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ESTADO MODERNO: DO ABSOLUTISMO AO Estado Moderno e Capitalismo

Marjorie Corrêa Marona


LIBERALISMO AO CONSTITUCIONALISMO LIBERAL (2023/02)
MODERNIDADE: CONDIÇÕES DE POSSIBILIDADE
▪Alta Idade Média (séc.V-X): feudalismo
▪ Declínio das atividades comerciais e artesanais: economia de subsistência.
▪ Fragmentação do poder político
▪ Isolamento social
▪ Igreja é o único elemento universalizante → visão mística do mundo

▪Baixa Idade Média (séc. XI-XV)


▪ Cruzadas
▪ Renascimento comercial e urbano
▪ Aumento da produção agrícola e artesanal: economia monetária.
▪ Crescimento da população (até século IV: declínio demográfico)
▪ Ampliação do universo econômico, social, territorial e cultural do homem medieval
REVOLUÇÃO COMERCIAL
▪Crise (séc XIV): insustentabilidade da convivência entre o feudalismo decadente e
o capitalismo ascendente.
▪Fim dos laços de servidão: camponeses são arrendatários ou assalariados → incentivos para criar
novas técnicas e ampliar a produção.
▪Ganha espaço um sistema econômico voltado para o mercado e para o lucro, baseado no capital
e na propriedade dos meios de produção, onde o trabalhador é livre, embora forçado a vender
sua força de trabalho.
▪ Expansão da atividade manufatureira e da indústria bélica e naval
▪ Ativação da extração de metais nobres e comuns
▪ Novos centros comerciais
▪Novas necessidades → acabar com o monopólio do comércio com o Oriente, descobrir novos
mercados e obter ordem e estabilidade política para garantir os lucros da burguesia.
ESTADOS NACIONAIS: FORMAÇÃO E
FORTALECIMENTO
▪Realeza precisava do apoio financeiro da burguesia para limitar os excessivos poderes da
Igreja (fonte de legitimidade) e instituir um estado unificado, o que implicava em:
▪ Criar um exército
▪ Compor um aparato burocrático e jurídico para instituir, legitimar e fazer cumprir a nova ordem
socioeconômica.

▪Estado moderno: processo de unificação política = formação das monarquias nacionais


(parceria entre rei e burguesia, entre absolutismo e capitalismo/mercantilismo).
▪ Grandes navegações: estratégia para expansão dos mercados, que resultou em vários empreendimentos
privados e resultantes da associação de recursos estatais e privados.
▪ Mercantilismo: conjunto de práticas e doutrinas econômicas adotadas pelas monarquias absolutistas para
fortalecer seu poder.
MERCANTILISMO E COLONIALISMO
▪Estágio inicial do capitalismo (fase de acumulação inicial do capital): burguesia e
estados começam a acumular riquezas, por meio de medidas protecionistas (que
defendiam os produtos nacionais da concorrência estrangeira), e intervencionistas
(controle de preços, fixação de tarifas, incentivos) com a finalidade de:
▪Atingir uma balança comercial favorável: exportar mais que importar
▪Aumentar a quantidade de metais preciosos dentro do seu território: metalismo

▪Práticas mercantilistas levaram à estruturação de um sistema colonial, com a criação


de um mercado produtor e consumidor exclusivo, pela limitação que impunham ao
comércio entre países europeus e o consequente deslocamento das atenções para as
terras recém-alcançadas na América.
SOCIEDADE MODERNA
▪Toda organização sociopolítica vem acompanhada de um conjunto de valores que, ao mesmo tempo,
molda uma visão de mundo.
▪Enriquecimento da burguesia e seu poder crescente leva ao rompimento da estrutura de dependência
entre senhores e servos, suserano e vassalo, mestre e aprendiz.
▪ As corporações de ofício e todo o sistema social de dependência entre os estamentos restam comprometidos: os corpos
intermediários perdem, gradativamente, sua função e os indivíduos passam a negociar diretamente entre si.
▪ O poder passa a ser transferido radicalmente de mãos, a situação social e econômica do indivíduo não é mais determinada
no momento do seu nascimento, lugares distantes tornam-se acessíveis e o contato com diferentes modos de vida também.
▪Novos valores: individualismo e racionalismo → valorização do indivíduo e da razão (Renascimento)
▪ Gradativa substituição da visão teocêntrica pela antropocêntrica de mundo.
▪ Crise da Igreja: do ponto de vista ético, a condenação da usura deixava a burguesia na marginalidade; no plano político, o
poder excessivo dos papas desagradava aos monarcas; do ponto de vista econômico, a igreja era detentora de uma
enorme extensão de terras, mantidas sobre o sistema feudal (tributos enviados para Roma), o que representava um entrave
ao desenvolvimento econômico; além de desavenças internas (predestinação versus livre-arbítrio).
▪ Reforma Protestante: Luteranismo, Calvinismo e Anglicanismo.
▪ Contra-Reforma e Missões
ESTADO MODERNO: JUSTIFICAÇÃO TEÓRICA
▪NICOLAU MAQUIAVEL (1469-1527)
 Autonomia da política: plano deontológico (Político e Moral) → O Príncipe:
secularização da política.
 O critério com base no qual se considera boa ou má uma ação política é distinto daquele que serve
para avaliar a corretude de uma ação moral.
 Doutrina da razão de Estado
 Regras X Exceção (Estado de necessidade)
 Ética da Convicção X Ética da Responsabilidade (Weber): dois universos éticos (moral e política)
que se movem segundo critérios distintos de avaliação da ação.
▪Virtude x Fortuna (A ética revisitada)

