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Realização

Apoio Educativo
João Paulo Andrade
cozinha e patrimônio na cidade
Jéssica Cruz Daniel Toledo
Educadores (BH) Coordenação Editorial
Oliveira Lima S.I. Advocacia Caio Rodrigues
Assessoria Jurídica Artur Souza
Assistência de Design
Francescole Oliveira
Assistente Financeiro Marcio Gabrich
Pompea Tavares Design
Marina Brasil João Delgado
João Paulo Andrade Estágio Administrativo Gabriel Figueiredo
Caio Rodrigues Coordenação de Design
deste material Welma Cardoso Soares (DF)
Participaram no desenvolvimento Pablo Amorim da Silva (RJ) Guilherme Augusto
Jéssica Lopes Tavares (SP) Estágio de Comunicação
— Auxiliar Administrativo
Sarah Matos

DE VER:
Wendel Francis Eduardo Pereira Coordenação de Comunicação
Marina Brasil Gustavo Carvalho
Maicon Corleone Assistente Administrativo Yana Tamayo (DF)
Lucas Jesus Pablo Lafuente (RJ)
Lorena Araújo Alexandra Duarte Mateus Mesquita (BH)
Laís Flor Produção Executiva Marcio Harum (SP)
Kerson Lucio Coordenadores
Kawany Tamoyos Marianne Giuliano (RJ)
Izabella Coelho Ualace Miliorini (BH) Júlia Mesquita
Isabel Falabella Cauê Donato (SP) Coordenação de Gestão
Hélio Alves Camila Pires (DF)
Dyego Henrique Machado Produção Valquíria Prates
Camila Santos Acesso e Participação
Ana Amélia Batista Tatiana Duarte (DF) Coordenação Pedagógica,

MODOS
Estagiários (BH) Pompea Tavares (BH)
Maria Clara Boing (RJ) Samantha Moreira
Pedro Ton Amanda Cuesta (SP) Francisca Caporali
Milton Lira Coordenação Pedagógica Coordenação Geral/Artística
Programa CCBB Educativo Arte & Educação:

Centro Cultural Banco do Brasil
Ministério da Cultura
Realização
Banco do Brasil apresenta e patrocina
Banco do Brasil
Ministério da Cidadania apresenta Patrocínio
3 café nice
Localizado na Avenida Afonso Pena é talvez o mais
1 Praça da Liberdade importante dos cafés de rua de Belo Horizonte
tendo sido inaugurado em 1939. Nestes 80 anos
de história o estabelecimento resiste ao tempo e
a cultura dos fast-foods conservando-se como
Inaugurada em 1897, é o símbolo da criação da tradicional lugar de pausa e encontro em meio a
nova capital de Minas Gerais. Concentrava em sua agitação do hipercentro da cidade. Uma curiosi-
origem o poder executivo e as secretarias dade: o creme de maisena com ameixa e o
do estado. Uma volta pela praça é também um tradicional café de coador nunca saíram do
passeio por diferentes estilos arquitetônicos que cardápio.
atravessam as diversas concepções e usos dos
prédios. Hoje abriga o Circuito Liberdade. Cabe
destacar a inauguração do prédio em que hoje
está localizado o Centro Cultural Banco do Brasil
de Belo Horizonte - projetado pelo arquiteto Luiz
Signorelli para sediar a Secretaria de Segurança
Pública em 1930.
2 rua da bahia 4 café palhares
“A minha vida é esta: subir Bahia e descer Bar, o La Greppia, o Edifício Maletta, dentre Outros. Se Belo Horizonte é conhecida como a capital dos
Floresta”. Esta frase do poeta mineiro Romulo Além disso há a Igreja da Boa Viagem, o prédio da bares, certamente o Café Palhares é parte impor-
Paes, foi eternizada em um monumento que leva Academia Mineira de Letras (cujo projeto original tante nessa tradição. Aberto desde 1938 é conhe-
seu nome, localizado exatamente na Rua da Bahia, também é de Luis Signorelli) e o Museu Inimá de cido por servir o KAOL - abreviação para cachaça,
na altura da Praça Afonso Arinos. Trata-se na Paula. É a rua do butecar, do caminhar calmo e arroz, ovo e lingüiça. Foi por sugestão de Rômulo
verdade da descrição do trajeto do antigo bonde atento. Corredor síntese do espírito de uma BH Paes a substituição do “c" por “k”. A intenção era
que ligava o centro da cidade à Praça da Liberdade. atual, plural, pulsante, viva e não menos contradi- dar mais impacto ao nome do famoso prato. Na
Os bondes se foram mas o sobe e desce perma- tória. louça onde é servida a refeição pode-se ler a
nece fazendo desta rua um corredor cultural e seguinte frase: “ser mineiro é comer um kaol”.
boêmio de Belo Horizonte. Lá estão o Café Cultura
Modos de ver: No inÍcio, Belo Horizonte era
paisagens possíveis
uma cidade-promessa

