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Filosofia – Módulo i

Introdução à filosofia
Definição – Filo / Philo (amar, gostar de) + Sofia / Sophia (sabedoria, saber, conhecimento).
Filósofo (procura da sabedoria) ≠ Sofistas (sábios - posse da sabedoria).
A atitude filosófica ⇒ atitude crítica / criativa frente à realidade posta pelo mundo. De Sócrates ficou-nos a
afirmação, só sei que nada sei, cuja interpretação é a de uma ignorância sábia ou de um saber que se sabe
limitado. A filosofia: é cética - tudo é questionável, tudo pode ser posto em causa e analisado racionalmente,
contudo, a filosofia não prova experimentalmente as suas teorias; é argumentativa - uma racionalidade, em
que, não havendo provas, baseamo-nos no mais ou menos razoável, no que faz mais ou menos sentidos.
Perguntas filosóficas – Expressam-se de forma aberta, geral e abstrata. Não têm solução científica ou
técnica; Não são questões de fato; Ultrapassam o campo da legalidade; Universais e racionais; Dizem
respeito à nossa existência; Deve-se evitar os termos negativos, eles vinculam a intenção de influenciar as
pessoas nas suas avaliações. Devem ser colocadas de forma liberta de interesses pessoais e de visões
apaixonadas dos acontecimentos, por isso, não se devem referir a casos particulares e concretos. Por
serem abertas, permitem várias perspectivas de solução.
Princípios lógicos do pensamento
❖ Princípio da identidade – “Uma coisa é o que é”.
Exemplo:: laranja ≠ pera |Pera = Pera
❖ Princípio da não contradição – “uma coisa não pode ser e não ser ao mesmo tempo, segundo uma
mesma relação”.
Exemplo: camaleão verde | camaleão castanho
❖ Princípio do terceiro excluído – “uma coisa deve ser ou então não ser, não há uma terceira
possibilidade”.
Exemplo: está frio.| Não está frio. - Não há outra hipótese.
❖ Princípio da bivalência - existem dois valores de verdade, o verdadeiro e o falso, e toda a preposição
tem um deles.
Instrumentos lógicos do pensamento
Teses ⇒ são as respostas que os filósofos constroem para responder aos problemas da filosofia.
Argumento / Inferências ⇒ é um conjunto de proposições relacionadas de modo a defender uma ideia / tese.
Apresentam-se na forma padrão (primeiro as premissas e depois a conclusão).
Exemplo:
Se um ser tem a capacidade de sofrer, então tem direitos.
Os animais têm a capacidade de sofrer.
Logo, os animais têm direitos.
Um argumento é sólido se, e apenas se, tiver premissas verdadeiras e for válido. Um argumento é válido se,
e apenas se, as premissas apoiam logicamente a conclusão (válido ou inválido).
Conceito ⇒ consiste na representação mental, abstrata e geral, respeitante a um conjunto de seres
ou objectos com as mesmas características essenciais. Exemplo: mesa (conceito) -> tampo, pernas, metal /
madeira, plana.
Termo ⇒ é a expressão verbal do conceito, é a operação racional pela qual estabelecemos relações
entre conceitos.
➔ O mesmo conceito pode ser expresso por termos diferentes. Exemplos:
Mesa Rei
-> mesa (português) -> rei (português)
-> table (inglês) -> king (inglês)
-> table (francês) -> roi (francês)
-> 桌子(chinês) -> 国王(chinês)
Filosofia – Módulo i
➔ O mesmo termo pode traduzir diferentes conceitos. Exemplo: compasso -> instrumento de desenho;
visita pascal; divisão do tempo em música
➔ O termo pode ser constituído por uma ou várias palavras. Exemplo: ser vivo, ser humano, vida
selvagem, animal doméstico.
Raciocínio ⇒ relação entre juízos e proposições. Processo de inferência através do qual se chega de uma
coisa à outra
Juízos ⇒ Ato de pensamento que estabelece a relação entre conceitos
Proposição ⇒ São frases declarativas com valor de verdade (verdadeiras ou falsas). Premissas e conclusão
são preposições.
Premissas ⇒ são proposições que sustentam e justificam a conclusão. Conclusão ⇒ é uma proposição
sustentada pelas premissas.
Argumentos válidos ⇒ são argumentos cuja conclusão é corretamente inferida a partir das premissas.
Argumentos não válidos ⇒ são argumentos que infringem regras de inferência.

Elementos constituintes da argumentação


➔ Problematizar, é a capacidade de pôr em causa o que nos é apresentado, em vez de aceitar
automaticamente como óbvio.
➔ Conceptualizar, é identificar, formular as ideias que sustentam o próprio discurso.
➔ Argumentar, articulação de ideias com vista a justificar uma ideia, encadeamento de proposição

Conceitos para compreender a disciplina


Abstrato ⇒ É o que só existe na ideia, no conceito. Não corresponde a nenhum dado sensorial ou conceito.
É aquilo que é de difícil compreensão.
Concreto ⇒ O que é real. Pode-se naturalmente apreender pela intuição sensível. Corresponde ao visível,
existente e particular.
Objetivo ⇒ Carácter autónomo e independente dos objetos reais, nas sua concreticidade própria. Exterior.
Subjetivo ⇒ Propriedade construtiva da autoconsciência interior e reflexiva de todo o sujeito pensante.
Racional.
Filosofia – Módulo II
Acontecimentos e ação humana:
Todas as ações são acontecimentos, mas nem todos os acontecimentos são ações.
Todas as ocorrência do universo são acontecimentos. Os acontecimentos são observáveis e não se sabe a
sua intenção ou motivo, como tropeçar ou cair. Não parte do sujeito, este é apenas o receptor, como quando
falha a tinta da nossa caneta. Acontecer é o que ocorre ao sujeito sem o seu contributo, são atos
involuntários e sem intenção.
As ações são acontecimentos que consistem em algo que um agente faz intencionalmente, consciente e de
forma voluntária, como ir à praia com amigos ou estudar para o teste. Ação é uma inferência consciente,
intencional e voluntária de um ser humano (o agente) no normal decurso dos acontecimentos. Estes, sem a
interferência do agente, seguiriam um caminho distinto
Está excluído do conceito de ação o que os animais fazem, o que fazemos a dormir ou as nossas reações
automáticas, como respirar, pestanejar ou transpirar. Quando existem terremotos, erupções vulcânicas ou
secas, o ser humano não é o agente - ator, mas sim o que sofre a ação - receptor.
Exemplos:
- Constipar-me não é uma ação porque é algo que acontece.
- Ir à farmácia é uma ação porque resulta da deliberação (convém ir ou não?), há uma decisão
voluntária do agente (vou!), há uma intenção (comprar um medicamento) e há um motivo (estar
doente).
Atos voluntários é tudo aquilo que exige a decisão consciente de um agente. Uma realização voluntária é
baseada no nosso querer, por exemplo, correr.
Atos involuntários é tudo o que não pressupõe intenção, onde o sujeito é passivo. Uma realização
involuntária acontece independente do nosso querer, como gaguejar. Realizar comportamentos involuntários
é comum ao ser humano e aos restantes animais.
Para haver ação: é necessário um agente ou sujeito com consciência (perceção que é o autor da ação),
com uma intenção (que faz), com um motivo (porque faz) e dotado de livre-arbítrio ou vontade (capacidade
de opção e de decisão).

