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DIREITO PENAL ECONÓMICO

Exame final - Recurso

10.07.2019

Duração: 2 hs e 45 mins

*Nota
Em todas as respostas, fundamente sempre, de forma legalmente precisa, as
suas afirmações, em particular, nos pressupostos da responsabilização criminal; se se
justificar, deve também fazer referência a questões doutrinalmente discutíveis. Além
disso, deve sempre referir a pena aplicável, tendo em conta todas aas circunstâncias
relevantes”.

Cotações

Grupo A – 2 ; Grupo B (I – 6,5 vals) + (II - 4,5) + III (4, 5 vals) – Grupo C – 2,5
vals

(A)

A é diretor de controlo e de qualidade numa empresa de fornecimento de


equipamentos elétricos (sociedade X). Cabe-lhe a tarefa de controlar as radiações, que
são emitidas pelos produtos produzidos. Para esse efeito, tem controlar as cablagens que
são utilizadas na produção; tais cablagens são, em regra, fornecidas por empresa
expressamente contratadas para o efeito. Por isso, A não só vigia pessoalmente como
superintende outros trabalhadores nesta tarefa.

Por sua vez, B é representante da empresa Y, que tem fornecido cablagens para a
empresa X . Por vezes, os materiais desta empresa são recusados, porque apresentam
algum defeito, sendo, em regra, A o responsável por tal decisão . Na sequência de uma
conversa em que B se queixava de prejuízos da recusa dos materiais, A faz que pode
fechar os olhos a um controlo mais rigoroso, flexibilizando. B, compreendendo o
sentido da atitude de A, agradece, e promete recompensar a “simpatia de A” com uma
oferta no valor de 15.000 euros, renovável.
Porém, e ainda antes de se ter feito entrega de qualquer “lembrança” ou de se ter
procedido a qualquer novo controlo em relação a Y, os outros diretores/administradores
da empresa X decidiram rescindir o contrato coma empresa Y, pois estavam
descontentes com os sucessivos incumprimentos da empresa Y.

B manifestamente insatisfeito, vem denunciar o sucedido aos outros Diretores da


empresa.

Analise a responsabilidade penal das pessoas singulares e coletivas, envolvidas nas


condutas acima descritas; enuncie os eventuais crimes em que incorrem e refira a sua
punibilidade (moldura legal, considerando as pertinentes circunstâncias) (2 vals)

Neste caso estamos perante um crime de corrupção no setor privado, pelo que se aplica a
lei nº 20/2008.

Estamos perante um crime de corrupção no setor privado, uma vez que A, que se enquadra
no conceito de trabalhador do setor privado, previsto no art. 2º al d. do referido DL, mercadeja
com as suas funções, violando deveres funcionais, em troca de uma vantagem patrimonial,
havendo aqui um sinalagma entre o mercadejar das funções e a vantagem patrimonial. É
importante ressalvar que, caso não existisse este sinalagma, não haveria crime, pelo menos nos
termos deste diploma pois este não contém nenhuma disposição relativa a recebimento indevido
de vantagem.

Assim, este é um crime praticado contra a empresa, por alguém de dentro desta, pelo que o
bem jurídico protegido é triplo: confiança e lealdade em geral, a concorrência e o património da
empresa (Carlos almeida- Ac. TRP 96/03/2013).

Relativamente a A, trabalhador do setor privado, este comete o crime de corrupção passiva


(art. 8º DL 20/2008), sendo este um crime específico próprio, só podendo ser cometido por
aquele que seja trabalhador do setor privado e tenha deveres funcionais perante a empresa. Este
crime consuma-se com a mera chegada à esfera do destinatário da aceitação ou solicitação,
expressa ou tácita, da vantagem patrimonial, não sendo necessário que a vantagem patrimonial
seja efetivamente entregue. Assim, A será punido com de prisão até 5 anos ou com pena de
multa de 600 dias. (art. 8º/1 DL 20/2008)

Quanto a B, este comete o crime de corrupção ativa, pois é quem corrompe o trabalhador
(art. 9º DL). Este é um crime comum, não sendo necessária nenhuma especial característica de
quem o pratica. Este crime consuma-se com a mera chegada à esfera do trabalhador da
proposta de vantagem patrimonial em troco do mercadejar das funções, não sendo necessário
que a vantagem patrimonial seja efetivamente entregue. Assim, B será punido com pena de
prisão até 3 anos ou com pena de multa (art. 9º/1 DL 20/2008).

