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Abordagens contemporâneas da

Aprendizagem e Desenvolvimento
(Parte II)

Nesta unidade, daremos continuidade ao estudo das Abordagens contemporâneas da


Aprendizagem e Desenvolvimento (Parte II), de tal forma que você consiga diferenciar,
entre as teorias, a forma como cada teórico apresentado pensa o desenvolvimento e a
aprendizagem infantil. Além disso, compreender o desenvolvimento e a aprendizagem
do adolescente e do adulto.

Na aula 1, abordaremos a A teoria das Inteligências múltiplas de H. Gardner,


objetivando que você identifique a diversidade de formas pelas quais a inteligência se
manifesta e os vários tipos de inteligência múltipla para aplicar na prática escolar. Na
aula 2, o teórico Wallon e a sua teoria das emoções, para que você consiga
reconhecer a importância da afetividade à dinâmica escolar. E, por fim, na aula 3, o
desenvolvimento e aprendizagem do adolescente e do adulto, para que, assim, você
relacione as transições da adolescência para o mundo adulto e as exigências da
prática docente.

Objetivo
Ao final desta unidade, você deverá ser capaz de:

• Diferenciar, entre as teorias, a forma como cada teórico pensa


o desenvolvimento e a aprendizagem do adolescente e do
adulto.

Conteúdo Programático
Esta unidade está organizada de acordo com os seguintes temas:

• Tema 1 - A teoria das Inteligências múltiplas de H.


Gardner
• Tema 2 - Wallon e a teoria das emoções
• Tema 3 - Desenvolvimento e Aprendizagem do
adolescente e do adulto
Você sabia que alguns escritores escreveram sobre a adolescência e a sua
problemática?

Inglaterra

Shakespeare - “Romeu e Julieta” de Shakespeare fala


sobre um casal de adolescentes que vivenciam seu
primeiro amor. Esse amor é proibido, pois seus pais são
inimigos, o que deixa o amor deles mais forte ainda.

Foto: Wikipédia

Alemanha

Göethe - “Werther” de Göethe se mata por ter sido


recusado por seu amor. Uma existência repleta de busca
de si mesmo. Tão atual quanto Shakespeare, vocês não
acham?

Foto: Wikipédia

América do Sul

José de Alencar - “Senhora” de José de Alencar mostra a


revolta de uma adolescente que foi abandonada por seu
pretendente por ser pobre. Ao tornar-se rica ela se vinga,
demonstrando a inconstância e as ações movidas pelas
emoções, típicas da adolescência.

Foto: Wikipédia

Que tal embarcarmos juntos nesta jornada pela busca do entendimento sobre o
que significa ser adolescente? Vamos lá?
Tema 1
A teoria das Inteligências múltiplas de H. Gardner

Qual a contribuição da teoria das inteligências


múltiplas de H. Gardner para a educação?

Howard Gardner é professor de cognição e


educação na Harvard Graduate School of
Education. Ele também ocupa o cargo de
professor adjunto de psicologia na
Universidade de Harvard.

Gardner recebeu inúmeros prêmios pela sua


obra e foi eleito um dos intelectuais públicos
mais influentes do mundo em 2011.

Autor de vinte e nove livros traduzidos em trinta e duas línguas e uma


centena de artigos, Gardner é muito conhecido nos círculos
educacionais pela sua teoria das INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS.

Veja o site de Gardner.

Gardner apresenta uma visão pluralista da mente, uma visão multifacetada da


inteligência, que se afasta das visões unitárias de inteligência e dos testes de QI.

Baseado principalmente em duas fontes, uma referente ao desenvolvimento de


diferentes tipos de capacidades nas crianças normais e na informação de como essas
capacidades falham sob condições de dano cerebral, Gardner e seu grupo realizaram
uma análise e estudaram os resultados, organizando, inicialmente, os sete grupos de
inteligência.

Veja o artigo e o vídeo sobre Gardner em “Howard Gardner, o pai da Teoria


das Inteligências Múltiplas”.

O pesquisador enfatiza que o importante é deixar clara a pluralidade do intelecto e que


a lista pode ser reorganizada, como o fez, mais tarde, incluindo a inteligência
NATURAL E EXISTENCIAL.

• Natural: Sensibilidade com a natureza, para o entendimento da mesma e


desenvolvimento de habilidades biológicas. Personalidades famosas com esse
tipo de inteligência: Charles Darwin, Richard Dawkins;
• Existencial: Capacidade filosófica, refletir sobre a existência da vida.

Inteligência linguística

É a habilidade para usar a linguagem para convencer,


agradar, estimular ou transmitir ideias, como a
habilidade exibida pelos poetas.

Em crianças, esta habilidade se manifesta por meio da


capacidade para contar histórias originais ou para
relatar, com precisão, experiências vividas.

Assista ao documentário Línguas – Vidas em


português.

Inteligência lógico-matemática

Como o nome indica, é a capacidade lógica e


matemática. É a habilidade para lidar com séries de
raciocínios, para reconhecer problemas e resolvê-los. É
a inteligência de matemáticos e cientistas. Mas,
enquanto os matemáticos desejam criar um mundo
abstrato, os cientistas pretendem explicar a natureza.

A criança com especial aptidão nesta inteligência


demonstra facilidade para contar e fazer cálculos
matemáticos e para criar notações práticas de seu
raciocínio.

O filme Uma mente brilhante retrata bem esta


inteligência.
Inteligência espacial

Capacidade de formar uma representação mental de


um mundo espacial de forma precisa,
operacionalizando formas ou objetos mentalmente e, a
partir das percepções iniciais, criar tensão, equilíbrio e
composição, numa representação visual ou espacial. É
a inteligência dos marinheiros, dos engenheiros, dos
arquitetos, dos cirurgiões, escultores e pintores.

