Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
NOVEMBRO DE 2011
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .....................................................................................................01
PRIMEIRA PARTE
CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
SEGUNDA PARTE
DUAS TRADIÇÕES INTELECTUAIS: OCIDENTE E CHINA
4. A RAZÃO DO OCIDENTE
5. A RAZÃO DA CHINA
QUARTA PARTE
O DIREITO OCIDENTAL E A EXPERIÊNCIA NORMATIVA CHINESA
Em vista de tudo que vimos até aqui, o Direito não pode ser
compreendido, como se tende a pensar no Ocidente, como um elemento
da vida que aparece necessariamente em qualquer sociedade. Trata-se
de um produto cultural, o que significa dizer que ele é uma construção de
um determinado grupo social, cujo sentido foi elaborado, transmitido e
continuamente renovado ao longo de um contexto histórico que lhe é
próprio.
179
Marcelo Maciel Ramos
334 τό καθόλου é a palavra grega que se traduz por universal. Ela compreende, em sua
origem, a noção de geral, de totalidade.
180
A invenção do Direito pelo Ocidente
181
Marcelo Maciel Ramos
182
A invenção do Direito pelo Ocidente
183
Marcelo Maciel Ramos
tentando compreender aquilo que faz dele o que ele é, isto é, aquelas
perspectivas que fazem com que ele pense o mundo como ele o faz.
184
A invenção do Direito pelo Ocidente
339 Vide VADET, Jean-Claude. Les Idées morales de l’islam. Paris: PUF, 1995; BLOOM, Harold.
Jesus e Javé. Os Nomes Divinos. Trad. José Roberto O’Shea. Rio de Janeiro: Objetiva, 2006. É
interessante notar que o cristianismo, religião ocidental por excelência, funda-se, ao
contrário, na superação de qualquer pertencimento étnico e numa mensagem que
ultrapassa todas as perspectivas e restrições comunitárias.
340JULLIEN, De l’Universel, de l’Uniforme, du Commun et du Dialogue entre les Cultures, cit.,
p. 110.
341DAVID, René. Os Grandes Sistemas do Direito Contemporâneo. Trad. Hermínio A.
Carvalho. São Paulo: Martins Fontes, 1986, p. 437. Vide, ainda, ZIMMER; CAMPBELL, Filosofias
da Índia, cit. Além disso, um interessante estudo sobre os universais da Índia é o trabalho de
DRAVID, Raja Ram. The Problem of Universals in Indian Philosophy. 2 ed. Delhi: Motila
Banarsidass, 2001.
185
Marcelo Maciel Ramos
186
A invenção do Direito pelo Ocidente
345 Diz Aristóteles: “Há, de fato, duas coisas que se pode a justo título atribuir a Sócrates, os
raciocínios por indução e a definição pelo universal, pois estes procedimentos estão os dois
no princípio da ciência” [« Il y a, en effet, deux choses qu’on pourrait à juste titre attribuer à
Socrate, les raisonnements par induction et la définition par l’universel, car ces procédés
sont tous les deux au principe de la science »]. ARISTOTE, Métaphysique, cit., p. 415 (1078b,
25). No texto original: “δύο γάρ ἐστιν ἅ τις ἂν ἀποδοίη Σωκράτει δικαίως, τούς τ᾽ἐπακτικοὺς λόγους
καὶ τὸ ὁρίζεσθαι καθόλου: ταῦτα γάρ ἐστιν ἄμφω περὶ ἀρχὴν ἐπιστήμης”. ARISTOTLE. Metaphysics,
1078b, 25. In: Perseus Digital Library (http://www.perseus.tufts.edu/hopper/text?doc=Pers
eus%3Atext%3A1999.01.0051%3Abook%3D13%3Asection%3D1078b; acesso julho de 2010).
(grifo nosso).