A conduta poderá ser idónea a causar um prejuízo patrimonial a terceiro, se entendermos que
a sociedade se enquadra nesta conceito de terceiro, uma vez que a empresa poderá ter prejuízos,
como o pagamento de possíveis indemnizações, por terem sido aceites cablagens com defeito,
pelo que se verifica a agravação prevista nos arts. 8º/2 e 9/2, para a corrupção passiva e ativa,
respetivamente. No entanto, verificamos no art. 5º que o agente é dispensado de pena sempre
que denunciar o crime antes da instauração de procedimento criminal, e de facto, B denunciou o
crime aos diretores. Assim, B fica dispensado de pena e a moldura penal abstrata aplicável a A
será de pena de prisão de 1 a 8 anos.

Relativamente à responsabilidade das pessoas coletivas em causa, nos termos do art. 4º da


Lei nº 20/2008, as pessoas coletivas e entidades equiparadas são responsáveis, nos termos
gerais, pelos crimes previstos na presente lei. Assim, importa analisar o art. 11º CP. Desde logo,
em relação a este, vale o pp da especificação, só sendo punível as pessoas coletivas quando a lei
especificamente o indique, como é o caso.

Para haver responsabilização penal das pessoas coletivas, é necessário que estejam,
cumulativamente, preenchidos os critérios formais e materiais previstos no art. 11º CP.

Relativamente aos critérios formais, temos de estar perante um dos crimes previstos no art.
11º/2 CP ou uma lei especial tem que remeter para este diploma, como é o caso. Para além
disso, o crime tem de ser cometido por uma das pessoas previstas nas alíneas a e b do art. 11º/2
CP. Ora, neste caso, A é diretor de qualidade da empresa X, e b é representante da empresa Y,
logo ambos ocupam uma posição de liderança nos termos do art. 11º/4.

Para se verificar a responsabilização penal das pessoas coletivas é ainda necessário que
estejam preenchidos dois critérios materiais: que o crime tenha sido cometido em nome da
empresa e no seu interesse. Ora, a omissão por parte de A não foi não tem claramente os
interesses da sociedade em conta, pelo que esta não é responsabilizada. Já B, enquanto
representante da empresa agiu em nome desta e, para além disso, agiu no interesse desta porque
agiu de modo a evitar prejuízo para a empresa decorrente da recusa dos materiais. Assim, estão
verificados os requisitos para a responsabilização penal da empresa Y.

(B)

I - A, empresário gestor da H Lda, tem conhecimento da existência de apoios


financeiros, consistentes em linhas de crédito a juros bonificados, a atribuir por um
organismo público, para fomento de atividades económicas de agricultura. Do diploma
legal resulta que tais apoios são concedidos: se a empresa tiver já uma produção
agrícola com X hectares; tiver pelo menos 5 trabalhadores, todos inscritos na segurança
social;, apresentar as licenças administrativas e ambientais que autorizam a exploração e
ter a respetiva situação fiscal regularizada.

A empresa de A (H Lda) tem funcionado porém, com “trabalhadores clandestinos”.

Durante as diversas diligências que empreendeu, A acabou por entrar em contacto


com B, funcionário de um organismo público ligado ao trabalho e à segurança social;
funcionário (B) que, a troco de de 50.000 Euros por cada elemento, se afirmou
preparado para emitir documentos que atestariam que seis trabalhadores da empresa
(todavia inexistentes/fictícios) teriam a sua situação legalizada e com as contribuições
regularizadas. “Surpreendido” pela iniciativa do funcionário, A logo aderiu à sua
proposta.

A vem, por isso, a entregar todos os elementos necessários junto da entidade


decisora do apoio público. Deste modo, a H Lda vem a obter um crédito de 150.000
com juro bonificado que lhe poupou 20. 000 Euros em relação à taxa normal.

Analise e refira a responsabilidade penal (i. e, que incriminações podem ter


cometido) de todos os intervenientes (A, B e H Lda); tenha em conta todas as
circunstâncias relevantes para determinação da moldura legal, procedendo também sua
determinação para cada interveniente (7 vals).

Estamos aqui perante 2 crimes: fraude na obtenção de subsídio e o de corrupção no setor


público.

Relativamente ao crime de fraude na obtenção de subsídio, aplica-se o DL nº 28/84. Nos


termos do art. 21º do referido DL, estamos perante um subsídio ou subvenção, pois está em
causa uma prestação feita a empresa ou unidade produtiva, à custa de dinheiros públicos,
estando verificadas as duas alíneas do artigo: é uma prestação inteiramente reembolsável, a juro
bonificado (al a)) e destina-se ao desenvolvimento da economia – no caso, ao fomento de
atividades económicas de agricultura.

