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Brazilian Journal of Development 77409

ISSN: 2525-8761

Amêndoas de cacau (Theobroma cacao L.) submetidas a diferentes


temperaturas e tempos de secagem no norte brasileiro

Cocoa almonds (Theobroma cacao L.) submitted to diferente


temperatures and drying times in northern Brazil
DOI:10.34117/bjdv8n12-044

Recebimento dos originais: 04/11/2022


Aceitação para publicação: 06/12/2022

Myrella Katlhen da Cunha de Araujo


Mestranda em Agroecologia pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA)
Instituição: Universidade Estadual do Maranhão (UEMA)
Endereço: Avenida Lourenço Vieira da Silva, nº 1000, Campus Paulo VI, Jardim São
Cristóvão, CEP 65055-310
E-mail: myrellakaraujo@gmail.com

Ramon Rene de Cristo Silva


Bacharel em Engenharia Agrícola pela Universidade Federal Rural da Amazônia
(UFRA)
Instituição: Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA)
Endereço: Rod. PA 140, Tomé-Açu - PA, CEP: 68680-000
E-mail: reneramon42@gmail.com

Magnun Antonio Penariol da Silva


Doutor em Agronomia (Energia na Agricultura)
Instituição: Universidade Federal Rural da Amazônia
Endereço: Rod. PA 140, 2428-4822, Tomé-Açu - PA, CEP: 68680-000
E-mail: penariol@gmail.com

Arlindo Modesto Antunes


Doutor em Engenharia Agrícola
Instituição: Universidade Federal Rural da Amazônia
Endereço: Rod. PA 140, 2428-4822, Tomé-Açu - PA, CEP: 68680-000
E-mail: arlindo.modesto1@hotmail.com

RESUMO
Muitos agricultores da região amazônica utilizam a secagem natural, processo oneroso e
que compromete a qualidade do produto. Portanto, o objetivo da presente pesquisa foi
verificar as melhores condições de secagem artificial das sementes de cacau, em função
de diferentes tempos (6, 12 e 18 horas) e temperaturas (30°, 45° e 55°C) a fim de obter
amêndoas de melhor qualidade. Ainda, conhecer a energia necessária para execução dos
diferentes métodos de secagem, considerando a potência, potência específica energética,
quebra de peso e tempo de utilização do protótipo secador. O estudo foi realizado no
laboratório da Universidade Federal Rural da Amazônia no Campus de Tomé- Açu/PA,
com sementes obtidas na região. A secagem das sementes foi executada com protótipo
secador considerando as temperaturas de (30°, 45° e 55°C), com uso de um termômetro
eletrônico, tempos de secagem (6, 12 e 18 horas) e fluxo de ar de 45°. Além disso,
utilizado o parâmetro teor de água nas sementes ideal a 8%. Por fim, verificada a energia

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e os custos para secagem das amêndoas. Logo, com tarifa de energia no município de
Tomé-Açu/PA por 0,67 centavos, o custo de energia obtido foi de R$ 2,96; 5,92 e 8,88,
respectivamente. A secagem artificial que obteve valores próximos a 8% foi (55°C/18 h),
com média de 10,96% de água nas amêndoas. Mas outras alternativas podem ser
utilizadas ao alterar temperatura e/ou fluxo de ar. Assim, o consumo específico de energia
para (55°C/18h) foi de 7,2 %. Ademais, os dados coletados foram importantes para
melhoria de condições pós-colheita do cacau.

Palavras-chave: secagem artificial, balanço energético, cacau.

ABSTRACT
Many farmers in the Amazon region use natural drying, an expensive process that
compromises the quality of the product. Therefore, the objective of the present research
was to verify the best conditions for artificial drying of cocoa seeds, depending on
different times (6, 12 and 18 hours) and temperatures (30°, 45° and 55°C) in order to
obtain best quality almonds. Also, to know the energy needed to perform the different
drying methods, considering the power, specific energy power, weight loss and time of
use of the dryer prototype. The study was carried out in the laboratory of the Universidade
Federal Rural da Amazônia on the Campus of Tomé-Açu/PA, with seeds obtained in the
region. Seed drying was performed with a prototype dryer considering temperatures (30°,
45° and 55°C), using an electronic thermometer, drying times (6, 12 and 18 hours) and
air flow of 45°. In addition, the ideal seed water content parameter at 8% was used.
Finally, the energy and costs for drying the almonds were verified. Therefore, with an
energy tariff in the municipality of Tomé-Açu/PA for 0.67 cents, the energy cost obtained
was R$ 2.96; 5.92 and 8.88, respectively. The artificial drying that obtained values close
to 8% was (55°C/18 h), with an average of 10.96% of water in the almonds. But other
alternatives can be used when changing temperature and/or air flow. Thus, the specific
energy consumption for (55°C/18h) was 7.2%. Furthermore, the data collected were
important for improving post-harvest conditions for cocoa.

