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Anamnese

Ariádny Abbud

Material produzido por Ariádny Abbud - CRP: 12/16739


Como eu faço: Anamnese
Na psicologia clínica infantil, as sessões iniciais
tem por objetivo avaliar o que está sendo
apresentado pelos pais como queixa, e quais são
os prejuízos tanto para a família, quanto para a
criança.
Sendo assim, nossas entrevistas tem o objetivo
de formular hipóteses diagnósticas para
determinar intervenções psicoterápicas que serão
feitas ao longo do processo psicoterapêutico.
A Anamnese é um instrumento crucial do
diagnóstico, pois através dela podemos obter
informações relativas à história de vida do
paciente, assim como informações importantes
sobre a gravidez, o desenvolvimento da criança,
manejo dos pais, as expectativas em relação ao
tratamento, histórico médico etc.
Através da realização da Anamnese será
possível uma tomada de decisão em relação à
escolha de quais instrumentos serão utilizados
para o processo de investigação clínica como
testes, escalas, etc.

Material produzido por Ariádny Abbud - CRP: 12/16739


Como eu faço: Anamnese
Uma boa anamnese é condição fundamental
para a conceituação cognitiva de caso, portanto
ela deve ser ampla, e contar com múltiplas fontes
de informação.
Eu, Ariádny Abbud optei por mostrar “Como eu
faço” todo processo psicoterapêutico a partir de
um estudo de caso, adotando a perspectiva
teórica da Terapia Cognitiva Comportamental -
TCC. Sendo assim, todas as etapas serão
baseadas no caso que será apresentado em breve.

Antes de iniciar o processo..


Considero importante no
agendamento do atendimento,
compreender brevemente a queixa
inicial, e orientar os pais em relação
aos primeiros atendimentos.

A partir dessa breve contextualização via telefone,


eu decido quem participa da sessão e informo
como será o processo inicial de coleta de dados.
Como eu faço: Anamnese
No primeiro contato presencial, antes de iniciar
o preenchimento da Anamnese, realizo vários
passos introdutórios, como por exemplo,
estabelecer um bom Rapport. Faz parte de uma
boa relação terapêutica a família se sentir
confortável em conversar.
Posteriormente, costumo me apresentar
rapidamente, e dou uma previsão de como será
nosso primeiro encontro. Em seguida, peço para
que se apresentem e me digam de que forma eu
poderia ajudá-los. Inicialmente deixo-os falarem
sobre a queixa por onde acharem melhor, sem
interrupção, apenas ouço e pratico uma escuta
empática.
Reservo a primeira sessão para construção de
vínculo, compreender a queixa, e os prejuízos para
a criança, e me preocupo em responder a 10
primeiras perguntas da minha anamnese, que
costumo dizer que é minha entrevista inicial.
Ao final do primeiro encontro, eu devo ser capaz
de preencher as seguintes perguntas:
Como eu faço: Anamnese
1- Queixa principal
2- Há quanto tempo isso vem ocorrendo
3- Causas atribuídas a queixa
4- Atitude dos pais frente a queixa
5- Em quais circunstâncias ocorrem
6- Frequência e intensidade
7- Outras queixas e preocupações
8- A criança passou por algum trauma?
9- Pontos fortes da criança/adolescente
10- Soluções esperadas do tratamento

Essas perguntas fazem parte da minha


Anamnese e correspondem a minha entrevista
inicial. Com base nessas informações que poderei
programar minhas próximas sessões, e dar
sequência na Avaliação Psicológica.
É por meio dessas, que serei capaz de iniciar
minha conceitualização cognitiva e/ou análise
funcional do comportamento e pensar em
hipóteses diagnósticas.
Desta forma, após exposição da queixa, faço
pequenos questionamentos que direcionam ao
conteúdos dessas perguntas e vou aprofundando
aos poucos.
Como eu faço: Anamnese
Por que essas perguntas são importantes para
mim:

1- Queixa principal
A queixa principal me informará os principais
sintomas e prejuízos. São a fonte de preocupação
dos pais. É a partir da descrição da queixa que vou
basear minha Avaliação e iniciar o diagnóstico
diferencial.

2- Há quanto tempo vem ocorrendo


O tempo é um critério diagnóstico importante
em qualquer diagnóstico, portanto um bom
marcador para apontar prejuízo, cronicidade, e
indicativo do perfil familiar.

3- Causas atribuídas a queixa


O que os pais acreditam que pode ter contribuído
para os sintomas? Ou que ajuda a manter? A
criança passou por uma situação estressante no
último ano? O que geralmente ocorre antes do
comportamento?
Como eu faço: Anamnese
4- Atitude dos pais frente a queixa
O que os pais costumam fazer quando a criança
se comporta de determinada forma, ou apresenta
os sintomas? O que já tentaram? O que funcionou?
O que piorou o quadro? (Essa informação é
importante para saber se os pais reforçam a
conduta da criança, ou atuam como mantenedores
dos sintomas, dados estes que farão parte da
análise funcional e/ou conceitualização cognitiva, e
auxiliará na escolha do tratamento.

