indicação dos níveis de
importância de cada capítulo.
importância/prevalência
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Conheça a apostila
Indicação da especialidade
Título do capítulo. ou área do capítulo.
Título do capítulo.
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Gabarito e comentário das questões,
com explicação do professor tanto
da resposta correta quanto do motivo
de as outras estarem incorretas.
dificuldade: Fácil
dificuldade: Intermediário
dificuldade: Difícil
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Conheça a apostila
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Ao final da apostila e de alguns capítulos você
encontrará espaços para construir mapas mentais,
fluxogramas ou fazer resumos e, assim, fixar seu conhecimento!
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SUMÁRIO
REUMATOLOGIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
1. Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
2. A articulação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
3. Outras estruturas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
4. Aborgadem da queixa reumatológica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
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5. Anamnese . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
6. Exame físico musculoesquelético . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
7. L
aboratório em reumatologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
7.1. Provas de atividade inflamatória . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
7.2. Complemento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
8. Fator reumatoide . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
1. Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
2. Epidemiologia e etiopatogênese . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
2.1. A membrana sinovial na AR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
3. Quadro clínico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
3.1. Manifestações articulares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
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Sumário
4. Exames laboratoriais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
5. Métodos de imagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
6. Diagnóstico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
7. D
iagnósticos diferenciais – Fique ligado! . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
7.1. Osteoartrite primária versus AR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
7.2. Artropatia de Jaccoud versus AR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
7.3. Artrite psoriásica versus AR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
7.4. Fibromialgia versus AR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
8. Tratamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
8.1. Screening para uso de DMARD biológico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
9. P
rognóstico e comorbidades associadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
capítulo 3. ESPONDILOARTRITES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
1. Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
2. Etiopatogenia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
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3. Espondiloartrites predominantemente axiais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
3.1. E
spondilite anquilosante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
1. Introdução e epidemiologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95
16
Sumário
1. Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115
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5. Manifestações clínicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120
5.1. A
rtrite séptica bacteriana não gonocócica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120
5.2. Artrite gonocócica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120
1. Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133
2. Epidemiologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 134
3. Fisiopatologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 134
3.1. Fatores genéticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 134
3.2. Fatores hormonais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 134
3.3. Fatores ambientais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 134
3.4. Anormalidades imunológicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 134
17
Sumário
8. Tratamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 147
8.1. Medidas não medicamentosas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 147
8.2. Medicamentoso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 148
8.3. Treinamento de prescrição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 148
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Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 152
Questões comentadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 153
18
Sumário
1. Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 193
2. Classificação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 194
3. Fisiopatologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 196
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3.1. M
ecanismo Tipo I: participação eosinófilo, mastócito e IgE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 196
3.2. Mecanismo Tipo II: anticorpo contra antígeno celular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 196
3.3. M ecanismo Tipo III: mediado por imunocomplexos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 197
3.4. M ecanismo Tipo IV: participação do linfócito T . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 197
19
Sumário
1. Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 237
2. Epidemiologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 237
3. Fisiopatologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 238
4. Manifestações clínicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 239
4.1. Manifestações critério . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 239
Mapa mental. A três etapas dos testes para anticoagulante lúpico (ACL) . . . . . 243
Mapa mental. Anticorpos antifosfolípides . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 245
8. Tratamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 246
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capítulo 10. OSTEOARTRITE E DOENÇAS MICROCRISTALINAS . . . . . . . . . . . 255
OSTEOARTRITE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 255
1. Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 257
2. Epidemiologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 257
3. Fisiopatologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 257
4. Classificação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 258
5. Manifestação clínica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 258
5.1. Mãos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 259
5.2. Joelhos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 259
5.3. Quadril . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 260
5.4. Ombros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 260
5.5. Pés . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 261
5.6. Coluna . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 261
7. Tratamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 261
7.1. Medidas não farmacológicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 261
7.2. Medidas farmacológicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 262
7.3. Cirurgia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 263
20
Sumário
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1. Definição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 283
2. Epidemiologia e fatores de risco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 284
3. Fisiopatologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 285
4. Rastreamento e diagnóstico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 288
5. Ferramenta FRAX . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 288
6. Manifestações clínicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 289
7. Exames complementares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 289
8. C
lassificação da fratura vertebral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 290
9. Osteoporose secundária . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 291
10. Tratamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 292
10.1. Não medicamentoso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 292
10.2. Medicamentoso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 292
10.3. Drug holiday . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 296
10.4. O
steoporose induzida pelo glicocorticoide (OPIG) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 296
21
Sumário
1. Fibromialgia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 307
1.1. Definição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 307
1.2. Epidemiologia e etiologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 307
1.3. Fisiopatologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 308
1.4. Manifestações clínicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 309
1.5. Diagnóstico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 309
1.6. D
iagnósticos diferenciais e patologias coexistentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 312
1.7. Tratamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 312
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Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 327
Bibliografia consultada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 327
Questões comentadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 328
1. Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 333
2. A coluna vertebral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 333
2.1. Região cervical . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 333
3. Etiologias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 335
4. Abordagem da cervicalgia e lombalgia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 336
4.1. Anamnese . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 336
22
Sumário
6. Conduta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 344
6.1. Terapia não farmacológica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 344
6.2. Terapia medicamentosa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 344
6.3. Tratamento cirúrgico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 344
1. Amiloidose . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 353
1.1. Amiloidose Light Chain (AL) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 353
1.2. Amiloidose (AA) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 354
1.3. Amiloidose associada à diálise . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 354
1.4. Amiloidoses hereditárias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 355
1.5. Diagnóstico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 355
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4. Febre familiar do mediterrâneo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 360
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REUMATOLOGIA
REUMATOLOGIA
Sumário
Prevalência/importância
1. Introdução à reumatologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
2. Artrite reumatoide . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
3. Espondiloartrites . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
4. Artrite idiopática juvenil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
5. Artrite séptica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
6. Lúpus eritematoso sistêmico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
7. Outras colagenoses . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
8. Vasculites sistêmicas primárias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
9. Síndrome antifosfolípide . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
10. Osteoartrite e doenças microcristalinas . . . . . . . . . . . . . . . .
11. Osteoporose . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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12. F
ibromialgia e síndromes
reumáticas dolorosas regionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
13. Lombalgia e cervicalgia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
14. Miscelânia em reumatologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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Capítulo
INTRODUÇÃO À REUMATOLOGIA
1
importância/prevalência
1. INTRODUÇÃO 2. A ARTICULAÇÃO
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o que faz um reumatologista e quando procurá-lo. s articulações podem ser classificadas morfologica-
A
mente, ou seja, considerando seu componente mais
O estudo das afecções que acometem o aparelho característico em 3 classes:
musculoesquelético, como tendões, ligamentos e
W Fibrosas (sinartrose): ossos unidos por tecido fibroso.
articulações, é do âmbito da reumatologia. Erronea-
Possuem pequeno ou nenhum movimento, como as
mente, algumas pessoas atribuem à reumatologia o suturas do crânio e a articulação radioulnar (sindes-
cuidado exclusivo de doenças raras e autoimunes, mose).
ou ainda exclusivo de pessoas idosas. As doenças
W Cartilaginosas: ossos unidos por cartilagem hialina
do escopo da reumatologia podem ser chamadas ou fibrocartilagem. Exemplo clássico são a sínfise
pelos leigos de “reumatismos”. Mas, como iremos púbica e as articulações dos corpos vertebrais (coluna).
ver ao longo dos capítulos, são inúmeras as doenças
W Sinoviais (diartroses): são articulações que possuem
reumatológicas, muito diferentes entre si, que podem uma cápsula articular, cuja camada interna é a mem-
ser autoimunes ou não e que acometem diferentes brana sinovial. A membrana sinovial é responsável pela
faixas etárias. Importante ressaltar também que as fabricação do líquido sinovial, um excelente lubrificante,
doenças autoimunes não são exclusivamente reuma- altamente viscoso e responsável pelo transporte de
tológicas (ex.: Tireoidite de Hashimoto, cirrose biliar oxigênio e de nutrientes para a cartilagem.
primária, hepatite autoimune, entre inúmeras outras).
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Introdução à reumatologia Reumatologia
Figura 1. Articulações.
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Fonte: Acervo Sanar.
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Introdução à reumatologia Cap. 1
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Meniscos estão intra-articulares, ao passo que os ligamentos do joelho podem estar intra ou extra-articulares.
Fonte: Acervo Sanar.
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Introdução à reumatologia Reumatologia
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cimento em locais onde existem proeminências
ósseas, como em trocânteres femorais e olecranos. Identificação, queixa e duração, história da moléstia
A inflamação da bursa é conhecida como bursite atual, interrogatório dos demais aparelhos, antece-
e pode ser de etiologia traumática, infecciosa ou dentes pessoais e familiares são imprescindíveis
biomecânica. para uma boa anamnese, e, especialmente, quando
se trata de dor musculoesquelética, você deve res-
ponder aos seguintes questionamentos:
DIA A DIA MÉDICO
u Qual a estrutura envolvida?
s bursites, tendinites, lesões meniscais e ligamentares
A
W Precisamos saber se estamos diante de uma
são comuns na prática do ortopedista e do reumatologista. estrutura articular ou extra-articular. Bursites,
A diferença é que o reumatologista tem uma formação tendinites e lesões musculares são extra-arti-
clínica, e o ortopedista, cirúrgica. Portanto, havendo a culares, enquanto a sinovite é intra-articular.
necessidade de intervenção cirúrgica, os pacientes devem
ser encaminhados ao ortopedista. u Caso se trate de uma localização articular, estou
diante de uma artralgia ou artrite?
4. A BORGADEM DA QUEIXA W A artrite é caracterizada por dor, aumento de
REUMATOLÓGICA volume e de temperatura da articulação. Algu-
mas vezes, observa-se eritema. Já artralgia é
a dor de localização articular.
Como você entendeu o que faz a reumatologia,
agora fica fácil assumir que o principal sintoma que u O padrão da minha dor é inflamatório ou mecânico?
leva um paciente a procurar esse profissional, ou W A dor inflamatória é contínua, com piora nos
períodos de repouso e melhora à movimen-
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Introdução à reumatologia Cap. 1
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W
u Existe história de trauma?
W Poliarticular: a partir de 5 articulações.
W A interface da reumatologia com a ortopedia
W Existem doenças caracteristicamente poliar- é grande; logo, não se esqueça de fazer essa
ticulares, como a artrite reumatoide. Outras, pergunta. Exemplos comuns são as lesões
como artrite séptica e gota, tendem a ser mo- meniscais e ligamentares traumáticas de joe-
noarticulares. lho e entorses de tornozelo.
u Existe simetria ou assimetria no envolvimento
articular?
DIA A DIA MÉDICO
W É caracterizado como simétrico quando as
mesmas articulações dos lados direito e es- a prática, lembre-se de fazer a diferenciação da dor
N
querdo estão envolvidas (ex.: punho direito e musculoesquelética com a etiologia vascular ou a neu-
esquerdo). A espondilite anquilosante cursa rológica. Não é incomum se deparar com queixas de dor
com sacroileíte simétrica, e a artrite reumatoi- não musculoesquelética e compatível com claudicação
de com poliartrite simétrica. Já a osteoartrite vascular, trombose venosa profunda ou neuropatia.
tende a ser assimétrica.
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Introdução à reumatologia Reumatologia
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postura, presença de deformidades, trofismo e
de investigação complementar.
desalinhamentos.
u Palpação: procurar por pontos dolorosos que Se você solicita provas de atividade inflamatória ou
reproduzem a queixa do paciente. Atentar para autoanticorpos para pacientes com dados claros
sinais flogísticos compatíveis com etiologia in- de etiologia mecânica, ou seja, uma solicitação
flamatória, como aumento de temperatura, dor, desnecessária, o que fazer diante de um resultado
rubor, edema. Também é possível detectar a positivo, um FAN, por exemplo? Só peça exames se
presença de crepitações, sugestivas de etiolo- houver dado clínico que corrobore a sua suspeita.
gia degenerativa. Lembre-se: a clínica é soberana!
u Amplitude de movimento articular: testar a mo-
bilidade articular através de movimentos ativos 7.1. PROVAS DE ATIVIDADE INFLAMATÓRIA
(próprio paciente faz), passivos (o examinador
faz) e contrarresistência (feitos pelo paciente
contra a oposição do examinador). BASES DA MEDICINA
u Força muscular, sensibilidade e reflexo: testar
força muscular, sensibilidade e reflexo é importan- resposta de fase aguda pode ocorrer em diversas pato-
A
te, especialmente nas cervicalgias e lombalgias, logias inflamatórias agudas ou crônicas, como infecções
bacterianas, virais ou fúngicas graves, doenças reumáticas
para avaliar a presença de envolvimento radicular.
e outras doenças inflamatórias, malignidades ou necrose
A avaliação da força muscular também é impor- tecidual. Essas doenças produzem uma resposta em que
tante na suspeita das miopatias inflamatórias. a interleucina 6 e outras citocinas desencadeiam a sín-
u Testes e manobras específicas: existem ma- tese hepática de várias proteínas plasmáticas, inclusive
nobras específicas de acordo com a patologia a Proteína C Reativa (PCR) e o fibrinogênio. A detecção e
monitoração desses reagentes de fase aguda podem ter
pesquisada (ex.: Teste de Neer para síndrome do
utilidade clínica, sendo dosadas, habitualmente, em vários
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Introdução à reumatologia Cap. 1
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mm/h), devemos estar atentos à presença de infec- Beta Lipoproteínas (LDL), transferrina, beta-2-mi-
ções, vasculites ou malignidade. A VHS é útil em croglobulina e a fração C3 (complemento) estão
pacientes com artrite reumatoide, espondiloartrites localizadas na banda beta globulina.
e vasculites para monitoramento da doença. A ausência ou a diminuição da banda gama (imu-
noglobulinas) indica imunodeficiências congênitas
7.1.2. PCR
ou adquiridas. Já o aumento dessa banda pode ser
A Proteína C Reativa (PCR) é produzida pelo fígado policlonal, por condições inflamatórias, ou monoclo-
através do estímulo da IL-6, liberada no contexto nal, como no mieloma múltiplo e em outras desor-
inflamatório. Na resposta de fase aguda, os níveis dens linfoproliferativas, como Macroglobulinemia
de PCR sobem mais rapidamente que o VHS e, de Waldenstrom.
uma vez o processo inflamatório resolvido, declina Portanto, a EFPSE num contexto inflamatório pode
rapidamente. evidenciar: diminuição de albumina, elevação de
Trata-se de um método direto de detecção do pro- alfa globulinas (alfa-2 mais proeminente) e gama
cesso inflamatório, porém não é específico de infla- globulinemia policlonal.
mação de origem reumatológica, assim como o
VHS, podendo estar elevado em infecções, traumas,
malignidade. Por ser um método direto, ele preserva
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Introdução à reumatologia Reumatologia
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W
doença, pois esses não são marcadores esperados para
microbianas na ausência de anticorpos. Nem C1q
as colagenoses, mas para detectar infecção concomitante.
nem C4 participam.
34
Introdução à reumatologia Cap. 1
Formação de C3-convertase
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Clivagem de C3
Formação de C5-convertase
Opsonização de Recrutamento
Morte de patógenos
microrganismos de fagócitos
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Introdução à reumatologia Reumatologia
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7.2.2. Níveis de C3
DIA A DIA MÉDICO
A concentração de C3 é determinada por imunoen-
saio, em geral por nefelometria. As vias clássica e ara o acompanhamento de pacientes portadores de
P
alternativa convergem no C3. A diminuição simul- lúpus eritematoso sistêmico, faz parte a solicitação de
tânea de C4 e C3 indica ativação da via clássica e C3 e C4, a fim de monitorizar atividade de doença.
a depressão de C3 com C4 normal sugere ativação
da via alternativa.
7.3. FAN
7.2.3. Níveis de C4
36
Introdução à reumatologia Cap. 1
Figura 5. Imunofluorescência indireta em células e pode atingir 99%. Útil para auxílio diagnóstico de
HEp-2 para detecção do FAN: os anticorpos. autoimunidade, mas não para acompanhamento.
Um FAN é considerado positivo se o título for igual
ou maior que 1/80. A positividade do FAN não é
exclusiva de doenças autoimunes e pode estar
presente em doenças infecciosas, neoplásicas e
até em indivíduos saudáveis.
Condições Frequência %
Artrite reumatoide
Tireoidite de Hashimoto 30-50%
(1) Presentes no sangue do paciente, se ligam especificamente a Graves
antígenos celulares. Tal ligação é evidenciada com anticorpo especí-
Esclerose múltipla
fico para imunoglobulina humana. (2) Conjugado com fluoresceína.
(3) Ao lado: padrões de imunofluorescência, (4) nuclear homogêneo, Infecções 15-25%
(5) nuclear pontilhado e (6) citoplasmático pontilhado. Linfoma
Fonte: Acervo Sanar.
Indivíduos saudáveis 5-20%
Fonte: Elaborada pela autora.
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Figura 6. Padrões de FAN na imunofluorescência.
O resultado do FAN traz 3 tipos básicos de infor-
mação:
u Positividade ou negatividade: presença ou au-
sência de autoanticorpos.
u Títulos: concentração do anticorpo. Títulos baixos
(1/80) são mais prováveis de não ter relevância
clínica, enquanto nas doenças reumatológicas
autoimunes tendem a ser encontrados títulos
moderados (1/160 – 1/320) a elevados (>1/640).
u Padrão da imunofluorescência: cada padrão su-
gere a presença de determinados autoanticorpos.
Um padrão nuclear homogêneo, por exemplo, é
sugestivo de autoanticorpos anti-DNA nativo ou
antinucleossomo. Portanto, o próximo passo
A: nuclear homogêneo; B: nuclear pontilhado fino denso; C: centro-
mérico; D: nucleolar. seria solicitar esses autoanticorpos. O mesmo
Fonte: Kumar et al.² ocorre com o padrão nuclear pontilhado grosso,
sugestivo de anticorpos anti-Sm ou anti-RNP. Por
A investigação da presença de autoanticorpos inicia- outro lado, o padrão pontilhado fino denso sugere
-se pelo FAN, que tem um alto valor preditivo negativo autoanticorpos sem contexto clínico específico,
nas doenças reumatológicas sistêmicas autoimunes, que frequentemente estão presentes em indiví-
particularmente no LES, pois sua frequência é alta duos hígidos ou com condições não relacionadas
à autoimunidade.
37
Introdução à reumatologia Reumatologia
Nuclear
Anti-Sm, Figura 7. ANCA positivo.
pontilhado LES e DMTC
anti-RNP
grosso
Anticorpo
anti-LEDGF/
Nuclear
p75, do inglês, Indivíduos
pontilhado
lens epithelium saudáveis
fino denso
derived
growth fator
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Fonte: Panda et al.³
38
Introdução à reumatologia Cap. 1
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39
Introdução à reumatologia Reumatologia
Dor musculoesquelética
Inflamatória Mecânica
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Simétrico ou Mono, oligo,
assimétrico poliarticular
40
Introdução à reumatologia Cap. 1
1. Rosa Neto NS, Carvalho JF. Rosa Neto o uso de provas Carvalho MAP, Bértolo MB, Lanna CCD, Ferreira GA. Reu-
de atividade inflamatória em reumatologia. Rev. Bras. matologia Diagnóstico e Tratamento. São Paulo: AC Farma-
Reumatol. 2009; 49(4). cêutica; 2019.
2. Kumar Y, Bhatia A, Minz RW. Antinuclear antibodies Chan EK, Damoiseaux J, Carballo OG, Conrad K, de Melo
and their detection methods in diagnosis of connec- Cruvinel W, Francescantonio PL, et al. Report of the First
tive tissue diseases: a journey revisited. Diagn Pathol International Consensus on Standardized Nomenclature of
[Internet]. 2009 [acesso em 25 jul 2022]; 4:1. Disponí- Antinuclear Antibody HEp-2 Cell Patterns 2014-2015. Front
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g=PMC2628865_1746-1596-4-1-1&query=antinuclear%20 Hochberg MC, Silman AJ, WeismanHochberg MH. Rheuma-
factor&it=xg&lic=by&req=4&npos=20 tology. 6th ed. St Louis Missouri: Mosby; 2015.
3. Panda R, et al. Neutrophil extracellular traps con- Imboden JB, Hellman DB, Stone JH. Current Reumatologia:
tain selected antigens of anti-neutrophil cytoplas- Diagnóstico e Tratamento. 3. ed. Porto Alegre: AMGH; 2014.
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openi.nlm.nih.gov/detailedresult?img=PMC5389973_ SC. Livro da Sociedade Brasileira de Reu-matologia. São
fimmu-08-00439-g008&query=ANCA&it=xg&lic=by&req=- Paulo: Manole; 2021.
4&npos=2 Schulte-Pelkum J, Radice A, Norman GL, Lόpez Hoyos M,
Lakos G, Buchner C, et al. Novel Clinical and Diagnostic
Aspects of Antineutrophil Cytoplasmic Antibodies. J Immunol
Res. 2014; 185416.
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41
Introdução à reumatologia Reumatologia
QUESTÕES COMENTADAS
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encontrado em indivíduos saudáveis, sem evi¬- 55 anos de idade, comparece ao seu consultório
dência de doença reumatológica, mesmo em com exame de FAN (Fator Antinúcleo) positivo, e
altos títulos. está com receio de ter o diagnóstico de “reuma-
⮩ O anti-DNA (dupla hélice) é um anticorpo com tismo”. Com relação ao padrão e ao título do FAN,
baixa especificidade para LES, embora tenha assinale a alternativa correta.
correlação com a glomerulonefrite proliferativa
⮦ FAN é um importante exame de rastreamento e
e com a atividade da doença.
deve ser solicitado em exames periódicos em
⮪ O FAN com padrão pontilhado fino está associa¬- mulheres acima de 30 anos.
do a alguns autoantígenos, como, por exemplo,
⮧ FAN padrão nuclear pontilhado fino é o mais
o anti-Sm e o anti-U1-RNP, ambos relacionados,
associado a doenças reumáticas autoimunes,
com frequência, à síndrome de Sjögren.
independente do título.
⮨ FAN padrão nuclear pontilhado fino denso é o
Questão 2 mais frequentemente encontrado em indivíduos
sadios e, na maioria das vezes, não está asso-
(UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO - SP – 2021) Com
ciado a doenças reumáticas autoimunes.
relação ao padrão e título do FAN, assinale a alter-
nativa correta. ⮩ FAN padrão nuclear homogêneo e centromérico
raramente está associado a doenças reumáticas
⮦ O FAN padrão citoplasmático pontilhado fino autoimunes.
denso é comumente encontrado em indivíduos ⮪ FAN padrão citoplasmático pontilhado fino denso
sadios, com associação com o anticorpo anti- é comumente encontrado em indivíduos sadios
-LEDGF p75. em associação com o anticorpo anti-LEDGF p75.
42
Introdução à reumatologia Cap. 1
Questão 4 Questão 6
(CASA DE SAÚDE – SP - 2020) Qual das vasculites abaixo (HOSPITAL NAVAL MARCÍLIO DIAS – RJ – 2021) Na resposta
apresenta ANCA positivo? imune humoral ocorre a ativação do sistema com-
plemento por três vias distintas. Quais são elas?
⮦ Poliarterite nodosa.
⮧ Granulomatose de Wegener. ⮦ Clássica, alternativa e de ligação à lecitina.
⮨ Vasculite lúpica. ⮧ Clássica, intrínseca e direta.
⮩ Vasculite leucocitoclástica. ⮨ Intrínseca, direta e de ligação à lecitina.
⮩ Alternativa, de ligação à lecitina e direta.
⮪ Clássica, intrínseca e alternativa.
Questão 5
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clínico: dor à palpação de interfalanges proximais
de todos os dedos de ambas as mãos, e de 2º e 3º
metacarpofalanges bilateralmente, sem edema ou
eritema. O restante do exame clínico está normal.
Qual é a alternativa correta?
43
Introdução à reumatologia Reumatologia
GABARITO E COMENTÁRIOS
Y Dica do professor: Lembre-se que o FAN é um tes- Y Dica do professor: A pesquisa de anticorpos contra
te de rastreio de autoanticorpos, e seu padrão tem antígenos celulares, tradicionalmente denomina-
correlação com a positividade de determinados da FAN (Fator Antinúcleo) ou ANA (Autoanticorpo
autoantíge¬nos. Não é um teste patognomônico Antinúcleo) tem apresentado contínua evolução e
de doenças autoimunes, e pode vir positivo em requer dos profissionais a interpretação dos resulta-
diversas con¬dições como infecções, neoplasia e dos; mas, atenção, sempre como auxílio da clínica.
uso de me¬dicações. Alternativa A: INCORRETA. O FAN no padrão pontilhado
Alternativa A: INCORRETA. A negatividade do FAN é fino denso é encontrado em indivíduos saudáveis
um forte argumento contra LES, mas sua ausência e se associa à presença do anticorpo anti-LEDGF
não exclui o diagnóstico. p75, conhecido como fator de crescimento celular
Alternativa B: INCORRETA. O padrão de FAN nuclear derivado do cristalino.
homogêneo sugere a presença de anti-DNA, anti¬- Alternativa B: CORRETA. Quanto maior o título do
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-histona ou anti-nucleossomo. FAN pontilhado fino FAN, maior a propensão de estar associado à au-
sugere a presença de anti-Ro, anti-La. toimunidade.
Alternativa C: CORRETA. Mesmo em altos títulos Alternativa C: INCORRETA. FAN nuclear pontilhado
esse tipo de padrão é encontrado em indivíduos grosso é o mais associado à autoimunidade por se
saudáveis. correlacionar a anticorpos como anti-RNP e anti-Sm.
Alternativa D: INCORRETA. O anti-DNA faz parte dos Alternativa D: INCORRETA. O padrão nuclear homo-
anticorpos considerados específicos para LES, mas gêneo e centrométrico pode estar associado a
o mais específico é o anti-Sm. doenças reumatológicas, principalmente o LES e
Alternativa E: INCORRETA. Os anticorpos anti-Sm e an- a esclerose sistêmica, respectivamente.
ti-RNP são associados ao padrão pontilhado gros¬- ✔ resposta: B
so. O anticorpo da Síndrome de Sjögren é o anti-Ro.
✔ apesar de ter uma alternativa correta (c), essa ques- dificuldade:
Questão 3
tão foi anulada, pois os novos critérios classificatórios
de les 2019 levam em consideração a positividade do Y Dica do professor: Os Anticorpos Antinucleares
fan como critério obrigatório de entrada. logo, isso (ANA) ou FAN, Fator Antinuclear, estão frequente-
deu margem para que a alternativa a também pudesse mente relacionados a uma série de doenças reu-
estar correta. mas lembre-se: critérios classificatórios matológicas autoimunes como o lúpus, esclerose
não são diagnósticos e, portanto, um fan negativo não sistêmica, doença mista do tecido conjuntivo, Sín-
exclui les. drome de Sjogren e polimiosites.
Alternativa A: INCORRETA. O FAN não deve ser utiliza-
do como rastreamento para doenças autoimunes
44
Introdução à reumatologia Cap. 1
pois não nos dão nenhum diagnóstico de forma Com isso, gerando temos um paciente com pro-
isolada, de modo que seus valores sempre devem cesso inflamatório sistêmico, lesão articular, lesão
ser correlacionados com a clínica do paciente. cutânea, lesão renal, lesão hematológica e, por fim,
Alternativa B: INCORRETA. O FAN mais associado a FAN positivo e hipocomplementemia.
autoimunidade é o pontilhado grosso. Alternativa D: INCORRETA. A vasculite leucocitoclás-
Alternativa C: CORRETA. Esse padrão é o mais ines- tica comumente se manifesta com púrpura palpá-
pecífico e pode ser encontrado em pessoas sadias. vel em membros inferiores. O que caracteriza essa
alteração é a presença de restos de núcleos de
Alternativa D: INCORRETA. O padrão nuclear centro-
neutrófilos, decorrentes da lise destas células na
mérico está relacionado à síndrome CREST (escle-
própria parede vascular.
rose sistêmica).
Alternativa E: INCORRETA. A positividade do anticorpo ✔ resposta: B
anti-LEDGF p75 associado com o FAN positivo em
padrão NUCLEAR pontilhado fino denso é frequente Questão 5 dificuldade:
em indivíduos hígidos.
Dica do Professor: Paciente apresentando artral-
resposta: C
Y
✔
gia de ritmo misto (rigidez fugaz, porém com piora
ao repouso) e sintomas constitucionais; logo, não
Questão 4 dificuldade: conseguimos ficar tranquilos que não seja uma
doença inflamatória reumatológica sistêmica. Por-
Y Dica do professor: Lembre-se de que, nas provas tanto, precisamos investigar e pensar em diferen-
de residência, o que mais cai sobre o tema “vascu- ciais, solicitando radiografia de mãos e punhos, e
lites” é a identificação da síndrome clínica de cada exames laboratoriais: hemograma, provas de ati-
entidade específica, incluindo a identificação de vidade inflamatória, sorologia Hep. B Hep C e HIV,
marcadores positivos ou negativos. O ANCA (An-
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TSH, FAN, Fator reumatoide, PCR e VHS.
ticorpo Anticitoplasma de Neutrófilo) é um marca-
Alternativa A: INCORRETA. A radiografia nos auxilia a
dor sorológico de autoimunidade extremamente
avaliar se não temos erosão óssea ou osteopenia
associado às vasculites sistêmicas necrosantes
periarticular.
pauci-imunes.
Alternativa B: CORRETA. A investigação inicial inclui
Alternativa A: INCORRETA. A poliarterite nodosa é uma
TSH como diferencial de hipertireoidismo.
vasculite ANCA negativo. Essa é uma síndrome de
vasculite de médios vasos marcada pela ocorrência Alternativa C: INCORRETA. Fator reumatoide negativo
de sinais e sintomas constitucionais, mononeurite não exclui artrite psoriásica.
múltipla, vasculite intestinal, testicular e hiperten- Alternativa D: INCORRETA. A presença de rigidez
são renovascular. matinal acima de 30 minutos sugere etiologia in-
Alternativa B: CORRETA. A Granulomatose de Wege- flamatória.
ner é uma vasculite ANCA positivo, sendo encontra- ✔ resposta: B
do c-ANCA positivo em 70 a 97% dos casos. Essa
doença acomete artérias de médio e de pequeno
calibre, além de microvasos. Com isso, provoca Questão 6 dificuldade:
45
Introdução à reumatologia Reumatologia
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46
Capítulo
ARTRITE REUMATOIDE
2
importância/prevalência
u A artrite reumatoide é uma doença sistêmica crônica, cujo principal alvo é a sinóvia.
u Acomete preferencialmente mulheres de meia-idade.
u O HLA-DRB1 associado ao “epítopo compartilhado” é o fator de risco genético mais importante.
u Poliartrite erosiva simétrica de mãos é característico.
u O fator reumatoide não é específico da AR.
u O anti-CCP tem especificidade maior que 90%.
u Tratamento: metotrexato segundo DMARD sintético convencional DMARD biológico.
u DAS28 é o índice mais utilizado na prática clínica para avaliar a atividade da doença.
1. INTRODUÇÃO 2. E PIDEMIOLOGIA E
ETIOPATOGÊNESE
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BASES DA MEDICINA
BASES DA MEDICINA
embre-se de que temos vários tipos de articulação, mas
L
o mais comum é o tipo sinovial, que possui uma cápsula s Células Apresentadoras de Antígeno (APC) possuem
A
articular, cuja camada interna é a membrana sinovial. o MHC (complexo de histocompatibilidade) que codifica
A membrana sinovial é responsável pela fabricação do proteínas de superfície que reconhecem e apresentam
líquido sinovial, um excelente lubrificante, altamente antígenos próprios ou externos para o nosso sistema
viscoso e responsável pelo transporte de oxigênio e imune adaptativo. O MHC de classe I apresenta para
nutrientes para a cartilagem. linfócitos T CD8 (citotóxicos) e o antígeno é derivado do
intracelular. Já o MHC de classe II apresenta antígenos
A Artrite Reumatoide (AR) é uma doença inflamatória
extracelulares para linfócitos T CD4 (auxiliares). Após a
autoimune sistêmica crônica cujo principal alvo é a apresentação do antígeno, ocorre ativação do linfócito T
sinóvia (ou membrana sinovial), com consequente e início da resposta imune adaptativa.
inflamação e proliferação desta, além de erosão
HLA é a versão humana do MHC. Os principais tipos de
O
óssea justa-articular e destruição da cartilagem. Tais MHC expressos no ser humano (HLA) são:
alterações são responsáveis pelas deformidades W 3 tipos de MHC classe I (A, B, C);
articulares IRREVERSÍVEIS encontradas na doença
de longo prazo e, pela sua característica sistêmica, W 3 tipos de MHC classe II (DR, DP, DQ).
pode afetar outros órgãos (extra-articular). a AR nós teremos a participação do HLA-DRB1 (MHC de
N
classe II), presente nas células apresentadoras de antígeno
O marco clínico da doença é a poliartrite erosiva e responsável por apresentar epítopos antigênicos às
simétrica de mãos e punhos. células T (via receptor TCR). Outro ponto importante será a
apresentação pela APC de peptídeos citrulinados, ou seja,
que sofreram citrulinização. O que é a citrulinização? É a
conversão da arginina em citrulina (proteína citrulinada),
processo que ocorre na inflamação.
47
Artrite reumatoide Reumatologia
Figura 1. Apresentação de antígeno citocinas inflamatórias (ex.: TNF, IL-6, IL-1) e ativação
pela APC ao linfócito T. de linfócitos B (produção de fator reumatoide).
Na AR a apresentação dos peptídeos citrulinados
é feita através dos alelos do HLA-DRB1 e “epítopo
compartilhado”.
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rância imunológica relacionada a fatores ambientais,
tabagismo e microbioma, em indivíduos predispos-
tos (com fatores genéticos).
O fator de risco modificável mais bem estabele-
cido é o tabagismo, em virtude da inflamação e
formação de proteínas citrulinadas (citrulinização) Imunologia na AR: a célula apresentadora de antígeno (APC) apre-
senta o peptídeo citrulinado através do MHC classe II/epítopo
nos pulmões. Outros fatores de risco importantes compartilhado, que é reconhecido pelo receptor do linfócito T
são a periodontite e o microbioma, que estão fre- CD4 naive (TCR), porém a sinalização só estará completa após
quentemente associados a gatilhos de reativação segundo sinal coestimulatório entre CD80/86 e CD28. O linfócito T
então pode se diferenciar para auxiliar na regulação e controle da
da doença. resposta imune adaptativa (Treg) ou estimular a produção de IL 17
(TH17) e, consequentemente, a ativação macrofágica na produção
O Antígeno Leucocitário Humano (HLA) é o fator de de IL-6, IL-1, TNF ou ainda estimular a diferenciação do linfócito B em
risco genético mais importante para AR, responsável plasmócito produtor de fator reumatoide. O TNF e o IL-1 apresentam
por 30% a 50% da suscetibilidade genética global papel importante na inibição do linfócito Treg.
para a AR. A associação mais forte conhecida é com Fonte: Elaborada pelo autor.
48
Artrite reumatoide Cap. 2
Figura 3. Visão geral da fisiopatologia da AR: participação da imunidade inata e adaptativa, pannus e osteoclastos.
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Fonte: Acervo Sanar.
49
Artrite reumatoide Reumatologia
3.1. MANIFESTAÇÕES ARTICULARES tenção, pois os achados são típicos, porém não são
A
patognomônicos, principalmente se forem reversíveis.
O principal diagnóstico diferencial é a Artropatia de
A manifestação articular habitualmente é de poliar- Jaccoud (frouxidão ligamentar), que tem a característica
trite erosiva simétrica de mãos e punhos, com artral- de reversibilidade ao exame físico.
gia contínua, pior em repouso, associada à rigidez
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Figura 4. Deformidades de “pescoço de cisne” (A); Boutonnière (B).
50
Artrite reumatoide Cap. 2
3.2.1. Cutâneo
Fonte: Gabdrakipova Dilyara/Shutterstock.com¹.
Os nódulos reumatoides subcutâneos estão pre-
sentes em 20% a 40% dos pacientes, são indolores,
Como o alvo da AR é a sinóvia, pode haver acome-
móveis, encontrados principalmente nas superfícies
timento de qualquer articulação que tenha mem-
extensoras de antebraço, cotovelos e dedos das
brana sinovial, incluindo coluna cervical (C1 e C2),
mãos, mas também já foram descritos em vísceras,
temporomandibular, cricoaritenoide, esternoclavi-
como olhos, pulmões e cordas vocais. Clinicamente,
cular. O acometimento de coluna lombar, torácica
os nódulos reumatoides são as manifestações
e sacroileíte não é esperado.
extra-articulares mais comuns.
O quadro de sinovite crônica na região atlantoaxial
Outro acometimento cutâneo que pode ocorrer é a
(C1 e C2) leva à instabilidade ligamentar e, conse-
púrpura palpável (vasculite leucocitoclástica).
quentemente, os pacientes podem vir a apresentar
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subluxação atlantoaxial e mielopatia.
Figura 7. Nódulo reumatoide.
O Cisto de Baker (cisto sinovial na fossa poplítea)
não é um achado exclusivo da AR. Pode ser encon-
trado em qualquer paciente que tenha um quadro
de sinovite crônica em joelhos com consequente
formação do cisto. A rotura dele pode causar uma
clínica semelhante à de trombose venosa profunda
e é preciso estar atento ao diagnóstico diferencial.
51
Artrite reumatoide Reumatologia
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3.2.3. Ocular 3.2.4. Pulmonar
A ceratoconjuntivite sicca é a condição ocular mais As manifestações pulmonares mais comuns, são:
comum em pacientes com AR, pois muitas vezes pneumopatia intersticial, derrame pleural (exsudato
se associa à síndrome de Sjögren. Outras manifes- linfocítico, com baixos níveis de glicose e pH, altos
tações, são: episclerite, esclerite e escleromalácea níveis de LDH), bronquiolite obliterante e nódulos pul-
perforans. monares. A síndrome de Caplan ocorre em pacientes
com AR e pneumoconiose e é caracterizada pela
Figura 9. Escleromalácea perforans. presença de múltiplos nódulos pulmonares.
3.2.5. Cardíaco
3.2.6. Hematológico
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Artrite reumatoide Cap. 2
5. MÉTODOS DE IMAGEM
4. EXAMES LABORATORIAIS
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BASES DA MEDICINA
BASES DA MEDICINA
53
Artrite reumatoide Reumatologia
Figura 10. Joelhos na AR: diminuição de convencional passa a ser muito mais solicitada, pela
espaço simétrico encontrado na AR. dificuldade na disponibilidade da ressonância magnética
e seu alto custo.
6. DIAGNÓSTICO
DICA
Figura 11. Radiografia de mãos na AR:
Fator reumatoide e anti-CCP podem
desvio ulnar com presença de subluxação ser negativos.
e erosão de metacarpofalangeanas.
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rios classificatórios de AR (ACR 1987) caíram em
desuso pela sua baixa sensibilidade, por utilizarem
parâmetros encontrados na doença tardia, como
nódulos reumatoides e erosões ósseas.
54
Artrite reumatoide Cap. 2
Tabela 1. Critérios de classificação de AR, de 2010. fugaz e caráter assimétrico. Nas mãos, é comum
o acometimento de IFD, mas as metacarpofalan-
Critérios Escore
geanas e o punho são poupados. Outra articulação
A. Acometimento articular muito acometida é a primeira carpometacarpiana,
1 Articulação grande 0 chamada de rizartrose. Ao exame físico, obser-
vam-se nódulos em IFD e IFP (Nódulos de Herber-
2-10 Articulações grandes 1
den e Bouchard, respectivamente). Os achados da
1-3 Articulações pequenas 2 radiologia, são: osteófitos, esclerose subcondral e
4-10 Articulações pequenas 3 diminuição de espaço assimétrico.
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≥ 6 semanas 1
55
Artrite reumatoide Reumatologia
e presença de alterações ungueais sugestivas. No embre-se de que a citocina TNF-α tem papel impor-
L
estudo radiológico das mãos, o achado pencil in tante na formação e na estabilidade do granuloma na
tuberculose.
cup é característico.
O objetivo do tratamento é evitar a progressão
Figura 13. Acometimento radiográfico da para alterações irreversíveis com dano estrutural
interfalangeana distal na artrite psoriásica: reabsorção e perda funcional. Sendo assim, as drogas mais
de extremidade de falange média e neoformação importantes, e que devem ser usadas o mais pre-
óssea na base da falange distal (pencil in cup).
cocemente possível, são os DMARDS (drogas antir-
reumáticas modificadoras de doença). Corticoides
e anti-inflamatórios são utilizados em associação
aos DMARDs por curto intervalo de tempo (fases
iniciais de tratamento e períodos de agudização) e
não atuam no bloqueio da progressão de doença.
Os DMARDs podem ser divididos em sintéticos con-
vencionais (metotrexato, leflunomida, sulfassalazina
e cloroquina), sintéticos alvo específicos (ex.: tofaci-
tinibe) ou biológicos (anti-TNF, anti-CD20, anti-IL-6,
bloqueador de coestimulação do linfócito T). O Qua-
Fonte: American College of Rheumatology Image Bank5. dro 2 mostra as drogas antirreumáticas biológicas
e mecanismos de ação respectivos.
O fluxograma constitui como primeira linha de tra-
7.4. FIBROMIALGIA VERSUS AR tamento o uso do metotrexato (MTX) e, em caso de
falha ou evento adverso, deve-se tentar um segundo
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A fibromialgia é um grande diferencial de AR, uma DMARD sintético convencional ou combinação
vez que os pacientes relatam edema de mãos e entre DMARDs. Se houver falha ou evento adverso,
artralgia. No entanto, o edema de mãos, as pares- está autorizada a indicação de DMARDs biológicos
tesias e a artralgia não apresentam OBJETIVIDADE, (segunda linha de tratamento) ou sintéticos alvo
ou seja, os exames complementares e físico são específicos (pequena molécula anti-JAK), como
normais. Outros achados clássicos da doença, são: tofacitinibe, baracitinibe, upadacitinibe.
sono não reparador, dor difusa (não só articular) e O mecanismo do MTX na artrite reumatoide não é
alteração no humor. totalmente elucidado. Trata-se de um inibidor sele-
Outros diagnósticos diferenciais frequentes, são tivo da enzima diidrofolato redutase, responsável
as artrites virais, como, por exemplo, chikungunya, pela formação de purinas e pirimidinas, precursores
dengue, hepatites virais e HIV. do DNA e RNA das células, comprometendo a proli-
feração celular. Os efeitos colaterais mais comuns,
são: intolerância gástrica, mucosite, estomatite,
8. TRATAMENTO hepatotoxicidade e mielotoxicidade. A dose inicial
é de 10 a 15 mg por semana e se associa ao uso
de ácido fólico 5 mg, 1 vez por semana e no dia
seguinte à tomada do MTX, para diminuir os efeitos
BASES DA MEDICINA colaterais. A dose máxima do MTX é de 25 mg por
semana, é contraindicado na gestação e se houver
s alvos terapêuticos dos DMARDs imunobiológicos na
O insuficiência hepática, medular ou renal.
artrite reumatoide são compreendidos ao retornar na
fisiopatologia da doença: as citocinas pró-inflamatórias A monitorização de resposta ao tratamento é feita
como TNF-α, IL-1, IL-6; o linfócito B produtor de autoan- de 3 em 3 meses e através de índices de atividade.
ticorpos; o sinal coestimulatório entre APC e linfócito T. Os mais utilizados são o DAS28, CDAI e SDAI, tendo
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Artrite reumatoide Cap. 2
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Os DMARDs biológicos mais utilizados na AR são
os anti-TNF (infliximabe, adalimumabe, golimumabe,
certolizumabe, etanercepte), e não existe superiori-
dade de eficácia entre eles. Possuem contraindica-
ções, como insuficiência cardíaca congestiva grau
III e IV, doenças desmielinizantes, tuberculose ativa,
neoplasias atuais ou passadas (até 5 anos), infecção
ativa ou recorrente. A reativação de tuberculose em
pacientes com infecção latente é uma preocupação
constante em usuários de anti-TNF e, por esse
motivo, deve-se realizar screening antes do início da
medicação com PPD ou IGRA e radiografia de tórax.
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Artrite reumatoide Reumatologia
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1 – A suspensão do tratamento pode se dar por eventos adversos ou por não atingir a meta terapêutica. Para avaliar
a eficácia, deve-se aguardar pelo menos 3 meses do tratamento vigente, não devendo ser trocada de linha ou etapa
terapêutica em intervalo de tempo inferior. 2 – Considerar OUTRO DMARD OU combinações DUPLAS OU TRIPLAS.
Fonte: Ministério da Saúde7.
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Artrite reumatoide Cap. 2
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Artrite reumatoide Reumatologia
ARTRITE
REUMATOIDE
Mulher de
Metotrexate Tratamento
meia-idade
FR e anti-CCP
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Laboratório Poliartrite
Anemia de
doença crônica Poupa IFDs
Plaquetose
Osteopenia e
Precoce aumento de
partes moles
Alterações
radiográficas
Dano Erosão
irreversível justa-articular
Simetria de
envolvimento
60
Artrite reumatoide Cap. 2
1. Imagem utilizada sob licença da Shutterstock.com, dispo- Agrawal RV, Murthy S, Sangwan V, Biswas J. Current approach
nível em: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/ in diagnosis and management of anteri-or uveitis. Indian J
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2. Imagem utilizada sob licença da Shutterstock.com, dispo- Emery P. Atlas de Artrite Reumatoide. São Paulo: Springer
nível em: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/ Healthcare Communications; 2015.
bakers-cyst-popliteal-swelling-knee-joint-1595205811. Hochberg MC, Silman AJ, Weismanhochberg MH. Rheuma-
Acesso em 26 de julho de 2022. tology. 6th ed. St Louis Missouri: Mosby; 2016.
3. Imagem utilizada sob licença da Shutterstock.com, dispo- Jagadeesan S, Shenoy P. Arthropathy in Dermatology: A Com-
nível em: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/ prehensive Review. Indian Dermatol Online J. 2017; 8(2): 79-93.
film-xray-rheumatoid-arthritis-hand-shows-1533538658.
Acesso em 26 de julho de 2022.
4. Carvalho MAP, Bertolo MB, Lanna CCD, Ferreira GA.
Reumatologia: diagnóstico e tratamento. Sao Paulo: Ac
Farmaceutica; 2019.
5. American College Of Rheumatology Image Bank. [Internet].
[acesso em 26 de julho de 2022]. Disponivel em: https://
Images.Rheumatology.Org.
6. Imboden J, Hellmann DB, Stone JH. Current R. Reu-
matologia: diagnóstico e tratamento. 2 ed. São Paulo:
McGraw-Hill; 2008.
7. Ministério da Saúde (BR). Portaria Conjunta nº 16, de 05 de
novembro de 2019. Aprova o protocolo clínico e diretrizes
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terapêuticas da Artrite Reumatoide. Diário Oficial da União.
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Artrite reumatoide Reumatologia
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1 Questão 3
(ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO RIO GRANDE DO SUL – RS – 2022) So- (ENARE/EBSERH – DF – 2022) Sobre a artrite reumatoide,
bre o tratamento da artrite reumatoide, analise as é correto afirmar que:
assertivas abaixo:
I. O metotrexato é o medicamento antirreumático ⮦ 70 a 80% dos pacientes apresentam Fator Reuma-
modificador de doença de escolha para o início do toide (FR) positivo em algum momento da vida.
tratamento. ⮧ Corticoide oral, como prednisona, é uma das
II. A hidroxicloroquina pode ser utilizada em con- drogas de primeira escolha. envolve exclusiva-
junto com o metotrexato no tratamento e necessita mente estruturas articulares e periarticulares.
monitoramento com oftalmologista pelo risco de ⮨ O acometimento da coluna lombar é comum.
toxicidade retiniana. ⮩ A presença de Velocidade de Hemossedimen-
III. O uso de agentes biológicos dirigidos contra tação Aumentada (VHS) tem valor preditivo po-
citocinas e anticorpos monoclonais, isolados ou em sitivo alto para o diagnóstico.
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conjunto com metotrexato, não mostrou benefício
em reduzir a velocidade de progressão das lesões
radiográficas, reduzindo apenas a intensidade dos Questão 4
sintomas.
(HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA FACULDADE DE MEDICINA DE RP
Quais são as corretas?
DA USP – SP – 2022) Mulher, 52 anos, há 3 anos tem o
⮦ Apenas I e II. diagnóstico de artrite reumatoide, cujo tratamento
⮧ Apenas I e III. não atingiu remissão da inflamação articular, a des-
peito do uso de diversos esquemas terapêuticos.
⮨ Apenas II e III.
Ao exame: hipotrofia de musculatura intrínseca das
⮩ I, II e III. mãos, com edema de punhos, desvio ulnar dos qui-
rodáctilos e hiperextensão de interfalangeanas pro-
ximais das mãos. Na radiografia das mãos, qual é a
Questão 2
alteração esperada nas articulações acometidas?
(ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO RIO GRANDE DO SUL – RS – 2022) Ao
examinar um paciente, você suspeita de artrite reu- ⮦ Calcificação periarticular.
matoide. Qual das seguintes articulações é a mais ⮧ Esclerose óssea subcondral.
frequentemente afetada por essa doença? ⮨ Erosões ósseas justa – articulares.
⮧ Articulação sacroilíaca
⮨ Articulação interfalangeana distal. Questão 5
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Artrite reumatoide Cap. 2
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referência < 1 mg/dL. Nesse caso, os exames para
estão elevadas. confirmação da principal hipótese diagnóstica são
⮩ Pode haver pneumopatia intersticial como uma
de suas complicações. ⮦ Fator reumatoide, anticorpos anti-DNA nativo,
anti-Sm e proteinúria de 24 horas.
⮧ Fator reumatoide e anticorpos anti-CCP.
Questão 7
⮨ Fator reumatoide, anticorpos anti-Ro/SSA, an-
(FUNDAÇÃO HOSPITALAR DO ESTADO DE MINAS GERAIS – MG – ti-La/SSB e radiografia das articulações aco-
2021) Em relação à artrite reumatoide, assinale com metidas.
V as afirmativas verdadeiras e com F as falsas. ⮩ Anticorpos anti-DNA nativo, anti-Sm, anti-Ro/
( ) Anticorpos anti-CCP (anticitrulina) são menos SSA, anti-La/SSB e radiografia das articulações
específicos que o fator reumatoide. acometidas.
( ) Derrame pleural, esplenomegalia e poliartrite ⮪ Anticorpos anti-DNA nativo, anti-Sm, dosagem
assimétrica com predileção para grandes articu- dos fatores de complemento C3 e C4 e proteinú-
lações são características da artrite reumatoide. ria de 24 horas.
( ) Início insidioso com rigidez matinal e artralgia
são manifestações frequentes e características.
( ) Nódulos subcutâneos ocorrem em 20% dos Questão 9
pacientes e se correlacionam a uma menor soro-
(HOSPITAL UNIMED RIO – RJ – 2021) Qual dos itens abaixo
positividade para o fator reumatoide.
é correto em relação ao envolvimento articular ini-
( ) Manifestações extra-articulares que surgem
cial na artrite reumatoide?
antes do início da artrite são mais comuns nos
pacientes com história de tabagismo. Assinale a ⮦ Observamos o aparecimento de Nódulos de He-
sequência correta. berden precocemente.
63
Artrite reumatoide Reumatologia
Questão 10
⮦ Neutropenia e episclerite.
⮧ Esplenomegalia e episclerite.
⮨ Pancitopenia e hepatomegalia.
⮩ Neutropenia e esplenomegalia.
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Artrite reumatoide Cap. 2
GABARITO E COMENTÁRIOS
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✔ resposta: A
Questão 4 dificuldade:
Questão 2 dificuldade:
Y Dica do professor: os achados radiográficos na
Y Dica do professor: AR tem predileção por mãos e artrite reumatoide precoce são aumento de partes
punhos e tende a poupar as interfalangeanas distais. moles e osteopenia periarticular. No entanto com
Alternativa A: INCORRETA. Glenoumeral pode ser a evolução da doença/falta de controle adequado
acometida na AR, mas não é a mais acometida das evolui para erosão óssea, a qual possui caracterís-
articulações listadas. tica de ser justa-articular.
Alternativa B: INCORRETA. Articulação sacroilíaca é Alternativa A: INCORRETA. Achado provável na doença
acometida nas espondiloartrites. por deposição de pirofosfato de cálcio.
Alternativa C: INCORRETA. Pensamos em osteoartrite Alternativas B e D: INCORRETAS. Achado da osteoar-
ou artrite psoriásica no envolvimento de interfalan- trite.
geanas distais. Alternativa C: CORRETA. Vide dica do professor.
Alternativa D: CORRETA. Das articulações menciona- ✔ resposta: C
das é a mais acometida.
✔ resposta: D
Questão 5 dificuldade:
65
Artrite reumatoide Reumatologia
Alternativa A: INCORRETA. Ombros são grandes arti- Assertiva V: VERDADEIRA. Manifestações extra-articu-
culações que podem ser acometidas na AR. lares que surgem antes do início da artrite são mais
Alternativa B: CORRETA. A AR poupa coluna toráci- comuns nos pacientes com história de tabagismo.
ca, lombar e sacroilíaca. Mas pode causar sinovite ✔ resposta: A
de C1/C2.
Alternativa C: INCORRETA. Punhos são articulações
Questão 8 dificuldade:
frequentemente acometidas na AR.
Alternativa D: INCORRETA. Tornozelos são articulações Y Dica do professor: Não deixe se enganar pela positi-
sinoviais e, apesar de não serem os preferidos na vidade do FAN e marcar lúpus. Paciente tem apenas
AR, podem ser acometidos. envolvimento articular, sem outras manifestações,
com elevação de VHS e PCR. Quadro compatível
✔ resposta: B
com artrite reumatoide.
Alternativa A: INCORRETA. Anti-DNA e anti-Sm são
Questão 6 dificuldade: importantes pensando em Lúpus Eritematoso Sistê-
mico (LES). Não há necessidade de pedir proteinúria
Y Dica do professor: A osteoartrite e artrite psoriási-
24 horas se a urina I estava normal.
ca tendem a acometer as interfalangeanas distais.
Alternativa B: CORRETA. Fator reumatoide e anti-CCP
Alternativa A: CORRETA. Na artrite reumatoide temos
auxiliam no diagnóstico de artrite reumatoide, mas
uma artralgia de ritmo inflamatório com rigidez ma-
lembrar que se negativos não excluem.
tinal acima de 30 minutos, sendo o mais caracte-
rístico essa rigidez ser acima de 1 hora. Alternativa C: INCORRETA. A radiografia das articula-
ções acometidas pode ser solicitada, mas temos
Alternativa B: INCORRETA. Sentença descreve o en-
que ter em mente que provavelmente o máximo que
volvimento da osteoartrite.
irá mostrar será edema de partes moles e osteope-
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Alternativa C: CORRETA. VHS e PCR também são úteis nia periarticular, visto o pouco tempo de evolução
para monitorizar atividade de doença. da doença. Anti- Ro seria importante pensando em
Alternativa D: CORRETA. O padrão de envolvimento Sjögren, e pode vir positivo no LES.
pulmonar mais comum é a PIU (pneumonite inters- Alternativa D: INCORRETA. Anticorpos que não são
ticial usual). importantes para diagnóstico de artrite reumatoide.
✔ resposta: B Alternativa E: INCORRETA. Exames importantes se
a hipótese fosse LES e se houvesse alteração na
dificuldade:
urina I (no caso da proteinúria 24h).
Questão 7
✔ resposta: B
Assertiva I: FALSA. Anticorpos anti-CCP (anticitruli-
na) são mais específicos que o fator reumatoide.
Questão 9 dificuldade:
Assertiva II: FALSA. A artrite reumatoide tem padrão
de acometimento simétrico em pequenas articula- Y Dica do professor: A artrite reumatoide é marcada
ções periféricas, particularmente as metacarpofa- por poliartrite crônica simétrica e erosiva.
langeanas e interfalangeanas proximais.
Alternativa A: INCORRETA. Nódulos de Heberden e
Assertiva III: VERDADEIRA. Início insidioso com rigidez Bouchard ocorrem na osteoartrite de mãos.
matinal e artralgia são manifestações frequentes
Alternativa B: INCORRETA. O envolvimento é simétri-
e características.
co e crônico.
Assertiva IV: FALSA. Nódulos subcutâneos se cor-
Alternativa C: CORRETA. O envolvimento comum é de
relacionam a uma maior soropositividade para o
punhos, metacarpofalangeanas e interfalangeanas
fator reumatoide.
proximais.