▪Tradicionalmente a ética, inseparável da política, caracterizou o governante virtuoso como


aquele cujas qualidades morais o protegem do poder da caprichosa e inconstante fortuna.
▪ Virtude como constância de caráter e fortuna como inconstância.
▪Para Maquiavel a virtude do Príncipe está na sua capacidade de ser flexível às
circunstâncias, mudando com elas para dominar a fortuna.
▪ O ethos do príncipe deve variar com as circunstâncias para que seja sempre senhor delas.
▪A virtude política consiste na astúcia, na capacidade de adaptar-se às circunstâncias, na
ousadia para aproveitar a ocasião e na força para não ser arrastado pelas más.
▪A lógica política nada tem a ver com as virtudes éticas dos indivíduos em sua
vida privada.
▪Os valor políticos vinculam-se à eficiência prática e utilidade social, isto é, a virtude do
governante é medida pelos efeitos benéficos de sua ação para a república.
▪THOMAS HOBBES (1588-1679)
▪Contratualismo: Leviatã (1651) → busca explicar a organização da
sociedade e o poder do Estado e acaba por justificar a formação do
estado absolutista.
▪ Qual a origem da associação política entre os homens e, consequentemente, do poder político?
▪ Estado de Natureza: momento que antecede o estado de sociedade (ou estado civil),
caracterizado pela radical igualdade entre os homens, o que os leva a constante situação de
guerra.
▪ Contrato Social: o mesmo instinto de autoconservação que coloca o homem em estado de guerra o
faz tender para a paz, buscando solução em um contrato por meio do qual renuncia a sua
liberdade original em troca da promessa feita por todos os membros do grupo social de que
respeitar-se-ão mutuamente.
▪ Antropologia pessimista, sociabilidade artificial → defesa do Absolutismo.
▪ Tendência do homem ao descumprimento do pacto leva a formação do corpo político, do Estado,
um corpo artificial representado por um ou mais homens, que estariam acima dos indivíduos,
embora fossem criação e representação destes.
▪ O Estado é comandado por um soberano, que deve exercer o poder despótico, totalitário,
absoluto, a fim de resguardar o contrato social.
HOBBES E O CONTRATUALISMO
▪Hobbes é um contratualista. Os contratualistas foram teóricos entre os séculos XVI e
XVIII que afirmaram que a origem do Estado/Sociedade está num contrato firmado
entre os homens.
▪O contrato é um acordo explícito ou tácito entre os indivíduos que marca a
passagem do estado de natureza para o estado social e político. Neste sentido, o
homem existe antes do Estado e da própria sociedade. É possível falar em uma
natureza humana que preexiste o homem social.
▪O contratualismo está estreitamente ligado à necessidade de se legitimar o Estado,
tanto enquanto legislador como também como detentor do monopólio do uso da
força.
ESTE CONTRATO PARECE FACTÍVEL?

▪Uma das críticas mais famosas sobre a ideia de contrato social foi formulada por
Henry Maine.
 Como selvagens que nunca tiveram contrato social poderiam dominar a línguagem e a noção jurídica
(abstrata) de contrato, a ponto de poder celebrar este contrato? O contrato só seria possível uma vez
dominadas noções que só podem ser adquiridas após um longo convívio em sociedade, impossíveis de
ser conhecidas por selvagens se reunindo nas clareiras das florestas.