346 ABBAGNANO, Dicionário de Filosofia, cit., p. 1169. PLATÃO, Parmênides, 131a e 132a.
347 ARISTÓTELES. Organon. Trad. Edson Bini. 2 ed. Bauru: Edipro, 2009, Parte II, 7, 17 a 39.
187
Marcelo Maciel Ramos
188
A invenção do Direito pelo Ocidente
189
Marcelo Maciel Ramos
190
A invenção do Direito pelo Ocidente
191
Marcelo Maciel Ramos
PLATÃO. A República. Trad. Maria Helena da Rocha Pereira. 9 ed. Lisboa: Fundação
348
192
A invenção do Direito pelo Ocidente
193
Marcelo Maciel Ramos
350 Nesse mesmo sentido, vide VERNANT, Les Origines de la Pensée Grecque, cit., p. 47.
351Veja-se que, em grego, com o mesmo vocábulo que se diz palavra, se diz razão: λόγος
(lógos).
194
A invenção do Direito pelo Ocidente
352« La parole n’est plus le mot rituel, la formule juste, mais le débat contradictoire, la
discussion, l’argumentation » [A palavra não é mais o ‘termo’ ritual, a fórmula justa, mas o
debate contraditório, a discussão, a argumentação]. VERNANT, Les Origines de la Pensée
Grecque, cit., p. 45.
353 VERNANT, Les Origines de la Pensée Grecque, cit., p. 46-47. No original: « La culture
grecque se constitue en ouvrant à une cercle toujours plus large — finalement au dèmos
tout entier — l’accès au monde spirituel réservé au départ à une aristocratie de caractère
guerrier et sacerdotal (l’épopée homérique est un premier exemple de ce processus : une
poésie de cour, chantée d’abord dans les salles des palais, s’en évade, s’élargit, et se
transpose en poésie de fête). Mais cet élargissement comporte une profonde
transformation. En devenant les éléments d’une culture commune, les connaissances, les
valeurs, les techniques mentales sont elles-mêmes portées sur la place publique, soumises à
critique et à controverse. Elles ne sont plus conservées, comme gages de puissance, dans le
secret de traditions familiales ; leur publication nourrira des exégèses, des interprétations
diverses, des oppositions, des débats passionnés. Désormais la discussion, l’argumentation,
la polémique deviennent les règles du jeu intellectuel, comme du jeu politique ».
195
Marcelo Maciel Ramos
196
A invenção do Direito pelo Ocidente
197
Marcelo Maciel Ramos
uma das mais antigas coletâneas de leis de que se tem notícia, traz no
topo da pedra em que está inscrito a figura do rei Hamurabi diante do
deus Shamash (o deus sol), recebendo dele as leis. As principais leis dos
hebreus, contidas na Torá, apresentam-se, do mesmo modo, como leis
reveladas pelo deus Javé a Moisés355.
355“O Senhor disse a Moisés: Sobe para mim ao monte, e deixa-te estar aí; eu te darei as
tábuas de pedra, a lei e os mandamentos, que escrevi, para lhos ensinares”. Êxodo 24, 12-
18 In: BÍBLIA SAGRADA. Tradução da Vulgata pelo Pe. Matos Soares. 34 ed. São Paulo:
Edições Paulinas, 1977.
356 ARISTÓTELES. A Constituição de Atenas. Trad. Therezinha M. Deutsch. São Paulo: Nova
Cultural, 2000, p. 259-260 (7, 3-4). LEÃO, Delfin Ferreira. Sólon: Ética e Política. Lisboa:
Calouste Gulbenkian, 2001, p. 301. Uma das importantes reformas promovidas por Sólon foi
a de estender à qualquer cidadão a prerrogativa de instaurar processos judiciais e a de
atribuir ao dikasterion, espécie de tribunal popular, a responsabilidade por decidir acerca
de todos os assuntos, públicos e privados. LEÃO, Sólon: Ética e Política, cit. p. 323. “Assim, se
alguém fosse vítima de maus tratos, violência ou dano, era permitido, a quem pudesse e
desejasse, acusar e perseguir o culpado”. PLUTARCO, Sol., 18, 6-7 apud LEÃO, Sólon: Ética e
Política, cit. p. 361-362.
357 LOPES, José Reinaldo Lima. O Direito na História. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2008, p. 27.
198
A invenção do Direito pelo Ocidente
199
Marcelo Maciel Ramos
360ROMILLY, Jacqueline de. La Loi dans la Pensée Grecque: des origines à Aristote. 2 ed.
