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▪Uma das críticas mais famosas sobre a ideia de contrato social foi formulada por
Henry Maine.
Como selvagens que nunca tiveram contrato social poderiam dominar a línguagem e a noção jurídica
(abstrata) de contrato, a ponto de poder celebrar este contrato? O contrato só seria possível uma vez
dominadas noções que só podem ser adquiridas após um longo convívio em sociedade, impossíveis de
ser conhecidas por selvagens se reunindo nas clareiras das florestas.
▪Resposta: Maine não percebe que o homem que vive no estado de natureza não é um
selvagem, mas sim o mesmo homem civilizado que vive nas sociedades
contemporâneas a Hobbes. O homem possui uma natureza que permanece tendo
efeito e que independe do contexto social em que ele está inserido.
QUAL A NATUREZA HUMANA?
O ESTADO DE NATUREZA
▪Vocês acreditam que existe uma natureza humana? Vocês seriam capazes de pensar
aí em um tipo de comportamento que poderia ser descrito como natural do homem?
▪Independentemente do que pensemos a respeito, para Hobbes, existe uma natureza
humana. Como é essa natureza?
▪Segundo Hobbes, no estado de natureza, os homens nascem livres e iguais e tem
direito a tudo.
▪Para entender o que isso significa, precisamos compreender melhor os sentidos da
igualdade e liberdade na obra do autor.
A IGUALDADE DOS HOMENS
▪Os homens são relativamente iguais quanto à sua força, capacidade,
engenhosidade e ciência. Assim como também são parecidos quanto aos fins que
desejam, razão pela qual tendem a desejar as mesmas coisas.
▪Todo homem tem medo, paixão e desejo, mas os objetos desses sentimentos é que
variam.
▪Mais importante, os homens são iguais o suficiente para não poderem ignorar a
ameaça de outro homem, isto é, temerem uns aos outros.
“Porque quanto à força corporal o mais fraco tem força suficiente para matar o mais forte, quer por
secreta maquinação, quer aliando-se com outros que se encontrem ameaçados pelo mesmo perigo”.
(passagem extraída do Leviatã)
A LIBERDADE DOS HOMENS
▪Os homens nascem livres.
Liberdade consiste em não ser impedido de fazer o que sua força e engenho permitem.
Para Hobbes, muitos filósofos antes dele superestimaram a liberdade, voltaremos a esse ponto
adiante.
“Que seja portanto ele a considerar-se a si mesmo, que quando empreende uma
viagem se arma e procura ir bem acompanhado; que quando vai dormir fecha suas portas;
que mesmo quando está em casa tranca seus cofres; e isto mesmo sabendo que existem leis e
funcionários públicos armados, prontos a vingar qualquer injúria que lhe possa ser feita. Que
opinião tem ele de seus compatriotas ao viajar armado; de seus concidadãos, ao fechar
suas portas; e de seus filhos e servidores, quando tranca seus cofres?”
AS PRINCIPAIS CAUSAS DA DISCÓRDIA EM
HOBBES
▪Por essas três causas que, na ausência de um poder comum, o homem não sente
prazer de ter a companhia de outros homens, a vida em grupo se constitui uma
vida em guerra, pois há o desejo claro de batalha entre os homens.
▪Ninguém, não pode haver limites ao poder do soberano, se houver ele não é soberano. Se o
poder do soberano for contestado por algum outro poder, quem decidirá quem tem a razão?
▪ Voltar-se-á ao estado de insegurança anterior à formação do pacto, na falta de alguém que instaure a ordem, a
guerra de todos contra todos voltará a acontecer.
▪O soberano não assina o contrato, ficando livre de qualquer obrigação para com os súditos.
▪ O soberano não assina o contrato porque ele só existe depois que o contrato é assinado, pois é justamente o
pacto entre os homens que dá origem ao soberano.
▪Desta forma, não há como o soberano desobedecer o pacto, pois ele não fez parte do
pacto.
▪ Por outro lado, os súditos fizeram o pacto e não devem desobedecê-lo. Hobbes afirma ainda que quem se rebela
contra o soberano se rebela contra a si mesmo, pois pelo pacto, o soberano representa a vontade de todos,
inclusive a do rebelado.
SITUAÇÕES EM QUE OS HOMENS AINDA TERIAM LIBERDADE
Enfim, para evitar a guerra de todos contra todos, os homens abrem mão de seus direitos e
liberdades, há apenas duas situações em que os homens ainda gozam de liberdade.