A visita Modos de Ver: Patrimônio e Essas paisagens possíveis são frutos de Como se inventa uma cidade? Que imagens A Praça da Liberdade é repleta desses
Gastronomia inaugura uma série de ações nossa experiência pela cidade, que não se vão estampar seus prédios, qual será a símbolos que anunciam um certo uso da
do Programa CCBB Educativo Arte & resume somente ao que é visto. Somos o largura de suas ruas e para onde seus cidade. Anunciam também a quem essa
Educação voltadas para questões como tempo todo interpelados a senti-la através caminhos vão conduzir nossos corpos? Por cidade se destinava: aos funcionários
patrimônio, memória, arquitetura e cidade. de uma sensorialidade mais ampla. Cores, vezes nossa presença nos espaços que públicos transferidos de Ouro Preto que
Nesta primeira edição, caminhamos pela sons, e sabores… Como uma caminhada habitamos é tão naturalizada que nos deveriam se sentir acolhidos pela paisagem
cidade investigando as relações entre a desperta nossos sentidos? O cheiro do esquecemos de que toda cidade é uma fabricada – havia até uma miniatura do Pico
invenção da nova capital de Minas Gerais - a “cafézin”, o sabor de uma refeição, os sons invenção. E como toda invenção, tem destino do Itacolomi! Também à nova burguesia que
antiga Curral Del Rey, renomeada como Belo do centro da cidade se aquietando sábado e função imaginada por seus inventores - escolhe os elementos arquitetônicos ao
Horizonte - e o nascimento de dois emble- em fim de tarde, a luz do sol que vai que poderão por sua vez ser subvertidos sabor de suas preferências. Essa aleatorie-
máticos espaços da gastronomia de rua de matizando a paisagem com o passar do dia: pelos usos que lhe damos. Afinal, nos dade arquitetônica, a que chamamos de
Belo Horizonte: o Café Nice e o Café basta estar atento ao seus sentidos. tornamos também inventores? "estilo eclético" faz conviver, sobrepostos,
Palhares, observados sob a luz da década de estilos e símbolos de diferentes épocas. São
30. Costurando essa conversa temos a Rua Foi assim com Belo Horizonte, planejada e indícios de que a razão humana tudo pode
da Bahia como um lugar que convida ao construída em um curto espaço de tempo de dominar: a natureza, a multiplicidade, os
atravessamento, um “corredor cultural” que quatro anos. Cidade-promessa de futuro, desejos, os corpos, as relações. O espaço é
conecta a Praça da Liberdade à região indicava o que deveria ser uma Minas Gerais algo que deve ser dominado e domesticado.
Central. moderna, fruto de um Brasil republicano.
Primeiro veio a Praça da Liberdade sob um
Atravessar o espaço é na verdade uma solo recém aplainado. Em torno dessa praça
questão de sobrevivência: movimento que deveria ser erguida toda uma cidade - do
nos acompanha desde os primórdios, ponto de vista físico e geográfico, mas
quando precisávamos encontrar alimento. A também ideal. Desde sempre a praça, a
própria humanidade foi se desenhando em ágora, é o lugar destinado à elaboração da
torno da possibilidade de deslocar-se em vida na cidade. O espaço onde a democracia
direção ao desconhecido. Essa “eterna deveria se materializar, idealizado para o
errância” re-desenha os espaços das encontro e o contato direto com o outro,
cidades modernas, faz com que seus onde corpos passantes, hora ou outra se
projetos sejam contestados e ressignifi- cruzam. No entanto, quem são, de fato, os
cados, tensiona uma paisagem já constituída corpos que ocupam esse espaço?
indicando novas paisagens possíveis.

¹ CARERI, Francisco. Walkscapes: o caminhar como prática estética. São Paulo: Editora GG, 2013. ² PASSOS, Daniela. A formação do espaço urbano da cidade de Belo Horizonte: um estudo de caso à luz de
² comparações com as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. IN: Mediações. Londrina, v. 21, n. 2, 2016.