Em crianças pequenas, o potencial especial nessa


inteligência é percebido por meio da habilidade com
quebra-cabeças e outros jogos espaciais e pela
atenção a detalhes visuais.

Inteligência musical

Quarta categoria de capacidade identificada. Se


manifesta pela habilidade para apreciar, compor ou
reproduzir uma música ou peça musical. Inclui
habilidade para discriminar sons e perceber temas
musicais, sensibilidade para ritmos, texturas e timbre.
Mozart a possuía em alto grau.

A criança pequena com habilidade musical especial


percebe desde cedo diferentes sons no seu ambiente
e, frequentemente, canta para si mesma.

Veja o filme A vida de Mozart.

Inteligência corporal-cinestésica

Refere-se à habilidade para resolver problemas ou criar


produtos utilizando o corpo inteiro ou parte do corpo.
Apresentam essa inteligência altamente desenvolvida
os dançarinos, os atletas, os cirurgiões e os artistas.

A criança que apresenta inteligência cinestésica se


move com graça e expressão a partir de estímulos
musicais ou verbais e demonstra uma grande
habilidade atlética ou uma coordenação fina apurada.
Inteligência interpessoal

É a habilidade para entender outras pessoas.


Psicoterapeutas, professores, políticos e vendedores
bem-sucedidos possuem alto grau de inteligência
interpessoal.

Crianças dotadas com essa inteligência apresentam


uma habilidade para liderar outras crianças, uma vez
que são extremamente sensíveis às necessidades e
sentimentos de outros.

Inteligência intrapessoal

Sétimo tipo de inteligência, é o correlativo da


inteligência interpessoal, é voltada para dentro. É a
habilidade para ter acesso aos próprios sentimentos,
sonhos e ideias, para discriminá-los e lançar mão deles
na solução de problemas pessoais.

Estude mais sobre inteligências múltiplas em ‘Howard Gardner, o cientista


das inteligências múltiplas’.

Vídeo

Para saber mais sobre esta teoria, assista ao vídeo Teorias das
Inteligências Múltiplas, publicado na unidade da disciplina no
Ambiente Virtual de Aprendizagem.

Os estágios de desenvolvimento das inteligências, segundo GARDNER:

• Habilidade de padrão cru: É chamada “Inteligência pura”, predominante no


primeiro ano de vida, onde os bebês recebem diversas informações, mas,
ainda não são capazes de manifestá-las;

• Estágio de sistemas simbólicos: A inteligência começa a se relevar através


de símbolos, ocorre aproximadamente dos 2 aos 5 anos de idade. A criança
passa a manifestar as informações através de desenhos, danças, gestos,
canções;
• Sistemas notacionais (ou de segunda ordem): O desenvolvimento progride
em conjunto com o sistema simbólico e então a inteligência é representada
num sistema notacional, ou seja, através de leitura, desenhos de mapas e
plantas, notação musical, sistemas basicamente dominados no ambiente
formal de educação;

• Realização em campo específico: A partir da adolescência e fase adulta as


atividades são variadas e as inteligências são expressas através das quais há
tempo dedicados, tanto como passatempo ou atividade profissional.

Gardner diz que nunca pensou para sua teoria


um conjunto de procedimentos que todos
devessem seguir, mas que aconteceu algo
interessante e que já está sendo reunido em um
livro. Educadores em todo o mundo estão
adotando as múltiplas inteligências. Para ele, no
entanto, há duas implicações importantes da
Teoria das Inteligências Múltiplas na prática
escolar.

Veja o vídeo “O que meu filho deve aprender?”.

A primeira diz respeito à individualização do ensino. Hoje podemos ensinar a


mesma coisa de várias maneiras, e isso é possível graças aos computadores. As
pessoas aprendem de diferentes maneiras e isso precisa ser respeitado.

Por outro lado, tudo o que é importante deve ser ensinado de várias formas. Quando
ensinamos algum conteúdo de várias formas, duas coisas acontecem: você alcança
um maior número de pessoas e, dessa forma, mostra o que é realmente saber algo.
Quando sabemos algo, podemos pensá-lo de várias formas.

Veja o vídeo ‘Para cada pessoa, um tipo de educação’.

Mas a grande contribuição de Gardner foi ter tirado o foco das inteligências canônicas
(linguística e lógico-matemática) e ter mostrado que a inteligência se expressa de
várias formas.

Sua teoria contribuiu para que as escolas começassem a valorizar mais as


outras expressões da inteligência. Embora ainda haja muito a se avançar, já
é possível vermos escolas apresentando uma grade curricular mais
abrangente, incluindo em seus currículos atividades não acadêmicas.
Ampliando o Foco

Para aprofundar seus conhecimentos sobre a teoria das inteligências


múltiplas, leia as páginas 59 - 74 do livro da disciplina Mendes, Leila de
Carvalho. Psicologia da aprendizagem. 4. ed. Rio de Janeiro: UVA, 2016.
Tema 2
Wallon e a teoria das emoções

Quais as contribuições da teoria das emoções para a


prática educativa?
Segundo Henri Paul Hyacinthe Wallon (1879- 1962), as emoções são a primeira
manifestação de necessidade afetiva do bebê e o elo dele com o meio, tanto biológico
como social.

O ser humano, na perspectiva walloniana, é um


ser que se desenvolve em uma realidade
dialética.