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Artrite reumatoide Cap. 2
Questão 10 dificuldade:
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68
Capítulo
ESPONDILOARTRITES
3
importância/prevalência
u Grupo de doenças que têm em comum: manifestações clínicas (sacroileíte, espondilite, artrite periférica,
entesite, dactilite, uveíte), radiológicas (sacroileíte, entesopatias) e etiopatogênicas (associação com
agregação familiar e ao antígeno HLA-B27).
u Espondilite anquilosante: é a mais comum das espondiloartrites e a mais associada ao HLA-B27. Acomete
principalmente homens antes dos 45 anos de idade. A característica clínica mais marcante é a lombalgia ou
dor glútea de caráter inflamatório. O quadro axial tem caráter progressivo ascendente. O grau de restrição
da mobilidade lombar é mensurado pelo Teste de Schober. A manifestação extra-articular mais comum é
a uveíte anterior unilateral recorrente. AINEs são a primeira linha de tratamento.
u Artrite reativa: ocorre após infecção gastrointestinal ou geniturinária. A clamídia é o germe mais associado
à artrite reativa. A Síndrome de Reiter apresenta a tríade conjuntivite, artrite e uretrite. Mais comum no
sexo masculino, entre 20 e 40 anos. O acometimento costuma ser de oligoartrite assimétrica de membros
inferiores. Lembrar das manifestações extra-articulares: balanite circinada e queratoderma blenorrágico.
u Artrite enteropática: associada às doenças inflamatórias intestinais. A tipo 1 é a mais comum e se corre-
laciona com atividade intestinal. A tipo 2 e axial não se correlaciona com atividade intestinal.
u Artrite psoriásica: manifestações clínicas polimórficas. São pistas para suspeita de artrite psoriásica:
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presença de psoríase, alterações ungueais, acometimento de interfalangeanas distais, dactilite (dedo em
salsicha) e história familiar de psoríase.
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Espondiloartrites Reumatologia
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nesse grupo de doenças; porém, esta é uma deno-
om a ampliação do conceito de espondiloartrite e o uso
C
minação antiga, pouco utilizada atualmente.
da ressonância magnética, a reumatologia presenciou um
As EpAs podem ser classificadas de acordo com o boom de diagnósticos de sacroileíte inflamatória; estes, no
envolvimento principal do esqueleto. Sendo assim, entanto, muitas vezes equivocados e de causa mecânica.
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Espondiloartrites Cap. 3
Figura 2. Enteses.
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Fonte: Acervo Sanar.
71
Espondiloartrites Reumatologia
Outro aspecto fisiopatológico marcante das EpAs que estimulam a formação óssea através da ação
é a formação óssea no local das enteses, que é dos osteoblastos e osteócitos.
responsável pela limitação funcional, pontes ósseas
A prostaglandina E2 tem papel importante na for-
(sindesmófitos) e anquilose. A neoformação óssea
mação dos sindesmófitos; portanto, o uso de AINE
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que ocorre no complexo entesossinovial é decorrente
no tratamento é eficaz em prevenir e reduzir a pro-
da inflamação crônica local e estresse mecânico,
gressão radiográfica da doença.
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Espondiloartrites Cap. 3
BASES DA MEDICINA
3.1. ESPONDILITE ANQUILOSANTE
73
Espondiloartrites Reumatologia
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acentuação da cifose e projeção anterior da coluna
cervical retificada. Para avaliação da coluna cervi-
cal, utilizamos o teste tragus-parede: mede-se com
fita métrica a distância do tragus à parede (normal
menor que 15 cm). A distância aumentada também
pode ser conhecida como sinal da flecha.
Para avaliação da coluna torácica, medimos a dife-
rença entre a inspiração e a expiração (expansibi-
lidade torácica). A expansão torácica normal varia
com a idade, embora geralmente anormal se < 2,5
cm e normal se ≥ 5 cm.
O grau de restrição da mobilidade lombar é mensu-
rado pelo Teste de Schober, que consiste em medir
com fita métrica a distância entre a transição lom-
bossacra e 10 cm acima. Em seguida, é solicitado
ao paciente que flexione a coluna e tente colocar as
mãos no chão. Novamente mensuramos a distância
entre a transição lombossacra e o ponto previamente
traçado 10 cm acima e, caso a variação seja menor
a 5 cm, existe mobilidade lombar reduzida.
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Espondiloartrites Cap. 3
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força para baixo. Se o paciente sentir dor na região
inguinal homolateral, então provavelmente se trata
de patologia do quadril. Caso a dor seja contralateral
e posterior, sugere sacroileíte.
75
Espondiloartrites Reumatologia
Apesar de o acometimento axial ser o mais carac- Figura 12. Sacroileíte grau III à esquerda.
terístico da doença, pode ocorrer entesite, principal-
mente de calcâneo e fáscia plantar, e artrite perifé-
rica, que geralmente é oligoarticular assimétrica e
de grandes articulações, como joelho e tornozelos.
DICA
Uveíte anterior aguda ocorre nas
espondiloartrites, e uveíte anterior crônica
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na artrite idiopática juvenil.
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Espondiloartrites Cap. 3
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Fonte: Assessment of Spondyloarthitis International Society³.
Critério radiológico
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Espondiloartrites Reumatologia
Em pacientes com dor nas costas ≥ 3 meses e idade de início < 45 anos
#Características de Ea
Dor lombar inflamatória
Artrite
* Sacroiliíte na imagem:
Entesite
OU • Inflamação ativa (aguda) na
Uveíte RNM altamente sugestiva de
Psoríase sacroiliíte associada à Ea
Crohn/colite ulcerativa • Sacroiliíte radiográfica
Boa resposta a AINEs definida de acordo com os
critérios de Nova York
História familiar de Ea
HLA-B27
PCR elevada
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e biológicos) e não farmacológicas, como evitar
ara entender o tratamento, é só voltar na fisiopatolo-
P
posições viciosas, exercícios respiratórios, educação
gia e perceber que as terapias medicamentosas, como
do paciente, atividade física e fisioterapia.
Figura 15. Tratamento medicamentoso e não farmacológico nas EpAs predominantemente axiais.
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Espondiloartrites Cap. 3
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toide. Nas consultas é calculado o BASDAI e o ASDAS não purulenta relacionada a uma infecção recente,
PCR/VHS. O BASDAI leva em consideração as respostas não articular”, ou seja, um termo muito amplo que
do paciente sobre os sintomas (ex.: dor lombar, rigidez contempla casos de artrite relacionados à dengue,
matinal), já no ASDAS também são incluídas as provas à chikungunya, a hepatites, à SIRS decorrente de
de atividades inflamatórias. De acordo com o resultado
processo bacteriano etc. A artrite reativa, que é
do ASDAS e do BASDAI, é possível determinar se houve
resposta ou falha de tratamento.
englobada no grupo das espondiloartrites, ocorre
particularmente após infecção gastrointestinal ou
geniturinária, frequentemente associada com a
presença do HLA-B27.
4. E SPONDILOARTRITES
Antigamente era conhecida como Síndrome de Rei-
PREDOMINANTEMENTE ter (conjuntivite, artrite e uretrite não gonocócica);
PERIFÉRICAS porém, só 1/3 dos pacientes com artrite reativa
apresentava a tríade. Por este motivo, caiu em
desuso a utilização do termo como sinonímia de
artrite reativa.
BASES DA MEDICINA
Mais comum no sexo masculino, entre 20 e 40 anos,
s espondiloartrites predominantemente periféricas têm
A e sua prevalência geral é difícil de ser estimada, uma
predileção pelo esqueleto apendicular. vez que muitos casos classificados como artrite
“indiferenciada”, podem ser artrite reativa.
ntesite, dactilite e artrite de articulações periféricas,
E
são manifestações mais comuns nesse grupo. A dactilite As bactérias relacionadas são Chlamydia trachoma-
(dedo em salsicha) é um misto de entesite, tenossinovite tis (50% dos casos) e pneumoniae, Campilobacter
e edema ósseo. jejuni, fetus e lari, Clostridium difficile, Salmonella
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Espondiloartrites Reumatologia
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tica, mas pode ocorrer uveíte anterior.
4.1.3. Exames Complementares
Figura 16. Balanite circinada. O HLA-B27 é positivo em até 80% dos pacientes e
é fator de mau prognóstico. As provas de ativida-
des inflamatórias estão elevadas na doença em
atividade.
Quanto ao estudo radiográfico, pode-se evidenciar
sacroileíte assimétrica e entesófitos em calcâneo,
e fáscia plantar.
4.1.4. Diagnóstico
80
Espondiloartrites Cap. 3
Reativa Gonocócica
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Sim. Tratar clamídia também pelo
Resposta a penicilina Não
alto risco de coinfecção
4.1.6. Tratamento
DIA A DIA MÉDICO
81
Espondiloartrites Reumatologia
com envolvimento predominante do íleo terminal e cólon atividade da doença intestinal. Entesite e dactilite
proximal. A Retocolite Ulcerativa (RCU) se caracteriza pela também podem estar presentes.
inflamação superficial (mucosa), contínua e ascendente
a partir do reto. As DII têm como sintomas principais a As manifestações extra-articulares incluem: epis-
tríade formada por diarreia, dor abdominal e sangramento clerite e uveíte anterior, eritema nodoso, pioderma
digestivo, além de sintomas sistêmicos, como febre, gangrenoso, colangite esclerosante primária e ulce-
emagrecimento e fadiga. Apresentam, com frequência,
rações orais.
curso intermitente, alternando períodos de exacerbações
e remissões.
Figura 18. Pioderma gangrenoso.
BASES DA MEDICINA
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Figura 19. Eritema nodoso.
A artrite enteropática tem pico de incidência entre a
2ª e 3ª décadas de vida e afeta 5% a 10% dos indiví-
duos portadores de doença inflamatória intestinal,
sendo a manifestação extraintestinal a mais comum.
82
Espondiloartrites Cap. 3
Os AINEs têm contraindicação relativa. Podem ser A Artrite Psoriásica (AP) é uma enfermidade sis-
usados por um curto período e não devem ser pres- têmica de natureza inflamatória que ocorre em
critos continuamente pelo fato de poderem causar pessoas com psoríase. Em média, 10% a 20% dos
ulceração ou sangramento intestinal, que pode pacientes com psoríase cutânea apresentam artrite
induzir fator confundidor de atividade da doença psoriásica, sendo que em 70% a 80% dos casos a
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intestinal. Nestes casos, prednisona em baixas psoríase precede o quadro articular. Não existe
doses seria uma alternativa para alívio sintomático. predomínio quanto ao sexo e acomete indivíduos
Sulfassalazina ou metotrexato podem ser utilizados entre a 4ª e 5ª década de vida.
para envolvimento periférico. Nos casos refratários,
indica-se o uso de anti-TNF ou anti-IL-17 ou anti-IL-12. 4.3.2. Subtipos
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Espondiloartrites Reumatologia
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Fonte: Acervo do autor.
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Espondiloartrites Cap. 3
Sidesmófitos Sacroileíte
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comum a entesopatia de origem mecânica, como o famoso
“esporão” de calcâneo em jogadores de futebol. Portanto,
diante de uma entesopatia existem diagnósticos diferen-
Fonte: Acervo do autor.
ciais, como doença traumática ou degenerativa, DISH
(hiperostose esquelética idiopática difusa) ou deposição
4.3.4. Diagnóstico de hidroxiapatita, ou pirofosfato de cálcio.
utro ponto importante é que dactilite não é sinônimo de
O
O critério de CASPAR (Classification Criteria for Pso-
espondiloartrite. Você mesmo já viu esse termo ao estudar
riatic Arthritis) é utilizado atualmente para classificar anemia falciforme. Logo, a dactilite pode ser encontrada
o paciente como portador de AP, sendo necessários em outras condições além das espondiloartrites e da
pelo menos 3 pontos. anemia falciforme, como tuberculose e sarcoidose.
Critérios Pontos
História de psoríase 1
Dactilite 1
Distrofia ungueal 1
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Espondiloartrites Reumatologia
ESPONDILOARTRITES
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anquilosante
Sacroileíte e
Axial não
Lombalgia Entesite e Artrite Artrite reativa
radiográfica
inflamatória
Infecção
Raio-X normal e
genitourinária ou
RNM com sacroileíte
Tratamento Tratamento gastrointestinal prévia
AINE DMARDs
Artrite enteropática
Portador de Doença
de Crohn ou
Retocolite ulcerativa
86
Espondiloartrites Cap. 3
1. Korkosz M, Gąsowski J, Grzanka P, Gorczowski J, Pluskie- Hochberg MC, Silman AJ, Smolen JS, Weiblatt ME, Weisman
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Espondiloartrites Reumatologia
QUESTÕES COMENTADAS
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⮨ Doença de Crohn. Questão 3
⮩ Doença de Behçet.
(SECRETARIA DE SAÚDE DE MACAÉ – RJ - 2021) Sobre as
artrites:
Questão 2 I. O reumatismo palindrômico cursa frequentemente
com anti-DNa+;
(SELEÇÃO UNIFICADA PARA RESIDÊNCIA MÉDICA DO CEARÁ – CE –
II. A Coreia de Huntington se asso¬cia à febre reu-
2021) Mulher, 33 anos, há 2 meses apresenta fadiga,
mática;
dor em mãos, joelho esquerdo e tornozelo direito
III. O HLA B27 associa-se à Espondilite Anquilosante.
que pioram no repouso e melhoram com atividade
Marque a opção correta:
física. Nega queixas axiais. Há 1 semana passou a
apresentar edema difuso em 3º quirodáctilo direito. ⮦ I e II verdadeiras.
Nega alterações genitais, urinárias e intestinais. Ao ⮧ I e III verdadeiras.
exame: lesões eritematodescamativas em região
⮨ I, II e III verdadeiras.
extensora de cotovelos e em sulco interglúteo,
depressões e sulcos transversais ungueais; dor e ⮩ II e III verdadeiras.
edema em punho direito, 2º interfalangeana pro- ⮪ Somente III verdadeira.
xi¬mal esquerda e joelho esquerdo, e dor e calor em
tornozelo direito. Traz os exames complementares:
Questão 4
Hb 11,2 mg/dl (VR 12 mg/dl); PCR 1,65 mg/dl (VR <
0,6 mg/dl); TGO 35 e TGP 25 (VR < 50UI/L); Ácido (HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA FACULDADE DE MEDICINA DE RP
úrico 5.5 mg/dl (VR 6.0 mg/dl); Cr 0,6 mg/dl (VR DA USP – SP – 2021) Homem, 28 anos, há seis meses
1,0 mg/dl); sorologias para hepatites B e C, sífilis apresenta lombalgia de ritmo inflamatório e há três
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Espondiloartrites Cap. 3
meses apresenta dor em joelho direito e calcanha- ⮨ Uveíte anterior, lombalgia mecânica, ressonância
res. Exame: bom estado geral; edema, hiperemia e de coluna lombar.
calor em calcanhares e tuberosidade tibial direita; ⮩ Uveíte anterior, espondilite anquilosante, resso-
teste de Patrick positivo bilateralmente. Qual des- nância nuclear magnética de sacrilíaca.
tas manifestações é mais provável ocorrer nesse
paciente?
Questão 7
⮦ Nefrite intersticial.
(HOSPITAL MILITAR DE ÁREA DE SÃO PAULO – SP – 2020) Homem
⮧ Dor testicular.
de 30 anos, trabalhador rural, previamente hígido,
⮨ Uveíte anterior. iniciou há 2 anos lombalgia insidiosa. Atualmente
⮩ Livedo reticular. o desperta à noite, não tendo posição para dormir.
Pela manhã, além da lombalgia com rigidez, tem
dor no calcanhar direito, que melhora ao longo do
Questão 5
dia. Nega outras queixas. Qual a principal hipótese
(FUNDAÇÃO UNIVERSITÁRIA DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DE ALAGOAS diagnóstica?
– AL – 2021) Com relação a “artrite reativa”, patologia
⮦ Discopatia degenerativa.
reumática que pertence à família das espondiloar-
tropatias, podemos afirmar que: ⮧ Doença osteomuscular associada ao trabalho.
⮨ Espondiloartrite.
⮦ Não é precedida por processos infecciosos.
⮩ Doença de Scheuermann.
⮧ Não apresentam associação com inflamação
⮪ Espondilodiscite.
do esqueleto axial ou alteração da dosagem de
HLA-B27 (antígeno leucocitário).
⮨ Além da artralgia não apresentam alterações
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Questão 8
clínicas adicionais.
(HOSPITAL MILITAR DE ÁREA DE SÃO PAULO – SP – 2020) Homem
⮩ Infecção venérea ou desinteria precedem em de 30 anos, trabalhador rural, previamente hígido,
geral o quadro articular. iniciou há 2 anos lombalgia insidiosa. Atualmente
⮪ Nenhuma das alternativas. o desperta à noite, não tendo posição para dormir.
Pela manhã, além da lombalgia com rigidez, tem
dor no calcanhar direito, que melhora ao longo do
Questão 6
dia. Nega outras queixas. Qual é o tratamento de
(UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – SP – 2021) Homem, escolha?
24 anos de idade, apresenta-se com dor em região
⮦ Antibioticoterapia.
lombar baixa e região glútea, sem irradiação, que
piora no período noturno e é acompanhada de ri- ⮧ Hidroxicloroquina.
gidez matinal de 60 minutos há 2 anos. Há 1 mês, ⮨ Anti-inflamatório não esteroidal.
apresenta olho direito vermelho, fotofobia e discreta ⮩ Fixação transpedicular e osteotomia apical.
turvação visual. Marque a alternativa correta com
⮪ Rizotomia lombar.
relação ao acometimento ocular, diagnóstico clínico
e exame para auxiliar no diagnóstico.
Questão 9
⮦ Uveíte posterior, espondilite anquilosante, HLA
B27. (HOSPITAL SÃO LUCAS DA PUC – RS – 2020) Homem, 24 anos,
⮧ Ceratite, síndrome de Sjögren, Fator antinúcleo operário da construção civil, consulta devido à dor
(FAN. lombar, evoluindo há 4 meses. A dor é intensa, as-
sociada a rigidez da base da coluna com irradiação
para nádegas. Ele acorda à noite pela dor e percebe
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Espondiloartrites Reumatologia
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Espondiloartrites Cap. 3
GABARITO E COMENTÁRIOS
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Alternativa C: INCORRETA. Sem história de diarreia
Questão 3 dificuldade:
com muco e sangue de evolução crônica.
Alternativa D: INCORRETA. Apesar das úlceras orais, Assertiva I: INCORRETA. O reumatismo palindrô¬mi-
não há menção a úlceras genitais, panuveíte, pseu¬- co (RP) é uma síndrome caracterizada por ataques
dofoliculite e fenômenos trombóticos. inflamatórios recorrentes e autolimitados nas arti-
-culações e ao redor delas. Uma associação entre
✔ resposta: A
RP e Artrite Reumatoide (AR) foi postulada há muito
tempo; uma proporção significativa de pacientes
Questão 2 dificuldade: com RP eventualmente desenvolve AR e a maioria
também tem anticorpos anti-CCP. Portanto, a RP é
Y Dica do professor: Em um indivíduo com artralgia frequentemente considerada um pródromo da AR.
inflama¬tória, são dicas para pensar em artrite pso-
Assertiva II: INCORRETA. Coreia de Sydenham é ma-
riásica: presença de psoríase cutânea ou ungueal,
nifestação neurológica da febre reumática.
história familiar de psoríase, dactilite ou o envolvi-
mento de interfalangeana distal. Estamos diante Assertiva III: CORRETA. Pa¬cientes com Espondilite
de uma paciente com artralgia inflamatória que Anquilosante têm elevada frequência de positivida-
apresen-ta um quadro de dactilite e é evidencia- de de HLA B27 (80-95%).
do durante o exame físico a presença de psoríase ✔ resposta: E
cutânea. O laboratório reforça a sua hipótese ao
encontrar indícios inflamatórios como anemia de
Questão 4 dificuldade:
doença crônica, elevação de PCR e negatividade
de FR e anti-CCP. Y Dica do professor: O quadro clínico apresenta-
do nesta questão, de um paciente jovem, do sexo
91
Espondiloartrites Reumatologia
masculino e lombalgia de caráter inflamatório, nos número grande de etiologias, o diagnóstico ade-
leva a pensar na sua principal hipótese diagnóstica: quado desses quadros exige que o médico realize
a Espondilite Anquilosante (EA). uma história detalhada e seja muito atento no exa-
Alternativa A. INCORRETA. Sempre lembrar da asso- me físico. Alguns fatos que devem chamar atenção
ciação de doenças reumatológicas e uveíte! Nesse no caso do paciente da questão é a idade jovem,
caso, a uveíte é anterior. a lombalgia de caráter insidioso, com piora à noite
e melhora no decorrer do dia (características de
✔ resposta: C
lombalgia inflamatória) e quadro associado de dor
no calcanhar.
Questão 5 dificuldade: Alternativa A: INCORRETA. A discopatia degenerativa
normalmente é associada à lombalgia mecânica (que
Y Dica do professor: A artrite reativa se dá através de
piora com flexão e com atividade física e melhora
uma infecção a distância, principalmente dos tra-
no repouso), além de ser comumente associada
tos geniturinário e gastrointestinal, que culminam
à dor irradiada para glúteo ou para porção medial
em manifestações articulares e extrarticulares tí-
do membro inferior. Dor isolada no calcanhar não
picas, como oligoartrite periférica de grandes arti-
é bem explicada por um quadro de discopatia de-
culações, dactilite, Tríade de Reiter (artrite, uretrite
generativa.
e conjuntivite) etc. O diagnóstico desta condição
é tipicamente clínico, e seu tratamento consta do Alternativa B: INCORRETA. A doença osteomuscular
uso de AINEs e antibioticoterapia. associada ao trabalho normalmente apresenta ca-
ráter de lombalgia mecânica, piorando com a ati-
✔ resposta: D vidade física, sendo aliviada durante o repouso. O
tornozelo não é um sítio comumente acometido.
Questão 6 dificuldade: Alternativa C: CORRETA. O quadro é muito suspeito
de espondiloartrite. As espondiloartrites são um
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Y Dica do professor: O enunciado descreve um qua- grupo de doenças, das quais a mais comum é a
dro de lombalgia inflamatória há mais de 3 meses espondilite anquilosante, caracterizadas por dor
em um homem jovem, evoluindo com acometi- lombar inflamatória (que piora com extensão da
mento ocular geralmente associado à uveíte an- coluna, com o repouso e é associada à rigidez).
terior aguda, trata-se, portanto, de uma provável Outros sintomas característicos são oligoartrite
espondilite anquilosante ou espondiloartrite axial assimétrica, dactilite e entesite. Deve-se suspeitar
não radiográfica, sendo necessário realizar raio X desse diagnóstico em pacientes jovens que iniciam
de sacroilíacas inicialmente e, caso normal, indicar quadro de dor lombar inflamatória, principalmente
RNM das articulações sacroilíacas para o auxílio quando associada a algum dos outros sintomas
do diagnóstico. extralombares. O paciente da questão apresenta
✔ resposta: D a dor lombar inflamatória insidiosa com rigidez, e
dor no calcanhar (o sítio mais comum de entesite).
Alternativa D: INCORRETA. A Doença de Scheuermann
Questão 7 dificuldade:
é uma forma de cifose vertebral juvenil associada
Y Dica do professor: Questão interessante, abordan- à rigidez. O paciente da questão não apresenta re-
do o diagnóstico diferencial de pacientes com dor lato de cifose e não faz parte da faixa etária típica.
lombar. A dor lombar é uma queixa extremamen- Alternativa E: INCORRETA. A espondilodiscite é uma
te comum na população, alcançando 20-25% da causa de dor lombar infecciosa, normalmente se-
população geral, existindo diferentes causas para cundária a um quadro de osteomielite.
ela, desde a mais simples e frequente, lombalgia
✔ resposta: C
mecânica comum, até a discopatia degenerativa,
espondiloartrites, Mal de Pott e muitas outras cau-
sas. Pela sua prevalência elevada na população, e
92
Espondiloartrites Cap. 3
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como inibidores-TNF (ex. infliximab) ou inibidores
IL-17 (secukinumab OU ixekizumab).
Alternativa A: INCORRETA. Esse seria o tratamento
adequado caso o paciente apresentasse espondi-
loscite, por exemplo.
Alternativa B: INCORRETA. O imunomodulador nor-
malmente utilizado para espondiloartrites é a sul-
fassalazinha ou metotrexato.
Alternativa C: CORRETA. Esse tratamento farmacoló-
gico é suficiente para cerca de 75% dos pacientes.
Alternativa D: INCORRETA. A fixação transpedicular
é um dos principais tratamentos para casos de
fraturas de colunas vertebrais. Quando associada
à osteotomia apicular, é o tratamento indicado no
tratamento da Doença de Scheuermann.
Alternativa E: INCORRETA. A rizotomia é uma moda-
lidade de tratamento cirúrgico para pacientes com
dores na coluna vertebral por diversas causas, rea-
lizado através da denervação sensitiva da região da
dor, sendo hoje realizada frequentemente através
de radiofrequência. A maioria dos pacientes com
93
Fixe seus conhecimentos!
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94
Capítulo
ARTRITE IDIOPÁTICA JUVENIL
4
importância/prevalência
u Artrite idiopática juvenil engloba diferentes patologias que compartilham artrite crônica (6 semanas ou
mais) em indivíduos menores de 16 anos.
u A classificação do subtipo de AIJ depende da idade no início dos sintomas, do número e do tipo de arti-
culações acometidas, da evolução da doença nos primeiros 6 meses do diagnóstico e da presença de
manifestações extra-articulares.
u As complicações mais comuns, são: contratura e assimetria de membros, cegueira e síndrome de ativação
macrofágica.
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Para entender o que a artrite crônica na infância pode
causar, vamos relembrar que o osso longo de uma criança
é dividido em 4 regiões: a diáfise (diáfise ou centro de
ossificação primário), metáfise (onde o osso se dilata),
a fise (ou placa de crescimento) e a epífise (centro de
ossificação secundário). A fise é responsável pelo cres-
cimento longitudinal do osso.
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Artrite idiopática juvenil Reumatologia
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Artrite idiopática juvenil Cap. 4
Artrite Idiopática
Juvenil
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Subtipos Epidemiologia
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Artrite idiopática juvenil Reumatologia
2. PATOGÊNESE
BASES DA MEDICINA
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ativação de osteoclastos resultante da produção
de citocinas pelo tecido inflamatório, acarretando
desmineralização óssea articular.
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Artrite idiopática juvenil Cap. 4
Patogênese
AIJ
Fatores genéticos
Desmineralização óssea
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Fatores ambientais
Edema articular
Fatores imunológicos
Acúmulo de líquido
sinovial + espessamento
sinovial+ fatores vasculares
+ citocinas + quimiocinas +
moléculas de adesão
Deformidade articular
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Artrite idiopática juvenil Reumatologia
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assimetrias de membros inferiores. agressiva tanto do ponto de vista articular quanto
de manifestações extra-articulares. É mais comum
Figura 2. Artrite crônica de joelho direito com em meninas.
contratura de assimetria de membros.
3.4. SISTÊMICA
100
Artrite idiopática juvenil Cap. 4
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Tabela 1. Principais características dos diferentes subtipos da AIJ.
Sistêmica
Poliartricular Poliarticular Relacionada
(doença Oligoarticular Psoriásica
FR positivo FR negativo à entesite
de Still)
• Febre
• Perda de peso
• Rash salmão
• Serosite
• Dactilite • Entesite
• L i n fo n o d o m e -
galia • Manifestações • Entesite • Úlceras orais
• Uveíte anterior
• Hepatoespleno- semelhantes a • Psoríase • Uveíte anterior
Manifestação (iridociclite) as-
megalia AR como nódu- • Incomum • História familiar aguda recorrente
extra-articular sintomática crô-
los reumatoides de psoríase • História familiar
• Síndrome de ati- nica
e vasculite de espondilite an-
vação macrofági- • Distrofia e pitting
ca (SAM) – 10% ungueal quilosante
dos casos
• Uveíte anterior
(Iridociclite) AU-
SENTE
101
Artrite idiopática juvenil Reumatologia
Sistêmica
Poliartricular Poliarticular Relacionada
(doença Oligoarticular Psoriásica
FR positivo FR negativo à entesite
de Still)
• FAN e FR nega-
tivos
• Ferritina↑ Leuco-
citose com neu- • FAN positivo
Particula- • FAN pode vir po-
trofilia • FR positivo • FR negativo • Lâmpada de fen- • HLA-B27 positivo
ridades sitivo
• PCR ↑ da de rotina
• Plaquetose
• Anemia
• Corticoide intra-
• Corticoide sistê- -articular ou AINE • Metotrexato ∕AI- • Metotrexato ∕AI-
Tratamento • Metotrexato
mico (oral ou ev) • Se não melhora: NE NE
metotrexato
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está associado a manifestações extra-articulares e
diagnósticos de exclusão. Afinal de contas, a inflamação
maior potencial erosivo articular. Já a positividade
é consequência final de inúmeras etiologias mais preva-
lentes do que as doenças reumatológicas.
do FAN é importante por estar relacionada à maior
risco de uveíte anterior crônica assintomática.
As características diagnósticas de cada subtipo,
Trata-se de um diagnóstico de exclusão em indi- você encontra no mapa mental abaixo.
víduos com artrite crônica e menores de 16 anos.
Portanto, deve-se afastar condições infecciosas,
reação adversa a drogas e neoplásicas (em especial,
hematológicas).
102
Artrite idiopática juvenil Cap. 4
Diagnóstico
AIJ
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início em menino com >6 anos; história de parente
rash evanescente; hepato ou esplenomegalia;
de 1º grau com espondilite anquilosante, ou artrite
linfadenopatia generalizada; serosite
relacionada à
entesite, ou DII com sacroileíte, ou Sd de
Reiter ou uveíte anterior aguda
Poliarticular Psoriásica
Oligoarticular Indiferenciada
103
Artrite idiopática juvenil Reumatologia
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e anti-IL-6. É importante ressaltar que o uso de tein-Barr e coxsackie B. A presença de numerosos
glicocorticoide sistêmico (oral ou endovenoso) é macrófagos na medula óssea fagocitando células
reservado para o subtipo sistêmico (Still). sanguíneas (hemofagocitose), sem evidências de
malignidade, é característica da SAM. O tratamento
consiste em imunossupressão agressiva, com pul-
6. PROGNÓSTICO E COMPLICAÇÕES soterapia com glicocorticoides e imunoglobulina.
BASES DA MEDICINA
Pacientes com SAM são habitualmente rastreados para
etiologias virais através de PCR e sorologias. E, apesar
Vimos que a patogenia da AIJ tem como principal aco- do achado em medula óssea ser característico, o proce-
metimento as articulações sinoviais; no entanto, existe dimento é invasivo e pode ser desnecessário diante de
a participação sistêmica de citocinas inflamatórias. Por- um indivíduo plaquetopênico com achados laboratoriais
tanto, podemos ter complicações em outros locais, como e clínicos compatíveis.
104
Artrite idiopática juvenil Cap. 4
Prevalência: 8 a 150
Corticoide casos/100.00 habitantes
Definição
Fatores ambientais
Oligoarticular Sistêmica
Fatores imunológicos
Relacionada
Poliarticular
a entesite
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FR + Doença de Still
Persistente FR -
Febre + 1(rash, hepato/
esplenomegalia,
Estendida + Mulheres linfadenopatia, serosite)
Assimetria MMII
Entesite
1-4 articulações
nos primeiros HLA-B27
6 meses
Uveíte anterior aguda
Sacroileíte
Dactilite
Psoríase
105
Artrite idiopática juvenil Reumatologia
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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lar-juvenile-idiopathic-arthritis.&source=search_result&selectedTi-
tle=3~150&usage_type=default&display_rank=3.
106
Artrite idiopática juvenil Cap. 4
QUESTÕES COMENTADAS
⮦ Presença de febrícula (temperatura entre 37- (FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRÃO PRETO – SP – 2021)
37,5°C), com duração de pelo menos 3 dias. Menino branco, 7 anos, queixa-se de aumento de
⮧ Ser de início mais grave, representando 5 a 15% volume e dificuldade para mover o joelho direito,
das AIJ. principalmente pela manhã, há 7 semanas. Ao exa-
⮨ Exantema serpinginoso, de coloração violácea, me, o médico nota que criança manca e observa
acometendo preferencialmente a face. presença de edema e limitação de movimentos em
joelho direito. Não há outras queixas, nem outras
⮩ Anemia, leucopenia e plaquetose.
alterações ao exame físico. Os únicos exames la-
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boratoriais alterados são: FAN positivo (1:160) e
Questão 2 ASLO = 600U Todd (normal até 300U). A hipótese
diagnóstica mais provável para esse menino é:
(SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE DO RIO DE JANEIRO – RJ –
2021) Escolar de 8 anos é levado à consulta pediá- ⮦ Artrite idiopática juvenil.
trica por febre e dificuldade de deambular. Seus ⮧ Febre reumática.
responsáveis referem quadro que se repete há
⮨ Lúpus eritematoso sistêmico.
pelo menos dois meses: um a dois picos diários
de febre noturna (39,5°C) que cede rapidamente ⮩ Artrite séptica.
de forma espontânea, seguidos de manchas em
forma de linhas avermelhadas no tronco, não pru- Questão 4
riginosas, que desaparecem em, no máximo, uma
hora. Além disso, relatam dificuldade no início da (HOSPITAL DO CÂNCER DE GOIÁS – GO – 2021) Na artrite idio-
deambulação, em especial ao acordar. Ao exame, pática juvenil (AIJ):
o escolar encontra-se em regular estado geral, hi-
⮦ O exantema típico, caracterizado por lesões ma-
pocorado 2+/4+, com boa perfusão periférica; há
culares ou maculopapulares na cor rosado-sal-
hepatoesplenomegalia; as articulações de torno-
mão, é frequentemente pruriginoso.
zelos, joelhos, cotovelo esquerdo e ombro direito
apresentam dor, edema, calor, rubor e limitação do ⮧ A febre de caráter intermitente, com um a dois
movimento. Exame físico restante sem alterações. picos diários, ocorre em 80% dos casos.
O diagnóstico mais provável, nesse caso, é: ⮨ A esplenomegalia é volumosa e é mais comum
do que a hepatomegalia.
⮦ Lúpus eritematoso sistêmico.
⮩ O envolvimento cardíaco pode preceder as ma-
⮧ Artrite idiopática juvenil. nifestações articulares da doença.
107
Artrite idiopática juvenil Reumatologia
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pela presença de artrite que atinge até quatro fia de tórax: borramento dos seios costofrênicos.
articulações, geralmente joelho e/ou tornozelo. Ecocardiograma: sem alterações, hemoculturas: ne-
⮧ Ocorre quando mais de cinco articulações são gativas, sorologias para Epstein-Barr vírus, TORCH
atingidas de maneira simétrica nos primeiros 6 (Toxoplasma gondii, Rubéola vírus, Citomegalovírus
meses da doença, como pés, tornozelos, joelhos, e Herpes simplex vírus), Parvovírus B19, HIV e he-
mãos, pescoço etc. patites: negativas, PPD: negativo; fator reumatoide
e anticorpos antinucleares: negativos, Mielograma:
⮨ Ocorre por transmissão hereditária, onde nor-
ausência de sinais de doença linfoproliferativa. Dian-
malmente afeta mais meninas entre o 1º e o 4º
te do caso clínico e exames apresentados, qual é a
ano de vida.
principal hipótese diagnóstica?
⮩ É o tipo menos frequente e, além da artrite, tem
como característica principal a presença de fe- ⮦ Doença de Kawasaki.
bre muito alta (acima de 39°C) que vai e volta ⮧ Sarcoidose.
por um tempo prolongado em 100% dos casos,
⮨ Artrite idiopática juvenil.
frequentemente acompanhada de manchas ró-
seas na pele, que tendem a aparecer com a febre ⮩ Febre Reumática.
e desaparecer quando a temperatura normaliza.
Questão 8
108
Artrite idiopática juvenil Cap. 4
para todas as artrites que apresentam as seguintes ⮨ A sulfassalazina é recomendada para a forma
características: sistêmica.
⮩ A sulfassalazina, cloroquina, hidroxicloroquina,
⮦ Causa conhecida que se inicia antes dos 16 anos
leflunomida, azatioprina, ciclosporina, glicocor-
e que persiste por pelo menos 6 semanas.
ticoide sistêmico ou intra-articular podem ser
⮧ Causa desconhecida que se inicia antes dos 16 indicados a critério clínico.
anos e que persiste por pelo menos 6 semanas.
⮨ Causa desconhecida que se inicia antes dos 18
anos e que persiste por pelo menos 6 semanas. Questão 10
⮩ Causa desconhecida que se inicia antes dos (ASSOCIAÇÃO DA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE OURI-
16 anos e que persiste por mais de 6 semanas. NHOS – SP – 2020) Para ser classificado como doente
de Artrite Idiopática Juvenil (AIJ), o indivíduo deve
apresentar artrite de causa desconhecida. Somente
Questão 9
NÃO podemos aceitar que:
(ASSOCIAÇÃO DA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE OURINHOS
⮦ Para tanto devem ser excluídas as artrites trau-
– SP – 2020) O tratamento da Artrite Reumatoide Ju-
máticas, reacionais, infeciosas, transitórias, para
venil segue, em linhas gerais, os mesmos passos
neoplásicas, vasculares e causadas por doenças
da doença no adulto, mas com especificidades,
de depósito.
sendo INADEQUADO que:
⮧ Para tanto devem ser excluídas por exemplo
⮦ Inicia-se com anti-inflamatórios não esteroidais mucopolissacaridose.
(AINEs), sendo o naproxeno o preferencial. Ra- ⮨ A doença deve ter iniciado antes dos 12 anos
ramente, os AINEs conseguem, isoladamente, de idade.
controlar a artrite.
⮩ A duração dos sintomas deve ser igual ou supe-
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⮧ Havendo necessidade de uso de outro medica- rior a 6 semana.
mento, deve-se optar pelo metotrexato.
109
Artrite idiopática juvenil Reumatologia
GABARITO E COMENTÁRIOS
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lembre-se que a dor articular não é um sintoma
te tronco e extremidades superiores. Macular ou
exuberante. Criança com AIJ oligoarticular manca
maculopapular.
por assimetria de membros.
Alternativa D: INCORRETA. Anemia, leucocitose e
Alternativa A: CORRETA. Criança com claudicação/
trombocitose.
assimetria de membros por artrite crônica em joe-
✔ resposta: B lho. FAN positivo é esperado na forma oligoarticular
(mais comum).
Questão 2 Dificuldade: Alternativa B: INCORRETA. O quadro articular da fe-
bre reumática não leva à sequela e é autolimitado.
Y Dica do professor: Febre de origem indeterminada Também não temos outros comemorativos: febre,
com episódios de rash evanescente; lembre-se da rash, cardite, coreia, nódulos subcutâneos.
Doença de Still.
Alternativa C: INCORRETA. O lúpus eritematoso sistê-
Alternativa A: INCORRETA. O LES juvenil tende a cursar mico é uma doença SISTÊMICA, e, portanto, preci-
com envolvimentos mais graves do que o adulto. samos de mais envolvimentos: alopecia/ulcerações,
Mais envolvimento neurológico e glomerulonefrite. fotossensibilidade, glomerulonefrite, serosites, lin-
O paciente também não apresenta lesões especí- -fadenopatia, alterações hematológicas etc.
ficas de LES, alopecia, ulcerações orais, serosite.
Alternativa D: INCORRETA. A artrite séptica é um
Alternativa B: CORRETA. Na AIJ sistêmica (Doença quadro agudo de bloqueio articular. Paciente do
de Still), o marco são os sintomas sistêmicos, e o enunciado tem 7 semanas de evolução (crônico).
envolvimento articular pode estar presente ou não.
✔ resposta: A
Febre prolongada, com rash salmão, evanescente,
que aparece nos períodos de febre. Hepatoespleno-
megalia, linfonodomegalia e serosite podem ocorrer.
110
Artrite idiopática juvenil Cap. 4
Alternativa B: INCORRETA. Febre é uma condição ne- Alternativa C: INCORRETA. Na AIJ oligoarticular, temos
cessária para o seu diagnóstico de AIJ. Geralmente artrite em 1-4 articulações nos primeiros 6 meses.
vespertina, 1 ou 2 picos diários superiores a 39ºC, Alternativa D: incorreta. Na AIJ relacionada a entesite,
com retorno rápido à temperatura normal, ou seja, temos artrite + entesite, ou artrite (ou entesite) + 2
abaixo de 37°C. Deve apresentar uma duração de, dos seguintes: lombalgia de padrão "inflamatório",
no mínimo, 2 semanas e ser documentada por, pelo HLA-B27 positivo, início da artrite em menino após
menos, 3 dias. o 6º ano de vida, uveíte anterior aguda, parente de
Alternativa C: INCORRETA. A hepatoesplenomegalia, 1º grau com história de: espondilite anquilosante,
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quando presente, é geralmente discreta e a esple- artrite relacionada à entesite, doença inflamatória
nomegalia é rara. intestinal com sacroileíte, Síndrome de Reiter ou
uveíte anterior aguda.
Alternativa D: CORRETA. Os sintomas clínicos de peri-
cardite (taquicardia, dor torácica e atrito pericárdico) ✔ resposta: A
ocorrem em 10% dos pacientes com AIJ, enquanto
o ecocardiograma é capaz de detectar essa altera- Dificuldade:
Questão 6
ção em 36%. A miocardite pode ocorrer em cerca
de 10% dos pacientes, constituindo manifestação Y Dica do professor: A uveíte anterior crônica assin-
de mau prognóstico. Todos podem ocorrer antes tomática é um complicação temida da AIJ e pode
das manifestações articulares da AIJ. ser rastreada através da lâmpada de fenda.
✔ resposta: D Alternativa A: CORRETA. Definição correta da AIJ
oligoarticular, que é o subtipo mais comum de AIJ.
Alternativa B: INCORRETA. Tenta definir a AIJ poliar-
Questão 5 Dificuldade:
ticular, no entanto erra ao dizer mais de 5 articula-
Y Dica do professor: O termo Artrite Idiopática Juvenil ções, quando é a partir de 5 articulações.
(AIJ) se refere a um grupo heterogêneo de doenças Alternativa C: INCORRETA. Apesar de haver predispo-
características da infância que têm a artrite crônica sição genética para AIJ, não podemos dizer que é
(aquela com duração ≥ 6 semanas) como manifes- hereditário.
tação essencial. A forma mais comum de AIJ é a Alternativa D: INCORRETA. Define a AIJ sistêmica.
oligoarticular (50-60% de todos os casos), seguida
pela poliarticular (30-35%) e depois pela forma de
✔ resposta: A
início sistêmico (10-20%). Além de artrite em pelo
menos uma articulação, é preciso ter também febre
111
Artrite idiopática juvenil Reumatologia
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ser mais forte em algumas formas da doença. As
febre alta, exantema, esplenomegalia, adenopatia
possíveis influências ambientais incluem infecção,
generalizada (especialmente dos gânglios axilares)
uso de antibióticos, aleitamento materno, tabagis-
e serosite com pericardite ou pleurite. Tais sintomas
mo materno e exposição à vitamina D.
podem preceder o desenvolvimento da artrite. A fe-
Alternativa A: INCORRETA. A Doença de Kawasaki é bre ocorre diariamente e, frequentemente, é mais
uma vasculite febril que afeta predominantemente alta à tarde ou no início da noite, e pode recorrer
crianças abaixo dos 5 anos de idade, e com ligeiro por semanas. A ativação de osteoclastos resultante
predomínio entre meninos. O agente etiológico é da produção de citocinas pelo tecido inflamatório
desconhecido, mas parece ser de natureza infec- é a causa da desmineralização óssea articular. O
ciosa. Acredita-se que a desordem seja desenca- início da doença deve ocorrer antes dos 16 anos,
deada por um agente ubíquo, que provocaria uma deve haver artrite em 1 ou mais articulações e as
resposta imune anormal em pessoas geneticamen- manifestações devem durar pelo menos 6 semanas.
te predispostas, embora o agente não tenha sido
Alternativa D: INCORRETA. A FR é a doença reumá-
ainda identificado.
tica mais comum em crianças na idade escolar e
Alternativa B: INCORRETA. A sarcoidose mais co- em adolescentes. Ocorre como complicação de
mumente afeta indivíduos na faixa etária de 20 a infecção de garganta causada pelo estreptococo
40 anos, mas, eventualmente, acomete crianças beta-hemolítico do grupo A. A FR pode afetar várias
e adultos mais velhos. Sarcoidose é mais preva- partes do corpo como articulações, coração, sistema
lente em mulheres. A incidência aumenta com o nervoso e pele. Ainda não se sabe exatamente por
inverno e o início da primavera, por motivos des- que apenas algumas pessoas desenvolvem essa
conhecidos. Admite-se que a sarcoidose decorra complicação, mas sabe-se que elas já nascem com
de resposta inflamatória a um antígeno ambiental uma predisposição genética para a doença. Artrite
em indivíduos geneticamente suscetíveis. As ma- é a manifestação mais comum da FR, caracterizada
nifestações mais comuns são tosse persistente,
112
Artrite idiopática juvenil Cap. 4
por uma inflamação das juntas, bastante dolorosa, etanercepte, anacinra, canaquinumabe, tocilizu-
com inchaço e vermelhidão. Ocorre em 1 a 3 sema- mabe, abatacepte), modificaram drasticamente a
nas após a infecção pelo estreptococo. Não deixa abordagem terapêutica.
sequelas e melhora com o tratamento, que é a base Pode-se reduzir os sintomas da artrite idiopática
de anti-inflamatório (ácido acetilsalicílico). juvenil com AINEs, mas raramente os AINEs con-
✔ resposta: C seguem controlar isoladamente a artrite. AINEs
são mais úteis para entesite. Naproxeno (preferen-
cial), 5 a 10 mg/kg VO, dias vezes/dia; ibuprofeno,
Questão 8 Dificuldade: 5 a 10 mg/kg VO, 4 vezes/dia; e indometacina, 0,5
Y Dica do professor: Pelos critérios de classificação a 1,0 mg/kg VO, 3 vezes/dia estão entre as fárma-
da International League of Associations for Rheu- cos mais úteis.
matology (ILAR), a artrite idiopática juvenil é um Alternativa B: CORRETA. Na forma poliarticular a
diagnóstico de exclusão. O início da doença deve terapia inicial indicada deve conter uma DARMD
ocorrer antes dos 16 anos, deve haver artrite em 1 já que os AINEs não conseguem em monoterapia
ou mais articulações e as manifestações devem controlar o processo inflamatório. Os medicamen-
durar pelo menos 6 semanas. tos modificadores do curso da doença indicados
são o metotrexate (introduzido na dose de 15 mg/
✔ resposta: B
m²) e o anti-TNF alfa. O escalonamento da terapia
é indicado para crianças com atividade continuada
Questão 9 Dificuldade: da doença em pelo menos uma articulação após 3
meses de tratamento e pode incluir glicocorticoide
Y Dica do professor: O tratamento da AIJ segue, intra-articular ou adição de anti-TNF alfa (se esti-
em linhas gerais, os mesmos passos da doença vesse só em uso do metotrexate).
no adulto, mas com especificidades: inicia-se com
Alternativa C: INCORRETA. Na forma sistêmica, leve
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Anti-inflamatórios Não Esteroides (AINEs), sendo
a moderada, os AINEs são o tratamento inicial in-
o naproxeno o preferencial. Raramente, os AINEs
dicado. Crianças que continuam apresentando sin-
conseguem controlar isoladamente a artrite. Ha-
tomas significativos apesar do uso de AINEs, por
vendo necessidade de uso de outro medicamento,
1 semana ou 2, devem receber também agentes
deve-se optar pelo metotrexato. A sulfassalazina,
biológicos, como inibidores da IL-1 ou IL-6. Pacien-
cloroquina, hidroxicloroquina, leflunomida, aza-
tes com doença moderada a grave têm indicação
tioprina, ciclosporina, glicocorticoide sistêmico ou
de uso de AINEs associados a agentes biológicos
intra-articular podem ser indicados a critério clínico.
como terapia inicial e, se houver poliartrite, febre
A sulfassalazina não é recomendada para a forma
e erupção cutânea contínuas após 1 semana, são
sistêmica. A ciclosporina é preferencialmente reco-
indicados glicocorticoides. As crianças que apre-
mendada na síndrome de ativação macrofágica, ou
sentam sintomas relativamente graves ou quando
linfohistiocitose hemofagocítica. Na persistência
há suspeita de Síndrome de Ativação Macrofágica
de artrite, após 3 a 6 meses de tratamento, deve-
precoce devem ser tratados com glicocorticoides,
-se iniciar Medicamento Modificador do Curso da
além de anti IL-1 ou anti IL-6. A sulfassalazina não
Doença (MMCD) biológico, entre eles o adalimu-
é recomendada para a forma sistêmica
mabe, etanercepte, infliximabe, abatacepte e toci-
lizumabe, sendo este último apenas para a forma Alternativa D: CORRETA. A escolha dos medicamen-
sistêmica. A associação de MMCD biológicos não tos usados deve resultar de uma decisão compar-
deve ser utilizada. tilhada entre o médico, a família e o paciente com
capacidade de compreender e tomar decisões. Os
Alternativa A: CORRETA. Similar ao tratamento de
principais fármacos usados são os Anti-inflama-
pacientes com artrite reumatoide em adultos, an-
tórios não esteroidais (AINEs), como naproxeno,
tirreumáticos modificadores de doença, particu-
meloxicam e ibuprofeno, glicocorticoides de uso
larmente metotrexato e agentes biológicos (p. ex.,
sistêmico, tópico ocular e intra-articular, e DARMDs
113
Artrite idiopática juvenil Reumatologia
Questão 10 Dificuldade:
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ticulações pode ser um sinal comum em outras
doenças, todas as possibilidades devem ser anali-
sadas e descartadas pelo médico.
Alternativa C: INCORRETA. A artrite idiopática juvenil
afeta crianças e adolescentes com até 16 anos.
Alternativa D: CORRETA. o diagnóstico é feito quando
uma artrite não infecciosa crônica com duração >
6 semanas não tem outra causa conhecida.
✔ resposta: C
114
Capítulo
ARTRITE SÉPTICA
5
importância/prevalência
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que suportam carga, como os joelhos, são as mais
BASES DA MEDICINA
acometidas na artrite séptica, e a apresentação
clínica habitual é de monoartrite. Trata-se de uma
A evolução clínica da artrite séptica é consequência da emergência clínica pelo potencial destrutivo articular
interação do tipo de micro-organismo (bactérica, fungo
irreversível.
ou micobactérias) com o hospedeiro, resultando em uma
resposta inflamatória sinovial, cuja evolução pode ser A artrocentese diagnóstica evidencia líquido sino-
aguda ou crônica. vial turvo com diminuição de viscosidade e acima
de 50.000/100.000 leucócitos, com predomínio de
polimorfonucleares. O tratamento é baseado na
Artrite séptica ou infecciosa é sinônimo de infecção
remoção do pus intra-articular associado à antibioti-
em uma articulação. A artrite séptica é geralmente
coterapia. O antibiótico inicial de escolha é baseado
causada por bactérias, mas também pode ser origi-
na pesquisa e coloração gram e na situação clínica.
nada por outros micro-organismos. Diferentemente
da artrite reativa, que é asséptica e reacional, as
artrites sépticas decorrem de invasão direta do
micro-organismo na articulação.
As artrites sépticas são divididas em agudas e
crônicas. As agudas, por sua vez, dividem-se em
gonocócica e não gonocócica, e as crônicas, por
etiologia fúngica ou micobactérias. Neste capítulo,
abordaremos as artrites sépticas agudas/bacte-
rianas.
115
Artrite séptica Reumatologia
Artrites
sépticas
Infecção em
Agudas Crônicas
articulação
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Emergência
Não gonocócicas Gonocócicas
médica
Micobactérias Fungos
116
Artrite séptica Cap. 5
2. E PIDEMIOLOGIA E
FISIOPATOGENIA Existem fatores que predispõem à artrite séptica,
como: neoplasia; diabetes; alcoolismo; imunodefi-
ciência primária ou secundária; idosos acima de 80
anos e crianças abaixo de 5 anos; prótese articular;
BASES DA MEDICINA lesão articular prévia (ex.: artrite reumatoide, osteoar-
trite); uso de glicocorticoides, imunossupressores
A cartilagem articular que reveste o osso subcondral e quimioterápicos; úlceras crônicas e infecções
não possui vascularização, e sua nutrição/oxigenação é cutâneas; deficiência dos componentes tardios do
feita pelo líquido sinovial; logo, processos que diminuam
sistema complemento (C5-C9).
a chegada de nutrientes (ex.: infecção) para a cartilagem
promovem sua necrose. Já a sinóvia, é altamente vascu-
DIA A DIA MÉDICO
larizada, mas a falta de uma membrana protetora a torna
vulnerável ao crescimento bacteriano.
No ambulatório da reumatologia nos deparamos com
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casos de artrite séptica, já que são pacientes que possuem
A incidência de artrite bacteriana é maior em crian- uma doença articular prévia (ex.: artrite reumatoide) e
ças, imunossuprimidos e idosos, sendo ligeiramente fazem uso de imunossupressores.
117
Artrite séptica Reumatologia
Bacilo gram-negativo
Alcoolismo/cirrose
S. pneumoniae
Malignidade Bacilo gram-negativo
Bacilo gram-negativo
Diabetes mellitus
Cocos gram-positivo
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Pseudomonas aeruginosa
Usuário de drogas Serratia marcescens
S. aureus
Mordida de cães Pasteurella multocida
Hemoglobinopatias S. pneumoniae
Hipogamaglobulinemia Mycoplasma hominis
Leite não pasteurizado Brucella sp.
< 3 meses: S. aureus, bacilo gram-negativo.
Prótese articular > 3 meses: S aureus, Staphylococcus co-
agulase negativo, Streptococcus
118
Artrite séptica Cap. 5
I (Não II III IV
Normal
inflamatório) (Inflamatório) (Séptico) (Hemartrose)
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Viscosidade Alta Alta Diminuída Diminuída Alta
Alaranjado,
Coloração Incolor Amarelo-claro Purulento, turvo Vermelho
pouco turvo
Leucócitos 0 a 200 200 a 2.000 2.000 a 50.000 > 50.000/100.000 Similar ao sangue
Polimorfo-
< 25% < 50% > 50% > 75% Similar ao sangue
nucleares
Trauma
Artropatias Sinovite vi-
inflamatórias Além das sép- lonodular
(AR, EpA, LES) ticas, lembrar
Causas Fisiológico Osteoartrite Neoplasia
e microcris- das causas
talinas (gota, pseudosépticas Charcot
pseudogota) Distúrbios co-
agulação
O líquido sinovial do tipo não inflamatório (I) é carac- são assépticas. São elas: gota, artrite reumatoide
terístico da osteoartrite. Já a maioria das doenças e artrite reativa.
reumatológicas, incluindo as autoimunes e micro-
Seguindo o mesmo raciocínio, existem artrites
cristalinas, terão um líquido inflamatório do tipo II.
sépticas que podem vir com líquido sinovial infla-
Atenção para as doenças que podem ocasional-
matório (pseudosépticos): gonocócica, fúngica,
mente dar um líquido com aspecto séptico, mas que
microbactérias.
119
Artrite séptica Reumatologia
BASES DA MEDICINA
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superfícies mucosas, incluindo uretra, reto, conjuntiva,
faringe, cervicovaginal. A bacteremia gonocócica recebe o
nome de Infecção Gonocócica Disseminada (IGD) e ocorre
em 0,5% a 3% de indivíduos com infecção não tratada de
mucosa. Gravidez e menstruação aumentam a chance de
IGD por mudanças do fenótipo do gonococo e exposição
A – feixe perpendicular; B – no feixe; C – feixe paralelo. endometrial de vasos submucosos.
Fonte: Acervo Sanar.
120
Artrite séptica Cap. 5
DICA
O gonococo se associa à artrite sép-
Manifestações graves incluem endocardite, miocar- tica, e a clamídia à artrite reativa.
dite, defeitos de condução, pericardite, osteomielite,
piomiosite, hepatite (Síndrome de Fitz-Hugh-Curtis),
meningite, Síndrome de Waterhouse-Friderichsen Na fase bacterêmica, o principal diagnóstico dife-
e síndrome respiratória do adulto. Essas compli- rencial é a artrite reativa. Já na supurativa, é a artrite
cações tornaram-se extremamente raras desde a séptica não gonocócica. Os Quadros 4 e 5 abaixo
introdução dos antibióticos. comparam ambas as patologias.
