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LINGUÍSTICA

PARA O ENSINO SUPERIOR 6

SEMÂNTICA
CELSO FERRAREZI JR.
CAPÍTULO
1
Semântica
como ciência

Num primeiro momento, vou pedir que você se concentre nos conceitos ge-
rais. Então, vamos lá:

1 Conceitue Semântica.

2 Explique por que razões podemos dizer, com certeza, que a Semântica é
uma Ciência.

3 Apresente, em linhas gerais, o objetivo, o objeto e como se definem os


métodos da Semântica.

4 Explique o que é metalinguagem e qual é sua importância nos estudos se-


mânticos.

5 Faça uma relação das principais metalinguagens adotadas na Semântica e


apresente, de forma sucinta, suas vantagens e desvantagens.

6 Explique a relação entre Semântica, Semiótica e Pragmática.

Celso Ferrarezi Jr. 3


CAPÍTULO
2
Conceitos básicos

Você aprendeu alguns conceitos básicos que dão sustentação aos estudos nas
principais vertentes semânticas. Vamos relembrar e aplicar alguns desses
conceitos aqui nestes exercícios, OK?

1 O que o triângulo semiótico nos ensina sobre os principais aspectos do fun-


cionamento de uma língua natural?

2 “Em uma mesa de lanchonete estão quatro amigos conversando sobre


futebol. João fica encrencando com José, palmeirense, pelo fato de o Pal-
meiras não ter um título mundial. José se vira para João e o chama de
‘cara chato’. João responde, rindo muito, com a mão no peito e com cara
de quem não está nem aí: ‘Mundialmente, o mais chato!’. Todos riem. A
conversa continua normal entre os amigos”. Tomando como base o que
você aprendeu sobre a sinalidade, como essa resposta de João pode ser
entendida? A quais recursos ele recorreu para dar esses sentidos que
você encontrou?

3 Construa alguns exemplos em que adjuntos e complementos nominais são


utilizados para restringir a extensão do significado de nomes comuns (por
exemplo: “animal”, “pessoa”, “automóvel”).

4 Diferencie, com exemplos ilustrativos, “falsidade” de “mentira”.

5 Explique por que razões é importante, para os estudos sobre referenciação,


a definição do status de verdade ou falsidade de um enunciado.

Celso Ferrarezi Jr. 5


6 Pense na profissão de advogado e sua relação com os enunciados da língua.
Por que seria importante que ele dominasse o conteúdo sobre pressuposi-
ção, acarretamento e implicaturas? Imagine que ele estivesse defendendo
alguém da acusação seguinte: “João matou José na lanchonete 15 de Abril,
no dia 22 de maio, às 23h30min, por motivo fútil: uma briga de amigos
conversando sobre futebol.”. Em que o conhecimento sobre pressuposição
e acarretamento ajudaria um advogado nessa defesa? Lembre-se de que a
acusação é um enunciado linguístico, uma proposição.

7 Observe a conversa a seguir:


— Mano, meu pai viu lá na oficina que o mecânico não arrumou ainda o
seu carro…
— Isso vai complicar tudo! A gente tinha que viajar com ele amanhã!
Aqui, não temos informações do contexto externo da conversa. Essa con-
versa pode ser entendida de várias maneiras, desde que se defina de quem
é o carro e quem é “ele” na última sentença. Explique as decorrências que
essas indefinições projetam sobre os sentidos possíveis da conversa. Apli-
que o conceito de escopo em suas análises.

8 Na conversa apresentada no exercício anterior, procure identificar quais


seriam as preocupações descritivas de um referencialista, de um estrutura-
lista, de um cognitivista e de um culturalista.