Wallon observa atentamente as relações estabelecidas entre a criança e os meios –


seus contextos de desenvolvimento (espaço físico, família, ambiente familiar,
linguagem, cultura), assinalando o que ele denominou de campos funcionais, ou
seja, os domínios funcionais que atuam tanto na relação com as realidades presentes,
quanto com as realidades imaginadas. São eles: o da afetividade, do ato motor,
do conhecimento e o da formação do eu como pessoa.

O que será que Wallon está querendo nos dizer com isto?

Para refletir

Procure, agora, destacar alguns meios que você considera importante para
o processo de desenvolvimento humano.

Por exemplo:

• família – pais, irmãos, tios etc.


• casa, comunidade, bairro onde mora;
• vizinhos, amigos;
• religião;
• mídias;
• escola.

A nossa lista pode-se apresentar diferenciada, afinal, estamos trabalhando


com uma realidade dinâmica e culturalmente diversificada.
A realidade, a vida concreta, apresenta uma complexidade que não pode ser
compreendida em uma perspectiva determinista e linear. Wallon considera a dinâmica
da realidade em uma visão dialética, ou seja, os obstáculos e as possibilidades são
entendidos como propulsores do desenvolvimento. Daí, cada indivíduo apresentar um
ritmo e um processo particulares que se estabelecem através das interações da
criança com o meio. O meio a que estamos nos referindo é plural e multifacetado.

Wallon pesquisou a gênese do psiquismo humano e utilizou como metodologia a


observação do comportamento infantil e suas várias formas de expressão. Para ele, o
gesto involuntário observado no bebê tem uma importância fundamental na
elaboração da atividade mental da criança.

Vamos pensar em um bebê,


em seu berço, movimentando
os seus braços. Sua mãe
atenta percebe os movimentos
e considera que a criança está
solicitando o seu colo. Acolhido
afetuosamente, o bebê inicia a
descoberta dos efeitos dos
seus gestos ou atos no outro e,
gradativamente, irá
descobrindo outros gestos,
aprendendo e percebendo o
movimento e limites do seu
corpo, e os modificando de
acordo com a resposta
encontrada.

Estamos, portanto, nos referindo a um dos campos funcionais, o ato motor, que se
enuncia através de outro campo funcional, a emoção. Esta, por sua vez, é percebida
como a expressão da afetividade. Na teoria walloniana, as emoções ocupam um lugar
privilegiado, são responsáveis pela junção do orgânico com o social, propiciando,
portanto, a gênese da consciência humana.

A presença da mãe ou de seu substituto (a) permite que, em um processo lento,


instável, através desta junção entre um fator de ordem biológica e um fator de ordem
social, o bebê organize as suas formas de manifestação que irão, mais tarde,
consolidar aprendizagens que lhe permitirão o controle das reações espontâneas
substituídas por comportamentos voluntários.

Assim, o choro irá aparecer nas situações afetivas mais variadas: medo, alívio,
sofrimento, gozo, alegria e outras, permitindo ao bebê a satisfação das suas
necessidades.

Para saber mais, leia o artigo Contribuições de Henri Wallon à relação


cognição e afetividade na educação.
Como você pode observar, o desenvolvimento apresenta uma perspectiva
multidimensional em que se destaca o papel do organismo e do meio no qual o
indivíduo está inserido como elementos propulsores da sua elaboração psíquica.

Se você já conseguiu entender o papel das emoções e do ato motor, podemos, agora,
nos referir a outro campo funcional – o do conhecimento.

Voltemos a uma informação dada em um


parágrafo anterior: “a presença da mãe
traduzindo um gesto, permite ao bebê organizar
as suas formas de manifestação que serão, mais
tarde, substituídas por comportamentos
voluntários”.

Ao gesto do bebê, corresponde um gesto da mãe imerso em uma cultura que constrói
as regras de convivência e, neste caso específico, um saber: o cuidar do bebê. Este
gesto se expressa por um olhar, um ato e uma palavra. Paulatinamente, “o nosso
bebê” será introduzido em um mundo simbólico que utiliza uma
determinada linguagem – instrumento indispensável para a estruturação do seu
pensamento.

Vejamos agora o quarto e último campo funcional proposto por Wallon, a formação do
eu como pessoa. Para isso, voltemos ao nosso bebê.

Este, ao nascer, não se percebe enquanto ser diferenciado, não tem consciência dos
limites do seu próprio corpo. Será através de um processo progressivo de interação
com o meio, neste primeiro momento representado pela figura de sua mãe e/ou
substituto (a), que a diferenciação, ou seja, a individuação ocorre. O bebê, através das
suas sensações e da relação com sua mãe, vai delineando e conhecendo o seu
próprio corpo e os objetos do seu meio social. A atividade exploratória guiada pelas
sensações, pelo corpo e pelas emoções, e que ganham significado através da
interação com o outro, vão permitindo ao bebê um conhecimento sobre si mesmo e o
mundo à sua volta. Assim, em um processo dinâmico, diferenciado e que envolve
retrocessos e reviravoltas, ele irá construir em um primeiro momento, a sua
consciência corporal, ou seja, o seu eu corporal vai se estabelecendo. Portanto, a
diferenciação entre o espaço subjetivo e o objetivo, em outras palavras, o que é o meu
corpo e o que não é o meu corpo, a qual se seguirá, nas etapas seguintes do seu
desenvolvimento, e na interação com o seu meio social e cultural a construção do eu
psíquico, complementando a construção da consciência de si.
Para Wallon, a cognição tem como base quatro categorias, às quais dá o nome de
campos funcionais, sendo:

• Movimento - Sendo este o primeiro a se desenvolver, tendo como objetivo


alcançar metas (andar, pegar), e a partir daí inicia-se os outros;
• Afetividade - Sendo uma forma de interação com o meio em que vive, abrange
os sentimentos (ordem psicológica) e as emoções (ordem biológica). A
afetividade ocupa um ponto central para a construção da pessoa, como a
construção do conhecimento, sendo a afetividade o mediador que envolve a
relação interpessoal;
• A inteligência - Para Wallon a inteligência está relacionada com duas
atividades cognitivas: o raciocínio simbólico e a linguagem, para ele o ser
biológico se torna em um ser social;
• Pessoa - É o campo funcional que coordena os demais; sendo responsável
pelo desenvolvimento da identidade do eu. Todavia, as relações entre estes
três campos funcionais não são harmônicas, ocasionando conflitos constante.

