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I. TEORIA ÁCIDO-BASE DE PERSON

1. Princípios Gerais

Enquanto a teoria tradicional ácido-base de Brønsted-Lowry e a teoria de Lewis focam


em doação e aceitação de protões ou pares de electrões, a abordagem de Pearson é
tomada como uma ampliação da teoria de Lewis que considera as propriedades ácido-
base como baseadas na transferência de electrões de alta ou baixa densidade electrónica.
Neste trabalho, exploraremos em detalhes a teoria ácido-base de Pearson e como ela se
aplica a diversos campos da química. Apresentaremos, como a teoria de Pearson ajuda a
explicar reacções em sistemas orgânicos, inorgânicos e bioquímicos, proporcionando
uma visão das interacções químicas. Além disso, examinaremos exemplos práticos e
suas implicações na catálise, na química de coordenação e na previsão de reacções
químicas. Essa teoria desempenha um papel crucial na compreensão de fenómenos
químicos complexos, tornando-a uma ferramenta valiosa para químicos e pesquisadores
em diversas áreas.

1.1. Teoria Ácido-Base de Lewis

Como já referido anteriormente, a teoria de Person pode ser tomada como uma
ampliação da teoria de Lewis, neste âmbito, primeiramente iremos descrever a Teoria
Ácido-Base de Lewis. Em 1923, G. N. Lewis propôs a definição do comportamento
ácido-base em termos de doação e aceitação do par de electrões. A definição de Lewis
é, talvez, a mais amplamente usada devido à sua simplicidade e larga aplicabilidade,
especialmente no campo das reações orgânicas. A proposta de Lewis define uma base
(conhecida como base de Lewis) como o composto que pode doar um par de electrões,
e um ácido (ácido de Lewis) como um composto que pode receber um par de electrões
(SHIVRER; ATKINS, 2010.pp:131-132).

Ou seja de modo mais simples, para Lewis:

 Ácido: espécie Química capaz de receber um par de electrões. Ex: BF 3 , Co+2,


H+, entre outros.
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 Base: espécie química capaz de doar um par de electrões. Ex: NH 3. , F-, H2O,
entre outros.

EX:
Ácido Base

Na reacção a Amónia porta-se como uma base de Lewis, o Nitrogénio apresenta um par
de livres que são doados para o Boro. Nesta reacção, o átomo de Boro na molécula BF 3
apresenta uma deficiência de 2 electrões para ter seu nível de valência completo com 8
electrões e, assim, pode receber o par de electrões disponível.

Ácido Base

Nesta reacção, o átomo de boro na molécula BF 3 apresenta uma deficiência de 2


electrões para ter seu nível de valência completo com 8 electrões e, assim, pode receber
um dos quatro pares de electrões disponíveis no ião fluoreto F-, para formar ião BF-4.

2. Teoria Ácido-Base de Pearson

A teoria ácido-base de Pearson,


desenvolvida por Ralph Pearson na
década de 1963, oferece uma perspectiva
inovadora na compreensão das
interacções químicas, ao se concentrar na
transferência de electrões e nas
Legenda: Ralph Pearson
características ácido-base de uma
molécula em relação a diferentes grupos Fonte: https://images.app.goo.gl/2beCdEeBwcPtY4caA

de substâncias químicas.
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Ao explorar a teoria ácido-base de Lewis com o conceito de dureza e macidez foi


proposto um novo conceito de ácido-base. Pearson sugeriu o termo Duro e Macio para
descrever as interacções entre diferentes espécies.

a). Espécies Duras → O termo duro na teoria de Pearson, faz referência a espécies
químicas que caracterizam-se por apresentar uma carga nuclear efectiva alta e tamanho
pequeno, tem electronegatividade acentuada e sendo pouco polarizáveis.

b). Espécies Macias → O termo macio na teoria de Person, faz referência a espécies
químicas que caracterizam-se por serem mais polarizáveis com pequena carga positiva e
baixa electronegatividade.

Essas espécies químicas são agrupadas em Ácidos e Bases duras e Ácidos e Bases
macias.

2.1. A Polarizabilidade

Polarização é a destorção da nuvem electrónica do átomo por outro que o "induz" a


remoção da nuvem electrónica por diferença de polaridade, ou seja a
polarizabilidade de uma molécula está associada à capacidade de deformação de sua
nuvem electrónica. Assim átomos maiores tendem a ser mais polarizáveis
(DICIONÀRIOINFORMAL, 2009). Se comparamos por exemplo o Iodo e o Flúor, o Iodo
é mais polarizável do que o Flúor, devido ao seu tamanho maior em comparação ao Flúor,
daí o conceito de o Flúor ser mais duro do que o Iodo.