Keywords: artificial drying, energetic balance, cocoa.

1 INTRODUÇÃO
O cacau (Theobroma cacao L.) pertence à família Malvaceae e representa
importância mundial para comercialização e produção de chocolate (APROTOSOAIE et
al., 2016), sendo geralmente cultivado no oeste da África, América Latina e Sudeste da
Ásia (ABT et al., 2018).
Quanto as propriedades do cacau, o estudo de Aprotosoaie et al. (2016) atribui a
crescente demanda de cacau ao sabor agradável e propriedades sensoriais das amêndoas.
No entanto, o sabor das amêndoas pode ser influenciado pelo genótipo da espécie, tipo
de solo, idade da planta, condições pós-colheita como: acondicionamento da polpa,
fermentação, secagem e processos industriais como a torrefação (KONGOR et al., 2016).
Nesse contexto, uma das culturas perenes mais cultivadas na região norte do

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Brasil, apresenta elevado índice de produção nos sistemas agroflorestais do município de


Tomé- Açu/PA, cuja produção é exportada pela Cooperativa Agrícola mista de Tomé-
Açu – CAMTA (REGO; KATO, 2017), principalmente para a fabricação de chocolate,
gerando renda para a população local. Porém para obtenção de subprodutos é necessário
realizar alguns procedimentos pós-colheita, como fermentação, secagem e
armazenamento.
A secagem dos produtos agrícolas pode garantir a qualidade das sementes durante
o período de armazenamento ao minimizar a atividade biológica e alterações das
propriedades físico-químicas dos grãos ou sementes (ULLMANN et al., 2010). No
beneficiamento o teor de água ideal é de 8%, com boa apresentação externa e aroma
natural (MARTINS et al., 2011). Contudo, segundo Ullmann et al. (2018) para o sorgo a
qualidade fisiológica das sementes de sorgo é afetada pela elevada temperatura do ar de
secagem, podendo ser prejudiciais às sementes. Além disso, pode causar maior dano
mecânico as sementes (ULLMANN et al., 2010).
Com isso, para obter o teor de água ideal para as sementes de cacau, conforme
Costa et al. (2015) podem ser utilizadas curvas de secagem, que além de auxiliar nos
processos pós-colheita e construção de equipamentos, podem fornecer o tempo de
secagem do produto e o gasto energético. Dessa forma, influenciando em seu
processamento e preço do produto.
Uma vez que muitos agricultores da região amazônica utilizam a secagem em
terreiro, a secagem das amêndoas ao ar livre é realizada em barcaças, no qual as amêndoas
são reviradas para uniforme secagem, no entanto, o trabalho é oneroso e demanda tempo
e espaço (SALES; CÂNDIDA, 2016). Já a secagem artificial apesar da eficiência, pode
apresentar altos custos de investimento e operação (MORAIS et al., 2019).
Logo, é importante avaliar alternativas que possibilitem boas condições de
secagem do produto, benefícios de custo e tempo ao produtor. Portanto, o objetivo da
presente pesquisa foi verificar as melhores condições de secagem artificial das sementes
de cacau, em função de diferentes tempos (6, 12 e 18 horas) e temperaturas (30°, 45° e
55°C) de secagem, a fim de obter amêndoas de boa qualidade. Ainda, conhecer a
quantidade de energia necessária para execução dos diferentes métodos de secagem,
considerando a potência, potência específica energética, quebra de peso e tempo de
utilização do protótipo secador.

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2 MATERIAL E MÉTODOS
2.1 LOCAL DE ESTUDO
O presente estudo foi realizado durante o segundo semestre de 2019, no
laboratório da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), Campus de Tomé-
Açu/PA, com coordenadas geográficas de 02°24’15’’S e 48°09’51’’W.
Segundo a classificação de Köppen o tipo climático é Ami, com média anual
pluviométrica de 2.300 mm, temperatura média anual de 26,4 °C e umidade relativa do
ar média 85% anual (PACHÊCO et al., 2009).

