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Atividade final

Escolha em segmento de ensino: Educação infantil; Séries


iniciais do ensino fundamental; Séries finais do ensino
fundamental ou Ensino médio e elabore um artigo de
opinião em que você vai abordar quais as contribuições que a
neurociência pode oferecer para o aprendizado bilíngue de
acordo com o segmento escolhido.
Segmento de ensino: Séries finais do Ensino Fundamental.
Público-alvo: professores de língua adicional

A importância da atenção, emoção e memória para o aprendizado da


língua adicional

Diversas pesquisas em neurociências têm demonstrado a importância da


atenção, da emoção e da memória para o aprendizado (Damásio, 2000;
Cozensa & Guerra, 2011; Maturama, 2001). Entretanto, podemos nos
perguntar: como auxiliar nossos alunos a aprenderem melhor e com mais
eficácia sabendo que a atenção é parte fundamental nesse processo? Como
que nossos alunos adolescentes conectados constantemente aos seus
eletrônicos poderiam aprender a focar sua atenção nas aulas e no que a escola
espera deles? Além da atenção, temos a questão da emoção, seria possível
estabelecer vínculos com todos nossos alunos? Digo, com todos os alunos.
Uma resposta honesta à essa pergunta seria: não. Somos seres humanos
dotados de diferentes características e por mais que tentamos estabelecer uma
relação simpática e acolhedora com nossos alunos, não conseguimos
estabelecer vínculo com todos. Por último, a questão da memória. Se estamos
falando em aprendizado de um ou mais idiomas, a memória ocupa um papel
importante na aprendizagem. Para tanto, é preciso da atenção e emoção para
que uma informação consiga atingir a memória de longo prazo.
Vamos começar abordando o processo da atenção. Segundo Silva, 2007 (apud
Santos, 2021, p. 4) “o processo de atenção no ser humano está dividido em
duas categorias sendo elas a atenção involuntária e a atenção voluntária”. A
atenção involuntária, como o nome já diz, é a atenção de algo que desperta a
atenção, os olhos viram rapidamente, devido a algo que chamou a atenção
pelo som ou aparência. Santos (2021) explica que a atenção involuntária é o
que “ocorre diante de eventos inesperados no ambiente, e o indivíduo não é
agente de escolha da sua atenção”. A atenção voluntária “é a que resulta de
uma concentração ativa e envolve a seleção também ativa e deliberada do
indivíduo em uma determinada atividade, ou seja, está diretamente ligada às
motivações, interesses e expectativas” (Santos, 2021). Entendendo esses dois
tipos de atenção, voluntária e involuntária, nos parece que um dos desafios

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do/a professor/a seria promover práticas na sala de aula onde os alunos
pudessem treinar a atenção voluntária. Silva (2021) explica que “é fundamental
que todos os seres vivos tenham a capacidade de receber os estímulos
ambientais, através de seus órgãos sensoriais, de filtrá-los e focar somente
naquele que julgar mais relevante”. Acreditamos que seja muito importante que
nossos alunos sejam capazes de selecionar o que é mais importante e focar na
realização de tarefas da sala de aula voltadas ao aprendizado. Conseguir fazer
essa seleção das atividades que precisamos voltar nosso foco para elas é um
ato de autonomia ou como afirma Silva (2021, p 6) “desenvolver a capacidade
de atenção voluntária é tornar-se alguém cada vez mais senhor de si,
substituindo os diversos estímulos que nos rodeiam por nossa própria força de
escolha”. A atenção voluntária está classificada em quatro formas básicas:
atenção seletiva, atenção alternada, atenção sustentada e atenção dividida
Lima (2005, apud Silva 2021, p. 6). O que seriam esses tipos diferentes de
atenção? Usando exemplos de Lima (2005, apud Silva 2021, p. 4) que explica:
a atenção seletiva seria a capacidade de “manter uma conversa com alguém
em uma festa barulhenta”, a atenção alternada, seria a habilidade de “ler uma
receita de bolo e depois executá-la”, a atenção sustentada, a capacidade de
“manter-se atento durante uma longa reunião ou aula” e, por último, a atenção
dividida, que é “verificar e-mails durante uma reunião”.
Outro aspecto importante para a aprendizagem é a emoção. Silva (2021, p. 4)
explica que “as emoções são disposições para a ação” e segundo Newen
(2009, apud Silva, 2021) “existem quatro funções da emoção: 1. Prepara-nos e
motiva-nos para ações; 2. Possibilita avaliarmos os estímulos do ambiente de
maneira extremamente rápida; 3. Ajuda no controle das relações sociais e 4.
São formas de expressões típicas que indicam aos outros as próprias
intenções”. Silva (2021, p. 15) também nos lembra que “Uma das formas do
aprendizado ocorrer de maneira eficaz e duradoura, é quando ele desperta no
aprendiz alguma emoção ou significado”. Baseada nessa ideia do papel da
emoção promovendo um aprendizado de sucesso, e pensando na primeira
função da emoção “preparar e motivar para ação” acreditamos que a emoção
deva entrar na sala de aula através de temas que conversem com o interesse
dos alunos, acho que precisamos tentar aproximar o mundo deles ao mundo da
escola e vice-versa. Esse é um grande desafio para nós professores,
entretanto acreditamos que seja possível pensar em aulas onde os alunos
possam relacionar o que aprendem com suas vidas e trazer elementos de suas
vidas para tarefas da sala de aula.
Além da importância da atenção e da emoção, abordaremos outro aspecto
importante para a aprendizagem que é a memória. Izquierdo (2019) define
memória da seguinte maneira: “a aquisição de informações, a conservação de
informações e a eventual invocação da informação”. Portanto, na
aprendizagem precisamos adquirir informação, conservá-la e ser possível
acessá-la quando quisermos ou precisarmos. Naturalmente que a memória tem
suas limitações, porém, é possível escolher o que queremos manter na
memória. Além disso, podemos exercitar a memória para podermos reter mais