1. Eles podem se rebelar contra o soberano se sua vida estiver ameaçada. Pois cada
homem adere ao pacto com o objetivo fundamental de preservar a vida. A vida é o
único direito inalienável que o homem possui.
2. Quando o soberano se silencia sobre uma questão. Quando não há lei definida pelo
soberano, pode-se agir livremente.
O GOVERNO DO SOBERANO: O ESTADO CIVIL
▪O soberano governa pelo temor de seus súditos.
▪Não apenas porque estes o obedecem com medo de sua espada, mas porque eles aderem ao
pacto pelo medo dos outros homens, pelo medo de entrarem em batalhas sem que haja um
soberano a quem recorrer, pelo medo da morte violenta. É por isso que os homens abdicam de toda
a sua liberdade para preservar a vida.
▪Os indivíduos também podem aderir ao pacto com esperança além de medo,
contudo, não há garantias de que o soberano os tratará bem. Ou garantirá suas
propriedades, por exemplo.
▪Mesmo um governo ruim é melhor do que a ausência de governo.
▪Hobbes não está preocupado com os males que o governo pode infligir aos cidadãos, mas sim com
o males que os cidadãos farão a si mesmos. É papel do governo regular a propriedade e o
comércio, regular todas as relações de trocas entre os cidadãos.
▪Hobbes é um teórico fundamental para pensarmos a questão da ordem social e da
autoridade nas sociedades contemporâneas. Uma das suas principais idéias foi a de
justificar a existência de um poder soberano sem recorrer necessariamente a argumentos de
caráter teológico.
▪ O Estado precisa existir para proteger os indivíduos uns dos outros.
▪ Hobbes também foi um dos primeiros teóricos a pensar a questão da representação (o soberano é um
representante), ideia que estava ausente, por exemplo, entre os teóricos da democracia clássica (os gregos
apenas concebiam a democracia direta).
▪Por outro lado, a solução dada por Hobbes ao problema da ordem social parece
inaceitável nos dia de hoje, uma vez que o autor não se preocupa com o controle das
ações do governante. Nas próximas aulas trataremos de atores que abordaram essa
questão.
LIBERALIZAÇÃO DO ESTADO: CONSTITUIÇÃO
Fundamentação Teórica:
- John Locke – “Segundo Tratado sobre Governo”
- J. J. Rousseau – “O Contrato Social”
- Montesquieu – “O Espírito das Leis
- Madison – “O Federalista”
- Stuart Mill -
CARACTERÍSTICAS DO ESTADO LIBERAL
• Monarquias absolutas perdem poder;
• Filosofia do Iluminismo;
• Revolução Industrial;
• Fortalecimento da Burguesia
• Advento da Era Contemporânea;
• Limitação de poderes do soberano
• Declaração de Direitos
• Separação de Poderes
• Estado constitucional ou Liberal
LIBERALISMO CONTRA O ABSOLUTISMO
•Montesquieu, Locke e Rousseau (importantes referências
teóricas do liberalismo)
•“Estado é inimigo da liberdade”
•“A Constituição deve afastar o estado da vida privada
(liberdade, privacidade, intimidade, propriedade privada)”
• O constitucionalismo liberal nasce para garantir o espaço do indivíduo (homem, livre e
proprietário), logo esse é o cidadão, portador de direitos (civis e políticos) → o
constitucionalismo liberal não é democrático, na sua origem.
• Limites ao poder do Estado, Organização do Estado → princípio da legalidade
(aplicação para o Estado ≠ Indivíduo)
LOCKE: SEGUNDO TRATADO
▪O Segundo tratado é um ensaio sobre a origem, extensão e
objetivo do governo civil.
▪O autor sustenta a tese de que nem a tradição, nem a força,
mas apenas o consentimento expresso pelos governados é fonte
de poder político legitimo.
▪Parte do estado de natureza que, pela mediação do contrato
social, realiza a passagem para o governo civil.
O ESTADO DE NATUREZA
▪Locke afirma que a existência do indivíduo é anterior ao surgimento da
sociedade e do Estado.
▪Na sua concepção individualista, os homens viviam originalmente num estágio
pré-social e pré-político, caracterizado pela mais perfeita liberdade e
igualdade, denominado estado de natureza.
▪O estado de natureza retrata uma situação real e historicamente determinada
pela qual passara, ainda que em épocas diversas, a maior parte da humanidade
e na qual se encontravam ainda alguns povos, como as tribos americanas.
▪Este estado de natureza diferia do estado de guerra hobbesiano, baseado na
insegurança e na violência, por ser um estado de relativa paz, concórdia e
harmonia.