Paris: Les Belles Lettres, 2002, p. 12-13. « Or, avec l’apparition de la démocratie, la loi prit à
Athènes le sens qui devait faire son originalité dans la pensée grecque. Mieux que quelques
principes généraux fixes au nom d’une révélation divine, mieux que de simples règles
pratiques réglant la punition de certains crimes, les lois, en régime démocratique, devaient
régler, avec l’accord de tous, les divers aspects de la vie commune ; et leur autorité devait
ainsi se substituer à toute souveraineté d’un individu ou d’un groupe, sentie dès lors comme
une offense ».
TUCÍDIDES. História da Guerra do Peloponeso. Trad. Mário da Gama Curi. 3 ed. Brasília:
361
200
A invenção do Direito pelo Ocidente
362 Em tradução livre da versão em ingles: “You have made a false beginning to your
speech, stranger, in seeking a despot here. For this city is not ruled by one man, but is free.
The people rule in succession year by year, allowing no preference to wealth, but the poor
man shares equally with the rich.[…] Nothing is more hostile to a city than a despot; where
he is, there are first no laws common to all, but one man is tyrant, in whose keeping and in
his alone the law resides, and in that case equality is at an end”. EURIPIDES. The Suppliants.
Trad. E. P. Coleridge. In: OATES, Whitney J.; O'NEILL, Eugene (Org.). The Complete Greek
Drama. New York: Random House, 1938, 403-408; 429-434.
201
Marcelo Maciel Ramos
202
A invenção do Direito pelo Ocidente
θέμης (thémis) deriva da raiz indo-iraniana dhē- (mesma raiz de dharma), a qual significa
367
colocar, estabelecer367. Δίκη (díke) tem como raiz deik (cujos correspondentes nominais em
sânscrito é dis — direção, região — e no latim, dix, que sobrevive na locução dicis causa —
pela forma, ou no verbo dico, dizer). BENVENISTE, Le Vocabulaire des Institutions Indo-
européennes, cit., p. 107-108.
368 BENVENISTE, Le vocabulaire des institutions indo-européennes, v.2, cit., p. 102.
369BENVENISTE, Le vocabulaire des institutions indo-européennes, v.2, cit., p. 103. « la thémis
est d’origine divine. […] Dans l’épopée, on entend par thémis la prescription qui fixe les
droits et les devoirs de chacun sous l’autorité du chef du génos, que ce soit dans la vie de
tous les jours à l’Intérieur de la maison ou dans les circonstances exceptionnelles : alliance
mariage, combat. La thémis est l’apanage de basileús, qui est d’origine céleste, et le pluriel
thémistes indique l’ensemble de ces prescriptions, code inspiré par les dieux, lois non écrites,
recueil de dits, d’arrêts rendus par les oracles, qui fixent dans la conscience du juge (en
l’espèce, le chef de la famille) la conduite à tenir toutes les fois que l’ordre du génos est en
jeu ».
370 BENVENISTE, Le vocabulaire des institutions indo-européennes, v.2, cit., p. 104-105.
203
Marcelo Maciel Ramos
371 HOMERO. Ilíada. Trad. Cascais Franco. Lisboa: Europa-América, s/a, p. 125. No original
tem-se: « Ἀτρεΐδη κύδιστε ἄναξ ἀνδρῶν Ἀγάμεμνον ἐν σοὶ μὲν λήξω, σέο δ᾽ ἄρξομαι, οὕνεκα πολλῶν
λαῶν ἐσσι ἄναξ καί τοι Ζεὺς ἐγγυάλιξε σκῆπτρόν τ᾽ ἠδὲ θέμιστας, ἵνά σφισι βουλεύῃσθα ». HOMER.
Iliad, 9, 96-99. In: HOMER. Homeri Opera. Oxford: Oxford University Press, 1920 (grifo nosso).
372 BENVENISTE, Le Vocabulaire des Institutions Indo-européennes, v.2, cit., p. 111.
VERNANT, Jean-Pierre; VIDAL-NAQUET, Pierre. Mito e Tragédia na Antiga Grécia. Trad.