▪Resposta: Maine não percebe que o homem que vive no estado de natureza não é um
selvagem, mas sim o mesmo homem civilizado que vive nas sociedades
contemporâneas a Hobbes. O homem possui uma natureza que permanece tendo
efeito e que independe do contexto social em que ele está inserido.
QUAL A NATUREZA HUMANA?
O ESTADO DE NATUREZA
▪Vocês acreditam que existe uma natureza humana? Vocês seriam capazes de pensar
aí em um tipo de comportamento que poderia ser descrito como natural do homem?
▪Independentemente do que pensemos a respeito, para Hobbes, existe uma natureza
humana. Como é essa natureza?
▪Segundo Hobbes, no estado de natureza, os homens nascem livres e iguais e tem
direito a tudo.
▪Para entender o que isso significa, precisamos compreender melhor os sentidos da
igualdade e liberdade na obra do autor.
A IGUALDADE DOS HOMENS
▪Os homens são relativamente iguais quanto à sua força, capacidade,
engenhosidade e ciência. Assim como também são parecidos quanto aos fins que
desejam, razão pela qual tendem a desejar as mesmas coisas.
▪Todo homem tem medo, paixão e desejo, mas os objetos desses sentimentos é que
variam.
▪Mais importante, os homens são iguais o suficiente para não poderem ignorar a
ameaça de outro homem, isto é, temerem uns aos outros.
“Porque quanto à força corporal o mais fraco tem força suficiente para matar o mais forte, quer por
secreta maquinação, quer aliando-se com outros que se encontrem ameaçados pelo mesmo perigo”.
(passagem extraída do Leviatã)
A LIBERDADE DOS HOMENS
▪Os homens nascem livres.
 Liberdade consiste em não ser impedido de fazer o que sua força e engenho permitem.
 Para Hobbes, muitos filósofos antes dele superestimaram a liberdade, voltaremos a esse ponto
adiante.

▪Iguais e livres, no estado de natureza, não existe um estado ou um poder superior


que limite o direito dos homens, neste sentido, todo homem tem direito a tudo que
desejar.
A NATUREZA DOS HOMENS E SUAS CONSEQUÊNCIAS

▪Ainda sobre a natureza humana, Hobbes afirma que:


▪Todo homem é opaco aos olhos de seu semelhante: Eu não sei o que o outro pensa, por isso, terei que
fazer suposições e, para isso, preciso imaginar o que eu mesmo faria se estivesse em seu lugar.
Desse jogo de suposições decorrerá um comportamento racional maléfico para o coletivo de
homens.

▪O homem do estado de natureza é um homem racional, se eu cogito atacar o outro,


o outro também deve cogitar me atacar, então eu devo atacar primeiro.
▪Na ausência de um poder comum, o homem vive em um estado de guerra de todos
contra todos, pois a guerra não consiste apenas no momento em que se trava a
batalha, mas do momento em que a vontade de lutar é conhecida por todos.
ESTE ESTADO DE GUERRA CORRESPONDE À
REALIDADE?
▪Muitos podem dizer que o estado de guerra descrito por Hobbes não seria
um retrato fiel da natureza humana na ausência de poder soberano. Todavia,
Hobbes é particularmente eloquente ao lembrar como as pessoas agem, em
sua rotina, de maneira a esperar o pior dos outros indivíduos, como mostra
esse trecho do Leviatã.

“Que seja portanto ele a considerar-se a si mesmo, que quando empreende uma
viagem se arma e procura ir bem acompanhado; que quando vai dormir fecha suas portas;
que mesmo quando está em casa tranca seus cofres; e isto mesmo sabendo que existem leis e
funcionários públicos armados, prontos a vingar qualquer injúria que lhe possa ser feita. Que
opinião tem ele de seus compatriotas ao viajar armado; de seus concidadãos, ao fechar
suas portas; e de seus filhos e servidores, quando tranca seus cofres?”
AS PRINCIPAIS CAUSAS DA DISCÓRDIA EM
HOBBES

▪Competição: O homem deseja o que os outros tem e busca subjugá-los.


▪Desconfiança: O homem teme pela sua própria segurança, como ele quer coisas
que os outros tem, ele sabe que outros também podem querer as suas coisas.
▪Glória: O homem preza sua reputação, almeja reconhecimento, mas é difícil
obter porque cada um estima mais a si próprio do que ao outro e dificilmente
reconhece o valor alheio, os homens se importam e brigam muito por ninharias.
A VIDA NA AUSÊNCIA DE UM PODER SOBERANO

▪Por essas três causas que, na ausência de um poder comum, o homem não sente
prazer de ter a companhia de outros homens, a vida em grupo se constitui uma
vida em guerra, pois há o desejo claro de batalha entre os homens.