Entre o projeto e o real: Comer e partilhar


o hipercentro de Belo Horizonte

O fluxo da nova cidade deveria ser contido hoje conhecemos como o “baixo centro”, O cozimento dos alimentos é dado de indis- os novos lugares de encontro, abertos a uma
pelos limites de uma avenida: a Avenida do região marcada pela impermanência, pela cutível importância para a condição humana. pluralidade de públicos que talvez a Praça da
Contorno. Parte primordial do projeto do passagem e pela transitoriedade. Aquele O advento das refeições cozidas concede Liberdade nunca tenha almejado.
engenheiro Aarão Reis, transmitia a ideia de caminhar harmonioso, desenhado nos boule- novas propriedades aos alimentos, modifica
que Belo Horizonte foi projetada na medida vares e corredores da Praça da Liberdade, a forma como nosso corpo metaboliza os E se pensarmos sobre como nos alimen-
da razão. Ou seja, a ordem e a harmonia encontrava o fluxo da vida real, que escapava ingredientes e interfere no tempo que se tamos hoje, no tempo que dedicamos às
deveriam estar impressas na geometria e aos projetos pretensiosos da nova capital. gasta comendo. Ao comer criamos vínculos, refeições nos fast-foods, deliverys, nos
organização das ruas, avenidas e praças. Do hábitos, regras e hierarquizações – trata-se alimentos ultraprocessados. O que pode
ponto de vista dos usos e ocupações Já na década de 30, após decreto da prefei- do caráter social do comer, de comer junto, tornar a comensalidade algo ainda praze-
podemos dizer que Belo Horizonte possuía, tura que permitia um adensamento da área dividindo a mesa. É o que chamamos de roso? Que novos hábitos alimentares vão
em suas primeiras décadas, três centrali- central, mais uma mudança na paisagem da comensalidade: ato de partilhar o momento surgindo com as tecnologias? O que os dois
dades: a comercial (entorno da Praça da cidade aconteceu: a verticalização. Era o fim e local das refeições. Uma questão de socia- estabelecimentos contemplados em nossa
Estação, parte da Av. Afonso Pena, a Rua dos da “era do tijolo” e o início da “era do bilidade. Em volta da mesa desenvolvemos visita podem nos contar sobre a forma como
Caetés, a Avenida do Comércio, Rua Guarani, concreto armado”. Data de 1935 a hábitos culturais, atos simbólicos, organi- nos relacionamos com a comida, cerca de 80
Avenida Paraná e Rua Curitiba), a residencialconstrução do primeiro arranha céu de Belo zação social, compartilhamos experiências. anos depois de suas inaugurações?
Horizonte, o Edifício Ibaté de 10 andares,
(o atual bairro Funcionários) e a político-ad- Há o "jantar fora", o “almoço de domingo”, “o
ministrativa (Praça da Liberdade). situado à época na esquina da Rua São Paulo happy hour”, o “jantar romântico". A mesa é
com a Av. Afonso Pena. E é nesse contexto um lugar de comunicação e partilha.
O chamado centro comercial foi desde que são inaugurados dois dos mais tradicio-
sempre marcado pela heterogeneidade nais pontos de consumo e encontro da Pense em uma cidade em pleno e vertigi-
social, pelos comércios de caráter popular. cidade: o Café Nice e o Café Palhares noso crescimento. Uma paisagem que se
As moradias e comércios “nobres" acabaram transforma radicalmente em um curto
por se transferir para a parte mais alta do período de tempo. Uma mudança na
centro, na Avenida Afonso Pena, deixando ocupação dos espaços antes destinados
para trás um cenário efervescente caracteri- apenas à chegada e à expedição de materiais
zado por uma zona boêmia que ia se dese- de construção. É nesse contexto que surgem
nhando pela presença de prostíbulos, Café Nice e Café Palhares - a Belo Horizonte
cabarés, clubes e bares. A partir do fim da na década de 30, com novas demandas por
década de 20 já estava configurado o que até consumo e por espaços de convivência. São

³ MOREIRA, Corina Maria Rodrigues. Patrimônio cultural e revitalização urbana: usos, apropriações e ⁴ WRANGHAM, Richard. Pegando fogo: por que cozinhar nos tornou humanos. Rio de Janeiro: Zahar, 2010.
³ representações da Rua dos Caetés, Belo Horizonte. Dissertação (Mestrado). Programa de Pós- Graduação em
⁵ LIMA; NETO; FARIAS. Alimentação, comida e cultura: o exercício da comensalidade. IN: Demetra, 10 (3), 2015.
³ Ciências Sociais/Gestão das Cidades, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2008.

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