O crime de fraude na obtenção de subsídio está previsto no art. 36º DL. Este é um crime
específico, só podendo ser cometido por quem tinha o dever de atuar, de informar – no caso, A.
Este é um crime de resultado, mas não basta o resultado, sendo necessário que o exercício para
o obter tenha sido fraudulento e que esteja em causa uma das condutas previstas nas als do art.
36º/1, sendo que neste caso está preenchida a alínea c do número 1 do art. 36º.

No entanto, temos de estar perante um facto importante, e para verificar se estamos ou não
perante facto importante temos de atender ao nº8 deste artigo, sendo que parece estar preenchida
a alínea a) do art. 36º/8 do DL.

Analisando o número 5 do art. 36º, verificamos ainda que estamos perante uma agravação,
pois de acordo com a alínea a) deste artigo, consideram-se particularmente graves os casos em
que o agente obtém um subsídio ou subvenção de montante consideravelmente elevado, sendo
que, como nada é dito preencheremos este conceito com base no art. 202º al. b CP, apesar de
não fazer sentido que uma lei avulsa remeta, implicitamente, para um código. Assim, é
considerado montante consideravelmente elevado aquilo que for superior a cerca de (200 * UC),
que é o caso pois o subsídio obtido foi de 150 000 euros. Para além disso, está preenchida
também a alínea c) do nº5 do art. 36º pois A obteve auxílio de um cargo ou emprego público
que abusou das suas funções ou poderes, estando então preenchida mais uma causa de
agravação. Para além disso, não parece verificar-se nenhuma das circunstâncias de isenção de
pena previstas no nº7. Assim, a moldura penal abstratamente aplicável a A será de pena de
prisão de 2 a 8 anos (nº2).
Relativamente ao crime de corrupção no setor público, este está previsto nos arts. 373º e ss
do CP.

Estamos perante um crime de corrupção no setor público, uma vez que B mercadeja com as
suas funções públicas, violando deveres funcionais, em troca de uma vantagem patrimonial,
havendo aqui um sinalagma entre o mercadejar das funções e a vantagem patrimonial, logo não
estamos perante um crime de recebimento indevido de vantagem (art. 372º do CP). O bem
jurídico protegido é o património do Estado. Acresce ainda que a corrupção em causa é uma
corrupção antecedente, pois a vantagem é prometida antes da prática do ato.

Assim, e tendo em conta o que já referi, B comete o crime de corrupção passiva (art. 373º
CP), sendo este um crime específico próprio, pois é exigida a qualidade de funcionário, sendo
que B é funcionário nos termos do art. 386º CP. Para além disso, é um crime para ato ilícito,
pois os atos praticados por B são contrários aos deveres do seu cargo (art. 373º/1). O crime
consuma-se com a mera chegada à esfera do destinatário (corruptor) da aceitação ou solicitação
do funcionário, expressa ou tácita, da vantagem patrimonial, não sendo necessário que a
vantagem patrimonial seja efetivamente entregue. Assim, a pena abstratamente aplicável a B
seria de 1 a 8 anos (art. 373º/1 CP)

Quanto a A, este comete o crime de corrupção ativa, (art. 374º CP). Este é um crime
comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa, isto é, não é exigida qualquer característica
especial do corruptor. O crime consuma-se com a mera chegada à esfera funcionário da
proposta da vantagem patrimonial em troco do mercadejar das funções públicas, não sendo
necessário que a vantagem patrimonial seja efetivamente entregue. Assim, a pena abstratamente
aplicável a A seria de 1 a 5 anos (art. 374º/1 CP)

Analisando o art. 374º-A, verificamos que poderá haver uma agravação da pena caso a
vantagem referida seja de valor elevado (art. 374º-A/1) ou valor consideravelmente elevado (art.
374º-A/2), sendo que para tal temos de analisar as alíneas a) e b) do art. 202º CP (art. 374º-A/3
CP). Assim, com base no art. 202º al. b), considera-se valor consideravelmente elevado aquilo
que for superior a (200* UC), logo de facto estamos perante um valor consideravelmente
elevado e, por isso, aplica-se a agravação da pena em 1/3 nos seus limites máximos e mínimos,
tanto para A como para B. A atua ainda como titular de um órgão de uma pessoa coletiva, nos
termos do art. 12º CP, pelo que ainda verá a sua pena agravada de acordo com o art. 374º-A/4
CP.

