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Texto 07 - Aquisição Da Leitura
Texto 07 - Aquisição Da Leitura
Aquisição da leitura:
processo psicolinguístico
Psicolinguística I SEAD/UEPB 79
Objetivos
Esperamos que, ao final desta unidade, você tenha compreendido
os estudos psicolinguísticos da aquisição da leitura, principalmente os
dois aspectos básicos e suas categorias de análise referente ao pro-
cessamento da leitura; esperamos ainda que você possa perceber a
relação pensamento e linguagem representada nos dois aspectos bási-
cos norteadores de nossas reflexões. Sendo assim, delimitamos a nossa
análise em dois parâmetros fundamentais, quais sejam:
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propondo, assim, uma aprendizagem global, em que não só exige me-
mória, mas conhecimentos prévios, já construídos pela criança com
os quais ela possa construir novos conhecimentos. Ou seja, diferente-
mente da criança passiva, que só recebia e memorizava conhecimento,
aqui considera o indivíduo psicológico, que pensa, que correlaciona,
que compreende, que atua, proposta essa Psicolinguística, a que pas-
samos a explanar.
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É em busca de compreender como acontece esse processo cog-
nitivo e a aquisição de leitura, que organizamos essa unidade, cujas
categorias de análise responderão aos objetivos anteriormente traça-
dos, quais sejam: Processo de leitura e os procedimentos cognitivos e
metacognitivos e os processos de leitura e procedimentos linguísticos.
Processo de leitura e os
procedimentos cognitivos e
metacognitivos
O processo cognitivo de leitura será esclarecido conforme os mo-
delos psicolinguísticos, defendidos por Kato (2007), Kleiman (1989;
2002), Smith (1989) e Leffa (1996). Em sendo assim, destacaremos a
relevância das estratégias cognitivas e metacognitivas para a aquisição
Aprofunde o conteúdo, estudando o texto de
KLEIMAN, A. Texto e leitor: aspectos cogni-
de leitura.
tivos da leitura. 8.ed. Campinas: Pontes,
2002.
Para início, convidamos você a observar bem a cena ilustrada na
Fig. 3. Ela pode representar uma criança em atividade de leitura de
narrativas de contos de fadas.
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No exemplo dado, a criança ler a narrativa sem interferir na in-
formação textual, sem se envolver e sem alterar o percurso da leitu- O processamento descenden-
ra, seu propósito é ler linearmente, do início ao fim, é saber que não te (top down) é uma aborda-
está deixando nenhuma letrinha nem linha sem ser decodificada. Essa gem não-linear, que faz uso
criança-leitora se preocuparia em pronunciar bem cada fonema de intensivo e dedutivo de infor-
determinadas palavras – “/f/a/d/a; p/r//ĩ/c/i/p/i/”, tentando gravá- mações não-visuais e cuja
direção é da macro para mi-
-los mentalmente e representá-los em grafemas em outros contextos;
croestrutura e da função para
a semântica textual, nesse caso, não seria a preocupação principal. A a forma.
criança, portanto, partiria da identificação de letras, e, progressivamen- (...)
te, de palavras, de sintagmas, de frases etc., para só depois chegar ao O processamento ascendente
significado. (bottom up) faz uso linear e
indutivo das informações visu-
ais, linguísticas, e sua aborda-
b) Descendente (top down) - proposto por Goodman (1970, apud gem é composicional, isto é,
KLEIMAN, 1989), é um modelo centrado no leitor, o qual se utiliza de constrói o significado através
seus conhecimentos prévios para antecipar e predizer informações so- da análise e síntese do signifi-
bre o conteúdo do texto, isto é, levanta inferências, para com o decor- cado das partes (KATO, 2007,
rer da leitura, comprová-las. Essas inferências dependem, dentre outras p. 50).
variáveis, do tipo/gênero de texto, do objetivo de leitura, da linguagem
etc, por isso Kleiman (1989) fala também de esquemas mentais ou
cognitivos. Esquema: conhecimento par-
cial, estruturado que temos em
Por exemplo, a criança leitora da Fig. 3, pode já ter adquirido al-
nossa memória sobre assuntos,
guma experiência com as narrativas de contos de fadas e, logo, pode situações, eventos típicos de
criar expectativas sobre determinados personagens, mesmo porque o nossa cultura. O esquema nos
tipo de personagens dos contos de fadas é sempre estereotipado, o permite economia na comuni-
que possibilita predições: é uma história que tem príncipe, princesas, cação, pois podemos deixar
conflitos etc. A preocupação aqui é com as informações gerais do texto, implícito aquilo que é típico de
com o enredo, e, para isso, a criança pode fazer uma leitura de saltos, uma situação (ex: Contos de
focalizar no que lhe chama a atenção, sem necessariamente obedecer Fadas – “Era uma vez...”) – co-
à linearidade textual, pois a semântica global do texto é preenchida nhecimentos partilhados entre
com os seus conhecimentos prévios; ela pode, por exemplo, reconhe- leitor e autor (KLEIMAN, 2002).