A maioria dos pacientes do IGD nega sintomas
geniturinários, anorretais ou faríngeos, apesar de a Quadro 4. Principais diferenças entre artrite
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séptica não gonocócica e gonocócica.
infecção gonocócica nesses sítios poder ser iden-
tificada em 70% a 80% deles ou em seus parceiros Não
Gonocócica
sexuais. gonocócica
Crianças, idosos,
6. DIAGNÓSTICO E DIFERENCIAIS Indivíduo Adulto jovem imunocom-
prometidos
Migratório po-
Padrão liarticular Monoartrite
BASES DA MEDICINA Poliartrite
Drenagem
O diagnóstico DEFINITIVO de artrite séptica é feito ao cirúrgica
Raro Comum
encontrar o micro-organismo no líquido sinovial. No
caso da artrite séptica não gonocócica, existe uma Prognóstico Bom Ruim
alta taxa de positividade na bacterioscopia (gram) Fonte: Adaptado de West1.
ou cultura do líquido sinovial. Já na artrite séptica
gonocócica, testes moleculares (PCR) e cultura de
secreções de mucosa uretral, endocervical, faríngea
121
Artrite séptica Reumatologia
Artralgia
Não Sim O Staphylococcus aureus é muito mais virulento do que
migratória
a Neisseria gonorrhoeae. Já foram descritos no mínimo
Poliartrite 15 fatores de virulência para o S. aureus, como compo-
Oligoartrite
migratória de nentes de superfície microbiana que reconhecem as
assimétrica de
Artrite membros su- moléculas da matriz extracelular do hospedeiro, toxinas
membros infe-
periores e joe- e moléculas de evasão do sistema imune do hospedeiro.
riores. Estéril
lhos. Séptica Tais características justificam o prognóstico ruim e o
Entesite Sim Não tratamento agressivo da artrite séptica não gonocócica
quando comparada à gonocócica.
Sim. Não mi- Tenossinovite
Tenossinovite
gratória migratória
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Pápulas ou vesí-
blenorrági- Adultos jovens com quadro sugestivo de artrite
Lesão cutânea culas em tronco
co e balanite
circinada
e extremidades gonocócica são tratados com ceftriaxona. Nos
demais grupos em que não existe forte evidência
Sim. Porém,
de germe resistente, o esquema inicial é oxacilina.
Cultura po- só isola germe
Não Caso haja dúvida entre origem gonocócica e não
sitiva em 30% a 50%
dos casos gonocócica, inicia-se oxacilina + ceftriaxona.
HLA-B27 Sim, 80% Não Se a pesquisa do gram é positiva, auxilia na escolha
do esquema inicial (Quadro 5).
Sim. Tratar cla-
Resposta à mídia também
Não
penicilina pelo alto risco Quadro 6. Esquema antibiótico, caso
de coinfecção bacterioscopia do líquido sinovial seja positiva.
122
Artrite séptica Cap. 5
Resultado
Esquema antibiótico DIA A DIA MÉDICO
do Gram
Ceftriaxona, Ceftazidima, Ce- Na prática, o tratamento inicial da artrite séptica será feito
fepima, Piperacilina/Tazo- considerando a hipótese tanto de etiologia gonocócica
Bacilo bactam, Carbapenêmicos
quanto não gonocócica, pois não podemos correr o risco
Gram-ne- Se alérgico a penicilina ou ce- de destruição articular. Portanto, apesar de na etiolo-
gativo falosporina: quinolona gia gonocócica ser rara a necessidade de artrotomia,
Se suspeita de pseudomonas: esta pode ser uma conduta cautelar tomada no setor de
Ceftazidima + aminoglicosídeo emergência.
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dose única, uma vez que é frequente a presença
de clamídia. Lembrar de tratar o parceiro sexual.
123
Artrite séptica Reumatologia
ARTRITE
SÉPTICA
Adultas jovens
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População
sexualmente
geral
ativos
Fase
bacterêmica:
poliartrite, Monoartrite
dermatite e
tenossinovite
Clínica Clínica
Suspeita de
artrite séptica
124
Artrite séptica Cap. 5
REFERÊNCIAS
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Artrite séptica Reumatologia
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1 Questão 3
(SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DE JOÃO PESSOA – 2021) (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – SP – 2022) Homem,
Paciente masculino, de 55 anos, relatando dor nas 60 anos de idade, comparece ao PS com monoar-
articulações há aproximadamente 6 anos. Referia trite de joelho direito e febre de 38ºC há dois dias.
ter iniciado o quadro com artrite no joelho esquer- Nos últimos dois anos, apresentou episódios recor-
do, de aparecimento súbito e que melhorou em uma rentes de artrite de primeira metatarsofalangiana,
semana. Posteriormente, notou a ocorrência de com duração de 3 a 7 dias. É etilista (três latas de
crises mais frequentes nos dois joelhos, em mãos cerveja ao dia) e hipertenso. Está em uso irregular
e punhos, tornozelos e pés, de caráter intermitente de enalapril 10 mg, hidroclorotiazida 25 mg e alo-
e sem rigidez matinal ou relatos de podagra. Vem purinol 300 mg. A melhor conduta nesse caso é:
a sua UBS com nova crise de dor, edema, rubor e
calor apenas no joelho esquerdo há 3 dias. Sobre ⮦ Prescrever cefuroxima, manter uso diário do alo-
este caso é correto: purinol e colchicina em caso de dor.
⮧ Dar orientações de uso do alopurinol diariamente
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⮦ Trata-se de paciente com artrite reumatoide e e controle do ácido úrico.
devemos iniciar corticoide e AINEs.
⮨ Fazer artrocentese e enviar o líquido sinovial
⮧ Por ser monoartrite, deve ser puncionado o joe- para análise por suspeita de artrite infecciosa.
lho e afastado diagnóstico de artrite séptica.
⮩ Prescrever colchicina, anti-inflamatório não hor-
⮨ Provável artrite gotosa, devemos iniciar alopuri- monal e reavaliar em 48 horas.
nol imediatamente.
⮩ Osteoartrite é um diagnóstico diferencial e não
Questão 4
é necessário puncionar a articulação.
(UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – SP – 2020) Criança,
8 anos de idade, chegou ao pronto-socorro com
Questão 2
queixa de febre e dor no quadril direito há 2 dias.
(UNIVERSIDADE DE RIO VERDE – 2019) Dentre os agentes Exame físico: limitação da mobilidade da articulação
infecciosos abaixo, qual é o principal causador da do quadril direito. Exames laboratoriais: leucocitose
artrite infecciosa em adultos? com desvio a esquerda e aumento da velocidade de
hemossedimentação. Qual é a hipótese clínica mais
⮦ Staphylococcus aureus. provável e os exames de imagem mais adequados?
⮧ Aspergillus spp.
⮦ Pioartrite, cintilografia óssea e ressonância mag-
⮨ Escherichia coli.
nética.
⮩ Streptococcus pneumoniae.
⮧ Artrite reumatoide juvenil, radiografia e tomogra-
fia computadorizada.
126
Artrite séptica Cap. 5
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⮦ Alopurinol. ao caso, afirma-se:
⮧ Colchicina. I. A presença de 50.000 polimorfonucleares/mm³
⮨ Prednisona. no líquido sinovial sugere o diagnóstico de artrite
séptica.
⮩ Ceftriaxone.
II. Início imediato de antibioticoterapia e drenagem
do líquido sinovial são essenciais no manejo do
Questão 6 quadro.
III. A presença de proteínas e lactato elevada no
(HOSPITAL RIO DOCE DE LINHARES – ES – 2020) Um homem líquido sinovial são critérios maiores no diagnós-
de 21 anos vai ao pronto atendimento queixando-se tico de artrite séptica bacteriana. Estão corretas
de dor e edema no joelho direito há 3 dias. Nega co- as afirmativas:
morbidades, doenças prévias, trauma, uso regular
de medicamentos ou uso de quaisquer drogas. Ao ⮦ I e II, apenas.
exame físico, apresenta-se alerta e orientado. Os ⮧ I e III, apenas.
dados vitais são PA: 120 X 74mmHg, FC: 98bpm,
⮨ II e III, apenas.
FR: 19ipm, SpO2 em ar ambiente 96%, Tax: 38,4°C.
O joelho direito está com o volume aumentado, ⮩ I, II e III.
apresenta calor e rubor local, além do sinal da tecla
positivo. Exames de laboratório: Sangue: hemoglo- Questão 8
bina 13,1g/dL; leucócitos 17.210/mm3; neutrófilos
segmentados 15.980/mm3; plaquetas 390.000/ (INSTITUTO DE PREVIDÊNCIA DOS SERVIDORES DO ESTADO DE
mm3; proteína C reativa 68mg/L. Líquido sinovial: MINAS GERAIS – MG – 2020) A.F.L.K, 63 anos, masculi-
citometria 70.450/mm3 (VR<2.000/mm3); neutró- no, sem comorbidades prévias, iniciou com dor
filos 90%; pesquisa com coloração de Gram: sem intensa em joelho direito, associado a eritema e
127
Artrite séptica Reumatologia
importante edema. Admitido ao pronto atendimen- o quadro articular, notou o aparecimento de peque-
to febril (38,5ºC), PA 110x60, FC 112, ritmo cardía- nas lesões nas mãos e pés. Ao exame: dor, calor
co regular em 2 tempos e sem sopros, sem outras e rubor no joelho direito e temperatura corporal de
alterações ao exame físico. O diagnóstico mais 38,5o, presença de pústulas com centro necrótico
importante a ser avaliado por suas implicações nas extremidades e tendinite de Aquiles bilateral.
prognósticas e a propedêutica mais indicada são? Qual é a principal hipótese diagnóstica?
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128
Artrite séptica Cap. 5
GABARITO E COMENTÁRIOS
reumatoide, visto que faz 6 anos que o paciente no líquido e nos tecidos de uma articulação, geral-
possui o quadro e não evoluiu com erosões nem mente causada por bactérias, mas ocasionalmente
deformidades. Também o padrão de acometimen- por vírus ou fungos. A principal bactéria relacionada
to descrito não é de poliartrite, não temos rigidez em adultos é o Staphylococcus aureus.
matinal prolongada. ✔ resposta: A
Alternativa B: CORRETA. A artrocentese está indicada
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nesse caso, mas seria mais por se tratar de uma ar-
Questão 3 dificuldade:
trite de etiologia indefinida do que suspeita de artri-
te séptica, afinal de contas paciente tem quadro de Y Dica do professor: Questão que traz paciente porta-
crises de monoartrite há 6 anos e a artrite séptica dor de gota e que aparece com quadro de monoar-
é um evento agudo. Também não temos relato de trite associado à febre. Logo, precisamos descartar
bloqueio articular e/ou sintomas constitucionais. artrite séptica indicando a artrocentese e a análise
Segundo relatado no enunciado, essa crise parece do líquido sinovial.
ser idêntica a outras ocorridas ao longo dos anos.
Alternativa A: INCORRETA. No caso mencionado, ini-
Essa assertiva foi considerada como a mais corre-
ciaremos empiricamente oxacilina e ceftriaxona até
ta, apesar da ressalva mencionada.
resultado de gram e/ou culturas. O alopurinol será
Alternativa C: INCORRETA. Falta dados para fecharmos mantido, mas não é conduta específica de artrite
diagnóstico de gota. Apesar dos surtos que paciente séptica, mas da doença prévia que é a gota.
refere lembrarem artrites microcristalinas, é estra-
Alternativa B: INCORRETA. Nós faremos essa orien-
nho o envolvimento de pequenas articulações das
tação, mas não é o mais importante.
mãos e a ausência de podagra, mas é uma hipótese
considerada para a doença reumatológica de base. Alternativa C: CORRETA. Paciente está com febre e
monoartrite, precisamos suspeitar de artrite séptica.
Alternativa D: INCORRETA. Osteoartrite poderia ser um
diferencial, visto a idade do paciente e a ausência Alternativa D: INCORRETA. No primeiro momento, ini-
de rigidez matinal, caráter intermitente e história ciaremos analgesia e antibioticoterapia. O uso de
arrastada. Mas não temos dados que sugiram for- medicações anti-inflamatórias não é urgente aqui.
temente uma doença reumatológica específica, e a ✔ resposta: C
129
Artrite séptica Reumatologia
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ainda um aumento do volume articular dificilmente
verificado no quadril por tratar-se de articulação mais dificuldade:
Questão 5
profunda. A criança apresenta febre alta e queda
do estado geral com perda de apetite; acaba ado- Y Dica do professor: Paciente jovem com processo
tando posição antálgica e evitando movimentar o álgico em membro inferior esquerdo com febre.
membro acometido. No quadril a posição antálgica Apresenta, ao exame físico, joelho esquerdo com
é de flexão, abdução e rotação externa. Nessa situa- calor, edema e limitação da amplitude de movi-
ção, o hemograma costuma apresentar leucocitose mento; assim temos a suspeita de artrite séptica.
com desvio à esquerda e aumento de PCR e VHS Após coleta de hemoculturas e de cultura do líqui-
(provas de atividade inflamatória). A cintilografia do sinovial (e de outros sítios, se houver), deve-se
é pouco utilizada e pode mostrar um aumento da iniciar antibioticoterapia parenteral de acordo com
captação periarticular. suspeita e achados clínicos Em geral, o tratamento
Alternativa B: INCORRETA. A artrite idiopática juvenil é deve ser realizado com o oxacilina + ceftriaxona. No
a doença reumática crônica mais comum da infân- caso, o autor da questão queria que o candidato se
cia. Apresenta classificação bem ampla podendo se lembrasse de artrite pelo gonococo, por se tratar
apresentar na forma de artrite sistêmica, oligoartri- de jovem sexualmente ativo. Portanto, ceftriaxona
te, poliartrite, artrite psoriática, artrite relacionada seria o tratamento pensando em artrite gonocócica.
à entesite ou à artrite indiferenciada. Na artrite sis- ✔ resposta: D
têmica, o paciente apresenta 1 ou mais articulação
acometida associado à febre e a pelo menos mais
um critério (rash, linfonodomegalia, hepatomega- Questão 6 dificuldade:
lia e/ou esplenomegalia, serosite). Para visualizar Y Dica do professor: Quadro de monoartrite aguda
alterações precoces, a ressonância magnética é com infiltrado inflamatório extenso, mostrando
mais sensível que a radiografia.
130
Artrite séptica Cap. 5
extenso componente neutrofílico, devemos pensar Assertiva III: INCORRETA. A literatura não utiliza cri-
em artrite infecciosa. Nesse caso, as 2 principais térios bioquímicos para realizar o diagnóstico de
etiologias seriam a n.gonorrhae e s. aureus. Dados artrite séptica bacteriana.
que falam a favor de gonococo são a epidemiologia ✔ resposta: A
(jovem) e o fato de não encontrarmos bactéria pelo ✔
gram do líquido sinovial. Por outro lado, a artrite
estafilocócica é de longe muito mais comum, e o Questão 8 dificuldade:
paciente em questão não apresentou dermatite ou
Y Dica do professor: Dentre as opções citadas, a
tenossinovite prévia. Portanto, tanto a letra C quanto
que mais se adequa à descrição do caso é a Artrite
D poderiam estar corretas. O autor da questão, no
Séptica (AS). Essa entidade clínica é definida como
entanto, considerou a letra D como correta.
qualquer artrite de origem infecciosa. Geralmente,
Alternativa A: INCORRETA. Cristais de pirofosfato es- trata-se de uma infecção monomicrobiana, e o S.
tão relacionados ao quadro de pseudogota que é aureus é a principal causa em adultos. Os pacientes
típico de mulheres de meia idade (50 anos), além com artrite séptica costumam apresentar sintomas
disso seria possível ver cristais romboides com monoarticulares, que incluem dor, edema, calor e
forte refingência positiva. restrição de movimentos na maior parte dos casos.
Alternativa B: INCORRETA. Cristais de urato seria um A febre quase sempre está presente, mas pode não
quadro de artrite gotosa, a epidemiologia seria de ocorrer especialmente em idosos, e as principais
uma pessoa mais velha do sexo masculino e não articulações envolvidas são: joelho, punho, torno-
teríamos esse infiltrado neutrofílico intenso. zelo e quadril. O diagnóstico deve ser suspeitado
Alternativa C: INCORRETA. Vide dica do professor. em qualquer quadro de monoartrite aguda e é con-
Alternativa D: CORRETA. Vide dica do professor. firmado pela análise e cultura do líquido sinovial. O
diagnóstico definitivo requer evidência do patógeno
✔ resposta: D em cultura, mas pode-se estabelecer o diagnóstico
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presuntivo com certa segurança quando a análise
Questão 7 dificuldade: do líquido sinovial revela contagem de leucócitos
entre 50.000 e 150.000 células e predomínio de
Y Dica do professor: Paciente com quadro caracte- neutrófilos, mesmo com cultura negativa.
rístico de monoartrite aguda, já que a questão nos
✔ resposta: D
informa que a dor é apenas no joelho esquerdo.
Contudo, a paciente não se apresenta apenas com
sinais da monoartrite, mas também com sinais de Questão 9 dificuldade:
choque séptico (hipotensa, confusa, taquicárdica e
hipocorada), o que nos permite fechar o diagnósti- Y Dica do professor: Paciente jovem, sem lesão de
co de artrite séptica. Vamos analisar as assertivas. continuidade na pele, sem história de uso de drogas
injetáveis, sem comorbidades ou imunossupressão,
Assertiva I: CORRETA. Mesmo não sendo um crité-
deve nos fazer pensar em duas primeiras hipóteses,
rio diagnóstico suficiente, a presença de mais de
B ou D. A artrite gonocócica geralmente se apresenta
50.000 PMN/mm³ corrobora com nossa suspeita
de forma aguda em indivíduos sexualmente ativos,
diagnóstica.
com febre, calafrios, lesões cutâneas, poliartralgias
Assertiva II: CORRETA. Por ser uma emergência, já e tenossinovite, evoluindo para uma monoartrite ou
que se não tratada de imediato pode gerar piora no oligoartrite persistente. O diagnóstico de infecção
quadro da paciente e sequelas em sua articulação, gonocócica disseminada é feito pela identificação
o médico precisa iniciar o tratamento empírico com de Neisseria gonorrhoeae por meio de teste mole-
antibiótico o mais precoce possível, juntamente com cular ou cultura de uma amostra de sangue, líqui-
a drenagem da secreção e a lavagem da cavidade do ou tecido sinovial, lesão cutânea ou outro local
articular, até que a paciente comece a apresentar não mucoso. É considerada uma causa comum de
melhor do quadro clínico.
131
Artrite séptica Reumatologia
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nalmente definida como uma artrite que surge após Alternativa D: INCORRETO. A vancomicina é um anti-
uma infecção, embora os patógenos não possam biótico glicopeptídeo com ação adequada em bac-
ser cultivados a partir das articulações afetadas. térias gram-positivas suscetíveis, não sendo usado,
Geralmente é considerada uma forma de espondi- portanto, na infecção gonocócica.
loartrite (SpA). Duas características clínicas princi- ✔ resposta: A
pais da artrite reativa foram identificadas: intervalo
que varia de vários dias a semanas entre a infecção
anterior e a artrite; e um padrão tipicamente mono
ou oligoarticular da artrite, geralmente envolvendo
as extremidades inferiores e, às vezes, associado
à dactilite e à entesite.
✔ resposta: B
Questão 10 dificuldade:
132
Capítulo
LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO
6
importância/prevalência
u O LES possui forte associação estrogênica, sendo mais comum em mulheres jovens.
u A deficiência de componentes da via clássica do complemento, como C1q (principal) e C4, confere alta
chance de desenvolver a doença.
u O fator ambiental mais importante é o estímulo da luz ultravioleta.
u O lúpus eritematoso cutâneo subagudo é fotossensível e tem associação com anti-Ro.
u O lúpus eritematoso cutâneo crônico tem como seu principal representante o lúpus discoide. Evolui para
cicatriz e atrofia.
u O acometimento articular do LES é não erosivo e suas deformidades são reversíveis e associadas à frou-
xidão ligamentar, conhecida como Artropatia de Jaccoud.
u O achado hematológico mais comum é a anemia de doença crônica.
u A manifestação cardíaca mais comum é a pericardite, e a pulmonar é a pleurite.
u Das alterações vasculares, o Fenômeno de Raynaud é o mais comum.
u Os medicamentos mais associados ao lúpus fármaco-induzido, são: hidralazina, procainamida, minocicli-
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nas, quinidinas, isoniazida, metildopa, clorpromazina e anti-TNF.
u O autoanticorpo mais característico do LES e que se relaciona com atividade sistêmica e nefrite lúpica é
o anti-dsDNA.
u O autoanticorpo mais específico é o anti-Sm.
u A gestação em pacientes lúpicas é sempre considerada de alto risco e está associada à maior incidência
de prematuridade, ao retardo de crescimento intrauterino, à hipertensão e a diabetes gestacional.
u A hidroxicloroquina pode e deve ser usada na gestação.
133
Lúpus eritematoso sistêmico Reumatologia
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3. FISIOPATOLOGIA O fator ambiental mais importante é o estímulo da
Luz Ultravioleta (UV), responsável pela indução do
apoptose de queratinócitos e, consequentemente,
ativação macrofágica e amplificação da resposta
BASES DA MEDICINA imune. Portanto, a exposição solar configura impor-
tante fator tanto de trigger quanto de piora do quadro
O sistema complemento é composto por várias proteí- clínico.
nas plasmáticas que trabalham juntas na opsonização
de micro-organismos; promoção do recrutamento de O tabagismo também é um fator de risco modificável,
fagócitos para o sítio de infecção, clearence de imuno- assim como o pó de sílica. Algumas drogas estão
complexos e lise de patógenos através da formação do associadas ao lúpus fármaco-induzido, como a
MAC (complexo de ataque à membrana). hidralazina e a procainamida. Também parece haver
Os anticorpos ativam o sistema complemento, através da associação com a gênese da doença, o estímulo
formação de imunocomplexos (via clássica), com conse- imune de infecções, principalmente virais, como Eps-
quente ativação de C1q, C4 e C3. Um imunocomplexo é tein Barr (EBV), parvovírus, citomegalovírus (CMV).
resultado da ligação do antígeno com anticorpo.
134
Lúpus eritematoso sistêmico Cap. 6
indivíduos não toleram seus próprios antígenos e Os imunocomplexos ativam o sistema imune inato
desencadeiam uma resposta imunológica. via Toll like (TLR 9 ou TLR 7). Assim, as células
dendríticas são ativadas e produzem IL-1 e TNF-α
Os linfócitos B estão persistentemente ativados,
(responsáveis pela inflamação). Também ocorre
consequentemente produzindo autoanticorpos, e
aumento da expressão de IFN alfa pelos linfócitos
induzidos no processo de maturação pelo BAFF,
T. O consumo do sistema complemento leva à redu-
conhecido como estimulador de linfócito B (BlyS).
ção do clearence dos imunocomplexos circulantes
Esse aumento da sobrevida do linfócito B não é
e dos restos apoptóticos dos macrófagos.
regulado adequadamente pelo linfócito T regulador.
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Antígenos próprios são reconhecidos pelas células apresentadoras (APCs) que se ligam a linfócitos T CD4, os quais, posteriormente, ativam
linfócitos B em plasmócitos. Os linfócitos B têm sua sobrevida prolongada pelo BlyS/BAFF. Os plasmócitos produzem autoanticorpos que
formam imunocomplexos ao se ligarem a antígenos. A inflamação mediada por imunocomplexos e sistema complemento resulta em dano
tecidual, o qual libera mais antígeno, realimentando o ciclo.
Fonte: Acervo Sanar.
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Lúpus eritematoso sistêmico Reumatologia
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a região malar e a poupa o sulco nasolabial, tem
lúpica se situar abaixo de uma lesão discoide recebe
aspecto edematoso ou maculopapular, não deixa
o nome de lúpus profundo.
cicatriz e pode ser induzido pela exposição solar.
Vale lembrar que as lesões cutâneas no LES são
exacerbadas ou desencadeadas pela exposição Figura 4. Lúpus cutâneo discoide.
solar, a qual, por sua vez, também está associada
a trigger de atividade sistêmica.
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Lúpus eritematoso sistêmico Cap. 6
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Fonte: Donato Alves et al.4
Deve-se estar atento à probabilidade de osteone- anemia de doença crônica (50% dos pacientes). A
crose (fêmur mais comum) decorrente de evento leucopenia e a linfopenia também são comuns e
adverso do corticoide ou à presença de antifosfo- estão associadas à atividade de doença ou ao efeito
lípides. Artrite séptica também deve ser lembrada, colateral de imunossupressores. Ressalta-se que a
especialmente quando monoartrite. Miopatia pode anemia hemolítica, contemplada pelo critério classi-
estar presente como forma de atividade de doença, ficatório, está presente em apenas 10% dos casos.
mas também ser decorrente de evento adverso de Trombocitopenia precede as outras manifestações
tratamento (corticoides e antimaláricos). em anos, está presente em 1/3 dos pacientes e pode
ser decorrente de atividade lúpica ou secundária à
4.4. MANIFESTAÇÕES HEMATOLÓGICAS síndrome antifosfolípide. Em alguns pacientes com
diagnóstico de LES, ocorre a Síndrome de Evans,
que consiste em anemia hemolítica associada à
Qualquer uma das linhagens pode estar acometida
plaquetopenia.
no LES. O achado hematológico mais comum é
137
Lúpus eritematoso sistêmico Reumatologia
Na presença de pancitopenia, deve-se estar atento à Figura 6. Células LE: específicas para LES, porém
possibilidade de uma temível complicação associada caíram em desuso por sua dificuldade técnica.
Fagocitose por granulócitos de núcleos celulares.
à atividade de LES, a síndrome hemofagocítica.
A síndrome de ativação macrofágica ou hemofago-
cítica se caracteriza por febre, pancitopenia, esple-
nomegalia, hipertrigliceridemia e hiperferritinemia.
A biópsia de medula óssea mostra hemofagocitose.
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cianose e eritema.
Na prática, dificilmente nos deparamos com uma sero-
4.6. MANIFESTAÇÕES PULMONARES site associada oa derrame pleural de grande monta e à
necessidade de toracocentese. É muito mais comum a
presença de derrames laminares pequenos.
O acometimento pulmonar mais comum é a pleurite.
Derrame pleural também é comum, possui carac-
terística de exsudato, glicose elevada e podem ser 4.7. MANIFESTAÇÕES GASTROINTESTINAIS
detectadas células LE no líquido pleural. A pneumo-
nite lúpica é rara e se manifesta com febre, tosse
As queixas gastrointestinais mais comuns, como
e infiltrados pulmonares. Uma complicação rara,
dor abdominal e dispepsia, são inespecíficas, sendo
porém extremamente grave, é a hemorragia alveolar,
relacionadas a evento adverso medicamentoso,
e deve ser suspeitada na presença de dispneia ou
monilíase, úlcera péptica, esofagite e outras cau-
de insuficiência respiratória associada à queda de
sas não associadas à atividade lúpica. Em caso de
hemoglobina e infiltrados pulmonares. Hipertensão
peritonite, deve-se descartar a presença de peri-
arterial pulmonar também ocorre, mas é incomum.
tonite infecciosa e vasculite mesentérica; a última
extremamente grave, com consequente infarto de
alças intestinais.
Pancreatite, hepatite, vasculite mesentérica, peri-
tonite estéril e enteropatia perdedora de proteínas,
são manifestações associadas ao LES.
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Lúpus eritematoso sistêmico Cap. 6
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pacientes evoluem para insuficiência renal dialítica, Vale ressaltar que os depósitos imunes vistos à
habitualmente melhoram as demais manifestações imunofluorescência apresentam padrão granular,
do LES. A recidiva renal em pacientes transplanta- diferentemente da glomerulonefrite das vasculites
dos é extremamente rara, girando em torno de 3%. ANCA (imunofluorescência negativa) e Goodpasture
Negros e hispânicos tendem a ter doença renal mais (padrão linear).
grave do que brancos. Os glomérulos são o principal
Tabela 1. Classificação da nefrite lúpica, segundo a International Society of Nephrology/Renal Pathology Society, 2003.
Depósitos imunes/
Classe Descrição Microscopia óptica
Imunofluorescência
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Lúpus eritematoso sistêmico Reumatologia
A - Aparência normal do glomérulo sem alteração; B - Imunofluorescência com deposição IgG mesangial.
Fonte: Kiremitci et al.6
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A - Proliferação mesangial; B - Forte e difusa deposição mesangial à imunofluorescência.
Fonte: Kiremitci et al.6
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Lúpus eritematoso sistêmico Cap. 6
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A - Espessamento da parede capilar global; B - Depósitos subepiteliais contínuos de IgG.
Fonte: Kiremitci et al.6
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Lúpus eritematoso sistêmico Reumatologia
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neração macular pelo uso de antimaláricos, podem
ocorrer.
O diagnóstico é muitas vezes desafiador, pela falta
de exames complementares que sejam específicos.
No geral, exame físico, análise liquórica, eletroence-
falograma e ressonância magnética auxiliam, porém, 5. LÚPUS INDUZIDO POR DROGAS
falta especificidade. A psicose e a depressão têm
relação com anti-P.
BASES DA MEDICINA
Quadro 1. Síndromes neuropsiquiátricas
relacionadas ao LES.
O lúpus induzido por drogas é o exemplo clássico de
Síndromes neuropsiquiátricas relacionadas ao LES que o lúpus se manifesta em indivíduos geneticamente
predispostos que são expostos a fatores ambientais
Sistema nervoso (fármacos). Mais de 100 drogas foram associadas ao LID.
Sistema nervoso central
periférico
142
Lúpus eritematoso sistêmico Cap. 6
No LID, temos características epidemiológicas e é temporária e está presente em 95% a 100% dos
clínicas distintas do LES. A incidência do LID é igual casos fármaco-induzidos.
em homens e mulheres. As manifestações são leves
e autolimitadas, com envolvimento cutâneo, muscu-
loesquelético, febre e serosite. Não são esperadas DICA
O anti-histona pode estar presente
manifestações graves, como renal e neurológica. no LES e no LID.
A presença do autoanticorpo anti-histona também
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Lúpus eritematoso sistêmico Reumatologia
6. DIAGNÓSTICO
O diagnóstico é baseado na combinação do quadro clínico com exames laboratoriais. Novos critérios
entraram em vigor em 2019 (atenção!).
Critério de inclusão
Anticorpos antinucleares com título ≥1:80 em células HEP-2 ou um teste equivalente positivo (sempre)
Presente
Dentro de cada domínio, apenas o critério de maior ponderação é contado para a pontuação final
Constitucional Musculoesquelético
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Hematológico Renal
Pericardite aguda 6
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Lúpus eritematoso sistêmico Cap. 6
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SS-B, e caracteriza-se por fenômenos autoimunes
reversíveis, como citopenias e lesões cutâneas, e
BASES DA MEDICINA
irreversíveis, como o bloqueio cardíaco.
7.1. FAN
145
Lúpus eritematoso sistêmico Reumatologia
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Sjögren, lúpus
Anti-Ro (SS-A) 20-60 neonatal e lúpus uma vez que ela é, na maioria das vezes, assintomá-
cutâneo subagudo tica, salvo casos avançados em que já há uremia e
Anti-Sm 10-30 Diagnóstico de LES insuficiência renal.
Diagnóstico de
Anti-RNP 10-30 Doença Mista do 7.5. LES E GESTAÇÃO
Tecido Conjuntivo
Fonte: Modificado de Carvalho et al.7
BASES DA MEDICINA
7.3. COMPLEMENTO
Na gestação fisiológica, ocorre aumento materno do
volume sanguíneo circulante e na taxa de filtração glo-
A via clássica do complemento é exaustivamente
merular.Tais alterações facilitam o aparecimento de nefrite
ativada no LES pela presença de anticorpos. Sendo lúpica em mulheres com lúpus ativo, pela tendência
assim, ocorre consumo de C3 e C4. O monitora- aumentada para depósito glomerular de imunocomplexos
mento dos níveis de complemento é importante circulantes.
no diagnóstico, no seguimento dos pacientes e
na avaliação de atividade. Não se esqueça de que A gravidez aumenta a probabilidade de um surto
indivíduos que possuem deficiência intrínseca de de atividade de LES, sendo que, historicamente,
complemento, especialmente de C1q e C4, são mais há apenas 30 anos, mulheres lúpicas, mesmo em
propensos a desenvolver LES. remissão e sem uso de drogas teratogênicas, eram
desaconselhadas a engravidar por medo de conse-
quências irreversíveis para a mãe.
146
Lúpus eritematoso sistêmico Cap. 6
A gestação em pacientes lúpicas é sempre consi- de fator de trigger e de piora de doença. Orienta-se
derada de alto risco e está associada à maior inci- o uso de chapéus, roupas de manga comprida e
dência de prematuridade, ao retardo de crescimento protetor solar mais de 1 vez ao dia.
intrauterino, à hipertensão e à diabetes gestacional. Pacientes portadores de LES geralmente fazem uso
Também devemos lembrar da associação de LES prolongado de corticoides, e deve-se estar atento
com síndrome antifosfolípide, agregando morbidade à saúde óssea e ao risco de osteoporose induzida
gestacional. A presença do anti-dsDNA e/ou eleva- pelos glicocorticoides em pacientes usuários de
ção dos seus títulos e consumo do complemento doses ≥ 5 mg de prednisona por mais de 3 meses.
podem auxiliar na diferenciação entre atividade de Sendo assim, é aconselhável uma dieta rica em
doença e pré-eclâmpsia. A pesquisa dos anticor- cálcio (1.000 mg/dia) e manutenção ou reposição
pos antifosfolípides, anti-SSA/Ro e anti-La/SS-B dos níveis de vitamina D.
é importante devido à possibilidade da ocorrência Devemos estimular a realização de atividade física
da síndrome antifosfolípide e do lúpus neonatal, tanto aeróbica quanto anaeróbica em pacientes com
respectivamente. doença controlada, tanto pelo risco de miopatia
Dos imunossupressores, os únicos liberados para induzida pelos glicocorticoides como pelo aumento
uso são azatioprina, ciclosporina e tacrolimus. A de risco cardiovascular, uma vez que se trata de
hidroxicloroquina pode e deve ser usada na gesta- doença inflamatória sistêmica. Neste sentido, tam-
ção, principalmente em paciente anti-Ro positivo, bém é desencorajado o tabagismo, estimulando-se
a perda de peso e uma dieta pobre em carboidratos
pelo risco de lúpus neonatal.
e lipídios. Já pacientes com nefrite, devem realizar
dieta hipossódica.
DIA A DIA MÉDICO A anticoncepção e o planejamento familiar costu-
mam ser abordados rotineiramente por se tratar de
Um dos desafios de cuidar de pacientes grávidas com LES uma doença que acomete principalmente mulheres
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é diferenciar a pré-eclâmpsia da nefrite lúpica. Ambos se em idade fértil, e o tratamento, por sua vez, envolve
apresentam com proteinúria, hipertensão e edema de medicações com potencial de teratogenicidade. No
membros inferiores e o tratamento dessas 2 condições caso de doença ativa e uso de DMARDs teratogê-
é diferente: na pré-eclâmpsia, será o parto do feto, mas nicos, a gestação é evitada. Métodos de barreira
no LES ativo, será a imunossupressão. ou DIU de cobre são considerados os métodos
mais seguros e podem ser usados em todas as
pacientes. O uso de anticoncepcional combinado
(progesterona + estrógeno) não deve ser usado em
8. TRATAMENTO paciente com anticorpos antifosfolípides positivos
pelo risco de trombose, mas mostrou segurança no
LES leve e estável e sem positividade de antifosfo-
lípides. Métodos à base de progestágeno isolado
BASES DA MEDICINA podem ser usados independentemente do perfil de
antifosfolípides.
A supressão do sistema imune é a base de tratamento
Atenção! Se a questão da prova for de ginecologia,
no LES e tal medida pode acarretar sérios eventos adver-
siga os critérios de elegibilidade da OMS: em pacien-
sos. Como a doença apresenta cursos de exacerbação
da resposta imune intercalados por remissão, vamos tes com antifosfolípides positivos ou desconhecidos,
imunossuprimir quando necessário e proporcionalmente. não é recomendado fazer uso de nenhum método
hormonal, nem mesmo progestágeno isolado. Neste
caso, o ideal seria DIU de cobre.
8.1. MEDIDAS NÃO MEDICAMENTOSAS
Vacinas à base de vírus morto, como influenza e
pneumocócica, estão liberadas, mas vacinas à
Das medidas não medicamentosas, a mais impor-
base de vírus vivo, como sarampo e febre ama-
tante é evitar a exposição a raios UV, por se tratar
rela, possuem restrições, e sua indicação deve ser
147
Lúpus eritematoso sistêmico Reumatologia
individualizada levando em conta risco-benefício; biológicos liberados para uso no LES, são: beli-
portanto, o reumatologista deve ser consultado. mumabe (anti-BlyS) e rituximabe (anti-CD-20).
Ambos possuem indicação em casos refratários.
8.2. MEDICAMENTOSO u Suplementação de cálcio e vitamina D: ingestão
de 1000 mg de cálcio por dia e 800 a 1.000 UI/dia
A escolha do esquema terapêutico é individualizada de vitamina D, em pacientes usando corticoide
e leva em consideração o sistema/órgão acometido cronicamente.
e a gravidade. u Estatinas: aconselhada a prescrição se LDL ≥ 100.
u Glicocorticoides: são prescritos para todos os u AAS: prescrito em casos de antifosfolípides po-
pacientes com doença ativa, pois são as únicas sitivos (ausência de manifestação clínica trom-
drogas capazes de controlar a atividade lúpica bótica). Dose de 100 mg ao dia.
quase instantaneamente. Sempre com a inten- u IECA e/ou BRA: recomendados como antipro-
ção de usar a mínima dose possível pelo menor teinúricos, adjuvantes no tratamento da nefrite
tempo possível. A escolha da dose dependerá lúpica. Meta PA< 130 x 80 mmhg.
do tipo de acometimento e da gravidade apre-
sentada pelos pacientes. Em casos leves (por
8.3. TREINAMENTO DE PRESCRIÇÃO
exemplo, de quadro articular), é recomendável o
uso de baixas doses (5 a 20 mg prednisona/dia).
Casos moderados 0,5 mg/kg/dia e casos graves Vamos a alguns exemplos de prescrição de pacien-
(nefrite proliferativa, sistema nervoso central) tes lúpicos. Note que o tratamento varia de um
merecem pulsoterapia com metilprednisolona 1 g paciente para outro e que a regra é sempre focar a
ao dia por 3 dias, seguida de prednisona 1 mg/ manifestação mais grave.
kg/dia. No caso de prescrição de pulsoterapia,
u Paciente de 21 anos, portadora de LES cutaneoar-
orienta-se antes a profilaxia de estrongiloidíase
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ticular e glomerulonefrite rapidamente progressiva.
disseminada, com ivermectina 12 mg dose única.
W Protocolo na nefrite lúpica (classes III, IV e V):
u Hidroxicloroquina: indicada para todos os pa-
pulsoterapia com metilprednisolona 1 g/dia por
cientes. Possui inúmeros benefícios, dentre eles:
3 dias (lembrar da ivermectina), depois deixar
poupa corticoide, reduz risco de trombose, reduz
prednisona 1 mg/kg/dia e escolheremos o nos-
flare da doença e melhora perfil lipídico. Não é
so imunossupressor para a terapia de indução.
considerada um imunossupressor, e sim um imu-
No caso da nefrite, podemos realizar pulsote-
nomodulador. A dose utilizada é de 5 mg/kg/dia.
rapia com ciclofosfamida mensalmente por
Deve-se realizar acompanhamento oftalmológico
6 meses ou micofenolato de mofetil em dose
regular para rastreio de maculopatia, seu princi-
máxima. Após 6 meses de indução, iniciamos
pal efeito adverso.
a fase de manutenção: trocar para azatioprina
u DMARDs: são imunossupressores usados como ou diminuir a dose do mofetil.
poupadores de corticoide. A escolha do imunos-
W Hidroxicloroquina.
supressor depende do sistema/órgão acometido
e a gravidade. O mais potente é a ciclofosfamida, W Lembrar de orientar risco gestacional e pres-
um agente alquilante, usado nas manifestações crever anticoncepção com progestágeno iso-
mais graves (renal, sistema nervoso central) lado/DIU de cobre/método de barreira.
como terapia de indução. Seus principais efeitos W Orientar ingestão de cálcio 1.000 mg ao dia,
colaterais são citopenias, infertilidade e cistite suplementar vitamina D 800-1.000 UI/dia.
hemorrágica, a última podendo ser evitada com W Após melhora da função renal, iniciar IECA ou
mesna. Outros imunossupressores muito usados, BRA como antiproteinúrico.
são: metotrexate (articular, cutânea), azatioprina W Controlar dislipidemia com estatina.
(renal, cutânea, sistema nervoso), micofenolato
de mofetil (cutânea, renal, sistema nervoso). Os
W AAS 100 mg se antifosfolípide positivo.
148
Lúpus eritematoso sistêmico Cap. 6
Indução
(6 meses)
Pulsoterapia Pulsoterapia
Ciclofosfamida
Metilprednisolona EV - 500 a 1 g/m² por mês
EV - 1 grama ao dia por 3 dias
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Após: prednisona
VO - 0,5 a 1 mg/kg/dia Ou
Micofenolato mofetil 3 g/dia
Manutenção
(3 a 5 anos)
Azatioprina
2 a 3 mg/kg/dia
Micofenolato
mofetil
2 g/dia
Prednisona desmame progressivo
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Lúpus eritematoso sistêmico Reumatologia
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A prescrição de um paciente acompanhado por LES nos
traz detalhes importantes da história da doença e que são
muitas vezes difíceis de extrair pelo relato do indivíduo.
Logo, de acordo com o que ele usa, nós conseguimos
entender quais as manifestações apresentadas e em
qual momento (remissão ou atividade) o paciente lúpico
se encontra.
150
Lúpus eritematoso sistêmico Cap. 6
Hidroxicloroquina
Imunossupressores
LÚPUS
Nefrite lúpica ERITEMATOSO
e atividade Anti-ds-DNA SISTÊMICO
sistêmica
Psicose Anti-P
Lúpus
cutâneo
subagudo
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cardíaco
congênito
Anti-Ro
Mulher idade fértil
Lúpus
neonatal
Exposição UV
Síndrome
de Sjögren
Deficiência de
complemento
Mais Anti-SM
específico
Lesões
Serosites
fotossensíveis
Glomerulonefrite
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Lúpus eritematoso sistêmico Reumatologia
REFERÊNCIAS
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7. Carvalho MAP, Bértolo MB, Lanna CCD, Ferreira GA.
Reumatologia Diagnóstico e Tratamento. 5. ed. Rio de
Janeiro: Guanabara; 2019.
8. Wong NY, Parsons LM, Trotter MJ, Tsang RY. Drug-induced
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with docetaxel chemotherapy: a case report. BMC Res
Notes. [Internet]. 2014 [acesso em 02 set. 2022]; 7:785.
Disponível em: https://openi.nlm.nih.gov/detailedresul-
t?img=PMC4232622_13104_2014_3301_Fig1_HTML&-
query=drug%20lupus&it=xg&lic=by&req=4&npos=1
9. Aringer M, Costenbader K, Daikh D, Brinks R, Mosca M,
Ramsey-Goldman R, et al. 2019 European League Against
Rheumatism/American College of Rheumatology Clas-
sification Criteria for Systemic Lupus Erythematosus.
Arthritis Rheumatol. September. 2019; 71(9): 1400-12.
10. Savino F, Viola S, Tarasco V, Locatelli E, Ricagni A, Coppo
P. Neonatal lupus erythematosus: a cutaneous cases
based update. Ital J Pediatr [Internet]. 2016 [acesso em
02 set. 2022]; 42:1. Disponível em: https://openi.nlm.nih.
gov/detailedresult?img=PMC4705598_13052_2015_208_
Fig1_HTML&query=lupus%20neonatal&it=xg&lic=by&re-
q=4&npos=4
152
Lúpus eritematoso sistêmico Cap. 6
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1 Questão 4
(AUTARQUIA MUNICIPAL DE SAÚDE DE APUCARANA – 2022) Uma (AUTARQUIA MUNICIPAL DE SAÚDE DO MUNICÍPIO DE LONDRI-
das mais importantes causas de morbimortalidade NA – PR – 2021) Sobre o Lúpus Eritematoso Sistêmico,
em pacientes portadores de lúpus eritematoso sis- seu quadro clínico, exames complementares e seus
têmico é o acometimento glomerular através das novos critérios diagnósticos (ACR/EULAR 2019) é
diversas formas de manifestação da nefrite lúpica. CORRETO afirmar:
A forma mais comum e considerada a mais grave
de nefrite lúpica é: ⮦ Seu quadro clínico segue um padrão de evolu-
ção progressiva: doença inicia leve, passa para
⮦ Nefrite Lúpica Focal. intermitente até chegar na última fase e mais
⮧ Nefrite Lúpica Difusa. severa da doença. Pode ser fatal.
⮨ Nefrite Lúpica Membranosa. ⮧ FAN maior ou igual a 1/80 é critério de entrada e
os principais anticorpos específicos para lúpus
⮩ Nefrite Lúpica Proliferativa Mesangial.
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podem estar presentes (Anti-DNA ou Anti-Smith).
⮨ Pericardite não é considerada como uma mani-
Questão 2 festação cardiovascular da doença.
(HOSPITAL DAS CLÍNICAS DE GOIÁS – GO – 2022) Qual exame ⮩ Fenômeno de Raynaud é uma doença específica,
a seguir é o mais específico para diagnóstico de não podendo estar presente no LES.
lúpus eritematoso sistêmico? ⮪ Sem os anticorpos anti-fosfolipides não existe a
possibilidade desenvolvimento de nefrite lúpica.
⮦ Anti-Sm.
⮧ Anti-La.
Questão 5
⮨ FAN.
⮩ Anti-RNP. (CENTRO UNIVERSITÁRIO DO ESPÍRITO SANTO – ES – 2021) Uma
paciente de 24 anos, com diagnóstico de lúpus
eritematoso sistêmico, foi atendida com quadro
Questão 3 de hipertensão arterial, edema periférico e palidez
(AUTARQUIA MUNICIPAL DE SAÚDE DE APUCARANA – 2021) Em cutânea. Seus exames mostraram: HT 24%, Hb
relação ao lúpus eritematoso neonatal, assinale a 8,0g%, leucócitos 3200/mm3, plaquetas 78.000/
alternativa que apresenta corretamente os anticor- mm3, ureia 75mg%, creatinina 2,0mg%, albumina
pos capazes de atravessar a barreira placentária: 2,3g%, colesterol total 265mg%, sedimento urinário
com PTN 3+ e 10 hemácias/campo e proteinúria de
⮦ Anti-Ro-ssA, anti-La-ssB. 4,5g/24h. Realizou uma biópsia renal que mostrou
⮧ Anti-scl70, anti-centrômero. proliferação celular mesangial, nas alças capilares,
difusamente, com importante infiltrado tubuloin-
⮨ Anti-Sm, anti-La-ssB.
tersticial e presença de crescentes celulares em
⮩ Anti-Jo1, anti-RNP.
153
Lúpus eritematoso sistêmico Reumatologia
mais de 50% dos glomérulos. Em relação ao caso, exame clínico, pressão arterial em posição supina
é correto afirmar que: = 126 x 84 mmHg, e em pé = 102 x 72 mmHg. Ao fi-
nal da consulta, revela que perdeu a receita de uma
⮦ Anticorpos anticitoplasma de neutrófilos comu- das medicações prescritas e não está fazendo uso
mente vêm positivos nestes casos. desta há uma semana, mas não se lembra qual o
⮧ Pulsoterapia com corticoide, quando associado nome do remédio. Qual das medicações explicam
com hidroxicloroquina, leva a remissão da nefrite os achados clínicos na presente consulta?
na maioria dos casos.
⮦ Azatioprina.
⮨ Uma microscopia de imunofluorescência mos-
trará deposição de IgG linear nas alças capilares. ⮧ Hidroxicloroquina.
⮩ Pulsoterapia com corticoide, quando associado a ⮨ Prednisona.
ciclofosfamida ou micofenolato mofetil são boas ⮩ Enalapril.
opções de tratamento para remissão da nefrite.
⮪ A paciente tem padrão histológico típico de ne-
Questão 8
frite lúpica classe V.
(H.U. BETTINA FERRO DE SOUZA/JOÃO BARROS BARRETO – 2021)
Mulher de 30 anos procura atendimento devido a hi-
Questão 6
pótese diagnóstica de lúpus eritematoso sistêmico.
(CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIRG – 2021) Paciente de quin- Relata início de rash malar, alopecia e artrite há 4
ze anos, negra, menarca há três anos, apresenta meses, além de leucopenia detectada no hemogra-
queixa de artralgia em joelho esquerdo. Ao exame: ma. A pesquisa de autoanticorpos foi positiva, com
BEG, hipocorada, hidratada, acianótica, anictérica. título 1:640 e padrão nuclear pontilhado grosso. O
ACV: RCR, 2T, BNF, sem sopro, FC 84 bpm. AR: MV anticorpo que deve ser solicitado é o
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reduzido em base direita. Abdome sem alterações.
⮦ Anti-Sm.
Membros inferiores e superiores: a articulação do
joelho direito apresenta-se edemaciada, hiperemia- ⮧ Anti-Ro.
da com aumento de temperatura e limitação de ⮨ Anti-P.
movimento. Aos exames complementares: Hb 9,2, ⮩ Anti-La.
hemácias normocíticas e normocrômicas; Leucó- ⮪ Anti-Scl-70.
citos 2.500 com linfopenia, coombs direto positivo,
aumento de bilirrubina indireta, C3 e C4 reduzidos.
Rx de tórax com derrame pleural à direita. O diag- Questão 9
nóstico mais provável seria de:
(HOSPITAL DO CÂNCER DE GOIÁS – GO – 2021) O teste de
⮦ Sarcoidose. imunofluorescência indireta empregando o proto-
⮧ Artrite reumatoide. zoário Crithidia luciliae como substrato tem grande
especificidade para o diagnóstico de determinada
⮨ Lupus eritematoso sistêmico.
doença difusa do tecido conjuntivo. Essa doença
⮩ Dermatomiosite. e o anticorpo detectado através deste teste são,
respectivamente:
Questão 7 ⮦ Esclerose sistêmica - anti-Scl-70.
(FACULDADE DE MEDICINA DO ABC – SP – 2021) Mulher de ⮧ Síndrome de Sjögren - anti-Ro.
47 anos de idade, lúpica e hipertensa, com prescri- ⮨ Artrite reumatoide - anti-CCP.
ção ambulatorial de hidroxicloroquina, azatioprina, ⮩ Lúpus eritematoso sistêmico - anti-DNA nativo.
prednisona, enalapril e hidroclorotiazida, retorna ao
ambulatório com queixa de tontura há 5 dias, espe-
cialmente pela manhã ao se levantar da cama. Ao
154
Lúpus eritematoso sistêmico Cap. 6
Questão 10 Questão 11
(HOSPITAL UNIVERSITÁRIO JÚLIO MÜLLER – 2021) S., 13 anos, (INSTITUTO DE ASSISTÊNCIA MÉDICA AO SERVIDOR PÚBLICO
vem ao ambulatório de Pediatria com queixa de dor ESTADUAL – SP – 2021) Uma paciente gestante com
e edema de articulações interfalangeanas proximais vinte semanas apresentou exame anti-Ro positivo
bilaterais, joelhos e punhos há 3 semanas, associa- (repetido e confirmado). Com base nessa situação
do a febre esporádica, emagrecimento e fadiga. Re- hipotética, é correto afirmar que a conduta mais
lata aparecimento de lesões indolores em palato e adequada será
manchas vermelhas em membros inferiores que não
desaparecem à digitopressão. Apresenta também ⮦ [A] Realizar a anticoagulação plena.
eritema em face que piora com a exposição solar. ⮧ Realizar ecocardiograma fetal se a gestante
Ao exame físico, regular estado geral, hipocorada apresentar evidência de atividade de doença
(2+/4+), hidratada, eupneica, afebril. PA 140x100 reumatológica.
mmHg, FC: 120 bpm, FR: 20 irpm. Edema de mem- ⮨ Realizar ecocardiograma fetal imediatamente.
bros inferiores (2+/4+). Aparelho respiratório: Expan- ⮩ Acompanhar clinicamente a gestação, pois o
sibilidade preservada, som claro pulmonar, ausculta risco de bloqueio cardíaco congênito está rela-
pulmonar sem alterações. Aparelho cardiovascular: cionado ao anticorpo antinucleossomo.
Pulsos amplos e simétricos, ritmo cardíaco em 2T,
⮪ Administrar dexametasona imediatamente, pelo
bulhas hipofonéticas, sem sopros. Abdome sem
risco de bloqueio cardíaco congênito.
visceromegalias. Osteoarticular: Artrite de articula-
ções interfalangeanas proximais bilaterais, joelhos
(sinal da tecla positivo) e punhos. Oroscopia: lesão
ulcerada em palato. Quais alterações nos exames
complementares corroboram com a principal hipó-
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tese diagnóstica?
155
Lúpus eritematoso sistêmico Reumatologia
GABARITO E COMENTÁRIOS
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Questão 2 dificuldade:
(>50% dos glomérulos); CLASSE V: Membranosa;
CLASSE VI: Esclerosante avançada. Y Dica do professor: O Lúpus Eritematoso Sistêmico
Alternativa A: INCORRETA. A nefrite lúpica CLASSE (LES) é uma doença autoimune crônica, relacionada
III, ou proliferativa focal, representa 10-20% dos com a produção de vários anticorpos antinucleares.
casos e é caracterizada por alterações proliferati- A apresentação clínica é bastante variável, podendo
vas (hipercelularidade) focais (menos de 50% dos haver desde envolvimento leve das articulações e da
glomérulos). Tem gravidade intermediária entre as pele até envolvimento grave renal, hematológico ou
classes II e IV e pode evoluir com a histologia de do sistema nervoso central. O diagnóstico de LES é
GEFS ou se “transformar” a qualquer momento na baseado em achados clínicos e laboratoriais, após
classe IV. (10-20%). a exclusão de diagnósticos alternativos. Os crité-
Alternativa B: CORRETA. A nefrite lúpica CLASSE IV, rios diagnósticos mais conhecidos são da Systemic
ou proliferativa difusa, representa 40-60% dos ca- Lupus International Collaborating Clinics (SLICC), e
sos, sendo a lesão mais comum e também a mais envolvem critérios clínicos e imunológicos. Entre os
grave. É caracterizada pela presença de alterações clínicos, temos: lúpus cutâneo agudo, lúpus cutâ-
proliferativas globais em mais de 50% dos glomé- neo crônico, alopecia não cicatricial, úlceras orais
rulos. São comuns áreas de necrose fibrinoide e de ou nasais, doença articular, serosite, acometimen-
formação de crescentes. Alguns pacientes evoluem to renal, neurológico, anemia hemolítica, leuco ou
com a síndrome de glomerulonefrite rapidamente linfopenia, trombocitopenia. Os imunológicos são:
progressiva. ANA, anti-dsDNA, anti-Sm, antifosfolipídio, comple-
mento baixo, teste de coombs direto.
Alternativa C: INCORRETA. A nefrite lúpica CLASSE V,
ou membranosa, apresenta aspectos de lesão glo- Um paciente é classificado com LES se preencher
merular indistinguíveis da nefropatia membranosa 4 dos critérios clínicos e imunológicos usados nos
idiopática. Pode acontecer síndrome nefrótica franca critérios de classificação SLICC, incluindo pelo
156
Lúpus eritematoso sistêmico Cap. 6
menos 1 critério clínico e 1 critério imunológico. utilizados na prática) e comparar com os de 2019
Segundo o Wallace et al. (Clinical manifestations para entender o que mudou.
and diagnosis of systemic lupus erythematosus Alternativa A: INCORRETA. O curso clínico do LES
in adults), os anticorpos anti-dsDNA e anti-Sm são não é progressivo, mas oscilatório entre fases de
altamente específicos para o LES, mas os anticorpos remissão e atividade de doença. Geralmente os
anti-Sm carecem de sensibilidade. envolvimentos ocorridos dentro dos primeiros 5
Alternativa A: CORRETA. Dentre as alternativas, o an- anos caracterizam o “fenótipo” do LES no paciente.
ti-SM é o mais específico para LES.
Alternativa B: CORRETA. Segundo os novos critérios
Alternativa B: INCORRETA. O anti-La está mais asso- 2019, o FAN passa a ser obrigatório como critério
ciado à Síndrome de Sjögren. de entrada.
Alternativa C: INCORRETA. O FAN é muito sensível Alternativa C: INCORRETA. A pericardite é considerada
para o diagnóstico de doenças autoimunes, incluin- uma manifestação cardiovascular e é a mais comum.
do o LES. Quando a probabilidade do paciente ter a
Alternativa D:INCORRETA. Fenômeno de Raynaud é
doença é alta, o resultado positivo fala a favor do
uma manifestação e pode ocorrer no LES. Quan-
diagnóstico; no entanto, quando pedido indiscrimi-
do o Raynaud é benigno é chamado de Doença de
nadamente, pode apresentar muitos falso positivos.
Raynaud.
Alternativa D: INCORRETA. Anticorpos anti-U1 RNP
Alternativa E:INCORRETA. Os antifosfolípides não se
estão sempre presentes na doença mista do teci-
relacionam a nefrite, mas ao desenvolvimento de
do conjuntivo.
síndrome antifosfolípide (morbidades gestacional
✔ resposta: A e/ou trombose).