Quanto aos casos de atenuação e dispensa da pena, previstos no art. 374º-B, em relação a A a
pena será especialmente atenuada, pois este praticou o ato a solicitação do funcionário (nº2, al
b).

Concluímos então que a moldura penal abstrata aplicável a B será de pena de prisão de 1 ano
e 4 meses a 10 anos e 8 meses e a moldura penal abstratamente aplicável a A será de pena de
prisão de 1 ano e 4 meses a 6 anos e 8 meses.
Relativamente à responsabilidade penal da pessoa coletiva (H Lda), a lei consagra no art.
11º/2 um princípio da especificação: a responsabilidade penal das pessoas coletivas só existe se
estiver prevista na lei.

Ora, relativamente ao crime de corrupção ativa, para haver responsabilização penal da


pessoa coletiva, é necessário que estejam, cumulativamente, preenchidos os critérios formais e
materiais previstos no art. 11º CP.

Relativamente aos critérios formais, temos de estar perante um dos crimes previstos no art.
11º/2 CP, o que se verifica. Para além disso, o crime tem de ser cometido por uma das pessoas
previstas nas alíneas a e b do art. 11º/2 CP. Ora, neste caso, A é empresário gestor da empresa,
logo parece ocupar uma posição de liderança nos termos do art. 11º/4.

Para se verificar a responsabilização penal das pessoas coletivas é ainda necessário que
estejam preenchidos dois critérios materiais: que o crime tenha sido cometido em nome da
empresa e no seu interesse. Ora, A agiu com o objetivo que a empresa obtivesse o subsídio,
logo agiu no interesse da empresa e agiu também em nome desta. Assim, a empresa H é
responsável pelo crime de corrupção ativa. Nos termos do art. 90º/2 um mês de prisão
corresponde a 10 dias de multa, logo a empresa H é punida com pena de multa de 120 dias a
600 dias.

Relativamente ao crime de fraude na obtenção de subsídio, o DL nº 28/84 consagra, no seu


artiog 3/1, que a empresa H será responsável pelo crime em questão se for cometida pelo seus
órgãos (o que foi o caso), em seu nome e no interesse coletivo (o que, conforme já explicado
anteriormente, também se verifica). Não estando em causa a exclusão de responsabilidade dos
termos do nº2 do artigo 3, a empresa H será responsável penalmente pelo crime de fraude na
obtenção de subsídio. As penas principais aplicáveis às PC estão previstas nos termos do artigo
7 deste mesmo diploma.

II - Tenha em atenção as seguintes hipóteses-variantes deste caso:

a) Suponha que, em vez de estar em causa um apoio financeiro com as características


referidas na hipótese anterior, estava em causa a atribuição de um benefício fiscal, por
via do qual o Estado português concederia um crédito-benefício fiscal às explorações
agrícolas para efeito de exportação de produtos; Assim, a empresa de A (H LDA),
procedendo este da mesma forma acima descrita, viu ser-lhe integralmente atribuída,
por retorno, uma vantagem patrimonial no valor 20.000 Euros
Estamos perante um crime fiscal, pelo que se aplicará o regime geral das infrações
tributárias, doravante “RGIT”. O bem jurídico protegido é o património (tributário) do Estado.

Em primeiro lugar, cabe referir que a distinção entre burla tributária e fraude fiscal prende-se
com os conceitos de enriquecimento e não empobrecimento, respetivamente, e, portanto, a burla
tributária traduz-se num aumento do ativo patrimonial e a fraude fiscal numa não diminuição
desse ativo.

Assim como A obtém para a empresa um enriquecimento, ou seja, um aumento do ativo


patrimonial, então estamos perante o crime de burla tributária, previsto no art. 87º do RGIT. É
um crime de resultado, pelo que tem de haver um enriquecimento efetivo e, ao contrário do
que acontece na burla comum, não se exige um prejuízo patrimonial da contraparte, É um crime
de processo típico de execução vinculada, tendo de ser cometido através dos meios descritos
no art. 87º/1 RGIT, tal como se verificou.

Ora, verificamos no art. 87º/2 e 3 RGIT que se estivermos perante um valor elevado ou
consideravelmente elevado, há agravação da pena, sendo que como nada nos é dito,
preenchemos estes conceitos com base no art. 202, al a) e b) do CP – apesar de não fazer sentido
uma lei avulsa remeter, implicitamente, para um código. Analisando o art. 202º al. a,
verificamos que é considerado um valor elevado aquilo que for superior a ...o que se verifica,
logo A verá a sua pena agravada nos termos do art. 87º/2 RGIT.