6 SEMÂNTICA para o ensino superior


CAPÍTULO
3
Os fenômenos
semânticos mais
estudados

1 No texto a seguir, procure substituir as palavras e as frases sublinhadas por


equivalentes semânticas sem alterar profundamente o conteúdo expresso:
“De cara, o aluno não lê mais o livro inteiro — porque não se precisa
de um livro inteiro para se achar uma oração objetiva direta —, mas
recebe um livro didático com fragmentos de texto que servem apenas
para achar a tal oração subordinada ou fazer uma lista de advérbios. O
ensino da gramática tradicional, que deveria ter morrido, não morreu:
tornou-se uma parafernália ainda mais destrutiva na escola, pois ago-
ra também destrói os textos ou os pedaços deles: um rim de texto, um
pulmão de texto, um dedo mindinho de texto, que aparecem nos livros
didáticos sem pé nem cabeça, agora não mais servem para ser lidos de
verdade como se lê um texto, mas servem de ‘suporte’ para uma análise
sintática. O texto que antes alimentava a alma e a inteligência, agora
alimenta as aulas de gramática como uma ração insossa que sempre
traz alguma surpresa de mau gosto ao final: um exercício, uma reda-
ção, uma ‘análise’. Para piorar esse quadro (e talvez por isso as aulas
de gramática normativa ainda não tenham morrido!), os professores de
português acreditam mesmo (acreditam ainda!) que a gramática é que
deve ser o conteúdo da aula de português. E, por isso, é essa a imagem
que os professores passam para a sociedade: professor de português é
sinônimo de ‘gramática’ e de ‘dicionário’ ambulantes.”

2 Apresente, pelo menos, três sentidos diferentes para cada uma das senten-
ças seguintes:
a. Se o negócio terminar bem, a gente combina uma outra jogada.
b. Ele nunca teve muita técnica para o trabalho.
c. Essa criatura está acabando com meu sono.

Celso Ferrarezi Jr. 7


d. Nem sei que coisa é essa que apareceu na minha casa.
e. Um dia ainda tiro essa pedra do meu sapato.

3 Os textos seguintes são atribuídos a eventos e pessoas reais. Mas não há


como saber se realmente o são. De toda forma, todos eles apresentam con-
tradições. Procure descrevê-las e explicar como elas deveriam ser resolvidas:
● “É realmente apropriado que nos reunamos aqui hoje para homenagear
Abraham Lincoln, o homem que nasceu numa cabana de troncos que ele
construiu com suas próprias mãos.”
● “Em qualquer dia, prefiro um idiota sabido a um gênio burro.”
● “Li parte do texto até o fim.”
● (Quando perguntado por sua secretária se poderia destruir alguns ar-
quivos velhos, o Sr. Goldwyn respondeu) “Pode, mas antes tire uma có-
pia de tudo.”
● “A taça de nossos problemas está transbordando, mas infelizmente, não
está ainda cheia.”
● “Damos cem por cento na primeira parte do jogo e, se isso não for sufi-
ciente, na segunda parte damos o resto.”
● “Eu gostaria de ter uma resposta para isso, porque estou ficando cansa-
do de responder a essa pergunta.”
● “Em votação nominal de 337 sins e 76 nãos, Votação nº 57, a Câmara
discordou da emenda do Senado à emenda da Câmara à emenda do
Senado à emenda da Câmara à emenda do Senado à Resolução 3.128,
no sentido de promover a conciliação de pontos de vista, no tocante à
seção 2 da primeira resolução simultânea sobre o orçamento relativa ao
ano fiscal de 1986.”
● “Pelo presente ficam notificados os interessados que os requerimentos
listados no apêndice anexo são aceitos para exame. Uma vez que os
requerimentos citados no apêndice anexo estão em conflito com reque-
rimentos que foram aceitos para exame e listados previamente como
sujeitos a exame em uma data final para requerimentos conflitantes,
nenhum requerimento que esteja em conflito com os requerimentos lis-
tados no apêndice anexo será aceito para exame.”
● “Escolhi um canto na sombra e fiquei saboreando meu banho de Sol.”
● “Tenho viajado tanto que não tive tempo de deixar crescer a barba.”
● “O cavalheirismo está apenas razoavelmente morto.”
● “Nós não temos censura. O que temos é uma limitação do que os jornais
podem publicar.”
● “Nunca passei por qualquer grande cirurgia do joelho em outra parte do
corpo.”

8 SEMÂNTICA para o ensino superior


● “O senhor está nos dizendo que a razão por que as coisas estão tão ruins
é que elas não são muito boas e que ficarão melhores logo que piora-
rem.”
● “Acho que há dente de coelho nessa história, vejo-o no ar, mas prestem
bem atenção ao que estou dizendo: vou cortá-lo pela raiz.”
● “Um contrato verbal não vale o papel em que está escrito.”

4 Procure descrever como a classificação científica dos seres vivos faz uso
da hiponímia e da hiperonímia constantemente. Pense, por exemplo, no
famoso sistema classificatório de Lineu.