2.2. Ácidos Duros

São espécies pequenas pouco polarizáveis e com alta electronegatividade ou que


possuam grande deficiência electrónica (alta carga formal ou parcial positiva). Esses
ácidos tendem a ter uma carga parcial positiva alta e doar electrões com dificuldade
+2
+¿ ,Mg .¿
durante a reação. Ex: H +¿ ,Li ¿

2.3. Ácidos Macios

São espécies relativamente grandes, polarizáveis ou que possuam pequena deficiência


electrónica (baixa carga formal ou parcial positiva). Esses ácidos tendem a ter uma
carga parcial positiva baixa e doar eletroes com facilidade durante a reação. Ex:
+, +2

Ag+¿, Cu Hg .¿
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2.4. Bases Duras

São espécies pequenas, pouco polarizáveis, com alta electronegatividade ou que


possuam pouca disponibilidade de doação electrónica. Essas bases tendem a ter uma
carga parcial negativa alta e receber electrões com dificuldade durante a reacção. Ex:
−¿ .¿
−¿,Cl ¿
−¿, OH ¿
F

2.5. Bases Macias

São espécies grandes, polarizáveis e baixa eletronegatividade ou que possuam boa


disponibilidade de doação electrónica. Essas bases tendem a ter uma carga parcial
−¿ .¿
−¿ ,CN ¿
negativa baixa e a receber electrões com facilidade durante a reacção. Ex: H −¿ , SCN ¿

É importante salientar que a teoria de Pearson não especifica a propriedade de uma


espécie como ácido duro ou mole, assim como para as bases, mas sim pode prever o
comportamento de uma espécie em comparação a outra. Por exemplo comparando o
Flúor e o Iodo de acordo com a figura abaixo, tomando os mesmos como bases, o Flúor
seria a base de maior dureza em comparação ao Iodo, por ter um tamanho menor apesar
de apresentarem a mesma carga (AYALA, s/d).
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Figura: Variação da carga nuclear efectiva e tamanho dos iões

Os metais representativos, como os metais alcalinos e alcalino-terrosos, possuem uma


estrutura cristalina simples e regular, o que permite que suas camadas de átomos
deslizem facilmente umas sobre as outras quando sujeitas a forças externas. Isso resulta
em uma dureza relativamente constante desses metais.

Por outro lado, os metais de transição possuem uma estrutura cristalina mais complexa,
com a presença de lacunas na rede cristalina e diferentes tamanhos de átomos. Essas
irregularidades estruturais dificultam o movimento das camadas de átomos e podem
levar a variações na dureza desses metais. Além disso, os metais de transição também
podem formar ligas com outros elementos, o que pode afetar suas propriedades físicas,
incluindo a dureza. A adição de outros elementos pode alterar a estrutura cristalina e a
distribuição de átomos nos metais de transição, resultando em variações na dureza.
Portanto, as irregularidades na estrutura cristalina e a formação de ligas são os
principais fatores que contribuem para as variações na dureza dos metais de transição.

Abaixo, ilustramos de forma mais generalizada, espécies que se enquadram na


classificação de duro e mole quando a acidez ou basidade:
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3. Particularidades da Teoria de Pearson

A teoria de Pearson é englobada para prever diferentes propriedades das substâncias.


Ela pode ser englobada para prever:

 A estabilidade de Complexos;
 O carácter da ligação entre espécies classificadas como Ácidos e Bases;
 Preferência de certos elementos por outros elementos específicos;
 A hidrólise de sais em meio aquoso;
 Caracterização das reacções orgânicas;
 Equilíbrio Químico de uma reacção Química.
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3.1. Carácter da Ligação entre Espécies Classificadas como Ácidos e


Bases

Na abordagem da teoria de Pearson, existe uma regra denominada de Princípio de


Pearson ou Princípio de Ácidos e Bases Duros e Macios:

´´Ácidos duros preferem se ligar a bases duras e ácidos macios preferem se ligar a
bases macias´´.

Ácidos duros ↔ Bases dura

Pouco polarizáveis;
Mais electronegativo;
(Interacções de carácter iónica)
Raio menor
Ácidos macios↔ Bases macias

Mais polarizáveis

Menos Electronegativos

Raio maior
(Interacções de carácter covalente)
Podemos tomar por exemplo a reacção de dupla troca para explicar as tendências de
ligação entre espécies semelhantes.
Ácidos: Cu+2, Hg+2
Acido Duro CuI2 + HgCl2 CuCl2 + HgI2
Base Dura Bases: I- , Cl-
Base Macia

Acido Macio

Considerando a recombinação dos elementos que formam os sais, segundo a Teoria de


Person, o Cobre sendo um ácido duro se conecta ao Cloro que é uma base dura, e o
Mercúrio ao Iodo conforme a reacção.