Por último, cabe referir que, ao contrário do que acontece, de acordo com a jurisprudência,
para a burla comum (Ac. StJ nº10/2013), esta falsificação de documentos não é punível
autonomamente. (art. 87º/4 RGIT)

Concluímos que a pena abstrata aplicável a A é de pena de prisão de 1 a 5 anos

Relativamente à eventual responsabilidade da empresa H, importa atentar ao artigo 7 RGIT,


que consagra que as pc são responsáveis pelas infrações previstas no RGIT (como é o caso da
burla tributária) se forem cometidas pelos seus órgãos, em seu nome e no interesse coletivo.
Ora, conforme já analisado na pergunta anterior, A é considerado um órgão da empresa H, e
agiu em seu nome e em seu interesse. Assim, a empresa H é responsável penalmente co pena de
multa de 480 a 1920 dias – artigo 87/3 RGIT. A determinação da pena de multa atenta ao
prejuízo causado pelo crime, sempre que possível – ou seja, à diminuição patrimonial sofrida
pela AT – artigo 13. Compreende-se facilmente esta regra, tendo em conta que o bem jurídico
tutelado pelos crimes tributários é o património tributário.

Não está em causa a exclusão da responsabilidade prevista no nº2 do artigo 7.

b) Suponha, agora, que nas condições legais acima referidas e através da mesmas
condutas já descritas, a empresa H Lda., através de A, veio a ser tributada com uma
taxa inferior em IRC, circunstância que justificou a redução do valor da coleta em IRC
em 30.000 Euros.
Neste cenário, há um não empobrecimento da empresa H, pelo que estamos perante um
crime de Fraude fiscal, prevista nos termos do artigo 103 RGIT. Mais uma vez, o bem jurídico
tutelado é o património do Estado.

De facto, através de declarações apresentadas para que a AT determina a matéria coletável,


A causou a diminuição das receitas tributárias – uma vez que a empresa pagou uma menor taxa
de IRC daquela que devia, não tivesse sido praticada a conduta ilegítima – artigo 103/1/a.
Assim, A será punido com pena de prisão até 3 anos ou multa até 360 dias.

De notar que se ultrapassa o montante mínimo exigido pelo nº2 do artigo 103.

Tendo em conta que o agente (A) utilizou documentos falsificados e se socorreu do auxilio
de B (funcionário público) estamos, na verdade, perante uma fraude qualificada – artiog 104/1/b
e e. assim, a pena de prisão para A é de 1 a 5 anos. De notar que a falsificação de documentos
não é punível autonomamente, de acordo com o nº4 do artigo 104 RGIT.

Pelos mesmos motivos explicados na alínea anterior, a empresa H é responsável penalmente


pelo crime de fraude tributária, e será punida com pena de multa de 240 a 1200 dias – artigos
104/1/ e 7/1.

C)

A administrador da sociedade X foi incumbido de negociar um conjunto de valores


imobiliários pertencentes a essa sociedade. Assim, de acordo com o mandato que lhe foi
conferido, A, porque tinha especiais conhecimentos e grande experiência na mediação
imobiliária, estaria em posição de assegurar o melhor preço na venda. A decisão de
designar A foi de toda a administração da sociedade X que nele delegou esta tarefa.
No entanto, A deveria vir posteriormente prestar contas da sua atividade em assembleia
geral.

Todavia, A em vez de fazer um estudo e análise do mercado, decidiu vender a “preço


de saldo” os terrenos em causa, a YZ, empresa concorrente de X . De facto, um
administrador dessa empresa YZ tinha-lhe prometido um bom lugar ma mesma, se a
venda fosse benéfica para YZ

Para a assembleia geral que foi convocada para analisar a sua atuação, e embora
expressamente tenha sido intimado para o efeito, A recusou-se a prestar as informações,
que lhe foram exigidas por escrito, bem como a entregar documentos referentes a estas
operações.

Deste modo, a Sociedade X sofreu um prejuízo patrimonial de 100.000 euros.

Qual a responsabilidade jurídico-penal de A, tendo em atenção todos os pertinentes


tipos legais de crime ?
(2,5 vals).

Quando A decide vender os terrenos em causa a “preço de saldo”, comete um crime de


infidelidade, regulado nos termos do artigo 224 CP. Neste caso, o bem jurídico tutelado é o
património da sociedade.