Estágios de desenvolvimento, segundo Henri Wallon

1. Impulso Emocional:

o Ocorre no primeiro ano de vida (0 -1);


o Expressões e reações diferenciadas, apresentando bem-estar e
mal-estar;
o Se deixa levar por aspectos afetivos;
o As emoções são os primeiros recursos, usados para a interação;
o As emoções norteiam as relações humanas.

2. Sensório Motor e projetivo;

o Inicia-se de um aos três anos de idade;


o Ocorre o surgimento das funções simbólicas e da linguagem;
o É capaz de explorar e investigar o ambiente;
o A linguagem estrutura o pensamento.
o Procura confrontos e se diferencia do adulto.

3. Personalismo:

o Ocorre dos três aos seis anos de idade;


o Fortalecimento do Eu, e a afirmação da personalidade;
o Se opõe ao adulto e procura a afirmação de si;
o Sedução, a criança tem necessidade de aceitação para se
aceitar também;
o Inteligência, se apoia na atividade motora.
4. Categorial:

o Ocorre entre os seis e os onze anos de idade;


o Têm como marca a diferenciação do eu e do outro;
o A habilidade da criança direciona para os interesses do mundo;
o Melhora sua concentração e a capacidade de assimilar novos
conceitos;
o Inteligência, se apoia na atividade motora.

5. Adolescência:

o Ocorre novas definições do contorno da personalidade, devido


às modificações hormonais;
o Procura confrontos e se diferencia do adulto.

Vídeo

• Henri Wallon

Desta forma, Wallon entende que observando a criança, analisando suas atividades,
que funcionam como molas propulsoras do desenvolvimento, poderemos compreender
a sua evolução mental. Verifica-se, portanto, que o processo de desenvolvimento
humano é determinado pelas condições biológicas e sociais. Variáveis
complementares que envolvem o homem na sua permanente busca por mudança e
transformação. Veja a seguir.

Fatores orgânicos Fatores sociais

Responsáveis pela sequência do Têm um papel preponderante na


movimento. Com suas características aquisição dos processos mentais
determinantes, têm os seus efeitos superiores responsáveis pela
controlados através do meio social e apropriação da linguagem e do
pelo próprio indivíduo. pensamento.
Wallon, além de verificar a influência do social no
desenvolvimento e aprendizagem humana,
considera a escola um lugar privilegiado para
orientação e acompanhamento da criança em
seu processo de desenvolvimento. Severo crítico
dos métodos tradicionais da escola, afirmava que
a educação não pode desconsiderar as
condições de desenvolvimento no planejamento
das suas ações e na compreensão das
necessidades e interesses apresentados pela
criança.

Para Wallon, o desenvolvimento humano se apresenta em etapas diferenciadas que


compreendem um conjunto de necessidades e interesses que se modificam ao longo
do processo e permitem à criança, em um determinado contexto de
desenvolvimento, utilizar os recursos de que dispõe imprimindo a esta relação um
caráter particular e único, que apresenta um ritmo e uma dinâmica própria.

Desta forma, outro aspecto a ser considerado refere-se ao ritmo do


desenvolvimento. Wallon irá afirmar que as etapas do desenvolvimento se
apresentam “descontínuas, marcadas por rupturas, retrocessos e reviravoltas.”
(GALVÃO, 2000).

A passagem de um estágio de desenvolvimento para o seguinte é marcado por


uma crise ou um conflito que irá propiciar a mudança e/ou a transformação de um
campo de atividade funcional para o outro. Os conflitos tanto atuam no nível orgânico
como no psíquico, mas não, necessariamente, anulando a etapa anterior.
Procure se lembrar de situações vividas por você que, de alguma maneira,
promoveram uma crise ou um conflito e de como conseguiu resolvê-las. Os conflitos,
para Wallon, funcionam como elementos dinamogênicos.

Dinamogenia

Segundo o Dicionário Aulete Digital, dinamogenia é um termo da fisiologia e


se refere à exaltação funcional de um órgão sob a influência de uma
excitação.

Cada etapa do desenvolvimento apresenta as seguintes características:

• descontinuidade;
• rupturas;
• retrocessos;
• reviravoltas.
E são marcadas por uma crise ou um conflito, que funciona como um fator propulsor
do desenvolvimento, ou seja, um elemento dinamogênico. Este, por sua vez, pode
ter origem:

Exógena Endógena

Ocorre por uma inadaptação ou


estranhamento da ação da criança Ocorre por um desconforto ou
na relação com o mundo externo desequilíbrio da maturação
provocado pelo adulto e/ou pela nervosa. Exemplos: uma doença,
cultura. Exemplos: mudança de síndromes genéticas, transtornos
escola, chegada de um novo irmão, metabólicos etc.
separação dos pais etc.

A integração desses fatores, tanto de origem endógena quanto exógena, requer um


período e um ritmo particulares que irão propiciar uma nova estabilidade.