✔ resposta: B
Questão 3 dificuldade:
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Y Dica do professor: O antígeno Ro e o antígeno La Questão 5 dificuldade:
são fosfoproteínas complexadas a fragmentos de Y Dica do professor: Questão clássica de nefrite lúpi-
RNA nuclear. Esses autoanticorpos geralmente apa-
ca. Vale a pena ler os padrões histológicos e corre-
recem em conjunto. O anti-Ro (SS-A) está presente
lação clínico-laboratorial. Também não se esqueça
em 30% dos casos de LES, enquanto o anti-La (SS-B)
das drogas utilizadas para terapia de indução e de
encontra-se em apenas 10%. Os 2 anticorpos rea-
manutenção.
gem à mesma estrutura; porém, cada um ataca um
epítopo diferente. As gestantes lúpicas anti-Ro e/ou Alternativa A:INCORRETA. O anticorpo anticitoplas-
anti-La positivas têm chance aumentada de terem ma de neutrófilos (ANCA) tem associação com as
filhos com bloqueio cardíaco congênito ou lúpus vasculites ANCA.
neonatal, ao transmitirem esses anticorpos para Alternativa B: INCORRETA. Vamos fazer pulsoterapia
o feto através da placenta. Estas pacientes devem com corticoide sim e vamos iniciar hidroxicloroquina.
ser acompanhadas de perto, e a detecção do BAV No entanto, não é a cloroquina que induz a remis-
congênito pode ser feita in útero pela USG (a partir são, precisamos associar a um imunossupressor
da 16ª semana), que evidencia bradicardia fetal. potente (micofenolato mofetil ou ciclofosfamida).
✔ resposta: A Alternativa C: INCORRETA. No LES o depósito é gra-
nular. Linear ocorre da Síndrome de Goodpasture.
Alternativa D:CORRETA. Descreve corretamente a
Questão 4 dificuldade:
fase de indução da nefrite lúpica.
Y Dica do professor: Os novos critérios de LES 2019 Alternativa E: INCORRETA. O padrão histológico é do
consistem em um sistema de pontos, e houve ga- tipo IV (proliferativa difusa) e não membranosa (V).
nho em especificidade. Sempre bom revisar os cri- ✔ resposta: D
térios de 2012 (que acabam sendo mais facilmente
157
Lúpus eritematoso sistêmico Reumatologia
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Questão 7 dificuldade:
em um protozoário chamado Crithidia luciliae. Ocor-
Y Dica do professor: Questão muito inteligente. Te- re que esse protozoário tem uma região chamada
mos uma paciente lúpica e hipertensa que está em cinetoplasto que consiste exclusivamente de DNA
uso de hidroxicloroquina, azatioprina, prednisona, dupla fita. Caso core a região do cinetoplasto, o
enalapril e hidroclorotiazida, e que apresenta qua- anti-DNA é positivo.
dro de tontura, principalmente ao se levantar e hipo-
✔ resposta: D
tensão ortostática, revelando que não está fazendo
uso de uma de suas medicações. A cessação sem
desmame de corticoides pode gerar sinais e sin- Questão 10 dificuldade:
tomas de insuficiência adrenal e, entre eles, temos
a tontura e a hipotensão ortostática, que são apre- Y Dica do professor: Estamos diante de um quadro
sentados pela nossa paciente. Logo é a prednisona clínico sugestivo de Lúpus Eritematoso Sistêmico
que explica os sintomas apresentados. Juvenil. O Lúpus Eritematoso Sistêmico Juvenil
(LESJ) é uma doença autoimune, isto é, o nosso
✔ resposta: C
próprio organismo produz anticorpos contra si
mesmo, e se caracteriza por uma inflamação que
Questão 8 dificuldade: pode atingir todo o corpo. A depender do pacien-
te, há possibilidade de acometimento de alguns
Y Dica do professor: Diversos autoanticorpos estão ou vários órgãos e sistemas do corpo, tais como:
relacionados ao LES - alguns, à sua presença, outros, pele, articulações, rins, sangue, coração, pulmões,
a manifestações específicas da doença. O anti-Sm sistema nervoso, vasos, entre outros. O lúpus pode
é o anticorpo mais específico para a presença de afetar qualquer órgão do corpo. Porém, as manifes-
LES, sendo geralmente pedido com o objetivo de tações clínicas iniciais mais freqüentes do LESJ
confirmar a suspeita da doença. compreendem febre prolongada, falta de apetite,
158
Lúpus eritematoso sistêmico Cap. 6
Questão 11 dificuldade:
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diograma não depende de indícios de atividade de
doença, mas do tempo gestacional de maior risco
da ocorrência do bloqueio (entre 16-26 semanas).
Alternativa C: CORRETA. A paciente já está com 20
semanas de gestação e é anti-Ro positivo.
Alternativa D: INCORRETA. O bloqueio cardíaco está
associado com anti-Ro.
Alternativa E: INCORRETA. Não há recomendação em
administrar dexametasona empiricamente a toda
gestante com anti-Ro.
✔ resposta: C
159
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160
Capítulo
OUTRAS COLAGENOSES
7
importância/prevalência
1. ESCLEROSE SISTÊMICA
BASES DA MEDICINA
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As colagenoses são doenças autoimunes do tecido conjun-
tivo. O tecido conjuntivo faz parte dos 4 tecidos principais proteoglicano) e produz fatores de crescimento, que
do corpo, junto com o nervoso, muscular e epitelial. Suas controlam a proliferação e a diferenciação celular.
funções são de: envolver e proteger os órgãos; fornecer Os miofibroblastos são células que possuem caracte-
suporte mecânico permitindo resistir à tensão e à com- rísticas de fibroblastos e células musculares lisas. Têm
pressão; fornecer suporte metabólico e imunológico; capacidade de contração e estão presentes em processos
armazenamento de lipídios; preenchimento; reparação. cicatriciais, onde, através de sua força contrátil, auxiliam
Essa grande variedade da função é expressa por meio de a fechar o ferimento.
uma variedade igualmente ampla de estruturas distintas,
originadas do tecido conjuntivo. Na verdade, pode ser
difícil pensar que a gordura, o osso, a cartilagem e o tecido
hematopoiético sejam variedades especiais originadas
do tecido conjuntivo.
BASES DA MEDICINA
161
Outras colagenoses Reumatologia
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Fonte: Acervo Sanar.
1.1. DEFINIÇÃO E CLASSIFICAÇÃO banda linear, comum em braços e pernas, mas que
pode acometer couro cabeludo e face (“golpe de
O termo esclerodermia é usado para designar o sabre”). A forma generalizada da esclerodermia é
espessamento e a atrofia da pele. Já a Esclerose a encontrada na ES, e sua extensão é responsável
Sistêmica (ES), é uma doença com acometimento pela divisão em ES forma limitada ou forma difusa.
sistêmico, que não se limita ao espessamento cutâ- u ES limitada: o acometimento cutâneo se limita a
neo, o qual pode até estar ausente (esclerose sis- mãos, antebraços, face, pés e pernas.
têmica sine esclerodermia); portanto, usar o termo u ES difusa: acomete, além das regiões da ES limi-
esclerodermia para se referir a pacientes com ES, tada, braços, tronco, abdome e coxas.
é inadequado.
u ES sine esclerodermia: ausência de esclerodermia,
A ES é caracterizada por alteração vascular (Ray- indivíduo com alterações vasculares e viscerais
naud, úlceras digitais, hipertensão pulmonar) e da doença. Mais rara que as formas clássicas
fibrose cutânea e/ou visceral. Já a esclerodermia, limitada e difusa.
pode ser um dos sinais clínicos de ES ou apare-
cer isoladamente e é dividida em localizada ou
generalizada. As formas localizadas são: morfeia
e linear. Morfeia é uma placa atrófica única ou
múltipla geralmente no tronco. Já a linear, é uma
162
Outras colagenoses Cap. 7
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a doença. Certos retrovírus têm a mesma sequên-
cia da proteína topoisomerase I, que é um alvo na
ES, e podem, portanto, ser um fator precipitante.
Fonte: Sartori-Valinotti et al.¹
Dentre os fatores ambientais associados ao surgi-
mento da ES, estão: contato com sílica, solventes
orgânicos, drogas, rotura de próteses de silicone e
A ES difusa e limitada, além das diferenças quanto
fatores mecânicos.
à extensão do acometimento cutâneo, possuem
evolução e características clínicas divergentes:
u ES limitada: começa com o Fenômeno de Ray- 1.3. FISIOPATOLOGIA
naud e tem uma evolução insidiosa que dura
anos (em torno de 5 a 10 anos) até o apareci- As características clínicas da ES são decorrentes
mento do espessamento cutâneo, que não tende de dois aspectos fisiopatogênicos da doença: a
a ser intenso, e demais manifestações clínicas. vasculopatia e a fibrose. Além delas, a autoimuni-
Presença do anticentrômero, maior risco de hi- dade inata e adaptativa participa da fisiopatogenia
pertensão pulmonar. Crise renal esclerodérmica da ES, perpetuando a inflamação e produção de
pode ocorrer, mas é rara. Clinicamente, são mais autoanticorpos.
evidentes as telangectasias, calcinoses, doença A vasculopatia é possivelmente o primeiro evento e
do refluxo gastroesofágico, hipertensão pulmonar antecede a fibrose. A confluência de fatores genéti-
e esclerodactilia. Apresenta FAN de padrão cen- cos, imunológicos e ambientais leva à lesão vascular
tromérico e anticentrômero. A síndrome CREST e ativação da célula endotelial. Ocorre que a lesão
é um conjunto de sinais e sintomas que podem do endotélio vascular dá origem a uma cascata
ocorrer em um subgrupo de pacientes com ES de eventos: agregação plaquetária; liberação de
forma limitada. C – calcinose, R – fenômeno de endotelina 1 (potente vasoconstritor); apoptose
163
Outras colagenoses Reumatologia
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Na histologia vascular é possível evidenciar o 1.4. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
aumento da camada íntima das artérias de pequeno
e médio calibre. Esse aumento se deve à proliferação 1.4.1. O que é Fenômeno de Raynaud?
e à migração de células miointimais, deposição de
colágeno e acúmulo de miofibroblastos. A oclusão O Fenômeno de Raynaud faz parte das manifes-
luminal progressiva leva à rarefação vascular e tações clínicas mais comuns da ES, juntamente
hipóxia tecidual crônica. com o quadro cutâneo. Trata-se de um distúrbio
vasomotor episódico e reversível após exposição
A fibrose tecidual ocorre pela produção desregu- a temperaturas frias ou vibração. Clinicamente, se
lada e o acúmulo excessivo de colágeno e outras manifesta por 3 fases sequenciais (fenômeno vaso-
macromoléculas da matriz extracelular, o resultado é motor trifásico): palidez (vasoconstrição), cianose
a rigidez e a perda da conformidade da matriz extra- (hipóxia) e eritema (vasodilatação e perfusão).
celular. O processo de fibrose modifica a arquitetura
de um determinado tecido e, consequentemente,
leva à disfunção.
Na histologia da pele é possível notar o aumento
da derme reticular, pela deposição de colágeno, e
obliteração de folículos pilosos, glândulas sebáceas
e outros anexos cutâneos. A expansão do tecido
colágeno leva à diminuição do tecido adiposo sub-
cutâneo.
164
Outras colagenoses Cap. 7
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Fonte: Valim et al.²
165
Outras colagenoses Reumatologia
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esclerodérmica são decorrentes da atrofia cutânea.
Esclerodactilia é o termo usado para designar o
espessamento cutâneo dos dedos.
Também podem ocorrer telangectasias, leucome-
lanodermia (“pele em sal e pimenta”) e depósitos
Fonte: Russo et al.4
de cálcio (calcinose).
166
Outras colagenoses Cap. 7
melancia”, que pode ser causa de anemia crônica doses, diagnóstico e tratamentos precoce da ES,
e sangramentos. houve diminuição na taxa de mortalidade. Ocorre
em 10% dos pacientes portadores de ES, é mais
Também pode ocorrer diminuição da peristalse e
comum na ES difusa e está associado à presença
estase intestinal, levando a hipercrescimento bac-
do autoanticorpo anti-RNA III polimerase. Caracteris-
teriano e síndrome de má absorção.
ticamente, aparece nos primeiros 5 anos de doença
1.4.5. Manifestações Cardíacas e está associado ao uso de doses de prednisona
maiores que 20 mg.
O miocárdio, o pericárdio e o sistema de condu- Caracteriza-se por uma microangiopatia renal, com
ção podem ser acometidos na ES. Manifestações alterações patológicas nos vasos sanguíneos seme-
cardíacas também podem ocorrer secundárias à lhantes às observadas em outros vasos. Clinica-
hipertensão arterial pulmonar ou à crise renal da mente, ocorre início súbito de hipertensão arterial
esclerodermia. O derrame pericárdico é um achado (10% são normotensos), insuficiência renal, retino-
de ecocardiograma em até 50% dos pacientes. patia hipertensiva com hemorragia/papiledema,
derrame pericárdico, anemia hemolítica microan-
1.4.6. Hipertensão Pulmonar e
giopática, plaquetopenia.
Pneumopatia Intersticial
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não são essenciais ao diagnóstico.
pneumopatia intersticial, que é precoce na ES difusa.
A capilaroscopia periungueal é indicada nos casos
São fatores de risco para hipertensão pulmonar: de Fenômeno de Raynaud, tanto para auxiliar na dis-
a presença do anticentrômero, ES limitada, telan- tinção entre primário e secundário quanto nos casos
gectasias, DLCO menor que 60% na ausência de de ES diagnosticada em que há valor prognóstico.
acometimento intersticial, CVF/DLCO > 1,6%.
Como screening dos pacientes portadores de ES,
Em pacientes portadores de ES com achados suges- são solicitados de rotina: prova de função pulmonar
tivos de hipertensão pulmonar ao ecocardiograma, com DLCO, tomografia de tórax com cortes finos,
há indicação de cateterismo cardíaco de câmaras ecocardiograma transtorácico, endoscopia digestiva
direitas, pois a ES pode ocasionar hipertensão pul- alta. Para diagnóstico de dismotilidade pode ser
monar por diferentes mecanismos: disfunção sis- usada a manometria esofágica ou o esofagogas-
tólica, diastólica, vascular, pneumopatia intersticial. troduodenograma (EED).
A pneumopatia intersticial é mais comum na ES
difusa. Costuma ser precoce e está associada à
presença do antitopoisomerase (SCL-70). O padrão DICA
Lembre-se dos anticorpos específi-
de acometimento intersticial predominante na ES cos de ES, anti-SCL 70 e anti-centrômero.
é o não específico (PINE), seguido pela PIU (pneu-
mopatia intersticial usual).
167
Outras colagenoses Reumatologia
1.6. D
IAGNÓSTICO E CRITÉRIOS de luvas, aquecimento das mãos e evitar contato
CLASSIFICATÓRIOS com desencadeantes (tempo frio, água gelada,
vibrações). Bloqueadores de canais de cálcio, como
A presença do Fenômeno de Raynaud associado a nifedipina e o diltiazem, são usados como primeira
à presença de autoanticorpos específicos de ES linha e, destes, a nifedipina (di-hidropiridínico) repre-
e/ou capilaroscopia anormal configura uma fase senta o padrão-ouro.
muito precoce da doença. Podem ser aplicados os
critérios classificatórios de ES 2013 (ACR/EULAR) 1.7.2. Úlceras Digitais
para auxílio no diagnóstico.
Faz parte do tratamento das úlceras digitais o tra-
tamento do Fenômeno de Raynaud com medidas
Tabela 1. Critérios classificatórios ES 2013, ACR/EULAR.
físicas e bloqueador de canal de cálcio. Importante
Item Pontuação orientar ao paciente a proteção contra ferimentos,
Espessamento cutâneo de ambas como não retirar a cutícula.
as mãos, proximal às articulações 9
Associar AAS 100 mg ao dia parece haver algum
metacarpofalangeanas
benefício. Se as ulcerações digitais forem refratárias,
Espessamento cutâneo dos dedos são alternativas: sildenafila, bosentana (antagonista
(só pontuar o maior escore)
do receptor da endotelina) ou iloprost (análogo à
Edema de dedos (puffy fingers) 2 prostaciclina).
Esclerodactilia 4
1.7.3. Dismotilidade Esofágica
Fenômeno de Raynaud 3
Lesões de polpas digitais (só pontuar maior escore) Para o controle do refluxo gastroesofágico são
indicadas mudanças comportamentais: ingerir refei-
Ulcerações de polpas digitais 2
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ções pequenas e frequentes, evitar deitar após as
Pitting scars 3 refeições, perda de peso e elevar a cabeceira da
Telangectasias 2
cama. A terapia farmacológica se baseia no uso de
inibidores da bomba de prótons, como o omeprazol
Anticorpos específicos (escore máximo 3) e o lanzoprazol, para reduzir a acidez gástrica e
Antitopoisomerase 3 procinéticos.
Anticentrômero 3
1.7.4. Esclerodermia Generalizada
Anti-RNA III polimerase 3
Metotrexato é a 1ª opção de tratamento. Se não
Capilaroscopia alterada 2
responsivo, está indicada pulsoterapia com ciclo-
Hipertensão arterial pulmonar ou doença fosfamida.
2
intersticial pulmonar
Outras opções terapêuticas, são: micofenolato de
Classifica como portador de ES mofetil, rituximabe.
se pelo menos 9 pontos
168
Outras colagenoses Cap. 7
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No acompanhamento de pacientes com ES, faz parte
do exame físico a avaliação do grau de espessamento
cutâneo. O espessamento da pele pode ser quantificado
e, para isso, é usado o Escore de Rodnan modificado, que
avalia a pele em 17 regiões do corpo (dedos, mãos, ante-
braços, braços, face, tórax, abdome, coxas, pernas e pés).
A graduação é feita através da realização de uma prega Fonte: Acervo Sanar.
na pele e consiste em: 0 (pele normal), 1 (espessamento
leve), 2 (espessamento moderado) e 3 (espessamento
grave), com graduação máxima de 51 pontos. Um escore
acima de 40 é indicativo de mau prognóstico. 2.1. DEFINIÇÃO
169
Outras colagenoses Reumatologia
Existem escassos estudos a respeito da DMTC, Figura 11. Puffy hands (edema de dedos ou mãos).
visto ser um assunto polêmico em que alguns auto-
res defendem sua inexistência como doença bem
definida e acreditam que seria uma conectivopatia
indiferenciada que ainda não definiu uma entidade
específica.
Já as síndromes de superposição, ocorrem em indi-
víduos que possuem mais de uma doença do tecido
conjuntivo, preenchendo critérios classificatórios.
As mais conhecidas são a escleromiosite (esclerose
sistêmica + polimiosite) e Rhupus (artrite reumatoide
+ lúpus eritematoso sistêmico). Por último, o termo
conectivopatia indiferenciada é usado quando um
indivíduo possui manifestações clínicas sugestivas
de doença do tecido conjuntivo, mas não fecha
critério classificatório para nenhuma delas.
Fonte: Acervo da autora.
2.2. EPIDEMIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
O envolvimento articular é muito comum, em torno
Acomete principalmente mulheres ao redor da quarta de 95%, de característica inflamatória com poliar-
década de vida, numa proporção de 3-6 mulheres tralgia ou poliartrite. Poucos pacientes desenvolvem
para cada homem. Sua etiologia é desconhecida artrite erosiva.
e há poucos estudos a respeito da fisiopatologia.
A miosite inflamatória geralmente tem curso clínico
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Existe relação com HLA-DR4 e DR2 e, como o anti-
leve.
-RNP é o autoanticorpo característico da DMTC,
acredita-se que este desempenhe algum papel na O quadro cutâneo pode ser semelhante ao da der-
fisiopatogenia da doença. matomiosite com heliótropo e Gottron, ou rash malar
e fotossensibilidade semelhantes ao LES, ou ainda
2.3. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS telangectasias e calcinoses semelhates à ES.
Quanto ao sistema gastrointestinal, ocorre prin-
O início da doença é insidioso, podendo haver sin- cipalmente disfagia por envolvimento esofágico
tomas constitucionais. Já o Fenômeno de Raynaud semelhante ao da ES.
é comum e inicial, podendo estar presente em até Pode ocorrer serosite (pleurite e pericardite); porém,
90% dos casos, associado ou não ao puffy hands geralmente, é assintomática. A doença pulmonar
(edema de dedos e/ou mãos). intersticial, juntamente com a hipertensão pulmonar,
dita pior prognóstico na DMTC. A principal causa
de óbito é a hipertensão pulmonar associada ou
não à intersticiopatia.
Os acometimentos renais e neurológicos centrais
não são comuns na DMTC, porém pode ocorrer
raramente glomerulonefrite semelhante ao LES ou
insuficiência renal aguda com hipertensão maligna,
como acontece na ES, mas clinicamente são menos
graves. Das manifestações de sistema nervoso
periférico, destaca-se a neuralgia do trigêmeo, que
é a mais comum.
170
Outras colagenoses Cap. 7
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alta, EFPSE, urina com relação proteína/creatinina
e exames gerais.
171
Outras colagenoses Reumatologia
Poliartrite
Linfadenopatia
Serosite
Esclerodactilia
3. Achados clínicos
Hipomotilidade ou dilatação esofágica
ES símile
Fibrose pulmonar, restrição pulmonar ou redução
da capacidade de difusão DLCO < 70%
Fraqueza muscular
Classificação: necessárias 3 condições: pelo menos 1 sintoma comum; critério sorológico; um ou mais achados clínicos
em pelo menos 2 categorias de doença.
Atenção: na presença de anti-SM ou anti-ds DNA, rever o diagnóstico de DMTC, pois são anticorpos específicos.
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Fonte: Adaptada de Marques Neto5.
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Outras colagenoses Cap. 7
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de epimísio.
173
Outras colagenoses Reumatologia
O termo miopatias inflamatórias se refere a um grupo externo, que são músculos esqueléticos. Essa configura-
de doenças idiopáticas ou adquiridas, autoimunes ção fisiológica e anatômica justifica as diferenças entre
a disfagia da esclerose sistêmica (baixa) com a disfagia
e sistêmicas com predileção pelo músculo estriado
das miopatias inflamatórias (alta).
esquelético. São elas: dermatomiosite adulto e juve-
nil, dermatomiosite amiopática, polimiosite, miosite
por corpos de inclusão, miosite associada a outras Miopatia inflamatória autoimune que se caracteriza
colagenoses, miopatia necrosante imunomediada pela presença de lesões cutâneas típicas, chamadas
e síndrome antissintetase. de heliótropo e Gottron. Geralmente, tem fraqueza
muscular insidiosa e proximal (cintura escapular e
Pela sua característica sistêmica, são doenças que pélvica) associada e sintomas constitucionais. Pode
podem acometer outro sistema além do esquelético, evoluir para fraqueza muscular importante, a ponto
como cardíaco, pulmonar, vascular, articular e trato de o indivíduo ficar restrito ao leito e apresentar dis-
gastrointestinal. fagia alta. E 20% das dermatomiosites não possuem
fraqueza muscular, e esse subtipo recebe o nome
3.1. EPIDEMIOLOGIA de dermatomiosite amiopática. Mais de 50% dos
pacientes com esse subtipo possuem positividade
A incidência geral de miopatias inflamatórias varia para autoanticorpo anti-MDA 5. Ao contrário do que
de 2 a 10 casos novos por milhão de pessoas por se pensa, a dor (mialgia) não é um sinal significativo
ano. São entidades muito raras, com idade preferen- nestes pacientes.
cial de início entre 40 e 50 anos e predileção pelo Diferentemente da ES, em que a disfagia é inferior,
sexo feminino (2:1), no caso da dermatomiosite e as miopatias causam disfagia superior por acome-
da polimiosite, e pelo sexo masculino (2:1 acima de timento da musculatura da faringe. Nesse sentido,
50 anos de idade), no caso da miosite por corpos os pacientes também podem apresentar disfonia
de inclusão. (voz anasalada).
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As manifestações extramusculares incluem o quadro
3.2. ETIOLOGIA E FISIOPATOGENIA cutâneo com: heliótropo, rash eritematovioláceo peri-
palpebral, por vezes edematoso; Pápulas de Gottron,
A etiologia das miopatias inflamatórias é desco- erupções eritematosas em regiões extensoras de
nhecida, mas acredita-se que fatores genéticos e interfalangeanas e metacarpofalangeanas; sinal de
ambientais podem contribuir. Gottron (tem a mesma distribuição que as Pápulas
Os principais mecanismos propostos para a inflama- de Gottron, porém inclui as lesões de cotovelos e
ção muscular crônica e as manifestações clínicas joelhos); Sinal do Xale, rash em ombros e dorso; sinal
das miopatias inflamatórias, são: envolvimento de “V” do decote, rash em pescoço e tórax anterior;
microvasos e microcirculação, o que gera uma fun- mãos de mecânico, fissuras e descamação da pele
ção muscular diminuída; efeito indireto de citocinas na face lateral dos dedos, principalmente indicador;
na função e metabolismo celular; efeito direto de anormalidades de leito ungueal com hipertrofia
leucócitos nas células musculares, como infiltração cuticular e telangectasias; calcinoses (vistos mais
de linfócitos T e macrófagos. na dermatomiosite juvenil).
3.3. DERMATOMIOSITE
BASES DA MEDICINA
174
Outras colagenoses Cap. 7
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Note a presença de leito ungueal com telangectasias visíveis a olho nu, além de hipertrofia cuticular.
Fonte: Acervo da autora.
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Outras colagenoses Reumatologia
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A dermatomiosite é mais associada à síndrome da doença.
paraneoplásica do que à polimiosite. Portanto, é
obrigatório o rastreio paraneoplásico em adultos.
3.7. MIOSITE POR CORPOS DE INCLUSÃO
O risco de neoplasia associado é maior nos primei-
ros anos de doença, associando-se à presença do
Diferentemente das demais miopatias inflamatórias,
autoanticorpo anti-155/140. Recomenda-se rastrea-
a miosite por corpos de inclusão acomete preferen-
mento anual nos primeiros 5 anos de diagnóstico.
cialmente homens idosos, com pouca elevação de
As neoplasias mais comuns são: mama, pulmões,
enzimas musculares, fraqueza muscular proximal
ovário e trato gastrointestinal. A dermatomiosite
e distal, simétrica ou assimétrica, não responde à
juvenil, diferentemente da dermatomiosite do adulto,
terapia imunossupressora ou glicocorticoides e
não se associa à síndrome paraneoplásica.
tem um curso muito lento. A eletroneuromiografia
pode mostrar um padrão miopático associado a
3.4. POLIMIOSITE neuropático e, na biópsia, a presença de corpos de
inclusão (vacúolos marginados). Não evolui com
Mais rara que a dermatomiosite, caracteriza-se por acometimento visceral.
fraqueza muscular proximal simétrica, insidiosa e
sem envolvimento cutâneo.
3.8. EXAMES COMPLEMENTARES
A fraqueza muscular na dermatomiosite e na poli-
miosite é proximal, simétrica, poupa musculatura
facial e ocular e tem predileção pelos extensores, BASES DA MEDICINA
em vez dos flexores. Mialgia é pouco comum, sendo
frequente na miopatia necrosante imunomediada. Entenda os marcadores bioquímicos musculares:
176
Outras colagenoses Cap. 7
W CPK: O músculo esquelético tem a maior concentração edema ou quadros sequelares e de lipossubistu-
de CPK de qualquer tecido. É o indicador mais sensível tuição. Também orienta melhor sítio para biópsia
de lesão muscular e o melhor para acompanhamento.
muscular.
A CPK participa do armazenamento e transferência
de energia celular e localiza-se na membrana mito- A biópsia muscular é de grande valia no auxílio
condrial, nas miofibrilas e no citoplasma do músculo. diagnóstico; pois, além de ser uma ferramenta para
CK possui 3 formas distintas de isoenzimas: MM, MB
distinção entre as miopatias inflamatórias, em con-
e BB. A CPK normal do músculo esquelético é a MM
com pequenas quantidades de MB. Em comparação,
junto com sinais e sintomas, também ajuda nos diag-
o tecido cardíaco tem a concentração mais alta de nósticos diferenciais, como miopatias metabólicas
CK-MB, sendo aproximadamente 20% da CK cardíaca. e distrofias musculares. Na polimiosite se evidencia
W Aldolase: É uma enzima da via glicolítica encontrada
infiltrado inflamatório endomisial, invasão direta das
em todos os tecidos, mas majoritariamente no mús- fibras musculares, não necróticas, por macrófagos
culo esquelético, fígado e cérebro. As concentrações e linfócitos T CD8. Já na dermatomiosite, o infiltrado
de aldolase podem ser ocasionalmente elevadas em é perimisial e perivascular com linfócitos B e T CD4,
pacientes com miosite que têm níveis normais de CPK. além haver a presença de atrofia perifascicular.
W TGO e TGP: As transaminases catalisam a conversão
dos aminoácidos alanina e aspartato em alfacetoglu-
tarato, fornecendo uma fonte de nitrogênio para o ciclo
da ureia (reações para produção de ureia a partir da
amônia). São encontradas amplamente em inúmeros
tecidos, e os níveis séricos aumentados são inespecífi-
cos. Distúrbios hepáticos cursam com concentrações
séricas mais elevadas, mas os valores aumentados
também são vistos no músculo esquelético, doença
miocárdica e hemólise.
LDH: Catalisa a etapa final da glicólise (quebra da
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W
glicose para produção de energia), convertendo o
piruvato em lactato. É encontrado em quase todos os
tecidos do corpo; portanto, níveis séricos aumenta-
dos são encontrados em inúmeras condições, como
cardíacas, hepáticas e hematológicas.
177
Outras colagenoses Reumatologia
A - A polimiosite é caracterizada por infiltrados inflamatórios endomisiais e necrose das fibras musculares (seta); B - A
dermatomiosite frequentemente apresenta proeminente atrofia perifascicular; C - Miosite de corpos de inclusão, mostrando
fibras musculares que contêm vacúolos marginados (setas). Coloração de tricrômico de Gomori modificado.
Fonte: Kummar7.
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Tabela 3. Autoanticorpos e suas associações nas miopatias inflamatórias.
Autoanticorpo Associação
178
Outras colagenoses Cap. 7
Foram propostos novos critérios classificatórios São considerados fatores de mau prognóstico: aca-
ACR/EULAR em 2017, através de um esquema de mado, disfagia alta, ulcerações cutâneas, vasculite,
pontuação e calculadora que podem ser acessa- presença de anti-MDA5, anti-SRP, anti-HMGCR,
dos através do link: www.imm.ki.se/bioestatistics/ acometimento cardíaco, envolvimento pulmonar,
calculators/iim. retardo no início do tratamento.
Pela complexidade dos critérios de 2017, ainda são
mais difundidos os Critérios de Bohan e Peter de
DIA A DIA MÉDICO
1975, porém estes incluem apenas as miopatias
inflamatórias dermatomiosite e polimiosite.
Pacientes portadores de dermatomiosite, polimiosite ou
síndrome antissintetase são encaminhados a centros
Tabela 4. Critérios classificatórios Bohan e Peter (1975).
de referência para tratamento. Isso porque são doenças
Item Descrição que necessitam de um alto grau de recursos e capaci-
tação. São condições raras, com curso potencialmente
1. Fraqueza muscular Simétrica e proximal agressivo e que precisarão de ressonância magnética,
biópsia muscular, painel de autoanticorpos específico e
2. Enzimas musculares Elevadas
tratamento de alto custo. A imunoglobulina é usada na
3. Eletroneuromiografia Padrão miopático dose de 2 g/kg. Se você fizer a conta da necessidade de
imunoglobulina para uma paciente de 60 kg, são 120 g no
Compatível com
4. Biópsia muscular total. Um frasco de 5 g custa em média R$ 1.000!
miopatia inflamatória
E lembre-se: em caso de refratariedade ao tratamento,
Heliótropo, pápulas/
5. Lesão cutânea típica sempre reveja o diagnóstico e a possibilidade de síndrome
Sinal de Gottron
paraneoplásica.
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Diagnóstico definitivo
Polimiosite: todos os itens de 1 a 4 presentes.
Dermatomiosite: ≥ 3 dos itens de 1 ao 4.
O item 5 é obrigatório. 4. SÍNDROME DE SJÖGREN
Fonte: Bohan 9.
O tratamento das miopatias inflamatórias é agres- As glândulas exócrinas se diferenciam das endócrinas por
possuírem ductos que transportam a secreção glandular
sivo, visando à remissão e ao mais rápido desmame
para a superfície do corpo ou para o interior (lúmen) de um
de glicocordicoides, uma vez serem causa de mio- órgão. São exemplos as sudoríparas, salivares, lacrimais
patia e perda de funcionalidade. e do trato gastrointestinal. Já as glândulas endócrinas
não possuem ductos e seu conteúdo é liberado para a
São utilizadas doses altas de glicocorticoide, de 1
corrente sanguínea.
mg/kg/dia. A pulsoterapia com metilprednisolona é
indicada nos casos com fatores de mau prognóstico.
Os imunossupressores mais utilizados são meto-
trexato, azatioprina, ciclosporina e micofenolato BASES DA MEDICINA
de mofetil.
Nos casos graves também se associa a pulsoterapia As glândulas salivares (submandibulares, sublinguais e
com imunoglobulina e, em casos refratários, está parótidas) são responsáveis pela produção de saliva, que
tem várias funções, como: ações antibacterianas, impor-
indicado o uso de rituximabe.
tante para a saúde da cavidade oral e dentes; lubrificação
e umidificação do material para a deglutição; solubilização
179
Outras colagenoses Reumatologia
para o paladar; início da digestão de carboidratos; depu- as glândulas salivares induz vasodilatação acentuada e
ração e neutralização do refluxo das secreções gástricas aumenta a secreção salivar.
no esôfago. A estimulação de fibras parassimpáticas para
1 Sublinguais
2 Submandibulares
3 Parótidas
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4.2. EPIDEMIOLOGIA, CLASSIFICAÇÃO
BASES DA MEDICINA E FISIOPATOLOGIA
A glândula lacrimal secreta o líquido lacrimal, solução Acomete geralmente mulheres de meia-idade, entre
salina aquosa rica em enzima bactericida lisozima. O 40 e 60 anos. A SS é classificada como primária
líquido lacrimal é importante para umidificar e lubrificar
quando não existe outra doença autoimune asso-
as superfícies da conjuntiva e córnea e fornece à córnea
alguns nutrientes e oxigênio dissolvido. O líquido lacrimal ciada, ou secundária, no qual a associação mais
em excesso forma as lágrimas. comum é com artrite reumatoide. As manifestações
extraglandulares são mais associadas ao Sjögren
primário.
A fisiopatologia envolve uma resposta imune inapro-
4.1. DEFINIÇÃO
priada, com ativação de linfócitos T e B. Os linfócitos
B com a ação do BAFF (fator ativador de células
A Síndrome de Sjögren (SS) é uma autoimunidade B) contribuem para a manutenção de produção de
sistêmica com predileção pelas glândulas exócri- autoanticorpos. A infiltração linfocitária glandular e
nas (parótida, salivar, lacrimal). Os sintomas mais extraglandular é responsável pelas manifestações
comuns são xerostomia, xeroftalmia e parotidite, clínicas da doença.
porém qualquer sistema pode ser acometido. O
autoanticorpo anti-Ro é o marco sorológico da
4.3. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
Síndrome de Sjögren e o padrão-ouro para auxílio
diagnóstico é a biópsia de glândula salivar.
Os sintomas mais comuns são a xeroftalmia, cerato-
conjuntivite sicca e xerostomia. A xerostomia pode
ter clinicamente algumas pistas, como a presença
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Outras colagenoses Cap. 7
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paciente, vem sendo substituído pela fluoresceína
O envolvimento pulmonar mais comum é de Pneumo- e verde de lissamina. A fluoresceína é usada para
nite Instersticial Não Específica (PINE) e bronquiolite, corar a córnea e o verde de lissamina para corar a
porém o mais característico é o de Pneumonite conjuntiva. Tais metodologias são aplicadas a um
Intersticial Linfocítica (PIL). dos esquemas de escore: Ocular Staining Score ou
A glomerulonefrite é rara, sendo que o acometimento van Bijsterveld Score.
renal mais comum é a nefrite tubulointersticial com Os testes objetivos para xerostomia, são: medida
evolução benigna, porém pode causar acidose do fluxo salivar, cintilografia de glândulas salivares
tubular renal distal (tipo I), paralisia periódica hipo- e a sialografia, esta última podendo ser desconfor-
calêmica, osteomalácia e nefrocalcinose. tável ao paciente e causar infecção nas glândulas
Tireoidite de Hashimoto, gastrite atrófica, pancreatite salivares; portanto, não é muito usada.
autoimune, doença celíaca e cirrose biliar primária A biópsia de glândula salivar é utilizada para auxílio
são condições que se associam à SS primária. diagnóstico de SS primária, sendo padrão-ouro
O sistema nervoso periférico é mais acometido que para uma avaliação definitiva da glândula salivar.
o sistema nervoso central, sendo a manifestação Por ser um exame invasivo, é utilizada no contexto
mais comum de polineuropatia sensitiva, mas pode de ausência do anti-Ro em pacientes com quadro
ocorrer ganglionopatia, mononeurite múltipla, neu- clínico sugestivo de Síndrome de Sjögren. O achado
ropatia por fibras finas. anatomopatológico compatível é a presença de pelo
menos um foco linfocitário, que seria o aglomerado
Pacientes portadores de SS têm risco 9 a 44 vezes de pelo menos 50 linfócitos por 4 mm² de glândula.
maior de desenvolver linfoma não Hodgkin, sendo
MALT o mais comum. Os fatores de risco para lin-
foma, são: negativação do fator reumatoide, pico
181
Outras colagenoses Reumatologia
III. Exames objetivos oculares (pelo menos um) Biópsia de glândulas salivares
menores: sialodenite linfocítica 3
1. Teste de Schirmer positivo focal com escore focal ≥ 1
2. Rosa Bengala positivo
Anti-Ro positivo 3
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IV. Acometimento de glândulas salivares (pelo menos um)
Ocular Staining Score ≥ 5 ou
1
1. Fluxo salivar não estimulado – ≤ 1,5 mL/15 min van Bijsterveld Score ≥ 4
2. Sialografia de parótidas Teste de Schimmer ≤ 5 mm/5 min 1
• sialectasias difusas
Fluxo salivar não estimulado ≤ 0,1 mL/min 1
• sem obstrução nos ductos principais
3. Cintilografia de glândulas salivares Preenche critério classificatório se somatória de pelo
menos 4 pontos
• atraso na captação
• ↓ concentração e/ou Critérios de exclusão: radioterapia de cabeça e pescoço,
• atraso na excreção do traçador amiloidose, doença enxerto vs. hospedeiro, doença relacio-
nado IgG4, hepatite C ativa, SIDA, sarcoidose, amiloidose.
V. Histopatologia
Fonte: Shiboski12 .
• Sialoadenite linfocítica focal em glândula salivar menor
• escore focal ≥ 1
4.6. TRATAMENTO
• foco: pelo menos 50 linfócitos/4 mm²
VI. Autoanticorpos
4.6.1. Síndrome Sicca
• Anticorpos anti-Ro (SSA) e/ou La (SSB)
O tratamento da síndrome sicca envolve medidas
Síndrome de Sjögren Primária
gerais, como: não fumar; evitar doces; não utilizar
• 4 de 6 critérios
sabonetes com álcool e perfumes; evitar fármacos
• Com critérios V e/ou VI
que causem sicca; não utilizar lentes de contato;
• Ausência de outras doenças autoimunes sistêmicas
visitar regularmente o dentista, oftalmologista e
ginecologista.
182
Outras colagenoses Cap. 7
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se restringe apenas a causar xerostomia e xeroftalmia,
podendo cursar com quadros muito graves e risco de
evolução para linfoma ou vasculite crioglobulinêmica.
Outro ponto de importância é de que uma parcela dos
pacientes com Síndrome de Sjögren não apresentam
síndrome sicca e podem ser diagnosticados pelas suas
manifestações extraglandulares. Ou seja, Síndrome de
Sjögren nem sempre é igual à síndrome sicca, e esta,
apesar de ser característica da doença, pode estar ausente.
183
Outras colagenoses Reumatologia
Esclerose
Limitada Anti-SCL-70
sistêmica
Fraqueza muscular
simétrica proximal Anticentrômero
Disfagia alta
Dermatomiosite
e Polimiosite
CPK elevada
OUTRAS COLAGENOSES
Presentes Dermatomiosite
Manifestações
cutâneas
Ausente Poliomiosite
Síndrome Sicca
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Parotidite recorrente
FR positivo
Hipergamaglobulinemia
policional
Fenômeno de Raynaud
ou puff hands
Manifestações de ES.
Miopatia ou LES
Doença Mista
do Tecido
Conjuntivo Anti-RNP positivo
altos títulos
Ausência de anticorpo
específico
184
Outras colagenoses Cap. 7
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SC. Livro da Sociedade Brasileira de Reumatologia. 2 ed.
São Paulo: Manole; 2021.
185
Outras colagenoses Reumatologia
QUESTÕES COMENTADAS
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tiva II é falsa. mostraram nenhuma alteração. Qual o diagnóstico?
⮨ As afirmativas II e III são verdadeiras. A afirma-
⮦ Polimiosite.
tiva I é falsa
⮧ Miastenia Gravis.
⮩ As afirmativas I, II e III são verdadeiras.
⮨ Doença do neurônio motor.
⮪ As afirmativas I, II e III são falsas
⮩ Síndromes de Guillain-Barré.
Questão 2
Questão 4
(ENARE/EBSERH – DF – 2022) Uma mulher de 40 anos,
branca, refere que há 3 meses apareceram manchas (HOSPITAL ESTADUAL DO ACRE – AC – 2021) Paciente do
avermelhadas nas pálpebras e no dorso das mãos sexo feminino, 23 anos, refere aumento de volume
que apresentavam melhora discreta com o uso tó- de região parotidea com associação à xerostomia,
pico de corticoide. Nos últimos 20 dias, começou xeroftalmia e hiperemia conjuntival. Refere ainda
a apresentar dificuldade de elevar os braços para dor articular de padrão inflamatório e dor difusa
pentear os cabelos e escovar os dentes. Também com pontos gatilho. Nega sintomas genitourinários.
notou que não conseguir subir dois lances de es- Em relação às hipóteses diagnósticas, assinale a
cada e passou a precisar de ajuda para levantar da alternativa correta.
cama e da cadeira. Qual o achado do exame físico ⮦ Doença de Beçet.
pode definir o diagnóstico?
⮧ Doença de Wegener.
⮦ Eritrodermia. ⮨ Lúpus eritematoso sistêmico.
⮧ Prurido generalizado. ⮩ Síndrome de Sjögren.
⮨ Pápulas de Gottron.
186
Outras colagenoses Cap. 7
Questão 5 Questão 7
(HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE JUNDIAÍ – SP – 2021) Mulher de (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – SP – 2021) Mulher de 50
56 anos, com quadro de xerostomia e xeroftalmia anos de idade procura o ambulatório de clínica mé-
há 2 anos, associada à poliartralgia de pequenas dica com queixa de fraqueza muscular proximal de
articulações, com rigidez matinal de 40 minutos. membros superiores e inferiores iniciada há 2 me-
Passou por alguns médicos, sem ter obtido uma ses, com poliartrite simétrica de pequenas articula-
definição diagnóstica. Exame físico geral, respira- ções e lesões de pele ilustradas na figura a seguir.
tório, cardiovascular e abdominal sem alterações. Sobre a principal hipótese diagnóstica, assinale a
Ao exame osteoarticular, não havia sinovite ou de- alternativa correta:
formidades. Solicitados exames iniciais, demons-
trando hemograma, função renal, eletrólitos e tran-
saminases normais, mas com a presença de fator
antinúcleo reagente, padrão nuclear pontilhado fino,
1:640, anti-Ro e anti-La positivo. Com base na prin-
cipal hipótese diagnóstica, a manifestação clínica
compatível com a doença em questão é:
⮦ Calcinose.
⮧ Púrpura.
⮨ Esclerodactilia.
⮩ Úlceras genitais.
⮪ Alopecia.
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Questão 6
⮦ Anti-TIF-1.
⮧ Anti-MDA-5.
187
Outras colagenoses Reumatologia
⮨ Anti-Ku.
⮩ Anti-Mi-2.
⮪ Anti-Scl70.
Questão 9
Questão 10
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⮦ Anti DNA dupla hélice.
⮧ Anti TPO.
⮨ Anti RNP.
⮩ Anti Histona.
Questão 11
188
Outras colagenoses Cap. 7
GABARITO E COMENTÁRIOS
YDica do professor: Vamos avaliar as assertivas Y Dica do professor: A unidade motora é constituída
mencionadas a respeito da ES forma difusa. de um neurônio motor alfa (neurônio motor inferior),
Assertiva I: FALSA. Na ES difusa é comum o envolvi- seu axônio e todas as fibras musculares inervadas
mento pulmonar através de pneumopatia intersticial. por ele. Fazem parte da unidade motora: neurônio
motor, raiz nervosa, nervo, junção neuromuscular e
Assertiva II: FALSA. A crise renal esclerodérmica não
músculo. O acometimento motor exclusivo ajuda a
é comum (frequência de 15-20%) e a taxa de mor-
topografar a lesão dentro da unidade motora, sen-
talidade é de 10- 35%.
do mais provável a localização no neurônio motor,
Assertiva III: FALSA. A esofagopatia é a manifesta- junção neuromuscular ou músculo.
ção visceral mais comum da ES, no entanto pode
Alternativa A: CORRETA. Estamos diante de um pa-
ocorrer o envolvimento de todo trato gastrointes-
ciente com fraqueza muscular proximal progressiva
tinal como estômago em melancia, pneumatose
de instalação subaguda, sem outras alterações no
intestinal, supercrescimento bacteriano e diarreia.
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exame neurológico. Neste caso, devemos pensar
✔ resposta: E nas miopatias inflamatórias, como a polimiosite. O
diagnóstico é confirmado por enzimas musculares
dificuldade:
elevadas, principalmente a CPK, achados de eletro-
Questão 2
neuromiografia típicos (padrão de acometimento
Y Dica do professor: Paciente com quadro de lesões miopático) e inflamação na biópsia muscular.
palpebrais e dorso das mãos associado a fraqueza Alternativa B: INCORRETA. Na miastenia gravis cha-
muscular proximal de cintura escapular e pélvica. ma atenção a flutuação do quadro clínico e a fati-
Logo nossa principal hipótese é dermatomiosite. gabilidade, ou seja, piora da fraqueza com esforço
Alternativa A: INCORRETA. Eritrodermia não é um físico. Além disso, a musculatura ocular extrínseca
achado clássico de dermatomiosite. é acometida na maioria dos pacientes com mias-
Alternativa B: INCORRETA. Prurido generalizado não tenia gravis.
é um achado clínico da dermatomiosite. Alternativa C: INCORRETA. A doença do neurônio mo-
Alternativa C: CORRETA. As Pápulas de Gottron e o tor, cujo principal representante é a esclerose lateral
Heliótropo são achados clássicos que definem o amiotrófica, é caracterizada por fraqueza muscular
diagnóstico de dermatomiosite. acompanhada de atrofia muscular e fasciculações.
Na maioria dos pacientes a instalação é assimétri-
Alternativa D: INCORRETA. Achado de osteoartrite.
ca e de predomínio distal. Além disso, há sinais de
Alternativa C: INCORRETA. Achado de osteoartrite. acometimento de neurônio motor superior, como
✔ resposta: C espasticidade e hiperreflexia.
Alternativa D: INCORRETA. Na Síndrome de Guillain-
-Barré há fraqueza muscular progressiva, de ca-
ráter ascendente na maioria dos pacientes, com
189
Outras colagenoses Reumatologia
diminuição ou abolição dos reflexos profundos e doença vascular inflamatória é estimada entre 20%
alterações sensitivas, como parestesias nas ex- e 30%. Duas formas clínicas específicas de vasculi-
tremidades e perda de sensibilidade vibratória e te cutânea, a púrpura palpável e a urticária crônica
proprioceptiva. são predominantes, mas eritema multiforme, erite-
✔ resposta: A ma perstans, eritema nodoso, mácula eritematosa
e nódulo subcutâneo também já foram descritos.
✔ resposta: B
Questão 4 dificuldade:
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nentes da chamada Síndrome seca que caracteriza Y Dica do professor: Vamos lá! Falou em fraqueza
a Doença de Sjögren. Inclusive, é importante lem- de musculatura proximal (cintura escapular, quadril
brar que o aumento do volume das parótidas pode por exemplo), pensou em miopatia! Mulher de 50
representar uma neoplasia maligna. Além disso, anos com fraqueza miopática, poliartrite e presen-
cerca de 50% dos pacientes com Sjögren apresen- ça das chamadas Pápulas de Gottron (lesões em
tam sobreposição com fibromialgia (tender points). protuberância óssea evidenciadas na imagem), bem
como eritema heliotrópico peripalpebral não deixam
✔ resposta: D dúvidas sobre o diagnóstico de dermatomiosite.
Alternativas A e B: INCORRETAS. Mialgia é o sintoma
Questão 5 dificuldade: cardinal desta doença.
Alternativa C: CORRETA. O risco de neoplasias é até
Y Dica do professor: A síndrome seca é definida pela
6 vezes mais elevado nesta população. As mais
presença de xeroftalmia - "olho seco" - e xerostomia
comuns são as de ovário, pulmão, pâncreas, es-
- "boca seca". Por outro lado, a síndrome seca é o
tômago, linfoma não Hodgkin e câncer colorretal.
quadro principal da Síndrome de Sjögren, que se
caracteriza pela existência de sintomas de secura Alternativa D: INCORRETA. Até 30% dos pacientes
da boca, dos olhos, da pele, vias aéreas e mucosa com dermatomiosite evoluem também com doen-
vaginal. A Síndrome de Sjögren (SS) é uma doença ça intersticial pulmonar autoimune.
autoimune que se caracteriza principalmente pela ✔ resposta: C
manifestação de secura ocular e na boca, associa-
das à presença de autoanticorpos ou A sinais de
inflamação glandular; assim, a paciente apresenta
um quadro clínico típico. O envolvimento da pele
na doença é bastante comum, e a frequência de
190
Outras colagenoses Cap. 7
Y Dica do professor: A dermatomiosite na sua for- Y Dica do professor: Questão que nos pede o anti-
ma clinicamente amiopática, ou seja, ausência de corpo típico da Doença Mista do Tecido Conjuntivo
fraqueza muscular, compõe uma pequena parcela (DMTC). Essa patologia caracteriza-se por misturar
dos pacientes (torno de 20%) e tem associação com achados clínicos de colagenoses, como dermato-
auto anticorpo anti-MDA5. miosite e polimiosite, esclerodermia, artrite reu-
Alternativa A: INCORRETA. O anti-TIF 1 tem correlação matoide. Como seu quadro clínico é muito diverso,
com dermatomiosite paraneoplásica. não costuma ser cobrado em prova: seu anticorpo
típico, o anti-RNP, costuma ser a pergunta clássica
Alternativa B: CORRETA. Vide comentário.
sobre essa doença. Vamos às outras alternativas:
Alternativa C: INCORRETA. O anti-Ku é correlacionado
Alternativa A: INCORRETA. O anti-DNA é um anticor-
com overlap de esclerose sistêmica e polimiosite.
po muito importante no lúpus, devido a seus títulos
Alternativa D: INCORRETA. Anti-Mi2 tem correlação terem correlação com a atividade da doença. Além
com dermatomiosite com lesões clássicas. disso, sua positividade está relacionada à nefrite
Alternativa E: INCORRETA. Anti-SCL70 tem correlação lúpica. É o segundo anticorpo mais específico para
com Esclerose sistêmica forma difusa. diagnóstico (perde apenas para o anti-Sm).
✔ resposta: B Alternativa B: INCORRETA. O anti-TPO age na tireoide,
e é típico daT de Hashimoto.
dificuldade:
Alternativa C: CORRETA. Como dito acima.
Questão 9
Alternativa D: INCORRETA. Esse anticorpo é típico do
Y Dica do professor: Questão cobra do candidato o lúpus farmacoinduzido, patologia de bom prognós-
diagnóstico diferencial de lesões em glândulas sa- tico. É mais comumente induzido pela hidralazina.
livares. Em pacientes idosos, o crescimento rápido
resposta: C
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✔
da parótida, principalmente sem flogismos locais,
é bastante sugestivo de doença maligna. Adicio-
nalmente, o candidato pode lembrar que Sjögren é Questão 11 dificuldade:
uma doença inflamatória com acometimento das
glândulas salivares e que evolui em até 5% dos casos Y Dica do professor: A Síndrome de Sjögren (SS) é
com linfoma não Hodgkin. Vejamos as alternativas: caracterizada pela infiltração linfocítica nos tecidos
e a produção de autoanticorpos. A etiologia não é
Alternativa A: CORRETA.
bem definida, mas fatores genéticos, hormonais e
Alternativa B: INCORRETA. Sialolitíase ocorre mais ambientais podem estar envolvidos. Aproximada-
frequentemente na glândula submandibular pela mente 90% dos pacientes portadores de SS são do
própria anatomia do Ducto de Warthon, sendo ex- sexo feminino, entre 40 e 50 anos de idade, mas
tremamente rara na parótida. Além disso, cursa também tem sido encontrada em crianças. Os
com dor e sinais flogísticos pacientes com aumento das glândulas salivares
Alternativa C: INCORRETA. Adenoma pleomórfico é são constantemente um grande problema na SS.
uma lesão de crescimento lento (cresce ao longo Persistentes envolvimentos glandulares nestes in-
de anos), não sendo compatível com aumento re- divíduos tornam-se preocupantes devido ao risco
cente da glândula. de transformação em Linfoma Não Hodgkin. São
Alternativa D: INCORRETA. Sialoadenose é um diag- linfomas de células B de baixo grau e podem ser
nóstico de exclusão, geralmente relacionado com similares a linfomas que se desenvolvem em outros
condições sistêmicas descompensadas (por exem- tecidos linfoides associados a mucosas (MALT), que
plo, diabetes descompensado). incluem o estômago, a tireoide e o fígado. Vários
casos descritos sustentam a associação de linfo-
✔ resposta: A
ma com Síndrome de Sjögren e reconhecem o Lin-
foma Maligno Não Hodgkin (MNHL) como a maior
191
Outras colagenoses Reumatologia
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✔
192
VASCULITES SISTÊMICAS Capítulo
PRIMÁRIAS 8
importância/prevalência
u Grandes vasos
• Arterite temporal: prevalece em mulheres, e o fator de risco mais importante é a idade acima de 50
anos. O sintoma mais comum é a cefaleia e o mais específico é a claudicação da mandíbula, enquanto
a complicação mais temida é a amaurose.
• Arterite de Takayasu: mais comum em mulheres de 20 a 30 anos. São sintomas típicos: claudicação de
membros, carotidínea e alteração do exame físico (diminuição do pulso e assimetria de PA).
u Médios vasos
• Poliarterite nodosa: mais comum em homens após os 50 anos. Sintomas constitucionais mais mono-
neurite múltipla e envolvimento cutâneo. Exame físico: HAS, mãos ou pés caídos, fraqueza muscular,
púrpura palpável, nódulos e úlceras cutâneas.
• Doença de Kawasaki: acomete mais meninos abaixo dos 5 anos. Quadro clínico: febre, exantema polimorfo
em tronco e membros, alterações na cavidade oral, hiperemia conjuntival bilateral não purulenta, adeno-
megalias cervical e edema doloroso de mãos e pés. A complicação temida é o aneurisma coronariano.
u Pequenos vasos
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• Vasculites ANCA: granulomatose com poliangeíte, granulomatose eosinofílica com poliangeíte, polian-
geíte microscópica. São causas de síndrome pulmão-rim.
• Vasculite por IgA (Henoch Schonlein): vasculite sistêmica mais comum da infância. Geralmente precedida
por IVAS. Tríade de dor abdominal + artralgia/artrite + púrpura palpável em nádegas e membros inferiores.
u Vasos variáveis
• Síndrome de Behçet: afeta adultos jovens entre 25 e 35 anos. O quadro clínico inclui ulcerações orais e
genitais, eritema nodoso, pseudofoliculite e pioderma gangrenoso, panuveíte, acometimento de SNC e
trombose arterial ou venosa.
Vasculite é o termo dado ao processo inflamatório Neste capítulo, abordaremos as vasculites sistê-
que acomete a parede de um vaso sanguíneo. Essa micas primárias. Pelo seu caráter sistêmico, são
inflamação, por sua vez, pode ser primária, quando doenças que causam muitos sintomas constitucio-
é idiopática, ou secundária, relacionada a outras nais, como mialgia, febre e perda de peso, além de
doenças autoimunes, como lúpus eritematoso sis- elevação de provas de atividade inflamatória e sinais
têmico, artrite reumatoide, Síndrome de Sjögren ou laboratoriais de inflamação crônica, como anemia
doenças infecciosas, neoplásicas e induzidas por e plaquetose. Já o diagnóstico é desafiador até
medicamentos. Uma outra classificação se faz para os especialistas, haja vista a raridade destas
193
Vasculites sistêmicas primárias Reumatologia
condições e a falta de um exame patognomônico de nutrientes e resíduos. O tamanho dos vasos sanguí-
– é como juntar um quebra-cabeças. Na presença neos e a histologia das suas paredes variam (Figura 1), e
tais características se relacionam com o tipo de função
de forte suspeição, o tratamento deve ser realizado
que cada vaso exerce. Enquanto o sistema de artérias
o mais precocemente possível, principalmente em e arteríolas são responsáveis pela resistência do fluxo
casos graves, mesmo quando não se possui ainda sanguíneo e pressão, os capilares são importantes para
o resultado do anatomopatológico. troca de nutrientes, gases, água e solutos entre tecido e
sangue e, nos pulmões, entre o sangue e o gás alveolar.