cer pela linguagem não verbal que o texto trata de contos de fadas e,
acionar esquemas de nível estrutural prototípico, desse gênero textual:
começar a sua leitura com a frase “Era uma vez” e terminar com “E
foram felizes para sempre”; ou do nível lexical, por exemplo, onde se lê
“a bela menina”, a criança antecipa e lê “a linda princesa”.
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nando a construção semântica de forma muito particular. Nesse caso,
ao introduzir seus conhecimentos prévios, a leitura linear serviria para
testar e avaliar a coerência de sua compreensão textual. Por exemplo,
ao empregar a estrutura “Era uma vez”, a criança pode retornar ao
texto para comprovar a sua leitura e identificar que ali a estrutura seria
“Em um lugar muito distante”, então retificaria a sua leitura. Logo, é
uma estratégia construída de idas e vindas no corpo do texto e, nesse
caso, a estratégia passa de cognitiva para metacognitiva, aquelas que
auxiliam no planejamento, na autorregulação e controle, e na avalia-
ção das tarefas.
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Esta é uma ótima oportunidade para você trocar experiência com os
colegas. Então, poste-a no fórum e comente as postagens dos colegas.
Os processos de leitura e
procedimentos linguísticos
Tomando por base a perspectiva interativa de leitura, passaremos a
analisar o processo de aquisição do código e estrutura linguísticos para
a construção de sentido, por meio da combinação entre as informações
fonológica, visual, contextual e ortográfica. A nossa intenção é mostrar
que, no decorrer desse processo, a criança, mediante as pistas forneci-
das pelo texto escrito, relaciona os dados textuais com o conhecimento
já construído - o conhecimento linguístico, saber o vocabulário, regras
linguísticas e emprego da língua; bem como o conhecimento textual etc.
Vejamos, a partir da Fig. 6 abaixo, como cada informação combina-
da contribui para o processamento mental e, consequentemente, para a
aquisição do código e estrutura linguísticos e, consequentemente para a
formação leitora da criança.
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c) Informação Contextual – a partir das pistas contextuais, a criança
consegue elaborar comparações e, consequentemente, o reconheci-
mento de certas características gráficas de símbolos linguísticos e pala-
vras já conhecidas de seu vocabulário visual, encontrando algum nível
de similaridade visual, valendo-se de pistas contextuais para auxiliar
essas comparações. Essas características gráficas podem ser desde o
tamanho da palavra, letra inicial, formação silábica etc. Tomando o
exemplo em foco, a criança percebe que a sílaba “ão” da palavra
“leão” pode ser repetida em outros finais de palavras do léxico – “ma-
mão”, “João”, “macarrão”, levando-a a inferir que ela não é empre-
gada em outros contextos, diferentemente da sílaba “le” que pode ser
empregada em todo contexto da palavra – “leão”, “colega”, “picolé”
– inicial, medial e final.
d) Informação Ortográfica – No processo de decodificação, a criança
vai utilizando regras contextuais para cada novo estímulo. Sendo assim,
está estreitamente relacionado ao nível fonológico, além de codificar
o sistema de representação escrita de determinada língua. No caso
do português, o sistema é o alfabético, ou seja, os grafemas (letras ou
sequências de letras) representam os fonemas. Assim, a palavra ‘leão’
apresenta quatro grafemas, ‘l’, ‘e’, ‘a’ e ‘o’, que representam quatro
sons da língua portuguesa, no entanto a palavra ‘chá’, é formada por
três letras, mas dois sons da nossa língua. E assim por diante....
Vale salientar que, da mesma forma que a criança processa a aná-
lise da palavra, para enriquecer seu repertório lexical, ela também pro-
cessa estruturas linguísticas e textuais que lhe servirão de parâmetros.
Isso porque é a partir da apropriação dos níveis fonológico e ortográfi-
co que a criança vai começar a ter consciência das (ir)regularidades da
língua escrita ou das possíveis variações linguísticas, ou seja, o sistema
ortográfico garante a unidade do sistema de escrita, consequentemen-
te, também influencia na apropriação dos níveis morfossintático, se-
mântico e pragmático que constituem a língua escrita.
