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Médico Neuropediatra, Professor Titular do Programa de Pós-graduação em Distúrbios do
,0 &"/6 ' Desenvolvimento da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
CORRESPONDÊNCIA:
José Salomão Schwartzman
josess@terra.com.br.
A Síndrome de Rett (SR) está incluída no conceito dos Admite-se, na atualidade, prevalência da doença estimada
Transtornos Invasivos do Desenvolvimento (TID), mas não faz entre 1:9.000 e 1:15.000 meninas, sendo uma das causas
parte dos Transtornos do Espectro Autista (TEA), uma vez que mais frequentes de deficiência mental severa que afeta o sexo
apresenta particularidades que a tornam muito distinta com feminino.
relação aos outros quadros incluídos nos TEA. Todavia, com No Brasil, a SR foi inicialmente identificada por Rosemberg
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muita frequência, a SR é confundida, ao menos nas fases et al. . Desde então, vários trabalhos foram publicados no
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mais inicias da doença, com o Autismo Infantil (AI). Brasil divulgando o quadro clínico e tornando possível a
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Andreas Rett descreveu em 1966 uma condição caracteri- identificação de várias centenas de meninas afetadas. Apesar
zada por deterioração neuromotora em crianças do sexo femi- do número crescente de crianças diagnosticadas nos últimos
nino, acompanhada por hiperamonemia, tendo-a descrito anos, podemos testemunhar que em nosso país ainda são
como uma “Atrofia Cerebral Associada à Hiperamonemia”. poucos os profissionais da saúde que reconhecem esta condi-
Esse quadro clínico se tornou amplamente reconhecido ape- ção, o que faz com que boa parte das pacientes afetadas não
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nas após a publicação do trabalho de Hagberg et al. , no qual receba o tipo de intervenção mais indicada.
foram descritas 35 meninas e no qual foi proposto o epônimo O diagnóstico clínico da SR pode ser orientado pelos crité-
de SR. Estudos posteriores não confirmaram a presença da rios definidos pelo Rett Syndrome Diagnostic Criteria Work
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hiperamonemia em boa parte dos casos identificados. Group ou os propostos pelo DSM-IV-R (Quadro 1).
O diagnóstico, baseado inicialmente no quadro clínico e craniano e diminuição da interação social. Esse estágio tem a
anamnese, pode ser confirmado, ao menos em 80% dos ca- duração de alguns meses.
sos, por marcador biológico que está presente na maioria dos Segue-se o estágio rapidamente destrutivo, que inicia
casos, como veremos mais adiante. entre um e três anos de idade e tem duração de semanas ou
A doença evolui de forma previsível, em estágios que fo- meses. Uma rápida regressão psicomotora domina o quadro,
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ram descritos por Hagberg e Witt-Engerström : com presença de choro imotivado e períodos de extrema irri-
O primeiro estágio, denominado estagnação precoce, ini- tabilidade, isolamento que lembra o AI, perda da fala e apare-
cia entre seis e 18 meses e caracteriza-se por parada no de- cimento dos movimentos estereotipados das mãos, com sub-
senvolvimento, desaceleração do crescimento do perímetro sequente perda da sua função manual práxica; disfunções
identificadas, de forma que é possível que os fenótipos variá- 9. The Rett Syndrome Diagnostic Criteria Work Group. Diagnostic criteria for Rett
29 Syndrome. Ann Neurol 1988; 23:425-8.
veis da SR se devam a essas diferentes mutações .
10. Associação Americana de Psiquiatria. Manual diagnóstico e estatístico de
Na grande maioria dos casos, a condição é de ocorrência transtornos mentais - DSM-IV-TR. 4. ed. [Tradução: C. Dornelles]. Porto Alegre:
esporádica, e a mutação é de origem paterna. Nos raros casos Artmed; 2002.
familiares a mãe é portadora da mutação. 11. Hagberg B, Witt-Engerström J. Rett syndrome: A suggested staging system
for describing impairment profile with increasing age towards adolescence. Am J
Com a identificação do marcador biológico da SR começa- Med Genet 1986; 24:47-59.
ram a ser identificados meninos com a condição. A SR no 12. Nomura Y, Segawa M. Clinical features of the early stage of the Rett syn-
sexo masculino pode ocorrer quando da associação da SR drome. Brain Dev 1990; 12:16-9.
com a síndrome de Klinefelter (ocorrência com probabilidade 13. Kerr AM, Belichenko P, Woodcock T, Woodcock M. Mind and brain in Rett
da ordem de um para 10 a 15 milhões de nascimentos) e em disorder. Brain Dev 2001; 23:S44-9.
alguns meninos que apresentam quadros encefalopáticos 14. Hagberg B, Berg M, Steffenburg U. Three decades of sociomedical experi-
30-33 ences from West Swedish Rett females 4-60 years of age. Brain Dev 2001;
severos . Estes últimos apresentam alta mortalidade peri- 23:S28-31.
natal e podem não ser adequadamente identificados. Uma vez 15. Andaku DK, Schwartzman JS. Análise do padrão respiratório em pacientes
que, apesar da severidade do quadro, alguns meninos sobre- com síndrome de Rett. Temas sobre Desenvolvimento 2003; 12(69):15-25.
vivem, a pesquisa de mutações no gene MeCP2 se jusfica na 16. Andaku DK, Mercadante MT, Schwartzman JS. Buspirone in Rett syndrome
respiratory dysfunction. Brain Dev 2005; 27:437-8.
presença de severa encefalopatia em menino sem uma etiolo-
17. Julu POO, Kerr AM, Apartopoulos F, Al-Rawas S, Witt-Engerström I,
gia plausível.
Engerström L et al. Characterisation of breathing and associated central auto-
A não comprovação de mutações no gene MeCP2 em ca- nomic dysfunction in the Rett disorder. Arch Dis Child 2001; 85:29-37.
sos com o quadro clínico muito sugestivo da síndrome leva a 18. Southall DP, Kerr AM, Tirosh E, Amos P, Lang MH, Stephenson JBP. Hyper-
pensar na possibilidade do envolvimento de algum outro gene ventilation in the awake state: Potentially treatable component of Rett syndrome.
Arch Dis Child 1988; 63:1039-48.
e já há evidências de que o gene CDKL5 estaria alterado em
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alguns casos de SR .
Comunicação
Monteiro CBM. Manuseio e Adequação de Atividades Funcionais (MAAF) no tratamento da paralisia cerebral. Temas sobre Desenvolvi-
mento 2008; 16(95):268-270.
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Fisioterapeuta, Mestre em Distúrbios do Desenvolvimento pela Universidade Presbiteriana Mac-
" kenzie, Doutor pela Universidade de São Paulo, Professor da Disciplina de Pediatria da Faculda-
de de Fisioterapia das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU).