BOLETIM TÉCNICO
INTRODUÇ ÃO
Ao longo do tempo, a turbidez das
águas foi considerada um parâmetro
estético causador de rejeição por parte do
consumidor, até descobrir-se que as
partículas causadoras de turbidez podem
ocluir os microorganismos, protegendo-
os da ação dos oxidantes da desinfecção.
As exigências cada vez maiores no
tratamento de águas levaram os índices
de medidas de turbidez à valores cada
vez menores. Esse fato somado à pouca
sensibilidade frente a interferência de cor,
selecionam o método nefelométrico como
o mais preciso para medição de turbidez.
A medida da turbidez é influenciada
direta e indiretamente por diferentes
variáveis. Para obtenção de resultados
confiáveis, a adoção de procedimentos e
técnicas operacionais adequadas, são
fundamentais e devem ser seguidas
rigorosamente.
DEFINIÇÃO DE TU RBIDEZ
A tur bidez da água pode ser
interpretada como uma ausência de
limpidez. Ela é definida pela presença de
material coloidal em suspensão, tais
como argila, lodo, matéria orgânica ou
inorgânica e organismos microscópicos.
A turbidez não deve ser confundida
com a cor das águas, que é a matéria
dissolvida, logo uma amostra pode
apresentar cor e não ter valores de
turbidez (Boletim Técnico n° 1, edição
Março 2006).
As partículas suspensas próximas à
superfície da água absorvem calor da luz
solar, aumentando a temperatura da
água, bloqueam também a luz para o
ecossistema aquático, e podem ser
potencial causador de doenças em
veiculação hídrica.
A ssi m, a turbi dez da água é
especialmente importante aos que a
produzem: para o consumo humano, para
a industrialização, entre outros.
Em águas naturais, a turbidez é
também um indicador da qualidade,
podendo ser usada para o controle de rios
e lagos. A água turva pode indicar o
es c oam ento de c ons tr uç ões , de
pesticidas da agricultura ou outros tipos
de poluição.
A turbidez é expressa em NTU
(Nefel ometric Turbidity Unit), FTU
(F ormaz ine Turbidity Uni t) ou uT
(Unidade de Turbidez). Essas unidades
são correspondentes em 1:1.
A turbidez pode ser medida segundo
as normas internacionais EN 27027 ou
ISO 7027 e USEPA 180.1. Elas diferem
entre si quanto ao princípio de medição.
PRINCÍP IO DE M EDIÇ ÃO
O princípio da medição de turbidez é
conhecido como nefelometria, medida da
quantidade de material sólido suspenso,
a partir da luz dispersa num ângulo de 90°
em relação a um feixe de luz incidente.
Dentro deste contexto, nefelômetro é
O instrumento que realiza medição de
turbidez, constituído basicamente por
uma fonte luminosa, cubeta de amostra e
fotodetector.
De acordo com o princípio de
medição, um nefelômetro pode ter como
esquema básico de construção:
a) Nefelômetro de Feixe Simples
Figur a 1 - Nefelômetro de Feixe Simples
A turbidez é medida pela luz que
chega ao sensor receptor localizado a
180° da fonte de emissão. Essa luz
atravessa o meio líquido sem sofrer
interferência ou desvio. Neste caso, a
turbidez é medida pela diferença entre a
intensidade da luz emitida e recebida pelo
sensor, e varia de acordo com a
quantidade de matéria suspensa.
Um nefelômetro por feixe simples
aceito pelas normas ISO 7027, EN 27027,
tem como características básicas:
- Fonte de emissão: LED - iR;
- Comprimento de Onda: 860 nm ± 30 nm;
- Luz dispersa baixa;
- Baixa interferência de cor;
- Maior vida útil de lâmpada;
- Não sofre influência pela temperatura da
lâmpada;
- Tende a ler valores mais baixos do que o
Método USEPA 180.1 (Luz Branca).
b) Nefelômetro em Radiação Espalhada
Figura 2 - Nefelômetro de Medição em Radiação Espalhada
Neste método, a luz irradiada colide
com as partículas sólidas e é espalhada
no meio líquido, de acordo com o tipo de
colisão. A turbidez é medida por um
sensor que recebe a luz dispersa num
ângulo de 90° (sendo também comum a
medição num ângulo de 45°) em relação a
um feixe de luz incidente.
As características básicas de um
nefelômetro por luz refletida seguem a
norma USEPA 180.1:
- Fonte de emissão: Lâmpada Filamento
de Tungstênio, temperatura 2200-3000 K;
- Comprimento de Onda: 400 600 nm.
- Ocorre a interferência de cor;
- Lâmpada de menor vida útil;
- Requer maior tempo de estabilização da
temperatura da lâmpada de medição.