373
204
A invenção do Direito pelo Ocidente
374 VERNANT; VIDAL-NAQUET, Mito e Tragédia na Antiga Grécia, cit., p. 28. Ainda, conforme
Vernant: “O herói confronta-se com uma necessidade superior que se impõe a ele, que o
dirige, mas, por um movimento próprio de seu caráter, ele se apropria dessa necessidade,
torna-a sua a ponto de querer, até desejar apaixonadamente aquilo que, num outro
sentido, é constrangido a fazer". VERNANT; VIDAL-NAQUET, Mito e Tragédia na Antiga
Grécia, cit., p. 28.
375 SNELL, Bruno. A Descoberta do Espírito. Trad. Artur Morão. Lisboa: Edições 70, 1992, p. 92.
205
Marcelo Maciel Ramos
206
A invenção do Direito pelo Ocidente
207
Marcelo Maciel Ramos
sua pessoa”. E completa: “O agente está preso na ação. Não é seu ator.
Permanece incluso nela”378.
208
A invenção do Direito pelo Ocidente
209
Marcelo Maciel Ramos
210
A invenção do Direito pelo Ocidente
211
Marcelo Maciel Ramos
389GASSNER, John. Mestres do teatro. Trad. Alberto Guzik e J. Guinsburg. São Paulo:
Perspectiva, 1974, p. 45-47.
390 SÓFOCLES. Antígona. Trad. Donaldo Schüler. Porto Alegre: L&PM, 1999, p. 35-36 (449-459).
391 BONAVIDES, Paulo. Teoria do Estado. 3 ed. São Paulo: Malheiros, 1999, p. 353.
212
A invenção do Direito pelo Ocidente
392A esse propósito, Jacqueline de Romilly propõe um detalhado exame dos discursos e
dos dilemas que permeavam os espíritos gregos entre os séculos V e IV a.C. Vide ROMILLY,
La Loi dans la Pensée Grecque, cit., p. 200 et seq.
213
Marcelo Maciel Ramos
214
A invenção do Direito pelo Ocidente
215
Marcelo Maciel Ramos
BONAVIDES, Teoria do Estado, cit. p. 354. ROMMEN, Henri. Le Droit Naturel: Histoire-
397
216
A invenção do Direito pelo Ocidente
217
Marcelo Maciel Ramos
218
A invenção do Direito pelo Ocidente
Romilly ensina, ainda, que “as leis platônicas são o que a Grécia
conheceu que mais se aproxima de uma lei revelada”408. Não é por menos
que seu fundamento metafísico (racional) e sua inspiração divina serão
mais tarde aproveitados e recombinados pelo cristianismo na construção
de sua doutrina.
219
Marcelo Maciel Ramos
“Ao termo deste longo debate sobre a lei, que, depois de cerca
de um século, havia tão fortemente encantado os espíritos, e que
lhes havia feito descobrir, ao longo do caminho, a relatividade da
lei e sua utilidade prática, sua significação política e sua carga
religiosa, sua influencia e seus méritos, reencontra-se, pois, a
confiança inicial dos gregos na soberania da lei. Porém, no lugar
de uma confiança inocente e espontânea, trata-se agora de uma
confiança filosoficamente fundada, em uma lei filosoficamente
estabelecida. E o que havia começado na euforia de um Estado
de fato completa-se em uma vasta perspectiva para os futuros
legisladores”409.
409 ROMILLY, La Loi dans la Pensée Grecque, cit., p. 200. « Au terme de ce long débat sur la
loi, qui, depuis un siècle environ, avait si fort passionné les esprits, et qui leur avait fait
découvrir, chemin faisant, la relativité de la loi et son utilité pratique, sa signification
politique et sa portée religieuse, son influence et ses mérites, on retrouve donc la confiance
initiale des Grecs dans la souveraineté de la loi. Mais, au lieu d’un confiance naïve et
spontanée, c’est à présent une confiance philosophiquement fondée, en une loi
philosophiquement établie. Et ce qui avait commencé dans l’euphorie d’un état de fait
s’achève dans une vaste perspective à l’intention des législateurs à venir ».
410 ARISTÓTELES, Política, cit., p. 243 (Livro III, 15).
220
A invenção do Direito pelo Ocidente
mesma força em todos os lugares e não existe por pensarem os homens deste ou daquele
modo. [...] “De qualquer modo, existe uma justiça por natureza e outra por convenção”.
ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco, cit., p. 117-118 (1134b, 20-25).
414 SALGADO, A Idéia de Justiça em Kant, cit., p. 41.
221
Marcelo Maciel Ramos
222
A invenção do Direito pelo Ocidente
223
Marcelo Maciel Ramos
224
A invenção do Direito pelo Ocidente
225
Marcelo Maciel Ramos
individual417. Ele volta-se para o seu interior, onde acredita poder encontrar
a razão (o lógos) imanente ao mundo e, conseqüentemente, a razão de
uma ação ética, pela qual poderia realizar a essência de sua natureza
humana.
226
A invenção do Direito pelo Ocidente
419 MATOS, O Estoicismo Imperial como Momento da Idéia de Justiça, cit., p. 136 et 321.
420 VAZ, Escritos de Filosofia IV, cit., p. 157.
421 MATOS, O Estoicismo Imperial como Momento da Idéia de Justiça, cit., p. 136.
227
Marcelo Maciel Ramos
422Essa igualdade essencial entre todos os homens é, segundo Salgado, um conceito que
já havia aparecido entre os pitagóricos. SALGADO, A Idéia de Justiça em Kant, cit., p. 46.
423CÍCERO, Marco Túlio. Da República. Trad. Amador Cisneiros. São Paulo: Abril Cultural,
1973, p. 156 (I, XXXII).
424 MATOS, O Estoicismo Imperial como Momento da Idéia de Justiça, cit., p. 191.
228
A invenção do Direito pelo Ocidente
vítima do ódio e das demais paixões, sem com isso mudar nada na
ordem cósmica, da qual somos apenas soldados que devem
obediência ao grande general Zeus, razão personificada.
Entretanto, graças à identificação entre homens e deuses, estes
não são vistos pelo estoicismo como seres superiores aos humanos.
Ambos são cidadãos do Estado universal cósmico, de modo que o
sábio não se curva ao destino. Ele não obedece a deus, mas
comparte a sua opinião (non pareo deo, sed adsentior). Por isso,
quanto mais a razão particular do homem se aproxima da razão
universal do cosmo-deus, mais livre ele se torna”425.
425 MATOS, O Estoicismo Imperial como Momento da Idéia de Justiça, cit., p. 182-183.
426 MATOS, O Estoicismo Imperial como Momento da Idéia de Justiça, cit., p. 193.
229
Marcelo Maciel Ramos
230
A invenção do Direito pelo Ocidente
231
Marcelo Maciel Ramos
232
A invenção do Direito pelo Ocidente
233
Marcelo Maciel Ramos
vontade constante e perpétua de dar a cada um o seu direito). Cf. Dig. 1.1.10 pr. (Utilizou-
se, aqui, a edição bilíngüe Latim-Português do Digesto organizada e traduzida por Hélcio
Madeira: DIGESTO DE JUSTINIANO. Líber Primus. 3 ed. São Paulo: RT, 2005, p. 21).
437 HORTA, História do Estado de Direito, cit., p. 240.
438 SALGADO, A Idéia de Justiça no Mundo Contemporâneo, cit., p. 70.
439 SALGADO, A Idéia de Justiça no Mundo Contemporâneo, cit., p. 70.
440 SALGADO, A Idéia de Justiça no Mundo Contemporâneo, cit., p. 71.
441 SALGADO, A Idéia de Justiça no Mundo Contemporâneo, cit., p. 68.
234
A invenção do Direito pelo Ocidente
235
Marcelo Maciel Ramos
444A palavra latina civitas/civitatis, de onde derivou o vocábulo cidade, tinha, naqueles
tempos, não o sentido físico e territorial que hoje guarda, mas significava uma comunidade
de pessoas, o conjunto de cidadãos (de civis). A palavra quiris/quiritis tinha um uso muito
aproximado: ora era utilizada para se referir ao habitante da comunidade, ora à própria
comunidade de cidadãos. A palavra quiris significava, ainda, lança ou dardo, símbolo da
guerra e do grupo de aristocratas que ela passa designar.