▪Neste sentido, Hobbes se contrapõe a Aristóteles e a vários outros filósofos antigos,


pois nega a ideia do homem como animal político que alcançaria seu
desenvolvimento vivendo em sociedade.
▪Para Aristóteles, o homem naturalmente tenderia a viver em sociedade, Hobbes nega essa natureza.
Para Hobbes, o Homem é anterior à sociedade.
O CONTRATO SOCIAL
▪Para por fim ao estado de guerra de todos contra todos, os homens se reúnem e
firmam um pacto, abdicando de seu direito e liberdade natural em favor de um
soberano (que pode ser um indivíduo ou um conjunto de homens) com poder
ilimitado e cuja voz será a vontade de todos com o objetivo de manter a ordem e a
paz, proteger a sociedade de ataques externos e conflitos internos.
▪O soberano pode ser escolhido por maioria. O fato de participar da assembleia
(da reunião de homens) representa a aceitação das suas decisões. Quem se rebela
pode ser destruído, pois volta ao estado de natureza, onde ninguém lhe garante
nada.
▪E assim é criado o Leviatã, nas palavras do próprio Hobbes:
“A única maneira de instituir um tal poder comum, capaz de defendê-los das invasões dos estrangeiros e das injúrias uns dos outros,
garantindo-lhes assim uma segurança suficiente para que, mediante seu próprio labor e graças aos frutos da terra, possam alimentar-se e viver
satisfeitos, é conferir toda sua força e poder a um homem, ou a uma assembleia de homens, que possa reduzir suas diversas vontades, por
pluralidade de votos, a uma só vontade.
O que equivale a dizer: designar um homem ou uma assembleia de homens como representante de suas pessoas, considerando-se e reconhecendo-se
cada um como autor de todos os atos que aquele que representa sua pessoa praticar ou levar a praticar, em tudo o que disser respeito à paz e
segurança comuns; todos submetendo assim suas vontades à vontade do representante, e suas decisões a sua decisão.
Isto é mais do que consentimento, ou concórdia, é uma verdadeira unidade de todos eles, numa só e mesma pessoa, realizada por um pacto de
cada homem com todos os homens, de um modo que é como se cada homem dissesse a cada homem: Cedo e transfiro meu direito de governar-
me a mim mesmo a este homem, ou a esta assembleia de homens, com a condição de transferires a ele teu direito, autorizando
de maneira semelhante todas as suas ações. Feito isto, a multidão assim unida numa só pessoa se chama Estado, em latim
civitas.
É esta a geração daquele grande Leviatã, ou antes (para falar em termos mais reverentes) daquele Deus Mortal, ao qual devemos, abaixo do Deus
Imortal, nossa paz e defesa. Pois graças a esta autoridade que lhe é dada por cada indivíduo no Estado, é-lhe conferido o uso de
tamanho poder e força que o terror assim inspirado o torna capaz de conformar as vontades de todos eles, no sentido da paz em
seu próprio país, e ela ajuda mútua contra os inimigos estrangeiros.
É nele que consiste a essência do Estado, a qual pode ser assim definida: Uma pessoa de cujos atos uma grande multidão, mediante pactos recíprocos
uns com os outros, foi instituída por cada um como autora, de modo a ela poder usar a força e os recursos de todos, da maneira que considerar
conveniente, para assegurara paz e a defesa comum.”
E QUEM CONTROLA O SOBERANO?

▪Ninguém, não pode haver limites ao poder do soberano, se houver ele não é soberano. Se o
poder do soberano for contestado por algum outro poder, quem decidirá quem tem a razão?
▪ Voltar-se-á ao estado de insegurança anterior à formação do pacto, na falta de alguém que instaure a ordem, a
guerra de todos contra todos voltará a acontecer.

▪O soberano não assina o contrato, ficando livre de qualquer obrigação para com os súditos.
▪ O soberano não assina o contrato porque ele só existe depois que o contrato é assinado, pois é justamente o
pacto entre os homens que dá origem ao soberano.

▪Desta forma, não há como o soberano desobedecer o pacto, pois ele não fez parte do
pacto.
▪ Por outro lado, os súditos fizeram o pacto e não devem desobedecê-lo. Hobbes afirma ainda que quem se rebela
contra o soberano se rebela contra a si mesmo, pois pelo pacto, o soberano representa a vontade de todos,
inclusive a do rebelado.
SITUAÇÕES EM QUE OS HOMENS AINDA TERIAM LIBERDADE

Enfim, para evitar a guerra de todos contra todos, os homens abrem mão de seus direitos e
liberdades, há apenas duas situações em que os homens ainda gozam de liberdade.
1. Eles podem se rebelar contra o soberano se sua vida estiver ameaçada. Pois cada
homem adere ao pacto com o objetivo fundamental de preservar a vida. A vida é o
único direito inalienável que o homem possui.
2. Quando o soberano se silencia sobre uma questão. Quando não há lei definida pelo
soberano, pode-se agir livremente.
O GOVERNO DO SOBERANO: O ESTADO CIVIL
▪O soberano governa pelo temor de seus súditos.
▪Não apenas porque estes o obedecem com medo de sua espada, mas porque eles aderem ao
pacto pelo medo dos outros homens, pelo medo de entrarem em batalhas sem que haja um
soberano a quem recorrer, pelo medo da morte violenta. É por isso que os homens abdicam de toda
a sua liberdade para preservar a vida.