Após ler este capítulo, você tenderá a “ver” mais As vênulas coletam o sangue capilar e drenam para as
vasculites, mas fique atento: um dos motivos mais veias, as quais, por possuírem paredes finas e muito
comuns de avaliação reumatológica é em razão menos tecido elástico do que as artérias, têm capacitân-
da suspeita de vasculite e, na grande maioria das cia (capacidade para armazenar sangue) muito grande.
vezes, o reumatologista aponta para um diagnóstico
muito mais frequente e plausível, como, por exem-
plo, aterosclerose, um dos grandes mimetizadores São vasos considerados de calibre:
das vasculites. u Grande: artéria pulmonar, aorta e seus ramos
principais (artérias braquiocefálica, carótida co-
mum, subclávia e ilíaca comum).
2. CLASSIFICAÇÃO u Médio: são exemplos as artérias radial, tibial,
poplítea, esplênica, mesentérica e coronárias.
u Pequeno: arteríolas, vênulas e capilares.
BASES DA MEDICINA
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Figura 1. Diâmetro interno, espessura das paredes e quantidades relativas dos principais
componentes de vários vasos sanguíneos que compõem o sistema circulatório.
194
Vasculites sistêmicas primárias Cap. 8
Fonte: Costanzo2.
A classificação mais conhecida das vasculites pri- Quadro 2. Classificação de Chapel Hill, 2012.
márias é a da Conferência de Chapel Hill, 1994, Conferência de Chapel Hill, 2012
que classifica de acordo com o tamanho do vaso
Classificação Doença
acometido. É fato que esta classificação é antiga e
contempla apenas 10 tipos de vasculites. Em 2012, a • Arterite de células gigantes
Grandes vasos
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nova Conferência de Chapel Hill atualizou e ampliou • Arterite de Takayasu
a classificação, englobando as de vasos variáveis, • Poliarterite nodosa
acometimento limitado e causas secundárias. Médios vasos
• Doença de Kawasaki
195
Vasculites sistêmicas primárias Reumatologia
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• ↓ de pulsos dividimos os mecanismos e as principais vasculites
• Assimetria de P.A. relacionadas.
Grande • Carotidínea
• HAS renovascular
• Sopros 3.1. M
ECANISMO TIPO I: PARTICIPAÇÃO
• Dor torácica EOSINÓFILO, MASTÓCITO E IGE
• Úlceras cutâneas
• Mononeurite múltipla
3.1.1. Granulomatose com
Médio • Livedo reticular Poliangeíte Eosinofílica
• Angina mesentérica
Nessa vasculite, a resposta TH2 está exacerbada.
• Gangrena de extremidades
A degranulação do mastócito com liberação de his-
• Hemorragia alveolar tamina e serotonina, processo que atrai eosinófilos,
• Vasculite retiniana ocorre após a ligação do antígeno ou do alérgeno
• Púrpura em sua IgE específica localizada na superfície do
Pequeno
• Hematoquezia
mastócito.
• Polineuropatia periférica
• Glomerulonefrite
3.2. MECANISMO TIPO II: ANTICORPO
Fonte: Marques Neto et al.4
CONTRA ANTÍGENO CELULAR
196
Vasculites sistêmicas primárias Cap. 8
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neutrófilos, os quais, por sua vez, liberam enzimas
BASES DA MEDICINA
proteolíticas e cursam com necrose fibrinoide do
vaso.
Para você entender os achados da biópsia de uma vasculite
de grandes vasos (arterite), relembre as camadas de uma
3.4. MECANISMO TIPO IV: artéria normal (íntima, média e adventícia). A túnica íntima
PARTICIPAÇÃO DO LINFÓCITO T é formada pelo endotélio que reveste o vaso internamente,
e pelo tecido conjuntivo subendotelial. A túnica média,
camada mais espessa, é constituída principalmente por
3.4.1. Arterite de Takayasu lâminas elásticas dispostas concentricamente, e entre elas
situam-se células musculares lisas. A túnica adventícia
Compreende uma reação autoimune mediada por é constituída de tecido conjuntivo.
linfócitos T com ativação macrofágica e produção
de citocinas, em que a lesão inicial é granulomatosa
e vai desde a adventícia até a camada média, tendo
como porta de entrada o vaso vasorum. Com a pro-
gressão do processo inflamatório, ocorre estenose
e oclusão arterial, causando os sinais e os sintomas
da doença. Também são achados frequentes a pre-
sença de aneurismas e dilatações vasculares que
são decorrentes da ação de proteases. A produção
exagerada de citocinas inflamatórias é responsável
pelos sintomas constitucionais.
197
Vasculites sistêmicas primárias Reumatologia
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BASES DA MEDICINA
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Vasculites sistêmicas primárias Cap. 8
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Note que a artéria temporal irriga a parte temporal e o couro cabeludo e a artéria maxilar, os músculos mastigatórios, o que explica no
contexto da arterite a presença de cefaleia e claudicação de mandíbula, respectivamente.
Fonte: Acervo Sanar.
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Vasculites sistêmicas primárias Reumatologia
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níveis pressóricos) e o exame físico (pulso diminuído
A artéria mais envolvida é a subclávia esquerda, novo ou ausência dele).
o que se traduz clinicamente na perda de pulso
Os exames de imagem auxiliam tanto no diagnóstico
radial. O envolvimento de carótidas e coronárias
quanto no seguimento dos pacientes. A arteriografia
pode trazer quadros graves e fatais, como acidente
é relatada em algumas fontes mais antigas como
vascular cerebral e infarto agudo do miocárdio,
o principal método diagnóstico; porém, como é
respectivamente. Os ramos da aorta ascendente
invasiva e detecta apenas alterações crônicas,
são mais acometidos que a descendente; nesta
caiu em desuso. A angiotomografia de aorta e
é particularmente típica a estenose de artérias
os seus ramos geralmente é o primeiro exame a
renais, levando à hipertensão renovascular. Uma
ser solicitado pela sua praticidade, seu custo e
outra manifestação abdominal que pode ocorrer é
sua disponibilidade, e mostra estenose, oclusão
a isquemia mesentérica, causando dor abdominal
e dilatação aneurismática de artérias tipicamente
claudicante. A injúria da artéria pulmonar pode che-
acometidas como aorta, subclávia, carótida comum.
gar a 50%, porém o habitual é que seja assintomático.
Já a angiorressonância consegue dar informações
Histopatologicamente, trata-se de uma vasculite
adicionais, como a presença de edema (arterite) na
granulomatosa da adventícia até a camada média,
parede dos vasos em questão. Um exame que vem
causando estenose, oclusão, ectasia e formações
sendo utilizado com maior frequência é o PET CT,
aneurismáticas nas artérias envolvidas.
indicado nos casos em que se quer avaliar atividade
4.1.3. Exame Físico metabólica celular; porém, trata-se de um método
indisponível em muitos serviços e de alto custo. O
O exame físico em pacientes em estágio muito inicial ecocardiograma transtorácico auxilia no diagnóstico
de doença pode ser normal, pois ainda não houve de insuficiência aórtica.
estenose com significância clínica; porém, pacientes
200
Vasculites sistêmicas primárias Cap. 8
É possível classificar a TA de acordo com os acha- u Tipo III: aorta torácia descendente, aorta abdo-
dos angiográficos (classificação Hata), conforme minal e/ou artérias renais.
a figura 5. u Tipo IV: aorta abdominal e/ou artérias renais.
u Tipo I: ramos do arco aórtico. u Tipo V: envolvimento combinado Tipo IIb e IV.
u Tipo IIa: aorta ascendente, arco aórtico e ramos.
Tipo IIb: aorta ascendente, arco aórtico e ramos,
aorta torácica descendente.
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Fonte: Acervo Sanar.
Existem critérios classificatórios para TA que são Os principais diagnósticos diferenciais são outras
utilizados na prática para auxílio diagnóstico. aortites (arterite de células gigantes, Síndrome de
Cogan, sífilis, lúpus eritematoso sistêmico, artrite
Tabela 1. Critérios classificatórios reumatoide, Doença de Behçet), aterosclerose, doen-
de Arterite de Takayasu. ças do colágeno, como Marfan e Ehler Danlos, e
Critérios classificatórios de Arterite
coarctação de aorta.
de Takayasu ACR 1990
4.1.5. Tratamento
Idade de início dos sintomas ≤ 40 anos
201
Vasculites sistêmicas primárias Reumatologia
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Figura 6. Alterações dos vasos que predispõem ao processo vasculítico.
202
Vasculites sistêmicas primárias Cap. 8
4.2.1. Introdução e Epidemiologia Até 30% dos pacientes podem apresentar acometi-
mento da aorta e de seus ramos, fazendo diagnós-
Trata-se da vasculite primária mais comum. Acomete tico diferencial com Arterite de Takayasu.
médios e grandes vasos e afeta preferencialmente
mulheres (2 a 3 vezes mais que homens) com mais
4.3. EXAME FÍSICO
de 50 anos de idade. Possui predileção pela aorta
ascendente e pelos seus ramos vertebral, subclávia
e extracraniano da carótida (uma delas é a artéria Deve-se palpar os pulsos periféricos e aferir a pres-
temporal). O fator de risco mais significativo é a são arterial dos 4 membros, além de palpar a artéria
idade acima de 50 anos. temporal buscando por dor, diminuição de pulso,
nodulações, dilatação e tortuosidades. A ausculta
4.2.2. Manifestações Clínicas precordial, axilar e carotídea é realizada à procura
de sopros.
Pacientes com ACG geralmente apresentam sinto-
mas constitucionais inicialmente como febre, perda Figura 7. Artéria temporal tortuosa (seta).
de peso, adinamia, mialgia. A cefaleia é o sintoma
mais comum, ao passo que o mais específico da
ACG é a claudicação de mandíbula. A cefaleia é
decorrente de acometimento da artéria temporal,
geralmente de forte intensidade. Pode ser aguda
ou subaguda, localiza-se na região temporal e pode
estar associada a um aumento de sensibilidade do
couro cabeludo. Já a claudicação mandibular é des-
crita como uma dor na musculatura masseteriana
durante a mastigação.
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Cerca de 40% a 50% dos pacientes com ACG pos-
suem Polimialgia Reumática (PMR) associada.
Curiosamente, dos pacientes que possuem PMR,
apenas 10% a 20% estão associados à ACG. A PMR
é caracterizada pela presença de dor e rigidez das
cinturas escapulares e pélvicas. Os ombros são mais
afetados que os quadris e geralmente é bilateral. A
rigidez é intensa pela manhã. Associa-se à elevação
de provas de atividade inflamatória, porém níveis
de CPK e biópsia muscular são normais. Alguns
Fonte: Acervo da autora.
autores acreditam que a PMR seja um espectro
mais leve da ACG, porém não é consenso e ainda
não está elucidado. 4.3.1. Exames Complementares
e Diagnóstico
Apesar de a ACG acometer preferencialmente ramos
extracranianos, sua complicação mais temida, a Encontram-se níveis elevados de VHS e PCR, anemia
amaurose, é decorrente de arterite da ciliar poste- de doença crônica e plaquetose.
rior, um ramo da artéria oftálmica (intracraniano).
A ressonância magnética e a ultrassonografia de
A amaurose pode ser fugaz ou permanente e deve
ombros e quadris na PMR evidenciam bursite e sino-
ser tratada agressivamente pelo seu potencial de
vite. Já para ACG, o ultrassom de artéria temporal
irreversibilidade.
pode identificar o “sinal do halo”, que é a tradução
do espessamento do vaso. A angiorresonância e
a angiotomografia têm seu papel na identificação
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VHS > 50 mm/h
5. VASCULITES DE MÉDIOS VASOS
Biópsia de artéria temporal compatível
Legenda: Necessário ≥ 3 critérios para classificação de ACG.
Fonte: Hunder et al.7 5.1. POLIARTERITE NODOSA (PAN)
4.3.2. Tratamento
BASES DA MEDICINA
4.3.2.1. PMR
Mononeurite múltipla é uma doença do sistema nervoso
Geralmente se usam 10 a 20 mg de prednisona ao
que acomete pelo menos 2 áreas nervosas distintas.
dia, com melhora dramática dos sintomas. Em caso Uma variedade de distúrbios pode causar mononeurite
de recidiva no desmame da corticoterapia, pode-se múltipla, como metabólicos, infecciosos, reumatológicos,
usar metotrexato como poupador de corticoide. hematológicos e malignidade. Os nervos axilar, fibular,
radial, ulnar, femoral, mediano e ciático são comumente
4.3.2.2. CG afetados.
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Vasculites sistêmicas primárias Cap. 8
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vasos de médio calibre, mas pode acometer vasos cilindros hemáticos na urina I deve levar à hipótese
pequenos com a característica marcante de poupar de outra vasculite que não PAN.
vênulas, arteríolas e capilares, ou seja, não causa
glomerulonefrite nem hemorragia alveolar. Angina intestinal é comum por arterite de mesenté-
rica. Apesar de descreverem a dor testicular (orquite)
A idade média de acometimento é por volta de 50 como característica de PAN, ela está presente ape-
anos de idade, preferencialmente homens (1,5 vez nas em 20% dos casos.
mais que mulheres). A maioria dos casos de PAN é
idiopático, porém podem estar associados a vírus Ocorre mialgia com miosite e elevação dos níveis
da hepatite B (associação mais comum), hepatite de CPK, porém que não chegam aos níveis das
C, HIV e leucemia de células pilosas. miopatias inflamatórias.
5.1.3. Exame Físico
Além da forma sistêmica, a PAN possui outra
variante clínica, que é limitada à pele, chamada de Ao exame físico pode ser encontrada hipertensão
PAN cutânea. arterial, mão ou pé caídos decorrente de mononeu-
rite múltipla, fraqueza muscular, púrpura palpável,
5.1.2. Manifestações Clínicas nódulos e úlceras cutâneas. Os pulsos periféricos
encontram-se preservados.
A presença de sintomas constitucionais é extrema-
mente comum na PAN (90%), seguidos por mononeu-
5.1.4. Exames Complementares
rite múltipla e neuropatia periférica. Outro sistema
e Diagnóstico
muito envolvido (em 60% dos casos) é o cutâneo,
através de úlceras, livedo reticular, púrpura palpável, É muito comum o aumento de provas de atividade
nódulos e necrose de extremidades. inflamatória na PAN e, por poder ter associação com
etiologia infecciosa, é mandatório que se façam
205
Vasculites sistêmicas primárias Reumatologia
sorologias para hepatite B, hepatite C e HIV. Tam- 1. Quadro clínico apresentado pelo paciente: caso
bém pode encontrar consumo de complemento apresente pelo menos 1 dos aspectos seguintes,
por ativação da via clássica pelos imunocomple- é considerado fator preditor de aumento da mor-
xos. Alterações leves no exame de urina I podem talidade ou acometimento de órgão nobre (PAN
ser encontradas, como proteinúria e hematúria, grave).
mas não cilindros hemáticos (forte evidência de W insuficiência renal;
glomerulonefrite).
W mononeurite múltipla;
Na presença de mononeurite múltipla, deve-se rea- W envolvimento gastrointestinal;
lizar eletroneuromiografia e biópsia de nervo sural.
Já no caso de miosite, os níveis de CPK auxiliam e
W sintomas cardíacos;
pode-se realizar biópsia muscular. Os locais mais W idade > 65 anos.
habitualmente biopsiados na PAN, são: nervo sural,
2. Presença de hepatite B.
muscular e cutâneo. Lembrar que devemos biop-
siar locais clinicamente sintomáticos. Histopato- W PAN leve (ausência de fator preditor de morta-
logicamente, a alteração encontrada é de necrose lidade e acometimento de órgão nobre): pred-
fibrinoide vascular. nisona 1 mg/kg/dia associado a metotrexato.
Para a investigação de acometimento vascular W PAN grave: pulsoterapia com metilpredniso-
abdominal, pode-se utilizar arteriografia (melhor para lona por 3 dias associado a ciclofosfamida 1
evidenciar microaneurismas) ou angiotomografia. vez ao mês por 6 a 12 meses.
W PAN associada ao vírus da hepatite B: iniciar
Tabela 3. Critérios classificatórios de poliarterite nodosa. prednisona 1 mg/kg/dia seguida por plasma-
férese e tratamento antiviral.
Critérios classificatórios de
Poliarterite Nodosa ACR 1990B
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Perda de peso não explicado, superior a 4 kg
DIA A DIA MÉDICO
Livedo reticularis
Dor ou dolorimento testicular O que ajuda no raciocínio prático da PAN é que ela poupa
pulmão e não causa glomerulonefrite. A mononeurite
Mialgias, fraqueza ou perda de múltipla é um dos aspectos mais marcantes da doença
sensibilidade nas pernas e geralmente esses pacientes são investigados para lep-
Mononeuropatia ou polineuropatia tospirose, devido ao aumento de CPK e dor na panturrilha.
Lembrar também da associação com hepatite B, pela
Aparecimento de pressão arterial diferença entre os protocolos de tratamento.
diastólica superior a 90 mmHg
5.1.5. Tratamento
206
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A doença é comum entre crianças menores de 5
anos, mas rara nas menores de 6 meses. A raridade
em bebês pode ser explicada pela transferência Fonte: Rossi et al.9
de imunidade passiva para os gatilhos infecciosos
relativamente comuns por anticorpos maternos
Figura 11. Língua em framboesa no Kawasaki.
adquiridos por via transplacentária.
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preenche os critérios diagnósticos e, nesses casos,
para que não haja retardo no tratamento, usamos as
alterações encontradas nos exames laboratoriais 6.1. SÍNDROME DE BEHÇET
para reforçar o diagnóstico.
Exames laboratoriais mostram elevação de provas
BASES DA MEDICINA
de atividade inflamatória, de AST e ALT, anemia de
doença crônica, leucocitose com predomínio de
As 2 vasculites que acometem a artéria pulmonar são
neutrófilos, plaquetose e piúria estéril. A hiponatre-
Arterite de Takayasu e a Doença de Behçet.
mia pode ocorrer e está associada à presença de
aneurisma coronariano. O tronco da artéria pulmonar começa na base do ventrículo
direito do coração e se ramifica em 2 artérias pulmonares
O ecocardiograma deve ser realizado para rastreio (esquerda e direita) que irão levar sangue pobre em oxigê-
de aneurisma coronariano no diagnóstico, com 2 nio para o pulmão correspondente. Portanto, aneurismas
semanas e 6 semanas. da artéria pulmonar podem romper e levar à hemoptise.
Uma em cada 5 crianças desenvolve aneurisma de A Síndrome de Behçet (SB) é uma doença sistêmica
coronária, e este risco reduz drasticamente com o caracterizada por úlceras orais e genitais recorrentes
uso de imunoglobulina endovenosa em até 10 dias associadas a fenômenos de vasculite neutrofílica
após o início da febre. O uso de AAS e corticoide não de vasos variáveis arteriais e venosos. Afeta adul-
impacta no desenvolvimento dessa complicação. tos jovens entre 25 e 35 anos, sem predileção por
sexo, apesar de homens terem manifestações mais
O tratamento inicial é feito com gamaglobulina 2
graves da doença.
g/kg em infusão contínua por 10 horas. O alvo do
209
Vasculites sistêmicas primárias Reumatologia
Possui distribuição endêmica na antiga Rota da Figura 12. Úlceras orais no Behçet.
Seda, variando de 30 a 370 casos a cada 100 mil
indivíduos na Turquia. Em torno de 80% desses
indivíduos apresentam HLA-B51.
Apesar da associação HLA, a etiologia da SB
ainda é desconhecida. Como em outras doenças
autoimunes, o distúrbio pode representar atividade
imune aberrante desencadeada pela exposição a
um agente, talvez infeccioso, em pacientes com
predisposição genética para desenvolver a doença.
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A lesão ulcerosa característica tem mais de 0,5 cm,
formato elíptico, bordas eritematosas bem delimita-
das e fundo amarelo citrino. As ulcerações podem
ocorrer em qualquer local do trato gastrointestinal e
Fonte: Duchnowska et al.12
fazem diagnóstico diferencial com Doença de Chron.
A síndrome MAGIC é a associação de Behçet com
Figura 14. Pseudofoliculite em dorso.
policondrite reicidivante.
As lesões cutâneas características são eritema
nodoso (nódulos dolorosos eritematovioláceos em
face pré-tibial), pseudofoliculite e pioderma gan-
grenoso. A pseudofoliculite consiste em pápulas e
pústulas que são indistinguíveis da acne comum,
mas podem ocorrer em locais não usuais de acne,
como braços e pernas. O pioderma gangrenoso é
uma dermatose neutrofílica que costuma se iniciar
como um nódulo ou uma pústula, que, ao se romper,
forma progressivamente uma úlcera com centro
necrótico e bordas irregulares.
Fonte: Acervo Sanar.
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Vasculites sistêmicas primárias Cap. 8
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plementares são inespecíficos. As provas de ativi-
de doença. As manifestações mais comuns são dade inflamatória auxiliam no acompanhamento da
meningite asséptica recidivante e romboencefalite, doença, podendo haver leucocitose com neutrofilia.
com imagens focais em tronco e núcleos da base,
porém pode ocorrer mielite transversa, acidente Figura 17. Vários testes de patergia positivos.
vascular cerebral, trombose venosa central.
Manifestações articulares podem ocorrer na SB,
porém não têm caráter crônico. Trata-se de um
quadro agudo de mono ou oligoartrite assimé-
trica em membros inferiores associado à atividade
mucocutânea.
Trombose venosa é o envolvimento vascular mais
comum, com predileção pelos membros inferiores
e veias supra-hepáticas. Trombose arterial também
pode ocorrer, com formação de aneurismas. As Fonte: Hochberg et al.15
duas vasculites que acometem artéria pulmonar são
Behçet e Takayasu. A Síndrome de Hughes Stovin Os critérios classificatórios têm sido usados para
é a associação de Behçet com trombose venosa auxílio no diagnóstico clínico. O teste de patergia
profunda periférica e aneurisma de artéria pulmonar. é opcional e consiste em avaliação de hiperreati-
A mortalidade no Behçet se dá pelo acometimento vidade cutânea com a introdução oblíqua de uma
de sistema nervoso central, de aneurisma de artéria agulha estéril de grosso calibre (20 gauge) na pele
e no tecido subcutâneo (profundidade de 5 mm),
pulmonar e de perfuração intestinal.
e leitura em 24 a 48 horas. O teste é positivo caso
apareça um nódulo ou uma pústula.
211
Vasculites sistêmicas primárias Reumatologia
ICDB 2014
Note que o diagnóstico de Doença de Behçet é desafiador,
Manifestação Pontos já que as manifestações clínicas podem aparecer numa
série de doenças muito mais comuns, como as ISTs, e
Ocular 2
não é esperada a positividade nem de fator reumatoide
Úlceras genitais 2 nem do FAN.
Úlceras orais 2 Casos mais graves de Behçet costumam ser diagnosti-
cados com mais rapidez por serem mais floridos clini-
Lesões cutâneas 1
camente.
Neurológica 1
Como as úlceras aftosas orais são muito comuns na
Vascular 1 população em geral e a Doença de Behçet é tão rara, a
Doença de Behçet é diagnosticada de forma mais precisa
Teste de patergia positivo 1* no contexto de ulcerações aftosas recorrentes, juntamente
Classificado como SB se ≥ 4 pontos. com manifestações sistêmicas características.
*Opcional.
Fonte: International Team for the Revision of the
International Criteria for Behçet’s Disease (ITR-ICBD)16.
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6.1.5. Tratamento
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determinados órgãos e características únicas.
Nódulos e infiltrados
+++ +++ ++
pulmonares
Granuloma/inflamação
++ - ++
granulomatosa
Fonte: Marques Neto et al.4
213
Vasculites sistêmicas primárias Reumatologia
Th1
Th2
Defesa mediada por eosinófilos e
mastócitos contra alérgenos e helmintos
IL-4
IL-5 IL-10 IgE
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Vasculites sistêmicas primárias Cap. 8
Na boca, além das úlceras orais, ocorre inflamação Pacientes com GPA podem apresentar comprometi-
gengival (gengiva em morango), que deriva seu nome mento das vias aéreas, como estenose subglótica ou
da semelhança das papilas dentárias inflamadas traqueal, ou parênquima pulmonar, com formação de
com morangos, e é bem peculiar entre as condições granulomas e cavitações ou até hemorragia alveolar.
reumatológicas.
Nos rins, apresenta-se como glomerulonefrite rapida-
mente progressiva: hematúria, cilindros hemáticos,
Figura 19. Nariz em sela.
proteinúria (em geral não nefrótica) e elevação da
creatinina sérica. Sem tratamento apropriado, pode
ocorrer a perda completa da função renal após dias
ou semanas. Apesar de se tratar de uma vasculite
granulomatosa, o achado de granuloma no rim é
raro; porém, caso esteja presente, o diagnóstico é
altamente provável.
7.1.2. Vasculite Granulomatosa com
Poliangeíte Eosinofílica (GEPA)
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durante GEPA: IL-4, IL-13 e especialmente IL-5, envolvidas
na resposta Th2. O fenótipo Th2 se associa com ativação
de células B e secreção de imunoglobulina E (IgE).
215
Vasculites sistêmicas primárias Reumatologia
Das síndromes pulmão-rim, é a que menos causa ser encontradas fibrose pulmonar e pneumopatia
glomerulonefrite, e a miocardite eosinofílica é a intersticial.
principal causa de óbito em pacientes com GEPA.
Púrpura, mononeurite múltipla e vasculite mesenté-
São fatores de mau prognóstico da GEPA: início rica são manifestações que podem ocorrer e fazem
de doença com > 65 anos, sintomas cardíacos, diferencial com PAN (poliarterite nodosa).
envolvimento gastrointestinal, insuficiência renal e
ausência de envolvimento de orelha, nariz e traqueia. 7.1.4. Exames Complementares e
Diagnóstico das Vasculites ANCA
7.1.3. Poliangeíte Microscópica (PAM)
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Fluxograma 2. Neutrófilos e grânulos.
O diagnóstico das vasculites ANCA é clínico e his- Os achados histopatológicos incluem: glomerulo-
topatológico. Rins, pulmões, seios da face, pele e nefrite necrosante segmentar e focal com ou sem
nervo periférico são locais passíveis de biópsia. crescentes (imunofluorescência negativa); vasculite
216
Vasculites sistêmicas primárias Cap. 8
neutrofílica com necrose fibrinoide; inflamação gra- doença e deve ser dosado no acompanhamento. Já
nulomatosa ou granuloma. A presença de vasculite 40% dos pacientes com GEPA têm positividade do
com infiltrado granulomatoso ou granuloma sugere p-ANCA, mas este não tem relação com atividade
fortemente GPA ou GEPA. de doença, o que também ocorre com a PAM, em
que o p-ANCA está presente em até 70% dos casos.
O ANCA é um dos exames que auxilia no diagnóstico
É importante lembrar que, após a positivação do
das vasculites ANCA, mas, se ausente, não afasta o
ANCA, é válida a confirmação pelo método ELISA
diagnóstico. Na GPA o mais comum é o c-ANCA, e
da presença dos autoanticorpos antiproteinase 3
ele está mais presente nas formas de doença gene-
(anti-PR3) e antimieloperoxidase (anti-MPO) para
ralizada, chegando a 90%. Em 60% dos pacientes
o c-ANCA e p-ANCA, respectivamente.
com GPA o c-ANCA tem relação com atividade de
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A - c-ANCA citoplasmático; B - p-ANCA perinuclear.
Fonte: Schulte-Pelkum et al.19
Para seguimento e avaliação de atividade, utiliza-se: O tratamento se divide em fase de indução (primeiros
sumário de urina com pesquisa de dismorfismo 6 meses) e manutenção (pelo menos 2 anos). Já o
eritrocitário e relação proteína/creatinina, provas melhor esquema terapêutico depende se a doença
de atividade inflamatória, eosinófilos periféricos é limitada ou sistêmica e se há acometimento de
(GEPA) e c-ANCA (GPA). órgão nobre.
u Fase de indução:
DICA W Doença grave (órgão nobre ou sistêmica): de-
p-ANCA = GEPA e PAM e c-ANCA
= GPA ve-se realizar, na fase de indução, pulsoterapia
com metilprednisolona por 3 dias associada
a rituximabe (anti-CD20) ou ciclofosfamida
por 6 meses.
W Doença limitada: o tratamento é feito com pred-
nisona 1 mg/kg/dia associada ao metotrexato.
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Reumatoide positivo (FR), e a pele é o órgão mais
u sintomas cardíacos;
acometido. Antigamente recebia o nome de crio-
u idade > 65 anos. globulinemia mista. O principal agente etiológico
é o vírus da hepatite C (60% a 90%), mas pode
GEPA leve (ausência de fator preditor de mortalidade ocorrer secundário à hepatite B, HIV; autoimunidade
e de acometimento de órgão nobre): prednisona 1 (principalmente LES e Sjögren); e malignidades
mg/kg/dia associado a metotrexato ou azatioprina. hematológicas.
Obs.: Na GEPA, o rituximabe (anti-CD20) também faz
parte do arsenal terapêutico. Outros imunobiológicos
estão em estudo para GEPA, como o mepolizumabe DICA
Lembre-se dessas associações!
(anti-IL-5) e o omalizumabe (anti-IgE), os quais são PAN com hepatite B e VC com hepatite C.
alternativas terapêuticas na asma.
218
Vasculites sistêmicas primárias Cap. 8
vasculítica. Temos que ter em mente que a sim- de extremidades, acrocianose, cefaleia, tontura,
ples positividade das crioglobulinas não implica vertigem, nistagmo, perda da audição, borramento
a vasculite crioglobulinêmica. Por este motivo, a visual, sonolência e coma). Já as do tipo II e III são
nomenclatura crioglobulinemia caiu em desuso. mistas (mais de um tipo de imunoglobulina), com
FR presente e associadas ao vírus da hepatite C,
As crioglobulinas são imunoglobulinas que se pre-
A infecções crônicas e autoimunidade (Sjögren
cipitam em baixas temperaturas e voltam a se
e LES). O FR é uma imunoglobulina IgM contra a
dissolver quando reaquecidas. São classificadas
fração Fc de uma IgG; sendo assim, é classificado
em 3 grupos, de acordo com a presença ou não de
como um autoanticorpo e potencial de formação
FR e a clonalidade das imunoglobulinas. As do tipo
de imunocomplexos, essenciais na fisiopatologia
I são geralmente causadas por doenças linfopro-
da VC. As crioglobulinas do tipo I não têm FR (imu-
liferativas e cursam com clínica de síndrome de
nocomplexos), portanto os tipos II e III são os mais
hiperviscosidade (Fenômeno de Raynaud, isquemia
associados à VC.
Síndrome de
I Não Não Ig Monoclonal Linfoproliferativas
hiperviscosidade
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III Sim Sim deposição de crônicas, autoimunidade
IgG policlonal
imunocomplexos (Sjögren, LES)
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antígeno, induzindo a uma resposta autoimune humoral.
Em pacientes que desenvolvem a doença, é verificada a
circulação do complexo imune IgG-IgA aberrante, bem
7.3. DOENÇA ANTIMEMBRANA BASAL
como depósitos de IgA1.
GLOMERULAR (DAMBG)
Também conhecida como Síndrome de Goodpasture, Também conhecida como púrpura de Henoch-
é uma vasculite de pequenos vasos mediada por -Schönlein, a vasculite por IgA é a vasculite mais
imunocomplexos, que cursa com síndrome pulmão- comum da infância, acometendo mais meninos
-rim (hemorragia alveolar e glomerulonefrite). É dife- (1,5:1) na faixa de 3 a 8 anos. Muitos casos ocorrem
renciada pela presença do anticorpo antimembrana no inverno, e até metade são precedidos de infecção
basal e depósitos lineares à imunofluorescência de vias aéreas superiores. Mas existem relatos de
da biópsia renal. Diferente das vasculites ANCA, o outros triggers, como medicamentos, alimentos,
curso da DAMBG é monofásico. picadas de inseto e exposição ao frio.
A distribuição tem 2 picos de incidência: dos 20 aos Costuma envolver pele, articulações, rins e trato
30 anos (homens mais acometidos que mulheres) gastrointestinal. Tem curso autolimitado em 8 sema-
e dos 60 aos 70 anos (mulheres mais acometidas nas, porém em adultos, além de prolongamento
que homens). desse período, a doença tende a ser mais grave
O alvo da DAMBG costuma ser o domínio não colá- e com complicações renais e gastrointestinais. A
geno da cadeia α-3 do colágeno tipo IV. tríade da vasculite por IgA é púrpura + artralgia +
dor abdominal.
Além da síndrome pulmão-rim, causa sintomas
constitucionais. As manifestações clínicas incluem em 100% dos
casos o aparecimento de púrpuras palpáveis não
220
Vasculites sistêmicas primárias Cap. 8
trombocitopênicas em membros inferiores e região Tabela 8. Critérios classificatórios de vasculite por IgA.
glútea. É comum artralgia. 1. Púrpura ou petéquia, predominantemente em membros
inferiores.
Figura 21. Púrpuras em membros inferiores.
2. Dor abdominal difusa, de início abrupto.
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proteinúria leve (mais comum) até síndrome nefrí-
Tabela 9. Comparação entre vasculites.
tica/nefrótica e insuficiência renal (menos comuns).
Vasculite por IgA Doença de Kawasaki
A nefropatia por IgA é a glomerulonefrite mais
comum em todo o mundo e consiste na deposição Vasos de pequeno calibre Vasos de médio calibre
de IgA1 glicosilada de modo aberrante nas regiões Crianças <10 anos Crianças <5anos
mesangiais. Embora possa acometer indivíduos
Febre alta e persistente,
de qualquer idade, verifica-se sua ocorrência mais alterações de cavidade
comum em crianças mais velhas e adultos jovens. oral (ressecamento,
Muitos dos pacientes exibem hematúria macroscó- fissuras, hiperemia,
pica após infecção do trato respiratório. Púrpura palpável + proeminência das papilas
artralgia/artrite + linguais – língua em
A biópsia renal é caracterizada por lesão mesangial sintomas gastrointestinais morango), hiperemia
+ nefropatia conjuntival bilateral,
em diferentes graus de hipercelularidade, variando de
linfonodomegalia cervical
proliferação mesangial isolada a proliferação focal unilateral, alterações
e segmentar e glomerulonefrite crescêntica grave. de extremidade,
Na imunofluorescência, encontram-se depósitos exantema polimórfico
difusos de IgA e C3. Tratamento de suporte,
e em caso de importante
O anatomopatológico cutâneo da vasculite por IgA acometimento Imunoglobulinas e AAS
evidencia vasculite leucocitoclástica com depósitos gastrointestinal e renal,
de C3 e IgA. glicocorticoide
Fonte: Elaborada pela autora.
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Na VUH, acredita-se que um complexo autoanticorpo A angeíte benigna tem predileção pelo parênquima
– C1q – antígeno seja responsável pela ativação encefálico, um curso mais agudo, febre, cefaleia e
do sistema complemento via clássica, levando à alterações focais. A arteriografia mostra dilatações,
degranulação de mastócitos pelas anafilotoxinas. aneurismas e estenoses. No exame de ressonância,
evidenciam-se infartos cerebrais.
As alterações laboratoriais mostrarão consumo de
C3 e C4 e aumento de provas de atividade inflama-
tória. Também, para fins de pesquisa de doenças
associadas, solicitam-se autoanticorpos como FAN,
anti-Dna, anti-Ro, anti-Sm, sorologias virais, eletro-
forese de proteínas e pesquisa de crioglobulinas.
A biópsia cutânea é descrita como vasculite leu-
cocitoclástica.
O tratamento é dirigido à doença de base e gravidade
da doença. Geralmente são utilizados anti-histamí-
nicos, corticoide e imunossupressores.
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sentar 3 padrões: granulomatoso, linfocítico e necro- (TROMBOANGEÍTE OBLITERANTE)
sante.
A Síndrome de Vasoconstrição Cerebral Reversível Apesar de a Doença de Buerger (DB) estar no capítulo
(SVCR) é o diagnóstico diferencial mais comum, e de vasculites, essa entidade não é considerada uma
a única maneira de diferenciar as duas é repetindo vasculite propriamente dita. Isso porque a lesão
a arteriografia em 12 semanas. No caso da VPSN, histopatológica consiste em trombo com intenso
as alterações não terão revertido, e na SVCR haverá infiltrado inflamatório e pouco infiltrado no vaso. No
reversibilidade. entanto, foi por essa pouca inflamação no vaso que
acabou fazendo parte do grupo das vasculites. Vere-
O tratamento é feito com corticoterapia na forma mos que manifestações vasculíticas sistêmicas não
de pulso e depois manutenção via oral, associada ocorrem nessa doença, e a isquemia e a gangrena
à imunossupressão com ciclofosfamida. digitais são decorrentes de oclusão trombótica.
A DB é mais comum em homens em torno dos 40 anos.
DIA A DIA MÉDICO
O tabagismo é o fator relacionado em 100% dos casos
e atua como um agente causal na doença. Pacientes
que cessam o tabagismo não desenvolvem DB.
Casos de vasculite primária SNC são vistos na neurologia
e não são acompanhados pelo reumatologista, por se Acomete vasos de médio calibre no nível dos punhos
limitarem ao SNC. e tornozelos, sem envolvimento de outros órgãos.
Manifesta-se clinicamente com isquemia e gangrena
digital de mãos e pés. A manifestação mais inicial,
e que antecede a isquemia, é a tromboflebite, mas
geralmente passa despercebida ou não é relatada
ao médico pelo paciente.
223
Vasculites sistêmicas primárias Reumatologia
Figura 23. Gangrena do terceiro dedo com Ao exame físico, o Teste de Allen está alterado em
flogismo proximal na doença de Buerger. 60% dos casos, indicando alteração circulatória
das mãos.
Dos exames complementares, o ecocardiograma é
solicitado para se afastarem fenômenos cardioem-
bólicos. A arteriografia é um método de grande
auxílio e evidencia obstruções vasculares agudas
intercaladas por trechos normais. Em caso de bióp-
sia, o achado é de tromboangeíte, ou seja, trombo
com intenso infiltrado inflamatório e microabscessos
e o vaso com pouco infiltrado.
Figura 24. Teste de Allen. A - Palidez associada à oclusão do fluxo da artéria radial e ulnar na mão; B - Retorno rápido
da vermelhidão para a mão após a liberação da pressão da artéria radial, confirmando o fluxo através da artéria radial.
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Fonte: Foreman et al.26
224
Vasculites sistêmicas primárias Cap. 8
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Vasculite granulomatosa. Asma, púrpura,
Granulomatose com
mononeurite múltipla, hipereosinofilia, polipose
poliangiíte eosinofílica
nasal, miocardite eosinofílica. P – ANCA +.
225
Vasculites sistêmicas primárias Reumatologia
Normal
Complemento
Consumido
Positivo
ANCA
Negativo
Granuloma/
Idade
infiltração QUAL A
granulomatosa
VASCULITE Epidemiologia
SISTÊMICA?
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Calibre do vaso Gênero
Imunofluorescência Anatomopatológico
Necrose fibrinóide
Tipo de infiltrado
( ex. eosinofílico,
neutrofílico)
Pequeno
Pelas
manifestações
clínicas, qual o
Médio calibre de vaso
preferencialmente
acometido?
Grande
226
Vasculites sistêmicas primárias Cap. 8
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227
Vasculites sistêmicas primárias Reumatologia
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1 Questão 3
(ENARE/EBSERH - DF – 2022) Em relação à arterite tem- (AUTARQUIA MUNICIPAL DE SAÚDE DE APUCARANA – PR – 2021)
poral (ou arterite de células gigantes), é correto Mulher, 50 anos, G3P2A1, menopausada há 3 anos
afirmar que: em uso de isoflavona, apresenta lesões ulceradas,
dolorosas em região genital. Refere apresentar le-
⮦ O uso de anti-inflamatórios não esteroidais (AINE) sões orais semelhantes já há alguns anos. Ao exame
está indicado. físico apresenta lesão ulcerada em grandes lábios
⮧ O uso de glicocorticoides em altas doses pode com fundo necrótico e hiperemia local. Exames
aumentar o risco de perda visual permanente. complementares realizados: VDRL (negativo), HIV
⮨ Quase nunca ocorre antes dos 50 anos de idade. (negativo), Gram e citologia da lesão (inespecífico).
⮩ É mais comum na população afrodescendente. O diagnóstico mais provável é:
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⮨ Doença de Behçet.
Questão 2 ⮩ Síndrome de Reiter.
(AUTARQUIA MUNICIPAL DE SAÚDE DE APUCARANA – PR – 2021)
Menino, 10 anos de idade com história de febre bai- Questão 4
xa, cefaléia e dor abdominal há 10 dias. Começou
a apresentar lesões de pele urticariformes, que (BENEFICIÊNCIA PORTUGUESA DE RIBEIRÃO PRETO – SP – 2021)
evoluíram para petéquias e púrpuras. Ao exame Criança de 5 anos, sexo masculino, previamente
apresenta púrpura palpável em região de membros hígido e vacinas em dia, é trazido ao PS por surgi-
mento há 2 dias de manchas avermelhado-vinhosas
inferiores e nádegas, edema e artrite em joelhos e
elevadas em membros inferiores, acompanhado de
tornozelos. Os exames laboratoriais mostram ane-
dor abdominal e edema e dor em tornozelos e co-
mia leve, 18000 leucócitos/mm³, plaquetas 160.000/
tovelos. Sem sopro cardíaco ao exame físico. Exa-
mm³. Sobre o caso clínico é correto afirmar que o
mes complementares: hemograma sem alterações
diagnóstico desse paciente é: de série vermelha, leucocitose discreta, plaquetas
⮦ Doença de Kawasaki normais, PCR elevado, urinálise com hematúria,
antiestreptolisina 0 de 500, swab de orofaringe ne-
⮧ Meningococcemia. gativo, ECG sem alterações. Qual a principal hipó-
⮨ Púrpura de Henoch-Schonnlein. tese diagnóstica?
⮩ Poliarterite nodosa.
⮦ Glomerulonefrite difusa aguda.
⮧ Síndrome hemolítico-urêmica.
⮨ Febre reumática.
⮩ Vasculite por IgA.
228
Vasculites sistêmicas primárias Cap. 8
(HOSPITAL ISRAELITA ALBERT EINSTEIN – SP – 2021) Vasculite ⮦ Vasculite de pequenos vasos, com presença de
de pequenos e médios vasos, que acomete predo- granulomas infiltrados por eosinófilos.
minantemente homens, entre 40 e 60 anos. Febre é ⮧ Vasculite necrotizante de vasos pequenos e mé-
a manifestação clínica inicial mais comum e a po-
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dios, com pouco depósito de imunocomplexos.
liartrite é assimétrica, não deformante, das grandes
⮨ Vasculite necrotizante de pequenos vasos, com
articulações de membros inferiores. Sem tratamen-
granulomas que invadem os tecidos subjacentes
to, a doença é progressiva com hipertensão grave
e insuficiência renal crônica. Até 30% dos casos ⮩ Vasculite de vasos médios, com necrose seg-
apresentam positividade sérica para os antígenos mentar das camadas musculares, principalmente
de superfície HbSAg e Anti-Hbs do vírus da hepa- nas ramificações dos vasos
tite B. As características descritas são relativas a: ⮪ Panarterite com infiltrado mononuclear, apresen-
tando hiperplasia e fibrose da camada íntima,
⮦ Púrpura Henoch-Schönlein. além de ruptura da lâmina elástica e aumento
⮧ Poliarterite nodosa. da vascularização da camada média
⮨ Arterite de Takayasu.
⮩ Granulomatose de Wegener. Questão 9
⮪ Crioglobulinemia.
(SECRETARIA MUNICIPAL DA SAÚDE – SP – 2021) Quanto à ar-
terite de células gigantes, é INCORRETO afirmar que:
Questão 7
⮦ Apresenta taxa de sedimentação de eritrócitos
(HOSPITAL NAVAL MARCÍLIO DIAS – RJ – 2021) A condição (ESR) acentuadamente elevada.
clínica definida como granulomatose eosinofílica ⮧ Ocorre principalmente em pacientes com mais
com poliangeíte e caracterizada por asma, eosino- de 50 anos de idade.
filia periférica e tecidual, formação de granulomas
⮨ É particularmente comum em afro-americanos.
extravasculares e vasculite de múltiplos órgãos é a:
⮩ Há rigidez simétrica matinal.
⮦ Poliarterite nodosa.
229
Vasculites sistêmicas primárias Reumatologia
Questão 10 Questão 11
(UNIEVANGÉLICA DE ANÁPOLIS – GO – 2021) Lactente sexo (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ – PA – 2021) Paciente
masculino, 12 meses de idade, conduzido ao pron- de 23 anos com quadro de ulcerações bucais e
to socorro com história de febre alta persistente genitais recorrentes, muito dolorosas e profundas,
há 7 dias, irritabilidade e exantema difuso. Há 5 com base necrótica central amarelada. Após 10
dias evoluiu associado ao quadro com hiperemia dias com uso de sintomáticos as lesões desapare-
conjuntival, sem secreção, e boca ressecada com ceram sem deixar cicatrizes. Assinale a Síndrome
fissuras. Nega doenças anteriores. Ao exame: irrita- que corresponde a este quadro clínico.
do, choroso, eupneico, febril, hidratado, anictérico,
acianótico. Sem rigidez de nuca. Oroscopia: fissu- ⮦ Doença de Kawasaki.
ras e hiperemia labial e de orofaringe, proeminência ⮧ Síndrome do arco aórtico.
das papilas linguais, ausência de aftas, úlceras ou ⮨ Síndrome de superposição da poliangiite.
exsudatos. Presença de gânglio palpável cervical ⮩ Síndrome de Behçet.
posterior a esquerda, unilateral, 2 cm de diâmetro.
⮪ Síndrome de Reiter.
Presença de exantema polimórfico, predominante
em tronco e períneo, sem vesículas. Hiperemia con-
juntival bilateral, sem secreção. Frequência cardía- Questão 12
ca: 160 bpm. Frequência respiratória: 40 ipm. Sem
alterações na ausculta pulmonar ou cardíaca. Exa- (AUTARQUIA MUNICIPAL DE SAÚDE DE APUCARANA – PR – 2020)
mes laboratoriais mostram hemograma: hemoglo- Homem, 45 anos, em consulta médica, refere con-
bina 9,8 mg/dl (Valor de Referência (VR): 11-14 mg/ gestão nasal e sinusite recorrentes, além de disp-
dl), hematócrito 30% (VR: 33-45%), VCM (Volume neia, tosse com hemoptise e emagrecimento de
Corpuscular Médio): 69,2 (VR: 75-100), leucócitos oito quilos no último ano. Os exames laboratoriais
mostraram anemia normocrômica e normocítica,
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23.300 mm3 (VR: 6000-17500 mm3), bastões 4%,
segmentados 81%, eosinófilos 0%, monócitos 6%, trombocitose, velocidade de hemossedimentação
linfócitos 9%. Plaquetas 450.000 ml/mm3 (VR: 200- (VHS) elevada, aumento nos níveis de uréia e crea-
500). VHS (velocidade de hemossedimentação): tinina e sedimento urinário comproteinúria e leuco-
120mm (VR: até 20mm). PCR (proteína C reativa): citúria. Frente a este quadro clínico o diagnóstico é:
90 mg/dl (VR: menor que 0,5 mg/dl). Qual o diag-
⮦ Granulomatose de Wegener.
nóstico mais provável?
⮧ Poliarterite nodosa.
⮦ Doença de Kawasaki. ⮨ Arterite de Takayasu.
⮧ Escarlatina. ⮩ Arterite de células gigantes.
⮨ Adenite bacteriana.
⮩ Meningite
230
Vasculites sistêmicas primárias Cap. 8
GABARITO E COMENTÁRIOS
Alternativa A: INCORRETA. O uso de AINEs não faz Alternativa D: INCORRETA. A poliarterite nodosa se
parte do arsenal terapêutico. manifesta com febre, fadiga, suor noturno, hiporexia,
perda ponderal, neuropatia periférica assimétrica. É
Alternativa B: INCORRETA. O uso de corticoide é tra-
mais frequente em indivíduos adultos, e portadores
tamento na arterite de células gigantes. Alternativa
de hepatites C e B.
C: CORRETA. O vaso envelhecido faz parte da fisio-
patogenia da arterite, sendo ambiente propício para ✔ resposta: C
o início da vasculite.
Alternativa D: INCORRETA. Parece ser mais comum Questão 3 dificuldade:
em caucasianos.
Y Dica do professor: Lembrar que uma IST é fator de
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Alternativa E: INCORRETA. O que define o modo e a
risco para outras ISTs!
dose do corticoide é a presença de amaurose e não
resultado da biópsia. Alternativa A: INCORRETA. Não gera úlceras orais!
✔ resposta: C Alternativa B: INCORRETA. Cursa com úlcera indolor
de fundo limpo, sem lesões orais.
Alternativa C: CORRETA. Úlceras genitais associa-
Questão 2 dificuldade:
das a orais são altamente sugestivas de Doença
Y Dica do professor: A presença de púrpura palpável de Behçet.
e de dor abdominal em um indivíduo < 20 anos de Alternativa D: INCORRETA. É artrite reativa!
idade preenchem critérios necessários para que ✔ resposta: C
fechemos o diagnóstico de Púrpura de Henoch-S-
chönlein, o que é corroborado com a artrite, anemia
leve, leucocitose e plaquetopenia. Questão 4 dificuldade:
Alternativa A: INCORRETA. A Doença de Kawasaki Y Dica do professor: Escolar com presença de man-
se manifesta com febre de duração > 5 dias, ge- chas avermelhado-vinhosas elevadas em membros
ralmente > 39°C, associada à conjuntivite bilateral inferiores, acompanhado de dor abdominal e ede-
não exsudativa, exantema polimorfo, artrite. É mais ma e dor em tornozelos e cotovelos nos indica que
comum em < 5 anos de idade. estamos diante da Púrpura de Henoch-Schönlein,
Alternativa B: INCORRETA. A meningococcemia não atualmente chamada de Vasculite por IgA.
se apresenta com um quadro tão arrastado, po- Alternativa A: INCORRETA. Se fosse glomerulonefrite
dendo levar a óbito em 24 a 48 horas, não for ade- difusa aguda o teste antiestreptolisina daria >500
quadamente tratada. Se manifesta com febre alta, e o swab positivo.
231
Vasculites sistêmicas primárias Reumatologia
Alternativa B: INCORRETA. Os sintomas que sugerem calibre apresentando, como critérios clínicos, febre
SHU são história de diarreia com sangue seguida por 5 dias ou mais (obrigatório), congestão conjun-
de sinais e sintomas de anemia, trombocitopenia tival bilateral, alteração em lábio e cavidade oral,
e insuficiência renal. adenomegalia cervical não supurativa, exantema
Alternativa C: INCORRETA. A Febre Reumática de- polimorfo e eritema e edema palmo plantar (alter-
corre da resposta imune tardia após uma infecção nativa E incorreta).
faríngea por cepas reumatogênicas de estreptoco- ✔ resposta: B
cos beta-hemolítico do grupo A, e se este fosse o
diagnóstico o teste antiestreptolisina daria >500 e
o swab positivo. Questão 6 dificuldade:
Alternativa D: CORRETA. A vasculite por IgA é caracte- Y Dica do professor: Você pode não lembrar de todas
rizada por uma tétrade: 1) rash petequial em mem- as características das vasculites, mas lembre-se da
bros inferiores e nádegas; 2) artralgia/artrite; 3) dor associação de poliarterite nodosa com hepatite B
abdominal, podendo haver sangramento digestivo; e vasculite crioglobulinêmica com hepatite C. Com
4) acometimento renal, relacionado à presença de isso já matava a questão.
depósitos de IgA no mesângio dos glomérulos, Alternativa A: INCORRETA. A vasculite por IgA (Púrpu-
podendo ou não cursar com síndrome nefrítica e/ ra de Henoch-Schönlein) é uma vasculite preferen-
ou nefrótica. cialmente de pequenos vasos e a mais comum da
✔ resposta: D infância. Acomete mais meninos, e se caracteriza
pela presença da púrpura palpável não trombotico-
pênica em membros inferiores e nádegas, após um
Questão 5 dificuldade:
episódio de IVAS.
Y Dica do professor: Criança de 10 anos com úlce- Alternativa B: CORRETA. A poliarterite nodosa é uma
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ras orais dolorosas recorrentes, úlceras genitais e vasculite preferencial de médios vasos, poupa ar-
artrite de joelho direito e tornozelo esquerdo, tam- teríolas, vênulas e capilares, mas pode pegar pe-
bém recorrentes. Este é um quadro compatível com quenas artérias. Não cursa com glomerulonefrite,
Doença de Behçet, vasculite que envolve vasos de mas pode causar insuficiência renal e hipertensão
qualquer calibre. Seu diagnóstico é fornecido pela por envolvimento de artéria renal e ramos intrarre-
clínica, associado ou não a arteriografia pulmonar, nais. A manifestação mais comum são os sintomas
e o tratamento envolve a utilização de prednisona constitucionais e depois a mononeurite múltipla. Ao
e ciclofosfamida (alternativa B correta). A derma- contrário do que o enunciado diz, a artralgia não é
tomiosite juvenil, marcada pelo início da doença o mais comum e a frequência gira em torno de 50-
antes dos 16 anos de idade, caracteriza-se por aco- 60%. Pode ser idiopática ou associada a uma condi-
metimento inflamatório da pele e dos músculos. ção infecciosa, sendo o mais comum a Hepatite B.
Eventualmente pode apresentar-se apenas com Alternativa C: INCORRETA. Arterite de Takayasu é uma
manifestações musculares e mais raramente, ape- vasculite preferencial de grandes vasos, acomete
nas com manifestações cutâneas (dermatomiosite mulheres entre 20-30 anos de idade e o marco é a
amiopática) – alternativa A incorreta. A síndrome claudicação de membros e assimetria de pulso e
inflamatória multissistêmica é conhecida como pressão arterial.
Síndrome de Kawasaki like, marcada clinicamente
Alternativa D: INCORRETA. A Granulomatose com
por febre, rash, vômitos e alterações oculares como
Poliangiite (GPA) é uma vasculite preferencial de
conjuntivite (alternativa C incorreta). A Síndrome de
pequenos vasos e uma causa importante de síndro-
Sjögren é conhecida como “síndrome seca” sendo
me pulmão-rim. Dentre as vasculites ANCA é a que
representada, principalmente por xeroftalmia (sen-
cursa com envolvimento de vias aéreas superiores.
sação de areia em região ocular) e xerostomia (boca
seca) – alternativa D incorreta. Por fim, a Síndrome Alternativa E: INCORRETA. A vasculite crioglobuli-
de Kawasaki é uma vasculite de vasos de médio nêmica é uma vasculite preferencial de pequenos
232
Vasculites sistêmicas primárias Cap. 8
vasos. A principal causa é o vírus da hepatite C. A Alternativa C: INCORRETA. É mais comum em bran-
púrpura é a manifestação mais comum. cos, sendo rara em negros.
✔ resposta: B Alternativa D: CORRETA. Paciente podem apresen-
tar rigidez matinal na região cervical e cinturas es-
capular e pélvica.
Questão 7 dificuldade:
✔ resposta: C
Y Dica do professor: A granulomatose com polian-
geíte é a nomenclatura atual da antiga Granuloma-
Questão 10 dificuldade:
tose de Wegener, enquanto a granulomatose com
poliangeíte eosinofílica é a nomenclatura atual do Y Dica do professor: Quando estamos diante de
antigo Churg Strauss. um paciente com febre há mais de 5 dias, como
✔ resposta: D é o caso desta questão, devemos ficar atentos à
possibilidade de Doença de Kawasaki. Essa febre
deve ser associada a pelo menos 4 das seguintes
Questão 8 dificuldade: características, para fecharmos o diagnóstico: exan-
Y Dica do professor: O enunciado traz um asmático tema (presente no paciente), alterações nos lábios
com descontrole da doença apesar da terapia otimi- e cavidade oral (eritema, fissuras labiais, língua em
zada e que foi submetido à biópsia transbrônquica framboesa, hiperemia difusa de mucosa - ou seja,
para investigação. Observamos pelas alternativas também presente no paciente); hiperemia conjun-
que se trata de um quadro de vasculite. Quando tival bilateral sem secreção (presente), alterações
pensamos na associação asma grave e vasculite, nas extremidades (eritema e edema de palmas e
devemos automaticamente pensar em granuloma- planta dos pés, ou descamação periungueal dos
tose eosinofílica com poliangeíte. Como o próprio dedos dos pés e das mãos); linfonodomegalia cer-
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nome descreve, os achados anatomopatológicos vical >1,5 cm, sem sinais flogísticos (também pre-
envolvem a presença de granulomas infiltrados por sente). Assim, nosso paciente preenche critérios
eosinófilos (A). As demais alternativas trazem vas- para a doença, e seu hemograma demonstrando
culites que não apresentam associação com asma. anemia, leucócitos ≥15.000 e plaquetas ≥450.000,
as provas inflamatórias (VHS e PCR) elevados cor-
✔ resposta: A roboram para este diagnóstico.