▪O estado natural de todos os homens é aquele de perfeita liberdade para
ordenar-lhes as ações e regular-lhes as posses e as pessoas conforme
acharem conveniente, dentro dos limites da lei da natureza, sem pedir
permissão ou depender da vontade de qualquer outro homem.
▪É um estado também de (radical) igualdade, no qual é recíproco qualquer
poder e jurisdição, ninguém tendo mais do que qualquer outro.
▪Neste estado pacífico os homens já eram dotados de razão e desfrutavam
da propriedade que, numa primeira acepção genérica utilizada por Locke,
designava simultaneamente a vida, a liberdade e os bens como direitos
naturais do ser humano.
A NATUREZA HUMANA
▪Locke, como Hobbes, sustentava que os homens são motivados principalmente por apetites
e aversões; e os apetites são tão fortes que se fossem deixados ao seu próprio impulso
levariam os homens à subversão de toda a moralidade.
▪Locke achava, contudo, que os homens eram capazes de impor normas a si próprios,
por perceberem a sua utilidade, sem instituir um soberano.
▪Lei da natureza: o uso da razão, que ensina a todos iguais e independentes, que
nenhum deve prejudicar a outrem na vida, na saúde, na liberdade ou nas posses.
▪No caso de violação da lei da natureza, surgem dois direitos:
1. Castigar o crime restringindo e prevenindo ofensa semelhante, direito que
está em todos;
2. Reivindicar a reparação, que pertence somente à parte prejudicada;
“quem derramar o sangue do homem, pelo homem verá seu sangue derramado”.
Desta forma, todo mundo tem o poder executivo da lei da natureza.
A TEORIA DA PROPRIEDADE
▪A violação da propriedade, na falta de lei estabelecida, de juiz imparcial e de força coercitiva para
impor a execução das sentenças, coloca os indivíduos em estado de guerra uns contra os outros.
▪Primeira concepção de propriedade – a vida a liberdade e os bens como direitos
naturais do ser humano.
▪Segunda concepção de propriedade – a propriedade já existe no estado de natureza
e, sendo uma instituição anterior à sociedade, é um direito natural do indivíduo que não
pode ser violado pelo Estado.
▪O homem era naturalmente livre e proprietário de sua pessoa e de seu trabalho. Á medida em que
trabalhava o homem tornava a matéria bruta (terra) sua propriedade privada, estabelecendo sobre
ela um direito próprio do qual estavam excluídos todos os outros. O trabalho era, pois, na concepção
de Locke, o fundamento originário da propriedade.
▪Se a propriedade era instituída pelo trabalho, este, por sua vez, impunha limitações à propriedade.
O limite da propriedade era fixado pela capacidade de trabalho do ser humano.
A TEORIA DA PROPRIEDADE
▪Depois do aparecimento do dinheiro mudou a situação. Com o dinheiro surgiu o
comércio e também uma nova forma de aquisição da propriedade, que, além do
trabalho, poderia ser adquirida pela compra. O uso da moeda levou, finalmente, à
concentração da riqueza e à distribuição desigual dos bens entre os homens.
▪Desta forma, temos a passagem da propriedade limitada para a ilimitada, fundada
na capacidade de acumulação originada pelo dinheiro.
A SOCIEDADE POLÍTICA OU CIVIL
▪A passagem do estado de natureza para a sociedade política se
funda no consentimento de indivíduos que irão viver coletivamente.
▪Em seguida escolhem ATRAVÉS DO PRINCÍPIO DA MAIORIA uma
forma de governo, que pode ser de um, poucos ou muitos.
▪Para Locke, qualquer que seja a forma, o governo não possui outra
finalidade além da conservação da liberdade (propriedade).
▪Cabe à também à MAIORIA escolher o poder legislativo, que possui uma
superioridade aos demais poderes.
A SOCIEDADE POLÍTICA OU CIVIL
▪Teoria da Separação dos Poderes: Legislativo (poder supremo); Executivo,
confiado ao príncipe; Federativo, encarregado das relações exteriores
(guerra, paz, alianças e tratados).
▪Separação entre poder legislativo de um lado e os outros dois do outro.
MERCADO > ESTADO MÍNIMO: RESTRIÇÃO DAS FUNÇÕES DO ESTADO (MAU NECESSÁRIO) É
TAMBÉM UMA FORMA DE GARANTIA DA LIBERDADE.