▪Os indivíduos também podem aderir ao pacto com esperança além de medo,
contudo, não há garantias de que o soberano os tratará bem. Ou garantirá suas
propriedades, por exemplo.
▪Mesmo um governo ruim é melhor do que a ausência de governo.
▪Hobbes não está preocupado com os males que o governo pode infligir aos cidadãos, mas sim com
o males que os cidadãos farão a si mesmos. É papel do governo regular a propriedade e o
comércio, regular todas as relações de trocas entre os cidadãos.
▪Hobbes é um teórico fundamental para pensarmos a questão da ordem social e da
autoridade nas sociedades contemporâneas. Uma das suas principais idéias foi a de
justificar a existência de um poder soberano sem recorrer necessariamente a argumentos de
caráter teológico.
▪ O Estado precisa existir para proteger os indivíduos uns dos outros.
▪ Hobbes também foi um dos primeiros teóricos a pensar a questão da representação (o soberano é um
representante), ideia que estava ausente, por exemplo, entre os teóricos da democracia clássica (os gregos
apenas concebiam a democracia direta).

▪Por outro lado, a solução dada por Hobbes ao problema da ordem social parece
inaceitável nos dia de hoje, uma vez que o autor não se preocupa com o controle das
ações do governante. Nas próximas aulas trataremos de atores que abordaram essa
questão.
LIBERALIZAÇÃO DO ESTADO: CONSTITUIÇÃO

• Revoluções burguesas e Novos Documentos:


• Inglaterra (1688) – “Bill of Rights”
• Independência dos EUA (1776) – Declaração da Independência
• Constituição dos EUA (1787)
• França (1789) – Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão
• Constituição Francesa (1791)