Alternativa A: CORRETA. Conforme a dica.
Questão 9 dificuldade: Alternativa B: INCORRETA. A escarlatina é mais fre-
quente em crianças > 3 anos de idade, o que por si
Y Dica do professor: A Arterite Temporal, também
só já a tornaria um diagnóstico menos provável, e
conhecida como arterite de células gigantes, arte-
costuma apresentar-se com um quadro de infecção
rite craniana e arterite granulomatosa, é a vasculite
de vias aéreas superiores associado a febre alta
sistêmica primária mais comum em adultos e aco-
previamente, o que não é mencionado na questão,
mete artérias de grande e médio calibre.
que indica que a febre iniciou juntamente com o
Alternativa A: CORRETA. A taxa de sedimentação de exantema. Não costuma se manifestar-se com lin-
eritrócitos ou Velocidade de Hemossedimentação fonodomegalia ou hiperemia conjuntival, apesar de
(VHS) é tipicamente elevado e utilizado como mar- haver exantema difuso, que neste caso é micropa-
cador de atividade da doença. Encontra-se quase pular em lixa, e língua em framboesa.
sempre acima de 50 mm/h (normal: até 10 mm/h,
Alternativa C: INCORRETA. A adenite bacteriana cos-
para homens, e até 15 mm/h, para mulheres).
tuma apresentar-se com linfonodomegalia asso-
Alternativa B: CORRETA. A doença é mais comum ciada a sinais flogísticos e em alguns casos, com
em pacientes acima de 50 anos. pontos de supuração, o que não é o caso de nosso
233
Vasculites sistêmicas primárias Reumatologia
paciente. Não explicaria o exantema ou as altera- Alternativa B: INCORRETA. A síndrome do arco aór-
ções mucosas. tico, que se refere a Arterite de Takayasu, é uma
Alternativa D: INCORRETA. Como a criança apresenta condição que acomete mulheres jovens, sendo
menos de 2 anos de idade, a meningite pode apre- caracterizada por claudicação de MMSS, pulsos e
sentar-se mais frequentemente sem meningismos, pressões assimétricos em MMSS, sopros em caró-
entretanto a presença de exantema, as alterações tida, subclávia e aorta, hipertensão renovascular, o
da oroscopia e a linfadenomegalia não são tão clás- que não é o caso em questão.
sicas da meningite quanto da Doença de Kawasaki. Alternativa C: INCORRETA. Na síndrome de super-
Além disso, seria esperado que o estado geral do posição da poliangeíte, como o próprio nome já
lactente estivesse mais comprometido. diz, é caracterizada pela superposição de diversas
✔ resposta: A síndromes, podendo ter sinais que falam a favor de
uma granulomatose eosinofílica ou achados com-
patíveis com uma granulomatose com poliangeí-
Questão 11 dificuldade: te. O paciente em questão possui apenas úlceras
orais e genitais, o que não condiz com os achados
Y Dica do professor: Estamos diante de um paciente
dessa doença.
jovem com quadro de ulcerações bucais e genitais
recorrentes, dolorosas e profundas, com base ne- Alternativa D: CORRETA. Vide “dica do professor”.
crótica central amarelada. Fez uso de sintomáticos Alternativa E: INCORRETA. A Síndrome de Reiter é uma
com melhora das lesões, sem deixar cicatrizes. artrite reativa pós-infecciosa que pode cursar com
Diante disso, a principal suspeita para o caso seria dactilite, balanite circinada e úlceras orais.
de uma Síndrome de Behçet. A Doença de Behçet é ✔ resposta: D
caracterizada por uma vasculite sistêmica que aco-
mete homens e mulheres jovens (faixa de 25 a 35
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anos de idade) na mesma proporção. Inicialmente, Questão 12 dificuldade:
234
Vasculites sistêmicas primárias Cap. 8
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membros superiores, sopros cervicais, supraclavi-
culares, axilares ou abdominais, além de claudica-
ção de membros e isquemia periférica.
Alternativa D: INCORRETA. A Arterite de células gigan-
tes é uma vasculite granulomatosa crônica, e suas
manifestações clínicas dependem da localização da
isquemia relativa ou absoluta dos territórios irrigados
pelos vasos afetados. Clinicamente, a maioria dos
casos tem um início insidioso, explicando a demora
até ao diagnóstico que tantas vezes se observa nes-
ta doença. A perda da visão por neuropatia óptica
isquêmica anterior é a complicação mais temida,
além de infartos cerebrais e aneurisma da aorta.
No enfoque otorrinolaringológico, podem ocorrer
perda auditiva neurossensorial e necrose lingual.
✔ resposta: A
235
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236
Capítulo
SÍNDROME ANTIFOSFOLÍPIDE
9
importância/prevalência
u A Síndrome Antifosfolípide (SAF) é a trombofilia adquirida mais comum e acomete principalmente adultos
jovens, com predileção pelo sexo feminino.
u Caracteriza-se clinicamente por morbidade gestacional e tromboses arteriais e/ou venosas.
u Os anticorpos antifosfolípides, são: anticardiolipina, anticoagulante lúpico, anti-β2 glicoproteína.
u O anticardiolipina é o mais sensível para SAF e pode gerar falsa positividade do VDRL. O anti-β2 glicoproteína
e o anticoagulante lúpico são mais específicos para SAF, e o mais trombótico é o anticoagulante lúpico.
u Para classificar um paciente como portador de SAF, deve-se preencher um critério clínico e um critério
laboratorial (antifosfolípides positivos em pelo menos 2 ocasiões com intervalo de pelo menos 12 semanas).
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víduo que apresenta fenômeno trombótico; SAF
gestacional para morbidade na gestação; e SAF
catastrófica para múltiplas tromboses.
BASES DA MEDICINA
237
Síndrome antifosfolípide Reumatologia
A distribuição entre SAF primária e secundária é Na fisiopatologia da SAF, temos um ambiente pró-
praticamente meio a meio, sendo 36% secundária -trombótico: por um lado, o aumento de fatores
ao LES. A SAF catastrófica é rara. pró-coagulantes, como agregação plaquetária,
tromboxano A2, ativação endotelial, fator tecidual,
estresse oxidativo e moléculas de adesão, e, por
DIA A DIA MÉDICO outro, a redução da fibrinólise e dos anticoagulantes
naturais (2 glicoproteína, proteína C, atividade anti-
Na rotina médica, é importante suspeitar de SAF em trombina). Esse ambiente pró-trombótico é gerado
indivíduos jovens que apresentam quadros trombóticos pela interação dos anticorpos antifosfolípides com
sem possuir fatores de risco para trombose. células endoteliais, monócitos e plaquetas e com as
proteínas relacionadas à regulação da coagulação.
Portanto, a presença dos anticorpos antifosfolípides
3. FISIOPATOLOGIA (aPL) é fundamental como um dos gatilhos para
a doença (first hit), porém existe a necessidade
de um segundo gatilho (second hit), que pode ser
BASES DA MEDICINA infeccioso, pós-cirúrgico, imobilização prolongada,
estado inflamatório etc.
Existem evidências de que os anticorpos antifosfolípides
A patogênese focada na SAF obstétrica não foi
são patogênicos, e não simplesmente marcadores soro-
lógicos para a SAF. No entanto, a presença persistente totalmente elucidada. Trombose intraplacentária,
dos anticorpos na circulação não é suficiente para a deficit na invasão trofoblástica e produção de gona-
formação de coágulos in vivo. Portanto, o mais aceito dotrofina coriônica humana são aspectos sugeridos.
é a “hipótese de dois eventos”, a qual sustenta que os
anticorpos antifosfolípides (primeiro evento) exercem
sua ação pró-trombótica na presença de outra condição
trombofílica (segundo evento).
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Figura 1. Patogênese da SAF.
238
Síndrome antifosfolípide Cap. 9
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e uma série de outras manifestações que não fazem
parte dos critérios classificatórios podem estar presentes
(manifestações não critério).
239
Síndrome antifosfolípide Reumatologia
Diátese
trombótica Classificação
autoimune
Trombose Presença de
venosa e Morbidade Anticorpos
Primária Secundária
arterial gestacional Antifosfolípides
recorrente (AAFs)
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AAF incluídos Ausência de Presença de LES
nos critérios de outras doenças ou outra doença
classificação autoimunes autoimune
Antibeta2-
Anticardiolipina Anticoagulante
glicoproteína I
(aCL) Lúpico (LA)
(antibeta2-GPI)
Epidemiologia
Uma das
Predomínio em
trombofilias Predomínio no
adultos jovens
adquiridas mais sexo feminino
e de meia-idade
frequentes
240
Síndrome antifosfolípide Cap. 9
4.2. MANIFESTAÇÕES NÃO CRITÉRIO geral mais que 3, em sítios diferentes e com aco-
metimento da microcirculação.
Algumas manifestações não são relacionadas direta- O rim é o órgão mais afetado, envolvido em 71% dos
mente com trombose, mas estão associadas à SAF casos, principalmente sob a forma de microangio-
e não fazem parte dos Critérios Classificatórios de patia trombótica. A microangiopatia renal origina
Sydney. São elas: livedo reticular, necrose avascular, frequentemente a insuficiência renal rapidamente
coreia, mielite transversa, úlceras crônicas, valvopa- progressiva, necessitando de suporte dialítico
tia e endocardite de Libman-Sacks, microangiopatia de urgência, casos em que a hipertensão arterial
trombótica renal, plaquetopenia, anemia hemolítica maligna é frequente. Em seguida, estão os pulmões
mediada por autoanticorpos ou microangiopática (64%), sendo a Síndrome do Desconforto Respirató-
e convulsões. rio Agudo (SARA) a principal manifestação; porém,
Figura 2. Biópsia renal mostrando ainda podem ocorrer embolia pulmonar, hipertensão
microangiopatia trombótica. de artéria pulmonar, com o desenvolvimento de cor
pulmonale agudo, e insuficiência ventricular direita
grave. O 3° órgão mais afetado é o cérebro (62%),
principalmente na forma de tromboses que levam
a múltiplos infartos, podendo promover quadros de
coma e convulsões.
O diagnóstico diferencial entre púrpura tromboci-
topênica trombótica, síndrome hemolítico-urêmica
ou coagulação intravascular disseminada pode ser
desafiador.
O tratamento é agressivo, combinado de anticoa-
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gulação, corticosteroides e plasmaférese ou imu-
noglobulina intravenosa/ciclofosfamida.
Fonte: Strakhan et al.¹
241
Síndrome antifosfolípide Reumatologia
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histopatologia deve Uma ou mais mortes de feto mor- presume-se a presença de um inibidor.
excluir vasculite. fologicamente normal com mais
de 10 semanas de idade gestacio-
u Dependência de fosfolípides: adicionam-se fosfo-
nal, com morfologia fetal normal lípides, que servem de substrato para o inibidor,
detectada por ultrassonografia ou com consequente ligação e correção do teste.
exame direto do feto.
Fonte: Adaptada de Carvalho et al.²
242
Síndrome antifosfolípide Cap. 9
Mapa mental. A três etapas dos testes para anticoagulante lúpico (ACL)
Tempo de coagulação
Tempo de coagulação normal
prolongado
Não corrige o
Corrige o tempo de coagulação
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tempo de coagulação
243
Síndrome antifosfolípide Reumatologia
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após 12 semanas.
A pesquisa de anticorpos contra outros fosfolípides e que
não fazem parte dos critérios classificatórios, tais como
fosfatidilserina e fosfatidiletanolamina, assim como con-
tra complexos de proteína fosfolípide, como o complexo
fosfatidilserina, e o domínio 1 da beta2-GPI, tem sido
realizada por alguns laboratórios. No entanto, o papel
de cada um desses autoanticorpos na fisiopatogenia e
associações clínicas, permanece alvo de estudos.
244
Síndrome antifosfolípide Cap. 9
Método: ensaios
Método: ELISA Método: ELISA funcionais da coagulação
(3 etapas)
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Reatividade cruzada com Maior associação
Mais específico que
testes para sífilis (“positivo com a presença de
o anticardiolipina
falso biológico” para sífilis) fenômenos trombóticos
Mais sensível e
menos específico
245
Síndrome antifosfolípide Reumatologia
Para o tratamento específico da SAF, o arsenal O uso, a segurança e a eficácia dos novos anticoa-
medicamentoso envolve: Ácido Acetilsalicílico (AAS), gulantes na SAF não estão bem estabelecidos até
clopidogrel, varfarina, Heparina Não Fracionada o momento. Os dados sobre a rivaroxabana são
limitados e contraditórios.
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mg/kg/dia + AAS 100 mg/ • Varfarina (INR 2.0-3.0 com
dia • Venosa: Anticoagulação
AAS), (INR 2.5-3.5)
com HBPM ou HNF ou var-
• SAF gestacional fora da farina (INR entre 2 – 3) • Se Stent ou intervenção per- • Cardioembólico: anticoagu-
gestação: AAS 100 mg/dia cutânea coronárias: Varfa- lação com HBPM ou HNF ou
• Arterial: Anticoagulação varfarina (INR entre 2 – 3)
• SAF gestacional com evento rina (INR 2.0-3.0) + clopi-
com HBPM ou HNF ou var-
trombótico prévio: HBPM 1 dogrel 75 mg/d + AAS 100
farina (INR entre 2,5 – 3,5)
mg/kg 2x ao dia + AAS 100 mg/d
mg/dia
246
Síndrome antifosfolípide Cap. 9
Trombose arterial
e/ou venosa
Manifestações
critério
Morbidade
gestacional
SÍNDROME
ANTIFOSFOLÍPIDE Coreia
Mielite
Manifestações
não critério
Livedo
reticular
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Tratamento Necrose
avascular
Microangiopatia
trombótica renal
SAF SAF Secundária
trombótica gestacional ao LES
Plaquetopenia
Anemia
hemolítica
Endocardite de
Libman-Sacks
Valvopatia
Úlceras
crônicas
247
Síndrome antifosfolípide Reumatologia
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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Marques Neto JF, Vasconcelos JTS, Shinjo SK, Radominski
SC. Livro da Sociedade Brasileira de Reumatologia. 2 ed. São
Paulo: Manole; 2021.
248
Síndrome antifosfolípide Cap. 9
QUESTÕES COMENTADAS
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⮩ Anticorpo anti-beta2 glicoproteína 1. ⮦ 1,0 e 2,0.
⮪ Anticorpo anti-LKM1. ⮧ 1,5 e 2,5.
⮨ 2,0 e 3,0.
Questão 2 ⮩ 3,0 e 4,0.
249
Síndrome antifosfolípide Reumatologia
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arteriais e venosos. É tabagista (10 maços-ano) e meses tem apresentado episódios de pressão ar-
faz uso de contraceptivo conjugado via oral há cin- terial elevada. Faz uso de varfarina há 5 anos sem
co anos. A anamnese, o exame físico e os exames controle regular do RNI. Ao exame físico apresenta
complementares indicam síndrome de anticorpo PA= 180x100 mmHg, sem outras alterações. Exames
antifosfolipídio (SAF) primária. Esse fato foi refor- laboratoriais: creatinina = 1,2 mg/dL (VR = 0,5 -1,3);
çado pela exclusão de eventos arteriais devidos a Urina 1 = proteínas +/4+, leucócitos 8000/campo,
embolias paradoxais, uma vez que o ecocardiogra- eritrócitos 65.000/campo; e proteinúria = 0,9 g/24h.
ma com microbolhas afastou a existência de fora- Assinale a alternativo correta:
me oval patente ou outros shunts intracardíacos.
O conjunto de dados relatados no prontuário da ⮦ A biópsia renal é útil para o diagnóstico de ne-
paciente, para a construção da hipótese diagnós- fropatia da síndrome antifosfolípide e a histolo-
tica de SAF, é: gia mostra microangiopatia trombótica na fase
crônica da doença.
⮦ História de hanseníase na adolescência, ausculta
⮧ O diagnóstico de lúpus eritematoso sistêmico
de plop mitral e tempo de coagulação extrema-
com nefrite lúpica e síndrome antifosfolípide
mente reduzido.
secundária se impõe, pois 20 a 40% dos pacien-
⮧ Passado de episódios recorrentes de injúria renal tes com síndrome antifosfolípide desenvolvem
aguda, detecção de placas de Hollenhorst na fun- lúpus sistêmico.
doscopia e deficiência sérica de inibidor de C1.
⮨ Paciente com síndrome antifosfolípide não evo-
⮨ História de morte fetal espontânea no quarto luem com nefropatia secundária à doença.
mês de gestação prévia, presença de livedo re-
⮩ A nefropatia da síndrome antifosfolípide pode se
ticularis e tempo de tromboplastina parcial ati-
manifestar com hipertensão arterial e hematúria;
vado prolongado.
250
Síndrome antifosfolípide Cap. 9
Questão 8
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⮩ Está relacionada à insuficiência placentária.
251
Síndrome antifosfolípide Reumatologia
GABARITO E COMENTÁRIOS
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Alternativa D: CORRETA. Os antifosfolípides são: anti- ✔ resposta: A
coagulante lúpico, anticardiolipina e anti-beta 2-gli-
coproteína.
Questão 5 dificuldade:
Alternativa E: INCORRETA. O anti-LKM1 está associa-
do à hepatite autoimune. Y Dica do professor: Síndrome do anticorpo antifos-
✔ resposta: D folípide é uma doença autoimune na qual os pacien-
tes têm autoanticorpos contra as proteínas ligadas
aos fosfolipídios, de origem ainda indeterminada,
Questão 2 dificuldade:
mas que conta com alta carga genética envolvida,
Y Dica do professor: Questão sobre abortamento possuindo risco de hereditariedade aumentado.
habitual, definido como 3 perdas CONSECUTIVAS. Nela podem ocorrer trombos venosos ou arteriais
Só com isso já chegaríamos à resposta, mas vamos nos mais diversos sítios sanguíneos. O diagnóstico
aproveitar: dosamos 3 marcadores – anticoagulante é feito por meio de exames de sangue, com a evolu-
lúpico, anticorpo anticardiolipina e beta2-glicopro- ção dos testes e o aumento da disponibilidade dos
teína. Resultados positivos em 2 amostragens se- métodos de ELISA, foram descritos os anticorpos
paradas com intervalo de pelo menos 12 semanas anticardiolipina (aCL) e o anti-beta-2-glicoproteína
fecham o diagnóstico de SAAF. I (aB2GPI), que também fazem parte dos critérios
classificatórios atuais. As manifestações clínicas
✔ resposta: C
mais características da SAF são as tromboses e
as perdas gestacionais. As tromboses podem aco-
Questão 3 dificuldade: meter qualquer leito vascular sendo as tromboses
venosas as manifestações mais frequentes, acome-
Y Dica do professor: Em pacientes com antecedente tendo predominantemente os membros inferiores
de trombose venosa e com presença de anticorpos
252
Síndrome antifosfolípide Cap. 9
e as arteriais mais prevalentes são os acidentes em o Lúpus. A princípio estamos diante de uma
vasculares encefálicos isquêmicos (AVEi). As per- SAAF primária.
das gestacionais ocorrem, caracteristicamente, no Alternativa C: INCORRETA. Como já discutido, temos
final da gestação; no entanto, podemos encontrar sim doença renal associada à SAAF.
as mais diversas formas de morbidade gestacional,
Alternativa D: CORRETA. Histologicamente o vaso
como perdas precoces recorrentes, pré-eclâmpsia,
obstruído com o material mucoide gera um aspecto
eclâmpsia e síndrome HELLP. Outras manifestações
histológico que assemelha-se ao tecido tireoidiano,
clínicas relativamente comuns, que não fazem par-
gerando o que os patologistas chamam de "pseu-
tes dos critérios classificatórios são: livedo/vascu-
dotireoidização".
lopatia livedoide, plaquetopenia (geralmente entre
50-150 mil/mm3), anemia hemolítica, enxaqueca, Alternativa E: INCORRETA. A nefropatia hipertensiva
Fenômeno de Raynaud, valvopatia (mitral > aórti- demora anos para aparecer, e o quadro de hiperten-
ca), nefropatia (microangiopatia trombótica), co- são é recente. Temos aqui provavelmente uma hiper-
reia, entre outros. Lembrando que a anticoagulação tensão secundária a uma doença parenquimatosa
costuma ser usada para prevenção e tratamento. renal, já que os achados sugestivos de glomerulo-
patia e a hipertensão apareceram ao mesmo tempo.
✔ resposta: C
✔ resposta: D
Questão 6 dificuldade:
Questão 8 dificuldade:
Y Dica do professor: A Síndrome Antifosfolípide (SAF)
é desordem sistêmica, autoimune, caracterizada por
Y Dica do professor: A Síndrome Antifosfolípide (SAF)
é uma trombofilia adquirida de origem autoimune,
trombose arterial e/ou venosa, morte fetal e abor-
responsável por eventos arteriais, venosos e obs-
tos espontâneos recorrentes, e trombocitopenia,
tétricos.
acompanhada de títulos elevados de anticorpos
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antifosfolípides (AAF): anticoagulante lúpico e/ou Alternativa A: CORRETA. A trombose venosa profunda
anticardiolipina. é a manifestação mais comum da SAF, mas podem
ocorrer outros fenômenos trombóticos, incluído
✔ resposta: A neles a trombose de veia hepática.
Alternativa B: CORRETA. Os critérios de morbidade ges-
Questão 7 dificuldade: tacional são: 3 ou mais abortamentos espontâneos
antes de 10 semanas de IG; 1 ou mais nascimento
Y Dica do professor: A SAAF tende a acometer os prematuro de feto morfologicamente normal com
rins através de uma obstrução vascular não infla- 34 semanas ou menos em virtude de DHEG ou si-
matória, que pode lesar desde as artérias renais nais de insuficiência placentária; 1 ou mais mortes
até os finos capilares glomerulares. Ocorre aqui a de feto morfologicamente normal com mais de 10
formação de trombos intraluminais, o que leva o semanas de IG.
endotélio a secretar um material mucoide e hialino Alternativa C: INCORRETA. São critérios laboratoriais
no lúmen vascular. de SAF: anticardiolipina IgM ou IgG em títulos mode-
Alternativa A: INCORRETA. Na fase crônica da doen- rados a altos, anticoagulante lúpico e anti-b2glico-
proteína IgM ou IgG em títulos moderados a altos.
ça, devido ao distúrbio de vascularização renal, há
Tais critérios devem estar presentes em 2 ou mais
necrose e perda de néfrons, com sobrecarga dos
ocasiões com intervalo de, no mínimo, 12 semanas.
remanescentes. Nessa fase sobressaem os acha-
dos de uma glomeruloesclerose focal e segmentar. Alternativa D: CORRETA. Os eventos gestacionais
ocorridos na SAF são consequência do seu alvo
Alternativa B: INCORRETA. Apesar de muitas vezes principal, a placenta, gerando assim óbitos de final
termos as 2 condições associadas, não temos no de gestação, RCIU, DHEG e prematuridade, refletindo
caso outras manifestações que nos façam pensar a insuficiência placentária ocorrida nessa doença.
✔ resposta: C
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OSTEOARTRITE E DOENÇAS Capítulo
MICROCRISTALINAS 10
importância/prevalência
u Osteoartrite
• É a doença reumática mais comum, acometendo mais mulheres após os 60 anos.
• O fator de risco mais significativo é a idade, e a obesidade é o fator modificável mais importante.
• Importante ressaltar a discrepância clínico-radiológica.
• O diagnóstico é essencialmente clínico e a radiologia tem papel auxiliar.
• Nas mãos, a OA se manifesta através de nódulos em interfalangeanas distais (Heberden) e Bouchard
(proximais).
• São achados radiográficos na osteoartrite: esclerose subcondral, redução assimétrica do espaço arti-
cular, osteófitos e cistos ósseos.
• O tratamento é analgesia associada à perda de peso e ao fortalecimento muscular.
u Artropatias microcristalinas
• A gota é uma artropatia por depósito de cristais de urato monossódico.
• Cursa com crises de monoartrite, seguida de períodos em que o indivíduo permanece assintomático.
• É mais comum em homens entre 30 e 60 anos.
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• Geralmente ocorre por diminuição da excreção de ácido úrico.
• Os cristais de urato monossódico possuem birrefringência fortemente negativa (amarelo) e formato de
agulha.
• Na crise articular de gota podem ser usados AINEs, corticoides ou colchicina.
• No tratamento crônico são usados os hipouricemiantes.
• A pseudogota ocorre por cristais de pirofosfato de cálcio, que são romboides e possuem birrefringência
fracamente positiva (azuis).
OSTEOARTRITE
255
Osteoartrite e doenças microcristalinas Reumatologia
Figura 1. Estrutura do tecido cartilaginoso. A substância fundamental da MEC é formada por glicosa-
minoglicanos (ácido hialurônico, sulfato de condroitina e
sulfato de queratano). O sulfato de condroitina e o sulfato
de queratano formam um monômero de proteoglicano.
O ácido hialurônico está associado a unidades de pro-
teoglicanos, formando grandes agregados ligados às
fibrilas de colágeno.
Os condrócitos são as principais células do tecido car-
tilaginoso e secretam colágeno (colágeno II, principal-
mente), proteoglicanos e glicoproteínas. Também são
responsáveis pela renovação controlada da MEC, em
resposta a pequenos danos causados por fadiga e carga
alterada, removendo constituintes da matriz com mau
funcionamento por quebra e produzindo novos para
Fonte: Acervo Sanar. conseguir o reparo.
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A - Condrócitos e matriz extracelular integrados por fibras de colágeno tipo II, hialuronato e proteoglicanos (PGs); B - Ultraestrutura
de PGs. PGs são unidos ao hialuronato por proteínas de ligação, o tronco de PGs é chamado de proteína central de agrecano,
e dois glicosaminoglicanos (sulfato de condroitina e queratano) formam os ramos dos PGs. *GAGs (glicosaminoglicanos).
Fonte: Acervo Sanar.
256
Osteoartrite e doenças microcristalinas Cap. 10
1. INTRODUÇÃO 3. FISIOPATOLOGIA
A osteoartrite é a doença reumática mais comum, A cartilagem hialina, responsável pelo revestimento
também denominada popularmente como artrose do osso subcondral das articulações diartrodiais,
ou osteoartrose. Apesar de erroneamente acredi- é composta por: condrócitos (principais células),
tarmos ser um processo natural do envelhecimento, colágeno tipo II, água e proteoglicanos.
trata-se de uma patologia bem estabelecida, que tem
O início do processo osteoartrítico decorre de etio-
como ponto principal a insuficiência da cartilagem,
logia multifatorial (genética, sobrecarga, trauma
resultado de eventos mecânicos e biológicos, asso-
etc). O fator determinante inicial é a quebra da
ciado a um componente inflamatório. O impacto
homeostase entre degradação e reparação da car-
da osteoartrite no que se refere à saúde pública é
tilagem (mecanismo fisiológico), levando a sua
muito significativo, sendo uma das causas mais
insuficiência. A degradação da cartilagem ocorre
comuns de ausência no trabalho, auxílio-doença e
pelo aumento de citocinas inflamatórias como IL-1
aposentadoria.
e TNF-α e liberação das metaloproteases, enzimas
responsáveis pela quebra de proteoglicanos e colá-
geno pelos condrócitos. É em razão da presença
2. EPIDEMIOLOGIA do componente inflamatório na fisiopatologia da
osteoartrite e da presença de sinovite que ela recebe
A prevalência da osteoartrite tem aumentado nos tal denominação, e o termo artrose ou osteoartrose
últimos anos em decorrência do aumento da expec- tornou-se inadequado.
tativa de vida da população; atualmente, acomete Com a evolução da doença, ocorre afilamento da
3,5% da população total. É mais comum em mulheres cartilagem hialina, com consequente sobrecarga
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após os 60 anos. do osso subcondral, que em resposta torna-se
Um dado importante: acima dos 85 anos, a preva- mais denso (esclerose subcondral) e aumenta sua
lência de osteoartrite radiográfica é de 100%. Assim, superfície (osteófitos) para dissipar carga.
o diagnóstico de osteoartrite (doença) não deve ser
realizado em indivíduos assintomáticos que pos-
suem apenas achados radiográficos (fisiológicos
ao envelhecimento). Deve-se ter, obrigatoriamente,
sintomas compatíveis.
Os fatores de risco, são: idade avançada (mais
importante), sexo feminino (acentua após a meno-
pausa), predisposição genética, obesidade (fator
modificável mais importante), sobrecarga mecânica,
trauma, doenças ósseas e articulares congênitas,
afecção articular inflamatória precedente (ex.: artrite
reumatoide), patologias endocrinometabólicas.
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Osteoartrite e doenças microcristalinas Reumatologia
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4. CLASSIFICAÇÃO 5. MANIFESTAÇÃO CLÍNICA
A Osteoartrite (OA) pode ser classificada quanto a Importante ressaltar novamente a discrepância
sua etiologia em primária ou secundária e, quanto clínico-radiológica presente na OA. Encontramos
a sua localização, em localizada ou generalizada pacientes pouco sintomáticos e com alteração
(3 ou mais áreas). radiológica importante, ou com muita clínica e
estágios iniciais de OA radiográfica.
A forma primária (idiopática) não possui um fator
causal diretamente relacionado, e sua prevalência O diagnóstico de osteoartrite é essencialmente
aumenta com a idade. Os sítios mais comuns, são: clínico, através de artralgia de caráter mecânico,
mãos (interfalangeanas distais e proximais, primeira rigidez matinal fugaz, sítio de acometimento e exame
carpometacarpiana), joelhos, quadril, coluna cervical físico com achados, como crepitações, nódulos de
e lombar, pés (hálux valgo). Heberden e Bouchard. A radiologia traz alterações
típicas que reforçam o diagnóstico, além de auxiliar
Já a forma secundária acomete pessoas mais jovens,
na graduação dos achados.
e é decorrente de algum fator associado, tais como
trauma, artrite reumatoide, doenças de depósito, A dor articular de caráter mecânico é o sintoma
hipermobilidade etc. A dica para suspeição de OA mais comum da OA e, certamente, não decorre do
secundária, além da idade, é o acometimento de dano da cartilagem, visto que é aneural, e sim do
sítios não habituais, como metacarpofalangeanas, componente inflamatório associado (sinovite) e
punhos e cotovelos. nociceptores presentes em estruturas pericartila-
gem, como ligamentos, enteses e osso subcondral.
258
Osteoartrite e doenças microcristalinas Cap. 10
Na presença de rigidez matinal, esta é fugaz e dura Figura 4. Nódulos de Heberden e Bouchard.
alguns minutos (< 30 minutos), diferentemente da
artralgia inflamatória. Sintomas constitucionais
sugestivos de doença sistêmica estão ausentes,
assim como há ausência de elevação das provas
inflamatórias.
Durante a evolução da doença, é comum os pacientes
apresentarem “crises” inflamatórias, com aumento
do volume da articulação, agudização da dor, hipere-
mia (artrite), e estas são decorrentes do componente
inflamatório da OA ou podem estar associadas ao
depósito de pirofosfato de cálcio (pseudogota).
Com a progressão da doença, ocorre deterioração
da função articular e até anquilose. Estes pacientes
Fonte: Acervo do autor.
são encaminhados ao ortopedista para avaliação
de prótese articular.
Figura 5. Radiografia de paciente com
5.1. MÃOS OA nodal erosiva e rizartrose.
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de Heberden (distal) e Bouchard (proximal), e podem
ser dolorosos e flogísticos ou assintomáticos. Para
esse tipo clínico damos o nome de OA nodal, a qual
possui relação com hereditariedade.
Quando a OA nodal possui componente inflamatório
significativo, com erosão associada (“sinal da gai-
vota” na radiografia em interfalangeanas), recebe note esclerose subcondral e diminuição de espaço articular em pri-
o nome de OA nodal erosiva. meira carpometacarpiana e em interfalangeanas distais e proximais
com osteófitos e “sinal da gaivota”.
Outra articulação acometida é a primeira carpome- Fonte: Acervo do autor.
tacarpiana/trapézio-metacarpiana, a qual recebe o
nome de rizartrose, comum em mulheres e asso-
5.2. JOELHOS
ciada a atividades manuais repetitivas, como tricô
e crochê. A região hipotenar ganha um aspecto
“quadrado”. Nos joelhos, a OA (ou gonartrose) é responsável por
alterações significativas de biomecânica associadas
Na OA de mãos, o acometimento será de interfalan- à distorção do alinhamento (genovalgo e genovaro)
geanas distais e proximais, e primeira carpometacar- e redução de compartimentos de maneira assimé-
piana. O acometimento de metacarpofalangeanas trica (femorotibial lateral, femorotibial medial ou
e punhos não ocorre e devemos pensar em outro patelofemoral). Clinicamente, pode se manifestar
diagnóstico, como artrite reumatoide. com dor mecânica, estalidos, instabilidade e dimi-
nuição da amplitude articular. A obesidade é um
fator importante associado à gonartrose.
259
Osteoartrite e doenças microcristalinas Reumatologia
Figura 6. Representação do genos valgo e varo. Ao exame físico, podemos encontrar crepitação
à flexão-extensão, dor na palpação de interlinha
articular (lesão degenerativa meniscal), dor e crepi-
tação na mobilização patelar, “sinal da tecla” positivo
(casos de derrame articular), Cisto de Baker, atrofia
de quadríceps e, em casos mais avançados, perda
de amplitude e funcionalidade do joelho.
A Classificação de Kellgren Lawrence é utilizada
para graduar radiograficamente a evolução da OA
de joelhos.
Grau Descrição
Zero Normal
I Duvidoso
II Presença de osteófito
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Figura 7. Radiografia de joelho com esclerose subcondral e diminuição do espaço articular no compartimento lateral.
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Osteoartrite e doenças microcristalinas Cap. 10
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Paracetamol e/ou AINE tópico/oral são as terapias
6. D IAGNÓSTICO E EXAMES medicamentosas mais consensuais entre os gui-
COMPLEMENTARES delines e, dentre essas drogas, o mais consensual
ainda é o uso de AINE, quando comparado com
paracetamol. O OARSI 2019 colocou o paracetamol
O diagnóstico de OA é clínico, com base nos sin- como recomendação condicional contra seu uso,
tomas e exame físico. Exames complementares descrevendo haver evidências de pouca melhora e
podem ser feitos para reforçar seu diagnóstico, risco de hepatotoxicidade. Já o ACR 2019 descre-
graduar os achados radiográficos de osteoartrite veu o uso de paracetamol como recomendação
e excluir diferenciais. condicional, podendo ser uma opção em pacientes
com contraindicações a AINEs, mas reconhecem
6.1. LABORATORIAIS haver evidências de pouca melhora com seu uso,
principalmente quando crônico e em monoterapia.
Não se encontram alterações laboratoriais decor-
rentes de osteoartrite, uma vez que se trata de uma 7.1. MEDIDAS NÃO FARMACOLÓGICAS
doença sem manifestação sistêmica.
Na OA, por ser uma doença em que existem poucos
6.2. IMAGEM estudos metodologicamente bons sobre arsenal
farmacológico, muito se exploram as medidas não
A radiografia da articulação afetada é o exame a farmacológicas.
ser solicitado nos casos de osteoartrite, e podemos u Educação do paciente.
encontrar as seguintes alterações:
u esclerose subcondral;
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Osteoartrite e doenças microcristalinas Reumatologia
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Tem ação analgésica e condroprotetora.
droga a ser prescrita), AINEs (por curto tempo
de duração, em casos de “crise” inflamatória, via
7.2.4. Ácido hialurônico
oral ou tópica), colchicina (usada nos casos de
pseudogota associada), corticoide intra-articular Também denominada viscossuplementação intra-
(caso de “crise” inflamatória), Capsaicina tópica -articular, mostrou melhora de dor na OA de joelhos.
e opioides (codeína ou tramadol). Nos últimos Usado 1 vez a cada 6 meses.
guidelines, o paracetamol tem perdido força de
recomendação pelo abuso e risco de hepatoto- 7.2.5. Extrato Insaponificável
xicidade e seu baixo poder analgésico. AINEs de Soja e Abacate
tem liderado as recomendações como classe
mais consensual. Inibe a IL-1 e estimula a produção de colágeno.
Usado na dose de 300 mg, 1 vez ao dia, para melhora
u Fármacos de ação lenta: divididos em sintomáti-
sintomática da OA.
cos e modificadores de doença. A ação se inicia
de 1 a 2 meses após o uso regular.
7.2.6. UC II
u Sintomáticos: sulfato de condroitina e glucosa-
mina, diacereína, ácido hialurônico intra-articular, Colágeno tipo II não hidrolisado, derivado do esterno
extrato insaponificável de soja e abacate, UC II. do frango, usado na posologia de 40 mg, 1 vez ao
u Modificadores de doença (condroprotetores): dia. O UC II mostrou melhora dos sintomas na OA
sulfato de condroitina e glucosamina, diacereí- de joelhos. O mecanismo é a ativação do sistema
na. Lembrar que os resultados nos estudos são imune e células T regulatórias, produzindo citocinas
controversos com relação ao efeito estrutural. anti-inflamatórias.
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Osteoartrite e doenças microcristalinas Cap. 10
ARTROPATIAS MICROCRISTALINAS
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1. G OTA
BASES DA MEDICINA
263
Osteoartrite e doenças microcristalinas Reumatologia
O catabolismo de purinas, especialmente monofosfato de inosina (IMP) e monofosfato de guanosina (GMP), resulta na síntese de urato
por meio do substrato comum xantina. A xantina oxidase é necessária para a síntese de urato a partir de qualquer purina. A recuperação
da purina via hipoxantina guanina fosforibosil transferase (HGPRT) retorna hipoxantina e guanina para IMP e GMP, respectivamente. Em
negrito: outros mamíferos que não seres humanos possuem uricase, responsável pela conversão do ácido úrico em alantoína. APRT,
adenina fosforibosil transferase; AMP, monofosfato de adenosina; PNP, fosforilase de nucleotídeo purina; XMP, monofosfato de xantina.
Fonte: Acervo Sanar.
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1.1. INTRODUÇÃO de cristais é viável. Em um pH fisiológico e tem-
peratura corporal normal, o urato é considerado
Gota é definida como uma artropatia por depósito supersaturado em concentrações maiores que
de cristais de urato monossódico e caracteriza-se 6,8 mg/dL ou mais. No entanto, os cristais de urato
por alternância de crises de artrite com períodos monossódico podem se formar em concentrações
em que o indivíduo permanece assintomático. A menores, particularmente em tecidos com menores
doença não tratada pode evoluir para a perda da temperaturas e pH ácido.
função articular, tofos (depósitos de cristais sub- A hiperuricemia assintomática, por sua vez, é decor-
cutâneos) e nefropatia. Trata-se de uma doença rente da supersaturação do ácido úrico sanguíneo
antiga, relatada desde a época antes de Cristo, e (níveis acima de 6,8 mg/dL) e ausência de gota e/
ficou conhecida por acometer homens famosos, ou tofo. Embora apenas uma pequena proporção
ricos e cultos. de indivíduos com hiperuricemia desenvolva gota, o
risco aumenta no contexto de hiperuricemia acen-
tuada (ex.: > 9-10 mg/dL). Portanto, níveis de ácido
DICA
Na gota os cristais são de urato úrico acima de 9,0 podem ser fator de risco para
monossódico e na pseudogota de pirofos- gota, doença renal e cardiovascular.
fato de cálcio.
264
Osteoartrite e doenças microcristalinas Cap. 10
prevalência aumenta com a idade (envelhecimento). das purinas, cursando com gota, autofagia, retar-
Em mulheres, ocorre principalmente no período pós- do mental e coreoatetose. Um defeito da mes-
-menopausa pelo efeito uricosúrico do estrógeno. A ma enzima, porém parcial, ocorre na Síndrome
prevalência na população geral varia de 1% a 5% e de Kelley-Segmiller, responsável por urolitíase e
está em aumento nas últimas décadas, que parece gota de início precoce.
estar relacionado ao aumento da prevalência de u Hipoexcretor (diminuição da excreção de ácido
síndrome metabólica e obesidade. A história familiar úrico): mais comum (90%) e pode ser indepen-
é positiva em 40% dos pacientes. dente da função renal. Ocorre em pacientes
A gota é rara em homens com menos de 25 anos com doença renal crônica, alteração genética
e em mulheres na pré-menopausa e, portanto, o de transportadores de urato renal e uso de diu-
acometimento dessas populações nos remete a réticos como hidroclortiazida.
um defeito hereditário no metabolismo das puri- u Combinado: hiperprodução associado à hipoe-
nas, alcoolismo ou insuficiência renal prévia. Além xcreção.
da idade avançada e do sexo masculino, outros A fisiopatogênese da gota vem sendo muito estu-
fatores comumente associados à hiperuricemia e dada, e novos transportadores responsáveis pelo
à gota, incluem: obesidade, hipertensão e outros ciclo do urato estão sendo descobertos. O trans-
elementos da síndrome metabólica, ingestão elevada portador de excreção de urato ABCG2, presente
de purinas, histórico familiar de gota, alcoolismo, nos rins e no intestino, quando disfuncional, leva à
insuficiência renal, o uso de medicamentos hipe- hiperuricemia. Portanto, diante da importância da
ruricêmicos e condições que aumentam o turn over excreção intestinal de urato na hiperuricemia, traba-
celular (ex.: psoríase). lhos mais recentes propõem uma nova classificação
da gota de acordo com seu mecanismo fisiopato-
1.3. CLASSIFICAÇÃO DA HIPERURICEMIA gênico: sobrecarga renal, que envolve mecanismos
de superprodução e hipoexcreção extrarrenal (ex.:
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A hiperuricemia e a gota surgem em um indivíduo hipoexcreção intestinal), e hipoexcreção renal.
com ou sem uma condição predisponente, podendo
ser primária ou secundária. A hiperuricemia/gota 1.4. FISIOPATOLOGIA
primária ou idiopática é quando nenhuma condição
ou distúrbio foi identificado. Já a secundária, se
relaciona a condições identificadas que causem BASES DA MEDICINA
hiperuricemia: neoplasias hematológicas, uso de
medicações como ciclosporina e hidroclorotiazida, Os transportadores de urato GLUT9, URAT1, NPT1 e
estresse cirúrgico, psoríase e outros. ABCG2 regulam os níveis de urato sérico em humanos.
GLUT9, localizado na membrana basolateral, e URAT1, na
Também podemos classificar a causa da hiperuri-
membrana apical das células do túbulo proximal, medeiam
cemia de acordo com o mecanismo fisiopatológico: a reabsorção renal de urato. O transportador NPT1 está
u Hiperprodutor (aumento na produção de ácido presente na membrana apical das células do túbulo
úrico): pode ser de causa metabólica (erro ina- proximal renal e medeia a excreção de urato. O ganho de
função no gene que codifica NPT1 aumenta a excreção
to do metabolismo das purinas) ou associado à
renal de urato e causa hiperuricemia. Por último, o ABCG2
ingestão de dieta hiperproteica, purinas (álcool), está presente na superfície apical das células do túbulo
frutose, infecções, estresse cirúrgico, tratamento proximal e enterócitos e está envolvida na excreção de
quimioterápico (alto turn over celular). É exemplo urato tanto no intestino quanto nos rins. Variantes disfun-
de doença com erro inato no metabolismo das cionais de ABCG2 cursam com hiperuricemia.
purinas a Síndrome de Lesch-Nyhan, que ocorre
em crianças e é decorrente de defeito enzimático
total da HGPRT-ase (hipoxantina-guanina fosfor-
ribosil transferase), responsável pela reciclagem
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Fonte: Acervo Sanar.
O ácido úrico é produto do catabolismo das purinas, A hipeuricemia é necessária para que haja a forma-
derivadas dos ácidos nucleicos celulares, e possui ção de cristais; no entanto, por si só, não é suficiente.
eliminação predominantemente renal (70%). Em geral, 3 etapas são necessárias para a formação
de cristais: reduzida solubilidade (levando à super-
Uso abusivo de álcool, dieta hiperproteica e alto saturação), nucleação e crescimento do cristal. A
turn over celular, como ocorre na psoríase e em diminuição de temperatura contribui para diminuir
neoplasias hematológicas, são fontes de aumento a solubilidade do ácido úrico e favorecer a cristali-
de ácido úrico. Por outro lado, um distúrbio na zação, motivo pelo qual as crises de artrite gotosa
excreção renal de ácido úrico também pode levar são mais comuns em articulações mais frias, como
à hiperuricemia. Portanto, variações de genes que joelhos, e são precipitadas na madrugada.
codificam transportadores renais, como URAT-1 e
Na crise de gota, ocorre uma resposta inflamatória
GLUT-9, responsáveis pela reabsorção tubular de
aguda ao depósito de cristais de urato monossódico,
ácido úrico, estão associados à hipoexcreção e à com aumento de citocinas inflamatórias, princi-
hiperuricemia. palmente IL-1β. Já no tofo ocorre uma resposta
inflamatória crônica granulomatosa aos cristais
depositados.
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Fonte: Acervo Sanar.
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Figura 11. Tofo em cotovelo.
por precipitação de cristais no ducto coletor e
ureter, resultando em insuficiência renal aguda.
Essa complicação é chamada de síndrome da
lise tumoral e será abordada em complicações
oncológicas, por ser secundária à quimioterapia
de neoplasias hematológicas. Por fim, a litíase
pelo ácido úrico se associa a hiperuricemia e pH
baixo (acidez urinária). Lembre-se de que, dife-
rentemente dos cristais de cálcio, os de ácido
úrico são radiotransparentes.
268
Osteoartrite e doenças microcristalinas Cap. 10
O diagnóstico definitivo de gota é dado através A consulta do paciente portador de gota deve abor-
do achado de cristais de urato monossódico no dar as comorbidades habitualmente associadas à
líquido sinovial, os quais possuem birrefringência doença, como obesidade, dislipidemia, hipertensão
fortemente negativa e em formato de agulha. Caso arterial e diabetes. Estas, em conjunto com a hipe-
este critério não seja disponível ou não haja presença ruricemia, determinam maior risco cardiovascular.
de cristais no líquido sinovial, outros achados em Também indagar a respeito da dieta e encorajar o
conjunto sugerem o diagnóstico: indivíduo a cessar etilismo e ingesta hiperproteica.
u História clínica compatível. Para avaliação da gota, além de exames gerais
u Hiperuricemia (lembrar que nas crises os valores (hemograma, função renal e hepática), devemos
séricos de ácido úrico podem estar normais). solicitar a dosagem de ácido úrico sérica e urinária
u Quadro radiológico compatível: presença de em 24 horas para determinação da etiologia (produ-
erosão em saca-bocados; ultrassonografia com ção versus hipoexcreção). O indivíduo é considerado
“sinal do duplo contorno” (linha hiperecoica na hipoexcretor quando o clearence de ácido úrico é
superfície da cartilagem) ou “tempestade de inferior a 7 mL/min ou 800 mg na urina de 24 horas.
neve” (agregados algodonosos no líquido sino- A ultrassonografia de rins e vias também deve ser
vial); tomografia de dupla emissão com achado solicitada para rastreamento de litíase renal.
de depósitos de cristais.
Quadro 1. Medicações hiperuricêmicas.
Figura 12. Gota na radiografia. Medicações Hiperuricêmicas
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AAS Pirazinamida
Ciclosporina Quimioterápicos
1.8. TRATAMENTO
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inibidor da enzima xantina oxidase, prevenindo
suspenso. Caso o paciente não esteja em uso de
a formação de urato a partir da xantina e hipo-
terapia uricorredutora na vigência da crise, este início
xantina. Deve ser iniciado em baixas doses, pois
preferencialmente não deve ser feito na vigência da
pode precipitar crise articular. Seus efeitos cola-
crise, pois pode precipitar ou prolongá-la.
terais, incluem: mielotoxicidade, hepatotoxicidade
Atenção! O guideline ACR 2020 recomendou con- e nefrotoxicidade. O febuxostato também é um
dicionalmente o início da terapia uricorredutora inibidor da xantina oxidase, mas foi associado
durante a crise de gota em paciente com indicação a um maior risco cardiovascular e tem elevado
de início e que estiver experienciando a crise. No custo. Pode ser usado na falha ou intolerância
entanto, lembre-se de que é uma recomendação ao alopurinol.
condicional e não forte. Até o momento essa reco- u Uricosúrico: agem inibindo a reabsorção de ácido
mendação específica de um guideline único estran- úrico no túbulo proximal (transportador URAT 1)
geiro não foi cobrada nas provas e também não é e, para sua ação, não pode haver comprometi-
rotineiramente praticada na vida real. mento da função renal. Pacientes com urolitía-
se ou doença renal crônica moderada a severa
1.8.2. TRATAMENTO A LONGO PRAZO
(estágio maior ou igual a 3) não devem fazer uso
O início de terapia uricorredutora para pacientes de uricossúrico. São medicações dessa classe, a
com hiperuricemia assintomática é controverso, benzobromarona, o probenecide e o lesinurade.
sendo uma recomendação condicional contra seu u Uricase peguilada: chamada de pegloticase, fun-
uso, segundo o guideline ACR 2020. No entanto, na ciona na conversão de urato em alantoína para
prática, consideramos o perfil do paciente e o grau posterior excreção. Não é terapêutica de primeira
de hiperuricemia, uma vez que é fator de risco para linha e é usada na gota refratária a tratamento
doença cardiovascular.
270
Osteoartrite e doenças microcristalinas Cap. 10
com inibidores de xantina oxidase e uricossúricos. Alcalinização urinária: no caso de litíase renal, é feita
Não usar em pacientes com deficiência de G6PD. com bicarbonato ou citrato, objetivando Ph urinário
acima de 6. Orientar também ingesta adequada de
líquidos: 2 litros ao dia.
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Fonte: Acervo Sanar.
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Osteoartrite e doenças microcristalinas Reumatologia
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Fonte: Acervo Sanar.
Doença por Deposição de Pirofosfato de Cálcio A doença por Deposição de Pirofosfato de Cálcio
(DPFC) é o termo genérico para todos os casos de (DPFC) é mais comum em mulheres idosas, tem
ocorrência de cristais de pirofosfato de cálcio. Os origem idiopática e a associação de osteoartrite
cristais de pirofosfato de cálcio podem se depo- com DPFC é frequente.
sitar na cartilagem hialina e na fibrocartilagem,
O aparecimento dessa condição em indivíduos
determinando um achado radiográfico chamado
jovens deve nos fazer pensar em distúrbios metabó-
condrocalcinose, o qual pode ser assintomático
licos com uma das seguintes condições associadas:
e, se sintomático, pode se manifestar com crises
hemocromatose, hipofosfatasia, hipomagnesemia,
articulares (pseudogota) ou como artropatia infla-
hiperparatireoidismo. Outros distúrbios metabólicos
matória crônica degenerativa.
foram associados à DPFC, como Doença de Wilson;
no entanto, são associações com evidências mais
frágeis.
272
Osteoartrite e doenças microcristalinas Cap. 10
A formação dos cristais de pirofostato de cálcio O diagnóstico é feito na presença de um dos espec-
ocorre pelo aumento de pirofosfato orgânico na car- tros clínicos compatíveis, associado ao achado
tilagem. Após a formação, os cristais se depositam do cristal através de análise do líquido sinovial ou
na cartilagem e na fibrocartilagem, desencadeando achado de condrocalcinose (calcificação da car-
processo inflamatório e degenerativo. tilagem articular) e/ou calcificação do ligamento
triangular em exame de imagem.
2.4. MANIFESTAÇÃO CLÍNICA Os cristais de pirofosfato de cálcio são romboides
e possuem birrefringência fracamente positiva
O espectro clínico da DPFC é variável e engloba: (azuis) quando paralelos ao eixo do polarizador.
u Artrite aguda (pseudogota): causa mais comum
de monoartrite em idosos. Em comparação com 2.6. TRATAMENTO
a gota, tende a acometer mais membros supe-
riores. A articulação mais acometida é o joelho, Diferentemente da gota, não existe tratamento na
seguido pelo punho, ombro e tornozelo. DPFC que diminua a carga do cristal, e as evidências
u Osteoartrite com DPFC: forma sintomática mais terapêuticas dos estudos são limitadas.
comum (50%). Acomete locais pouco usuais para u Artrite aguda (pseudogota): colchicina, AINE ou
OA primária, como punhos, tornozelos e cotovelos. corticoides podem ser usados na crise e doses
u Artrite inflamatória crônica por DPFC (pseudoar- menores podem ser usadas como profilaxia de
trite reumatoide): quadro clínico semelhante à novas crises.
artrite reumatoide; porém, FR e anti-CCP são u Osteoartrite com DPFC: tratamento igual ao da
negativos e erosões marginais estão ausentes. osteoartrite primária.
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u Doença por DPFC assintomática: presença de u Artrite inflamatória crônica por DPFC (pseu-
achado na imagem compatível (condrocalcino- doartrite reumatoide): AINE ou colchicina. Se
se ou calcificação do ligamento triangular), mas refratariedade, pode-se usar hidroxicloroquina
sem clínica. ou metotrexato.
Figura 13. Condrocalcinose: calcificação
da cartilagem articular.
DIA A DIA MÉDICO
273
Osteoartrite e doenças microcristalinas Reumatologia
Homens
Monoartrite súbita
Período intercrítico
Tofos
Gota
Na crise: AINE ou
colchicina ou corticoide
MICROCRISTALINAS
OSTEOARTRITE
Longo prazo:
E DOENÇAS
hipouricemiante
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Mulheres idosas
Associação
com osteoartrite
Pseudogota
Cristal birrefringência
negativa e formato romboide
Tratamento: colchicina
Prevalência aumenta
com a idade
Perda de peso
Sintomas mecânicos
e crônicos
Osteoartrite
Fortalecimento
Crepitações
AINE oral
Tratamento ou tópico
274
Osteoartrite e doenças microcristalinas Cap. 10
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2019 Sep 26.
275
Osteoartrite e doenças microcristalinas Reumatologia
QUESTÕES COMENTADAS
(ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO RIO GRANDE DO SUL 2022) Qual des- ⮩ Depósito subcutâneo de cristais.
sas medicações deve ser evitada na gota aguda?
⮦ Alopurinol. Questão 3
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⮨ Alimentos ricos em cadeias longas de carbono
lista há 20 anos apresenta dor articular. O quadro
com ligação insaturada devem ser estimulados.
teve início nos membros inferiores e ocorria como
surto- remissão. Após alguns anos, os membros ⮩ A doença na fase inicial normalmente poupa ar-
superiores foram acometidos , quando passou a ticulações do eixo central.
ter sintomas articulares persistentes. Exame físi- ⮪ O tratamento crônico visa diminuir os episódios
co: BEG, corado. Edema, calor, dor e limitação de de crises álgicas, sem interferir na evolução na-
movimentos em tornozelos, joelhos, punhos e me- tural da doença.
tacarpofalangeanas. Foto de sua mão esquerda é
mostrada abaixo. De qual alteração fisiopatológica
Questão 4
resultam as lesões?
(HOSPITAL DAS CLÍNICAS DO PARANÁ- PR – 2021) Homem
de 48 anos, sem uso prévio de medicações e sem
comorbidades conhecidas, procura a unidade de
pronto atendimento por quadro compatível com
monoartrite aguda de tornozelo que teve início na
madrugada de hoje. A artrocentese diagnóstica mos-
tra o seguinte resultado: Líquido articular amarela-
do, turvo, sem grumos. 8000 leucócitos/mcL (valor
de referência: menor que 200 leucócitos/mcL), 65%
de polimorfonucleares (valor de referência: menor
⮦ Calcificação de tecidos moles. que 25%). Bacterioscopia pelo Gram não visuali-
zou bactérias, cultura em andamento. Pesquisa de
⮧ Necrose caseosa da derme.
cristais em andamento. Diante do quadro clínico e
276
Osteoartrite e doenças microcristalinas Cap. 10
laboratorial exposto, é correto afirmar que a análise ⮪ Artrite paraneoplásica, sendo indicado o trata-
do líquido articular: mento da doença de base, o que fará melhorar
o quadro atual.
⮦ É fortemente sugestiva de artrite séptica, sendo
indicado início de antibioticoterapia empírica
com ceftriaxone até a obtenção dos resultados Questão 6
de culturas.
(HOSPITAL ESTADUAL DO ACRE – AC - 2021) Mulher de 60
⮧ É compatível com artrite inflamatória, sendo a anos de idade, hipertensa, diabética e dislipidêmica
osteoartrite o diagnóstico mais provável. em acompanhamento ambulatorial em uso de met-
⮨ Sugere artrite reativa, causa comum de monoar- formina 850 mg 2x ao dia, sinvastatina 20 mg/dia,
trite em pacientes nessa faixa etária. AAS 100 mg/dia, losartana 50 mg/dia, hidrocloro-
⮩ Sugere artrite inflamatória, sendo indicado o tiazida 25mg/dia e anlodipino 5mg/dia. Refere que
internamento hospitalar para artrocentese de tem apresentado edema em membros inferiores e
repetição e antibioticoterapia empírica com oxa- crise recorrente de gota. Quais medicamentos se-
cilina endovenosa. riam responsáveis respectivamente pelo edema e
⮪ Sugere artrite inflamatória, sendo que a artrite pela gota?
gotosa é a etiologia mais provável no contexto ⮦ Sinvastatina e losartana.
clínico e laboratorial descrito.
