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RESUMO
Este artigo pretende apresentar e discutir algumas crenças dos professores
de língua inglesa que podem justificar alguns fracassos de sua atuação
em sala de aula. O objetivo deste artigo é refletir sobre essas crenças e
compreendê-las, percebendo que a raiz delas pode ser a forma de ensino
que esses professores tiveram nos cursos de línguas.
Palavras-chave: Professores de inglês; crenças; ensino-aprendizagem
A bstract
This article intends to present and discuss some English Teachers
beliefs that could justify some failures on their classroom acting.
The target of this article is to reflect and understand these beliefs
and to comprehend that the source of them could be the way they
were taught in language courses.
Key words: English Teachers; beliefs; learning-teaching
[1] Doutor pela PUC de São Paulo no Programa de Lingüiística Aplicada e Estudos da Linguagem (LAEL)
e Pós-doutorando pelo mesmo programa. Formador de professores de Inglês da Rede Pública Estadual,
Diretor de Elscola da rede pública municipal de São Paulo e Docente do curso de letras das Faculdades
Integradas Torricelli de Guarulhos
R esumen
El presente artículo pretende presentar y discutir algunas creencias
de los maestros de inglés que podrían justificar algunos fracassos
de su actuación en la classe. Su objetivo es reflejar y comprender
estas creencias y percibir que su origen pode ser el modo por lo cual
fueran enseñados en los cursos de idiomas.
Palabras clave: Maestros de inglês - Creencias - Enseñanza - Apren-
dizaje
INTRODUÇÃO
O presente artigo pretende discutir algumas crenças que envolvem o
trabalho do professor de língua inglesa e como essas crenças os afetam
diretamente na atuação em sala de aula.
Acima de tudo, o que pretendemos refletir, por meio deste trabalho,
é como “surgem” as crenças que afetam, muitas vezes de forma negativa,
a atuação dos professores da rede pública estadual paulista, que foram
focos deste estudo.
Para o estudo das crenças e suas repercussões, nos servimos de uma
bibliografia para amparar nossas reflexões com o intuito de compreender
a relevância do estudo das crenças no âmbito educacional. Conforme
afirmado por Freire (2006, p. 9),
professores, assim como seu trabalho com os alunos, dos educadores que
compõem a grande massa das escolas públicas paulistas que contemplam o
maior número de professores, neste caso, de língua inglesa em atuação.
1- F undamentação T eórica
O estudo das crenças dos educadores
sem gaguejar, sem precisar refletir sobre como e o que vai dizer e sem co-
locações consideradas inadequadas. Na visão tradicional das pessoas, isso
é associado a ser proficiente, ser fluente. Nesse caso, caberia ao aprendiz
de língua estrangeira fazer o possível para se aproximar da competência
lingüística do falante nativo [2].
Conforme Bertoldo (2003, p. 88-89),
[2] De acordo com Bertoldo (2003, p. 88), o falante nativo é entendido como aquele que sabe sua língua
perfeitamente bem, podendo servir como um parâmetro ou mesmo uma autoridade para dizer aquilo que
está ou não correto em termos da fala e/ou gramática da língua.
A- Questionários
Brown (2001, p. 63) definiu questionários como:
qualquer instrumento escrito que apresente aos respondentes uma
série de perguntas ou afirmações que eles têm que reagir ou escrevendo
suas respostas ou selecionando uma entre as respostas já existentes. As
perguntas em forma de questionário representam um dos métodos mais
comuns de coleta de dados acerca de atitudes e opiniões dentre um grande
número de participantes... [5]
Os questionários permitem ao pesquisador levantar informações que
os participantes expressam acerca de si mesmos, tais como crenças e moti-
vações sobre o ensino e aprendizagem. Os questionários abertos, como os
que foram utilizados nesta pesquisa, permitem aos respondentes expressar
seus pensamentos e idéias de um modo bastante pessoal.
B- Diários
Os diários elaborados pelos participantes são ótimos instrumentos
para que os pesquisados escrevam, de modo instrospectivo, sobre suas
C- Entrevistas
Optamos por realizar entrevistas semi-estruturadas para a comple-
mentação das informações contidas nos diários reflexivos. As entrevistas
semi-estruturadas são menos rígidas, pois permitem ao pesquisador fazer
uso de uma lista de perguntas como guia, tendo liberdade para mudá-las
no decorrer da entrevista.
Conforme Mackey e Gass (2005, p. 173), “as entrevistas semi-
estruturadas são mais semelhantes à conversas naturais e os resultados
não são limitados às idéias pré-concebidas do entrevistador sobre a área
de interesse”.
As entrevistas são instrumentos interessantes pelo fato de que per-
mitem ao entrevistador a possibilidade de elicitar dados adicionais pelo
fato de serem interativas.
D- Observação participante
Também, como forma de complementação dos dados e facilitador
da compreensão das situações apresentadas, foi realizada a observação
participante das atividades e dinâmicas dos educadores envolvidos.