Fundamentação Teórica:
- John Locke – “Segundo Tratado sobre Governo”
- J. J. Rousseau – “O Contrato Social”
- Montesquieu – “O Espírito das Leis
- Madison – “O Federalista”
- Stuart Mill -
CARACTERÍSTICAS DO ESTADO LIBERAL
• Monarquias absolutas perdem poder;
• Filosofia do Iluminismo;
• Revolução Industrial;
• Fortalecimento da Burguesia
• Advento da Era Contemporânea;
• Limitação de poderes do soberano
• Declaração de Direitos
• Separação de Poderes
• Estado constitucional ou Liberal
LIBERALISMO CONTRA O ABSOLUTISMO
•Montesquieu, Locke e Rousseau (importantes referências
teóricas do liberalismo)
•“Estado é inimigo da liberdade”
•“A Constituição deve afastar o estado da vida privada
(liberdade, privacidade, intimidade, propriedade privada)”
• O constitucionalismo liberal nasce para garantir o espaço do indivíduo (homem, livre e
proprietário), logo esse é o cidadão, portador de direitos (civis e políticos) → o
constitucionalismo liberal não é democrático, na sua origem.
• Limites ao poder do Estado, Organização do Estado → princípio da legalidade
(aplicação para o Estado ≠ Indivíduo)
LOCKE: SEGUNDO TRATADO
▪O Segundo tratado é um ensaio sobre a origem, extensão e
objetivo do governo civil.
▪O autor sustenta a tese de que nem a tradição, nem a força,
mas apenas o consentimento expresso pelos governados é fonte
de poder político legitimo.
▪Parte do estado de natureza que, pela mediação do contrato
social, realiza a passagem para o governo civil.
O ESTADO DE NATUREZA
▪Locke afirma que a existência do indivíduo é anterior ao surgimento da
sociedade e do Estado.
▪Na sua concepção individualista, os homens viviam originalmente num estágio
pré-social e pré-político, caracterizado pela mais perfeita liberdade e
igualdade, denominado estado de natureza.
▪O estado de natureza retrata uma situação real e historicamente determinada
pela qual passara, ainda que em épocas diversas, a maior parte da humanidade
e na qual se encontravam ainda alguns povos, como as tribos americanas.
▪Este estado de natureza diferia do estado de guerra hobbesiano, baseado na
insegurança e na violência, por ser um estado de relativa paz, concórdia e
harmonia.
▪O estado natural de todos os homens é aquele de perfeita liberdade para
ordenar-lhes as ações e regular-lhes as posses e as pessoas conforme
acharem conveniente, dentro dos limites da lei da natureza, sem pedir
permissão ou depender da vontade de qualquer outro homem.
▪É um estado também de (radical) igualdade, no qual é recíproco qualquer
poder e jurisdição, ninguém tendo mais do que qualquer outro.
▪Neste estado pacífico os homens já eram dotados de razão e desfrutavam
da propriedade que, numa primeira acepção genérica utilizada por Locke,
designava simultaneamente a vida, a liberdade e os bens como direitos
naturais do ser humano.
A NATUREZA HUMANA
▪Locke, como Hobbes, sustentava que os homens são motivados principalmente por apetites
e aversões; e os apetites são tão fortes que se fossem deixados ao seu próprio impulso
levariam os homens à subversão de toda a moralidade.
▪Locke achava, contudo, que os homens eram capazes de impor normas a si próprios,
por perceberem a sua utilidade, sem instituir um soberano.
▪Lei da natureza: o uso da razão, que ensina a todos iguais e independentes, que
nenhum deve prejudicar a outrem na vida, na saúde, na liberdade ou nas posses.
▪No caso de violação da lei da natureza, surgem dois direitos:
1. Castigar o crime restringindo e prevenindo ofensa semelhante, direito que
está em todos;
2. Reivindicar a reparação, que pertence somente à parte prejudicada;
“quem derramar o sangue do homem, pelo homem verá seu sangue derramado”.
Desta forma, todo mundo tem o poder executivo da lei da natureza.
A TEORIA DA PROPRIEDADE
▪A violação da propriedade, na falta de lei estabelecida, de juiz imparcial e de força coercitiva para
impor a execução das sentenças, coloca os indivíduos em estado de guerra uns contra os outros.
▪Primeira concepção de propriedade – a vida a liberdade e os bens como direitos
naturais do ser humano.
▪Segunda concepção de propriedade – a propriedade já existe no estado de natureza
e, sendo uma instituição anterior à sociedade, é um direito natural do indivíduo que não
pode ser violado pelo Estado.
▪O homem era naturalmente livre e proprietário de sua pessoa e de seu trabalho. Á medida em que
trabalhava o homem tornava a matéria bruta (terra) sua propriedade privada, estabelecendo sobre
ela um direito próprio do qual estavam excluídos todos os outros. O trabalho era, pois, na concepção
de Locke, o fundamento originário da propriedade.
▪Se a propriedade era instituída pelo trabalho, este, por sua vez, impunha limitações à propriedade.
O limite da propriedade era fixado pela capacidade de trabalho do ser humano.
A TEORIA DA PROPRIEDADE
▪Depois do aparecimento do dinheiro mudou a situação. Com o dinheiro surgiu o
comércio e também uma nova forma de aquisição da propriedade, que, além do
trabalho, poderia ser adquirida pela compra. O uso da moeda levou, finalmente, à
concentração da riqueza e à distribuição desigual dos bens entre os homens.
▪Desta forma, temos a passagem da propriedade limitada para a ilimitada, fundada
na capacidade de acumulação originada pelo dinheiro.
A SOCIEDADE POLÍTICA OU CIVIL
▪A passagem do estado de natureza para a sociedade política se
funda no consentimento de indivíduos que irão viver coletivamente.
▪Em seguida escolhem ATRAVÉS DO PRINCÍPIO DA MAIORIA uma
forma de governo, que pode ser de um, poucos ou muitos.
▪Para Locke, qualquer que seja a forma, o governo não possui outra
finalidade além da conservação da liberdade (propriedade).
▪Cabe à também à MAIORIA escolher o poder legislativo, que possui uma
superioridade aos demais poderes.
A SOCIEDADE POLÍTICA OU CIVIL
▪Teoria da Separação dos Poderes: Legislativo (poder supremo); Executivo,
confiado ao príncipe; Federativo, encarregado das relações exteriores
(guerra, paz, alianças e tratados).
▪Separação entre poder legislativo de um lado e os outros dois do outro.

▪Principais fundamentos do estado civil:


▪livre consentimento dos indivíduos para o estabelecimento da sociedade;
▪ livre consentimento da comunidade para a formação do governo;
▪ proteção dos direitos de liberdade (propriedade) pelo governo;
▪controle do executivo pelo legislativo e o controle do governo pela sociedade.
AS SEMENTES DO PENSAMENTO LIBERAL: LIMITES
AO PODER DO ESTADO
Locke nos apresenta um estado de natureza em que o homem já possui direitos
(propriedade) e um contrato social que é feito para que o governo cumpra uma
determinada finalidade (preservar a propriedade) e pode ser desfeito caso isso não
ocorra.
 É central em sua obra a preocupação em estabelecer limites ao poder legalmente sancionado.