EQUI PAM EN TOS
A turbidez pode ser medida por
métodos comparativos e através de
equipamentos digitais calibrados frente à
formazina.
Edição -2 - Julho 2 006
a) Disco de Secchi
Indicado para medição de turbidez em
águas de lagos, repr esas, r ios e
estuários, o disco de secchi é um
anteparo marcado com quadrantes
brancos e pretos.
O disco é imerso na água em uma
linha calibrada e a profundidade é
anotada quando o disco não puder ser
mais visto. O disco é então levantado até
que ele fique visível. A média destas duas
dis t â ncia s é con he ci da c o mo
Profundidade de Secchi.
F igura 3 - Disco de Secchi
b) Turbidímetros ou Nefelômetros
b.1) Turbidímetros de Luz Branca
O s turbidímetros que pos suem
l â m p a d a s d e tu n g s tê n i o , c o m
monocromadores, filtros, diodos e laser,
podem ser utilizados como fontes de luz
de radiação policromática, como a luz
branca.
A luz branca, por estar dentro da faixa
do UV visível, sofre interferência causada
pela cor, apr es entando r es ultados
distorcidos em função da quantidade de
luz absorvida pela amostra.
b.2) Turbidímetros Infravermelho
Os turbidímetros infravermelho (iR)
tem como fonte de luz, LEDs com
emi ss ão de r aios in frav erm elhos
(880nm).
A luz infr avermel ho não s ofr e
interfer ência causada pela cor da
amostra por trabalhar fora da faixa de luz
visível, condições estas em que não
ocorre tal absorção.
D e v i d o a e s s a s d i fe r e n ç a s
construtivas entre os turbidímetros luz
branca e iR, os resultados obtidos variam
c o ns i de r a v el m en te e nt r e os
equipamentos, e não podem ser
comparados entre si (GILBERT, 2004).
O gráfico abaix o, apresenta o
comportamento das fontes de emissão,
caracterizando sensibilidade diferente
para diferentes comprimentos de onda.
Figur a4 - Comportamento
da Fonte de Emissão
Assim, as comparações entre valores
não são possíveis quando:
- Os equipamentos possuem diferentes
fontes de luz;
- Os equipamentos possuem diferentes
princípios de emissão de luz;
- Os equipamentos são calibrados com a
utilização de diferentes padrões de
calibração;
BOLETIM TÉCNICO
- Equipamentos que possuem sistema
ratio com outros que não utilizam este
método. O método ratio possibilita a
correção parcial da cor em amostras
pr oblemáti cas mas não está em
conformidade com o Standard Methods.
PROC ESSO DE LEITURA
Considerando que o processo de
medição de turbidez refere-se à presença
de pa rtícu las em s uspe nsão em
co nstante mov ime nto pel a
homogeneização da amostra, atribui-se
ao sistema de leitura o cálculo de médias
de sinal para atenuar variações de
resultado.
No processo de medição, o conjunto
de partículas que estiver passando na
frente do sensor no momento de leitura,
será registrado para o cálculo da média
de sinal.
A maioria das partículas suspensas
não tem a forma esférica ideal, mas
apresentam uma estrutura irregular. A
conseqüência disto é que o valor de
turbidez depende da orientação das
partículas sólidas.
A natureza das partículas, como
taman ho, c or, form ato, e str utur a
cristalográfica, origem (orgânica ou
inorgânica) e até mesmo a posição, no
momento da leitura, geram as oscilações.
Figura 5 - Natureza
das Partículas
Este fato é facilmente observado
quando se faz a leitura dos padrões em
gel que, por estarem fisicamente na
mes ma pos ição, não apr esentam
oscilações.
Assim, resultados flutuantes são
usualmente explicados pela mudança de
posição das partículas na amostra.
Ness es c asos, para um a melhor
precisão, deve-se inicialmente observar o
c ompor tamento da amos tra par a
estabelecer um melhor critério no registro
do valor correto da medição.
COMP ORTAMENTO D A LEITURA
a) Diminuição dos resultados ao longo do
tempo
Este problema é característico de
amostras de alta turbidez. Para obter o
melhor resultado, registra-se o primeiro
valor confiável, pois ao passar do tempo
ocorr e decantação de partículas e
conseqüente redução da turbidez.
Para amostras de baixa turbidez, a
var iação pode estar as soci ada a
presença de bolhas na amostra.
E s s e p r ob l e ma é f a c il m e nt e
identificado, deixando a amostra em
repouso na cubeta por mais ou menos
dois minutos e após homogeneização por
inversão, repete-se a última leitura.
b) Resultados com grande oscilação
Para valores altos, característicos em
a m ost ras d e ág u a bru ta ,
as pa rtí cul as p oss ue m n atur ez a
heterogênea e deve-se considerar a
média aritmética dos três primeiros
resultados confiáveis.