5- Em quais circunstâncias ocorrem


Aqui busco compreender o contexto em que
ocorre. Quem está com a criança, o ambiente,
quais situações são ativadores, se a conduta é
generalizada para outros ambientes ou não, etc.

6- Frequência e Intensidade
Outro marcador importante para qualquer
diagnóstico. Esse item que vai determinar se
estamos falando algo que pode ser foco de
atenção clínica ou de um transtorno.
Como eu faço: Anamnese
7- Outras queixas e Preocupações
Tem mais alguma coisa que a criança faz que
preocupa os pais? Ou algo que esteja acontecendo
na escola, com amigos, alguma dificuldade que
tenham observado?

8- A criança passou por algum trauma?


Antes de considerar qualquer hipótese
diagnóstica, devemos descartar Trauma. Pois
muitos sintomas e mudança de comportamento
podem corresponder ao Estresse Pós-Traumático.

9- Pontos Fortes da Criança


Quais os aspectos positivos da criança? Quais
características os pais apreciam? Quais podem
contribuir para o processo?

10- Soluções Esperadas para o tratamento


Pergunta direcionada para traçar metas
terapêuticas e reduzir expectativa dos pais caso
necessário.
Caso Clínico - Luana
Luana tem 9 anos, mora com sua mãe e seu padrasto.
Seus pais se separaram quando ela tinha 5 anos. Há um
ano, sua mãe casou novamente e resolveram mudar de
estado, fato este que a mãe acredita estar contribuindo
para o problema. Luana tem um irmão de 13 anos que
mora com o pai pois não tem uma boa relação com o
padrasto. Ela foi encaminhada pela escola para
atendimento psicológico devido a choros constantes,
baixa socialização, problemas de relacionamento com os
colegas, queixas de dores no corpo, isolamento,
irritabilidade, medo de acontecer algo de ruim com a mãe
e de dormir sozinha, pesadelos frequentes, tem comido
em excesso, e verbaliza vontade de voltar para sua
cidade natal, ficar perto dos avós, pai e irmão. Os
sintomas intensificaram há 3 meses, e ocorrem tanto em
casa quanto na escola. Outro fator preocupante se refere
ao ganho de peso e perda de prazer nas atividades.
Luana só gosta de assistir vídeos no tempo livre. A
frequência é alta, e muitas vezes a mãe tem que sair do
trabalho e buscá-la na escola. A mãe tem diagnóstico de
depressão e faz uso de medicamento. Luana é uma
menina doce, gentil, caprichosa, e companheira. A mãe
espera que o tratamento ajude-a diminuir os sintomas de
tristeza, e que aprenda a lidar com suas emoções, que
volte a dormir no quarto sozinha, faça novos amigos, e se
adapte a nova configuração familiar.
Como eu faço: Anamnese
No caso de Luana, optei por chamar somente a
mãe para entrevista inicial, e após estabelecimento
de rapport e apresentação, pude responder as
principais perguntas para iniciar minha
conceitualização de caso.
De acordo com os dados coletados, os pontos
principais que devem ser aprofundados na para
além do desenvolvimento infantil com base nos
sintomas são:
• Estresse na gravidez • Alimentação
n dar
• Relação dos pais • Socialização Aprofu

com a criança no
• Vida Familiar
primeiro e segundo
ano de vida • Escola

• Sono • Antecedentes familiares


Isso porque os sintomas apontam para
transtornos de humor e ansiedade. Sabe-se que
estes transtornos influenciam a relação com o
ambiente, com as pessoas, acarretam em baixo
d e s e m p e n h o e s c o l a r, a l t e r a m o s o n o , a
alimentação e o convívio familiar. Além disso, são
influenciados por estresse na gravidez,
psicopatologia dos pais,
Como eu faço: Anamnese
… relação dos pais no primeiro ano de vida da
criança, alimentação, ambiente invalidador e
negligente, etc.
Para compreender mais sobre a influência da
relação dos primeiros anos de vida da criança com
os cuidadores e o impacto no desenvolvimento de
transtornos, sugiro ler sobre Teoria do Apego de
Bolwby, e Teoria do Desamparo Aprendido de
Seligman.

Pontos importantes na entrevista


inicial e coleta de dados:
Anotar pensamentos da crianças trazidos pelos
pais, compreender história de aprendizagem do
comportamento, observar se são fontes de dados
confiáveis, verificar como se enxergam como pais
(crenças), seus principais comportamentos
dirigidos a criança, e identificar os estilos parentais.
Todos esses aspectos darão base para uma
boa avaliação diagnóstica (nosso próximo
passo), compreensão do caso e planejamento
de intervenção. Tudo isso eu mostro na
próxima semana :) até lá
Material produzido por Ariádny Abbud - CRP: 12/16739
Anamnese
Ariádny Abbud

Material produzido por Ariádny Abbud - CRP: 12/16739

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