Montesquieu, por sua vez, trabalhou a questão da separação de poderes e da


necessidade dos controles horizontais e sistemas de freios e contrapesos do poder
político.
 Em um mundo em que os indivíduos são ambiciosos e colocam seus interesses individuais acima de todos
os outros, devem ser criadas instituições que possam converter tais ambições em um governo bom e
eficiente.
AS CONTRIBUIÇÕES DE JAMES MADISON
James Madison foi um dos principais arquitetos da Constituição americana e um dos
autores que mais contribuiu para o desenvolvimento da filosofia política liberal.
Em uma série notável de capítulos do livro “O Federalista” (1788), Madison tomou
emprestado de grandes pensadores algumas das noções principais de seu pensamento
e foi capaz de articular essas noções de maneira coerente.
 de Hobbes: a noção de que a política se baseia em autointeresse.
 de Locke: o poder político deveria ser limitado perante os governados.
 de Montesquieu: deveria haver separação de poderes.
LIBERALIZAÇÃO DO ESTADO: RECONHECER A
LIBERDADE E IMPOR LIMITES
LIBERALISMO > DOUTRINA DO ESTADO LIMITADO
 LIMITES EM RELAÇÃO AOS PODERES: ESTADO DE DIREITO >>> CONSTITUIÇÃO
 LIMITES EM RELAÇÃO ÀS FUNÇÕES: ESTADO MÍNIMO >>> MERCADO/CAPITALISMO
ESTADO DE DIREITO > PODERES PÚBLICOS REGULADOS POR NORMAS GERAIS
(CONSTITUIÇÃO), DEVENDO SER EXERCIDOS EM ATENÇÃO A ELAS + DIREITOS
FUNDAMENTAIS (CONSTITUCIONALIZAÇÃO DOS DIREITOS NATURAIS)
 SUPERIORIDADE DO GOVERNO DAS LEIS SOBRE O GOVERNO DOS HOMENS
 CONSTITUIÇÃO > LIMITES FORMAIS E MATERIAIS AO ESTADO > MECANISMOS QUE IMPEDEM OU
OBSTACULARIZAM O EXERCÍCIO ARBITRÁRIO OU ILEGÍTIMO DE PODER, O ABUSO DE PODER OU
ILEGALIDADE.
 CONTROLE DO GOVERNO POR PARTE DO LEGISLATIVO
 CONTROLE DO LEGISLATIVO POR UMA CORTE CONSTITUCIONAL
 AUTONOMIA DO GOVERNO LOCAL EM RELAÇÃO AO CENTRAL
 INDEPENDÊNCIA JUDICIAL
LIBERDADE CONTRA O PODER: CONSTITUIÇÃO E
MERCADO
CONSTITUIÇÃO > PROTEGE O INDIVÍDUO DE EVENTUAIS ABUSOS DE PODER > SÃO GARANTIAS DE
LIBERDADE.
 LIBERDADE NEGATIVA: ESFERA DE AÇÃO EM QUE O INDIVIDUO NÃO ESTÁ OBRIGADO (LIBERDADE X PODER)
 BENJAMIN CONSTANT >>> ANTITESE ENTRE LIBERALISMO E DEMOCRACIA (RELAÇÕES CONTROVERTIDAS ENTRE DUAS
EXIGÊNCIAS DAS SOCIEDADES CONTEMPORÂNEAS: LIMITAR E DISTRIBUIR O PODER POLÍTICO).
 LIBERDADE (POSITIVA) DOS ANTIGOS > DISTRIBUIÇÃO DO PODER ENTRE OS CIDADÃOS
 LIBERDADE (NEGATIVA) DOS MODERNOS > GARANTIAS PARA A FRUIÇÃO PRIVADA
 JUSNATURALISMO >>> PRESSUPOSTO FILOSÓFICO DO ESTADO LIBERAL
 OS HOMENS TÊM, POR NATUREZA, DIREITOS FUNDAMENTAIS (À VIDA, LIBERDADE, PROPRIEDADE) QUE DEVEM SER RESPEITADOS E RESGUARDADOS PELO
ESTADO, MAS NÃO DERIVAM DE SUA ATUAÇÃO, SENÃO QUE DE LEIS NATURAIS.

MERCADO > ESTADO MÍNIMO: RESTRIÇÃO DAS FUNÇÕES DO ESTADO (MAU NECESSÁRIO) É
TAMBÉM UMA FORMA DE GARANTIA DA LIBERDADE.
 FORMAÇÃO DOS ESTADOS LIBERAIS > ALARGAMENTO DA ESFERA DE LIBERDADE INDIVIDUAL
 EMANCIPAÇÃO DA SOCIEDADE CIVIL NA ESFERA RELIGIOSA E TAMBÉM ECONOMICA (DOS INTERESSES MATERIAIS) >>> SOCIEDADE MERCANTIL BURGUESA
 ADAM SMITH > TRÊS FUNÇÕES DO ESTADO: (1) DEFESA DA SOCIEDADE CONTRA INIMIGOS EXTERNOS; (2) PROTEÇÃO DO INDIVÍDUO EM FACE DAS OFENSAS
QUE OUTROS POSSAM LHE CAUSAR; (3) PROMOÇÃO DE OBRAS QUE NÃO PODEM SER CONFIADAS À INICIATIVA PRIVADA.
LIBERALIZAÇÃO DO ESTADO: MERCADO
“Há no capitalismo uma tensão permanente entre o mercado e o Estado.”
O mercado pretende alocar os recursos produtivos de acordo com a regra da maior
lucratividade (acumulação), já o Estado tem por missão atender o critério principal
da democracia: redistribuir os recursos da forma mais igualitária possível,
justificando, assim, a sua existência política (legitimidade).
 Distribuição das riquezas em sociedades capitalistas > o mercado pretende distribuir desigualmente,
enquanto o Estado propõe uma regra coletiva de distribuição.