O problema do livre–arbítrio:
Livre–arbítrio é a capacidade de escolha e decisão, ou seja, depende de mim o que escolho fazer. A ação
não está ligada a acontecimentos anteriores, não é um mero efeito ou desfecho de algo que já aconteceu.
Teorias da problemática do livre–arbítrio:
- Determinismo radical (incompatibilismo);
- Indeterminismo;
- Determinismo moderado (compatibilismo);
- Libertarismo.
Determinismo radical (incompatibilismo):
O determinismo defende que o livre-arbítrio não é mais que uma ilusão, já que todas as ações humanos
estão determinadas. Para os deterministas radicais todo o universo obedece a leis naturais, de tal modo que
defendem que cada acontecimento no mundo decorre é causado por acontecimentos anteriores, então para
estes ocorre um fenómeno X, com causa Y que gera o acontecimento.
Não podemos interferir neles (mesmo com consciência delas). As leis que as regem não estão minimamente
sob o nosso controle. A existência de livre-arbítrio é incompatível com o determinismo.

Indeterminismo:
Filosofia – Módulo II
O determinismo defende que é impossível prever o comportamento de um dado sistema de micropartículas
da matéria. Estas comportam-se de modo diferente em cada momento, sem que se possa encontrar causa
dessa mudança. Podemos admitir que o indeterminismo que rege o mundo das micropartículas também se
aplica à vontade humana. Uma vez que há indeterminismo na Natureza, o indeterminismo defende que as
nossas ações não são determinadas.
O indeterminismo é, assim, a corrente que defende a impossibilidade de prever os fenómenos a partir de
causas determinantes, introduzindo noções de acaso e aleatoriedade.
Determinismo moderado (compatibilismo):
O determinismo moderado parte do conceito comum de liberdade e aceita a convicção de que poderíamos
ter feito outra coisa se o tivéssemos escolhido. No mundo todos os fenómenos são causalmente
relacionados. A vontade humana, igualmente determinada, é livre quando não for obrigada a escolher sob
ameaça (de uma arma, por exemplo). Tudo no mundo natural é determinado, mas as ações humanas são
livres, por serem determinadas mas não constrangidas. Este determinismo defende a compatibilidade entre o
determinismo e a liberdade. Argumentos do determinismo moderado:
- O fatalismo, baseado na existência de uma vontade sobrenatural superior à vontade humana,
restringindo-lhe a sua liberdade de ação e condicionando o seu exercício.
○ Fatalismo vulgar - o Homem tem um destino, um Fatum que pesa sobre todos os atos
humanos.
○ Fatalismo teológico - se o futuro está previsto, todos os atos futuros estão regulados e a
liberdade da vontade humana seria apenas uma liberdade ilusória.
- O determinismo universal, baseado no princípio da causalidade, que tem um valor universal,
aplicando-se a toda a espécie de fenómenos. Todos os fenómenos físicos, fisiológicos, sociais e
psicológicos estariam rigorosamente condicionados uns pelos outros, sujeitos a leis rígidas, sem
lugar para qualquer atividade verdadeiramente livre.
Libertismo (incompatibilismo):
No libertismo as nossas ações não são determinadas nem aleatórias. Este afirma a liberdade em absoluto,
dizendo que o Homem é um ser pleno de liberdade e acrescentando que não há nada que restrinja ou coaja
a sua liberdade: nem Deus, nem o destino, nem a sua própria constituição. Defende o Homem como o único
sujeito e artífice da conduta humana. Para o libertismo o mundo material e a ação humana são de natureza
diferente e regem-se por leis diferentes.
O Libertismo afirma que as ações humanas resultam de deliberações racionais e podem alterar o curso dos
acontecimentos no mundo.
.
Filosofia - Módulo iii
Valores e Factos
Os valores são qualidades resultantes da apreciação do que um indivíduo ou sociedade faz acerca de um
objeto, de uma ação, ou de um ser real ou ideal, em função de algo que é desejável.
Valores são ideias que orientam a nossa ação, isto é, a nossa ação é determinada pelos valores, dividindo o
campo da ação humana entre o desejável e o indesejável: justo / injusto (valores éticos), belo / feio (valores
estéticos), sagrado / profano (valores religiosos). Valores são subjetivos.
Atribuir valor é no sentido geral, ter preferência, dar mais importância a algumas coisas, pessoas, ações,
situações, etc., do que outras. Um valor é, portanto, algo abstrato, não físico, em função do que deve ser, do
que vale, o possível, o preferível.
Os factos são aspetos da realidade, aspeto este que é descrito com objetividade. São dirigidos para o
campo do conhecimento. Procuram dar-nos as coisas por aquilo que elas são. Um fato age em função do
que é real, o descritível, o ser, o que é.
Para atribuir valor ou descrever um facto, elaboramos juízos de valor ou juízos de facto, respetivamente.
Juízos de valor – é quando nos expressamos de forma emotiva/efetiva, transparecendo opiniões e
preferências. São apreciações subjetivas que expressam a forma como o indivíduo se relaciona com o real.
Utilizamos os valores à nossa disposição, para classificar a realidade. Exemplos: Portalegre é a melhor
cidade de Portugal; O Benfica é o maior de Portugal; O Gonçalo é muito simpático.
Juízos de facto – é a descrição impessoal, neutra e objetiva da realidade, onde não é adicionada qualquer
interpretação, comentários e preferências. Podem ser classificados como verdadeiros ou falsos. Limitam-se a
comunicar a descrição de uma determinada realidade. Exemplos: Eu tenho 1,59 cm; Lisboa é a capital de
Portugal; Tive 14,7 no teste de matemática.