445 RAMOS, Marcelo Maciel. O Direito Romano Primitivo: Do ritualismo religioso ao formalismo
jurídico. (Artigo apresentado no XIX Congresso Nacional do CONPEDI, em Florianópolis,
realizado entre os dias 13 e 16 de outubro de 2010. O texto será disponibilizado, em breve,
na versão virtual dos anais do Congresso, em: http://www.conpedi.org.br/conteúdo
.php?id=2).
236
A invenção do Direito pelo Ocidente
237
Marcelo Maciel Ramos
E completa o autor:
448GARCIA-GALLO, Alfonso. Antologia de Fuentes del antigo Derecho. Madrid: s/e, 1967, p.
161 apud GILISSEN, Introdução Histórica do Direito, cit., p. 94. Tal fato está relatado no
Digesto de Justiniano da seguinte maneira: “Os que estiverem no Império Romano, por
uma constituição do imperador Antonino [Caracala], foram feitos cidadãos romanos” (in
orbe romano qui sunt ex contitutione imperatoris Antonini cives Romani effecti sunt). D.
1.5.17 (DIGESTO DE JUSTINIANO, cit., p. 62).
449 GAIUS. Institutes. Trad. Julien Reinach. Paris: Les Belles Lettres, 1950, p. 2-3 (I, 9-15).
450O termo deriva da junção dos termos Κόσμου (kosmos) e Πολίτης (polites), que expressava
a noção de cidadão do cosmos, isto é, do mundo. Em latim: civitas universa.
451 MATOS, O Estoicismo Imperial como Momento da Idéia de Justiça, cit., p. 349.
452 MATOS, O Estoicismo Imperial como Momento da Idéia de Justiça, cit., p. 334-335.
238
A invenção do Direito pelo Ocidente
453 MATOS, O Estoicismo Imperial como Momento da Idéia de Justiça, cit., p. 309-314.
454 LAFERRIERE, Louis Firmin Julien. Mémoire concernant l’influence du stoicisme sur la
doctrine des jurisconsultes romains : lu dans les séances des 2, 9, 16 juillet 1859. Extrait du
tome X des mémoires de l’Académie des Sciences Morales et Politiques. Paris: Institut
Impérial de France/Typographie de Firmin Didot Frères, Fils et Cie, 1860, p. 24. « Ils se
servaient de la théorie pour éclairer la pratique des choses de la vie, pour la diriger, la
modifier, la transformer ».
239
Marcelo Maciel Ramos
455 MATOS, O Estoicismo Imperial como Momento da Idéia de Justiça, cit., p. 346.
456 HORTA, História do Estado de Direito, cit., p. 247.
457 NOBREGA, Compêndio de Direito Romano, cit., p. 107-108.
240
A invenção do Direito pelo Ocidente
Segundo Horta:
241
Marcelo Maciel Ramos
459 “A locução Estado de Direito foi cunhada na Alemanha: é o Rechtstaat. Aparece num
livro de Welcker, publicado em 1813, no qual se distinguem três tipos de governo:
despotismo, teocracia e Rechtstaat. Igualmente foi na Alemanha que se desenvolveu, no
plano filosófico e teórico, a doutrina do Estado de Direito. Nas pegadas de Kant, Von Mohl
e mais tarde Stahl lhe deram a feição definitiva”. FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves.
Estado de Direito e Constituição. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 1999, p. 5. “Não obstante, é
corrente nos círculos hegelianos, de Jean Hyppolite a Paulo Meneses, a tradução da
expressão Rechtszustand, utilizada por Hegel na Fenomenologia do Espírito, de 1807, como
Estado de Direito. É interessante anotar o parentesco etimológico entre staat e zustand,
palavras alemãs de raízes greco-latinas, onde aparece a partícula st, cuja carga
semântica traduz exata e precisamente a idéia de estabilidade. Ora, descobrimos em
Michelangelo Bovero que Hegel utiliza a expressão Rechtzustand em oposição a
Naturzustand, nelas representando o estado civil contraposto ao estado natural”. HORTA,
História do Estado de Direito, cit., p. 34-35.
460A propósito dos direitos humanos, vale conferir o profundo estudo elaborado por
COMPARATO, Fábio Konder. A Afirmação Histórica dos Direitos Humanos. 7 ed. São Paulo:
Saraiva, 2010.