O mesmo pode ocorrer para baixos
valores ( água tratada), devendo-se
efetuar o cálculo de médias aritméticas de
três leituras confiáveis.
RE PETIBILIDAD E DOS RESULTADOS
Alguns fatores contr ibuem para
variação de resultados de um método de
medição, tais como o analis ta, o
equipamento, a calibração, as condições
ambientes e o tempo entre as leituras.
A variação entre medidas feitas por
analistas diferentes ou por diferentes
equipamentos será maior do que a
variação entre medições feitas por um
mesmo analista utilizando o mesmo
equipamento.
A repetibilidade pode ser interpretada
como as condições nas quais os
resultados de testes independentes são
obtidos com o mesmo método, com os
mesmos itens de testes e no mesmo
laboratório pelo mesmo analista usando o
mesmo equipamento, dentro de curtos
intervalos de tempo.
Quando uma leitura não apresenta
repetibilidade é preciso investigar as
fontes de incerteza existentes, sendo as
principais:
a) Equipamento
O equipamento deverá ser calibrado
com soluções padrão dentro da validade.
Considerar que a resolução de uma
indicação digital é a resolução do
equipamento.
b) Padrões de Calibração
A preparação dos padrões deverá ser
feita utilizando balança analítica e
vidrarias calibradas. No preparo, utilizar
sempre água ultrapura, isenta de
turbidez, filtrada em membrana com
capacidade de retenção de partículas
maiores ou iguais a 0,1 µm.
c) Efeitos da Cubeta
As cubetas devem ser mantidas
sempre limpas e secas, lavando-as com
detergente neutro. O enxágue deve ser
feito com água destilada e deixando-as
secar naturalmente. Após limpeza,
segure as cubetas apenas pela tampa.
O vidro empregado na fabricação das
cubetas também afeta a medição de
turbidez, principalmente em valores
baix os. Es tes defeitos podem s er
compensados utilizando para leitura uma
única cubeta, ou um jogo de cubetas
pareadas, que geram mesmos resultados
para mesma amostra.
d) Efeitos do Analista
Er ros de operação prov êm da
inaptidão do usuário em fazer as
observações relevantes corretamente.
Edição -2 - Julho 2 006
A posição da cubeta no equipamento,
modo de operação e calibração, são
questões que devem ter seu fundamento
claro para que o operador possa seguir
rigorosamente as mesmas funções toda
vez que for utilizar o equipamento.
e) Amostra
Ao contrário dos materiais elaborados
pelo homem, os compostos naturais
como a água são muito heterogêneos. A
maioria das partículas tem estrutura
irregular e a conseqüência é que o valor
de turbidez depende da orientação das
partículas sólidas.
CONCLUSÃO
A determinação de turbidez é de
fundamental importância como indicador
de qualidade em água potável.
Um turbidímetro é um instrumento de
medição, ou seja, apresenta medições do
que está sendo colocado para leitura.
Assim, na maioria das vezes, não é o
equipamento que indica valores instáveis
e sim os próprios valores de turbidez da
amostra que são instáveis.
O s e qu ipa me nto s ap re s enta m
altíssima capacidade de medição, sendo
sensíveis a presença de partículas
maior es que 0,1 µ m. Devido ao
comportamento da amostra em constante
movimento e pela heterogeneidade das
partículas, os resultados obtidos devem
ser em função da média de diversas
leituras processadas pelo instrumento
antes da indicação no display.
Ao longo do tempo, ocorre o desgaste
e riscos do vidro das cubetas de amostras
e p a d r õ e s , g e r a n d o d i s to r ç ã o
principalmente nos resultados de baixa
turbidez, devendo regularmente serem
observadas e substituídas.
Devido as diversas fontes de incerteza
devem ser atribuídos cuidados e atenção
especial na operação, c al ibração,
manipulação de amostras, limpeza,
manuseio de padrões e cubetas.
A implantação de procedimentos
operacionais padrão (POPs), programas
de qualidade para calibração, verificação
periódica dos padrões e cubetas de
a mo s tr a , pr og r am a s i nt er e
i ntr a la bo ra tor i ai s , t r ei nam en to e
avaliação periódica dos operadores,
contribuem para resultados satisfatórios
das análises de turbidez .
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Water and Wastewater, 18t h Edition, 1992.
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-Análise de Cor em Águas - Boletim Técnico PoliContr ol - Edição n°
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P at rícia M edeiros - Coordenadora de P rod uto
Fernan do Romachelli - Gerent e d e P rod uto
Raphael Costa - Gerent e de M arketing
www.policontrol.com.br