Valor Facto

Real Ideal

Observável Interpretação

Verificável Preferível

Impessoal Pessoal

Objetivo Subjetivo

Características dos valores:


Polaridade → Os valores têm sempre uma oposição de extremos, um carácter de bipolaridade. Os valores
surgem sempre aos pares, à beleza contrapõe-se à felicidade, ao bem ou mal, etc.
Hierarquização → Os valores organizam-se em escalas, de acordo com a sua importância que lhe
atribuímos, variável de sujeito para sujeito e variável ao longo da vida. A validade de cada hierarquia é
discutível.
Historicidade → Os valores são condicionados pela época, pelo momento histórico em que nos
encontramos. Exemplo: ideal de beleza.
Perenidade → Os valores são intemporais, não se alteram independentemente do tempo, por exemplo a
justiça, o bem ou a vida: os valores são eternos e mantêm-se inalteráveis, apesar da história.
Absolutividade / Relatividade → Os valores variam de pessoa, com a cultura. São relativos, face aos
mesmos objetivos, pessoas e situações, diferentes sujeitos podem emitir diferentes atribuições, sentidos e
juízos de valor.
Natureza dos valores:
Objetivismo – Os valores são independentes das pessoas, que apenas têm de considerar valiosas as
Filosofia - Módulo iii
coisas que o incorporam. Há valores absolutos que se impõem por si mesmos e transcendem os seres
humanos. Os valores são essências imutáveis, intemporais e imateriais.
➔ Naturalismo: os valores são propriedades dos próprios objetos/pessoas; os valores são modos de ser
particulares das coisas, qualidades reais e efetivas.
➔ Ontologismo: os valores são objetivos quando ideias/conceitos são definidos de igual forma para
todos os indivíduos; o valor é como entidade ideal.
Subjetivismo – Os valores dependem dos sentimentos de agrado ou desagrado, do facto de serem ou não
desejados, da subjetividade humana individual ou coletiva, ou seja da perspectiva do sujeito que avalia. Os
valores são essências variáveis e contingentes.
➔ Psicologismo: os valores correspondem ao sentimento / emoção que resulta de um estado
psicológico, resumindo-se à experiência que temos dele. Expressa a forma de pensar, variável de
sujeito para sujeito.
➔ Emotivismo: os valores não são mais que expressões das nossas emoções, sentimentos e atitudes,
não sendo possível avaliá-los em termos de verdade ou falsidade. Não existem como os factos,
sobre os quais se possa refletir criticamente. Expressam a forma de pensar, variaveis de sujeito para
sujeito.

Etnocentrismo - Monoculturalismo:
– Tendência para se sobrevalorizar a cultura a que se pertence em relação a outras diferentes, sendo que se
avalia as outras culturas pelos parâmetros da nossa. Estabelece-se os padrões que regem a nossa cultura
como universais. Está na base de fenómenos como o racismo e a xenofobia.
Relativismo cultural - Multiculturalismo:
– Noção que implica a aceitação de padrões culturais de culturas diferentes da nossa. Inexistência de
valores absolutos e de culturas superiores ou inferiores. Impossibilidade de se julgar qualquer prática ou
tradição cultural à luz de valores universais / a partir da perspectiva de outra cultura.
Se aceitarmos o relativismo cultural, ficaríamos impedidos de condenar os costumes de outras sociedades,
teríamos de respeitar e aceitar costumes como a escravatura, a utilização de crianças na guerra, a mutilação
genital feminina, etc… Deixaríamos de poder falar de progresso civilizacional, é normal existirem progressos
e avanços culturais ao longo dos anos, mas se o relativismo cultural estivesse correto não poderíamos falar
de grandes feitos como a abolição da pena de morte e o fim da escravatura. Cria-se então o
interculturalismo.
Interculturalismo:
– Esta posição defende a tolerância face à diversidade, defendendo que se devem estabelecer um conjunto
de valores comuns / universais, baseados na dignidade humana. Promove o diálogo entre culturas, de modo
a procurar aspetos comuns e ajudar na compreensão das diferenças. O interculturalismo parte do
reconhecimento do direito à diferença, vista como algo positivo para o enriquecimento do
tecido social. Alia a necessidade de estabelecer um terreno comum entre culturas, construindo sobre valores
que todas elas aceitem e partilhem.
Filosofia – Módulo IV
Ética e Moral
Moral, deriva do latim mores (costumes) — Conjunto de comportamentos que são aceites, esperados e
incentivados numa sociedade. Orienta o comportamento humano numa comunidade ou cultura.
● prática – diz, em termos concretos o que uma sociedade deve ou não fazer;
● coletiva – define padrões de comportamento a nível social;
● direitos e deveres comuns.
Ética, deriva do grego ethos (modo de ser/comportamento) — Pensamento e reflexão sobre as normas
ditadas pela moral, tentando sempre compreendê-las e dar-lhes sentido. Estudo da moral - o que ela é, como
se fundamenta e como se aplica.
● teórica – diz respeito ao pensamento (porque devemos fazer algo?);
● individual – parte da reflexão pessoal de cada indivíduo sobre as normas para perceber se continuam
a fazer-lhe sentido (e assim continuar a segui-la ou não).
Perspectivas filosóficas - teorias éticas
Ética Deontológica ou absolutista → Kant
➔ ética do dever ou dos princípios (devemos agir de acordo com o nosso dever;
➔ reúne as teorias morais segundo as quais certas ações devem ou não ser realizadas,
independentemente das consequências que resultam da sua realização ou não realização;
➔ centra-se na intenção (nesta perspectiva o ato de roubar é sempre mau).
Ética Teológica ou consequencialista → John Stuart Mill e Jeremy Bentham
➔ ética dos fins (as ações são avaliadas em função dos seus resultados / consequências;
➔ reúne as teorias morais segundo as quais as ações são corretas ou incorretas em virtude das suas
consequências ou resultados.
➔ as ações não são, em si mesmas, nem boas nem más, tal depende sempre dos seus resultados;

A Ética Kantiana
“As nossas ações serão morais se, e somente se, forem de tipo tal que queiramos que todas as pessoas as
sigam em todas as circunstâncias"
– Base racional, é sustentada pela razão
Agir bem + Intenção boa = ação boa
– Como descobrir a moralidade de uma ação → pelo motivo que está na sua origem
Para Kant, existem 3 tipos de ações:
● ação contrária ao dever – ações imorais, que não cumprem as regras / normas morais e que surgem
sempre inclinação sensível;
Ex. teoria: ser honesta | prática: mentir – Imoralidade / Ilegalidade = ação má.
● ação conforme o dever – ações que cumprem as regras / normas morais, mas que ocorrem por
interesse ou vantagem pessoal, ou por sentimento;
Ex. diz a verdade: a quem for honesto contigo; por medo de ser apanhado a mentir; se ganhas alguma
coisa com isso – Legalidade = ação que não é má nem boa.
Heteronomia, o sujeito não pensa pela própria cabeça, age pelos outros ou pelo o que lhe é dito para fazer.
Está relacionado ao imperativo hipotético.
● ação por dever – ações que cumprem as regras / normas morais e que ocorrem por total respeito à lei
moral; decorrem de uma exigência puramente racional;
Ex. diz a verdade – Moralidade = ação boa.
Autonomia, o sujeito pensa por si próprio e estabelece as suas próprias leis. Está ligado ao imperativo
categórico.
Filosofia – Módulo IV
Imperativo hipotético Imperativo categórico ou da moralidade

Uma ação é boa porque é um meio para conseguir Uma ação é boa se, e apenas se, for realizada por
algum fim ou propósito. puro respeito à representação da lei em si mesma.