2.2 EXPERIMENTO DE SECAGEM


2.2.1 Seleção e preparo da amostra
Os frutos de cacaueiro de variedade comum foram coletados no município de
Tomé-Açu/PA, partidos ao meio e retiradas as sementes, na Fazenda Nova Esperança,
produtora de cacau do município. Em seguida realizada a mucelagem, seleção das
sementes sadias e fermentação, que durou 7 dias. Conforme Brasil (2009), as sementes
utilizadas no estudo visualmente perfuradas por insetos foram descartadas, levando em
consideração os critérios de eliminação das secas e/ou danificadas.

2.2.2 Temperatura e tempo de secagem


Assim como no trabalho de Ullmann et al. (2010) a secagem das amêndoas foi
executada com uso de um protótipo secador considerando as temperaturas controladas de
(30, 45 e 55 °C), com uso de um termômetro eletrônico, o tempo de secagem (6, 12 e 18
horas) e fluxo de ar com vazão de 9,10 m³/min. Os tempos de secagem foram selecionados
com base na experimentação do protótipo em laboratório. Além disso, foi utilizado o
parâmetro teor de água nas amêndoas, pois de acordo com (MARTINS et al., 2011) no
período de beneficiamento 8% é o ideal.
As análises foram realizadas no protótipo secador desenvolvido na UFRA Tomé-
Açu (FURTADO et al., 2020), composto por chapas de metal, material PVC, motor de
0,7355 kW e um sistema de aquecimento composto por resistência aletada tipo U, como
na fotografia 1.

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Fotografia 1 - Equipamento de secagem de produtos agrícolas da UFRA Tomé-Açu, 2019.

Fonte: (Os autores, 2019).

2.2.3 Teor de água


O teor de água inicial dos lotes (%) foi obtida através do método gravimétrico,
com uma estufa a (105 ± 3 ºC) e balança analítica durante 24 horas, com quatro amostras
de 50 amêndoas entre o lote de secagem (BRASIL, 2009).

2.2.4 Balanço energético


Foi verificado o gasto de energia necessária (Kwh) para secagem das amêndoas
em função da temperatura utilizada. Dessa forma, foi considerada somente a potência
requerida pelo motor, tempo de secagem das amêndoas e a taxa de energia local. Ainda,
a resistência foi desprezada e o fator de serviço do motor (FS= 1,0). Conforme a equação
seguinte (1):

E=Pot x T (1)

E= energia consumida, kWh;


Pot= potência do motor, KW;
T= Tempo de secagem, h.

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O custo de energia para secagem de (1,5 kg de amêndoas) foi obtido a partir da


energia consumida, considerando a tarifa municipal de 0,67 centavos (tarifa fora ponta),
foi utilizada a equação (2):

C= tarifa x E x dias (2)

C= Custo de energia, R$;


Tarifa= 0,67 centavos, no município;
E= energia consumida, kWh;

De acordo com Silva, Lopes e Melo (2015) foi avaliada a quebra de peso
relacionada a variação de umidade (PQ) e o consumo específico de energia (CEE),
expresso em kJ kg-1, na equação (3 e 4):

𝑈𝑖−𝑈𝑓
PQ= 100−𝑈𝑓 x 100 (3)

PQ= quebra de peso, kg;


Ui= umidade inicial, %;
Uf= umidade final, %.

Energia utilizada pelo secador


CEE= (4)
Quantidade de água removida

2.2.5 Delineamento e análise de dados


O delineamento foi inteiramente casualizado (DIC), configurado em sistema
fatorial 3x3 (temperaturas 30°; 45 ° e 55 °C e tempo de 6; 12 e 18 horas) e contou com 2
repetições cada tratamento, devido a quantidade limitada de amêndoas. Todas as análises
estatísticas foram realizadas com 5% (p>0,05) de probabilidade no software estatístico
SPSS versão 22.0.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Com os dados obtidos observou-se que em função do tempo de utilização do
equipamento (6, 12 e 18 h), a energia consumida foi de 4,4; 8,8 e 13,23 kWh,
respectivamente. Em virtude da tarifa de 0,67 centavos, o custo de energia foi de R$ 2,96;
5,92 e 8,88, respectivamente. No entanto, também é importante verificar se as amêndoas
foram secas adequadamente durante os tempos de secagem determinados.
No município de Tomé-Açu é adotada a secagem ao ar natural pelos produtores,

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com manejo das amêndoas a pleno sol geralmente sobre lonas, com duração em média de
5 dias. No entanto, o estudo por uma proporção propõe a secagem artificial em menos de
24 horas, verificando que obteve valores próximos ao parâmetro recomendado de 8% a
secagem de 55 °C durante 18 horas, com média de 10,96% de água nas amêndoas, como
exposto na Tabela 1.