5 Elabore duas sentenças que apresentem, cada uma, um dos tipos de ambi-
guidade vistos no subtítulo 3.5 e depois proponha soluções para as ambi-
guidades criadas.

6 Você já deve ter ouvido falar de alguns antropônimos problemáticos exis-


tentes no Brasil. Entre as listas “oficiais”, aparecem coisas como (e perceba
que ficamos apenas na letra “a”…):
● Abrilina Décima Nona Caçapavana Piratininga de Almeida
● Acheropita Papazone
● Adoração Arabites (masculino)
● Aeronauta Barata
● Agrícola Beterraba Areia Leão
● Aldegunda Carames More (masculino)
● Alma de Vera
● Amado Amoroso
● Amável Pinto
● Amazonas Rio do Brasil Pimpão

Certamente, esses nomes acabam trazendo problemas para seus “donos”.


Por outro lado, quando batizam seus personagens, muitos bons escritores
pensam no sentido que os nomes têm de maneira a conciliar o enredo do
livro com o nome dos personagens. Procure, em dicionários de nomes, os
sentidos destes listados abaixo e descreva as razões de terem sido dados
aos personagens dos respectivos livros:
● Amaro (O Crime do Padre Amaro, Eça de Queirós)
● Augusto (A Moreninha, J. M. de Macedo)
● Bentinho (Dom Casmurro, Machado de Assis)

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● José (“José”, Carlos D. de Andrade)
● Lucíola (Lucíola, José de Alencar)
● Macabéa (A Hora da Estrela, Clarice Lispector)
● Riobaldo (Grande Sertão Veredas, Guimarães Rosa)

7 Procure recolher dez expressões idiomáticas que só ocorrem em sua região


de origem e explique, para sua classe, o sentido que elas têm e as circuns-
tâncias em que são utilizadas. Aproveite para aprender as expressões usa-
das nos falares regionais dos colegas de outros lugares do Brasil.

8 Como vimos, quando consideramos a escrita, especialmente a escrita de


sentenças isoladas, é difícil identificar o foco da interrogação. Assim, consi-
derando a ideia de foco interrogativo, procure apresentar todas as respos-
tas possíveis para cada uma das três sentenças abaixo:
a. Foi a Maria que quebrou a televisão do pai dela na semana passada?
b. O professor de Matemática vai dar a prova dele na quinta-feira que vem?
c. Os livros do setor de Língua Portuguesa estão em promoção na livraria
da praça esta semana?

9 Utilizando a metalinguagem da conjuntística, procure representar as relações


de restrição e/ou explicação contidas nas sequências linguísticas a seguir:
a. carro preto pequeno
b. menino humano masculino infantil
c. mulher morena de baixa estatura
d. livro de semântica formal
e. O sujeito é inteligente.
f. Minha irmã comprou um apartamento.
g. Todas as meninas aprovadas da sala.
h. As pessoas que compreendem cálculos matemáticos avançados.

10 Compare e explique o sentido dessas metáforas comuns em PB. Veja que o


mesmo animal (ou um mesmo tipo de animal) está sendo comparado com
homens e com mulheres.
a. mulher galinha/ homem galinha
b. mulher cadela/ homem cachorrão
c. mulher piranha/ homem tubarão

10 SEMÂNTICA para o ensino superior


d. mulher vaca/ homem forte como um touro
e. mulher jumenta/ homem jumento

11 Você percebeu que essas comparações entre animais e pessoas costumam


ser negativas para mulheres e positivas para homens? Que razões você
apresentaria para isso?

12 Quando estudei culturas indígenas da Amazônia, pude constatar que cons-


truções metafóricas para mim eram metonímicas para os índios. Um exem-
plo que colhi junto aos índios Itenez é de um tipo de tarambola, uma ave
migratória chamada por eles de “ave de areia”, pois ela somente aparece
na região quando há praias, nidifica na areia dessas praias e praticamente
tem sua vida ligada às praias. Quando os rios enchem, elas migram (para
eles, elas “somem”). No período de pesquisa, eu dizia que “ave de areia”
era uma comparação (uma metáfora) e meus informantes diziam que não,
a ave era mesmo “feita de areia” (para eles, uma metonímia). Reflita so-
bre essa experiência intercultural e procure descrever os cuidados que de-
vemos ter ao interpretar metáforas e metonímias, inclusive considerando
essa questão em relação a obras literárias.