461Mariá Brochado observa que a palavra ética traduz toda a normatividade humana,
expressão necessária da própria vida social. O termo é uma derivação do vocábulo latino
ethos, “que significa sinteticamente toda produção normativa da cultura”. BROCHADO,
Direito e Ética, cit., p. 15.
242
A invenção do Direito pelo Ocidente
462 Sobre a formação da ciência jurídica européia a partir da alta Idade Média, é
indispensável a leitura de HESPANHA, António Manuel. Cultura Jurídica Européia. Síntese de
um Milênio. Florianópolis: Fundação Boiteux, 2005, p. 121 et seq.
463 O Direito romano, conhecido através do Corpus Iuris Civiles (das compilações de
Justiniano), recém redescobertas, “teve sobre o sentimento jurídico medieval a força de
uma revelação no plano do direito”. WIEACKER, Franz. História do Direito Privado Moderno.
Trad. Antônio Manuel Hespanha. 3 ed. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 2004, p. 43.
464 HESPANHA, Cultura Jurídica Européia, cit., p. 60-61.
243
Marcelo Maciel Ramos
244
A invenção do Direito pelo Ocidente
466Sêneca dirá que a razão que está em nós não é senão uma parte do espírito divino
posto dentro do corpo humano. SÊNECA, Cartas a Lucilio, LXVI, 12, p. 173 apud MATOS, O
Estoicismo Imperial como Momento da idéia de Justiça, cit., p. 135.
467 Segundo José Luiz Borges Horta, “somos feitos à imagem e semelhança deste Deus-
homem. Portanto, cada um de nós é criado à imagem e semelhança do Cristo e se somos
criados à imagem e semelhança do Cristo, devemos ser respeitados com a dignidade com
a qual respeitaríamos o Cristo: ‘Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti
mesmo’, como na feliz proclamação que o Cristo planetário teria feito e está consagrada
nos Evangelhos”. HORTA, História do Estado de Direito, cit., p. 243. Ainda, na epístola aos
romanos, Paulo afirma: “Pois não há distinção entre judeu e grego, uma vez que o mesmo
é o Senhor de todos”. ROMANOS 10, 12 (BÍBLIA SAGRADA. Trad. Pe. Matos Soares. 34 ed.
São Paulo: Paulinas, 1977).
245
Marcelo Maciel Ramos
246
A invenção do Direito pelo Ocidente
247
Marcelo Maciel Ramos
473 SALGADO, O Estado Ético e o Estado Poiético. Revista do Tribunal de Contas do Estado
248
A invenção do Direito pelo Ocidente
E completa o autor:
249
Marcelo Maciel Ramos
250
A invenção do Direito pelo Ocidente
251
Marcelo Maciel Ramos
no Estado romano, mas o que declara os direitos dos indivíduos e estabelece a forma do
exercício do poder pelo povo”. SALGADO, O Estado Ético e o Estado Poiético, cit., p. 51.
485 A esse propósito vide o item 6.5.
Conforme Horta: “A ideologia da liberdade possui, contudo, uma evolução complexa,
verificada a partir das grandes contradições que seus fautores trouxeram; o liberalismo
252
A invenção do Direito pelo Ocidente
253
Marcelo Maciel Ramos
254
A invenção do Direito pelo Ocidente
489O abstrato, segundo Hegel, é aquilo que foi extraído, cindido, tomado em separado da
realidade efetiva. É a particularidade de algo em oposição à sua totalidade. O conteúdo
da realidade, entretanto, não é senão a plenitude de seu desenvolvimento, a sua
totalidade. E visto que o real se mostra num movimento constante, o sistema hegeliano
busca apreender o real (o efetivo) em seu próprio mover-se, isto é, segundo o processo
dialético pelo qual seus vários momentos se apresentam. A propósito, escrevemos: RAMOS,
A Dialética Hegeliana. In. SALGADO; HORTA, Hegel, Liberdade e Estado, cit., p. 21-32;
RAMOS, Marcelo Maciel. O Estado no Pensamento de Hegel. In. SALGADO; HORTA, Hegel,
Liberdade e Estado, cit., p. 215-228.