Para Wallon, uma das atividades da criança que permite a elaboração deste momento
de crise ocorre através do brincar. O ato de brincar permite à criança exercitar as
possibilidades das funções adquiridas sem o controle do meio externo. Assim, como
pontua Wallon, a criança, brincando, explora todas as possibilidades da função
presente, chegando ao seu limite e, exercendo o seu domínio, integra-a a uma forma
superior de atividade, promovendo uma progressão funcional. Ou seja, brincar permite
à criança uma maior elaboração do conflito, permitindo, aos poucos, a sua integração
à etapa do desenvolvimento em que ela se encontra.

Esta elaboração do conflito através do brincar envolve outra variável apontada por
Wallon, que se refere à possibilidade de comunicação com o mundo através da
expressão de uma linguagem corporal que utiliza a motricidade e a expressão
emocional.

Saiba mais

Sugerimos a leitura do artigo, Henri Wallon na Intervenção Pedagógica


em crianças com múltiplas deficiências. in: Revista SOBAMA. V. 6, n. 1,
dez, 2001.

Os autores destacam as contribuições da teoria walloniana na intervenção


pedagógica com alunos que apresentam necessidades especiais (DM/DV)
privilegiando os aspectos do desenvolvimento social, emocional e
psicomotor.
O ser humano, entendido em seu desenvolvimento global, na sua relação com o
mundo, depara-se com um corpo que deseja e com um meio que estabelece limites e
possibilidades. Esta relação envolve interesse, curiosidade, mobilidade, sentimentos, e
permite que, nesta interação, criança/meio, ela possa ir adquirindo uma consciência de
si, do seu corpo e das suas emoções.

A escola, nesta perspectiva, desempenha um papel fundamental, dizem Boato e


Oliveira (2013): “O saber escolar não pode dissociar-se do meio físico e social onde a
atividade infantil encontra alternativas de realização e sim nutrir-se das possibilidades
que ele oferece.”

Dessa forma, é importante para o professor entender:

• A dinâmica e plasticidade do desenvolvimento humano.


• O papel das crises e dos conflitos como elementos dinamogênicos.
• O lugar ocupado pela escola na construção de estratégias que permitam à
criança conhecer seus limites e suas possibilidades.
• A expressão motora e emocional da criança como elementos essenciais na
resolução dos seus conflitos e consciência de si.

Você já aprendeu que o desenvolvimento humano apresenta, como característica, os


campos funcionais, lembra? Pois bem, nos estágios do desenvolvimento, os campos
afetivos e cognitivos apresentam uma alternância funcional, ou seja, cada etapa do
desenvolvimento se caracteriza por atividades onde uma determinada função se
destaca.

Assim, as etapas do desenvolvimento apresentam, segundo Wallon, “um movimento


pendular”, ou seja, ora se apresenta a função afetiva, que imprime uma marca
centrípeta (movimento circular de fora para dentro) e permite uma elaboração íntima,
particular, ora se apresenta a função cognitiva que imprime uma marca
centrífuga (movimento circular de dentro para fora), direcionado para a elaboração de
relações com o mundo externo.

Os estágios do desenvolvimento apresentam como características:

Os estágios do desenvolvimento formulados por Wallon apresentam, a cada etapa,


uma evolução mental qualitativa caracterizada por um tipo diferenciado de
comportamento, uma atividade predominante que se direciona, ora para a construção
do próprio sujeito, ora para a construção da realidade exterior.
Vídeo

• Estágios do desenvolvimento Wallon.

As contribuições wallonianas podem orientar o professor no planejamento das suas


estratégias de ensino. O conhecimento dos estágios de desenvolvimento favorece a
identificação dos comportamentos apresentados pelos alunos, que devem, portanto,
abarcar as atividades propostas pelo professor. Assim, em função do estágio, pode-se
pensar em atividades que promovam a livre expressão corporal; a exploração dos
espaços e objetos; desenvolvimento de pesquisas e projetos, não esquecendo a
importância da relação professor-aluno que devem ser orientadas pelo afeto, respeito,
ritmo e interesse do aluno.

Utilizando as contribuições de Sayeg (2013) e Galvão (2000), com relação às práticas


educativas, destacam-se:

• planejar atividades que permitam ao aluno desenvolver a capacidade de


observação, a livre expressão e posicionamento diante dos conteúdos
trabalhados;
• explicitar a natureza e a significação das atividades escolares;
• propor atividades diversificadas;
• selecionar conteúdos que favoreçam o desenvolvimento das funções motoras,
afetivas e cognitivas;
• utilizar recursos pedagógicos que estimulem o aluno à aprendizagem dos
conteúdos de ensino.

Por fim, como assinala Galvão (2000), a educação não se refere, apenas, a uma
discussão sobre métodos pedagógicos. Ela enseja uma reflexão política sobre o papel
da escola na sociedade. A crítica walloniana à seletividade do sistema educacional
francês permanece atualíssima, não só no seu país de origem, como também na
realidade educacional brasileira.

Desta maneira, cabe a você, professor, contribuir com a sua atuação competente e
compromissada para a mudança dessa realidade. Como propõe Wallon, procure
observar, analisar e se posicionar diante dos conteúdos que vem assimilando.

Vídeo

• Wallon e o desenvolvimento.
Ampliando o Foco

Para aprofundar seus conhecimentos sobre Wallon e a teoria das


emoções, leia as páginas 101 - 134 do livro da disciplina Santos, Penélope
Duarte dos. Nassar, Sergio Pessôa. Psicologia do desenvolvimento. Rio
de Janeiro: UVA, 2013.
Tema 3
Desenvolvimento e Aprendizagem do
adolescente e do adulto

Quais são os aspectos presentes no processo de


transição da adolescência para a idade adulta para
pensarmos as práticas docentes?
A adolescência é uma etapa de oportunidades e riscos. Para Erikson (1968), na
adolescência a crise psicossocial enfrentada é a da identidade versus confusão de
papéis. Não é mais uma criança dependente, mas ainda não é um adulto
independente. Os adolescentes estão no limiar do amor, da vida profissional e da
participação na sociedade adulta. Uma necessidade dessa etapa é a busca da própria
identidade.