Tabela 1 - Valores de massa inicial (Mi) e massa final (Mf), em g; número de amêndoas (N.s.); teor de
água (T.a.), %; quebra de peso (PQ), kg e custo específico de energia (CEE), kJ kg-1, para amêndoas de
cacau secas a 55 °C em Tomé-Açu, 2019.
Tratamentos Mi Mf N.s. T.a. PQ CEE
55 °C / 6h 1500 866 661 15,64 486,50 32,64
55 °C / 6h 1500 840 680 15,45 666,13 23,84
55 °C / 12h 1500 731 648 12,64 418,27 75,93
55 °C / 12h 1500 706 677 12,79 502,41 63,21
55 °C / 18h 1500 593,27 659 10,90 590,89 80,62
55 °C / 18h 1500 582 675 11,03 741,32 64,26
Fonte: (Os autores, 2019).

Esse tipo de secagem artificial pode apresentar vantagens segundo Maisnam et al.
(2017) diante a secagem natural, ao considerar condições meteorológicas e o reduzido
desempenho operacional do processo. Ainda, o processo de secagem natural é oneroso,
com duração de 5 a 7 dias para fermentação (ENGELHARDT; ARRIECHE, 2016) e
secagem de 4 a 5 dias (SALES; CÂNDIDA, 2016), pode ser acelerado, com possíveis
melhores condições pós-colheita, agregando maior qualidade ao produto comercializado,
uma vez que os métodos artificiais podem retirar eficientemente a grande quantidade de
água do produto (MAISNAM et al., 2017), como demonstra a fotografia 3.

Fotografia 3 - Fotografia do tratamento com temperatura de 55 °C seco durante 18 horas em Tomé-Açu,


2019.

Fonte: (Os autores, 2019).

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Outro tratamento que poderia atender a necessidade do produtor foi a 45 °C por


18 horas, com teor de água de 11,99%, expresso na tabela 2. Como obstante do esperado,
o tempo de secagem teria que ser aumentado. Por isso, uma alternativa para obter o teor
de água ideal seria a alteração da temperatura no secador, ou até mesmo no fluxo de ar.

Tabela 2 - Valores de massa inicial (Mi) e massa final (Mf), em g; número de amêndoas (N.s.); teor de
água (T.a.), %; quebra de peso (PQ), kg e custo específico de energia (CEE), kJ kg-1, para amêndoas de
cacau secas a 45 °C em Tomé-Açu, 2019.
Tratamentos Mi Mf N.s. T.a. PQ CEE
45°C/6h 1500 938 649 17,32 447,72 35,47
45°C/6h 1500 797 676 14,42 588,53 26,98
45°C/12h 1500 709 666 12,63 727,43 43,66
45°C/12h 1500 775,94 548 11,35 755,48 42,04
45°C/18h 1500 670 664 12,00 357,95 133,09
45°C/18h 1500 658 672 11,97 665,04 71,63
Fonte: (Os autores, 2019).

A pesquisa de Araujo et al. (2018), demonstram a temperatura do ar e as condições


de aceleração durante processos de secagem influentes sob o volume das amêndoas,
outrossim, o estudo de Costa et al. (2015) corrobora aos dados, uma vez que quanto maior
a temperatura para secagem do crambe (Crambe abyssinica) menor o tempo de secagem.
Bem como o trabalho de Morais et al. (2019) para as sementes de mamão (Carica papaya)
(83,08% para 7,22%), houve uma diminuição no teor de água, com temperatura e tempo
de secagem (50 °C/ 11h) aproximados aos obtidos na pesquisa.
Todavia, é importante estar atento a qualidade do produto, uma vez que submetido
a altas temperaturas interfere em sua taxa de remoção de água (BORÉM et al., 2015). São
necessários estudos em relação a qualidade das amêndoas de cacau secas a altas
temperaturas, pois de acordo com Sales e Cândida (2016) a temperatura ideal varia de 35-
50 °C, para manter 90% de qualidade do produto devido as atividades enzimáticas.
Ullmann et al. (2015) descreve que as amêndoas submetidas a altas temperaturas também
podem apresentar percentagem de fissuras.
O maior teor de água foi de 20,36% para a secagem de 30 °C durante 6 horas,
obstante ao desejado, como ilustra a Tabela 3. A secagem a 6 horas em relação as três
temperaturas submetidas apresentaram os maiores teores de água, inviabilizando a
comercialização do produto.