É condicional, isto é, depende da existência de Ordena incondicionalmente, valendo


determinadas circunstâncias empíricas independentemente das circunstâncias. É uma lei a
(circunstâncias que derivam da experiência). priori (anterior e independente de toda e qualquer
experiência).

É particular (vale apenas em determinadas É uma lei universal (válida para todos os seres
condições e para alguns indivíduos) e contingente racionais, quaisquer que sejam as circunstâncias] e
(isto é, de um ponto de vista lógico pode ser necessária (de um ponto de vista lógico, tem de ser
verdadeiro ou falso). verdadeira)

Rege as ações conforme ao dever (legalidade). Rege as ações por dever (moralidade).

É o enunciado típico das éticas materiais. Traduz É a lei da moralidade, dado o seu caráter
uma moral heterônoma (imposta a partir do exclusivamente formal. A obediência a este princípio
exterior). apolítico (que vale por si mesmo) deriva apenas da
autonomia da vontade.

Imperativo hipotético – é uma hipótese; Se queres X, então deves fazer Y, sem y não há x.
Imperativo categórico – é linear, sem falhas; Deves fazer X, sem mais.
1º formulação (universalidade): age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer
que se torne lei universal;
2º formulação (humanidade): age de tal que uses a humanidade, sempre e simultaneamente, como fim e
nunca simplesmente como meio;
Críticas à ética Kantiana:
● Obrigações morais e conflito de deveres:
○ A teoria de Kant nem sempre consegue resolver facilmente o problema do conflito de deveres.
Para Kant, as obrigações morais são incondicionais – muitas vezes é inevitável, temos de
escolher entre dois deveres.
● Obrigações morais e consequências funestas:
○ Esta teoria não dá atenção às consequências da ação. (Ex. Mentir para manter alguém vivo –
Kant e os defensores diriam a verdade).
● Kant subestima sentimentos altruístas:
○ Subestima sentimentos com base na simpatia e na empatia – estes sentimentos devem ser
estimulados e desenvolvidos nas pessoas ao invés de serem secundarizados.
● Moral difícil de concretizar plenamente:
○ falta de realismo, apresenta um ideal distante daquilo que conhecemos à nossa volta.
Filosofia – Módulo IV
.A Ética de Jeremy Bentham e John Stuart Mill
“As nossas ações serão morais se, e somente se, previsivelmente maximizarem imparcialmente a felicidade
do conjunto de afetados”
● Origem do Utilitarismo – Inglaterra, com David Hume;
● Formulação clássica – séc. XIX, com Jeremy Behtham, John Stuart Mill e Harriet Taylor;
O utilitarismo contribui para a transformação política das sociedades e para a promoção de causas (reformas
dos sistemas criminal e prisional, restrições do uso de mão de obra infantil, direito de voto das mulheres).
– Princípio da utilidade: devemos fazer aquilo que previsivelmente produza os maiores benefícios
possíveis para todos os que serão afetados pela nossa ação. A partir deste princípio avaliam-se as boas
ou más ações.
Este princípio utilitarista da maior felicidade assenta em três pressupostos:
● Ética Hedonista
○ Hedonismo – devemos fazer aquilo que cause os maiores benefícios (prazer) e os
menores prejuízos (dor) ao conjunto dos afetos.
→ filósofo epicuro – objetivo central da vida = felicidade;
→ mente livre de inquietude e corpo livre de dor.
● Ética Imparcial
○ Ao ponderarmos a maior soma de felicidade global, devemos contabilizar o bem–estar de
cada indivíduo como sendo igualmente importante.
→ nada afeta o estatuto moral do indivíduo, nem a etnia, o gênero ou a classe social.
● Ética Consequencialista
○ Devemos orientar-nos pelos resultados previsíveis das nossas ações.
→ a correção ou incorreção moral do ato depende das suas consequências, mas não do ato
em si ou da consideração acerca da motivação que este subjacente;
→ na avaliação da ação, importam, acima de tudo, as consequências que dela decorrem.
● Ética Altruísta
→ a felicidade de um indivíduo é igualmente importante à de qualquer outro – felicidade
universal, sem egoísmo;
→ em todo o ser humano existe um sentido social, ou seja, um sentimento natural que o leva
a cooperar com os outros;
→ desistir do seu maior bem, a felicidade, em função do bem dos outros apenas será útil se
esta auto renúncia servir para maximizar a soma total da felicidade.
Avaliação da felicidade
Bentham diz que a moralidade de uma ação deveria ser medida em função da quantidade de prazer que
produzisse. Critérios de quantidade:
➔ intensidade – o prazer visado deveria ser o mais forte possível;
➔ duração – devemos escolher o prazer mais duradouro;
➔ certeza – entre dois prazeres, o escolhido deveria ser aquele que temos mais probabilidade de
conseguir corrigir;
➔ proximidade – se pudermos escolher entre um prazer muito distante e outro que está próximo,
devemos escolher o último;
➔ extensão – deve ter-se em conta quantas pessoas beneficiarão da ação.
Critérios de qualidade:
➔ prazeres superiores – prazeres intelectuais e morais
◆ associados à dimensão espiritual / racional do humano;
◆ apenas acessíveis ao ser humano;
◆ proporcionam verdadeira felicidade;
◆ prazeres como a prática do bem, ou intelectualmente relacionados com o conhecimento.
Filosofia – Módulo IV
➔ prazeres inferiores
◆ associados à dimensão física / corporal do humano;
◆ comuns a todos os animais;
◆ proporcionam apenas satisfação / contentamento, mas não a verdadeira felicidade;
◆ prazeres como comer chocolate é um exemplo.
Críticas à ética utilitarista:
● dificuldade em quantificar a felicidade;
● impossibilidade de prever todas as consequências;
● conduz as consequências moralmente inaceitáveis:
○ exemplo – numa situação de 100 pessoas, 95 ficam felizes e escravizam-se as outras 5
pessoas inocentes, isto não é aceitável.
● ética indeterminada:
○ não existe um princípio ético que sirva de critério universal, ou seja, a avaliação das
consequências seria subjetiva, dependia da opinião e interesses do sujeito. Tornar-nos-íamos
individualistas e correríamos o risco de esquecer valores como a solidariedade.
● o utilitarismo é absurdamente exigente;
○ se agirmos sempre em função do benefícios maiores, isso obrigar-nos a gastar muito tempo
das nossas vidas e os deontologistas (como Kant) defende que é perfeitamente aceitável
dedicarmo-nos a atividades que não contribuem para o bem estar geral, como comer gelado
com uma amiga ou viajar de férias para o Algarve.
Filosofia – Módulo V
A dimensão ético-política
Ética – diz respeito ao comportamento dos homens, quer a nível individual, quer em sociedade.
Direito – deriva do latim directum ( dirigir / alinhar ). Este termo é utilizado para definir o que é certo / correto.
Inclui o conjunto de obrigações legais (leis) que regem coercivamente o comportamento dos cidadãos,
prescrevendo sanções no caso de incumprimento.
Política – deriva do grego polis ( cidade / estado). Refere-se à atividade de organização do poder de forma a
garantir a manutenção do equilíbrio social no interior do Estado e também entre diferentes Estados.
Debruça-se sobre os assuntos de uma sociedade.
A ética relaciona-se com o direito na medida em que o que regulamenta a conduta do Homem enquanto
cidadão é o Direito, através de um conjunto de normas jurídicas, compiladas sob a forma de Constituição,
Código Civil, Penal ou de Trabalho. O Homem muitas vezes entra em confronto com os seus semelhantes,
devido a interesses conflituosos, justificando a existência de sociedades política e juridicamente organizadas,
reguladas pela lei que a própria sociedade cria e fiscaliza.
A ética relaciona-se com a política na medida em que a ética é a arte de escolher o que mais nos convém
para vivermos o melhor possível e o objetivo da política é organizar o melhor possível a convivência social,
de modo a que posso escolher o que mais lhe convém. O que provoca que quem tenha a preocupação ética
de viver bem não pode ignorar a política
Estado – Polis ou cidade-estado é para os antigos gregos, uma unidade política, autônoma e independente.
Cada Polis possuía o seu próprio território, exército, calendário, moeda, constituição, governo, leis e
instituições políticas. A Polis foi concebida para ser uma forma autárquica perfeita, a única capaz de fornecer
os instrumentos para a realização plena das aptidões morais e intelectuais dos indivíduos. Quando os gregos
se referem à cidade (polis) referem-se pois ao Estado.