Provavelmente o primeiro a apresentar um exemplo da regra acima foi Berzelius que


tinha verificado que nos minerais, alguns metais tais como: Magnésio, Alumínio e
Cálcio são encontrados como óxidos ou carbonatos enquanto outros como: Cobre,
Mercúrio e cádmio como Sulfetos. Aplicando o que foi visto, podemos dizer que os ião
Magnésio, Alumínio e Cálcio são ácidos duros por isso eles se combinam com óxidos e
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carbonatos que são bases duras, enquanto, os iões cobre, Mercúrio e Cádmio são ácidos
macios e preferem se ligar ao iões sulfeto que é uma base macia.

3.2. A Estabilidade de Complexos

Segundo Pearson esta preferência entre ácidos e bases, está relacionada a estabilidade
dos produtos formados, pois segundo Pearson quando um Ácido duro reage com uma
Base dura tendem a formar produtos estáveis (complexos estáveis) e quando um Ácido
macio reage com uma Base macia tendem a formar produtos estáveis simultaneamente.
Isto acontece porque as interações entre ácidos duros e bases duras, ou ácidos macios e
bases macias são mais favoráveis devidos as características semelhantes destas espécies.

Um exemplo é quando se utiliza SCN - como ligante, representa um ligante


ambidentado, isso significa que na formação de complexos, o Tiocianato pode se
coordenar ao metal central através do Enxofre ou do Nitrogénio. O ião Tiocianato se
liga através do Enxofre ao se complexar com a Platina (II) – [Pt(SCN) 4]2- , ao passo que,
com Ferro (III) a coordenação ocorre através do Nitrogénio – [Fe(NCS) 6]3-. A Platina
(II) por ser um ácido macio prefere o Enxofre que é uma base macia, entretanto o Ferro
(III) que é um ácido duro prefere uma base dura, no caso o Nitrogénio.

Ião Tetratiocianatoplatinato (II) Ião Hexatiocianatoferrato (III)

Tomando o que até então foi descrito, o complexo de Prata, pode-se tomar como macio
e o complexo de Ferro como duro. Essa classificação não é abrangente somente a
complexos mais também a moléculas com as mesmas tendências. Tomando isso como
base, podemos defini-los do seguinte modo:

a). Complexo Macio: Apresentam ligantes maiores e mais flexíveis.

b). Complexo Duro: Apresentam ligantes pequenos e rígidos.


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3.3. Hidrólise de Sais

Por que alguns sais em água hidrolisam e outros não?

Essa tendência pode ser explicada levando em consideração a polarizabilidade dos


átomos envolvidos, a teoria de Pearson defende que átomos polarizáveis ligam-se mais
fortemente a átomos também polarizáveis e os menos polarizáveis tendem também a
ligar-se à átomos menos polarizáveis.

Levando em conta a notação acima podemos prever a solubilidade dos sais em meio
aquoso. A solubilidade decresce ao longo dos sais, já que a Prata é um ácido mole,
portanto na ordem dos Halogenetos sua interacção será mais favorável na seguinte
ordem: F<Cl<Br<I.

Espécies moles tendem a reagir na ordem de facilidade seguindo a sequência acima


descrita, enquanto o contrário se verifica com espécies mais duras
(UNIVERSIDADEDAQUÌMICA, 2019).

Contudo podemos afirmar que: Quanto mais macio for elemento menos solúvel em
água ela será, e com a diminuição do Kps há menor capacidade de trocar o anião pela
água, isto é, há diminuição da solubilidade com a diminuição do Kps.

3.4. Equilíbrio Químico de uma reacção Química

A teoria de Pearson também pode nos ajudar a prever o equilíbrio das reacções
químicas, uma vez que o lado da reacção mais favorecido é aquele em que uma espécie
dura está ligada a outra espécie dura e uma mole está ligada a outra mole, já que essas
espécies são mais estáveis segundo a Teoria de Pearson.

HI + NaF ↔ HF + NaI K¿ 1

(Lado dos produtos favorecido)


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O HF formando, dificilmente libera iões H + segundo a teoria de Arrenhius, devido ao


tamanho reduzido do Flúor. Uma vez que a solubilidade de um composto, é acentuada
para espécies com interacção duro-mole ou o inverso, a teoria de Pearson explica o
carácter ácido do HI em relação ao HF, ou seja a facilidade com que este libera o
Hidrogénio já que o Hidrogénio é um ácido duro e o Iodo uma base macia. Os HX
formam em fase líquida e sólidas pontes de hidrogénio inter-moleculares e são todos
bem solúveis em água e álcool. A sua dissolução é um processo exotérmico. Em solução
aquosa são todos ácidos fortes e a sua força aumenta ao longo do grupo com o aumento
do raio atómico dos halogéneos: HF < HCl < HBr <HI (CAMUENDO e SAMBO,
2013.pág:80-88).