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informações. Ainda citando Izquierdo (2019) ele afirma que “somos o que
escolhemos esquecer”, dessa forma, podemos escolher o que guardar e o que
não guardar na nossa memória. Mesmo assim, algumas memórias nós não
conseguimos apagar que são as memórias relacionadas a situações de medo
(Izquierdo, 2019). Nos estudos sobre memória, Consenza, 2011; Silva, 2021;
Lent, 2008; entre outros ela é classificada em três tipos: memória sensorial,
memória de curto prazo e memória de longo prazo. A memória sensorial é a
mais breve e acontece por 5 minutos, a memória de curto prazo guarda
informações por segundos, minutos ou até horas e a memória de longo prazo,
como o nome diz, é a que fica na mente por mais tempo. Izquierdo (2011)
explica que “quanto mais contato você tiver com uma informação, revisitando-a
ou utilizando-a, maiores as chances dela se tornar uma memória de longo
prazo”. É por isso que estudar é fundamental para se ter melhor desempenho”.
Pensando no aprendizado dos nossos alunos, e do nosso também, precisamos
interagir o máximo possível com as informações ou com o conteúdo que
estamos estudando ou ensinando para poder lembrar do mesmo no futuro, ou
seja, para que essas informações possam chegar à memória de longo prazo.
Como então, seria possível usar os conhecimentos da neurociência e aplicar
esses conhecimentos sobre atenção, emoção e memória no aprendizado da
língua adicional? Considerando que a aprendizagem mais eficaz passa pelo
interesse dos alunos, uma das possibilidades seria abordar temas de interesse
deles. Pensando nisso, trabalhamos com alunos do 7º ano em um colégio da
rede privada na cidade de São Paulo duas sequências didáticas: a primeira
chamada de Animix e a segunda Product Review. A primeira, animix, foi um
produto de estudo sobre mash-ups. Nesse estudo é sobre a arte de criar
coisas a partir da combinação de elementos de fontes diferentes, artes visuais
e musical e nos esportes. Trabalhamos com os alunos atividades de
compreensão de leitura e vocabulário sobre esse tema. Em seguida, os alunos
leram um novo texto que falava sobre mash-ups de animais, algo bastante
popular entre os adolescentes, a criação da mistura de dois animais formando
um terceiro: esse processo se chama animix. Depois que os alunos leram
sobre animix, eles tiveram que criar os seus próprios animixes e a partir disso,
escrever um texto descrevendo o corpo de seus animixes. e suas habilidades.
Os alunos tiveram momentos de planejamento da escrita e de criação desses
animais e nesse momento pudemos presenciar algo realmente inusitado.
Aquelas classes barulhentas, repletas de alunos inquietos e desatentos
simplesmente ficaram em silêncio, mas era um silêncio de alunos trabalhando
em suas criações. Foi realmente admirável o que pudemos presenciar. Eles só
falavam quando tinham alguma dúvida de vocabulário que queriam usar para
compor o seu animal. Presenciar o envolvimento dos alunos em algo que era
significativo para eles nos deu a oportunidade de ver a teoria na prática. A
atenção deles voltada para essa atividade, o papel da memória ao usar algo
que havíamos estudado nas aulas sendo usado nesse trabalho. O resultado da
produção escrita foram trabalhos criativos e cheio de significado.