O que legitima a autoridade do estado


Aristóteles: perspetiva naturalista
Na concepção aristotélica a forma mais elementar e primitiva de associação natural é a família. A
combinação de várias famílias dá origem a uma aldeia. Por fim, dão origem a Cidades (Estados). Assim, o
Estado é o culminar de um processo natural e o fim para o qual tendem naturalmente todas as anteriores
formas de associação.
● A finalidade do Estado é fornecer o conjunto de meios necessários à formação moral dos cidadãos.
● Só o Estado é o que nos dá a vida boa ou a felicidade.
O que legitima a autoridade do Estado é a natureza intrinsecamente política do Homem: o homem é um
animal político. A sua natureza só se realiza através da comunidade social e política, e o Estado é a forma
mais perfeita e acabada de organização comunitária e política, para a qual este tende naturalmente.
John Locke: perspectiva contratualista
Para Locke, o Estado e o poder político são convenções (ou construções humanas) que resultam de um
acordo. Locke insere-se numa vasta tradição de filósofos que desenvolvem a ficção conhecida como
“contrato social”.
Contrato social – Ficção filosófica desenvolvida por pensadores modernos. Onde dizem que o poder político
é um acordo entre indivíduos racionais, que renunciam à sua vida natural (condição associal do ser humano,
anterior ao Estado e à autoridade política). Assim, a sociedade política é uma criação ou construção humana
e não um desenvolvimento natural.
Estado de natureza, anterior ao poder político, não é um estado de guerra. Para Locke o estado natural é um
estado de perfeita liberdade, completa igualdade e plena independência. Rege-se pela lei natural, que a
todos governa e obriga, ordenando a paz, a boa vontade, a assistência mútua e a conservação da vida.
Filosofia – Módulo V
No estado natural o gozo dos direitos é muito incerto e está constantemente exposto sob ameaça. Não existe
neste estado uma lei estabelecida e reconhecida que ofereça uma medida comum, um juiz imparcial e que
aplique a lei e resolva as controvérsias ou um poder que assegure o cumprimento da lei e execute
coercivamente as sentenças. Estas inconveniências conduzem o indivíduo a abdicar de parte da sua
liberdade individual e a colocar-se sob autoridade do estado.
A finalidade do Estado é remediar as inconveniências do estado de liberar e proteger a propriedade. É
garantir a proteção de cada um, defender os indivíduos que queiram sair do estado de natureza e construir
uma sociedade civil.
O que legitima a autoridade do Estado é a proteção da vida, da liberdade e a conservação da propriedade. É
para proteger os direitos naturais que o indivíduo dá o seu consentimento para formar a sociedade civil
(Estado) e renúncia a um outro direito natural: fazer justiça pelas próprias mãos.