490SALGADO, A Idéia de Justiça em Hegel, cit., p. 278. É no Ocidente, a partir do mundo
greco-romano, que o indivíduo se destaca da totalidade (político-religiosa) na qual se
integra, passando a buscar em si mesmo os fundamentos da sua ação e do seu
conhecimento. Sem essa cisão, segundo Hegel, o homem não poderia opor à liberdade
exterior a sua liberdade interior. Desse modo, sua ação e seu conhecimento quedariam
determinados externamente (seja pela autoridade política, suposto representante da
vontade coletiva, seja pelos preceitos religiosos, cuja razão não pode ser questionada).
RAMOS, O Estado no Pensamento de Hegel In. SALGADO; HORTA, Hegel, Liberdade e
Estado, cit., p. 220.
491LEFEBVRE, Jean-Pierre; MACHEREY, Pierre. Hegel e a Sociedade. Trad. Thereza Christina
Ferreira Stummer e Lygia Araujo Watanabe. São Paulo: Discurso Editorial, 1999, p. 20-21.
492LEFEBVRE; MACHEREY, Hegel e a Sociedade, cit., p. 23. Ainda, conforme Salgado: “o
destaque intelectual da cultura da Roma imperial que deu nascimento a um novo Estado
e concluiu um processo ético substancial, o direito, que a visão hegeliana unilateralizou no
255
Marcelo Maciel Ramos
político, interpretado como decadência, mas que na verdade era momento superior ao
da democracia ateniense, porque abria o caminho para o processo de aparecimento de
um novo Estado, cujo resultado é o Estado de Direito”. SALGADO, A Idéia de Justiça no
Mundo Contemporâneo, cit., p. 119.
493 SALGADO, A Idéia de Justiça em Hegel, cit., p. 402.
494 SALGADO, A Idéia de Justiça em Hegel, cit., p. 412.
495 “Vivemos o renascer da barbárie, muitas vezes perpetrada com a força do próprio
Estado, mas sem dúvida imperante na fragilidade do Estado de Direito, que urge evitar:
Não há nenhum modo de triunfar sobre o caos, senão a conjugação de esforços na
construção do Estado da plenitude humana”. HORTA, História do Estado de Direito, cit., p.
23.
256
A invenção do Direito pelo Ocidente
496 HORTA, História do Estado de Direito, cit., p. 239. Ainda, segundo o autor: “A análise dos
diferentes padrões, ou paradigmas, que o Estado de Direito pós-revolucionário tem
assumido deve considerar, portanto, a hipótese de que, afinal, os direitos fundamentais
venham ocupando papel nuclear na estruturação do Estado. No caminhar da História,
percebemos com maior nitidez os diferentes contornos que o Estado de Direito vem
tomando — de sua consagração como forma política, sobretudo com a Revolução
Francesa, aos tempos hodiernos, parece-nos conveniente visualizar três etapas sucessivas
de evolução. É o que se poderia chamar paradigmas. A caminho da Liberdade, os
homens consagraram valores complementares, traduzidos em momentos sucessivos numa
história coerente. Parece-nos que o Estado de Direito possui três grandes momentos (e seus
conseqüentes paradigmas): 1. O Estado liberal de Direito, forjado na Era das Revoluções; 2.
O Estado social de Direito, exigido desde meados do século XIX (sobretudo, com o
Manifesto Comunista de 1848) e consagrado, como se verá, na República alemã de
Weimar, cuja constituição data de 1919; 3. O Estado democrático de Direito, esboçado na
Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948, e ainda em processo de construção
(intelectual, normativa e fática)”. HORTA, História do Estado de Direito, cit., p. 46.
497 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 9 ed. São Paulo:
Malheiros, 1992, p. 161. Além disso, esclarece Mariá Brochado que, embora os termos
direitos humanos e direitos fundamentais sejam empregados recorrentemente como
sinônimos, os primeiros representam “aqueles valores ínsitos à pessoa humana,
indispensáveis ao seu desenvolvimento”. Eles constituem o conteúdo material (exigência
universal da razão), formalizados (positivados) nas ordens jurídicas enquanto direitos
fundamentais. BROCHADO, Direito e Ética, cit., p. 122.
498 HORTA, História do Estado de Direito, cit., p. 240.
257
Marcelo Maciel Ramos
258