Para formar sua identidade, os adolescentes precisam afirmar e organizar suas


habilidades, suas necessidades, seus interesses e seus desejos de modo a definir os
papéis que irão desempenhar na sociedade (ERIKSON, 1968).

Saiba Mais

ERIKSON, E. H. Identity: Youth and Crisis. New York: Norton, 1968.

É tempo de fazer escolhas, muitas delas duradouras, como a profissão e ter filhos. E o
que percebemos é que, muitas vezes, os jovens assumem um trabalho ou a
maternidade/paternidade sem que essas escolhas sejam conscientes de fato.

Adolescência é o período de transição entre a infância e a vida adulta, caracterizado


pelos impulsos do desenvolvimento físico, mental, emocional, sexual e social. É um
processo com características próprias e dinâmicas.

Para saber mais sobre o quanto pode ser difícil lidar com o adolescente,
leia A adolescência e a responsabilidade social.

No Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei 8.069, de 1990, define a


adolescência como a faixa etária de 12 a 18 anos de idade (artigo 2°), e, em casos
excepcionais e quando disposto na lei, o estatuto é aplicável até os 21 anos de idade
(artigos 121 e 142). O adolescente pode ter o voto opcional como eleitor e cidadão a
partir dos 16 anos.
Durante a adolescência há tarefas
a cumprir e metas a conquistar que
são estabelecidas pela cultura e
pelo grupo social. Além disso o
adolescente se depara com as
transformações corporais que dão
lugar a novas formas e sensações
deixando para trás o corpo familiar
da infância.

Intimamente ligada às modificações do corpo, emerge uma sexualidade descoberta e


ativa, afastando o jovem do corpo protetor e seguro dos pais para ele próprio se tornar
potencial gerador de vida.

Para efeitos didáticos, divide-se a adolescência em três fases:

Sugerimos a leitura do artigo “Subvertendo o conceito de adolescência”,


que analisa o conceito de adolescência, situando-o como uma construção
histórica, a partir da sociedade contemporânea.

A gravidez precoce é uma das ocorrências


mais preocupantes relacionadas à
sexualidade da adolescência, com sérias
consequências para a vida dos adolescentes
envolvidos, de seus filhos que nascerão e de
suas famílias.

Quando a atividade sexual tem como resultante a gravidez, gera consequências


tardias e, em longo prazo, tanto para a adolescente quanto para o recém-nascido.
A adolescente poderá apresentar problemas de crescimento e desenvolvimento,
emocionais e comportamentais, educacionais e de aprendizado, além de
complicações da gravidez e problemas de parto.

As adolescentes que iniciam vida sexual precocemente ou engravidam nesse período,


geralmente, vêm de famílias cujas mães também iniciaram vida sexual precoce ou
engravidaram durante a adolescência.

Para saber mais sobre as dificuldades enfrentadas pelas jovens durante e


depois da gravidez, assista, agora, ao vídeo Gravidez na adolescência.
Adolescência e gravidez, quando ocorrem juntas,
acarretam consequências para todos os familiares,
principalmente para os adolescentes envolvidos.
Esses jovens não estão preparados emocionalmente
e nem mesmo financeiramente para assumir tamanha
responsabilidade. Muitos deles saem de casa,
cometem abortos, deixam os estudos ou abandonam
as crianças sem saber o que fazer ou fugindo da
própria realidade. Para muitos destes jovens, não há
perspectiva de futuro.

Somado a isso, a falta de orientação sexual e de informações, a mídia, e os


comportamentos de risco aumentam e contribuem para uma maior incidência de
gestação juvenil.

As mudanças comportamentais influenciadas pela mídia encaminham o adolescente


para um mundo “dourado” onde a felicidade está ao alcance da marca da roupa que
você comprou, do lugar que você frequentou e dos comportamentos que você assumiu
e/ou experimentou.

Outra questão, igualmente crítica, relaciona-se ao uso de drogas.

Não é um fenômeno único e isolado o fato do grande aumento do uso de drogas entre
os adolescentes. Hoje em dia, eles estão mais sujeitos ao contato com as drogas.
Ambiente, a necessidade de pertencimento a um determinado grupo, a busca pela
identidade, tudo favorece o contato e as primeiras experiências. A isso, acrescenta-se
a necessidade de buscar/viver novas sensações, práticas educacionais inconsistentes,
conflitos familiares, fracasso escolar, baixa auto estima, iniciação prematura e histórico
familiar de uso abusivo de drogas, que criam condições favoráveis para que os
adolescentes se sintam livres para aventuras deste tipo, sem pensar muito nas
consequências.

A dependência pode ser tratada desde que o adolescente tome consciência de sua
situação, deixe de justificar seu comportamento, se preocupe com o seu bem-estar e
comece a agir positivamente.
A recuperação é uma tarefa difícil e o tratamento médico é apenas uma parte desta
recuperação. A participação dos pais e a união da família são os maiores fatores de
combate, assim como a degradação da família é uma das causas do aumento do
número de usuários.

Para saber mais sobre o que são as drogas, seus efeitos, sua utilização e,
principalmente, os motivos que levam o adolescente a procurá-las,
leia Relações entre o uso de drogas na adolescência e família.

A adolescência é um período de transformações físicas e mentais que podem gerar


maior ou menor sofrimento psíquico, de acordo com o contexto e com a história de
desenvolvimento do jovem.