John Rawls: a justiça como equidade


“Numa sociedade justa, os direitos garantidos pela justiça não estão dependentes da negociação política ou
do cálculo dos interesses sociais”
Rawls desenvolve uma teoria sistemática e global da justiça, em oposição ao utilitarismo. A ideia central de
Rawls é a de que a justiça consiste na igualdade ou equidade: os seres humanos devem ter os mesmos
direitos e liberdades.
Na base da conceção de justiça de Rawls está o contratualismo e uma nova forma de contrato social
imaginada para que os princípios eleitos sejam equitativos. Os princípios de justiça formam assim a base do
acordo e resultam da eleição racional e voluntária dos participantes, a pluralidade e a totalidade dos atores
sociais.
A posição original é a situação imaginária a partir da qual se estabelece o acordo hipotético e definem os
princípios de justiça. A imparcialidade é uma característica fundamental da posição original e é alcançada
com o recurso a um véu de ignorância.
A vantagem do véu de ignorância – uma barreira contra interesses individuais – é obrigar os indivíduos à
imparcialidade e à cooperação. Assim, os indivíduos, colocados em situação de igualdade, agem apenas em
função do que é racional escolher. Desconhecem todas as características naturais e condições sociais e
económicas em que se encontram ou virão a encontrar-se e vão, por isso, procurar proteger os seus próprios
interesses que são, afinal, nestas circunstâncias, os de todos e os de cada um. O véu de ignorância garante
assim equidade e universalidade.
A estratég ia maximin é o princípio da maximização do mínimo. Rawls defende que devemos escolher, sob o
véu de ignorância, de entre todas as situações possíveis aquela em que a pessoa menos favorecida fica
melhor em termos de distribuição de bens primários. Uma sociedade onde todos têm o mín. é uma
sociedade mais justa do que uma sociedade onde alguns têm muito e outros não têm nada.
Os princípios de justiça definidos a partir da posição original são o princípio da liberdade e o da igualdade
social e econômica (de oportunidades) O de liberdade exige que o direito às liberdades básicas seja igual
para todos e que todos tenham o mesmo direito às liberdades essenciais. O segundo é o princípio da
igualdade social e econômica e consagra os limites da desigualdade justa. Tratar as pessoas como iguais
não implica eliminar todas as desigualdades. As desigualdades são justas se, e apenas se, contribuírem para
a melhoria das condições dos menos favorecidos da sociedade. O princípio da igualdade social subdivide-se
no princípio da diferença e no princípio da oportunidade justa. O primeiro consagra que quaisquer
desigualdades económicas e sociais devem apenas ser toleradas na condição de trazerem maiores
benefícios para os menos favorecidos. O segundo defende que quaisquer desigualdades sociais e
económicas associadas a cargos ou trabalhos podem apenas existir se esses cargos ou trabalhos estiverem
abertos a todos em igualdade de oportunidades.
Os princípios da justiça são hierárquicos. Em caso de conflito, as liberdades básicas consagradas no
primeiro princípio devem ter absoluta prevalência sobre os dois princípios seguintes. Também o princípio da
oportunidade justa é prioritário em relação ao princípio da diferença.
Filosofia – Módulo V
Para Rawls existem desigualdades boas. Tratar as pessoas como iguais não implica remover todas as
desigualdades, mas apenas aquelas que trazem desvantagens para alguém. Assim, em nome de maior
justiça social, o sistema de Rawls admite a existência de desigualdades, desde que estas tragam maiores
benefícios para os menos favorecidos. Por exemplo, se pagar mais a médicos e professores assegura que
estes profissionais aceitem trabalhar em aldeias recônditas, servindo populações que, caso contrário, não
teriam acesso à saúde e à educação, então a desigualdade salarial é permitida.
As duas principais objeções à teoria de Rawls prendem-se com os incentivos (terão as pessoas mais
talentosas incentivos para trabalharem mais ou de forma mais exigente?) e com o esforço (não merecerão as
pessoas que se esforçam mais verem os resultados do seu esforço recompensados?). Frequentemente é
apresentada uma terceira objeção: como garantir que as pessoas colocadas na posição original optam pelo
seguro? Porque não imaginar que algumas estão dispostas a jogar e a correr riscos?
Filosofia – Módulo VI
A dimensão religiosa
Religião
● Relação entre o EU e uma entidade ou ser sobrenatural. Dois tipos de dimensão: dimensão privada e
subjetiva, relacionada com o sentimento religioso e com a fé e uma dimensão pública, marcada pelas
cerimônias e rituais da experiência religiosa.
● Todas as religiões estabelecem uma relação entre o sagrado e o profano, sendo que o sagrado é o
fundamental da vida religiosa. O sagrado só existe numa base profana: hierofanias.
Hierofanias – são todas e quaisquer manifestações do sagrado no mundo profano. Os tempos das
diferentes religiões, por exemplo, são espaços sagrados construídos no espaço profano mas que ganham
outra dimensão quanto espaços ou lugares de encontro com a divindade, ultrapassando a mera existência
material do edifício.
Deus existe??
Teísmo – afirma que Deus é uma realidade suprema, absoluta e transcendente. Assim, Deus é o criador do
universo e de tudo que existe. Deus é o fundamento da moral, do conhecimento e das leis. É a pessoa
transcendente, que pode entrar em relação com o ser humano.
Ateísmo – nega a existência de Deus ou de deuses.
Agnosticismo – não coloca racionalmente a existência de Deus, porque o considera incognoscível. Embora
possa existir, é um mistério, logo é inacessível.
A vida tem sentido??
O sentido da vida depende de encontrar um objetivo geral para todas as nossas ações e experiências, como
a procura de felicidade; a de encontrar sempre mais e mais objetivos para concretizar; a de nos envolvermos
em atividades em que a felicidade se concretize, como combater a pobreza e fome do mundo; ou de um
ponto de vista mais religioso, depende da existência de Deus e de acreditar numa vida depois da morte que
tudo recompensará.
● Do ponto de vista da religião – o sentido da vida depende da existência de Deus e da crença numa
vida depois da morte que tudo recompensará. Para o crente, Deus é a resposta às experiências e
questões radicais postas pela realidade e pela existência, Deus é a razão de todo o sentido.
● Do ponto de vista de Richard Taylor – o sentido da vida de uma perspectiva subjetiva. Para ele, o
sentido da vida é ela mesma e o que cada um fizer dela. Assim, depende da nossa vontade e da
nossa motivação e são os nossos desejos que definem se o fazemos vale ou não a pena.
● Do ponto de vista de Susan Wolf – o sentido da vida de uma perspectiva objetiva. Para ela, o
sentido da vida consiste na entrega ativa àquilo a que chama “projetos de valor”. Estabelece uma
ligação entre a felicidade e o sentido objetivamente concebido, isto é, o sentido resulta de viver de
um modo que vise a preservação, a promoção ou a criação de valor cuja fonte seja exterior a nós e
de um modo que possa ser compreendido e admirado de pontos de vista diferentes do nosso.
Argumentos teístas para provar a existência de Deus:
➔ Argumento desígnio ou teleológico – prova à posteriori a existência de Deus. Baseia-se na
observação direta do mundo e apoia-se na ideia de que o universo é como uma máquina.
Basicamente, procede por meio de uma analogia e sustenta que se as máquinas são produto de um
desígnio inteligente e se o universo se assemelha a uma máquina, então também ele foi produzido
por um desígnio inteligente, Deus. Este argumento é criticado através das seguintes objeções:
◆ nada no universo mostra que ele tem uma finalidade, isto é, que é um sistema teleológico;
◆ por se apoiar numa analogia torna fraca a conclusão a que chega, uma vez que pelo facto de
duas coisas – o universo e uma máquina – terem semelhanças, não significa que sejam
idênticas nos aspetos que desconhecemos;
◆ pelo fato de o universo ter em si muitas partes que se assemelham a uma máquina, não
podemos concluir que o desígnio inteligente do universo seja necessariamente o deus teísta.
Filosofia – Módulo VI
➔ Argumento cosmológico ou da primeira causa – baseia-se no cosmos (mundo) e na experiência
que dele temos, por esta razão é também um argumento a posteriori. Este argumento assenta numa
relação de causa e efeito, que se observa nas coisas do mundo Fazendo regredir esta causa,
encontraremos uma causa primeira incausada, Deus. Este argumento é criticado:
◆ por defender que tudo tem uma causa e, no entanto, afirmar simultaneamente que há algo
que não a tem.
◆ pelo facto de não ser uma demonstração, já que se é possível ter uma série infinita de causas
e efeitos, porque não pode prolongar-se, restritivamente, de forma infinita?
◆ nada prova que a causa primeira a existir seja necessariamente o deus teístas.
➔ Argumento ontológico – único argumento a priori, pois assenta em verdades puramente
conceptuais, ao tentar demonstrar Deus, a partir da sua própria definição como ser supremo,
omnisciente, omnipresente e omnipotente. Assim, partindo da argumentação, Deus é o ser maior do
que o qual nada pode ser pensado. E se Deus, com todas as suas características, só existisse no
pensamento e não existisse na realidade, então, não seria perfeito, uma vez que a noção de
perfeição inclui necessariamente a existência. Logo, conclui, Deus existe necessariamente. Críticas:
◆ uma das críticas é que se partirmos do mesmo pressuposto deste argumento, então
podemos justificar a existência de qualquer outra coisa, por mais absurda que seja;
◆ uma outra crítica afirma que a existência não é uma propriedade de Deus mas apenas uma
possibilidade para que Ele possa ter propriedades, como a de ser omnipotente, por exemplo;
◆ dado que a existência não faz parte da essência, e que o argumento a considera como tal, é
dado um salto ilícito da ordem do pensar para a ordem do ser.
Argumento ateísta para sustentar a não-existência de Deus:
➔ Argumento (do problema) da existência do mal – este parte da própria definição de Deus como
ser sumamente bom, omnipotente e omnisciente para afirmar que um Deus assim definido não evita
que exista dor e sofrimento. Assim, argumenta-se que:
◆ ou Deus não sabe que existe o sofrimento e então não é onisciente (logo, não é Deus);
◆ ou sabe que o sofrimento existe mas não consegue pôr-lhe fim e então não é onipotente
(logo, não é Deus);
◆ ou sabe que existe sofrimento mas não quer terminar com ele e então não é sumamente bom
(logo, não é Deus).
Contra argumento do teísmo ao argumento ateísta – recorrendo à noção de livre-arbítrio, estes dizem
que o sofrimento não é causado por Deus, mas pelas pessoas, já que Ele lhes deu a possibilidade de
escolher fazer ou não o mal. Um mundo sem livre-arbítrio seria limitador da liberdade humana, sendo
sempre melhor um mundo em que haja livre-arbítrio e sofrimento do que um mundo em que um nem
outro existam e que vigore um determinismo absoluto. Por outro lado, os males naturais, que não
dependem do ser humano, são uma oportunidade para a humanidade realizar boas ações e atos
heroicos. Quanto ao sofrimento das crianças, o teísmo defende que esse sofrimento pode sempre
ser recompensado em outra vida.
Fé e razão – A fé é a única via para se acender a Deus. A razão é incompetente para tal fim. Como
defendem os fideístas, a fé é um caminho alternativo para a verdade e, no caso da crença religiosa, o único
caminho. A fé afirma-se por si própria, sem críticas, o que não acontece com a razão. A razão nunca é
absoluta e isenta de erros e críticas.