Conforme Yin (2005, p. 121),
Fiz cursos particulares nas escolas... Naquela época tudo era muito decorativo
e repetitivo. Tínhamos discos para treinarmos a pronúncia. Foi muito bom.
(P9) Lendo livros e textos e traduzindo tudo... O resultado final era estranho,
mas tudo ficava registrado. (P12) Fazia muitos exercícios estruturais de
gramática. Era tudo na base do siga o modelo. Quando tinha alguma dúvida
era só procurar nos modelos que tinha no livro e no caderno e conseguia
resolver tudinho! (P13) Ia traduzindo tudo no caderno, mesmo o que já
sabia. Assim ia incorporando a gramática e o vocabulário novo. Funcionou
muito bem comigo. (P14)
tivo; que somente alguém nascido em um país onde a língua inglesa seja
utilizada como língua materna pode ser um bom professor e que pode
oferecer, por exemplo, aos educadores da Rede Pública em questão, um
passaporte para que boas aulas sejam ministradas.
A crença de que se deve falar com sotaque britânico ou americano
pode ter a ver com o contexto socioeconômico no qual vivemos, onde
pessoas importantes, pais e professores que admiramos, transmitiram a
mensagem que, para ser respeitado e admirado como professor e aluno
(identidade e emoção), é preciso falar como os ingleses, por exemplo, e
que é apenas “lá” que se aprende.
É o mito do falante nativo com a valorização da temporada no
exterior presente na sociedade brasileira e a adoração por tudo o que é
estrangeiro.
A supervalorização do aprendizado com um falante nativo ainda
perpetua mesmo entre os educadores e talvez seja reproduzido em sala
de aula e se reflita, até mesmo, na motivação que os próprios alunos
possuem para o aprendizado nas salas de aula das escolas públicas. Isso
fica bastante claro na declaração de uma das participantes deste estudo,
transcrita abaixo:
Entrei em uma escola que, pela propaganda, me daria tudo o que eu preci-
sava para falar como um lorde inglês. Deparei-me com uma metodologia
audiovisual com repetições e mais repetições. Como o professor era inglês,
da Inglaterra, fiquei porque adorava ouvi-lo falar (mesmo não entendendo
muitas vezes). Fiquei também porque, como não poderia passar uma tem-
porada na Inglaterra, ter aulas com esse professor poderia me ajudar a falar
melhor. (P16)
Aprendi através da compreensão geral do que estava lendo. Dessa forma fui
incorporando a gramática por dedução e curiosidade que estava inserida nos
textos e atividades. Acho que é por este motivo que não consigo ensinar de
outro modo. (P15)
C onsiderações finais
Podemos perceber que os professores participantes da pesquisa que
dá origem a este artigo tiveram uma formação lingüística extremamente
baseada em atividades estruturais, tanto em escolas de idiomas quanto no
curso de formação de professores na graduação.
Esse, provavelmente, é o principal motivo pelo qual se continue re-
produzindo nas salas de aula a mesma abordagem de ensino. Mesmo com
os cursos de capacitação oferecidos aos professores pesquisados, a ênfase
em estratégias de cópia e tradução, resolução de exercícios gramaticais
e repetições continuam sendo elementos muito presentes e marcantes na
rotina dos profissionais da língua inglesa.
Por essa razão que se reitera a idéia de que mudar é sempre algo
difícil, por todas as zonas de incertezas que o educador tem que passar
para alterar sua trajetória de mudança. O ensino desvinculado da realidade
do aluno, com pouca ênfase no uso da língua em atividades relevantes e
significativas, que levem ao uso real do objeto de aprendizagem, são ca-
racterísticas fortemente presentes na forma de ensino-aprendizagem a que
os professores pesquisados foram expostos e que continuam funcionando
como modelos em suas salas de aula.
Possivelmente, se possuíssemos nas salas de aula das escolas públicas
estaduais, e mesmo em várias escolas do ensino privado, um incentivo à
criação de salas ambiente para o ensino da língua inglesa, equipadas com
cartazes, materiais autênticos e equipamentos mínimos, como gravadores
e TVs; enfim, a criação de ambientes mais ricos em recursos de ensino,
poderíamos incentivar com maior ênfase esse processo de mudança nas
abordagens do processo de ensino-aprendizagem dos professores partici-
pantes do estudo.
Como essa não é a realidade da maioria de nossas escolas conta-
se apenas com a atuação dos professores que, apesar de não disporem,
muitas vezes, de cursos que abordem atividades significativas para serem
desenvolvidas com os alunos, tentam realizar em sala de aula algumas
dinâmicas às quais não foram expostos no período em que eram alunos.
Em suma: aprenderam de uma maneira e precisam (ou tentam) ensinar de
outra completamente diferente.
Gera-se, com isso, um grande conflito no imaginário dos professores.
Sabem que é preciso mudar a rotina de suas aulas, mas não se sentem
seguros ou até mesmo preparados para serem os agentes da mudança.
Percebem que suas aulas não são do modo que gostariam que fossem, que
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Dissertação Mestrado. Centro de Comunicação de Artes. Universidade Estadual de Londrina.
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