À procura de sua identidade, o adolescente se torna uma presa de fácil manipulação.


A mídia, por exemplo, estimula o uso do álcool e do tabaco, apresentando-os como
sinônimos de status e sucesso. Mas o incentivo às drogas pode ocorrer dentro da
própria família, seja pelo uso compulsivo de medicamentos pelos pais, seja pela
cultura alcoólatra ou tabagista pregada dentro do próprio lar.

E a violência?

Atualmente, a violência está de tal forma disseminada, que se tornou quase impossível
precisar suas causas e propor medidas eficazes para sua extinção. A revista “Science”
aponta algumas das causas sociais da violência mais relevantes:

A violência vem se tornando um dos problemas


que mais angustia a nossa sociedade. Quanto
aos adolescentes, envolvendo-se com a
violência, tanto quanto as vítimas, como os
agressores, também, acabam sofrendo alguma
forma de exclusão. Quando vitimados, ocorre a
exclusão da própria vida. Quando agressor, o
adolescente é excluído da possibilidade de viver
em exercício a cidadania, por meio da qual pode
se reconhecer e ser reconhecido como sujeito de
direitos e deveres.
A maioria dos jovens infratores testemunhou e/ou foi vítima de violência doméstica.
Essa experiência pode afetar sua forma de interpretar a realidade, encarando como
provocação pessoal situações banais, tendendo a limitar o seu repertório de reações a
comportamentos violentos.

Sugerimos a leitura do artigo “Notas sobre a produção acadêmica


brasileira: Usos de drogas na adolescência ”.

O estresse e a solidão predispõem os


adolescentes a comportamentos agressivos
nas escolas. Esse estresse é consequência
de se viver em um lar destruído ou de
pertencer a uma família em que, de fato, não
existe vida familiar.

Muitos pais proporcionam aos filhos tudo aquilo que eles lhes pedem no campo
material, mas não lhes dão tempo, critérios morais, apoio emocional ou bons
exemplos. Os adolescentes, para construírem a personalidade, têm necessidade de
modelos com os quais se identifiquem, mas nem sempre os encontram na família.

Outra frustração que pode estar na escola é a de


que os adolescentes receberam em casa uma
educação permissiva, sem nenhum tipo de
exigência.

Uma saída seria conscientizar a população adulta a ocupar, com mais propriedade,
este lugar de modelo com o qual o adolescente deveria se identificar. Toda sociedade
é responsável pela tarefa de reagir contra o avanço da violência e do descaso com os
direitos humanos.

Não podemos nos esquecer que o Estatuto da Criança e do Adolescente considera,


desde 1990, a criança e o adolescente como cidadãos, com direitos.

Para saber mais sobre a violência na adolescência, desigualdade social,


violência na TV, dificuldade nos laços familiares etc., assista agora, ao
vídeo Violência na Adolescência.

Sugerimos a leitura do artigo “Uso de drogas e violência na adolescência”.


A transição para a vida adulta também é
conturbada, pois ela implica a tomada de
decisões muito importantes para o resto
de nossas vidas. Porém, todas elas estão
relacionadas a uma única fonte:
formação escolar. É ela que poderá
determinar, de alguma forma, a saída da
casa dos pais, a escolha da profissão, a
escolha do parceiro, a construção de
uma família, a manutenção da saúde
física e mental.

Para saber mais sobre essa fase de transição para vida adulta, assista,
agora, ao vídeo Vida adulta, casamento + família (quem eu sou).

É comum, nos estudos que tratam da juventude,


a defesa da ideia de que os jovens se acham tão
segmentados quanto à sociedade como um todo.
A questão é colocada mais ou menos nos
seguintes termos: é tal a heterogeneidade das
situações que vivenciam os jovens no Brasil de
hoje, que é difícil pensá-los como uma categoria
única.

Se a escola não for sensível ao que definitivamente significa ser jovem hoje, será uma
escola incapaz de manter os jovens no sistema. Se ela considerar o jovem trabalhador
um adulto, gerando tal expectativa de comportamento em relação a ele, certamente
terá com este jovem uma relação tensa. Os jovens pobres e ricos desejam uma escola
onde consigam aprender, mas que também seja um espaço agradável, onde possam
encontrar amigos, ouvir música.

É preciso, cada vez mais, que a equipe escolar procure conhecer sua clientela,
construindo um ambiente adequado às suas características e aos seus interesses.
Importante

Pesquisas realizadas, em áreas violentas, favelas e regiões periféricas do


Rio de Janeiro, mostram que o que os jovens querem é uma escola limpa,
que ensine, cuja biblioteca funcione, que existam referências, como
uniforme, horário, hino escolar, times de futebol, enfim uma escola que os
permita desfrutar deste curto período de juventude.

Os anseios de manifestar na escola a sua marca de viver a juventude não podem ser
ignorados, nem vistos como obstáculo aos estudos. Investir em atividades artísticas,
culturais e esportivas, com a contribuição de diferentes áreas do conhecimento é uma
forma criativa de combinar a aprendizagem e o prazer. É essencial, ainda, que a
escola possua uma identidade e que os jovens possam sentir orgulho de fazer parte
dela. Eles têm necessidade de símbolos que os inspirem. Em uma escola que tem
cara própria, esses símbolos estão e devem estar em toda a parte, na camiseta com o
logotipo próprio, no hino, nos “gritos de guerra” entoados em competições esportivas.
Esse sentimento aumenta quando a escola os convida a participar da resolução de
problemas, através do grêmio, ou os envolve em projetos interdisciplinares, como
aqueles voltados para a difusão de mensagens de proteção à saúde, em que os
estudantes colocam os conhecimentos aprendidos a serviço da comunidade.