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A partir da observação das classes tão envolvidas com essa tarefa significativa
concluímos que precisaríamos proporcionar aos alunos outros momentos
assim. Surgiu então a ideia da produção escrita sobre Product Review, ou uma
resenha sobre produtos. O tema da próxima unidade era tecnologia e
aplicativos. A partir daí criamos uma sequência didática onde os alunos leram
sobre o tema, estudaram vocabulário e o aspecto gramatical era comparativos.
Puderam ler também uma avaliação, Product Review, de dois jogos
pedagógicos bastante usados nas aulas em duas plataformas diferentes,
Kahoot e Quizlet. Posteriormente, eles tiveram que redigir um texto avaliando
dois aplicativos. Trabalhamos em classe a estrutura de parágrafo, sentença
tópico, explicação dos produtos, comparação e a conclusão ou opinião deles
sobre os produtos. Novamente o resultado foi positivo.
Um outro ganho nesse trabalho é que conseguimos substituir uma prova de
leitura, gramática e vocabulário, por esse trabalho de produção escrita.
Pudemos notar que no trabalho eles usaram o vocabulário estudado, a
estrutura gramatical proposta, os comparativos e puderam usar a língua
adicional para expressar suas ideias e isso foi incrível porque notamos que eles
tinham muito a dizer.
Através da experiência com esses trabalhos descritos nesse artigo, os quais
foram elaborados a partir do conhecimento sobre neurociência estudados
nesse módulo, podemos concluir que conseguimos trazer a emoção para a
sala de aula com propostas de trabalhos com temas significativos. Além disso,
ao realizar essas atividades os alunos exercitaram a atenção voluntária e ao
entrar em contato com os temas estudados de diferentes maneiras e em
diferentes momentos acreditamos que os conhecimentos tenham mais chances
de terem passado para a memória de longa duração.
Para finalizar, gostaria de ressaltar a importância de conhecer novas teorias e
poder entender mais profundamente nossas ações pedagógicas no ensino da
língua adicional. Ao entender as bases científicas da nossa prática, podemos
ter mais consciência do que fazemos e porque fazemos. Isso nos permite fazer
escolhas informadas sobre nossas ações e possibilitar maior aprendizado dos
nossos alunos.

Referências bibliográficas:
COSENZA, Ramon Moreira; GUERRA, Leonor Bezerra. Neurociência e
educação: como o cérebro aprende. Porto Alegre: Artmed, 2011.

DAMÁSIO, António, (2000). O Erro de Descartes – Emoção, Razão e Cérebro


Humano. 21ª ed., Lisboa, Publicações Europa América. 2000.

DAMÁSIO, Antônio. O Sentimento de Si, Tradução de M. F. M revista pelo


autor Europa-América, 2000.

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IZQUIERDO, Ivan. (2019) Memória. Entrevistado por Drauzio Varela. Video no
Youtube. https://www.youtube.com/watch?v=SbsJh-W-lDc Acesso em
25/09/2021.
LIMA, Ricardo Franco. (2005) Compreendendo os mecanismos atencionais.
Ciências e Cognição. Vol. 6, 113-122. 2005.

LENT, ROBERTO. Neurociência da mente e do comportamento. São Paulo:


Guanabara
Koogan, 2008.
MATURANA, H.R. Cognição ciência e vida cotidiana. Organizadores: Magro,C;
Paredes, V. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2001.

MULLER, M. e SILVA, A., 2020. Como utilizar a neurociência a favor da


Educação? Podcast Aprender Brasil.
https://sistemaaprendebrasil.com.br/2020/09/17/10-como-utilizar-a-
neurociencia-a-favor-da-educacao/ Acesso em 25/09/2021.

NEWEN, Albert e ZINCK, Alexandra. O jogo das emoções. Mentes & Cérebro.
n. 195, p.38-45, abr. 2009. Disponível em http://www.claudetedemorais.com.br/
emocoes2.html. Acesso em maio de 2011.
SANTOS, Adriessa (2021). “Neurociência e práticas pedagógicas para
educação bi/multilíngue”
https://alumia.instructure.com/courses/361/pages/apresentacao-do-modulo.
Acesso em 27/09/2021.

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