Você está na página 1de 3

INTRODUÇÃO

Representando 40% dos casos na rotina clínica veterinária, os atendimentos dermatológicos são
frequentes, sendo a piodermite, uma das afecções comumente diagnosticadas que acomete
principalmente a espécie canina. Causadas cada vez mais por microrganismos multirresistentes, as
piodermites são geralmente decorrentes do aumento de bactérias presentes na microbiota normal ou
transitória da pele, como o Staphylococcus pseudointermedius , envolvido em 99% dos casos. Assim,
se faz necessário que o uso racional de medicamentos tais como os antimicrobianos, seja instituído
tanto em terapias sistêmicas quanto nas terapias tópicas, evitando assim falhas no tratamento e aumento
da resistência bacteriana.

ETIOLOGIA E CARACTERÍSTICAS

Dentre os agentes etiológicos encontrados com maior frequência nos casos de piodermite canina estão
as bactérias do gênero Staphylococcus spp, sendo o S. pseudintermedius, previamente identificado
como S. intermedius, a espécie comumente isolada, além de ser habitante normal da microbiota da
pele e mucosas dos animais. Outros agentes, considerados invasores secundários também podem ser
encontrados em casos de piodermites profundas, crônicas ou recidivantes. Sabe-se que as piodermites
são classificadas em primárias ou secundárias, de acordo com a ausência ou presença de fatores
predisponentes que alteram a resistência da pele e predispõe a infecções como alergias, doenças
endócrinas, doenças auto-imunes ou infecções fúngicas; podendo também ser classificadas de acordo
com a profundidade da infecção em: piodermite de superfície, piodermite superficial e piodermite
profunda, onde normalmente quanto mais profunda mais grave é o processo, embora a gravidade
também dependa da extensão das lesões.

DIAGNÓSTICO

O diagnóstico de piodermite em cães deve ser baseado na anamnese, exame físico e exames
complementares como citologia, cultura e antibiograma. O exame citológico se mostra importante para
distinguir entre a infecção bacteriana e a colonização bacteriana normal da pele indicando assim a
profundidade das lesões. A ausência de bactérias no exame citológico não exclui o diagnóstico de
piodermite bacteriana, tornando-se necessário a realização dos exames de cultura e antibiograma.

SUGESTÃO DE TRATAMENTO
Geralmente os tratamentos das piodermites envolvem fármacos de mais de uma classe terapêutica,
associando antibióticos, antinflamatórios e outros. Uma vez que a piodermite tenha sido diagnosticada,
é importante avaliar e classificar a gravidade das lesões para assim verificar se o uso sistêmico dos
medicamentos é justificável ou se o tratamento tópico já será suficiente. A prescrição adequada do
fármaco deverá ser sempre fundamentada na realização prévia de exames de cultura e antibiograma
para identificação da bactéria e de seu perfil de sensibilidade, tais informações cruzadas ao exame
físico, darão os elementos para que o clínico possa eleger o melhor antibiótico segundo a classificação
de: antibióticos de primeira, segunda ou terceira escolha.

Antibióticos de primeira escolha são aqueles administrados no início do tratamento enquanto se


aguarda os resultados dos exames de cultura e antibiograma, porém, somente são recomendados para
aqueles quadros cujo histórico demonstre não existir qualquer risco de que as bactérias envolvidas
possam apresentar resistência. O ativo Cefalexina é considerado o antibiótico de primeira escolha por
apresentar elevada eficácia, principalmente devido ao excelente efeito antiestafilocócico, além de ser
seguro resultando em baixos efeitos colaterais ainda em tratamentos prolongados. A dose sugerida é
de 15-30 mg/kg, por via oral, a cada 12 horas. As sulfonamidas potencializadas, como a associação de
sulfadimetoxina-ormetoprim, também pode ser uma das escolhas para o tratamento de infecções em
pele, principalmente aquelas causadas por bactérias do gênero Staphylococcus. A dose recomendada
é de 55 mg/kg (no 1º dia) seguido de 27,5 mg/kg nos demais dias de tratamento, administrada por via
oral a cada 24 horas.

As quinolonas, como a Enrofloxacina, são considerados antibióticos de segunda escolha segundo os


mais recentes guidelines publicados, e devem ser utilizados após a conclusão do perfil de sensibilidade
e se for evidente que terão efeito terapêutico. Nunca devem ser usados de forma empírica ou para
iniciar tratamentos antes da conclusão do antibiograma. A dose terapêutica da Enrofloxacina é de 5
mg/kg, devendo ser administrada a cada 24 h, sendo a duração do tratamento preconizada pelo médico
veterinário.

Dentre os antibióticos de terceira escolha, como aqueles à base de azitromicina são considerados como
a “carta na manga” para o tratamento de piodermites causadas por bactérias altamente resistentes,
sendo indicado na dose de 20 mg/kg (no 1º dia) seguido de 10 mg/kg nos demais dias de tratamento,
administrado por via oral a cada 24 horas.

Além do uso de antibióticos, a administração sistêmica de anti-inflamatórios pode se fazer necessária


em casos de piodermite secundária a doenças cutâneas alérgicas (dermatite atópica canina, alergia
alimentar e dermatite alérgica à picada de pulga). Assim, com o objetivo de eliminar o intenso prurido,
a administração de corticoide ou corticosteroide, como a prednisolona na dose de 0,5 a 1,0 mg/kg/dia
via oral em doses decrescentes, vem sendo utilizada como terapia anti-inflamatória adjuvante nas
infecções de pele.

A aplicação tópica de agentes antimicrobianos, como a Gentamicina, associada a antifúngicos como o


Miconazol e a agentes anti-alérgicos como a Betametasona também são indicados no protocolo como
opção vantajosa tanto para o suporte da terapia sistêmica ou, em alguns casos, como a única terapia
para as afecções cutâneas, pelo fato de atuarem em uma concentração maior de ativos no local da lesão
sem os riscos de efeitos colaterais sistêmicos e sem predispor a resistência bacteriana.

Você também pode gostar