⮧ Losartana e metformina.
⮨ Anlodipino e hidroclorotiazida.
Questão 5
⮩ Anlodipino e losartana.
(HOSPITAL DAS CLÍNICAS DO PARANÁ – PR – 2021) Uma se-
nhora de 60 anos vem à consulta relatando que há
Questão 7
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mais de 1 ano notou aumento de volume e dor em
articulações interfalangeanas distais e proximais (HOSPITAL INFANTIL SABARÁ – 2021) 0 Homem, 67 anos
em ambas as mãos, de forma assimétrica, com de idade, em acompanhamento ambulatorial por
dificuldade de mobilizar a articulação por poucos doença renal crônica, estágio IIIa, hipertensão arte-
minutos no início do dia, especialmente nos dias rial sistêmica e dislipidemia, comparece à consulta
mais frios. Relata que as dores melhoram parcial- queixando-se de dor, eritema e edema em primeiro
mente com o uso de analgésicos simples, como pododáctilo direito, há cerca de 2 dias. Refere que
paracetamol e dipirona. Não há evidência de aco- nunca apresentou quadro semelhante. Nega febre
metimento de outras articulações, perda ponderal e lesões cutâneas. Está em uso de dipirona, sem
ou relato de febre. Diante do quadro clínico exposto, melhora do quadro. Ao exame físico apresenta ca-
o diagnóstico provável é de: lor, rubor e edema em primeiro pododáctilo direito,
sem outras articulações acometidas. Qual é o diag-
⮦ Osteoartrite, podendo haver algum benefício nóstico para o caso?
com o uso de anti-inflamatórios tópicos para
controle dos sintomas. ⮦ Artrite reativa.
⮧ Artrite reumatoide, sendo indicado início de tra- ⮧ Celulite.
tamento com prednisona em dose baixa e me- ⮨ Artrite gotosa.
totrexato.
⮩ Osteoartrite.
⮨ Osteoartrose, indicando o uso crônico de corti-
⮪ Trombose Arterial.
coide em doses moderadas para melhor controle
dos sintomas.
⮩ Artrite reumatoide, sendo indicado o uso de me-
dicações com ação anti-TNF, como o infliximabe.
277
Osteoartrite e doenças microcristalinas Reumatologia
Questão 9
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⮦ Dor articular, mobilidade preservada, proliferação
óssea das bordas articulares.
⮧ Rigidez articular, dor intensa, líquido sinovial não
inflamatório.
⮨ Rigidez, rangido, líquido sinovial inflamatório.
⮩ Rigidez, rangido, líquido sinovial inflamatório.
⮪ NDA.
Questão 10
278
Osteoartrite e doenças microcristalinas Cap. 10
GABARITO E COMENTÁRIOS
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vermelhas, frutos do mar), ingestão de álcool (em
tem característica de crises e com preferência por particular cerveja) e cerveja sem álcool. A restrição
membros inferiores. Essa doença evolui para sua de carboidratos e a perda ponderal podem baixar o
forma crônica com a presença de deformidades e urato sérico em pacientes com resistência à insulina,
tofos (imagem), quadro clássico de gota. pois altos níveis de insulina suprimem a excreção
✔ resposta: D de urato. A ingestão de produtos lácteos com baixo
teor de gordura deve ser incentivada.
Alternativa C: INCORRETA. Um estudo demonstrou
Questão 3 dificuldade:
que dieta com poucos carboidratos desenvolvida
Y Dica do professor: A gota é uma doença causada para melhora de síndrome metabólica conseguiu
por hiperuricemia (urato sérico > 6,8 mg/dL) que diminuir a uricemia em 17%.
resulta na precipitação de cristais de urato mo- Alternativa D: CORRETA.
nossódico no interior e ao redor das articulações, Alternativa E: INCORRETA. O tratamento da gota con-
causando mais frequentemente artrite aguda reci- siste em controlar os sintomas, principalmente re-
divante ou crônica. A crise inicial de gota costuma duzindo a dor, e cuidar da causa inicial da artrite.
ser monoarticular e, com frequência, compromete Por isso, tratar a doença envolve medicação e mu-
a 1ª articulação metatarsofalangeana. Os sinto- dança de estilo de vida para interferir na evolução
mas da gota são dor aguda, dor à palpação, calor, natural da doença.
rubor e edema. O diagnóstico requer identificação
dos cristais no líquido sinovial. O tratamento das ✔ resposta: D
crises agudas é feito com fármacos anti-inflama-
tórios. A frequência das crises pode ser reduzida
com o uso regular de AINEs, colchicina ou ambos,
e diminuindo o nível sérico de ácido úrico com
279
Osteoartrite e doenças microcristalinas Reumatologia
Y Dica do professor: Homem com quadro de monoar- Y Dica do professor: Questão muito tranquila sobre
trite com início na madrugada? Lembre-se de gota! efeitos colaterais das medicações anti-hipertensivas!
Alternativa A: INCORRETA. Não temos sintomas cons- O principal efeito colateral do uso de antagonistas
titucionais e nem bloqueio articular para pensar em dos canais de cálcio diidropiridínicos (anlodipino,
artrite séptica. nicardipina) é o edema de membros inferiores, prin-
cipalmente maleolar. Já a hidroclorotiazida está as-
Alternativa B: INCORRETA. A osteoartrite cursa com
sociada ao aumento dos níveis de ácido úrico em
quadro arrastado de artralgia mecânica e líquido
decorrência da maior absorção deste ácido a nível
sinovial não inflamatório.
do túbulo contorcido proximal.
Alternativa C: INCORRETA. Não temos antecedente
de infecção gastrointestinal ou geniturinária. E na ✔ resposta: C
artrite reativa o quadro é de oligoartrite de mem-
bros inferiores. Questão 7 dificuldade:
Alternativa D:INCORRETA. Artrite inflamatória é um
termo muito amplo e não fazemos antibioticotera- Y Dica do professor: Paciente com gota é um combo
pia para tratamento (ex.: lupus, AR). de comorbidades (hipertensão, dislipidemia, insufi-
ciência renal etc.), que é o caso do paciente dessa
Alternativa E: CORRETA. Homem apresentando crise
questão. Ele está presenciando a primeira crise de
súbita na madrugada de monoartrite. Ainda, líquido
gota e não tem indícios para suspeita de artrite sép-
sinovial com características inflamatórias, compa-
tica, como febre/sintomas constitucionais.
tíveis com gota.
Alternativa A: INCORRETA. A artrite reativa ocorre
✔ resposta: E após quadros de infecção do trato gastrointesti-
nal ou geniturinária, e caracteriza-se por uma oli-
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Questão 5 dificuldade: goartrite de membros inferiores. Mais comum em
adultos jovens.
Y Dica do professor: Mulher idosa com quadro arras- Alternativa B: INCORRETA. A celulite é uma infecção
tado de artralgia em mãos assimétrica, que envol- de pele, após trauma/ ferimento criando porta de
vem interfalangeanas distais e têm rigidez matinal entrada para micro-organismo. No enunciado inter-
fugaz. Não apresenta sinais e sintomas sistêmicos. pretamos que a localização do rubor e do edema,
Todas essas dicas sugerem osteoartrite. apesar de evidenciado através da pele, se trata de
Alternativa A: CORRETA. Faz parte do arsenal terapêu- um território restrito articular.
tico da osteoartrite o uso de AINE tópico. Alternativa C: CORRETA. Quadro de monoartrite da
Alternativa B: INCORRETA. Paciente não tem poliar- primeira metatarsofalangeana, conhecido como
trite simétrica de mãos e punhos. O envolvimento podagra.
de IFDs não é esperado na AR. Alternativa D: INCORRETA. A osteoartrite é um quadro
Alternativa C: INCORRETA. Não é usado corticoide crônico de artralgia de ritmo mecânico associado
cronicamente para tratamento de osteoartrite. a crepitações.
Alternativa D:INCORRETA. Já mencionamos que não Alternativa E:INCORRETA. Paciente sem sinais de
se trata de AR, mas se fosse a primeira medicação isquemia periférica, cianose fixa, gangrena, dimi-
é o metotrexato, e não anti-TNF. nuição de pulso.
Alternativa E: INCORRETA. Não temos dados que su- ✔ resposta: C
giram paraneoplasia. Ausência de sintomas cons-
titucionais e refratariedade ao tratamento imunos-
supressor.
✔ resposta: A
280
Osteoartrite e doenças microcristalinas Cap. 10
Questão 9 dificuldade:
Questão 10 dificuldade:
Y Dica do professor: Questão clássica sobre a os-
teoartrose, mais conhecida atualmente como os- Y Dica do professor: Idoso com dor de ritmo mecâ-
teoartrite, uma doença reumatológica na qual ocorre nico em mãos e joelhos, e rigidez matinal fugaz…
a degradação da cartilagem das articulações de- lembrem-se que o diagnóstico de osteoartrite é
corrente principalmente do aumento de citocinas CLÍNICO!
inflamatórias como a IL-1 e o TNF-alfa, além da libe- Alternativa A: INCORRETA. Os estudos mais recentes
ração de metaloproteases, enzimas que quebram mostraram que a hidroxicloroquina NÃO é eficaz.
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os proteoglicanos e o colágeno. É mais comum em Alternativa B: CORRETA. AINE é recomendado, po-
mulheres > 60 anos, sendo seus fatores de risco a dendo ser sistêmico/oral ou tópico.
idade avançada, o sexo feminino (principalmente
Alternativa C: INCORRETA. NÃO existe até o momen-
após a menopausa), a obesidade, a predisposição
to terapêutica medicamentosa curativa para os-
genética e sobrecarga mecânica. Manifesta-se
teoartrite ou que atue no dano estrutural. O sulfato
com caráter mecânico, ou seja, dor articular que
de condroitina e glicosamina pode melhorar a dor.
piora com o movimento e melhora com o repouso,
decorrente de sinovite, associada à rigidez matinal Alternativa D: INCORRETA. Os guidelines de tratamen-
fugaz (<30 minutos após acordar) e a crepitações to de osteoartrite são controversos. Mas no geral
das articulações acometidas. Por ser uma doença é consensual o uso de AINE (o mais consensual) e
de caráter inflamatório, caso seja realizada a pun- analgesia simples (paracetamol tem tido ressalvas
ção do líquido sinovial (o que não é necessário para pelo seu baixo poder analgésico e risco de hepa-
fechar o diagnóstico da doença, que é com base na totoxicidade). Diacereína e sulfato de condroitina e
anamnese e no exame físico), encontraremos um glicosamina conhecidos como "condroprotetores"
líquido inflamatório com redução de viscosidade. não são recomendados por todos os guidelines.
Vamos às alternativas: ✔ resposta: B
Alternativa A: CORRETA. Apesar de ter sido conside-
rada incorreta pela banca, dor articular, líquido sino-
vial inflamatório, rangido e crepitação são achados
da osteoatrite.
Alternativa B: INCORRETA. A dor articular pode de fato
ocorrer, entretanto a mobilidade não é preservada,
visto que a articulação está sendo desgastada. A
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282
Capítulo
OSTEOPOROSE
11
importância/prevalência
BASES DA MEDICINA
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O tecido ósseo constitui-se de uma variedade de tecido
conjuntivo especializado, cuja matriz é formada por uma
substância extracelular, a qual se apresenta calcificada,
envolvendo as células que a secretam. A matriz óssea
pode ser dividida em orgânica e inorgânica. A orgânica é
a menor porcentagem da sua composição (em torno de
20%) e faz referência ao colágeno do tipo I, proteoglicanos
e glicoproteínas, que conferem flexibilidade ao tecido
ósseo. Já o componente inorgânico é responsável por
suportar força de compressão, representa 70% do tecido
ósseo e é composto por conteúdo mineral, cálcio, fósforo,
hidroxiapatita. A mineralização óssea é o processo nos Fonte: Acervo Sanar.
quais minerais, como a hidroxiapatita, se depositam na
matriz extracelular.
Osteoporose é a diminuição da resistência óssea,
O tecido celular ósseo é composto por osteoclastos, que predispõe o indivíduo a fraturas de fragilidade.
osteoblastos e osteócitos. Os osteoclastos são de origem Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS)1,
hematopoiética e responsáveis pela reabsorção óssea.
fratura de fragilidade é definida como "[...] uma fra-
Os osteoblastos são de origem mesenquimal e atuam
na formação óssea. Por último, os osteócitos são peça tura causada por um trauma que seria insuficiente
fundamental e orquestram todo o processo de remode- para fraturar um osso normal, resultado de uma
lamento ósseo. redução da resistência compressiva ou torsional”.
A resistência óssea, por sua vez, é resultante da
interação entre quantidade e qualidade óssea. A
quantidade óssea é mensurada através da den-
sitometria óssea de dupla emissão com fontes
raios X (DXA), que avalia a densidade mineral óssea
283
Osteoporose Reumatologia
(DMO). Já a qualidade óssea é produto da arquite- Homens idosos podem ter osteoporose primária em
tura, remodelamento ósseo e mineralização. Não decorrência da senilidade, no entanto, faz parte da boa
prática rastrear, causas secundárias em populações do
existe padrão-ouro até o momento para avaliação
sexo masculino com osteoporose, sejam idosos ou não.
da qualidade óssea.
DICA
A fratura de fragilidade mais comum 2. E PIDEMIOLOGIA E
na OP é a vertebral. FATORES DE RISCO
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Cargas mecânicas aplicadas ao osso são transduzidas
pelo esqueleto via sinais mecânicos e são detectadas pelos
DIA A DIA MÉDICO osteócitos, gerando sinais bioquímicos que aumentam a
atividade dos osteoblastos e a formação óssea.
Mulheres idosas na pós-menopausa serão, de longe, o
perfil de osteoporose no consultório/ambulatório/UBS.
284
Osteoporose Cap. 11
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Quadro 1. Fatores de risco para osteoporose e/ou fratura. por osteoclastos que solubilizam o conteúdo mineral
ósseo e degradam a matriz (fase de reabsorção). Os
Fatores de risco para osteoporose e/ou fratura monócitos/macrófagos removem os resíduos (fase de
reversão), seguindo-se, então, a fase de formação óssea
História pessoal de fratura por
fragilidade na vida adulta realizada pelos osteoblastos, produzindo matriz osteoide,
que se mineraliza. Importante notar que é muito mais
História familiar de fratura de quadril rápido reabsorver do que formar osso, já que a reabsorção
em parente de primeiro grau demora em torno de 3 semanas e a formação, 3 meses.
História atual de tabagismo
Uso de glicocorticoide
Raça caucasiana
Idade
Sexo feminino
Etilismo
Menopausa precoce
Quedas recentes
Fonte: Adaptado de Bonfá et al.2
285
Osteoporose Reumatologia
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Fonte: Acervo Sanar.
286
Osteoporose Cap. 11
Figura 4. Vértebra da esquerda é saudável. Seu centro esponjoso possui muitas fibras duras que estão conectadas
umas às outras. A vértebra da direita tem osteoporose. Seu centro esponjoso tem menos fibras, mais finas, que
não estão mais conectadas. A concha circundante de osso compacto é mais fina, o que enfraquece a vértebra.
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Fonte: Acervo Sanar.
Existem vários determinantes da massa óssea de O estrógeno possui papel protetor do tecido ósseo,
um indivíduo. Dentre eles, destacam-se a genética, inibindo a ação osteoclástica. Nos homens, as taxas
a etnia e o gênero. Fatores externos, como dieta de testosterona diminuídas também levam à perda
adequada em cálcio e exercícios físicos, também óssea, pois se relacionam aos níveis de estrogênio.
contribuem para ganho ósseo. O pico de massa
óssea em indivíduos saudáveis ocorre em torno
dos 30 anos. DIA A DIA MÉDICO
287
Osteoporose Reumatologia
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Adultos com fraturas de fragilidade
288
Osteoporose Cap. 11
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DIA A DIA MÉDICO Hipogonadismo Testosterona total
em homens e livre, FSH e LH
É muito comum na prática os pacientes atribuírem a dor Hiperparatireoidismo
PTH e cálcio
nos ossos a um diagnóstico de osteoporose. Inclusive, primário
alguns médicos prescrevem bisfosfonato, cálcio e vitamina
Hipertireoidismo TSH e T4 livre
D para pacientes devido apenas a essa queixa. É fato que
a osteoporose é uma doença assintomática, exceto no Hemocromatose Saturação de ferro
contexto de uma fratura em local específico, mas não
podemos atribuir uma dor difusa e generalizada apenas Fosfatase alcalina, fósforo,
Osteomalácia
à osteoporose. Não se esqueça de que a fibromialgia não cálcio e vitamina D
é uma doença incomum e você pode estar diante dela. Dosagem de cortisol
urinário livre e
Síndrome de Cushing
testes funcionais da
glândula adrenal
289
Osteoporose Reumatologia
Fosfatase
Patologia Cálcio Fósforo PTH Vitamina D
alcalina
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DIA A DIA MÉDICO
290
Osteoporose Cap. 11
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Quadro 5. Causas de osteoporose secundária.
DIA A DIA MÉDICO
Etilismo e uso de drogas associadas
à perda de massa óssea
O tratamento da fratura vertebral, na maioria dos casos,
é conservador, com analgesia (se necessário) e retorno Gastrointestinais: doença celíaca, doença
progressivo às atividades. Também engloba o tratamento inflamatória intestinal, cirurgia bariátrica,
medicamentoso da osteoporose no geral (cálcio, vitamina gastrectomia, má absorção, desnutrição
D e terapia específica). A vertebroplastia ou cifoplastia
Endócrinas: hipertireoidismo, hiperparatireoidismo,
(introdução de cimento na vértebra) são opções invasivas hipercortisolismo, hipogonadismo,
em casos de não melhora com a conduta conservadora. diabetes mellitus, acromegalia
291
Osteoporose Reumatologia
10. TRATAMENTO
10.2. MEDICAMENTOSO
10.1. NÃO MEDICAMENTOSO
BASES DA MEDICINA
BASES DA MEDICINA
O cálcio é fundamental na composição dos cristais de
hidroxiapatita, que compõem a matriz extracelular e dão
Sarcopenia é a perda de massa magra e de força com
resistência ao tecido ósseo. Já a vitamina D tem potente
o envelhecimento. As causas da perda muscular são
efeito de aumentar a absorção de cálcio no trato intestinal
multifatoriais, incluindo o sedentarismo. A massa mus-
e diminuir a excreção renal.
cular diminui quase 50% entre os 20 e 90 anos e a força
muscular, que é máxima por volta dos 30 anos, sofre
perda de 15% por década a partir dos 50 anos. A atividade A suplementação de cálcio é realizada preferencial-
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física, independentemente da idade, aumenta a força e a mente pela dieta. Caso não seja possível, podem
velocidade muscular, além de prevenir perda óssea, risco
ser utilizados suplementos de carbonato de cálcio
de quedas, hospitalizações e melhorar a função articular.
ou citrato de cálcio, mas deve-se considerar ante-
cedente de nefrolitíase (ideal é o citrato) e risco
Inclui a prescrição de exercícios físicos com carga, cardiovascular (evidências que sugerem aumento
uma vez que estimula o osteócito a promover o de processo aterosclerótico com carbonato). A
aumento da massa óssea, fortalecimento muscular, vitamina D é suplementada a fim de manter níveis
a fim de proteger contra quedas, assim como exercí- adequados, no mínimo 30 ng/mL.
cios de propriocepção e equilíbrio. Evitar exercícios
de hiperflexão e torção de coluna. O tratamento farmacológico específico deve ser
realizado nas seguintes situações: presença de
Cessar fatores de risco modificáveis, como etilismo fratura vertebral ou quadril, independentemente da
e tabagismo. Orientar ingesta adequada de cálcio densidade mineral óssea; densitometria óssea com
(1.000 a 1.200 mg ao dia). Diminuir ou suspender, se T-score ≤-2,5 DP em coluna lombar, colo de fêmur,
possível, o uso do glicocorticoide ou outras drogas fêmur total ou terço distal do rádio; baixa massa
associadas à perda de massa óssea. Utilização de óssea (T-score entre -1 e -2,5) e uma probabilidade
protetores de quadril. de fratura osteoporótica maior (inclui quadril, úmero,
punho e vertebral) em 10 anos ≥ 20%, ou probabili-
dade de fratura osteoporótica de quadril em 10 anos
DIA A DIA MÉDICO
≥ 3%, ambas probabilidades calculadas pelo FRAX.
Os diuréticos tiazídicos não estão associados à osteo- Os medicamentos específicos são divididos, de
porose e são medicações prescritas em caso de hiper- acordo com mecanismo de ação, em antirreabsor-
calciúria associada à osteoporose, uma vez que são tivos, anabólicos e mistos.
poupadores de cálcio
292
Osteoporose Cap. 11
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10.2.1. Específicos na manutenção do bisfosfonato, não temos uma
recomendação formal para suspendê-lo antes do
10.2.1.1. Bisfosfonatos procedimento.
Figura 6. Fratura atípica evoluída para fratura completa: note a localização diafisária.
293
Osteoporose Reumatologia
Após 5 anos de uso do bisfosfonato oral ou 3 anos Carga ZERO, encaminhamento imediato para cirurgia
ortopédica, com objetivo de colocação de haste intra-
do endovenoso, devemos avaliar se ainda há neces-
medular. Suspender o bisfosfonato e realizar radiografia
sidade da manutenção da terapia ou se é possível do fêmur contralateral em busca de calo ósseo e linha
realizar pausa no tratamento com bisfosfonato. incompleta de fratura.
O drug holiday é feito com o intuito de evitar a
supressão exagerada da remodelação óssea e,
consequentemente, efeitos colaterais graves, como 10.2.1.2. Denosumabe
a fratura atípica.
BASES DA MEDICINA
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Figura 7. Mecanismo do denosumabe.
294
Osteoporose Cap. 11
O denosumabe é considerado uma medicação ser uma medicação muito prescrita por ginecologistas.
antirreabsortiva, pois inibe a ligação RANK-RANK L e No entanto, por não ter eficácia comprovada em reduzir
fraturas não vertebrais, nós reumatologistas não usamos
diminui a diferenciação e a atividade osteoclástica.
com frequência.
É a medicação antirreabsortiva que mais aumenta
a massa óssea e se mostrou eficaz na prevenção
de fraturas vertebrais, não vertebrais e de quadril. 10.2.1.5. Teriparatida
Porém, deve-se reforçar a necessidade de aderência
ao tratamento, uma vez que, na falta de seu uso, É constituída pelos primeiros 34 aminoácidos da
ocorre perda de toda a massa óssea que foi ganha molécula de PTH humano e estimula a formação
previamente. Seu uso é subcutâneo e feito de 6 em 6 óssea. Note que a secreção contínua de PTH acar-
meses. Pode ser feito em pacientes com disfunção reta perda de massa óssea (análogo ao que ocorre
renal. Seus efeitos colaterais incluem osteonecrose no hiperparatireoidismo primário). Já na teriparatida,
de mandíbula, fratura atípica e celulite. ministrada diariamente como pulsos de PTH, ocorre
o inverso: uma atividade anabólica óssea.
A teriparatida é utilizada preferencialmente em casos
DIA A DIA MÉDICO
de fratura atípica e de osteoporose grave (T-score
< -3,0) com fratura vertebral. Sua limitação de uso
O denosumabe é a principal escolha para pacientes com
é principalmente o custo elevado. O tempo de uti-
osteoporose grave em risco iminente de fratura e/ou insu-
ficiência renal com contraindicação aos bisfosfonatos. lização é de 18 a 24 meses e é contraindicada em
situações de hipercalcemia, em crianças e doença
de Paget pelo risco de osteossarcoma.
10.2.1.3. Estrogênio
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DIA A DIA MÉDICO
risco de fraturas vertebrais e não vertebrais, porém
aumentou o risco cardiovascular e de câncer de A teriparatida será a escolha no paciente que usou bisfos-
mama. Não é indicado para tratamento de osteopo- fonato ou denosumabe e evoluiu com fratura atípica ou
rose, mas pode ser considerado para prevenção logo osteonecrose de mandíbula. Apesar de também ser uma
nos primeiros anos de menopausa e com cautela, indicação na osteoporose grave, na prática, preferimos
o denosumabe ou o bisfosfonato endovenoso, porque
considerando-se seus eventos adversos.
a teriparatida, além das dificuldades burocráticas de
solicitação, é uma medicação de custo muito elevado
10.2.1.4. Raloxifeno (28 dias de tratamento custam em torno de 3 mil reais!).
295
Osteoporose Reumatologia
BASES DA MEDICINA
História
Históriade
de
fratura vertebral
fratura verte- Históriade
História defratura
fraturavertebral
vertebralpresente;
presente;osteoporose
osteoporose
ausente
bral +T+
ausente secundária;
secundária; terapia com glicocorticoide; T-score≤ ≤-2,5
terapia com glicocor�coide; T-score -2,5
score > 2,5
T score > 2,5
Considerar Drug
Considerar Manter
Manter
Holiday
Drug Holiday bisfosfonato
bisfosfonato
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Fonte: Adaptado de Bonfá et al.2
10.4. O
STEOPOROSE INDUZIDA PELO
GLICOCORTICOIDE (OPIG)
BASES DA MEDICINA
296
Osteoporose Cap. 11
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Fonte: Acervo Sanar.
297
Osteoporose Reumatologia
Cálcio
1000 - 1200
mg ao dia
Vitamina D
(níveis acima
de 30 ng/mL)
Tratamento
Mulher
pós-menopausa
Atividade
física
OSTEOPOROSE Epidemiologia
Terapia
específica
PRIMÁRIA
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Idoso
Clínico
Diagnóstico
T score <
ou igual Densitométrico
a -2,5
Vertebral
Fêmur
proximal
Assintomática
Fratura de
Úmero fragilidade
proximal
298
Osteoporose Cap. 11
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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Diederichs G, Engelken F, Marshall LM, Peters K, Black DM, Isse-
ver AS, et al. Diffuse idiopathic skeletal hyperostosis (DISH):
relation to vertebral fractures and bone density. Osteoporos
Int. 2011;22(6):1789-97.
Ghayor C, Weber FE. Epigenetic regulation of bone remodeling
and its impacts in osteoporosis. Int J Mol Sci. 2016;17(9):1446.
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2020]. Disponível em: https://knowosteoporosis.wordpress.
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Park J, Jeong SY. Complications and outcomes of minimally
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UpToDate. Bones affected by osteoporosis [Internet]; 2020
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date.com/contents/image/print?imageKey=PI%2F53181
Yoo JH, Moon SH, Ha YC, Lee DY, Gong HS, Park SY, et
al. Osteoporotic fracture: 2015 position statement of the
Korean Society for Bone and Mineral Research. J Bone Metab.
2015;22(4):175-81.
299
Osteoporose Reumatologia
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1 Questão 4
(UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – SP – 2022) Além da (INSTITUTO DE ASSISTÊNCIA MÉDICA AO SERVIDOR PÚBLICO
densidade mineral óssea, avaliada pela densito- ESTADUAL – SP – 2021) A osteoporose é um distúrbio
metria, a osteoporose pode ser diagnosticada por esquelético cuja principal característica é o com-
prometimento da resistência óssea e que constitui,
⮦ Presença de fratura por fragilidade. atualmente, um grande problema de saúde pública.
⮧ Trabecular Bone Score (TBS). Quanto à osteoporose, assinale a alternativa correta.
⮨ Ultrassom de calcâneo.
⮦ A principal causa de osteoporose secundária
⮩ Tomografia computadorizada quantitativa de é o uso de glicocorticoide, acometendo quase
alta resolução. 30% dos indivíduos tratados com corticoide por
mais de seis meses.
Questão 2 ⮧ São fatores de risco associados à menor mas-
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sa óssea: o sexo masculino; a obesidade; e o
(ASSOCIAÇÃO DA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE OURINHOS sedentarismo.
– SP – 2021) A localização mais comum de fratura
⮨ Em mulheres pós-menopausa, a perda óssea
osteoporótica é:
acontece, principalmente, após os cinco pri-
⮦ Antebraço. meiros anos.
⮧ Colo do fêmur. ⮩ A fratura típica da osteoporose ocorre por fragi-
⮨ Tíbia. lidade e caracteriza-se por acontecer em qual-
quer sítio ósseo, após trauma considerado como
⮩ Vértebras.
de baixo impacto em indivíduos com menos de
cinquenta anos de idade.
Questão 3 ⮪ Pela definição da Organização Mundial de Saú-
de, o diagnóstico densitométrico de osteoporose
(HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFSC – SC – 2021) Assinale a
acontece quando a DMO é igual a ou menor que
alternativa com um fator de risco para osteoporose.
-2 desvios-padrão, em relação à média observa-
⮦ Menacme. da na população jovem (T-score).
⮧ Obesidade.
⮨ Menopausa tardia. Questão 5
⮩ Baixo peso corporal. (SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DE FLORIANÓPOLIS – SC –
⮪ Hiperandrogenismo. 2021) Dona Judite, professora, 60 anos, procura a
unidade de saúde para consulta com MFC Rodrigo.
Relata que já está na menopausa e quer fazer ''exa-
mes de osteoporose''. Diz ter assistido no programa
300
Osteoporose Cap. 11
de televisão matinal que é um exame muito impor- ⮨ Osteoporose: Valor da densidade óssea menor
tante para as mulheres. Não tem antecedentes do que 2,5 desvios padrão em relação à média
patológicos. Entrou na menopausa aos 52 anos. dos valores para adultos jovens saudáveis.
Não faz uso de medicamentos. Nega tabagismo ⮩ Osteopenia: Valor da densidade óssea menor do
ou abuso de álcool. Caminha 03 vezes por sema- que 2,5 desvios padrão em relação à média dos
na e tem uma alimentação variada. Nega história valores para adultos jovens saudáveis
familiar de fratura de quadril. O exame físico não
tem alterações e o IMC é 26 Kg/m². Como o MFC
Rodrigo deve manejar este caso? Questão 7
⮦ Solicitar mamografia e se não houver contrain- (CENTRO MÉDICO DE CAMPINAS – SP – 2020) Observe essas
dicação, iniciar terapia de reposição hormonal características de uma paciente:
para prevenir fraturas por osteoporose. 1. Mulher.
2. 51 anos de idade.
⮧ Orientar que não tem indicação de realizar den-
3. Raça branca.
sitometria, reforçar a atividade física, exposição
4. IMC 30 Kg/m2.
solar e alimentação saudável.
5. Alcoólatra.
⮨ Solicitar dosagem de vitamina D sérica e pres- 6. Usuária de terapia de reposição hormonal com-
crever carbonato de cálcio como prevenção da binada.
osteoporose. 7. Fratura de fêmur operada aos 40 anos de idade.
⮩ Solicitar densitometria óssea para rastrear os- 8. Mãe com câncer de mama.
teoporose e prescrever carbonato de cálcio e São considerados fatores de risco para osteoporose
vitamina D como prevenção da osteoporose. os citados nos números:
⮦ 1 - 3 - 5 - 7.
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Questão 6
⮧ 1 - 2 - 5 - 6.
(UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE – RN – ⮨ 2 - 4 - 5 - 7.
2021) A Organização Mundial da Saúde (OMS) define a ⮩ 3 - 4 - 6 - 8.
osteoporose como a densidade óssea abaixo de 2,5
desvios padrão em relação à média para mulheres
jovens brancas saudáveis. Até o presente momen- Questão 8
to não existe uma medida acurada da resistência
(FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DA UNICAMP – SP – 2020)
óssea. Este termo, osteoporose, foi introduzido no
Quatro mulheres, acima dos 60 anos, retornam ao
século XIX para descrever a porosidade nos ossos
Centro de Saúde com exames laboratoriais (hemo-
e desde então foi definida como doença sistêmica
grama, vitamina D, PTH, creatinina e cálcio) dentro
esquelética caracterizada pelo aumento da fragili-
dos valores de normalidade. Apresentam as seguin-
dade óssea. Atualmente, como já mencionado, é
tes densitometrias ósseas e radiogramas da coluna:
conhecida pela doença que compromete a resis-
tência óssea. Sobre as categorias de diagnóstico
da osteoporose, assinale a alternativa CORRETA.
301
Osteoporose Reumatologia
Questão 10
⮦ Alendronato de sódio.
⮧ Denosumabe.
Os diagnósticos das pacientes 1, 2, 3 e 4 são, res- ⮨ Raloxifeno.
pectivamente: ⮩ Ácido zoledrônico.
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⮪ Teriparatida.
⮦ Osteopenia; osteoporose; osteopenia; osteo-
penia.
⮧ Osteopenia; osteoporose; osteoporose; osteo- Questão 11
penia.
(SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DE SINOP - MT – 2020) So-
⮨ Osteoporose; osteoporose; osteopenia; osteo- bre o escore T da Densitometria Óssea é CORRE-
penia. TO afirmar:
⮩ Osteoporose; osteoporose; osteoporose; os-
teopenia. ⮦ É comparado à média de um adulto jovem e in-
dica o Risco Relativo para fratura.
⮧ É comparado à média de um adulto jovem e in-
Questão 9
dica o Risco Absoluto para fratura.
(FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS – TO – 2020) ⮨ É comparado à média de uma população da
A osteoporose é uma doença sistêmica do esque- mesma idade, sexo, raça e indica o Risco Rela-
leto, caracterizada por baixa massa óssea e dete- tivo para fratura.
rioração da microarquitetura do tecido ósseo. Na ⮩ É comparado à média de uma população da
análise laboratorial da osteoporose primária, sem mesma faixa etária e indica o Risco Absoluto
fraturas associadas, comumente encontram-se: para fratura.
⮦ Cálcio, fósforo e fosfatase alcalina normais.
⮧ Cálcio e fósforo normais ou baixos, e fosfatase
alcalina elevada.
⮨ Cálcio elevado, fósforo baixo e fosfatase alca-
lina normal.
302
Osteoporose Cap. 11
GABARITO E COMENTÁRIOS
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Alternativa D: INCORRETA. A tomografia computa-
porose secundária é o corticoide. O aumento no
dorizada quantitativa de alta resolução auxilia na
risco de fraturas aparece já em 3 a 6 meses de uso
avaliação da microarquitetura óssea.
e ocorre em 30% a 50% dos pacientes.
✔ resposta: A
Alternativa B: INCORRETA. Sexo feminino e baixo peso
são fatores de risco para osteoporose.
Questão 2 dificuldade: Alternativa C: INCORRETA. Na pós-menopausa a per-
da óssea é mais importante nos primeiros 5 anos.
Y Dica do professor: As fraturas osteoporóticas mais
comuns são nas vértebras, na região do quadril, do Alternativa D: INCORRETA. A fratura de fragilidade tí-
fêmur proximal e região do punho. pica de osteoporose ocorre em radio distal, úmero
proximal, fêmur proximal e/ou vertebral. Mais co-
✔ resposta: D mum em mulheres pós-menopausa e idosos.
Alternativa E: INCORRETA. Osteoporose densitomé-
Questão 3 dificuldade: trica é definida se T-Score menor ou igual a -2,5.
303
Osteoporose Reumatologia
associadas à perda de massa óssea, mulheres na anos, sofrerá alguma fratura durante o restante de
pós menopausa <65 anos que apresentem fatores sua vida. Lembre-se que, com o aumento da expec-
de risco e pacientes em tratamento para monitorar tativa de vida e o consequente envelhecimento da
a eficácia terapêutica. Dessa forma, Dona Judite população, já é previsto um aumento importante
não apresenta indicação de realização do exame, do impacto da osteoporose nos próximos anos.
visto que tem 60 anos, é hígida, sem vícios e sem ✔ resposta: C
histórico familiar de fratura de quadril. Ela deve
apenas ser orientada sobre a importância da ati-
vidade física, manter uma alimentação saudável e Questão 7 dificuldade:
se expor ao sol.
Y Dica do professor: O rastreamento para osteopo-
Alternativa A: INCORRETA. A terapia de reposição rose se dá mediante densitometria óssea a partir
hormonal é indicada apenas para a finalidade de dos 65 anos.
controle de sintomas climatéricos, não devendo
Assertiva 1: CORRETA. Mulheres possuem menor
ser utilizada com o intuito de prevenir fraturas por
quantidade de andrógenos, que são hormônios al-
osteoporose.
tamente anabolizantes.
Alternativa B: CORRETA. Conforme a dica do professor.
Assertiva 2: INCORRETA. O risco aumenta a partir
Alternativa C: INCORRETA. Não há indicação de do- dos 65 anos.
sagem de vitamina D sérica para nossa paciente.
Assertiva 3: CORRETA. É maior a incidência de osteo-
Além disso, prescrevemos carbonato de cálcio para
porose em pessoas brancas quando comparadas
pacientes que não conseguem suplementar o cálcio
às negras.
pela alimentação.
Assertiva 4: INCORRETA. IMC mais elevado significa
Alternativa D: INCORRETA. Nossa paciente não apre-
mais estrógeno circulante e, consequentemente,
senta ainda indicação para a realização de densito-
maior anabolismo ósseo.
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metria óssea. Não devemos prescrever carbonato
de cálcio e vitamina D para prevenção de osteopo- Assertiva 5: CORRETA. O álcool interfere de numero-
rose de forma rotineira. sas formas na inibição osteoblástica, sendo impor-
tante fator de risco para osteoporose.
✔ resposta: B
Assertiva 6: INCORRETA. Pelo contrário, a TH auxilia
na prevenção de osteoporose.
Questão 6 dificuldade:
Assertiva 7: CORRETA. Fraturas precoces, mesmo
Y Dica do professor: Importante ressaltar que a os- que não patológicas, podem representar estrutura
teoporose é uma doença esquelética sistêmica, óssea inerentemente mais frágil.
caracterizada por baixa densidade óssea e dete- Assertiva 8: INCORRETA. Não há qualquer associa-
rioração da microarquitetura do tecido ósseo, que ção neste sentido.
leva ao aumento do risco de fraturas por fragilida- ✔ resposta: A
de. Sendo recentemente reconhecids como um dos
principais problemas de saúde pública nos países
desenvolvidos. O diagnóstico de osteoporose é fei- Questão 8 dificuldade:
304
Osteoporose Cap. 11
Paciente 2: score < -2,5, o que classifica osteoporose. Alternativa D: INCORRETA. Apresentação endovenosa
Paciente 3: score densitométrico em rádio < -2,5, o com posologia de uso anual.
que classifica osteoporose. O uso de hastes verte- Alternativa E: CORRETA.
brais inviabiliza o estudo dessa região. ✔ resposta: E
Paciente 4: score entre -1 e -2,5, o que classifica os-
teopenia.
Questão 11 dificuldade:
✔ resposta: D
Y Dica do professor: A osteoporose é uma doença
metabólica caracterizada pela diminuição da mas-
Questão 9 dificuldade:
sa óssea e degradação da microarquitetura óssea.
Y Dica do professor: Na osteoporose primária não Dessa forma, ela pode levar ao aumento da fragili-
temos alterações nos valores laboratoriais de cál- dade óssea e da suscetibilidade a fraturas, ocasio-
cio, fósforo e fosfatase alcalina (principais marca- nando outras complicações. A investigação clínica
dores do metabolismo ósseo). Estudos recentes envolve a ferramenta de densitometria óssea, que
mostraram que devido à alta prevalência de causas avalia a densidade mineral óssea, sendo descrita
secundárias de osteoporose, sendo muitas delas em curvas e classificada de acordo com o T-Score.
subclínicas, recomenda-se para todos os pacientes, O T-Score é utilizado para definição da osteoporose
antes de se iniciar qualquer tratamento, uma ava- e caracteriza o número de desvios padrão em rela-
liação laboratorial mínima que inclui hemograma ção a um padrão estabelecido. Está relacionado ao
completo, cálcio, fósforo, fosfatase alcalina, função risco relativo de fraturas. A osteoporose é definida
tireoidiana e dosagem da 25(OH) vitamina D sérica, por valores de T-Score <= -2,5, que indicam uma
calciúria de 24 horas, além de radiografia simples densidade mineral óssea igual ou inferior a 2,5 des-
lateral da coluna torácica e lombar e a medida da vios padrão abaixo do padrão estabelecido, que é o
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DMO na coluna lombar e fêmur proximal. pico de massa óssea encontrada no adulto jovem.
Dessa forma a alternativa correta é a que pontua
✔ resposta: A
“É comparado à média de um adulto jovem e indica
o Risco Relativo para fratura”.
Questão 10 dificuldade: ✔ resposta: A
Y Dica do professor: Questão apresentando paciente
idosa em tratamento devido a uma fratura espon-
tânea de corpo vertebral secundária à osteoporo-
se, em que utiliza medicamento através de injeção
subcutânea diária, assim eliminamos o uso de alen-
dronato de sódio e cloridato de raloxifeno, visto que
possuem apresentação em comprimido, e o ácido
zoledrônico cuja apresentação é endovenosa. Tan-
to a teriparatida quanto o denosumabe possuem
apresentação subcutânea, entretanto somente a
teriparatida está associada a longo prazo com o
desenvolvimento de osteossarcoma.
Alternativa A: INCORRETA. Apresentação em compri-
mido com posologia de uso diário.
Alternativa B: INCORRETA. Não possui relação com
osteosarcoma em uso prolongado.
Alternativa C: INCORRETA. Apresentação em compri-
mido com posologia de uso diário.
305
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306
FIBROMIALGIA E Capítulo
SÍNDROMES REUMÁTICAS
DOLOROSAS REGIONAIS
12
importância/prevalência
u A fibromialgia cursa com dor difusa crônica, fadiga, sono não reparador e transtorno de humor.
u A fibromialgia não é considerada diagnóstico de exclusão e os exames complementares são normais.
u Nos critérios ACR 2011 foram criados dois índices (IDG e EGS) e excluiu-se a presença de tender points.
u Com relação às síndromes dolorosas regionais, saber a sintomatologia e os testes ao exame físico.
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A fibromialgia é uma doença não autoimune e não A fibromialgia coexiste com doenças crônicas,
inflamatória, caracterizada pela presença de dor
inclusive outras doenças reumatológicas, numa
difusa crônica associada à fadiga, de distúrbio do
prevalência de cerca de 20% a 25%. É mais comum
sono e de transtorno de humor. Existem alguns sinto-
em mulheres (6 a 10 mulheres para cada homem),
mas subjetivos variáveis referidos pelos pacientes, variando seu início entre 25 e 65 anos de idade.
como, por exemplo, parestesias, edema de mãos e
palpitações. Também podem estar presentes algu- Estima-se que mundialmente afete 0,5% a 5% da
mas síndromes disfuncionais que acarretam dores população mundial, sendo uma doença muito
localizadas ou em órgãos específicos, a exemplo da comum na prática clínica, e sua prevalência aumenta
dor de parede abdominal por cólon irritável, sintomas em pacientes com doenças crônicas. No Brasil, é
da síndrome uretral feminina e da cistite intersticial. a segunda doença reumática mais comum depois
da osteoartrite.
Apesar da sintomatologia e potencial impacto na
qualidade de vida, é uma condição que pode ser Fatores como infecções virais (EBV, parvovírus,
considerada benigna por não acarretar danos per- hepatite C), inflamação articular crônica, trauma
manentes e irreversíveis. psicológico, apneia do sono e estresse emocional
estão associados como potenciais gatilhos para
a doença.
1.2. EPIDEMIOLOGIA E ETIOLOGIA
Também se admite um risco relativo, que pode
chegar a 8,5%, em familiares de primeiro grau. O
BASES DA MEDICINA polimorfismos que codificam receptores de sero-
tonina e dopamina também constituem fatores
A etiologia da fibromialgia ainda não é bem conhe- genéticos importantes para o desenvolvimento de
cida. Acredita-se que sua causa seja, essencialmente, fibromialgia.
307
Fibromialgia e síndromes reumáticas dolorosas regionais Reumatologia
1.3. FISIOPATOLOGIA
BASES DA MEDICINA
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O equilíbrio entre as vias faz com que o indivíduo tenha
uma percepção dolorosa adequada.
Agora, importante também relembrar as fases do sono. O
sono não REM possui quatro fases. À medida que essas
fases progridem e o sono mais profundo é alcançado, a
frequência das ondas cerebrais diminui. Na vigília com
olhos fechados, as ondas possuem uma frequência entre
8 Hz e 13 Hz – chamadas de ondas alfa. A fase I é uma
transição da vigília e, no eletroencefalograma, associa-se
a ondas Theta (4 Hz a 7 Hz); já a fase IV é constituída
majoritariamente por ondas delta (<4 Hz), conhecida como
sono de ondas lentas, um sono mais profundo.
308
Fibromialgia e síndromes reumáticas dolorosas regionais Cap. 12
Existem relatos subjetivos de edema de mãos e Presença da dor nos hemicorpos direito e esquerdo,
acima e abaixo da cintura, no eixo axial.
sensação de parestesia e presença de manifesta-
ções-satélite, como distúrbio cognitivo, síndrome Exame físico com 11 a 18 tender points.
da fadiga crônica, distúrbios funcionais intestinais Tender points: múltiplas áreas dolorosas nos músculos
(diarreia ou constipação), cistite intersticial, dor pél- e tendões (força até a unha ficar branca = 4 kg/cm²).
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vica crônica, cefaleia, disfunção de articulação tem-
Fonte: Adaptado de Bonfá et al.1
poromandibular e síndrome das pernas inquietas.
Os tender points (pontos dolorosos) incluem áreas
Quadro 2. Critérios classificatórios do
de musculatura, ligamentos e bursas. São conside- American College of Rheumatology (ACR).
rados 18 pontos para os critérios classificatórios.
Tender points (pontos dolorosos)
Posterior à proeminência
Trocânter maior
trocantérica
1.5. DIAGNÓSTICO Na parte medial próxima
Joelho
à linha interarticular
A presença de dor difusa é característica fundamen- Fonte: Adaptado de Bonfá et al.1
tal e específica para o diagnóstico de fibromialgia,
309
Fibromialgia e síndromes reumáticas dolorosas regionais Reumatologia
Figura 2. Os nove pares de tender points. Os critérios ACR 2010/2011 são diagnósticos e têm
maior sensibilidade para homens, por não incluírem
os tender points. Contempla sintomas como cefa-
leia, fadiga e distúrbio cognitivo. Além de eliminar
a contagem de pontos dolorosos, criaram-se dois
índices: índice de dor generalizada (IDG) e escala
de gravidade dos sintomas (EGS).
u O IDG contempla 19 regiões nas quais o paciente
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u Pelo menos 3 meses de sintomas.
DICA
Na fibromialgia temos os tender O diagnóstico de fibromialgia é válido independente-
points e na síndrome dolorosa miofascial mente de outros diagnósticos, pois um diagnóstico
os trigger points. de fibromialgia não exclui outras doenças clinica-
mente importantes.
Região cervical
310
Fibromialgia e síndromes reumáticas dolorosas regionais Cap. 12
Região dorsal
Região lombar
Tórax
Abdome
Marque a intensidade dos sintomas nos últimos 7 dias (0 = ausente; 1 = leve; 2 = moderado; 3 = grave)
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Você apresentou um destes sintomas nos últimos 6 meses? (0 = ausente; 1 = presente)
Cefaleia
Depressão
Fonte: Adaptado de Marques Neto et al.2
Dor muscular, síndrome do cólon irritável, fadiga ou can- Critérios em reumatologia são usados para auxiliar o
saço, alterações de pensamento ou memória, cefaleia, generalista com o diagnóstico e para incluir correta-
dor/cólicas abdominais, parestesias, tontura, insônia, mente pacientes em trabalhos científicos. Na prática do
depressão, constipação, náusea, dor torácica, visão bor- especialista, de tanto se deparar com as doenças, nos
rada, diarreia, boca seca, prurido, sibilância, fenômeno de focamos em identificar o fenótipo da doença e não em
Raynaud, urticária, zumbido, vômito, azia, úlceras orais, calcular pontuações de critérios.
alteração no paladar, olhos secos, respiração curta, perda
de apetite, eritema, fotossensibilidade, polaciúria, disúria
e espasmos musculares.
Fonte: Adaptado de Marques Neto et al.2
311
Fibromialgia e síndromes reumáticas dolorosas regionais Reumatologia
1.6. D
IAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS E 1.7.1. Medicamentoso
PATOLOGIAS COEXISTENTES
A escolha da terapia e associação medicamentosa é
individualizada de acordo com as comorbidades do
A grande dica para se pensar em fibromialgia é a
paciente e com a sintomatologia mais significativa.
falta de alterações ao exame físico (com exceção
de tender points) e exames laboratoriais. u Antidepressivos:
Atenção, pois a fibromialgia não é considerada um W Inibidores duais (recaptação de serotonina e
diagnóstico de exclusão, já que ela coexiste com noradrenalina), como duloxetina e venlafaxina.
outras doenças. W Tricíclicos, como amitriptilina.
Alguns diagnósticos diferenciais importantes são: W Inibidores seletivos de recaptação de seroto-
dor miofascial, miopatias, doença de Parkinson, nina, como fluoxetina, sertralina e paroxetina.
miastenia gravis, esclerose múltipla, infecções virais,
hipotireoidismo, síndrome paraneoplásica, síndrome
u Gabapentinoides (ação na dor difusa e melhora
da fadiga crônica, hiperparatireoidismo, mieloma do sono):
múltiplo, doenças autoimunes. W Pregabalina.
W Gabapentina.
É recomendada na consulta inicial do paciente com
hipótese diagnóstica de fibromialgia a realização u Relaxante muscular (melhora do sono):
dos seguintes exames, com o intuito de abordar
W Ciclobenzaprina.
condições associadas e doenças graves: PCR e
VHS; TSH e T4L; cálcio, fósforo, PTH, vitamina D; u Analgésico de resgate:
CPK e aldolase; eletroforese de proteínas séricas;
W Tramadol ou associação tramadol + parace-
sorologias virais (hepatite B, C, HIV, EBV, parvovírus,
tamol.
CMV); FAN e FR (estes só se forte suspeição de
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doença autoimune). Importante destacar que pacientes com fibromial-
gia não respondem bem a anti-inflamatórios e seu
uso não faz parte do arsenal terapêutico. O uso de
1.7. TRATAMENTO benzodiazepínicos e glicocorticoides não é reco-
mendado para a terapêutica de fibromialgia.
As medidas não farmacológicas são fundamentais
no tratamento da fibromialgia e recomendadas 2. S ÍNDROMES DOLOROSAS
como as primeiras a serem adotadas. Diante do REUMÁTICAS REGIONAIS
diagnóstico de fibromialgia, inicialmente devemos
educar o paciente frente à doença, uma vez que
estes tendem à catastrofização e à falta de aderência 2.1. SÍNDROME DOLOROSA MIOFASCIAL
à atividade física e às terapias psicológicas. Muitos
não se sentem compreendidos dentro do círculo 2.1.1. Definição e etiologia
de trabalho e familiar e acreditam que nunca irão
melhorar.
BASES DA MEDICINA
Dentre as terapias não farmacológicas, destaca-se
o exercício físico, o qual deve ser aeróbico mode-
A síndrome dolorosa miofascial, geralmente, é precedida
rado, 3 vezes na semana. As terapias psicológicas por algum evento desencadeador. Logo, um trauma, por
também são benéficas. exemplo, leva a banda muscular a ficar tensa e a desen-
volver pontos-gatilho, que inicialmente são latentes. Estes
podem se encaminhar para a recuperação espontânea,
persistir sem progressão ou evoluir para pontos-gatilho
ativos, quando submetidos a algum tipo de estresse:
fatores ergonômicos, posturais ou, até mesmo, estresse
emocional.
312
Fibromialgia e síndromes reumáticas dolorosas regionais Cap. 12
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A síndrome dolorosa miofascial é considerada 2.1.2. Diagnóstico
um tipo de reumatismo regional extra-articular e é
definida pela presença de dor localizada em um ter- Não existem exames complementares necessários
ritório específico, com irradiação, e de trigger points ao diagnóstico de dor miofascial; este é clínico, com
(pontos-gatilho), os quais, quando pressionados ao história compatível e trigger points ao exame físico.
exame físico, reproduzem a dor do paciente. Aten-
2.1.3. Tratamento
ção: na fibromialgia são tender points e na síndrome
miofascial são trigger points. O tratamento da síndrome miofascial pode ser
Um trigger point é um ponto de sensibilidade exacer- feito com agulhamento a seco ou com Lidocaína,
bada e rigidez da banda muscular dentro do território prescrição de relaxantes musculares ou liberação
de um determinado músculo. O ponto-gatilho, além de ponto-gatilho manual. Ressalta-se, no entanto,
de reproduzir a dor do paciente com irradiação, que essas medidas não impedem a recorrência e
também pode causar sintomas autonômicos (calor, que se deve realizar reabilitação, fortalecimento e
eritema cutâneo, piloereção, lacrimejamento), fra- correção de vícios e posturas inadequadas.
queza e diminuição da amplitude de movimento.
Distúrbios do sono, estresse emocional, vícios pos-
turais, traumatismos, sobrecarga funcional e defor-
midades estão associados ao desencadeamento
da síndrome dolorosa miofascial.
313
Fibromialgia e síndromes reumáticas dolorosas regionais Reumatologia
2.2. S
ÍNDROME DO DESFILADEIRO artéria e veia subclávia, responsáveis pela irrigação,
TORÁCICO nutrição e drenagem dos membros superiores; tendões,
músculos e ossos (parte musculoesquelética). Os limites
anatômicos da região do desfiladeiro são delimitados pela
clavícula, primeira costela torácica e músculo escaleno
BASES DA MEDICINA médio e anterior.
A síndrome do desfiladeiro torácico tem origem em
O desfiladeiro torácico é a região entre o pescoço e a variações anatômicas ou musculares que comprimem
axila, por onde passam: nervos do plexo braquial, que são o plexo braquial e/ou vasos subclávios na região do
responsáveis pela inervação dos membros superiores; desfiladeiro torácico.
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Fonte: Acervo Sanar.
A síndrome do desfiladeiro torácico é definida como Ao exame físico, pode haver positividade na manobra
a compressão do plexo braquial, da artéria e da veia de Adson e teste de Roos. O último é feito solicitando
subclávia em pontos de passagem pelo desfiladeiro ao paciente que flexione os cotovelos bilateral-
torácico (entre o pescoço e a axila). Os pontos de mente a 90 graus abduzidos, abra e feche as mãos
compressão são: espaço peitoral menor, costocla- repetidas vezes por até 1 minuto, reproduzindo os
vicular e triângulo escaleno. sintomas. Já na manobra de Adson é solicitado ao
indivíduo que estenda o braço acometido e o man-
Postura inadequada, tumorações, costela cervical,
tenha em abdução, realize rotação da cabeça para
fratura de costela ou clavícula e processo trans-
o lado acometido, inicie uma inspiração profunda e
verso alongado de C7 são algumas das causas de
segure o ar; o examinador, neste momento, estará
síndrome do desfiladeiro torácico.
palpando o pulso radial, o qual apresentará redução
Pode ser dividida em neurogênica (maioria dos ou ausência de pulsação.
casos) ou vascular. Na neurogênica, as queixas
são de dor e parestesia no membro superior, que
não respeita território radicular. Já a compressão
vascular se manifesta como edema de extremidade.
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Fibromialgia e síndromes reumáticas dolorosas regionais Cap. 12
BASES DA MEDICINA
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W Bíceps braquial é o principal supinador do antebraço.
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Fibromialgia e síndromes reumáticas dolorosas regionais Reumatologia
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mina com tendinite de manguito rotador e cabeça
longa do bíceps braquial e bursite subacromial.
O manguito rotador é composto pelos músculos
supraespinhoso, infraespinhoso, subescapular e
redondo menor. Destes, o supraespinhoso é o mais
frequentemente lesionado na síndrome do impacto.
Clinicamente, o paciente apresenta dor anterola-
teral no ombro que se agrava com atividades de
levantamento logo acima deste. Ao exame físico,
avalia-se a presença das estruturas acometidas
no impacto: manguito rotador, bursa subacromial
e bíceps braquial.
O impacto é avaliado através das manobras de Neer
e Hawkins-Kennedy. No teste de Neer, o membro Fonte: Chu KyungMin/Shutterstock.com5
superior em extensão e rotação neutra é elevado
passiva e rapidamente no plano da escápula pelo
examinador. No teste de Hawkins, o braço é colo-
cado em 90 graus de elevação, em rotação neutra;
com cotovelo fletido a 90 graus, o examinador faz
rapidamente rotação interna e o teste é positivo se
houver dor.
316
Fibromialgia e síndromes reumáticas dolorosas regionais Cap. 12
Figura 10. Teste de Hawkins: síndrome do impacto. Figura 12. Teste de Speed: avaliação de bíceps braquial.