Celso Ferrarezi Jr. 11


CAPÍTULO
4
Aspectos semânticos
da descrição
de línguas naturais

1 Faça um levantamento de todos os tempos verbais de nossa língua, em


livros que falem sobre os verbos em PB, e procure organizar na linha do
tempo todos os tempos que encontrar.

2 Apresente e descreva os usos dêiticos para tempo e espaço dos pronomes


demonstrativos de primeira, segunda e terceira pessoas em PB, conforme
apresentados em gramáticas normativas.

3 Procure descrever ou representar esquematicamente as diferenças cinési-


cas presentes nos seguintes enunciados comparados:
a. João gostou o doce./
João gostou do doce.
b. João assistiu seu irmão no hospital./
João assistiu ao filme no cinema.
c. João deu um tapa em Maria./
João deu um presente a Maria.
d. João entregou o documento a José./
João entregou José no documento.
e. A menina levou a culpa pelo crime./
A menina levou a prova do crime.

4 Vamos elaborar um teste de percepção de protótipos? Em uma folha de


papel, imprima um quadro como este da página seguinte:

Celso Ferrarezi Jr. 13


Teste de Percepção de Cores: assinale com um X
a cor que você acha que mais corresponde ao nome dado ao lado

Amarelo

Vermelho

Azul

Branco

Preto

Verde

Pinte os quadradinhos de cada linha com diversos tons da mesma cor (vá-
rios tons de vermelho, vários tons de amarelo etc.). Não precisa ser em or-
dem (do mais claro para o mais escuro, por exemplo); basta que sejam tons
daquilo que você considera a mesma cor. Reproduza essa folha colorida
para dez pessoas e aplique o teste com pessoas brasileiras de uma mesma
comunidade (mas apenas com pessoas que tenham visão suficiente para o
teste e que não sofram de daltonismo). Calcule os percentuais de respostas
iguais e de respostas diferentes. Depois, compare os resultados. O que po-
demos concluir desse teste que você aplicou?

5 Uma questão complicada para os tradutores, até porque implica questões


culturais e mercadológicas, é a tradução dos títulos de filmes. Compare os
títulos em inglês e em português de dez filmes recentes que você aprecia.
Os títulos são sempre fiéis aos originais? Qual seria uma melhor tradução,
segundo sua opinião? Por que, para você, os títulos escolhidos foram os
aplicados pelos tradutores e não outros?

14 SEMÂNTICA para o ensino superior


6 Outra questão bastante difícil para os tradutores é construir boas tradu-
ções de músicas, pois elas implicam questões métricas nem sempre fáceis
de resolver. Entre as muitas existentes no mercado, encontre alguma mú-
sica norte-americana recente que recebeu versão em português. Compare
as duas letras e veja o que os tradutores tiveram que fazer para a letra se
harmonizar com a melodia. Você teria outra forma de traduzir essas músi-
cas? Quais seriam suas escolhas para uma tradução melhor?

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A despeito de sua importância pilar, a semântica é uma ilustre desconhe-
cida na educação básica brasileira. Por isso, grande parte dos alunos que
adentram os cursos de letras ou linguística no Brasil desconhece quase
totalmente a área. Alguns se lembram de ter ouvido falar sobre sinôni-
mos e antônimos, mas pouco além disso. Os mais agraciados pela esco-
la também ouviram falar de metáfora e metonímia, mas ainda acham
isso coisa lá da literatura. Enfim, há um grande caminho a percorrer se
quisermos dar aos conhecimentos semânticos o lugar onde realmente
devem estar: no cerne dos estudos linguísticos em todos os níveis.

Felizmente, a semântica vem ganhando importância no campo da pes-


quisa e do ensino superior brasileiros. Novas vertentes começam a sus-
tentar grupos de pesquisa e projetos relevantes, inclusive, de descrição
de línguas naturais.

Este livro é um subsídio nessa direção. Ao apresentar um panorama


amplo e acessível aos graduandos em letras ou linguística (ou, simples-
mente, aos interessados nos estudos linguísticos), ele ajudará o leitor
iniciante em semântica a enxergar a importância dessa área de estudos
quando o assunto é compreender o que são e como funcionam as lín-
guas humanas.

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