Aqui apresentamos mais exemplos de reacções favorecidas ou quanto aos produtos ou


quanto aos reagentes. As mesmas podem ser avaliadas levando em consideração as suas
constantes de equilíbrio.

AlI3 + 3NaF ↔ AlF3 + 3NaI K¿ 1


Espécies Duras: H+ , F- , Al3+ , Ti,
(Lado dos produtos favorecidos) Hg2+

Espécies Moles: Na+ , I- , Co2+


TiF4 + 2TiI2 ↔ TiI4 + 2TiF2 K¿ 1

(Lado dos reagents favorecidos)

CoF2 + HgI2 ↔ CoI2 + HgF2 K¿ 1

(Lado dos reagents favorecidos)

3.5. Natureza das Reacções Orgânicas

A teoria de Pearson pode empregar no sentido de explicar a natureza das reacções


orgânicas. Por exemplo os Sistemas orgânicas, vejamos a Bioacumulação de metais
pesado.

A bioacumulação é o termo usado para referir a ingestão de substâncias químicas pelos


organismos vivos (SUÇUARANA, 2011). As altas concentrações de metais pesados em
um ecossistema podem oferecer efeitos nocivos a saúde humana e têm contribuído para
a contaminação do meio ambiente.
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Por exemplo a ingestão do Mercúrio causa danos ao organismo, uma vez que esta
interage com bases proteicas. A sua ingestão pode ser feita tanto na forma Inorgânica,
sob forma de sais, ou na forma orgânica junto de grupos alquilos ou arilos. Compostos
de Mercúrio são absorvidos pelo trato gastrintestinal, os grupos alquilos atravessam
facilmente as membranas, acumulando-se no SNC, fígado, nos rins e no feto (LONG,
2016)..

A afinidade pelos grupos sulfidrilas do Mercúrio pode ser explicada levando em


consideração a sua moleza, no grupo sulfidrila ele liga-se ao Enxofre que também é uma
base mole. O Mercúrio se liga a grupos sulfidrilas, afectando um número significativo
de sistemas enzimáticos e proteicos. Em caos graves essa ingestão pode levar a lesão
pulmonar, visão embaçada, necrose tubular, entre outros (LONG, 2016).
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V. CONCLUSÃO

Em conclusão, a teoria Ácido-Base de Pearson desempenha um papel fundamental na


compreensão e descrição das interações químicas. Sua abordagem baseada em
propriedades eletrônicas amplia a definição tradicional de ácidos e bases (Lewis),
permitindo uma análise mais abrangente e precisa dos fenômenos químicos. Ao
considerar as interações de doadores e aceitadores de pares de electrões, essa teoria
oferece uma visão mais completa das reações químicas e das transformações
moleculares. Além disso, a teoria Ácido-Base de Pearson tem aplicações práticas
significativas, incluindo o desenvolvimento de catalisadores mais eficientes, a
concepção de materiais avançados com propriedades específicas e o projeto racional de
fármacos. Ao compreender e aplicar essa teoria, os cientistas têm a capacidade de
explorar novas fronteiras na química, impulsionando descobertas e avanços científicos
que podem beneficiar diversos setores da sociedade, desde a indústria até a medicina.
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VI. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AYALA, J.;Química de Ácidos e Bases.

CORRÊA, T.Lopez. Bioacumulação de Metais Pesados em Plsntas Nativas a Partir de


suas Disponibilidades em Rochas e Sedimentos: O Efeito na Cadeia Trófica.
2006.Universidade Federal. [online] Disponível na Internet via:
https://www.repositorio.ufop.br/handle/123456789/2273 Acesso: 04/10/2023

CAMUENDO, A. P.; SAMBO, A…Módulo de Química Inorgânica I, Maputo,


Imprensa pela Universidade Pedagógica, 2013, pp:80-88

SHIVRER; ATKINS.P; Química Inorgânica, 15º ed, Grã-Bretanha, Oxford


University ,2010, pp.

DICIONÀRIOINFORMAL, Polarizabilidade, [online] Disponível na Internet via:


https://www.dicionarioinformal.com.br/polarizabilidade/ Acessado: 04/10/2023

LONG,H.;NELSON.L.S; Metals and Metallloids, [online] Disponível na Internet via:


https://www.medicinanet.com.br/m/conteudos/revisoes/7663/intoxicacao_por_mercurio
.htm Acessado: 04/10/2023

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