É necessário ter consciência de fatores como o ambiente familiar, o contexto histórico e social, a educação e
todo o processo de socialização, para perceber que em função deles poderíamos ter uma outra religião ou
não ter religião alguma, e perceber e aceitar a diferença adotando uma atitude de tolerância.
Filosofia – Módulo VI
A religião é um elemento catalisador da união social e da sua transformação. Ela estimula também a procura
de um mundo melhor. O seu poder reside na fé e na obediência à ordem que impõe, que é emanada
diretamente de Deus. Os princípios estruturantes das religiões funcionam como verdades inquestionáveis
(dogmas), não passíveis de revisão e orientadores de doutrinas.
Por todas estas características, as religiões continuam a ser um refúgio onde as pessoas procuram quer o
conforto quer as respostas para as inquietações mais profundas.
Postura exclusivista: só existe apenas uma religião verdadeira. Para se poder ser salvo é necessário
abraçar explicitamente como sua a única religião verdadeira.
Postura inclusivista: apesar de só existir uma religião verdadeira, considera-se que o Deus dessa religião
também salva os crentes virtuosos das outras religiões.
Postura pluralista: as diversas religiões são interpretações de uma única realidade divina, por isso cada
uma é igualmente verdadeira e legítima como caminho para a salvação.
Ser tolerante não é aceitar tudo. Ser tolerante não é ser passivo, mas assumir uma posição combativa contra
a intolerância e o fanatismo, a favor da diversidade social e cultural. A tolerância permite explorar e descobrir
a diversidade humana, reconhecendo as pessoas como sujeitos independentes das ideias ou crenças e dos
costumes que praticam. Respeitar as pessoas não implica tolerar e aceitar todas as suas opiniões e
comportamentos, que devem e podem ser criticados e questionados. O diálogo inter-religioso é a atitude a
seguir no combate à intolerância e no apelo ao respeito por todas as fés e práticas religiosas, procurando
promover a paz entre todas as confissões enquanto forma de humanização.
Filosofia – Módulo VII
A dimensão estética
Estética – disciplina que sistematiza racionalmente as experiências da beleza. A estética é uma teoria do
conhecimento sensível.
Filosofia da arte – está para além da estética e é uma disciplina distinta desta. É, de certa forma, uma
especialização da estética.
Experiência estética – é a fruição ou contemplação da natureza ou de uma obra de arte e, nesse sentido,
diz-se que é também experiência do belo artístico.
Para Kant, esta experiência estética é marcada pelo desinteresse, é um prazer meramente contemplativo.
Encontra-se ligado ao juízo estético. Juízos estéticos indicam sentimentos subjetivos, por isso Kant
considera um juízo estético um juízo de gosto. Este é desinteressado e deve tender para um consenso
subjetivo universal, isto é, todo e qualquer sujeito deve considerá-lo de tal modo.
Para distinguir o prazer do gosto pelo belo dos prazeres do bom e do agradável:
O bom transporta um prazer prático. O agradável traz consigo um prazer condicionado por estímulos.
O prazer do belo é puramente contemplativo, pois tem apenas em conta a natureza do objeto, em função do
sentimento de prazer ou desprazer que provoca. O belo é que nos apraz.
Perspetivas que existam relativamente à natureza dos juízos estéticos:
Existe uma resposta subjectivista, que considera que um objeto é belo em virtude daquilo que o sujeito
sente, dependendo o belo do sujeito que avalia;
E ainda uma resposta objetivista, que defende que um objeto é belo pelas propriedades que lhe são
intrínsecas, ou seja, a beleza está nas coisas e é independente dos sentimentos do sujeito que avalia.