Este é um crime específico próprio, uma vez que o agente só pode ser quem te o “encargo de
dispor de interesses patrimoniais alheios ou de os administrar ou fiscalizar”. No caso em apreço,
A tinha, de facto, o encargo de dispor dos interesses patrimoniais da sociedade X, caindo, sobre
ele, especiais deveres, e existindo uma relação de confiança. Assim, ao vender os terrenos em
causa a preço de saldo, viola estes deveres e causa prejuízo patrimonial à sociedade no valor de
100.000€. De notar que o prejuízo patrimonial pode ser aferido de acordo com dois critérios:
por um lado, o critério objetivo atenta à gravidade do prejuízo em termos absolutos, por outro, o
critério subjetivo olha para a situação económica da vítima –in casu, a sociedade – em que ficou
após o crime.

É dito que A tinha especiais conhecimentos e grande experiência na mediação imobiliária,


portanto parece razoável concluir pela intencionalidade de causar dano – sabia que a venda a
“preços de saldo” era adequada de produzir o resultado e que este se produziria com certeza.
Há, então, dolo direto.

Para além disso, este é um crime de resultado – ou seja, tem de haver, efetivamente, prejuízo
patrimonial – o que foi o caso.

Será punido com pena de prisão até 3 anos ou com pena de multa.

Como não houve nenhuma restituição ou reparação integral do prejuízo causado (nem total
nem parcial) não há lugar a atenuação da pena – artigos 206/2 e 3 CP via 224/4 CP.

“De facto, um administrador dessa empresa YZ tinha-lhe prometido um bom lugar ma


mesma, se a venda fosse benéfica para YZ”

Quando A vende os terrenos a preço de saldo com o objetivo de receber a vantagem


prometida pela empresa YZ (“um bom lugar na empresa”), incorre num crime de corrupção do
setor privado, regulado nos termos do artigo 8 Lei 20/2008. De notar que a sociedade X uma
entidade do setor privado nos termos do artiog 2/e Lei nº20/2008, e A é um trabalhador do
setor privado, de acordo com a alínea d) do mesmo artigo.

Também este é um crime específico próprio – o seu agente só pode ser um trabalhador do
setor privado – que, conforme analisado, A é.
No caso em apreço, A aceitou a promessa de uma vantagem não patrimonial (trata-se de uma
corrupção antecedente – o ato antecede a efetiva vantagem), violando os seus deveres
funcionais, que decorrem das normas legais do CSC (A é administrador da sociedade X).

De facto, verificam-se os requisitos necessários para estar em causa um crime de corrupção:


há uma ação (a venda do terreno a preço de saldo), um ato ilícito (a violação dos deveres
funcionais), e a contrapartida da vantagem recebida (a promessa de um bom lugar na empresa
YZ).

De notar que o crime de corrupção não é um crime de resultado – não se exige o efetivo
recebimento da vantagem – basta a mera aceitação da vantagem ou a sua promessa.

Assim, A será punido com pena de prisão até 5 anos ou multa até 600 dias.

Contudo, nos termos do nº2 do artigo 8, como o ato de A (a venda dos terrenos a preço de
saldo) causou prejuízo patrimonial para terceiros (a sociedade X), a pena é agravada para pena
de prisão de 1 a 8 anos.

“Para a assembleia geral que foi convocada para analisar a sua atuação, e embora
expressamente tenha sido intimado para o efeito, A recusou-se a prestar as informações, que
lhe foram exigidas por escrito, bem como a entregar documentos referentes a estas operações.”

Para além do crime de infidelidade, A incorre também num crime de recusa ilícita de
informações, regulado nos termos do artigo 518 CSC. De facto, nos termos do nº2 do referido
artigo, A, enquanto administrador, ao recusar na assembleia a prestação de informações que lhe
foram pedidas por escrito, é punido com pena de prisão até 1 ano e 6 meses ou com pena de
multa. Não parece estar em causa um “motivo que não indicie falta de zelo”, pelo que não há
lugar a dispensa da pena nos termos do artigo 518/4 CSC

Para além disso, a recusa da entrega de documentos preenche, também, este tipo legal de
crime. De facto, nos termos do nº1 do artigo 518 CSC, A será punido com pena de prisão até 2
anos ou com pena de multa. Não está em causa a agravação da pena prevista no nº3 do mesmo
artigo

. Mais uma vez, como não houve reparação integral dos danos causados, não há lugar a
dispensa de pena nos termos do artigo 527/4 CSC.

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