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c) O nível pragmático – trata do uso da linguagem, das intenções
constituídas nas comunicações dos sujeitos em determinado contexto,
logo das interpretações dos interlocutores. Por exemplo, o emprego da
ironia, cujo sentido é determinado em um contexto situacional deter-
minado - Numa situação em que haja um conflito, alguém pode dizer:
“Estou morrendo de medo desse leão!”.
Enfim...
Embora os processos psicolinguísticos esclareçam com profundi-
dade a aquisição da leitura sob a perspectiva do leitor, mostrando o
caráter espontâneo, automático, sem atenção voluntária, é necessário
também entendermos que a leitura também requer controle e reflexão.
No entanto, não podemos deixar de reconhecer a grande contribuição
dessa teoria para os estudos linguísticos, principalmente para os refe-
rentes à aquisição da linguagem.
Agora que você já está ampliou mais o seu conhecimento sobre
processos linguístico-cognitivos para a aquisição da leitura, pode testar
sua aprendizagem resolvendo a atividade abaixo.
Atividade III
A atividade a seguir foi retirada do caderno Teoria e Prática -TP8 – Análise
Linguística -, do Programa de Gestão de Aprendizagem escolar – GESTAR I –
Língua Portuguesa. Programa de formação continuada para os professores da
rede pública dos anos iniciais, oferecido pelo MEC de 2003 a 2007. Ela será
objeto de análise desta atividade, logo, você deve ler com bastante atenção
para responder ao que se pede.
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a) Com base nos pressupostos psicolinguísticos, estudados anteriormente,
explique qual a contribuição dessa atividade de leitura para a criança em fase
de aquisição da língua.
Essa atividade requer reflexão, por isso é interessante que você faça a sua
postagem no fórum para promover uma discussão com os colegas. Faça isso!
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Autoavaliação
Após nossas reflexões e apresentação de atividades escolares, argumente
sobre a relevância dos pressupostos psicolinguísticos para o ensino de língua
portuguesa, apresente exemplo para comprovar o seu ponto de vista.
Como essa atividade é bastante subjetiva, faça a sua postagem no fórum para
formar um debate sobre o assunto.
Resumo
A partir das reflexões desta unidade, compreendemos que a apren-
dizagem da leitura, principalmente na fase de aquisição, é um processo
complexo que exige uma atenção especial para relação pensamento e
linguagem, como vimos nas unidades anteriores. Dessa forma, o su-
porte da Psicolinguística se torna relevante para entender os aspectos
cognitivos que contribuem para processo de apropriação do código e
estruturas linguísticos da linguagem escrita. Entender essa teoria, por-
tanto, é primordial para educadores que lidam com o estudo da língua,
pois direciona para práticas inovadoras e eficazes na escola, seja na
fase inicial, em que o aluno aprende a ler, seja na fase proficiente, em
que o aluno lê para aprender.
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Leituras recomendadas
SMITH, F. Compreendendo a leitura: uma análise psicolinguística da leitura
e do aprender a ler. Tradução Daise Batista. Porto Alegre: Artes Médicas,
1989.
Este livro reúne alguns artigos voltados para questões básicas re-
lacionadas com os sistemas de escrita no processo de alfabetização.
Apresenta uma breve história das letras, dos números e dos sinais de
pontuação. Mostra quando um desenho se torna uma forma de escri-
ta, deixando de representar o mundo, para representar palavras da
linguagem oral. Os fundamentos dos sistemas de escrita ideográfico
e fonográfico são apresentados e ilustrados. Embora o alfabeto seja o
sistema de escrita que mais usamos, no nosso mundo de escrita, utili-
zamos também muitas formas de escrita ideográfica, como os núme-
ros, os sinais de trânsito, os ícones comunicativos, etc. A complexidade
do mundo da escrita é, ainda, explicada pelo uso de inúmeros estilos
de letras, o que torna a categorização gráfica dos caracteres muito
complicada para o aprendiz, na alfabetização. Destina-se a professores
alfabetizadores, a alunos de escolas de formação, a alunos de cursos
de Letras e de Pedagogia, e a todos os interessados nos estudos dos
Sistemas de escrita.
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SITE: https://www.youtube.com/watch?v=sy_qruipsXo – Vídeo aula
sobre O Aprendizado da Leitura: Fases da Aquisição para Concursos
Referência para Estudo: ZORZI J, CAPELLINI S, de Ana Beatriz Ferrari.
Muito interessante, a autora explica o processo de aquisição de forma
clara e objetiva.
Referências
FERREIRO, Emília; TEBEROSKY, A. e PALÁCIO, M. G. Os processos de
leitura e escrita: novas perspectivas. Porto Alegre: ARTMED, 1987.
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