Lidar com adolescentes não é tarefa fácil, sobretudo quando estão próximos das
fronteiras da transgressão e da violência. Entretanto, considerá-los como
essencialmente diferentes pode parecer que se está trabalhando em seu favor, mas,
na questão escolar, pode-se estar mesmo é levando-os para a transgressão. Uma das
condições essenciais para que a escola, principalmente a pública, seja menos
preconceituosa e mais tolerante com os jovens é que os professores recebam apoio e
tenham acesso a informações básicas sobre a juventude e adolescência, de
preferência junto com os pais destes alunos, o que contribuirá para que se aproximem
de seus alunos e aprendam com o desafio que esses seres em constante mutação
representam.

Sugerimos a leitura do artigo “Transição para a vida adulta. Das condições


sociais às implicações psicológicas”.

Ampliando o Foco

Para aprofundar seus conhecimentos sobre o desenvolvimento e


aprendizagem do adolescente e do adulto, leia as páginas 131 - 162 do
livro da disciplina Santos, Penélope Duarte dos. Nassar, Sergio Pessôa.
Psicologia do desenvolvimento. Rio de Janeiro: UVA, 2013.
Encerramento

Qual a contribuição da teoria das inteligências


múltiplas de H. Gardner para a educação?
A grande contribuição de Gardner foi ter tirado o foco das inteligências canônicas
(linguística e lógico-matemática) e ter mostrado que a inteligência se expressa de
várias formas.

Sua teoria contribuiu para que as escolas começassem a valorizar mais as outras
expressões da inteligência. Embora ainda haja muito a se avançar, já é possível
vermos escolas apresentando uma grade curricular mais abrangente, incluindo em
seus currículos atividades não acadêmicas.

Quais as contribuições da teoria das emoções para a


prática educativa?
As contribuições wallonianas podem orientar o professor no planejamento das suas
estratégias de ensino. O conhecimento dos estágios de desenvolvimento favorece a
identificação dos comportamentos apresentados pelos alunos, que devem, portanto,
abarcar as atividades propostas pelo professor. Assim, em função do estágio, pode-se
pensar em atividades que promovam a livre expressão corporal; a exploração dos
espaços e objetos; desenvolvimento de pesquisas e projetos, não esquecendo a
importância da relação professor-aluno que devem ser orientadas pelo afeto, respeito,
ritmo e interesse do aluno.

Quais são os aspectos presentes no processo de


transição da adolescência para a idade adulta para
pensarmos as práticas docentes?
A transição para a vida adulta é conturbada, pois ela implica a tomada de decisões
muito importantes para o resto de nossas vidas. Porém, todas elas estão relacionadas
a uma única fonte: formação escolar. É ela que poderá determinar, de alguma forma, a
saída da casa dos pais, a escolha da profissão, a escolha do parceiro, a construção de
uma família, a manutenção da saúde física e mental. Se a escola não for sensível ao
que definitivamente significa ser jovem hoje, será uma escola incapaz de manter os
jovens no sistema. Se ela considerar o jovem trabalhador um adulto, gerando tal
expectativa de comportamento em relação a ele, certamente terá com este jovem uma
relação tensa. Os jovens pobres e ricos desejam uma escola onde consigam aprender,
mas que também seja um espaço agradável, onde possam encontrar amigos, ouvir
música. É preciso, cada vez mais, que a equipe escolar procure conhecer sua
clientela, construindo um ambiente adequado às suas características e aos seus
interesses.
Resumo da Unidade

Nesta unidade, estudamos a Teoria das Inteligências Múltiplas, que mostra que a
inteligência se expressa de diferentes formas, e não apenas naquelas valorizadas
pela cultura acadêmica, como a inteligência linguística e lógico-matemática. Essa
teoria trouxe para a prática escolar importantes contribuições na medida em que
focou seus estudos em aspectos pouco valorizados pela cultura acadêmica.

Já segundo a Teoria de Henri Wallon para a Psicologia do Desenvolvimento, para


entendermos as atitudes das crianças, devemos entender o meio onde ela está
inserida. A escola ocupa um lugar fundamental no processo de desenvolvimento
humano, na medida em que se apresenta como um contexto favorável de
desenvolvimento e que compreende as etapas de desenvolvimento humano como
um processo dinâmico, particular e multifacetado.

Para fecharmos os nossos estudos abordamos o tema “adolescência”. Sabemos


agora que para termos uma identidade é preciso que passemos por várias etapas:
desde a despedida da infância, descoberta das mudanças do corpo e da
personalidade até a escolha do caminho para a vida adulta, tudo isso ao mesmo
tempo. Para alguns de nós, essas mudanças são traumáticas e acabamos nos
refugiando nas drogas. Já algumas adolescentes engravidam, na tentativa de
chegarem à vida adulta mais rápido. Há, também, aqueles que sofrem violências e
aqueles que a praticam. Trata-se de um período de muitas turbulências, muitas
transformações e, também, de muitas desilusões.

Uma das condições essenciais para que a escola seja menos preconceituosa e
mais tolerante com os jovens é que os professores recebam apoio e tenham
acesso a informações básicas sobre a juventude e adolescência, se aproximando
dos alunos e aprendendo com o desafio que eles representam. Lidar com
adolescentes não é tarefa fácil. Se a escola não for sensível ao que definitivamente
significa ser jovem hoje, será uma escola incapaz de manter os jovens no sistema.

Para aprofundar e aprimorar os seus conhecimentos sobre os assuntos


abordados nessa unidade, não deixe de consultar as referências
bibliográficas básicas e complementares disponíveis no plano de
ensino publicado na página inicial da disciplina.

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