Como essa tensão se resolve, se é que ela se resolve, e quais as consequências que resultam
desse embate para a democracia?
RELAÇÕES ENTRE ESTADO E MERCADO NA
MODERNIDADE
.
Proposição (clássica): a plena operação de uma economia de mercado requer a existência de um
Estado formalmente institucionalizado:
 para assegurar a operação impessoal das normas vigentes;
 para atuar distributivamente de maneira a minimizar as inevitáveis externalidades provocadas pela intensificação dos laços de
interdependência humana que a própria expansão do mercado favorece.

Estado → ator de relevo na disputa, pois, dependendo de sua atuação, pode reforçar o capitalismo,
promover a democracia ou, até mesmo, favorecer o capital.
 Mas...
 Estados buscam atender aos interesses dos cidadãos (Governo do Povo): não fica claro que o Estado em sua atuação não pretenda atender os
interesses do povo, e, contudo, também não é evidente que é o povo quem governa.
 Estados visam a obter os seus próprios interesses (Governo do Estado): cada caso tem um desfecho particular, produto das interações entre os vários
atores sociais e as instituições estatais, de modo que a autonomia do Estado é um resultado possível, não um resultado certo.
 Estados implementam os objetivos do capital (Governo do Capital): se é certo que o capital constrange o Estado (teorias marxistas) não é possível
aferir em que nível o faz.

(O que se observa?) Tendência histórica: a expansão da operação do mercado tem levado na


modernidade a uma expansão concomitante da esfera de atuação do Estado.
MERCADO E DEMOCRACIA
Proposição: sociedades comerciais impõe-se cedo ou tarde um relativo igualitarismo político como forma de
incorporar de modo rotineiro os relativamente imprevisíveis deslocamentos das fontes de poder em uma economia de
mercado.
 O princípio mercantil das sociedades modernas: (1) torna imprevisível os vetores de acumulação de riqueza (ou seja, diversifica as
fontes potenciais de poder na sociedade); (2) induz a atomização decisória.
 Todos os atores estão virtualmente submetidos às oscilações da fortuna >>> numa economia de mercado, torna-se impossível
acomodar os interesses relevantes em um sistema de atribuição adscritiva e aristocrática de status político.
 A preservação de um sistema como esse tornaria imprescindível a imposição de severos limites à área que se mantém aberta à
competição econômica mercantil.

Logo...não há como evitar, cedo ou tarde, a generalização da reivindicação do direito a voz na arena política.
 A crescente centralidade do princípio competitivo do mercado na estruturação das relações sociais impõe a presença de critérios
meritocráticos (em princípio universalistas) na atribuição de poder pelo sistema político.
 A modernização efetivamente corrói a viabilidade de qualquer critério ostensivamente adscritivo, aristocrático, de atribuição de
poder político. Não pela conversão dos atores relevantes ao dogma das virtudes da competição, mas simplesmente pela
possibilidade inextirpável de o sucesso econômico no mercado produzir focos de poder externos a qualquer elite previamente
delimitada.
Ressalva: não se trata de apontar uma trajetória suave de afirmação universal de
direitos políticos igualitários, democraticamente compartilhados por todos – quase
como uma postulação de implicação mútua entre capitalismo e democracia.
 A relação de afinidade e dependência recíproca entre democracia e mercado não impede que o
próprio processo de modernização se dê de maneira conflituosa (e mesmo violenta), produzindo
desdobramentos específicos em contextos históricos variados.
 O papel central desempenhado pelo mercado na moderna sociedade complexa induz a alguma
competição também na esfera política, mas isto não pode ser entendido como uma afirmação de que
o processo de constituição do Estado moderno tenha de se pautar invariavelmente por princípios
competitivos, ou democráticos.

O desafio político crucial é criar condições que permitam que a livre afirmação de
interesses (típica do mercado) se dê dentro de marcos globais de solidariedade tão
abrangentes quanto for possível, de maneira a se evitar: (1) o contínuo perigo
hobbesiano de fragmentação social e confrontação belicosa daqueles interesses
individuais, e (2) o chauvinismo paroquial e nacionalista que, nos momentos iniciais do
processo de constituição do Estado nacional, parece se mostrar inevitável.

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