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Tabela 3 - Valores de massa inicial (Mi) e massa final (Mf), em g; número de amêndoas (N.s.); teor de
água (T.a.), %; quebra de peso (PQ), kg e custo específico de energia (CEE), kJ kg-1, para amêndoas de
cacau secas a 30 °C em Tomé-Açu, 2019.
Tratamentos Mi Mf N.s. T.a. PQ CEE
30°C/6h 1500 1011 683 20,95 456,34 34,80
30°C/6h 1500 1000 659 19,77 228,66 69,45
30°C/12h 1500 921 657 17,02 560,01 56,71
30°C/12h 1500 934,45 657 17,43 682,56 46,53
30°C/18h 1500 784 694 14,54 657,51 72,45
30°C/18h 1500 758 674 13,63 423,30 112,54
Fonte: (Os autores, 2019).

Como submetido a condições de temperatura ambiente, em épocas de inverno


amazônico a produção pode ser comprometida, no entanto, 30% dos produtores de cacau
são de pequeno e médio porte, não possuindo infraestrutura adequada para a secagem
(PEREIRA; DAMACENO, 2018).
As condições pós-colheita do cacau na região norte devem ser melhoradas,
buscando alternativas vantajosas ao produtor, pois o estudo de Frazão et al. (2005)
demonstrou que apenas 50% dos produtores possuem estruturas de galpões, utilizados
para armazenar equipamentos e insumos agrícolas, e 13,89% dos produtores possuem
cocho e condições de fermentar o cacau. Com isso, é evidente a possibilidade de
contaminação do produto e sua consequente desvalorização.
Nessa perspectiva, o uso da secagem artificial para o cacau pode diminuir o tempo
de secagem, intensidade de mão-de-obra, tamanho de área necessária para secagem e
condições que possa depreciar o produto (BORÉM; REINATO; ANDRADE, 2015).
Ainda, as amêndoas secas em menor tempo e temperatura (30 °C/ 6 horas)
propiciaram a proliferação de fungos. Condição abordada nos estudos de Souza et al.
(2017), Garuzzo e Pereira (2018) e Gomes Júnior et al. (2018), visto a importância de
obter o teor de água adequado e prever possíveis perdas do produto.
O consumo de energia na secagem está ligado a eficiência do equipamento de
secagem (SILVA; LOPES; MELO, 2015), logo auxilia a comprovar a efetividade de
protótipos secadores. O autor reitera a utilidade ao comparar equipamentos de diferentes
fabricantes, quanto menor o consumo específico de energia mais econômico o
dispositivo. Logo, com os testes realizados em função de temperatura e tempo de
secagem, o consumo específico de energia para (55 °C/18h) foi de 72,44 kJ kg-1. Assim,
o consumo foi de 0.072 MJ kg-1, ou seja, 7,2% de energia consumida. Com o gasto de
energia elétrica pode ocorrer o consumo variável de 2,3 a 10,4% em secadores rotativos,
de 11 a 16,6% em secadores de fluxo cruzado e de 2,5 a 3,3% em secadores de fluxo

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contracorrente/ concorrente (SILVA; LOPES; MELO, 2015).


Ademais, segundo Silva, Lopes e Melo (2015) quanto maior o teor de água da
semente, mais elevado o tempo de secagem, consumindo a energia específica. Em adição,
a pesquisa de Schmidt et al. (2018) admite que há uma grande procura por fontes naturais
para uso energético. Desse jeito, devem ser buscadas práticas que condicionem operações
da secagem para controle da temperatura e fluxo de ar. Mas, atenda as características
operacionais, capacidade de operação, eficiência energética e influência sobre a qualidade
do produto (SILVA; LOPES; MELO, 2015).
Por fim, os secadores desenvolvidos são regidos pelo princípio de custo reduzido
e facilidade na montagem e fabricação (ALMEIDA et al., 2016). Dessa maneira, muitos
estudos têm sido desenvolvidos a fim de proporcionar alternativas para secagem de
diferentes produtos agrícolas, como Lima et al. (2015), Araujo et al. (2018) e Coelho et
al. (2019). Bem como, propor ao agricultor qualidade do produto com tempo e custos de
secagem reduzidos (RESENDE et al., 2015).

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A secagem artificial que atingiu teor de água próximo a 8% foi a 55°C durante
18 horas de secagem, com média de 10,96% de água nas amêndoas;
As sementes secas em menor tempo e temperatura de 30°C por 6 horas propiciou
a proliferação de fungos;
O consumo específico de energia para 55°C durante 18h de secagem foi de 72,44
kJ kg-1, ou seja, 7,2% de energia consumida.

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