O conceito de arte ao longo dos tempos:


● Antiguidade Clássica – a arte é marcada pela procura do belo. O cânone é a proporção e a harmonia.
A arte é um saber fazer, é conhecimento técnico.
● Idade Média – a arte medieval é sobretudo marcada por um profundo sentimento espiritual. As obras
de arte medievais têm uma grande carga religiosa. Dá-se a separação entre as artes liberais - o
saber teórico - e o saber fazer, próprio dos artesãos.
● Idade Moderna – a arte é marcada pela inspiração e pela genialidade. O fim da arte é o belo.
Aparece o termo belas-artes associado às grandes artes, como a pintura, a arquitetura, a poesia, a
escultura e a música.
● Idade Contemporânea – a arte contemporânea traz novas formas de arte e novas designações, como
a de artes plásticas, artes do espetáculo, arte popular, etc. Rompe com todos os princípios estéticos,
unindo muitas vezes o útil ao belo. É a época do aparecimento dos movimentos, das escolas e das
correntes artísticas.
A arte como limitação – como o nome indica, para os defensores desta teoria, uma obra de arte é arte se, e
só se, imitar algo.
Perspectivas de Platão e Aristóteles sobre a arte:
Embora ambos afirmem que a arte é imitação, para Platão a arte é pura ilusão da verdade. As artes, como a
música e a poesia, ao despertarem paixões e emoções, desviam o ser humano do caminho das ideais e da
virtude. Daí que Platão condene os artistas.
Já Aristóteles considera que a imitação da arte é verdadeira, quer em termos de conhecimento, quer em
termos morais. Para ele, a imitação é natural ao ser humano. A arte é imitação do real e tem um efeito
purificador (catarse). Neste sentido, a arte tem também uma função pedagógica, pois fortalece a vida em
comunidade.
Filosofia – Módulo VII
Prós e contras da arte como imitação:
● A favor – tem o facto de nos dar, de forma clara, um critério para classificar o que pode ser arte e um
critério para valorar as obras de arte – as melhores serão as que melhor imitam o objeto que
representam.
● Contra – tem o facto de existirem obras de arte que nada imitam, o que origina que os seus critérios de
classificação e de valoração falhem – há obras que são reconhecidamente arte e não imitam nada.
Por outro lado, levanta dificuldades de apuramento sobre se o que está representado é uma intuição
fiel do original.
A arte como expressão – a teoria expressionista tenta ultrapassar as limitações da anterior ao dirigir para o
artista o elemento central para a definição de arte.
Então, uma obra só é arte se exprimir os sentimentos e emoções do artista e se este, com a sua criação,
conseguir transmitir os mesmos sentimentos e emoções ao espectador.
Para Lev Tolstoi a arte é um meio de comunicação de sentimentos e de emoções por parte do artista, que
deve conseguir transmiti-los ao público. Para ele, só há arte se houver essa unidade do sentimento entre o
artista e o público. Assim, Tolstoi considera que existem 3 critérios para definir arte:
● a particularidade do sentimento transmitido;
● a clareza da transmissão desse sentimento;
● a sinceridade com que o artista experimenta os sentimentos que transmite.
Prós e contras da arte como expressão:
● A favor – tem o facto de vários serem os testemunhos de artistas que afirmam que as suas obras
nasceram da necessidade de transmitirem sentimentos e emoções.
Também o seu critério abrangente para classificar um objeto como arte lhe é favorável, assim como o é
também o seu critério de valoração, que é bem claro, já que a obra será tanto melhor quanto melhor
expressar os sentimentos do artista.
● Contra – o facto de haver obras de arte que não expressam qualquer sentimento. Assim, podem existir
obras de arte que não possam ser classificadas como tal.
Por fim, o critério de valoração também falha, pois se o artista já tiver morrido, ou decidir ocultar as
emoções que estiveram na origem da sua criação, como se vai saber exatamente que emoções ou
sentimentos a sua obra exprime?
A arte como forma – esta teoria defende a ideia que uma obra é arte se, e só se, provocar emoções
estéticas, sendo que estas resultam da relação que o observador estabelece com a obra de arte. A teoria
formalista recusa a existência de uma característica comum a todas as formas de arte.
De acordo com Clive Bell, a arte será tudo aquilo que provoca uma emoção estética. Para Bell, não se deve
procurar aquilo que define uma obra de arte na própria obra, mas no sujeito que a aprecia. Assim, o que
provoca a emoção estética é aquilo a que ele chama forma significante.
Forma significante – é uma relação entre características que distinguem a estrutura de uma obra de arte e
não no seu conteúdo. A forma significante é uma combinação de linhas e cores, de certas formas e relações
entre formas que despertam a emoção estética.
Prós e contras da arte como forma:
● A favor – o facto de poder incluir todo o tipo de arte; Tudo o que provoque emoção estética é arte.
Esta é a condição necessária e suficiente para atribuir a designação de arte a um objeto.
● Contra – o facto de haver pessoas que não sentem nada perante objetos reconhecidos como arte.
Depois, é difícil de entender o critério da forma significante. É uma teoria circular, pois a forma
significante que origina a emoção estética é, por sua vez, provocada por esta.
Por fim, esta teoria é considerada uma teoria elitista, pois postula que só algumas pessoas conseguem
sentir a emoção estética que a obra de arte transmite.
Filosofia – Módulo VII
A arte como comunicação e conhecimento
A arte é comunicação na medida em que implica sempre a transmissão de uma mensagem, seja uma
emoção, uma ideia ou uma atitude, podendo manifestar-se sob a forma visual, sonora, formal ou conceptual,
etc. A arte diz sempre qualquer coisa. É a transmissão de uma mensagem pelo emissor (o artista), com um
referente (a obra de arte), a um receptor (o público).
A arte é conhecimento pela sua criação, como o artista transmite saberes, leva-nos a refletir sobre o mundo
e sobre nós mesmos e a problematizar a nossa existência. Por outro lado, a arte é muitas vezes o reflexo
dos avanços científicos e tecnológicos de uma época.
A arte é fruto de uma cultura, pois o artista é sempre um ser situado num espaço e num tempo concretos. A
sua obra resulta dessa sua circunstância, dos valores morais, estéticos e políticos da sua época e da
sociedade a que pertence. A história da arte mostra-nos isso mesmo.
O mercado da arte é controlado pelos críticos de arte e pelos galeristas. Sendo a arte um produto de
mercado, são estes que decidem o seu modo de funcionamento, tendo inclusivamente o poder para impor ou
banir um determinado artista. A produção artística está condicionada ao interesse ou desinteresse que uma
determinada elite demonstra por um determinado artista ou corrente artística.
Diz-se que a criação artística é manipuladora. Poucos são os artistas que conseguem fugir a esse
mecanismo. A sua maior ou menor implantação no mercado condiciona a sua liberdade criativa e, tantas
vezes, a sua carreira.
Dizer que a obra de arte é aberta, significa reconhecer que a obra de arte é, por essência, plurissignificativa,
o mesmo é dizer, polissêmica. A sua interpretação varia mediante o público, o espaço e o momento. A obra
de arte é passível de múltiplas recriações por parte dos seus recetores. É por isso que se torna muito difícil
definir arte. Todo o espectador edifica uma interpretação individual.

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