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paciente que realize uma supinação do antebraço, Figura 13. Teste de Yerguson:
e o examinador realiza contrarresistência. No palm avaliação de bíceps braquial.
up test ou teste de Speed, realiza-se extensão e
rotação externa do membro superior e pede-se ao
paciente que realize elevação do membro enquanto
o examinador aplica contrarresistência. A rotura do
tendão bicipital reproduz um sinal conhecido como
sinal do “Popeye” (Figura 11).
317
Fibromialgia e síndromes reumáticas dolorosas regionais Reumatologia
u Subescapular: avaliado pelo teste de Gerber, no Figura 16. Teste de Patte: avaliação do infraespinhoso.
qual se solicita ao paciente que coloque o dorso
da mão nas costas e ativamente a afaste, rodando
internamente o braço. A incapacidade de fazê-lo
ou de manter o afastamento indica teste positivo.
u Infraespinhoso: a avaliação é feita pelo teste de
Patte, no qual se realiza uma abdução do ombro
a 90 graus com o cotovelo também a 90 graus de
flexão. O paciente realiza rotação externa contra
a resistência do examinador.
Figura 14. Teste de Jobe: avaliação do supraespinhoso.
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DIA A DIA MÉDICO
Fonte: Acervo Sanar.
Na prática, essas manobras são muito úteis, já que a
Figura 15. Teste de Gerber: avaliação do subescapular. queixa de dor no ombro geralmente possui envolvimento
dos tendões do manguito rotador, bursa subacromial e
tendão longo bicipital.
BASES DA MEDICINA
318
Fibromialgia e síndromes reumáticas dolorosas regionais Cap. 12
meia-idade, podendo ocorrer sem fator desenca- parcela dos pacientes. Possui três fases de evolu-
deante ou associada a diabetes mellitus, períodos ção clínica:
de imobilização, patologias prévias de manguito, u Dolorosa inicial.
acidente vascular cerebral, infarto agudo do mio- u Perda progressiva de movimento.
cárdio, trauma ou cirurgia do ombro.
u Resolução e melhora.
Figura 17. Ombro normal e com capsulite adesiva. Clinicamente, o paciente apresenta limitação tanto
passiva quanto ativa em todos os planos. O principal
diagnóstico diferencial é a osteoartrite de ombro.
O tratamento da capsulite adesiva consiste em
corticoide intra-articular e fisioterapia precoce.
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cirurgia, imobilização, infarto agudo do miocárdio,
trombose, doença vascular e lesão cerebral. Pode
ser dividida de acordo com a presença ou não de
lesão nervosa em tipo I (ausente) e II (presente).
A evolução clínica possui duas fases: inicial, meses
a 1 ano, com edema, eritema e sudorese do mem-
bro; tardia, de 1 a 3 anos, caracterizada por palidez,
atrofia, alteração de pilificação, cianose.
O diagnóstico é clínico e exames complementares
são úteis para descartar outras causas.
Não existe padrão-ouro para o tratamento; pode-se
fazer uso de analgesia, AINE, gabapentinoides e
antidepressivos duais. Reabilitação precoce está
indicada.
2.6. EPICONDILITES
BASES DA MEDICINA
Trata-se um quadro autolimitado que pode durar
entre 3 e 5 anos. Sequelas ocorrem em pequena A articulação do cotovelo é formada por úmero, ulna
e rádio. Os epicôndilos medial e lateral, presentes na
319
Fibromialgia e síndromes reumáticas dolorosas regionais Reumatologia
extremidade distal do úmero, recebem os tendões dos 2.7. SÍNDROME DO TÚNEL DO CARPO
músculos do antebraço. O epicôndilo é a região do ante-
braço ao nível do cotovelo em que se inserem os tendões
dos músculos do antebraço, responsáveis pela flexão
ou extensão do punho, recebendo o nome de epicôndilo BASES DA MEDICINA
medial e lateral, respectivamente.
O túnel do carpo é uma estrutura inelástica localizada no
punho. É formado superiormente pelo ligamento trans-
A epicondilite é definida como a inflamação do verso do carpo (ou seja, o teto do túnel) e inferiormente
epicôndilo decorrente de overuse ou movimentos pelos ossos do carpo (chão do túnel). Na parede lateral
inadequados, sendo a lateral conhecida como do é delimitado pelo osso escafoide e trapézio e na parede
ulnar é delimitado pelo pisiforme e hamato (Figura 19). O
“tenista” e a medial do “golfista”.
túnel do carpo tem como componentes o nervo mediano
e 9 tendões flexores.
Figura 18. Epicondilite lateral (cotovelo do tenista).
O nervo mediano é responsável pela sensibilidade da
pele, no aspecto palmolateral da mão até metade do 4º
dedo, e pela porção distal da região dorsal dos 3 dedos. O
nervo mediano também é responsável pela inervação dos
músculos que formam a iminência tenar (flexor curto do
polegar, abdutor curto do polegar e oponente do polegar)
e dos dois lumbricais laterais.
Fonte: BlueRingMedia/Shutterstock.com6
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A epicondilite lateral é mais comum do que a medial.
O diagnóstico de ambas é clínico, não sendo neces-
sários exames complementares.
Ao exame físico, nota-se reprodução da dor à pal-
pação dos epicôndilos e realização de manobras
de contrarresistência de flexão (medial) e extensão
do punho (lateral).
O tratamento consiste no uso de AINE e infiltração
com corticoide local.
320
Fibromialgia e síndromes reumáticas dolorosas regionais Cap. 12
Tendão
e bainha
tendínea
Ossos do carpo
Ligamento
Nervo Anatomia normal - Visão transversal
transverso
mediano
do carpo
Nervo mediano Ligamento transverso
Túnel do Bainha do comprimido do carpo
carpo tendão
Túnel do
Tendão carpo
Tendão e
bainha
tendínea
Ossos do carpo
Síndrome do túnel do carpo - Visão transversal
Fonte: Pepermpron/Shutterstock.com7
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A síndrome do túnel do carpo é a neuropatia com- Phalen, flexão forçada do punho por 1 minuto com
pressiva mais comum, decorrente de compressão reprodução dos sintomas.
do nervo mediano ao nível do punho. Manifesta-se
clinicamente com sensação de parestesia, princi- Figura 20. Teste de Phalen.
palmente noturna, em região palmar do primeiro,
segundo, terceiro e metade do quarto dedo da
mão. É associada a condições que podem elevar
a pressão dentro do túnel, por edema ou lesão de
estruturas adjacentes, como obesidade, gestação,
hipotireoidismo, amiloidose, diabetes mellitus, artrite
reumatoide, cisto sinovial, fratura.
Inicialmente, o quadro neurológico é reversível, sem
danos às fibras nervosas; no entanto, se não tratada,
a evolução é de acometimento irreversível, que se
estende para envolvimento motor. Portanto, nota-se
na doença tardia dificuldade em realizar abdução
do polegar e atrofia de eminência tenar.
Ao exame físico, dois testes auxiliam no diagnós- Fonte: Acervo Sanar.
tico de síndrome do túnel do carpo: teste de Tinel,
percussão do trajeto do mediano no punho (o teste
é positivo se reprodução dos sintomas), teste de
321
Fibromialgia e síndromes reumáticas dolorosas regionais Reumatologia
BASES DA MEDICINA
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2.8. SÍNDROME DO CANAL DE GUYON
extensão, o qual permanece fletido.
322
Fibromialgia e síndromes reumáticas dolorosas regionais Cap. 12
Clinicamente, nota-se o gatilho e o nódulo doloroso Figura 23. Anatomia da fáscia palmar
ao nível das metacarpofalangeanas. acometida no Dupuytren.
BASES DA MEDICINA
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os tendões flexores e osso. Esse tecido recebe o nome
Fonte: Acervo Sanar.
de fáscia palmar.
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BASES DA MEDICINA
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os tendões extensor curto do polegar e abdutor longo
do polegar. Esse compartimento é mais estreito que os
demais, o que torna a região propensa a mais atrito.
BASES DA MEDICINA
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Fibromialgia e síndromes reumáticas dolorosas regionais Cap. 12
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Fonte: Acervo Sanar.
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Exame físico
Diagnóstico
Reumatismos
Testes específicos
de partes moles
Analgesia
Tratamento
Reabilitação
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Clínica
e Síndromes
Reumáticas Transtorno de humor
Dolorosas
Regionais
Fadiga
Diagnóstico Clínico
Atividade física
Terapias psicológicas
Fibromialgia
Tratamento Antidepressivos
Gabapentinoides
Relaxante muscular
.
326
Fibromialgia e síndromes reumáticas dolorosas regionais Cap. 12
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327
Fibromialgia e síndromes reumáticas dolorosas regionais Reumatologia
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1 Questão 3
(UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ – PR – 2021) O exame (HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ONOFRE LOPES – RN – 2020) Mulher
físico osteoarticular é fundamental no manejo de de 45 anos refere dor e queixa de fadiga frequente
doenças reumatológicas. Sobre as manobras de nos membros superiores e inferiores, articulações
exame físico, assinale a alternativa correta: e na região dorso-lombar há 2 anos. Relata insônia
e sensação de “inchaço” nas mãos, especialmente
⮦ A realização do FABERE indica acometimento ao acordar. Atualmente usa analgésicos comuns,
de sacroilíacas quando o paciente refere dor em porém já fez uso de outros medicamentos sem,
região inguinal contralateral. no entanto, dar continuidade. Nega outras doen-
⮧ A manobra de rotação externa do ombro é rea- ças. Exerce a profissão de copeira. Tabagista há
lizada com intuito de se avaliar o músculo su- 20 anos, não faz atividade física regularmente. Ao
bescapular. exame, apresenta-se em bom estado geral, mas um
⮨ A restrição de movimento articular passivo indi- pouco ansiosa, com exame cardiopulmonar nor-
ca comprometimento intra-articular, o que pode mal, articulações sem sinais flogísticos. Apresenta
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indicar artrite. dor nos movimentos da coluna dorso lombar, mas
⮩ O teste de Tinnel, utilizado na avaliação de Sd sem limitação destes, e dor à palpação em vários
do túnel do carpo, é positivo quando o paciente pontos nos membros superiores e inferiores. Com
tem dor restrita ao local da percussão. base nesse quadro descrito, que sugere fibromial-
gia, o tratamento medicamentoso a ser iniciado é
⮪ O teste de Lachman, quando positivo, indica ins-
tabilidade por lesão meniscal medial e lateral. ⮦ Analgésicos opioides + anti-inflamatórios não
hormonais.
Questão 2 ⮧ Anti-inflamatórios não hormonais + antidepres-
sivos tricíclicos.
(UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA – SP – 2021) Homem de ⮨ Corticosteroides + analgésicos comuns.
25 anos apresenta queixas inespecíficas de dor ge-
⮩ Antidepressivos tricíclicos + analgésicos comuns.
neralizada há 1 ano. Essa dor é contínua, profunda
e superficial, não se limitando a uma estrutura, sem
fatores de melhora ou piora identificados. Realizou Questão 4
extensa investigação diagnóstica sem nenhuma al-
teração. AP: fadiga e sono não reparador há anos. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO – RJ –
Em relação ao diagnóstico desse paciente, pode¬- 2020) Paciente de 40 anos, sexo feminino, procura
mos afirmar que se trata de dor: ambulatórios de clínica médica de vários postos de
saúde e hospitais com queixas de cansaço, dores
⮦ Nociceptiva. em articulações e musculares, alterações no sono
⮧ Neuropática. e constipação crônica. Os sintomas não melhoram
⮨ Nociplástica. com o uso de analgésicos, anti-inflamatórios ou
corticoesteroides. Os exames laboratoriais usuais
⮩ Psicogênica.
328
Fibromialgia e síndromes reumáticas dolorosas regionais Cap. 12
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3) Phalen.
4) Filkenstein. ⮦ Bursite do olecrano.
Questão 9
Questão 6
(HOSPITAL UNIVERSITÁRIO PRESIDENTE DUTRA – MA – 2021) (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – SP – 2021) Mulher,
Mulher digitadora apresenta dor importante ao 55 anos de idade, sofreu queda sobre o ombro, evo-
tentar estender o polegar direito. Ao exame: teste luindo com dor na região anterolateral do ombro e
de Finkelstein positivo, Tinel e Phalen negativos. O braço. Exame físico: incapacidade de rotação lateral
diagnóstico mais provável e melhor opção terapêu- do ombro e teste de Patte positivo. As radiografias
tica para o caso é: do ombro são normais. Assinale a alternativa que
corresponde à lesão mais provável.
⮦ Rizartrose / infiltração com corticoide e tala
gessada. ⮦ Lesão do tendão do supraespinal.
329
Fibromialgia e síndromes reumáticas dolorosas regionais Reumatologia
GABARITO E COMENTÁRIOS
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produz os sintomas do paciente (dor e parestesia na e dopamina. O tratamento envolve a terapia não
em território no nervo mediano). medicamentosa, que inclui atividade física, higiene
Alternativa E: INCORRETA. Teste de Lachman avalia do sono e psicoterapia, e a terapia medicamentosa,
a integridade do ligamento cruzado anterior e não que utiliza antidepressivos, analgésicos, relaxantes
lesão meniscal. musculares, gabapentinoides e indutores do sono.
Portanto, alternativa D.
✔ resposta: C
✔ resposta: D
Questão 2 dificuldade:
Questão 4 dificuldade:
Y Dica do professor: Homens com fibromialgia, ape-
sar de apresentarem dor difusa, tendem a não ter Y Dica do professor: Paciente feminina de meia ida-
tender points ao exame físico. de, com sintomas frustros associados à artropatia
Alternativa A: INCORRETA. Dor nociceptiva ocorre por e à alteração do ciclo do sono vigia, sem alterações
injúria tecidual e ativação de nociceptores. laboratoriais. Dentre as afecções apresentadas, a
mais indicativa do quadro é a fibromialgia. A fibro-
Alternativa B: INCORRETA. Dor neuropática é causa-
mialgia é caracterizada por dor muscular e articular
da por lesão ou doença do sistema nervoso soma-
generalizada, que costuma ser acompanhada por
tossensorial.
fadiga e alterações no sono, na memória e no hu-
Alternativa C: CORRETA. A dor nociplástica é o me- mor. Não existindo tratamento específico, indica-se
canismo de dor que ocorre na fibromialgia. Não há a psicoterapia e a redução do estresse, que podem
injúria tecidual, mas existe alteração da modulação ajudar no controle dos sintomas.
do processo de dor (amplificação do estímulo).
330
Fibromialgia e síndromes reumáticas dolorosas regionais Cap. 12
Alternativa A: INCORRETO. Em geral, é uma doença Teste de Phalen: o paciente deve manter os punhos
que acomete pessoas acima de 50 anos, causan- encostados em flexão por cerca de 30 a 60 segun-
do rigidez e dores no pescoço, ombros e quadris. dos. O sinal é considerado positivo quando há repro-
Alternativa B: CORRETO. dução ou piora dos sintomas do paciente. É útil
para o diagnóstico de síndrome de túnel do carpo.
Alternativa C: INCORRETO. Geralmente, cursa com
Alternativa A: INCORRETO. A rizartrose é caracteri-
serosites e alterações laboratoriais características.
zada por alterações degenerativas na articulação
Alternativa D: INCORRETO. Pouco provável visto a trapeziometacarpiana (base do polegar). O sinal de
não descrição de sintomas psiconeurológicos su- Finkelstein não costuma ser positivo.
gestivos.
Alternativa B: INCORRETO. Nesse caso, teríamos a
Alternativa E: INCORRETO. Diagnóstico raro sem com- positividade dos testes de Phalen e Tinel.
provação com o quadro descrito.
Alternativa C: INCORRETO. O tratamento da tensossi-
✔ resposta: B novite de Quervain é inicialmente conservador, com
repouso, imobilização e uso de anti-inflamatórios
dificuldade:
para controle do quadro.
Questão 5
Alternativa D: INCORRETO. O tratamento da tensossi-
Y Dica do professor: Questão sem grandes dificul- novite de Quervain é inicialmente conservador, com
dades. Apresenta testes conhecidos que podiam te repouso, imobilização e uso de anti-inflamatórios
guiar para o acerto. Certamente o teste de Phalen para controle do quadro. Infiltração de corticoide e
é o mais conhecido para a Síndrome do Túnel do procedimentos cirúrgicos podem ser necessários
Carpo e só por ele já eliminaria duas alternativas (B nos casos refratários.
e D), ficando entre A e C. O teste de Jobe também
Alternativa E: CORRETO. Vide dica do professor.
é de fácil reconhecimento para o ombro.
✔ resposta: E
Alternativa A: CORRETA. a- Teste de Jobe para o Su-
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pra espinhal, b- Teste de Phalen para STC, c- Teste
de Schober para EA, d- Teste de Finkelstein para Questão 7 dificuldade:
de Quervain
Y Dica do professor: Dor no ombro é uma queixa
Alternativa B: INCORRETA. b/d.
comum no ambiente de atenção primária. Pacien-
Alternativa C: INCORRETA. a/d. tes com patologia do manguito rotador constituem
Alternativa D: INCORRETA. a/b/d. uma porção considerável dessa subpopulação. O
✔ resposta: A manguito rotador é o grupo de músculos e tendões
que se inserem na região proximal do úmero. É for-
mado por 4 músculos do ombro: o subscapular, o
Questão 6 dificuldade: supraespinhal, o infraespinhal e o redondo menor
(Alternativa C: INCORRETA. O bíceps braquial não
Y Dica do professor: Vamos relembrar esses sinais
faz parte dos músculos que formam o manguito
descritos no enunciado:
rotador). A patologia do tendão do manguito rota-
Teste de Finkelstein: o paciente segura o polegar dor geralmente envolve danos ao tendão supraes-
com os outros dedos da mão e faz um desvio ulnar. pinhal (Alternativa D: CORRETA. Alternativas A, B e
Na presença de dor, o teste é considerado positivo e E: INCORRETAS). O músculo supraespinhal auxilia
sugere o diagnóstico de tenossinovite de Quervain. na abdução e rotação externa do ombro. A causa
Teste de Tinel: realiza-se percussão no punho afe- das rupturas do manguito rotador é provavelmente
tado em posição de extensão. Se o paciente refere multifatorial. Degeneração, impacto e sobrecarga
parestesia, sensação de choque, com irradiação para podem contribuir em vários graus para o desenvol-
o 1º, o 2º e o 3º quirodáctilos, o sinal é positivo. É útil vimento de rupturas do manguito rotador.
para o diagnóstico de síndrome de túnel do carpo.
✔ resposta: D
331
Fibromialgia e síndromes reumáticas dolorosas regionais Reumatologia
Questão 8 dificuldade:
Questão 9 dificuldade:
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um dos braços apresentar fraqueza, revelando per-
da da integridade do supraespinhoso. A presença
de dor, sem fraqueza, indica apenas uma tendinite
conhecida como "síndrome do impacto”.
✔ resposta: D
332
Capítulo
LOMBALGIA E CERVICALGIA
13
importância/prevalência
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A maioria dos pacientes apresenta um distúrbio
mecânico/musculoesquelético para o aparecimento
dos sintomas, como desvios posturais, contratura
muscular, um trigger point, sobrecarga ligamentar,
entre outras. Antes de iniciarmos a avaliação e o
manejo da cervicalgia e lombalgia, é importante
relembrar aspectos importantes sobre a anatomia
dessas regiões, para melhor compreensão das
possíveis etiologias.
2. A COLUNA VERTEBRAL
333
Lombalgia e cervicalgia Reumatologia
Figura 2. Articulação atlantoaxial (C1-C2). As demais vértebras cervicais são constituídas pelo
corpo vertebral e pelo arco posterior, formando o
forame vertebral; e articulam-se entre si através dos
discos intervertebrais (articulações fibrocartilagino-
sas) e articulações zigoapofisárias/interfacetárias
(sinoviais).
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Os processos articulares inferiores da vértebra se articulam com os processos articulares superiores da vértebra situada
logo abaixo desta, através das facetas articulares (articulações zigoapofisárias). A medula espinhal se situa dentro do forame
vertebral, delimitado pelas lâminas, pedículos e corpo vertebral. A artéria vertebral passa através do forame transverso.
Fonte: Acervo Sanar.
334
Lombalgia e cervicalgia Cap. 13
É característica comum das vértebras lombares possuírem corpos grandes e reniformes, forames
vertebrais triangulares, pedículos e lâminas curtas e espessas.
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Fonte: stihii/Shutterstock.com¹.
A medula espinal ocupa o canal vertebral, do forame São inúmeras as etiologias responsáveis por cau-
magno até a 1ª ou 2ª vértebra lombar, depois diverge sar cervicalgia ou lombalgia. Vimos que existem
em nervos individuais que viajam para a porção estruturas que compõem a região musculoesque-
inferior lombossacra. Por causa de sua aparência, lética cervical e lombar, como músculos, nervos,
este grupo de nervos é chamado de cauda equina. ligamentos, articulações, e, além das estruturas
musculoesqueléticas, causas extraespinhais podem
levar à sintomatologia álgica, como uma pielonefrite
3. ETIOLOGIAS evoluindo com dor lombar ou uma tireoidite evo-
luindo com dor cervical. Portanto, fique atento ao
enunciado das questões de prova para identificar
corretamente a causa da cervicalgia/lombalgia.
BASES DA MEDICINA
A possibilidade de diagnósticos diferenciais de
cervicalgia e lombalgia é ampla, porém a maioria
ara compreender as etiologias possíveis, é fundamental
P
conhecer os aspectos anatômicos apresentados anterior- dos casos é secundário a problemas musculoesque-
mente e também lembrar das estruturas não espinhais léticos, como tensão muscular, dor miofascial, dor
da região cervical e lombar. discogênica ou dor de origem facetária. O segundo
grupo mais frequente é de causas neurológicas,
335
Lombalgia e cervicalgia Reumatologia
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Lombalgia e cervicalgia Cap. 13
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337
Lombalgia e cervicalgia Reumatologia
A avaliação da presença de red flags é fundamental o médico fique atento à necessidade de abordar o
na anamnese e determina a necessidade ou não paciente de maneira mais holística e multidisciplinar,
de avaliação complementar. Note que a presença evitando a solicitação excessiva de exames, assim
de sinais de alarme indica a possibilidade de dor como terapias farmacológicas em demasia.
secundária à síndrome da cauda equina, origem
traumática, infecciosa, neoplásica ou reumato- 4.2. EXAME FÍSICO
lógica inflamatória (espondiloartrite). Portanto, a
possibilidade de não se tratar de uma dor de origem
puramente musculoesquelética primária faz com
BASES DA MEDICINA
que exista a necessidade de investigação adicional.
Já a presença de yellow flags (bandeiras amarelas) embre-se, cada nervo espinhal é composto por uma raiz
L
indica risco de cronificação e incapacidade da dor ventral e outra dorsal; a raiz ventral contém fibras eferentes
lombar. A presença de yellow flags como catastro- dos neurônios motores no corno ventral da medula; já a
fismo, depressão, situação trabalhista, faz com que raiz dorsal contém fibras aferentes sensoriais primárias
das células no gânglio da raiz dorsal.
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Fonte: Acervo Sanar.
338
Lombalgia e cervicalgia Cap. 13
discais, buscando encontrar os pontos álgicos e já dor na parte anterior ipsilateral, é sugestivo de
identificar exatamente onde se localiza a dor e para patologias do quadril.
onde irradia.
Figura 7. Teste de Patrick.
4.2.3. Testes
4.2.3.1. Lombalgia
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quando o aumento é < 5 cm.
339
Lombalgia e cervicalgia Reumatologia
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A avaliação motora é importante, pois a presença
Fonte: Acervo Sanar.
de fraqueza é mais específica para compressão
radicular do que a descrição de ciatalgia na história
Teste de Spurling é análogo ao Lasègue para avalia- clínica do paciente. Com isso, testa-se no contexto
ção radicular; no entanto, visa rastrear radiculopatia da lombalgia a dorsiflexão do pé (L4), dorsiflexão
da região cervical. Com o paciente sentado, o exa- do hálux para L5 e, ao testar a flexão plantar do pé,
minador inclina a cabeça dele para o lado doloroso é possível avaliar a força em S1, pedindo para o
e realiza uma compressão para baixo. Considerado paciente deambular na ponta dos pés. Um resumo
positivo no caso de reprodução da dor, parestesia das raízes nervosas lombares e cervicais está nos
e irradiação. Quadros 1 e 2.
Quadro 1. Raízes nervosas e alterações correspondentes motoras, de sensibilidade e reflexos (C5-C8 e T1).
Raízes nervosas C5 C6 C7 C8 T1
Face lateral
Dedos anelar
do antebraço,
Sensibilidade/ Face lateral do e mínimo, face Face medial
polegar, índice Dedo médio
Trajeto da dor antebraço medial do do antebraço
e metade do
antebraço
dedo médio
Bíceps,
Tríceps, flexores Flexores dos Musculatura
Teste motor Deltoide e bíceps extensores
do punho dedos intrínseca da mão
do punho
340
Lombalgia e cervicalgia Cap. 13
Quadro 2. Raízes nervosas e alterações correspondentes motoras, de sensibilidade e reflexos (L4, L5 e S1).
Raízes nervosas L4 L5 S1
Nádega-face posterolateral
Nádega-face anterolateral Nádega-face posterior
Sensibilidade/ da coxa-face lateral da
da coxa-borda da coxa-face posterior da
Trajeto da dor perna até tornozelo-região
anterior da perna perna-região plantar do pé
dorsal do pé e hálux
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Fonte: Acervo Sanar.
341
Lombalgia e cervicalgia Reumatologia
alerta e pacientes que não melhoram em 6 semanas, 5.2. LOMBALGIA MECÂNICA COMUM
apesar do tratamento adequado.
O exame de imagem mais adequado para avaliação
BASES DA MEDICINA
da coluna é a ressonância nuclear magnética pela
sua alta sensibilidade; no entanto, não apresenta
uma boa especificidade, já que muitos achados no origem da dor na LMC não é muito conhecida. Acredi-
A
ta-se que seja multifatorial e associada à disfunção no
exame não são correlacionáveis com a clínica do
controle da dor no sistema nervoso central.
paciente. Já a radiografia é uma opção acessível
e de menor custo, com utilidade na detecção de Guarde essa síndrome, pois é a principal causa de
alterações ósseas. lombalgia crônica. A dor lombar é inespecífica e
chamada de Lombalgia Mecânica Comum (LMC).
Trata-se de uma lombalgia de ritmo mecânico bilate-
DIA A DIA MÉDICO ral ou unilateral, com ou sem irradiação para nádegas
e região sacral. Tal irradiação não caracteriza uma
a prática do manejo de lombalgias e cervicalgias, vemos
N radiculopatia (Teste de Lasègue e reflexos normais,
uma solicitação excessiva de exames complementares, trajeto da dor não compatível com raiz nervosa).
desnecessária e redundante. Infelizmente, a avaliação
clínica, anamnese e exame físico, não são priorizados. Os exames laboratoriais são normais, e exames de
imagem podem mostrar alterações degenerativas
inespecíficas, como desidratação discal e osteófitos.
5. SÍNDROMES CLÍNICAS
O tratamento é conservador, com analgesia, edu-
cação ao paciente, cinesioterapia e fortalecimento
5.1. SÍNDROME DOLOROSA MIOFASCIAL muscular. O afastamento ao trabalho e repouso
absoluto devem ser desencorajados.
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BASES DA MEDICINA
DIA A DIA MÉDICO
342
Lombalgia e cervicalgia Cap. 13
A degeneração do disco intervertebral faz com podemos encontrar hérnia discal pela imagem em
que o núcleo pulposo colabe e empurre para fora pacientes assintomáticos. Em determinados casos,
o anel fibroso que está enfraquecido. Quando nos a hérnia discal pode ser sintomática, resultando em
referimos à presença de hérnia discal, estamos envolvimento da raiz nervosa e quadro clínico de
definindo que houve o deslocamento do núcleo radiculopatia.
pulposo além dos limites do anel fibroso. Portanto,
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Fonte: Acervo Sanar.
A maioria das hérnias discais acometem os discos resolução da dor em semanas. Evolução para sín-
de L4-L5 e L5-S1. No caso da hérnia discal sintomá- drome da cauda equina é rara e ocorre por uma
tica, o envolvimento da raiz nervosa faz com que o hérnia discal maciça de linha média. Trata-se de
paciente se apresente com dor irradiada em trajeto uma emergência cirúrgica, e clinicamente o paciente
radicular (cervicobraquialgia ou lombociatalgia). A se apresenta com ciatalgia bilateral, déficit motor,
dor é de início agudo, após esforço em flexão. anestesia em cela (perda sensorial no períneo) e
incontinência urinária e fecal.
O diagnóstico é clínico, baseado na história compa-
tível e exame físico característico: limitação e piora
da dor à flexão, Sinal de Lasègue positivo, trajeto da 5.4. ESTENOSE DE CANAL LOMBAR
dor e sensibilidade compatíveis com raiz nervosa,
assim como alteração de reflexo (hiporreflexia)
correspondente à compressão da raiz acometida BASES DA MEDICINA
e ao déficit motor.
O prognóstico da hérnia discal com radiculopatia ormalmente o canal medular tem reserva de espaço
N
suficiente, permitindo o deslizamento e a tração das
é favorável, com menos de 10% necessitando de
estruturas nervosas, sem o desenvolvimento de sintomas.
intervenção cirúrgica, e a maioria dos casos com No entanto, numa condição patológica, pode ocorrer a
343
Lombalgia e cervicalgia Reumatologia
compressão gradual e progressiva do tecido nervoso. de exercício físico, fisioterapia e medidas terapêu-
Esta compressão se desenvolve simultaneamente com ticas, como: terapia cognitivo-comportamental,
o avançar do processo degenerativo (espessamentos
acupuntura e outras. Como dito anteriormente, o
ligamentares, osteofitose, prolapsos discais e alarga-
mento da lâmina).
repouso absoluto deve ser desencorajado, e os
pacientes devem ser orientados a manter suas ati-
A síndrome do canal estreito é mais comum após vidades rotineiras, o que leva à recuperação mais
os 50 anos e aumenta sua frequência com o enve- rápida e menor incapacidade a longo prazo.
lhecimento. Geralmente decorre de processos dege-
nerativos, como hipertrofia ligamentar, protrusões
6.2. TERAPIA MEDICAMENTOSA
discais, escolioses, que ocasionam diminuição do
canal lombar.
Sabe-se que cerca de 90% das lombalgias melhoram
Clinicamente, o indivíduo se manifesta com lom- espontaneamente sem qualquer intervenção, em um
balgia crônica, que piora a extensão da coluna e período de 30 dias. No entanto, na prática, é comum
melhora a flexão. A claudicação neurogênica é a prescrição de anti-inflamatórios não esteroidais,
um sintoma característico da estenose de canal analgesia simples e relaxantes musculares. Sendo
lombar, e é definida como dor ou desconforto nos a lombalgia um sintoma relacionado à dor, o trata-
membros inferiores, exacerbada pela extensão da mento “sintomático” deve seguir a escala de dor,
coluna lombar em ortostase prolongada ou marcha sendo o tratamento escalonado. É muito importante
e que melhora com a flexão da coluna. ponderar os possíveis efeitos colaterais, fazendo
Diante de achados clínicos sugestivos, a ressonância uma análise do risco-benefício.
magnética da coluna facilita a avaliação do canal e Os antidepressivos duais, tricíclicos e gabapenti-
as relações anatômicas das estruturas. noides são medicações que podem ser usadas na
O tratamento geralmente é conservador, com anal- sintomatologia crônica.
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gesia e reabilitação. Pacientes incapacitados pela Ademais, o tratamento deve ser dirigido à etiolo-
claudicação neurogênica tem indicação cirúrgica. gia; logo, causas infecciosas bacterianas devem
ser tratadas com uso de antibióticos, assim como
espondiloartrites, neoplasias e fratura vertebral por
DICA
Claudicação neurogênica = esteno- osteoporose, seguem suas respectivas recomen-
se de canal lombar. dações de tratamento.
344
Lombalgia e cervicalgia Cap. 13
Lombalgia
Estenose de
Claudicação neurogênica
canal medular
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Ausência de radiculopatia
e claudicação
Lombalgia mecânica
comum
Ausência de radiculopatia
e claudicação
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Lombalgia e cervicalgia Reumatologia
REFERÊNCIAS
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Lombalgia e cervicalgia Cap. 13
QUESTÕES COMENTADAS
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porém nega melhora significativa. Nega febre ou
canhares.
perda de peso. O exame clínico é normal exceto por
⮨ Preservados e marcha dificultada na ponta dos dor à flexão e extensão lombar. O exame neuroló-
pés. gico é normal. Paciente traz exame de ressonância
⮩ Diminuídos e marcha dificultada na ponta dos magnética realizado há 2 meses com desidratação
pés. discal L4-L5 e L5-S1. Discretas protrusões discais
nesses níveis sem conflito radicular. Qual é a prin-
cipal hipótese diagnóstica?
Questão 2
⮦ Lombalgia mecânica comum.
(SECRETARIA MUNICIPAL DE ADMINISTRAÇÃO DE VOLTA RE-
DONDA – 2019) Na prevenção de novos episódios de ⮧ Estenose de canal lombar.
lombalgia se mostraram eficientes: ⮨ Espondilite anquilosante.
⮩ Hernia discal.
⮦ Exercícios.
⮧ Uso de suporte lombar.
⮨ Manejo de estresse. Questão 4
347
Lombalgia e cervicalgia Reumatologia
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anos, sem antecedentes mórbidos, vem ao Pronto-
para tal achado.
-Socorro com queixa de dor lombar intensa, de início
súbito, após levantar peso. A dor limita os movimen- ⮦ Febre e perda de peso - causas inflamatórias.
tos e irradia para o membro inferior esquerdo, com ⮧ Rigidez matinal maior que 1 hora - causas trau-
trajeto pela face póstero-lateral da coxa, panturrilha máticas.
e planta do pé. Exame clínico: bom estado geral,
⮨ Dor com maior intensidade à noite – osteoartrite.
corado, PA = 150 x 90 mmHg, FC = 90 bpm, Tax =
36,9°C. Contratura muscular paravertebral lombar ⮩ Diminuição da força muscular - espondilite ou
com limitação aos movimentos de flexão lombar. epifisite.
Teste de Lasègue positivo. Apresenta dificuldade ⮪ Anestesia em sela - compressão da cauda equina.
para marcha na ponta dos pés e o reflexo aquileu
esquerdo está diminuído. Sem outras alterações.
Questão 9
O próximo exame a ser solicitado é:
(HOSPITAL SÃO LUCAS COPACABANA – RJ – 2020) Uma mu-
⮦ Radiografia de coluna lombossacra AP e perfil.
lher de 68 anos de idade queixa-se de piora de dor
⮧ Tomografia computadorizada de coluna lom- nas costas, nádegas e nas coxas bilateralmente
bossacra. nos últimos 6 a 9 meses. Ela relata que a dor é pior
⮨ Ressonância magnética de coluna lombossacra. quando fica em pé por mais de 10 a 15 minutos. A
⮩ Não é necessário nenhum exame adicional. dor também está presente durante uma caminha-
da prolongada. Em todos os casos, ela se sente
melhor quando se senta. Ela nega qualquer dor ou
inchaço na panturrilha. Seu histórico médico é no-
tável para hipertensão controlada com enalapril.
Seu único outro medicamento é a vitamina D diária.
348
Lombalgia e cervicalgia Cap. 13
⮦ Dissecção da aorta.
⮧ Doença do disco lombar.
⮨ Estenose do canal medular lombar.
⮩ Arterite de Takayasu.
⮪ Claudicação vascular.
Questão 10
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lo quadríceps e diminuição do Reflexo Aquileu.
⮨ Posterolateral da coxa, até o joelho, com atrofia
do quadríceps e diminuição do reflexo patelar.
⮩ Medial da perna e do pé, com fraqueza muscular
do extensor longo do hálux e ausência de res-
posta plantar dos dedos.
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Lombalgia e cervicalgia Reumatologia
GABARITO E COMENTÁRIOS
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complicação, devendo o paciente estar atendo aos
Alternativa D: INCORRETA. Andar nas pontas dos pés sinais e sintomas, e não utilizar o medicamento de
testa S1 e o reflexo seria o Aquileu. forma indiscriminada, pois haveria aumento do risco.
✔ resposta: A Outros efeitos adversos com diversas gravidades
podem estar associados desde à dor abdominal, à
diarreia e à dispepsia e até úlceras, a hemorragias
Questão 2 dificuldade: gastrointestinais e à perfuração. As demais con-
dições supracitadas podem estar associadas se
Y Dica do professor: O fortalecimento da muscula-
houver uso excessivo do medicamento; contudo,
tura paravertebral reduz de forma considerável a
ocorrem em menor frequência quando compara-
sobrecarga na coluna lombar, com melhora impor-
dos a úlcera gástrica.
tante da dor lombar.
resposta: D
resposta: A
✔
✔
Questão 5 dificuldade:
Questão 3 dificuldade:
Y Dica do professor: Red flags são definidos como
Y Dica do professor: Paciente com queixa mecânica
dados da história médica individual e exame clíni-
de longa data; logo, podemos descartar espondilite
co que possam estar associados a um risco eleva-
anquilosante. Estenose de canal é compatível com
do de doenças graves, como infeção, inflamação,
idosos apresentando claudicação neurogênica, já a
neoplasias ou fratura. Portanto, a presença de red
hérnia discal teria sinais de radiculopatia ao exame
flags enfatiza a necessidade de investigação para
físico. Se você não consegue encontrar claramente
diferenciar uma causa mecânica ou não mecânica,
podendo indicar presença de doença grave. A coluna
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Lombalgia e cervicalgia Cap. 13
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e panturrilha; e presença de Teste de Lasègue posi- Alternativa C: INCORRETA. O quadro de dor pior à
tivo, estamos diante de um quadro clássico de lom- noite (principalmente durante a segunda metade
bociatalgia sem sinais de complicação. Assim, não da noite) é sugestivo de espondilite anquilosante.
necessitamos de exame complementar, somente Alternativa D: INCORRETA. A presença de diminuição
conduta com analgesia e relaxamentos musculares da forma muscular é sugestiva de radiculopatias
associada à fisioterapia local. ou mesmo de uma doença de degenerativa do sis-
✔ resposta: D tema nervoso.
Alternativa E: CORRETA. A anestesia em sela (aneste-
sia da região perineal) é sugestiva de compressão
Questão 7 dificuldade:
da cauda equina. Pode vir acompanhada de reten-
Y Dica do professor: Anti-Inflamatórios Não Hormo- ção urinária e incontinência fecal.
nais (AINHs), na prática clínica, são os medicamen- ✔ resposta: E
tos mais empregados para lombalgia. Dependendo
da dose utilizada, a intervalos regulares, têm efei-
Questão 9 dificuldade:
tos analgésicos e anti-inflamatórios. A terapia não
farmacológica é baseada em mudanças compor- Y Dica do professor: Questão com quadro clássico
tamentais, como perda de peso, prática de exercí- de estenose medular: paciente idosa apresentando
cio físico e fisioterapia. Sabemos que no manejo quadro de claudicação neurogênica. Em movimentos
da lombalgia é desencorajado o repouso absoluto, no qual há flexão da coluna, ou paciente sentado, há
então consideraremos que o autor da questão quis alívio da dor. Doença mais prevalente em pacientes
dizer repouso relativo. de meia idade, com quadros já de osteoartrite ou
✔ resposta: C outras doenças osteomusculares.
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Lombalgia e cervicalgia Reumatologia
Questão 10 dificuldade:
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por hérnia localizada entre L5 e S1Ç. Logo, o quadro
apresentado será correspondente à compressão
de S1. Sabemos que este tipo de compressão se
manifesta com dor na região posterior da coxa e da
perna, com diminuição ou abolição do reflexo pate-
lar. A compressão, quando ocorre por hérnia entre
L3 e L4, se apresenta com dor na região anterior da
coxa e redução do reflexo patelar; e, quando entre
L4 e L5, manifesta-se com dor na lateral da coxa,
sem alteração dos reflexos.
✔ resposta: A
352
Capítulo
MISCELÂNIA EM REUMATOLOGIA
14
importância/prevalência
u Em relação à amiloidose sistêmica, é importante diferenciar os dois tipos (AL e AA) em relação ao quadro
clínico.
u O diagnóstico de amiloidose é definido com o achado da proteína amiloide na biópsia, a qual tem birrefrin-
gência em maçã verde e cora com vermelho Congo.
u Sobre a doença de Still do adulto, saber a sua apresentação, que é caracterizada por surtos de febre, artrite
e rash cutâneo.
u Também lembrar das alterações laboratoriais na doença de Still, como leucocitose e indícios de estado
inflamatório crônico.
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amorfo, homogêneo, que se cora com vermelho Congo
e possui birrefringência em maçã verde.
BASES DA MEDICINA
353
Miscelânia em reumatologia Reumatologia
fibrilas amiloides por imunoglobulinas de cadeia quando existe uma inflamação contínua ou recorrente, que
leve. É a amiloidose sistêmica mais comum (70%), promove uma superprodução de proteína amiloide A sérica.
sem predileção por sexo e acomete indivíduos maio-
res de 40 anos. A presença de proteína monoclonal Forma de amiloidose sistêmica, secundária e adqui-
ocorre em mais de 80% dos casos. rida, decorrente de deposição de proteína amiloide
As manifestações mais comuns são fadiga e perda A. Infecções crônicas, reumatológicas (artrite reu-
de peso. Podem ocorrer sangramentos e púrpura matoide, febre familiar do Mediterrâneo, artrite
em tronco, face e membros superiores (na região idiopática juvenil, entre outras) e neoplásicas são
orbitária, a púrpura recebe o nome de raccoon causas de amiloidose AA.
eyes). São achados ao exame físico: hepatomegalia,
macroglossia, distrofia ungueal e síndrome do túnel
do carpo. A macroglossia é considerada patogno- DICA
Na amiloidose AA não encontramos
mônica de amiloidose AL, porém está presente em macroglossia.
apenas 10% a 20% dos casos.
O sinal da ombreira é o alargamento da porção
anterior do ombro por deposição de amiloide. Tam- Os órgãos mais acometidos são os rins e o fígado.
bém pode haver infiltração muscular, cursando com Ao contrário da amiloidose AL, miocardiopatia e
fraqueza. Outro achado é o alargamento de quadril. neuropatia raramente ocorrem. Os achados clínicos
da amiloidose secundária são: síndrome nefrótica,
Envolvimentos renal e cardíaco são comuns, cur-
hepatomegalia, dermopatia, infiltração testicular.
sando com síndrome nefrótica, hipertrofia ventricular
Nesse tipo de amiloidose não se encontra macro-
esquerda, miocardiopatia restritiva e distúrbios
glossia.
de condução. A lesão mais comum observada na
amiloidose associada ao mieloma múltiplo é a O tratamento da amiloidose AA é o controle da
síndrome nefrótica. doença de base.
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Os exames para investigação de amiloidose AL, são:
eletroforese de proteínas séricas e imunofixação;
DIA A DIA MÉDICO
urina I e relação proteína/creatinina; ultrassom de
abdome; hemograma; ecocardiograma e ressonân-
Como a amiloidose AA está associada a uma doença,
cia magnética cardíaca.
o especialista da doença de base será o responsável
O tratamento é feito com quimioterapia. pelo controle da amiloidose. Exemplo: amiloidose AA
secundária a uma artrite reumatoide não controlada, o
responsável será o reumatologista, já que o controle da
DIA A DIA MÉDICO doença reumatológica é o tratamento da amiloidose.
BASES DA MEDICINA
1.2. AMILOIDOSE (AA)
A proteína precursora da fibrila amiloide é a β2-microglo-
bulina, que é expressa por todas as células nucleadas e
BASES DA MEDICINA é normalmente filtrada livremente pelos glomérulos e,
em seguida, reabsorvida e catabolizada pelas células
tubulares proximais. Assim, a diminuição da função renal
A proteína amiloide A sérica se eleva como resposta fisio- leva ao aumento da concentração dessa proteína que se
lógica a infecções e inflamações. A amiloidose AA ocorre acumula nos tecidos, particularmente, nas articulações e
nos tendões.
354
Miscelânia em reumatologia Cap. 14
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zada ou generalizada, de característica inflamatória
e que evolui para fibrose. Os tecidos acometidos são
1.5. DIAGNÓSTICO ricos em plasmócitos produtores de IgG4.
Acomete mais indivíduos adultos e idosos, com
aparente predileção pelo sexo masculino. Por se
BASES DA MEDICINA tratar de uma doença muito rara, os dados epide-
miológicos não são consistentes.
Como a amiloidose é uma doença de depósito, é neces-
sário o exame anatomopatológico para o diagnóstico.
355
Miscelânia em reumatologia Reumatologia
Doença
relacionada
ao IgG4
Definição Epidemiologia
Doença crônica
Doença rara
imunomediada
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Afeta um ou Predomínio em
vários órgãos adultos e idosos
Rico em plasmócitos
produtores da IgG4
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Miscelânia em reumatologia Cap. 14
Mesenterite esclerosante
Paquimeningite hipertrófica
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Pneumopatia intersticial e pseudotumores
inflamatórios pulmonares
357
Miscelânia em reumatologia Reumatologia
Fibrose em padrão
“estoriforme” ou em
“roda de carroça”
Predomínio de células
Flebite obliterativa
plasmáticas IgG4+
Infiltrados Achados
Aumento de eosinófilos
linfoplasmocíticos histopatológicos
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Aumento de volume ou
crescimento de
massas em órgãos ou
compartimento corporal
Possível Provável
Definido
Biópsia sugestiva
Aumento de
(incluindo
IgG4 sérica
imuno-histoquímica)
358
Miscelânia em reumatologia Cap. 14
O diagnóstico definitivo de IgG4 se faz através de mais acometida é do sexo feminino, entre 17 e 40
manifestação clínica compatível, associado ao anos de idade.
aumento de IgG4 sérico (6% da IgG total) e exame
Febre é o sintoma mais característico da DSA, pre-
anatomopatológico com alterações relatadas acima.
sente em 60% a 100% dos pacientes. Ocorre 1 a 2
Vale ressaltar que a presença de IgG4 pode ser
vezes ao dia, com altas temperaturas (39, 40 graus)
encontrada em qualquer doença de natureza infla-
e rápida variação.
matória e não é específico da doença relacionada a
IgG4, portanto, se preconiza como compatível uma São características clínicas e laboratoriais, que se
imuno-histoquímica tecidual com pelo menos 40% associam à febre, nos períodos de surto: presença
de plasmócitos IgG4. de fenômeno de Koebner; elevação marcada de
ferritina; linfadenopatia; rash cutâneo maculopapular
O tratamento se baseia, inicialmente, no uso de gli-
rosa salmão em tronco, braços e coxas, que poupa
cocorticoides, com desmame gradual e retirada em
palmas e plantas, evanescente e que desaparece
6 meses. Em caso de corticodependência ou refra-
após término da febre; faringite não supurativa e
tariedade, indica-se o uso de imunossupressores.
odinofagia que precedem o início da febre; mialgias;
artralgia ou artrite; hepatoesplenomegalia; anemia
de doença crônica; leucocitose com neutrofilia;
DIA A DIA MÉDICO
plaquetose; elevação de VHS/PCR; elevação de
transaminases. No Still, FAN e fator reumatoide
Uma consequência do reconhecimento da DR-IgG4 é que
caracteristicamente são negativos.
muitas condições médicas, antigamente vistas como
condições separadas isoladas a órgãos individuais, são São complicações: hemorragia alveolar, síndrome de
atualmente reconhecidas como fazendo parte do espectro ativação macrofágica, miocardite, necrose hepática,
DR-IgG4. Exemplos incluem a síndrome de Mikulicz, tumor coagulação intravascular disseminada e púrpura
de Kuttner e tireoidite de Riedel. Além disso, a DR-IgG4 trombocitopênica trombótica.
também é responsável por porcentagens substanciais de
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doenças caracterizadas pela presença de pseudotumores O diagnóstico de doença de Still deve ser conside-
ou lesões fibróticas de etiologia anteriormente obscura. rado após descartadas infecções virais e bacteria-
nas, neoplasias (principalmente hematológicas)
e reações medicamentosas. Os critérios classifi-
catórios de Yamaguchi são utilizados para auxílio
3. DOENÇA DE STILL DO ADULTO diagnóstico (Quadro 2).
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Miscelânia em reumatologia Reumatologia
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tória clínica o uso de antibioticoterapia para faringite mica secundária (AA), que é evitada com o controle
não supurativa ou terem sido encaminhados para uma de atividade de doença.
avaliação hematológica por suspeita de neoplasia.
360
Miscelânia em reumatologia Cap. 14
Miscelânia em Reumatologia
Primária
Macroglossia
Síndrome nefrótica
AL
Cardiopatia
Amiloidose
Túnel do carpo
Sistêmica
Hepatomegalia
Secundária
AA Síndrome nefrótica
Hepatomegalia
Febre
Artrite
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Clínica Faringite
Linfadenopatia
Esplenomegalia
Hepatomegalia
Doença de Still
PCR e VHS elevados
Plaquetose
Laboratório
Leucocitose com neutrofilia
FR e FAN negativos
Transaminases elevadas
Dor abdominal
Surtos
Rash erisipela-like
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Miscelânia em reumatologia Reumatologia
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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Chuang TL, Hsu BB, Chi CL, Wang YF. Gallium SPECT/CT in
evaluation of IgG4-related disease: A case report and literature
review. Medicine (Baltimore). 2016;95(37):e4865.
Gorevic PD. Overview of amyloidosis. UpToDate [Internet];
2019. [acesso em 3 jun 2020]. Disponível em: https://www.
uptodate.com/contents/overview-of-amyloidosis.
Hochberg MC, Silman AJ, Smolen JS, Weiblatt ME, Weisman
MH. Rheumatology. 6th ed. St Louis Missouri: Mosby; 2015.
Imboden JB, Hellman DB, Stone JH. CURRENT – Reumatolo-
gia: diagnóstico e tratamento. 3. ed. Porto Alegre: AMGH; 2014.
Kim GH, Lee WK, Na SH, Lee JS. Undiagnosed light chain
systemic amyloidosis: Does it matter to anesthesiologists?
– A case report. Korean J Anesthesiol. 2013;65(5):453-5.
Lachmann HJ, Hawkins PN. Developments in the scientific
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Moutsopoulos HM. Fragoulis GE, Stone JH. Pathogenesis and
clinical manifestations of IgG4-related disease. UpTo-Date
[Internet]; 2019. [acesso em 3 jun 2020]. Disponível em: https://
www.uptodate.com/contents/pathogenesis-and-clinical-ma-
nifestations-of-igg4-related-disease.
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Miscelânia em reumatologia Cap. 14
QUESTÕES COMENTADAS
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suem indicação de transplante de medula óssea
autólogo, porém, pacientes com acometimento
cardíaco grave não devem realizar o transplante
de medula.
Estão corretas as afirmativas
⮦ I e II, apenas.
⮧ I e III, apenas.
⮨ II e III, apenas.
⮩ I, II e III.
Questão 2
363
Miscelânia em reumatologia Reumatologia
Questão 3 Questão 5
(SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DE PIRACICABA – SP – 2020) (FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DA UNICAMP – SP – 2020)
Mulher, de 55 anos, portadora de artrite reumatoide Paciente masculino, 32 anos, em seguimento na
há vinte anos, com tratamento irregular, tem compa- reumatologia há 3 meses por doença de Still do
recido na unidade de saúde devido a edema persis- adulto, diagnosticado após extensa investigação
tente de membros inferiores há 6 meses. Os exames por febre de origem indeterminada, exantema e leu-
realizados têm mostrado uma proteinúria progres- cocitose. Apresentou boa resposta ao tratamento
siva evidenciando lesão renal. Qual das afirmativas com corticoide, atualmente em uso de prednisona
abaixo melhor explica o acometimento renal? 10 mg/dia, com controle da sintomatologia. Compa-
rece em consulta queixando-se de fraqueza acen-
⮦ Amiloidose secundária. tuada, febre baixa e sangramento gengival. Exame
⮧ Vasculite necrotizante. físico: palidez mucocutânea, ausência de artrites
⮨ Glomeruloesclererose. ou exantemas. Exames laboratoriais: Hemograma:
⮩ Nefrite mesangial. hemoglobina 4,5 g/dL; leucócitos 1.900/mm³ (60%
segmentados, 30% linfócitos, 6% eosinófilos); pla-
⮪ Nefroesclerose.
quetas 22.000/mm³; creatinina 1,3 mg/dL; RNI 1,7;
R 2,0; ferritina 56.000 UI/L; TGO 500 UI/L; TGP 650
Questão 4 UI/L; hemoculturas negativas. O estudo da medula
óssea (MO) deve ser compatível com:
(FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS UNICAMP – SP – 2020) Pa-
ciente feminina, 18 anos, conta há 2 meses febre ⮦ Hemofagocitose.
diária, dor de garganta e um “vermelho” no tronco, ⮧ Presença de mais de 20% de linfoblastos.
intermitente, que ocorre junto com a febre. Apre- ⮨ Áreas de fibrose e substituição gordurosa.
senta também artralgia e mialgia intensas. Há 3
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⮩ Hipercelularidade reacional.
dias com falta de ar e dor em hemitórax esquerdo
que piora com a respiração. Exame físico: Regular
estado geral, T 38,8°C, FC 98bpm, FR 24 irpm. Lin-
fonodos palpáveis em cadeias cervicais posterio-
res, múltiplos e indolores. Fígado palpável a 3 cm
do rebordo costal direito e baço a 2 cm rebordo
costal esquerdo. Atrito pleural à esquerda. Pele:
rash maculopapular no tronco. Edema e aumento
de temperatura em punhos e joelhos. Exames labo-
ratoriais: hemoglobina 9,8 g/dL; leucócitos 26.000/
mm³ (90% de neutrófilos); TGO 65 UI/L; TGP 72UI/L;
VHS 122 mm/h, Ferritina 3.700 ng/mL. Exame de
urina normal. O diagnóstico desta paciente é:
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Miscelânia em reumatologia Cap. 14
GABARITO E COMENTÁRIOS
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parecer fazer sentido, o depósito amiloide que ocor-
re na amiloidose é intracelular e tem característi- Questão 3 dificuldade:
cas diferentes dos depósitos amiloide na doença
de Alzheimer. Y Dica do professor: Temos uma paciente portadora
de artrite reumatoide de longo prazo, com tratamento
Assertiva III: FALSA. Alguns pacientes com diagnósti-
irregular, que nos refere edema persistente de mem-
co de amiloidose possuem indicação de transplante
bros inferiores há 6 meses e que vem apresentando
de medula óssea autólogo - no caso específico da
proteinúria progressiva, o que é evidência de lesão
amiloidose AL, porém, pacientes com acometimen-
renal. Pela sua doença de base, devemos pensar
to cardíaco grave não devem realizar o transplante
que seu dano renal pode ser desencadeado por
de medula (IC FE < 55% ou NYHA III/IV).
amiloidose secundária, visto que o rim é o principal
✔ l ogo, apenas a assertiva I está correta e não havia órgão afetado por essa comorbidade, manifestada
alternativa com essa opção. Questão anulada. com síndrome nefrótica, que explicaria o edema e a
proteinúria progressiva. A artrite reumatoide, assim
dificuldade:
como outras doenças reumatológicas e neoplasias,
Questão 2
é causa de amiloidose. O tratamento baseia-se em
Y Dica do professor: O paciente em questão cursa controle da doença de base, ou seja, da artrite reu-
com edema de membros inferiores e dispneia, sem matoide que está sendo tratada irregularmente.
outras comorbidades conhecidas ou fatores de ris- Alternativa A: CORRETA. Conforme a dica.
co para o quadro que, inclusive, já foi previamente
Alternativa B: INCORRETA. A vasculite necrotizante
investigado e permanece sem diagnóstico. O que
não costuma se apresentar apenas com proteinúria
auxiliará na definição etiológica deste caso são
e edema, sendo comum lesões de pele.
os exames complementares. No ecocardiograma
visualizamos um ventrículo esquerdo de paredes
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peitar de doença de Still do adulto, doença rara,
mas de curso bem marcado. A doença de Still é
uma doença inflamatória, caracterizada pela pre-
sença de episódios diários de febre, artralgias e
rash cutâneo, mas, por mais simples que pareça,
na prática ela representa um desafio diagnóstico.
O diagnóstico é clínico e depende da exclusão de
outras doenças. As suas principais manifestações,
como febre, erupção cutânea e poliartralgia, assim
com as alterações laboratoriais, também ocorrem
em uma grande variedade de doenças infecciosas,
neoplásicas e autoimunes.
Alternativa A: CORRETA.
Alternativa B: INCORRETA. O achado mais caracterís-
tico da vasculite crioglobulinêmica é a presença da
púrpura. Lembrar da associação com hepatite C.
Alternativa C: INCORRETA. Na sintomatologia do lin-
foma poderíamos realmente ter um quadro seme-
lhante, ainda mais se considerarmos os sintomas
B, porém, o rash e artralgia não são característicos.
Alternativa D: INCORRETA. No lúpus observamos
leucopenia.
✔ resposta: A
366