FORMAÇÃO DOS ESTADOS LIBERAIS > ALARGAMENTO DA ESFERA DE LIBERDADE INDIVIDUAL
EMANCIPAÇÃO DA SOCIEDADE CIVIL NA ESFERA RELIGIOSA E TAMBÉM ECONOMICA (DOS INTERESSES MATERIAIS) >>> SOCIEDADE MERCANTIL BURGUESA
ADAM SMITH > TRÊS FUNÇÕES DO ESTADO: (1) DEFESA DA SOCIEDADE CONTRA INIMIGOS EXTERNOS; (2) PROTEÇÃO DO INDIVÍDUO EM FACE DAS OFENSAS
QUE OUTROS POSSAM LHE CAUSAR; (3) PROMOÇÃO DE OBRAS QUE NÃO PODEM SER CONFIADAS À INICIATIVA PRIVADA.
LIBERALIZAÇÃO DO ESTADO: MERCADO
“Há no capitalismo uma tensão permanente entre o mercado e o Estado.”
O mercado pretende alocar os recursos produtivos de acordo com a regra da maior
lucratividade (acumulação), já o Estado tem por missão atender o critério principal
da democracia: redistribuir os recursos da forma mais igualitária possível,
justificando, assim, a sua existência política (legitimidade).
Distribuição das riquezas em sociedades capitalistas > o mercado pretende distribuir desigualmente,
enquanto o Estado propõe uma regra coletiva de distribuição.
Como essa tensão se resolve, se é que ela se resolve, e quais as consequências que resultam
desse embate para a democracia?
RELAÇÕES ENTRE ESTADO E MERCADO NA
MODERNIDADE
.
Proposição (clássica): a plena operação de uma economia de mercado requer a existência de um
Estado formalmente institucionalizado:
para assegurar a operação impessoal das normas vigentes;
para atuar distributivamente de maneira a minimizar as inevitáveis externalidades provocadas pela intensificação dos laços de
interdependência humana que a própria expansão do mercado favorece.
Estado → ator de relevo na disputa, pois, dependendo de sua atuação, pode reforçar o capitalismo,
promover a democracia ou, até mesmo, favorecer o capital.
Mas...
Estados buscam atender aos interesses dos cidadãos (Governo do Povo): não fica claro que o Estado em sua atuação não pretenda atender os
interesses do povo, e, contudo, também não é evidente que é o povo quem governa.
Estados visam a obter os seus próprios interesses (Governo do Estado): cada caso tem um desfecho particular, produto das interações entre os vários
atores sociais e as instituições estatais, de modo que a autonomia do Estado é um resultado possível, não um resultado certo.
Estados implementam os objetivos do capital (Governo do Capital): se é certo que o capital constrange o Estado (teorias marxistas) não é possível
aferir em que nível o faz.
Logo...não há como evitar, cedo ou tarde, a generalização da reivindicação do direito a voz na arena política.
A crescente centralidade do princípio competitivo do mercado na estruturação das relações sociais impõe a presença de critérios
meritocráticos (em princípio universalistas) na atribuição de poder pelo sistema político.
A modernização efetivamente corrói a viabilidade de qualquer critério ostensivamente adscritivo, aristocrático, de atribuição de
poder político. Não pela conversão dos atores relevantes ao dogma das virtudes da competição, mas simplesmente pela
possibilidade inextirpável de o sucesso econômico no mercado produzir focos de poder externos a qualquer elite previamente
delimitada.
Ressalva: não se trata de apontar uma trajetória suave de afirmação universal de
direitos políticos igualitários, democraticamente compartilhados por todos – quase
como uma postulação de implicação mútua entre capitalismo e democracia.
A relação de afinidade e dependência recíproca entre democracia e mercado não impede que o
próprio processo de modernização se dê de maneira conflituosa (e mesmo violenta), produzindo
desdobramentos específicos em contextos históricos variados.
O papel central desempenhado pelo mercado na moderna sociedade complexa induz a alguma
competição também na esfera política, mas isto não pode ser entendido como uma afirmação de que
o processo de constituição do Estado moderno tenha de se pautar invariavelmente por princípios
competitivos, ou democráticos.
O desafio político crucial é criar condições que permitam que a livre afirmação de
interesses (típica do mercado) se dê dentro de marcos globais de solidariedade tão
abrangentes quanto for possível, de maneira a se evitar: (1) o contínuo perigo
hobbesiano de fragmentação social e confrontação belicosa daqueles interesses
individuais, e (2) o chauvinismo paroquial e nacionalista que, nos momentos iniciais do
processo de constituição do Estado nacional, parece se mostrar inevitável.